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AULA INAUGURAL DO CURSO DE FILOSOFIA COM LÚCIA HELENA

GALVÃO
PHILOS + SOPHIA = AMOR OU AMIZADE À SABEDORIA.
Corram atrás da sabedoria, porque saber viver, saber ser, saber
transmitir vida é um ofício fundamental que nos trouxe ao
mundo, portanto, o filósofo é um amante da sabedoria, do
conhecimento, do conhecer e viver em conformidade com aquilo
que ele conhece.
Os filósofos clássicos não escreviam livros simplesmente para
expor ideias, para problematizar e apresentar conceitos e ideias;
não. Eles faziam manuais de vida. A probabilidade de pegar um
desses autores e ver as páginas que fala sobre alguma
recomendação de como viver humanamente, é bem altíssima,
porque suas obras eram manuais de vida. A filosofia era
conhecida como arte de viver, de forma cada vez mais
plenamente humana e ela atendia a essa necessidade. Assim era
a filosofia no período clássico.
Mas o que foi que aconteceu depois disso? Quais foram as
mudanças que foram introduzidas? Bom, o tempo vai passando,
as necessidades humanas vão se modificando, ou mesmo as
alienações humanas, e todos sabemos, como aprendemos no
colégio, que num determinado momento a gente esbarra com
mil anos de Idade Média.
Se você pega o espírito livre que havia na filosofia greco-romana
e confronta isso com a Idade Média, vai ver que não foi um
confronto fácil. Esse confronto inicial provocou várias mortes e
muitos filósofos foram sacrificados. A mentalidade da Idade
Média era extremamente dogmática e os dogmas teológicos da
época evidentemente, não deixariam que a filosofia desse palpite
quanto à arte de viver. A arte de viver era totalmente coberta
pela teologia.
Essa convivência foi muito difícil, ou seja, a filosofia era
internalizada no seio da religião. Aí nós vamos ter a Patrística, a
Escolástica, onde a filosofia exercida, no sentido de tomar um
pouco das ferramentas dos filósofos gregos, para estruturar um
pensamento, era baseado totalmente na verdade cristã, e isso
era um limite que era instransponível e assim foi.
Para ser filósofo você não pode ser dogmático, fanatizado em
nenhum tipo de ideologia, não pode achar que é dono da
verdade. Buscar a filosofia é pra quem não tem toda a verdade e
está buscando. Se você acha que já tem a verdade e vai procurar
as ideias apenas para que elas fundamentem aquilo que você já
sabia, isso não é bem filosofia. Uma pessoa que tem uma
ideologia firmada, tem uma vida muito ideologizada, ela não vai
à filosofia para buscar a verdade, para buscar a sabedoria, ela vai
para buscar fundamentação para aquilo que já crê ou
fundamentação para atacar aquilo que ela não crê.
O espírito da filosofia é: “Só sei que nada sei” como se atribui a
Sócrates e estou buscando porque eu não tenho; se eu acho que
já tenho, todos os dados que vierem para mim, vou enquadrá-los
naquilo que eu acho que já sei. Portanto, você bloqueia o fluxo
da legítima busca pela sabedoria. A filosofia então praticamente
se recolhe à filosofia cristã e se desenvolve aí dentro. Não vou
dizer que esse pensamento é sem valor, ele é sim dotado de
muito valor, sou uma grande admiradora de vários autores
cristãos, mas, o espírito da filosofia livre como havia na Grécia,
retrocede.
É muito necessário que o ser humano experimente o que é viver
com valores, que talvez ao sentir o gosto disso, perceba que não
há nada melhor, não há nada que traga um estado de serenidade
e de paz e consequentemente de felicidade maior do que isso.
Portanto a nossa forma de transmissão de conhecimento, tem
muito a ver com a possibilidade de aprendermos de quem viveu
fundamento em valores, experimentarmos isso na nossa vida e
assimilarmos, integrarmos como conhecimento nosso. Porque a
partir do momento que eu te transmito um conhecimento, você
o vivencia, o experimenta, o integra, ele não é mais meu, ele é
teu, ele se torna a tua forma de responder a vida. E é exatamente
pela forma de responder a vida que a gente pode avaliar quem
tem conhecimento e quem não tem. A hora que a vida faz
demandas, a resposta que cada um dá, é exatamente a
consequência da quantidade de conhecimento que cada um foi
capaz de integrar, de não apenas acumular.
Como diz Sócrates: “Só é útil o conhecimento que nos torna
melhores”. De fato, é assim. Fala para que eu te veja, aja para
que eu te veja, interage com a vida para que eu te veja. A partir
da sua resposta às circunstâncias, eu vejo se você conhece ou
não e, o quê.
O CONHECIMENTO NASCEU PARA TER UM INTERAÇÃO DIRETA
COM A VIDA. Que tipo de conhecimento se justificaria por si
mesmo e não pela interação que ele tem com a vida?
O nosso valor, a fonte da nossa força vem exatamente dos valores
que são humanos, exclusivamente humanos e nós sintetizamos
em geral em 3, que segundo a filosofia platônica são os
desdobramentos da ideia do bem: a vontade, o amor e a
inteligência.
Se nós tomarmos como princípio que a vida, nada mais é do que
um palco que nos oferece a oportunidade de aperfeiçoamento,
as ferramentas para aproveitar essa oportunidade são os valores
humanos, são as mais eficazes, são aquelas que nos fazem ter
maiores possibilidades de crescer e deixar referenciais para que
outros cresçam. E para deixar o mundo um pouco melhor do que
aquele que encontramos, ou seja, qualificar a nossa presença no
mundo, não viver em vão.
Portanto, desenvolver uma vivência em valores é como colocar
alguém para provar chocolate: a qualidade de vida que ele
proporciona é algo que pode se integrar profundamente à vida
do homem, e dar a ele uma possibilidade de ser e de servir à
humanidade em um outro patamar.
A filosofia então também trabalha com a oferta desses valores
humanos para que o homem reflita sobre eles, aprenda sobre
aqueles que o viveram e o ensinaram, e possa testá-los na sua
vida. Nada pronto. Tudo para ser digerido e integrado por cada
um que os recebe. Não é uma recepção passiva.
Platão fala que é necessário educar inclinações e isso está
diretamente relacionado a uma coisa que a gente chama de
formação do caráter.
O que vem a ser educar inclinações? Todos nós nascemos com
inclinação a gostar de algumas coisas, rejeitar outras, mas é
necessário trabalharmos com essas inclinações de tal maneira
que você goste daquilo que te direciona para o humano e rejeite
aquilo que te inclina para a bestialidade, para o egoísmo feroz,
ou seja, você começa a formar as suas inclinações.
Formação de caráter nada mais é do que aprender a gostar
daquilo que te promove como ser humano e rejeitar aquilo que
te retroage a um comportamento que alguns animais não
ousariam ter, que muitas vezes nós chegamos a ter. Nós
trabalhamos com a questão de estudar aqueles que viveram na
prática e colocar uma proposição de vida, testá-los na nossa
experiência e uma que percebemos o que eles nos oferecem,
integrá-los como uma resposta própria à vida. E isso é trabalhado
através dos manuais de vida que a filosofia oferece. Como
referências, não para serem decorados e imitados, mas para
serem experimentados, testados na prática, como um bom
experimento científico.
MINI CURSO: COMO SUPERAR OS LIMITES INTERNOS
LIVRO: “A GUERRA DA ARTE” (STEVEN PRESSFIELD)
O bom senso conduz a identidade humana
Todo valor tem que ter uma conexão direta com a ideia do bem.
Essa é uma ideia que leva os seres à plenitude da sua condição,
seja que natureza de ser for.
Segundo Platão: Bem é aquilo que une, portanto, leva os seres ao
ápice da pirâmide, à unidade com todos aqueles que caminham
também.
Steven Pressfield divide o livro em 3 partes:
1- Definindo o inimigo: fala do nosso inimigo interno, a nossa
dificuldade em crescer, vencer o nosso egoísmo, não ser
escravizados pelos instintos, de sobrevivência, de
perpetuação da espécie, nossa inércia, nossa preguiça. A
tudo isso ele chama de RESISTÊNCIA. A resistência é o
general em armas, de todos esses elementos que não nos
deixam crescer.
A princípio, nós temos uma transição a fazer nos dois
mundos: passar de um estágio muito animal, um animal
dotado de mente, porque o animal se baseia em 2 coisas:
instinto de sobrevivência e instinto de perpetuação da
espécie.
2- Tornando-se um profissional;
3- O reino superior
Temos que identificar contra o que estamos lutando. Não
estamos lutando contra nada fora, e sim contra um inimigo
interno, que pode ter aliados externos, mas eles não nos
derrubam. Os internos sim! E é terrível porque o inimigo interno
não é tão claro de se ver!
E quando ele percebe nesse livro esse inimigo interno que não
consegue enxergar, ele chama isso de RESISTÊNCIA. E dispôs a
explicar como se luta contra isso.
Ele dizia que nunca ia cair no engano de colocar o urgente na
frente do importante, porque senão vai aparecer um monte de
urgentes na vida dele e o importante é produzir aquilo para o
qual eu nasci. Realizar o meu sonho, dar o recado da minha alma
para o mundo! Isso é o importante e não posso passar nada na
frente. Aconteça o que acontecer, tal horário estarei sentado e
escrevendo. Agora, eu venci a resistência hoje, mas não tenho
ilusão, amanhã ela vai me esperar pela manhã com uma
estratégia nova. Amanhã começa tudo de novo e ela vai estar
mais forte, e vai querer me enrolar de outro jeito.
O mais difícil que existe é sentar e fazer o seu trabalho!
Não há nada difícil que venha de fora. O mais difícil é vencer a
tua inércia, a conversa fiada da tua mente, os adiamentos, as
desculpas que você mesmo inventa, sentar e fazer o teu trabalho.

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