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Grupo de Imersão Nave de Meu Deus


Caminho para o Amadurecimento

Introdução
Ter noção do que são as camadas da personalidade humana e ter contato
com elas facilita o caminho para o amadurecimento humano.
Em primeiro lugar, é preciso cair por terra a idéia que se faz do termo
“personalidade”. No dia a dia, temos o costume de falar: “Fulana tem
personalidade forte”, ou, então “Sicrana não tem nenhuma personalidade e não
passa de uma maria-vai-com-as-outras”. Ao dizer que alguém tem uma
personalidade forte, queremos dizer que esse alguém tem na verdade uma
característica forte e específica — às vezes, algo intransigente ou meio chata
mesmo.
É importante esquecer um pouco esse conceito em voga, de personalidade
forte, para abordar o conceito real de personalidade, que iremos usar neste
material.
Aprimorar a personalidade, se entendido corretamente, é especializar-se
humanamente ao longo da vida. Uma personalidade forte e madura é aquela que
teve de passar por várias etapas (e enfrentá-las) para chegar onde chegou; é
aquela que teve de aperfeiçoar-se ao longo do tempo, transmutando a realidade
à sua volta, melhorando a sua forma de agir no mundo, e ambicionando bens
maiores, mais nobres e superiores. A pessoa com personalidade forte (e
portanto mais madura), já está em outro nível de vivência humana, mais
intelectual, atualizando as categorias de ser humano.
Viemos ao mundo não para ser bichinhos, mas seres humanos — e o que
nos diferencia dos animais é precisamente a possibilidade de aprimorar-se e
amadurecer. O meu gato, o Cohiba, caso queira aperfeiçoar a sua personalidade
e ficar mais maduro, não o consegue — jamais ele irá chegar ao fim do dia,
olhar-se no espelho e se perguntar: “Hoje, fui eu o Cohiba que poderia ter sido?”.
O gato não se aperfeiçoa; chega a um certo patamar e dele não passa mais,
pouco se diferenciando dos outros gatos persas que existem por aí. Conosco
não funciona assim; conseguimos nos aperfeiçoar, tornando-nos pessoas muito
diferentes das demais; vamos, à medida que amadurecemos, tomando uma
forma pessoal e íntima — e isso é maravilhoso!
A personalidade não nasce pronta. Ao vir ao mundo, não temos uma
personalidade já aperfeiçoada e madura; devemos, pelo contrário, ir moldando-
a desde o início, passando por várias etapas no decorrer dos anos — e essas
etapas podem ser descritas e dividas em camadas, cada qual com uma
motivação própria e específica. É possível observar uma pessoa e perceber que
todas as suas ações convergem para um mesmo norte e têm uma mesma
motivação — e a descrição das camadas da personalidade indica qual norte é
esse, qual motivação é essa que permeia todas as suas ações no mundo.
Todos nós temos os mesmos impulsos e instintos, as mesmas
necessidades; funcionamos todos mais ou menos da mesma maneira, nesse
sentido. A caminhada para o amadurecimento, então, se dá de maneira muito
parecida para todos — ou seja, as motivações existentes ao longo do
amadurecimento são dispostas sempre na mesma seqüência: primeiro é
preciso almejar um certo objetivo, para depois almejar um outro objetivo, e, em
seguida, um outro ainda, até que a personalidade esteja bem formada e madura.
Portanto, é possível aperfeiçoar-se; viemos à existência com essa
potencialidade e precisamos honrá-la — essa é a nossa missão! Podendo
chegar à maturidade humana, por que não fazê-lo?

Embora a teoria das doze camadas da personalidade humana tenha sido


elaborada pelo professor Olavo de Carvalho, abordarei aqui as muitas
contribuições do meu irmão Italo Marsili. Ele se aprofundou muito nessa teoria
e, por muito tempo, na prática clínica, usou-a como ferramenta terapêutica para
contribuir com o amadurecimento dos seus pacientes.
Primeira Camada
A primeira camada da personalidade (e também a segunda) é uma pré-
condição para que se tenha uma personalidade. Em um copo, por exemplo,
participam a primeira e a segunda camadas; por existir, essas duas camadas já
se fazem presentes no copo; as suas motivações são, por assim dizer,
inconscientes. Conosco, funciona da mesma forma.
A primeira camada é a camada do ser, do momento da entrada de um ente
na existência. Se podemos olhar para um copo e dizer que ele é, então ele tem
a primeira camada; se ele é, será pela eternidade adentro — isto é, por mais que
quebre ou estrague ou seja reciclado, o copo existiu e existirá por toda a
eternidade. Tudo o que é ser, ente, neste mundo, tem a primeira camada — a
motivação de existir.
O professor Olavo, além de fazer a descrição de cada camada, indica as
escolas teóricas que explicam as motivações de cada uma. Na primeira camada,
a escola teórica indicada é a Astrocaracteriologia, ciência que explica a aparição
no Ser.
Há muitas pessoas, por exemplo, com Sol em Leão. É possível perceber
nelas uma certa característica que as faz agir de modo específico. O leonino tem
sempre aquela coisa de ser o centro das atenções, atuar no palco da vida, gostar
de ser olhado etc.; em suma, tem ele um certo talento para a exibição, para
mostrar os frutos — e a Astrocaracteriologia é uma pretensão de explicação
desse fenômeno; ela permite fazer uma correlação de qualidades entre os
corpos celestes e os seres humanos.
Se há alguém que ainda não sabe por que a Astrocaracteriologia faz
sentido e qual é a sua lógica interna, entre no meu Instagram, a rede social em
que falo sobre Simbólica. A Simbólica é uma ciência perdida, da qual não se fala
mais, mas muito utilizada antigamente pelos ancestrais para explicar as coisas
do mundo. A partir da observação dos entes estáveis, presentes no mundo
desde muito antes da nossa aparição, é possível fazer uma correlação com as
características dos seres humanos — afinal, tanto os entes estáveis, quanto os
seres humanos, são frutos de um mesmo Criador, de modo que ambos
partilhem de uma mesma intenção de criação e funcionamento. Há enfim uma
lógica muito perfeita por trás de toda essa ciência, e ela é quem dá conta de
explicar a motivação da primeira camada da personalidade.
A primeira camada, portanto, é a camada do Ser, da aparição na existência.

Segunda Camada
Assim como a motivação da primeira camada é inata ao ser humano, vinda
com ele no momento da existência, a da segunda também é. O médico húngaro
Leopold Szondi dedicou-se a uma ciência chamada Inconsciente Familiar. Em
tese, essa ciência dá conta de explicar as motivações de segunda camada,
impressas nos seres humanos a partir de elementos externos — como o DNA e
a história dos seus familiares e antepassados —, os quais os condicionam a
repetir os sucessos e insucessos desses mesmos familiares.
O ser humano tem um verbo biográfico que vem da sua família. Ora, todos
vêm de um pai e uma mãe e carregam alguns traços deles, que por sua vez
carregam alguns traços dos pais deles, e assim por diante. O ser humano ecoa,
portanto, elementos biográficos dos seus antepassados, mesmo que com eles
não tenha mantido nenhuma relação.
O copo, a que fiz referência no tópico anterior, também tem algo de
segunda camada, porque ele carrega o verbo do seu criador.
Se eu fizesse, por exemplo, um pote de cerâmica, como o fez a
personagem do filme Ghost, ele carregaria uma intenção minha, um verbo que
nele eu imprimiria — mas não passaria disso, não progrediria da segunda
camada em diante por não ter um Eu: participam de objetos como o copo e o
pote de cerâmica apenas as camadas de motivações inconscientes.

A segunda camada é a camada do sangue, da hereditariedade. Há um ser


(primeira camada), que se manifesta de uma certa maneira (segunda camada)
— é um ser com um corpo, com uma substância que se manifesta a partir de
uma característica específica.
É importante frisar que, à medida que vamos progredindo de camada em
camada, vamos integrando as motivações anteriores nas posteriores; elas
nunca deixam de existir em nós. Em estando na quarta camada, por exemplo,
as motivações da primeira, segunda e terceira estão integradas na motivação
daquela — afinal, nunca deixaremos de existir, nem de manifestar o verbo dos
nossos familiares, dos que nos criaram. Integramos, então, os elementos das
camadas anteriores para que nos seja possível continuar progredindo
amadurecimento humano.

Terceira Camada e Faculdades Humanas


Entendemos a motivação da primeira e segunda camadas. Mencionei, no
tópico da segunda camada, que o copo não passa da segunda camada, por ser
um ente que se manifesta — e só! Não tem um Eu que possa dizer, um dia, “Eu
sou”; não tem consciência.
O ser humano não. O ser humano tem um corpo, que se manifesta de uma
certa maneira e que, estando na terceira camada, aprende. O professor Olavo
descreve esta camada, em sua apostila, como camada da cognição, da
aprendizagem. É a camada em que a pessoa começa a apreender as coisas do
mundo.
Um bebê, por exemplo, já consegue progredir para a terceira camada
porque, a partir de um dado momento, ele passa não só a existir, mas a
apreender os estímulos do mundo, de modo que toda a sua motivação seja saber
como esse mundo funciona — tocando o seu próprio pezinho, concentrando-se
em perceber as diferentes cores à sua volta, sorrindo para os pais, derrubando
coisas no chão, preferindo certos alimentos a outros, e assim por diante. É um
contornar e calcular do mundo exterior com o fim de conhecê-lo.
Um bom exemplo disso é o interesse que um bebê um pouco mais velho
tem em um brinquedo cujo uso consiste em, sendo triangular, ser encaixado em
um espaço triangular. O bebê se interessa por isso por estar aprendendo como
funciona o mundo.
O começo da aprendizagem, na terceira camada, se dá de maneira mais
primária e incipiente, algo bruta, como nos exemplos que mencionei acima, mas
depois passa a se dar de maneira um pouquinho mais elaborada, como no caso
de se realizar uma conta de matemática.
A motivação de um bebê, portanto, é aprender; o bebê é como uma esponja
que a todo momento absorve os estímulos do mundo exterior, entendendo como
ele funciona.

Agora que já falei das três primeiras camadas da personalidade, acho


importante trazer a contribuição do meu irmão à teoria das doze camadas da
personalidade, que foi a de acoplar a elas as sete faculdades humanas – mas,
para começar a explicá-las, precisarei fazer um recuo no conteúdo. São estas
as sete faculdades: (i) Vontade, (ii) Senso Comum, (iii) Razão, (iv) Apetite
Concupiscível, (v) Apetite Irascível, (vi) Intelecto Ativo e (vii) Intelecto Passivo.
Cada faculdade rege um par de camadas da personalidade, com exceção
da Vontade, que está à parte das demais, embora esteja também acoplada, a
seu modo, às doze camadas (a Vontade é como um sol que ilumina as outras
faculdades e um motor que as impulsiona e faz agir).
O Senso Comum rege as duas primeiras camadas e é como um grande rio
no qual deságuam rios menores, que representam os sentidos humanos:
audição, visão, olfato, paladar e tato — os sentidos fazem o ser humano receber
o mundo, mas de modo inconsciente. Um bebezinho que ainda não esteja na
terceira camada, embora olhe para um copo (ou seja, receba uma informação
do mundo pela visão), não o compreende, porque não faz ainda nenhum tipo de
cálculo ou contorno cognitivo; as informações entram nele quase que por
osmose. Se pusermos uma xícara de café ao lado de um bebezinho e fazê-lo
tomar um pouco, ele irá sentir o cheiro e o gosto do café, por causa do olfato e
paladar – mas só! É muito inconsciente o agir do Senso Comum na primeira e
segunda camadas.
A dor que um recém-nascido sente ao tomar a primeira vacina — para dar
outro exemplo — irá fazê-lo apenas chorar, porque o tato o fez perceber a dor
de forma inconsciente e passiva; a informação “dor” não é nenhum pouco
trabalhada como aprendizado, nesse caso.
O Senso Comum, portanto, é como um sensor perceptivo do mundo, mas
sem autonomia cognitiva.
Na terceira e quarta camadas, começa a agir a faculdade Razão. Isso pode
fazer algumas pessoas pensarem: “Mila, Razão?! Quarta camada usando a
Razão? Se há alguém irracional é a pessoa de quarta camada.”, ou, então, “Bebê
possui Razão? É um serzinho totalmente besta, não sabe nem o que está
fazendo no mundo.”. Quem pensa assim, pensa em Razão de uma outra forma,
uma forma mais qualificada. Mas estou falando de outra acepção do termo. O
bebê, com a faculdade Razão, pega o brinquedo triangular e o encaixa no
espacinho triangular — é necessário um tipo de cálculo (básico) para isso.
Como falei, a progressão nas camadas não exclui as características das
camadas anteriores. O Senso Comum, então, permanece para sempre na
pessoa; os sentidos permanecem sempre ativos, captando os estímulos do
mundo — estímulos que em seguida serão calculados pela pessoa no uso da
Razão da terceira camada. Com isso, a pessoa vai saber, por exemplo, que,
tocando em uma ponta de agulha, o dedo fura; logo, já é possível calcular: sentiu
pelo tato a dor da picada da agulha, calculou que isso é ruim e, na próxima vez,
não vai querer pôr o dedo numa agulha novamente.
Um bebê um pouquinho mais formado consegue entender isso; consegue
entender, por exemplo, que gosta de arroz, mas não de feijão — isto é, ele tem
já certas preferências. Esse é o cálculo que a Razão faz: pega as coisas do
mundo, apreende-as e começa a formar uma inteligência, ainda que simples.
Entender o mundo implica saber que ele tem uma estabilidade e
segurança. Em qualquer lugar do mundo, se um bebê pegar um copo d’água e
verter a água ao chão, a água cai. Do mesmo modo, quando um bebê anda, ele
calcula um passo após o outro sabendo e confiando que o chão é estável. A
apreensão de cálculos como esse e, por conseguinte, a formação de um padrão,
é possível por ser o mundo estável.
Por causa disso, fazemos as coisas muito no automático: pegamos um
copo na mão sem olhar para ele, porque sabemos que o mundo é estável,
sabemos que o copo não irá mudar de tamanho, não perderá sua forma, não irá
abrir um buraco em seu fundo etc. – e o sabemos porque já calculamos o mundo
diversas vezes ao longo da vida.
O Senso Comum então é a faculdade que permite ao ser humano perceber
e receber os estímulos, e a Razão é a que os calcula e apreende – o que nos
leva à motivação da terceira camada, que é a do aprendizado.

Quarta Camada
Pessoas já estão com um ranço da quarta camada; ela já se tornou quase
que um meme da internet — as pessoas zoam-se e xingam-se umas às outras
de “quarta camada”.
Não quero que entrem com implicância com esse tema, que entrem
irritados por estarem na quarta camada — sei que muitos entrarem nessa
imersão apenas para livrar-se dela. Mas não tenham essa postura. A quarta
camada é necessária para o amadurecimento pessoal de cada um.
Entendemos já que temos um corpo, um ser (primeira camada), que se
manifesta de determinada maneira (segunda camada), e que aprende (terceira
camada) por meio dos estímulos recebidos do mundo.
A quarta camada é também uma camada de aprendizagem, mas do mundo
interior. Nessa camada, a pessoa já aprendeu a movimentar-se no mundo
exterior e já entendeu que ele tem uma estabilidade. Agora, ela precisa aprender
a movimentar-se no mundo interior, no mundo dos afetos.
O que é afeto?
Afeto é a memória, em nós, do mundo sensível. As informações que
recebemos nos afetam de uma certa maneira, e as guardamos naquilo que
chamamos de afetividade. A quarta camada, portanto, é uma aprendizagem de
como o mundo sensível funciona, e é regida pela faculdade humana chamada
Razão. A Razão faz o cálculo, na terceira camada, dos estímulos externos, e, na
quarta camada, do mundo interno da pessoa — e, para isso, ela precisa saber o
tamanho do coração dela; precisa saber o quanto é preciso entrar nela para que
o afeto seja contornado e ela consiga sentir-se satisfeita.
Então, a pessoa de quarta camada está sempre querendo satisfazer o seu
mundo interno com uma proporção de amor e mundo sensível postos para
dentro dela.
Entende-se aqui por Razão apenas o cálculo que essa faculdade humana
faz com o mundo. Não quer dizer que quem está na quarta camada é um sujeito
super-racional, que não age com o coração.
É preciso fazer cálculos para sondar o seu território interior, que é o
território do seu coração — “coração” entendido como o mundo dos afetos.
Em suma, a motivação de uma pessoa de quarta camada é saber se é
amada. Só que, se a pessoa não constrói corretamente os afetos modelados
pela quarta camada, por não ter referencias que a amam benevolamente, ela
não sabe o que é ter um território bem formado dentro de si.
O primeiro referencial de amor de uma pessoa, quando em criança, são os
pais — e, ao dizer o que irei dizer, não quero pôr a culpa nos pais de ninguém,
nem que ninguém por si mesmo o faça; trata-se apenas da constatação de uma
circunstância. Os pais não têm também um manual de instrução em que guiar-
se para educar os filhos, fora o fato de que eles mesmos podem estar na quarta
camada. Vários pontos influenciam nisso.
O ponto é que se o referencial de amor de uma criança não é bem
estabilizado, se o amor dado a ela não é benévolo, pleno e desinteressado, mas
mecânico, como quem apenas cumpre um dever, ela não carrega em si um
território bem formado para a vida adulta. Se ela está o tempo todo calculando
o quanto de amor precisa colocar para dentro de si, mas o amor que lhe é dado
não é completo e pleno, ela nunca irá calcular corretamente e contornar o seu
mundo interior. Portanto, o que faz uma pessoa ficar presa à quarta camada é
a falta desse amor.
Os pais, em geral, estão também na quarta camada; logo, o amor que eles
dão aos filhos é sempre em troca de algo — por exemplo, a mãe dar um iPad
para o filho ficar mexendo para ela ter um pouco mais de tempo para si. Essa
atitude deixa implícito ao filho que a mãe não tem tempo ou paciência para lidar
com ele. O problema é que o iPad jamais será capaz de amor ao filho, e isso faz
o filho saber que está sendo preterido. A atenção que era para estar sendo dada
pela mãe foi substituída pelo entretenimento com o iPad.
Conseguem perceber como usar sempre de subterfúgios para não ter
trabalho com os filhos não demonstra um amor benévolo? — não me refiro, é
claro, às mães que realmente não têm muito tempo, por terem de trabalhar,
cozinhar, limpar a casa, etc., etc.; estou apenas dando um exemplo de como as
mães preterem os seus filhos.
Uma mãe que deixa uma babá cuidar do filho durante toda a infância, faz o
mesmo. A babá não despende os cuidados necessários para com a criança por
amá-la desinteressadamente, mas por exercer uma profissão e receber um
salário por isso — é claro que muitas babás acabam se apaixonando pelas
crianças de que cuidam; mas, ainda assim, trata-se de um desviar de motivação.
Outro exemplo é a chantagem emocional que algumas mães fazem com os
filhos: “Se você não fizer isso, a mamãe não vai gostar de você”. Jamais façam
isso. A criança não consegue conceber o conceito de chateação. “A mamãe está
muito triste com você porque você não comeu isso, sendo que há um monte de
criancinhas na África passando fome”. A criança não sabe sequer o que é África
e não tem noção do que é a caridade humana — nem mesmo o conceito de fome
a criança tem bem formada dentro de si.
Em suma, a mensagem passada pelos pais para criança é: “Olha, não tem
esse amor benévolo para te dar, não sei dar um amor pleno e não quero perder
o meu tempo com isso: logo, coloco alguma coisa no lugar, para suprir a falta
de amor.”. Isso faz com que se abra um rombo afetivo enorme no peito da
criança, mesmo que ela não faça uma intelecção da situação. Ela o levará para
a vida adulta e dificilmente o preencherá rapidamente, porque isso existe como
um trauma de afetividade.
E não há maldade na atitude dessas mães. Falta-lhes talento e perspicácia
na hora de educar os filhos — afinal, elas não aprenderam assim com as mães
delas, que, por sua vez, também não aprenderam assim com as suas mães.
Saiu de cena o senso de dever na paternidade, hoje em dia, além de existir
uma série de elementos que aliviam as pessoas no cumprimento do papel de
pais — que é o iPad, o discovery kids, vários tipos de brinquedo, a possiblidade
de colocar os filhos na escolinha desde cedo etc.
Hoje em dia, na minha visão, o grande fenômeno da permanência das
pessoas na quarta camada se deve a esse mundo doido em que os pais não
precisam mais ser pais, nem saber educar. Está tudo muito dado de forma tudo
muito mastigada. O problema é que quando esse amor não vem para a criança
de um ser humano presente, a criança perde o referencial que preencheria o
seu interior — é então que ela vai para a vida adulta e fica o tempo inteiro
fazendo o cálculo de saber se é amada; e dificilmente alguém a amará de forma
benévola, para fechar de vez o contorno afetivo.
É em torno então desse território de segurança a que a criança está, o
tempo inteiro, tentando contornar com a faculdade Razão, querendo saber se é
amada por inteiro, que ela vai desenvolver os territórios de valentia, coragem,
bravura etc., para poder agir com segurança.
A quarta camada é, portanto, muito bem fechada e calculada pela criança
quando os pais se fazem presentes amorosamente, sem querer nada em troca.
Estou falando de criança, mas serve para os que são adultos e têm ciência
de que estão na quarta camada. Se você é um desses, saiba que você não tem
o território de segurança afetiva, e isso te faz ser inseguro e, o tempo inteiro,
procurar saber se é amado ou não.
Pessoas assim são chantagistas emocionais, caem em relacionamentos
abusivos, porque qualquer coisa é migalha afetiva para elas — acham que todo
amorzinho dado a elas preenchem o seu peito, mas em seguida percebem que
essas migalhas não eram um amor benévolo e se afundam novamente no seu
rombo afetivo.
Pessoas assim estão o tempo inteiro fazendo uma troca com o mundo
sensível, mas nunca conseguem sentir-se satisfeitas; têm uma motivação
constante de satisfazer o seu mundo interior e, assim, tudo se torna
sentimentalismo, se torna uma chaga aberta.
O vitimismo de pessoas assim é muito bem justificado, naturalmente. Elas
sempre acham que os outros lhes devem alguma coisa; elas chegaram à vida
adulta com essa mentalidade — afinal, as pessoas (vulgo pais) lhes deviam
amor na infância, mas esse dever não foi cumprido; logo, saem para o mundo
pensando que todos devem esse amor a elas (quando, na verdade, não devem).
Sabemos que um amigo não tem o dever de dar esse amor de que necessita o
quarta camada adulto, porque é um amor muito grande.
Conseguem entender agora por que algumas pessoas são inseguras e
estão nesse estado de ficar o tempo inteiro calculando afetos?
É claro que pessoas assim são inseguras; não poderia ser diferente. Na
terceira camada, elas já perceberam que o mundo exterior, concreto, tem uma
estabilidade, mas, ao procurar a estabilidade do mundo interior, dentro de si,
não a encontraram — e não a encontraram porque nunca foram amadas de
verdade. Daí que elas não façam nada que não seja para obter amor em troca;
toda a motivação delas é serem amadas e aprovadas afetivamente.
O quarta camada adulto tem uma ferida aberta em seu mundo sensível; e,
embora seja adulto, ainda é possível tratá-la para que se torne uma cicatriz.
Agora, quando a quarta camada é fechada com a pessoa ainda criança, o mundo
dela é muito estável, sem cicatriz nem nada. O período de construção, de
formação dos tecidos, foi fechado num timing perfeito. Uma criança então que
consegue fechar a quarta camada sendo ainda criança, vai mundo afora muito
mais segura de si.
Para fechar a quarta camada, enquanto adulto, existe um exercício
proposto pelo meu irmão. É possível fechar a quarta camada em um instante
por meio desse exercício, mas tratarei disso em outro lugar.

Espero que vocês tenham entendido teórica e conceitualmente a


motivação da quarta camada.
O professor Olavo, ao descrever a quarta camada, coloca como escola
teórica explicativa a psicanálise de Freud. Ou seja, a única forma de fazer uma
pessoa sair da quarta camada seria fazer terapia num setting terapêutico, com
o psicanalista.
É importante frisar, no entanto, que apenas uma pessoa de personalidade
madura é capaz de tratar alguém. O meu irmão cansa de falar isso em seus
cursos. Então, você nunca conseguirá ser tratado por um psicólogo ou
psiquiatra que não esteja em uma camada superior, porque, do contrário, ele
não teria as ferramentas, nem conheceria as motivações das camadas acima,
para tirar você da quarta camada.
Apresentamos a motivação da quarta camada. É possível trabalharmos de
uma melhor forma os temas relacionados a ela, olhando caso a caso. É o
primeiro contato que vocês estão tendo com isso de forma mais profunda,
correlacionado com a faculdade humana chamada Razão.

Quinta Camada
Chegamos na quinta camada; saímos finalmente da quarta camada
(sonzinho da bateria). Você já entendeu que não precisa ser validado o tempo
inteiro e não precisa de tanto amor assim quanto julgava precisar; entendeu que
a demanda outrora alegada por você não é igual a demanda real do mundo. Você
contornou os seus afetos, o seu mundo interno, e agora está pronto para ir ao
mundo.
Na terceira camada você apreendia o mundo, entendia como ele
funcionava e fazia os cálculos sobre ele. Depois, na quarta, contornou o mundo
interior e agora você está pronto para ir para o mundo real.
A motivação da quinta camada é a de testar a força pessoal no mundo.
Você acabou de sair do seu mundo interior; pela primeira vez, você é
jogado na quinta camada e no mundo. Então, você precisa testar a sua força e
descobrir se serve para alguma coisa.
A quinta camada, portanto, é a camada da força inútil. É inútil porque se
trata da força do adolescente — a quinta camada é a camada típica dos
adolescentes, cuja força aparece nas briguinhas juvenis. Veja, nesse estágio,
você é ainda muito imaturo, porque acabou de sair da quarta camada – sua força
então não tem tanta potência no mundo, por assim dizer; é uma força algo
braçal, pouco trabalhada. Aliás, o adolescente precisa, às vezes, sair na porrada
na rua para provar que não precisa provar nada para ninguém.
A força própria da quinta camada não serve ainda para sustentar você e a
sua família, por exemplo; só serve para fazer você constatar alguma sua
utilidade no mundo, ainda que pueril.
Olhe para o adolescente. Ele consegue se virar apenas minimamente, além
de ser um chato, pentelho, peso morto, não trabalha, não sustenta a casa, não
coloca comida dentro de casa, não paga uma conta — e ainda assim testa
sempre sua força com todo o mundo; é o briguentinho, com anseio de mostrar
que pode alguma coisa. Então, ele está sempre te desafiando, mostrando que
possui alguma força; ele se acha o maioral — embora, no fundo, saiba não ser:
ele só fica testando força com você por ser essa a natureza mesma do estágio
de amadurecimento em que está.
Para você, mais velho e já adulto, se você já tem um emprego e cumpre
alguma função, se as pessoas já contam com você para alguma coisa e, ainda
assim, a sua motivação for a de tentar sempre provar alguma coisa para
alguém, saiba com toda a certeza que você está na quinta camada.
No final das contas, para se determinar em que você está, não importa
muito o lugar em que você se encontra, mas a união dos esforços em prol de
uma motivação.
A quinta camada é uma camada de passagem; ninguém fica muito tempo
preso a ela, e isso por alguns motivos: primeiro, se você é adolescente, irá ficar
velho um dia e então terá de trabalhar (seus pais não irão te sustentar para o
resto da vida). Se você é adulto, e acabou de sair da quarta camada,
provavelmente (como eu disse anteriormente) você já tem um emprego e se
sustenta; logo, você já mostrou ter forças reais no mundo e alguma habilidade;
as pessoas contam com você minimamente.
Um adolescente, se está saindo do colégio e entrando na faculdade, logo,
logo irá arranjar um estágio. Se ele tem, mais ou menos, a cabeça no lugar, já
passa a ser útil no seu estágio; as pessoas já começam a contar com ele, nem
que seja para ir buscar um café. Tendo já uma mínima utilidade, não irá
permanecer por muito tempo na quinta camada.
A quinta camada é uma camada de passagem, principalmente, por ser
regida pela faculdade humana Apetite Concupiscível – este rege também a sexta
camada. Não existe, portanto, uma mudança de apetite para se conquistar a
próxima camada; já há em você, sendo soprada pela Vontade, a faculdade
humana necessária para progredir à sexta camada.
O que é o Apetite Concupiscível?
O Apetite Concupiscível se move para os bens materiais, que estão
embaixo do seu nariz. O que faz você querer um brownie, por exemplo, é o
Apetite Concupiscível.
Enquanto o Apetite Irascível é a conquista dos bens árduos, o
Concupiscível move o ser humano à conquista dos bens palpáveis, fáceis de se
conseguir. Estes, estão muito relacionados ao prazer, porque as coisas a que
ele almeja são muito do chão, desta nossa terra, como dinheiro (aliás, um
parêntesis: o dinheiro já é uma coisa mais difícil de se conquistar, porque você
precisa trabalhar um pouco para conseguir dinheiro; trata-se de uma coisa aqui
de baixo, da terra, palpável, mas um pouco mais difícil de se conquistar).
O Apetite Concupiscível rege também a sexta camada, como eu disse mais
acima, que é a próxima camada. Portanto, se você já está há algum tempo na
quinta camada, testando sua força no mundo, sendo meio briguento, discutindo
um pouco com as pessoas (ganhando algumas discussões, perdendo outras) —
ou seja, testando a sua força no mundo. Com isso, logo mais terá uma utilidade;
portanto, novamente, você não fica muito tempo preso à quinta camada.
O jargão, criado pelo meu irmão, “Trabalhe, sirva, seja forte e não encha o
saco”, tem toda uma razão de ser; ele não tirou isso da cabeça dele
simplesmente; cada unidade da sentença tem uma lógica. A parte do “seja forte”
nada mais é do que uma reiteração do que você precisa para sair da quinta
camada.
Quando falo para a mulherada: “Maquie-se, fique bonita etc.”, tenho a
mesma pretensão. A beleza é também uma força no mundo — portanto, estar
bonita dará forças a você. Qualquer mulher que diga não ficar bem quando mais
bonita está mentindo na cara dura: todas as mulheres se sentem bem quando
mais bonitas. É importante, portanto, você ficar bonita para mostrar à quinta
camada quem é que manda.
Para os homens, o “seja forte” é tornar-se forte mesmo, fisicamente, para
não ter um corpo mirradinho. A força física também te dá força no mundo; você
saber ser capaz de defender-se e defender alguém que está ao seu lado, vai te
dar forças e fazer você sair da quinta camada.
Toda camada tem a sua dor. A da quinta é não se sentir forte. A pessoa
então que teoricamente ficasse presa na quinta camada seria uma pessoa
fraquinha: ela é jogada no mundo, mas é frágil e sente ser incapaz de imprimir
qualquer tipo de potência no mundo.
Friso: é importante ficar forte fisicamente e ficar bonito (acrescento “ficar
bonito” para os homens também). Não se trata, no caso das mulheres, de
tornar-se fútil ao buscar ficar bonita, mas simplesmente de melhorar a sua
aparência e se importar com a estética, com como você se apresenta ao mundo
– isso te dá forças, no final das contas.
Essa é a questão da quinta camada: testar e mostrar a sua força no mundo.
Você precisa sentir-se forte, testar a sua força e ganhar a disputa algumas
vezes para superar a dor da quinta camada. A partir do momento em que você
perceber ter alguma força, sai dessa camada e passa a usar as suas habilidades
para conseguir alguma coisa na camada seguinte.

Aos pais que estejam com um adolescente brigão em casa, digo: fiquem
tranqüilos; isso é parte constitutiva da adolescência. Vocês têm de dar graças a
Deus pelo filho de vocês estar brigão. Em geral, hoje em dia, os adolescentes
são mirrados e apáticos. Antigamente, na minha época de colégio, por exemplo,
os adolescentes pareciam marginais — e isso é bom para o adolescente; ele
precisa experimentar alguma força vital.
Antigamente, os adolescentes brigavam de lutinha; atualmente, você delas
como o diabo foge da cruz! Aliás, ninguém mais incentiva essas iniciativas; as
mães, por exemplo, acham-nas agressivas demais; não querem mais colocar
os filhos em alguma arte marcial por achá-las agressivas demais. “Meu filho vai
se tornar uma máquina de matar; não pode ter contato com briga e luta”. Pois o
resultado está aí: os adolescentes estão se tornando seres apáticos e frágeis.
Isso é muito prejudicial para a adolescência.
Muitas mães ficam querendo abafar muito, com a sua autoridade, as
iniciativas de testes de força do filho, ou querendo oprimi-lo demais e com isso
mostrando que ele sempre vai perder, ou querendo afrouxar demais, deixando
o adolescente mandar nela. Aliás, se uma mãe está na quarta camada e o seu
filho na quinta, ele irá testar a força com ela a todo momento, e ela, por sua vez,
irá querer ser amada a todo tempo — e então ela acaba levando tudo para o lado
pessoal, pensando: “Ah, meu filho não me ama mais” e chora, faz chantagem
emocional etc.
Para uma mãe lidar com um filho, é importante ter a noção desse estágio
do amadurecimento. O adolescente precisa passar por esse momento. Às mães,
digo: deixem um pouco seu filho no mundo, dêem um pouco de liberdade para
ele. Têm um filho brigão? Põem ele em um tatame para testar a força dele. Isso
é importante. Não queiram um adolescente apático dentro de casa, que não faz
nada, é inútil.
Dêem um pouco de espaço para o adolescente. Não é para dar toda a corda
e deixá-lo livre, mas para dar um pouco de corda e depois puxá-la — afinal, é
necessário mostrar quem manda em casa. Entretanto, você não pode abafar e
oprimir o adolescente; não pode ficar na cola dele dizendo: “O que está
acontecendo no colégio? Você brigou com o amiguinho? Vou lá na escola falar
com a diretora”. Parem; deixem o adolescente se virar sozinho, ele precisa
disso.
O grande problema das mães é que, quando o filho é criança, fazem tudo
por ele, servem-nos, e depois vêm reclamar que fazem tudo por todo o mundo
e ninguém faz nada por elas. Ficar mimando o filho por toda a infância,
poupando-o de lavar uma louça, fritar um ovo, varrer o chão etc., é ruim — e
depois, quando ele fica mais velho, as mães reclamam que o filho não está
fazendo nada.
A quinta camada, então, é essa camada da força inútil que não leva a quase
nenhum lugar (você não consegue muita coisa no mundo ao dar porrada em
alguém, ao saber-se forte, ao ficar bonita etc.; não é o que vai importar
maximamente, no final das contas: é só a base para progredir depois).
Você não irá ficar muito tempo preso a essa camada. Adquirindo
minimamente algumas habilidades, você sai facilmente dela; não existe um
desafio de mudança de apetite — o Concupiscível rege tanto a quinta, quanto a
sexta camada, e isso porque a pessoa, nessa fase, a pessoa está ainda lutando
por coisas muito baixas, pegadas ao chão.
Não existe um desafio muito grande de mudança de apetite (você só irá
dar um upgrade no mesmo apetite, quando for para a sexta camada). O desafio
de passagem não é tão grande.
Homens: fiquem fortes fisicamente, para vocês verem que têm alguma
força no mundo, por mais inútil que seja;
Mulherada: fiquem bonitas, importem-se com a própria beleza porque lhes
dará força no mundo.
Pais de adolescente: dêem um pouco de liberdade para os seus filhos;
deixem-no ir para o mundo um pouco, sem dar-lhe toda a corda, para que ele
não mande em vocês.

Sexta Camada
Chegamos à sexta camada. Saímos da quinta e adentramos ao território
das habilidades, da força útil, da serventia para alguma coisa.
Se na camada cinco precisávamos provar para nós mesmos que tínhamos
força e conseguiríamos vencer num mundo novo, que fica além do nosso mundo
dos afetos; se precisávamos provar que possuíamos força braçal, força de
combate; se necessitávamos mostrar para todo mundo e para nós mesmos que
a gente não devia provar nada a ninguém; se nessa mesma quinta camada havia
a autodeterminação do ego, a conquista da autoconfiança, na sexta não basta
você achar que vale algo ou tem força: é preciso constantemente usar suas
habilidades para conseguir algum sustento – você não pode mais ser um peso
morto e continuar sendo sustentado pelos outros. Sua busca e motivação é
justamente por não mais depender de ninguém para se sustentar.
Você acabou de sair da adolescência, tem aí alguns meios e agora já pode
ir trabalhar e ganhar seu dinheirinho, nem que seja num estágio, ganhando
pouco. Mas você já não é mais um inútil que só fica de briguinha na escola dando
socos na cara do amiguinho ou discutindo na internet em seu facebook e
ganhando debates imaginários em sua cabeça.
Na sexta camada, alguma coisa precisa ser entregue no meio social; as
pessoas não te reconhecerão simplesmente porque você é lindo e maravilhoso
e acha que tem força. É preciso de fato ter essas coisas, mas também entregar
algo que valha e obter um resultado real e conquistar um objetivo de verdade.
Não é mais na sua cabeça que se dá tal embate. Para os outros é que você
precisa provar que merece receber alguma coisa ao final do mês.
Portanto, o dinheiro é o grande símbolo da camada seis porque é com
dinheiro que nos sustentamos hoje em dia. Não se pode mais dormir à tarde, ao
bel prazer e na hora em que bem se entende. É preciso acordar às sete da
manhã, e às oito estar no seu trabalho. As pessoas dependem de você e só vão
recompensá-lo caso entregue tais responsabilidades. Se por uma semana não
o fizer, será mandado embora e ninguém lhe sustentará.
A idéia dessa camada e sua motivação real é conseguir entregar aqueles
valores advindos da conquista de habilidades. Precisa-se da retribuição deles
ao final do mês. Aqui se dá a conquista de autonomia e independência.
“Como é que fica, Mila? Sou dona de casa. Nunca vou chegar na sexta
camada? Eu nunca terei essa motivação?”
Mesmo a dona de casa precisa ter um mínimo de noção sobre finanças,
pois em última análise o desempenho dela e a sua habilidade de manejar isso
tudo vai impactar na prosperidade do núcleo familiar. Se caso não possuir noção
de nada, ela não tem habilidades para dar conta desse trabalho.
O trabalho de dona de casa nada mais é que lidar diretamente com isso,
lidar com os suprimentos da casa, lidar com as coisas que estão entrando, pagar
uma conta. Quantas donas de casa não têm essa função? O marido traz a conta,
bota o cartão nas mãos dela, e tudo é feito de dentro de casa. É importante isso
para a dona de casa, só que dificilmente ela se manterá presa à sexta camada.
Por não ser ela quem lida diretamente com a fonte do sustento, é difícil
criar a motivação relacionada a ele. Claro que tem gente que é tão apegada aos
bens materiais que acha isto o mais importante: ganhar dinheiro e guardar
dinheiro.
Alguém que seja meio esperta, um tanto avarenta, está sempre de antena
ligada no sustento, naquilo que está entrando; o objetivo maior dela é manter a
família próspera e os filhos com o tênis da moda, é ter dinheiro para comprar
coisas. Em última análise, essa pessoa tem a motivação da sexta camada, mas
não vai muito longe.
Já a dona de casa, que além de se preocupar com tudo isso, desempenha
o seu papel social de mãe de família, de educadora dos filhos, consegue passar
mais facilmente para a camada sete. Fica-se preso à sexta camada porque não
consegue se desvencilhar da avareza, só pensa em sustento, não tem o
vislumbre da transcendência da sétima camada, isto é, fazer o dever pelo dever.
Não há a conquista da faculdade do Apetite Irascível, o qual significa a conquista
de bens duradouros e de bens árduos como a esperança, a nobreza, a fidelidade
e a coragem. Você não concebe isto em sua cabeça por estar ainda cegado pelas
coisas materiais deste mundo.
Dinheiro é bom demais. Tem gente que fica o resto da vida nisso e acredita
que ele seja o centro articulador de tudo, quando na verdade sabemos que não
é – dinheiro acaba, vai embora. Não só depois da morte, já que caixão não tem
gaveta, mas aqui nesta vida ainda. Se você está preso ao dinheiro e ele acabar
de repente, então sua vida acabou. Esta é a dor real da sexta camada: chegar ao
entendimento de que você continua na eternidade, mas seus bens materiais,
não. O que será levado para a eternidade de tudo que conquistou materialmente?
Nada. Você não formou seu Apetite Irascível, não conquistou nada senão coisas
chãs. Assim como tem gente que vive e morre na quarta camada, tem gente que
vive e vai morrer na sexta porque nunca conseguiu vislumbrar coisas
superiores.
Assim, a sexta camada se trata disso: da conquista de um sustento real,
com resultados reais. Não é mais você querendo se autoafirmar ou desejando
a autodeterminação de seu ego, mas realmente perceber que tem habilidades
que podem ser trocadas por sustento; você não mais é sustentado pelos seus
pais e precisa buscar isso, lutar por isso, trabalhar por isso e ter
responsabilidade para conquistar isso. A vida já não é mais “venha a nós”, as
suas coisas não são advindas do trabalho de outras pessoas, mas do seu. Você
precisará fazer alguma coisa porque nada virá de mão beijada, de fora para
dentro.
Desta forma, a camada seis é a dessa motivação de colocar em prática
habilidades já conquistadas e aprimoradas afim de conseguir da sociedade algo
em troca que te sustente. Você sabe agora que as coisas precisam ser feitas
com a sua própria força para que recebe algo em troca. É o Apetite
Concupiscível que vai te fazer mover-se para a conquista desses bens terrenos.
A sexta camada ainda é conquista de bens menores, ainda é conquista de
dinheiro para trocar por alguma outra coisa. Você no mercado troca suas
habilidades por sustento e dinheiro, e depois faz alguma coisa com isso: ou
guarda, ou gasta. Tem pessoas extremamente avarentas que só querem
guardar dinheiro, querem tudo para si. Já outras querem dinheiro para trocar
por sexo com mulher, para comprar tênis, trocar por comida – mas é sempre
trocar por bens materiais.

Sétima Camada
Chegamos à sétima camada. Você já entendeu que a pessoa na sexta
camada está ali, há algum tempo, exercendo habilidades reunidas ao longo da
vida, em troca de uma recompensa do mercado e da sociedade. Ela consegue
sustentar-se e sustentar aqueles que dependem dela. Tornou-se um pouco
mais independente, ou até mesmo totalmente independente. Depois de estar
certo tempo exercendo sua função em troca de coisas materiais para si, a
pessoa de sexta camada começa a ser reconhecida pela comunidade como
alguém capaz de cumprir um papel social.
A camada sete é a camada do papel social. A pessoa com tanta maestria
faz o que deve fazer, com tais habilidades dignas de reconhecimento alheio, que
começa a cumprir um papel social e passa a ser vista dessa forma pela
sociedade. Depois de entender que ganhar dinheiro é legal e de ver que é muito
bom ser remunerada por suas habilidades e usar isso para obter coisas
materiais, satisfazendo-se pelo Apetite Concupiscível, a pessoa começa a
perceber um outro bem, que está acima do bem material: o serviço. É aí que o
sujeito começa a ter uma noção real do que é serviço. Ele começa a servir
porque precisa servir; porque servir se tornou para você um dever; porque as
pessoas contam com isso; porque quando serve, ele é mais ele.
A pessoa que está na sétima camada nunca tem pensamentos do tipo: “Ah!
não vou servir porque vão me fazer de trouxa e abusar de mim”. Sabe o
pensamento que havia lá na quarta camada: “Ah! se eu fizer isso, serei
abusada”? Não existe abuso na sétima camada, porque o indivíduo dela serve
porque deve servir, serve pelo serviço – e esta é sua motivação única.
É engraçado que numa determinada camada a temática das suas
superiores é incompreensível. Se falarmos sobre serviço pelo serviço para
alguém de quarta camada é capaz que a pessoa não consiga conceber do que
se trata: “Ah! você vai ficar servindo simplesmente por servir, sem pedir nada
em troca? Até parece que é assim!”
Tem gente que faz a coisa por saber que precisa ser feito, é um dever da
pessoa fazer aquilo. Porém isto não quer dizer que não haja uma satisfação
interna devido ao reconhecimento e à gratidão dos outros, mesmo não sendo
esta a motivação dela. Serve porque deve servir. Se não receber nada em troca,
se não receber um olhar amoroso ou um “obrigado”, pouco importa. O serviço é
o trabalho, é o papel social que a pessoa desempenha e a gratificação vem
simplesmente por realizá-lo de forma bem-feita. Portanto, a motivação da
camada sétima é justamente esta: ser reconhecido por um determinado papel
social e cumpri-lo simplesmente por dever.
Vejamos o que pode aparecer na sexta camada que faz com que alguém
se mantenha nela: supondo que uma pessoa já se dê muito bem no trabalho; já
sabe exercer sua função; já sabe ganhar dinheiro; já fez tudo em prol das
conquistas materiais; já ouviu de seu Apetite Concupiscível que fazer coisas e
receber algo em troca é bom — esta referida pessoa possui uma visão mais
longa da empregabilidade do dinheiro e suas motivações são de alguma maneira
superiores ao desejo de simplesmente comer um doce, uma torta, um biscoito
recheado, porque tudo isso está ali embaixo do nariz dela. Apesar de o dinheiro
ser um bem material deste mundo, é difícil conquistá-lo. Já foi preciso formar
o Apetite Irascível. É preciso acordar cedo porque em troca disso, terá
prosperidade. Então trabalhar para ganhar dinheiro já é uma motivação superior
a simplesmente usar o concupiscível para obter coisas que estão à disposição
(comer coisas gostosas, fazer sexo etc.)
Entretanto, o sujeito da sexta camada que já se deu muito bem, que já é
CEO de uma empresa, que já tem tudo que o dinheiro pode dar e possui mais do
que consegue gastar, já forneceu para si e para os seus dependentes, esse
sujeito que passou por tudo isso tem mais chances de ficar preso na camada
em que se encontra do que o cara que tem lá suas habilidades, que já tentou
muito mas não é nada de excepcional, que não consegue ganhar muito dinheiro
no jogo de trocar habilidades por recompensas por não ter muita facilidade
nisso, porque este último consegue perceber que existe algo que está além do
bem material, isto é, servir às pessoas. Por mais que não tenha se dado muito
bem no emprego e no jogo das trocas, a pessoa nessa condição percebeu que
tudo aquilo não faz muito sentido.
“Dinheiro é bom, mas eu não consigo conquistar muito. Tenho aqui minha
vida modesta e minha comunidade já me olha como um papel social, eu já sirvo
às pessoas. Ainda que não ganhe muito com isso, me sustento minimamente e
consigo perceber uma gratificação maior em servir aos outros.”
Essa pessoa sai mais facilmente da sexta camada do que aquele cara que
se deu muito bem.
Estamos entendendo que prosperar exacerbadamente, fazer com que a
sexta camada se esgote em suas possibilidades, não tem nada a ver com chegar
à sétima camada. As pessoas acham que a camada seis é exclusivamente do
dinheiro e que é preciso então ter muito dinheiro para chegar na próxima. Não;
aqui falamos da motivação da pessoa: já foi ganhar dinheiro, já foi prosperar, já
foi fazer tudo para sustentar a si e a família; mas ela enxerga um bem maior
que esses: o bem do serviço.
Assim, é muito mais fácil para essa pessoa, que já sentiu que a coisa “não
paga bem” e que não tem muito tato para o jogo da troca, avançar para a camada
sete. No reconhecimento pelo papel social que cumpre, o sujeito que está
avançando da sexta para a sétima sente mais gratificação em servir do que o
cara que tem o jogo do dinheiro muito bem trabalhado em si. Este segundo pode
ser um soberbo, um vaidoso, e nunca conseguir se desvencilhar disso; o
dinheiro lhe dá tudo e ele manda e desmanda nas pessoas. Então para que tenha
o vislumbre do bem superior, para que se agrade do serviço que presta a uma
comunidade e lhe conquiste a lealdade, fica mais difícil.
Vê-se aqui entre as camadas seis e sete a existência de um salto de
faculdade. Por exemplo, a passagem da quarta camada para a quinta é sofrida
também, é preciso conquistar uma nova vela, é preciso soprar com mais força
a vela que você está soprando; você vai da faculdade Razão para a faculdade do
Apetite Concupiscível. Já na sétima camada, passa-se para o Apetite Irascível,
para a conquista de bens mais árduos, para o desenvolvimento de conceitos
mais abstratos e superiores como lealdade, coragem, temperança, desapego às
coisas materiais.
Caso isso nunca tenha sido trabalhado, a pessoa pode manter-se presa
até a morte na sexta camada. O dinheiro é uma coisa do chão, muito material,
ainda que seja muito boa e permita a conquista de diversas coisas: ele pode
mantê-lo preso a coisas rasas, pode deslumbrá-lo de forma que as outras
coisas não sejam mais enxergadas. Isto é muito curioso na sexta camada
porque as pessoas, a partir do momento que entendem que ele se relaciona com
dinheiro, acham que precisam ganhar muito para evoluir. Contudo, pode ser o
oposto.
Não estou te influenciando a deixar de querer prosperar na vida. Com
dinheiro você pode fazer coisas que são muito superiores, coisas muito nobres:
ajudar pessoas ao seu lado; querer que pessoas da sua família tenham
melhores condições; auxiliar alguém que realmente precise etc. A questão aqui
é você trabalhar bem a questão do apego material. Daí a importância do apelo
de dar esmolas a mendigos. Dois reais não salvam a vida de ninguém, já parou
para pensar? Alguém me perguntou aqui se podia dar dinheiro invés de comida:
faz os dois! Qual o problema em dar dinheiro mesmo para o mendigo? Money,
bufunfa? Qual o problema?
Eu sei qual o problema: você é uma pessoa avarenta, apegada. Quando
você dá comida, o imperativo de que o dinheiro que ia dar pra ele deve ser usado
para uma coisa específica já está feito. E é claro que você sabe mais da vida
dele do que ele mesmo, não? Você então prefere dar comida e dar roupa. O
mendigo não quer ganhar essas coisas. Ele é uma pessoa miserável. Dê-lhe
uma coisa com a qual ele possa fazer o que quiser. Dar o dinheiro vivo é
importante. Para de ser apegada e somente agir com esse seu Apetite
Concupiscível, pois você acha que dinheiro é muita coisa – daí não querer dá-lo
ao mendigo. Trabalhe isso, porque se prosperar na vida e se não tiver tanta
avareza, você vai para a sétima camada como um sujeito que tanto serve com
habilidades quanto ajuda os outros com dinheiro vivo mesmo. É muito melhor,
então, ir para a camada sete com dinheiro.
Não seja tão apegado, dê dinheiro às pessoas, dê esmola mesmo ao
mendigo e para de ficar travado nisso.
“Por que vou dar dinheiro ao mendigo se ele vai tomar cachaça?”
Pô, você toma gim todo final de semana com sua amiga no bar (cinco gins,
cada um de R$40). Então você dá ao mendigo dois reais para que ele os some
aos outros trocados que ganhou de alguém e assim comprar uma cachaça, mas
ele não pode fazer isso. Pare de julgar o mendigo e deixe de ser avarento e
apegado às suas coisas: dê esmola para ele.

Oitava Camada: O homem diante da morte.


Vamos lá fazer um apanhado das faculdades, para que entendamos melhor
isso; muita gente acha que uma faculdade deixa de existir quando outra assume
o comando.
Vamos supor que você seja uma pessoa de sétima camada e decidiu
emagrecer: você quer ficar mais bonita para sua namorada ou seu marido. Há
um chiclete qualquer ao alcance de suas mãos, com açúcar – que não é o ideal
para alguém que esteja em dieta, sim? O mundo para você funciona da seguinte
maneira: o objeto apareceu em sua frente; o senso comum, que está ativo a todo
momento, depurou a luz que bateu no objeto e entrou pelos olhos e fez enxergar
que há um chiclete à sua frente. Com a faculdade da razão, você conseguiu
apurar toda essa informação e a colocou para dentro fazendo cálculos, pois
você já viu em sua vida outros chicletes que não este de agora.
Repare as faculdades funcionando:
(i) O senso comum depurou e colocou para dentro a informação;
(ii) A razão calculou e entendeu aquilo como sendo um chiclete com açúcar
e estabilizou a informação;
(iii) O Apetite Concupiscível, motor das conquistas materiais simples e
fáceis, entra em cena (mesmo já não sendo a faculdade dominante em você, ele
continua a existir – lembrando que o exemplo é para sétima camada) e informa
que o chiclete é uma coisa gostosa e que você deveria querê-lo pois gosta de
chiclete com açúcar;
(IV) O Apetite Irascível, que já está bem formado e é o dominante e
norteador no nível sete, avisou-lhe que existe um bem, existe algo que pode ser
conquistado, chamado temperança e fidelidade, por exemplo, ao ideal de
emagrecer.
Quando você tem esses conceitos abstratos superiores difíceis de serem
conquistados sendo mediados todos pelo Apetite Irascível (faculdade que o faz
conquistar coisas difíceis e bens árduos), consegue mandar uma informação
para o cérebro que diz o seguinte: “apesar desse chiclete ser uma delícia, tem
açúcar. E como tem açúcar, será ruim para minha dieta. Se for ruim para ela,
vou falhar. Mas eu não quero falhar porque quero conquistar os bens
superiores, quero emagrecer, quero ter temperança de não pegar o chiclete
mesmo que me seja muito apetecível. Vai ser uma delícia colocá-lo na boca –
mas eu não quero, declino”.
É assim que você funciona. Mesmo na sétima camada todas essas
faculdades estão funcionando, ainda que não sejam mais o seu norte. É possível
olhar o chiclete e, mesmo sabendo que é uma delícia, não pegá-lo porque há um
bem maior a conquistar. Você não mais cede a coisas apetecíveis do mundo, que
podem ser destruídas e proporcionam apenas prazeres efêmeros.
O chiclete é uma coisa destrutível, não? Comemos e pronto, acabou. A cada
vez que um bem mais indestrutível (temperança ou lealdade a um propósito
feito, por exemplo) é colocado para dentro, você torna a sua personalidade mais
brilhante e duradoura – mais indestrutível, no final das contas. Quando se
permanece muito tempo agindo no mundo pelo Apetite Irascível (característica
da sétima camada, pois nela é a primeira vez que ele aparece como uma vela
norteadora), colocando para dentro bens superiores e mais indestrutíveis,
acontece uma coisa que é a seguinte: a oitava camada chega até você.
Da sétima para a oitava camada não há uma mudança de faculdade.
Lembra que já foi falado sobre a maior dificuldade que existe nas transições de
camada quando há também mudança de faculdade? Lembra que lá na quinta
camada, depois de ter passado um tempo se provando e autodeterminando,
mostrando suas habilidades, a sexta camada aparece para você? Basta-lhe
adquirir um mínimo de habilidades e conseguir se sustentar no mundo que a
sexta camada aparece para você: é quase uma passagem automática, se for
vivendo as coisas conforme elas são em sua ordem natural. Da sétima para a
oitava, essa mudança também se dá assim. Depois de um tempo cumprindo seu
papel social e sendo guiado pelo Apetite Irascível, colocando para dentro de si
bens mais indestrutíveis e tornando sua personalidade mais brilhante e
superior, a oitava camada se depara contigo.
A oitava camada consiste na seguinte pergunta: diante de tudo que estou
fazendo, eu retifico ou ratifico? Isto é, precisa mudar porque não há sentido de
transcendência ou precisa continuar o que se está fazendo? É uma pergunta de
morte mesmo, que te coloca cara a cara contra você mesmo.
“O que foi feito até aqui faz sentido diante da morte ou será preciso mudar
isso tudo?”
Essa pergunta é muito grave e séria porque se você fez coisas sem sentido
até aqui, e sabendo que na sétima camada seu papel é cumprir uma função
social, ela se aparecerá para você de forma muito dramática.
Imagine-se com 50 anos de idade, cumprindo o seu papel social, com
pessoas esperando isso de você, e então chega a oitava camada, que te pergunta
se você ratifica ou retifica as coisas que tem feito. Se a resposta diz que você
precisar retificar e mudar, e para isso sendo necessário abandonar seu papel
social, isto se torna muito decisivo na sua vida porque já sendo uma pessoa de
sétima camada você entende seu papel social como um dever – e a pessoa de
sétima camada não abandona o posto, tudo aquilo é esperado dela, e a sua
motivação é entregá-lo à sociedade. Por isso a pergunta de oitava camada é
muito séria, é realmente uma pergunta de morte.
“A partir daqui, diante da morte, o que você tem feito faz sentido? Vamos
continuar ou vamos mudar o curso das coisas?”
A oitava camada é dramática. É você diante da morte. É o sujeito diante da
morte. E certas perguntas de destino precisar ser respondidas. O que vai fazer
a partir daqui? Vai continuar fazendo o que está fazendo? Isso é a coisa certa?
Era o que queria para você?
Não há um empenho para se chegar à oitava camada, não existe nenhuma
técnica que faça a pessoa se elevar a ela. Para alguém de camada sete, é
importante meditar sobre a própria morte: e esta é a única coisa que pode fazer
uma pessoa de tal camada. Começa-se as preparações para o momento da
morte. “O que estou fazendo valerá a pena?”, “Quando eu morrer, essas coisas
ficarão. Valerá a pena?”, “O que estou fazendo tem sentido continuar pela
eternidade?”
A oitava camada é uma camada mais dramática, mas ela o encontrará,
depois de você ficar um tempo na sétima camada cumprindo um papel social.
Ela é a pergunta de morte.
Eu ratifico ou retifico?
P.S.: Para nós agora as camadas que importam são essas. Vai trabalhando
aos poucos os elementos de cada uma delas. É importante para qualquer um
meditar sobre a morte. Não ache você, um diagnosticado na quarta camada, que
meditar sobre a morte não é necessário. Colocar elementos de outras camadas
é muito importante para a gente, sempre.
“Mila, se eu não souber se estou na quarta ou quinta camada, que tenho de
fazer de diferente?” Não há nada de diferente para fazer. Estar na camada quatro
é o lugar mínimo que pode você estar, caso não exista nada que influencie na
sua cognição. Se você está na quarta camada e está colocando elementos de
força para si, não há problema algum. A conquista da quinta camada é mais
rápida e a coisa fica muito mais fácil.
Reflitam sobre todos esses elementos, coloquem-nos em suas vidas no
dia a dia. Isso elevará sua personalidade e a tornará mais brilhante.
Isso é tudo, gente.
Um beijo.

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