Para falar de uma formação da personalidade da psicologia Tomista, precisamos entender o princípio e o fundamento dessa formação da personalidade Tomista. O princípio e o fundamento é o fim último do homem. Então o fim último do homem é princípio da conduta humana. Fazemos algo porque temos uma finalidade em seguida daquilo que fazemos. Então não dá para entender a vida prática do homem sem uma referência ao fim último. Esse fim último seria o sentido da vida? Sim. Só que para a psicologia Tomista, o fim último não é elegido. Eu não escolho o que é o sentido da vida para mim. Eu não escolho o que é o fim último. Ou seja, o fim último do homem, ele é inato. E no que consiste o fim último então? O fim último é a felicidade. O fim último não é a felicidade de por exemplo, eu pegar uma caneca e beber o líquido que está nela e sentir um prazer porque isso pode ser gostoso. Não. O FIM ÚLTIMO DA FELICIDADE É INATA E ELA É O PRINCÍPIO DA CONDUTA HUMANA. Se o fim último é o princípio e o fundamento, então podemos colocar que o fim último cria na pessoa uma regra de vida. O homem vai se organizar diante do fim último. Qual o problema então? A personalidade fica definida de uma certa forma, a partir daquilo que queremos como fim último. Temos um desejo inato, mas há uma possibilidade de distorcer, ou seja, eu não escolho o que é verdadeiramente o meu fim último, não tem como eu escolher; mas posso escolher (daí vai ser de uma forma errônea) e achar que o fim último está em coisas que não comportam esse fim último. Qual é o ponto? O fim último e a felicidade são inatos; queremos ser felizes. Mas o problema é que as pessoas colocam a felicidade em coisas distintas, e aí que o B.O acontece: porque se eu coloco que minha felicidade última por exemplo, está no “beber o líquido que está na minha caneca”, eu vou caminhar com as minhas condutas, com o meu estilo de vida, e com a minha regra de vida, nessa percepção. Daí é obvio que vai ser um problema. Nesse caso, se colocarmos o fim último em ter dinheiro, ter fama, ter poder, será um grande problema. Aquilo em que alguém repousa como em seu fim último, domina o afeto do homem, porque disto toma as regras de toda a sua vida. Por esse motivo, se diz dos gulosos em Fl 3 – Aqueles cujo Deus é o ventre porque constituem em seu fim último às delícias do ventre. Livro: A práxis da psicologia, pág. 117 (I parte da II parte, questão 1 artigo 5, breve citação da Suma Teológica) Se colocamos o fim último nos prazeres sexuais, aquele fim último domina os afetos; se colocamos o fim no dinheiro e se a pessoa tem um problema financeiro, a pessoa pode até não entrar em depressão, mas pode estar absolutamente deprimido. Precisamos investigar isso como uma tarefa vital para a construção de uma vida boa, uma vida necessariamente saudável. Para captarmos esse sinal que é o fim último em nós, precisamos necessariamente de um esclarecimento intelectual, ou seja, ver a verdade, ver o bem, e que preciso me preparar para ela porque o fim último do homem é um encontro; ver o fim último só é possível com a retidão dos nossos apetites; os nossos apetites estarem ordenados. Por isso precisamos fazer um esforço, porque se eu sou uma pessoa completamente desordenada, qual é o fim último que eu vou escolher pra mim? Vou escolher o fim último que esteja de acordo com a minha desordem. A preparação para esse encontro que é o fim último, passa justamente pelas virtudes. A virtude então vai ser o nosso hábito, que é um conjunto de atos práticos, que vão nos preparar para o nosso encontro com o fim último, com a felicidade. Por isso que nessa dimensão da formação da nossa personalidade, precisamos ter a nossa inteligência no centro, ela que vai iluminar a minha vida e que vou conseguir ordenar na medida do possível, o meu apetite. Eu entendo que tenho esse encontro, a minha inteligência entende que esse encontro está ali, informa a minha vontade que é um bem e eu me preparo para esse encontro através das virtudes. As virtudes passam a ser então algo de importância gigantesca para a formação da nossa personalidade. Para a Psicologia Tomista, o estado de virtude está como perfeição e normalidade humana. Um homem normal é virtuoso. UMA PERSONALIDADE SAUDÁVEL É UM CONJUNTO ORDENADO DE VIRTUDES.
Aristóteles
Quem ofereceu uma primeira resposta respeitável acerca da psique
humana foi Aristóteles, filósofo grego do século quarto antes de Cristo. Foi aluno de Platão e foi o preceptor, isto é, o formador de Alexandre, o Grande. Ele publicou seus estudos sobre as emoções humanas na obra Peri Psique, traduzida para o latim como De Anima, que em português significa Sobre a Alma. Vemos aqui que o termo psique corresponde ao termo alma no nosso idioma. Pois bem, a produção intelectual aristotélica foi perdida no mundo latino, tendo subsistido no mundo intelectual árabe. As obras de Aristóteles chegaram no que hoje chamamos de Europa apenas no século XIII d.C. Essa grande “novidade” movimentou a intelectualidade medieval e despertou o interesse de Santo Tomás de Aquino. Santo Tomás de Aquino
Santo Tomás é um gênio da filosofia e da teologia, sua obra
monumental é um dos ápices da inteligência humana. Há autores que o consideram uma “máquina de pensar”. Com apenas dezoito anos de idade ele escreveu sua primeira obra.
Na sua Summa Teologica, ele sintetizou o conhecimento psicológico
apresentado por Aristóteles e integrou-o ao conhecimento então atual. Uniu a sabedoria que Aristóteles havia atingido com apenas os recursos da razão, integrou-a à Sabedoria que nos foi dada pela Revelação Cristã. Deixou-nos como herança um amplo e completo tratado sobre a alma humana, que modernamente chamamos de emoções ou psicologia.
A desordem dos atos humanos relacionados às paixões são as doenças
emocionais, que na época eram chamadas de “enfermidades da alma”. Do entendimento e identificação dos atos desordenados e dos meios de ordená-los, para o restabelecimento da saúde, resulta a Psicoterapia Tomista, isto é, uma forma de estabelecer uma relação de ajuda com a pessoa que está doente emocionalmente. Ela contextualiza as emoções no grande esquema das potências humanas. Estabelece comparações entre a capacidade de elaboração mental dos homens e dos animais, os ditos “brutos”, pois não possuem a razão, capacidade que distingue o ser humano dos outros animais. Podemos apenas tecer alguns comentários sobre esta psicologia. A utilização da base de conhecimentos da psicologia tomista e a sua transformação em um sistema de psicoterapia nos moldes da nossa psicoterapia contemporânea foi realizada por psicólogos desde os anos 1940 até os nossos dias. Os dois maiores expoentes nesta tarefa são o canadense Robert Brennan e o argentino Martin Echavarria que atualmente dirige uma universidade em Barcelona.
Uma coisa que a faculdade de psicologia me ensinou é estar
aberto ao saber, então quando eu tinha que estudar a obra de um autor que eu não concordava, eu tinha de qualquer forma que me debruçar com sinceridade, com abertura, para ver o que que ele falou, o que ele pensava sobre a vida etc. Geralmente se considera que a psicologia é uma ciência relativamente moderna e isto porque o termo entrou em uso geral somente nos últimos 150 anos, mas se esquece de que houve uma psicologia pré-moderna a qual durou mais ou menos desde 500 a.C até o século XVII, mas que não se chamava de psicologia e sim de ética, ou com maior frequência ainda de filosofia, ainda que se tratasse justamente de psicologia. Em santo Tomás de Aquino encontra-se um sistema psicológico do qual se pode provavelmente aprender mais, que em grande parte dos manuais atuais de tal disciplina, nele encontra-se interessantíssimos e muito profundos tratados sobre temas como narcisismo, soberba, humildade, modéstia, sentimento de inferioridade e muitos outros. Quem emitiu essa opinião foi um psicanalista chamado Erich Fromm, que não era cristão, era um ateu e escreve isso em seu livro: Do Amor à Vida e ele escreve sobre isso. Esse homem tinha uma abertura ao saber e viu que nos escritos de santo Tomás tinha algo que poderia acrescentar para a psicologia. A psicóloga norte-americana chamada Magda Arnold é conhecida por ser responsável nos anos 60 pelo avanço cognitivo da psicologia das emoções. Essa psicóloga formou essa teoria das emoções e ela se inspira na concepção de paixão que está nos escritos de santo Tomás de Aquino. A psicologia positiva do Martin Seligman traz o retorno das virtudes, que também é uma dinâmica aristotélica e trouxe esse elemento.