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José Aristides da Silva Gamito (Organizador)

QUANDO OS FILÓSOFOS
FALAM DE FELICIDADE

Dossiê do 1º Ano de Filosofia do


Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário
José Aristides da Silva Gamito (Organizador)

QUANDO OS FILÓSOFOS
FALAM DE FELICIDADE
Autores:
Diego de Oliveira Rabelo
Erick Faria Albergaria
Geraldo Lucas de Souza Silva
Gustavo Pio Soares
José Aristides da Silva Gamito
Luan Carlos Alves Gomes
Pedro Júlio Ferreira Arcanjo
Pedro Vítor Mello

2022
FICHA TÉCNICA Apoio:

Título: Quando os lósofos falam de felicidade


Ilustração da capa e diagramação: José Aristides da Silva Gamito
Organizador: José Aristides da Silva Gamito
Autores:

Diego de Oliveira Rabelo – Seminarista – São Domingo das Dores/MG


Erick Faria Albergaria - Seminarista – Orizânia/MG
Geraldo Lucas de Souza Silva – Seminarista – Bom Jesus do Galho/MG
Gustavo Pio Soares – Seminarista – Santo Antônio de Manhuaçu/MG
José Aristides da Silva Gamito – Professor – Conceição de Ipanema/MG
Luan Carlos Alves Gomes - Seminarista - São João do Manhuaçu/MG
Pedro Júlio Ferreira Arcanjo – Seminarista – Vila Nova/MG
Pedro Vítor Mello – Seminarista – Caratinga/MG

Editora: E-book - edição independente


Instituição: Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário
Local: Caratinga/MG

Licença Creative Commons ISBN

GAMITO, José Aristides da

Quando os filósofos falam de felicidade. / Gamito, José Aristides da Silva


(organizador). – Caratinga, 2022.

42fl.
37fls.

Dossiê (Curso de Graduação em Filosofia) Seminário Diocesano Nossa Senhora


do Rosário / Faculdade Claretiano.

1. Felicidade 2. Prazer 3. Razão 4. Riqueza 5. Ética.

Todos os graduandos participantes deste dossiê são alunos do 1º ano de Filosoa (II Período)
do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário e Faculdade Claretiano.

Contato com o organizador:


joaristides@gmail.com
AGRADECIMENTOS

Primeiro, gratidão ao Eterno pelo tempo presente.


Agradeço aos alunos do 1º ano de losoa pela dedicação em pesquisar e preparar os
artigos que compõem este dossiê.
Meus agradecimentos à reitoria pela parceria e apoio na condução deste trabalho que
agora socializamos com o público externo à instituição.
FICHA TÉCNICA

Não há vida prazerosa sem que seja ajuizada, bela e justa, nem se pode
viver ajuizada, bela e justamente, sem prazer”.

EPICURO, Sentenças Vaticanas, V.


SUMÁRIO

Introdução - 01
A função do prazer na concepção de felicidade de Epicuro de Samos -
02
José Aristides da Silva Gamito

A vida feliz a partir do De Vita Beata de Sêneca - 07


Erick Faria Albergaria
Pedro Vítor Mello

A ética da felicidade no livro III da Consolação da Filosoa de Severino


Boécio: ressonâncias para a sociedade contemporânea - 14
José Aristides da Silva Gamito
Luan Carlos Alves Gomes

O utilitarismo de Jeremy Bentham: a felicidade coletiva - 20


Diego de Oliveira Rabelo
Gustavo Pio Soares

A felicidade em Sartre - 25
Geraldo Lucas de Souza Silva
Pedro Júlio Ferreira Arcanjo
Quandos os lósofos falam de felicidade 01

INTRODUÇÃO

O que todos nós buscamos na vida é a realização pessoal. Ninguém quer ser mal
sucedido na prossão e nos relacionamentos. Estamos o tempo todo torcendo pelas pessoas
que amamos, desejando que elas sejam aprovadas, promovidas. A motivação de fundo das
nossas aspirações é um anelo pela felicidade. Existem muitas conceituações de felicidades,
modos de buscá-la, mas todos a cultivamos com o maior cuidado.
Por ser um assunto tão importante, os lósofos antigos consideravam que a gente
deveria receber uma educação para aprender a ser feliz. É isso mesmo! A felicidade pode ser
aprendida. Já que o que garante uma vida bem-sucedida é saber fazer boas escolhas e ter um
comportamento adequado. Felicidade é assunto de ética. A tradição losóca do período
helenista tornou esse assunto central nas obras de vários pensadores. Neste dossiê que
desenvolvemos com os alunos do 1º ano de Filosoa do Seminário Diocesano Nossa Senhora
do Rosário, procuramos reunir as propostas de vários lósofos desde a antiguidade até o
século XX. O projeto de pesquisa integrou a proposta de iniciação cientíca dentro das aulas
de Dissertação Filosóca no ano de 2022.
Como resposta para a questão «o que é a felicidade?» ou «como podemos alcançar a
felicidade?», Epicuro de Samos (341-271 a. C), Sêneca (4 a. C. - 65 d. C.), Severino Boécio (480-
524), Jeremy Bentham (1748-1832) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) possuem diferentes
propostas. Ora a felicidade em tratada em termos de prazer, ora em termos de sacrifício.
Alguns idealizam a felicidade, enquanto outros a tratam de modo pragmático.
No entanto, uma só é a felicidade, com muitos caminhos e propostas para alcançá-la.
Dentre as teorias losócas sobre a felicidade, há soluções até excludentes entre si. O prazer,
por exemplo, é visto por uns como indispensável para a felicidade, enquanto outros pensam
que ele é a ruína do ser humano. Há quem descone do papel das emoções, há outros, do
excesso da razão. Mas, quase todos concordam que precisamos aprender a fazer escolhas,
temos de ter critério para viver e um pouco de juízo jamais pode nos faltar.
A felicidade ora pode ser apresentada como um bem material, corporal, ou pode ser
transferida para a esfera transcendental. Considerando a inevitabilidade das tragédias e das
adversidades, muitos quiseram o escopo da felicidade fora deste mundo. O cultivo da
felicidade pode ser proposto também como resultado de uma vida ativa ou contemplativa.
Anal, parece que muitos caminhos conduzem à felicidade.
E para você, o que é a felicidade? Boa leitura!
Quandos os lósofos falam de felicidade 02

A FUNÇÃO DO PRAZER NA CONCEPÇÃO DE FELICIDADE DE


EPICURO DE SAMOS

José Aristides da Silva Gamito

RESUMO

A ética de Epicuro de Samos tem como objetivo o alcance da felicidade. Diferentemente dos sistemas
éticos racionalistas, o epicurismo tem como maior valor o prazer. No entanto, a exaltação do prazer
como meio de felicidade não se confunde com um hedonismo irresponsável. Epicuro tem no prazer
catastemático a garantia da saúde física mental, estado que corresponde à felicidade.
Palavras-chave: Ética. Felicidade. Prazer. Prudência.

ABSTRACT

The ethics of Epicurus of Samos aims to achieve happiness. Unlike rationalist ethical systems,
Epicureanism has pleasure as its greatest virtue. However, the exaltation of pleasure as a means of
happiness is not to be confused with irresponsible hedonism. Epicurus has in catasthematic pleasure the
guarantee of physical and mental health, a state that corresponds to happiness.
Keys-word: Ethics. Happiness. Pleasure. Prudence.

1 Introdução

Acreditar na felicidade tomando um delicioso café numa manhã ensolarada à beira da praia é
uma certeza inabalável. Mas, continuar apostando na felicidade depois de perder a pessoa que você ama
de forma cruel, parece ser o fim da esperança. As diversas narrativas sobre a felicidade, geralmente,
pecam sobre a alternância de alegrias e sofrimentos na vida. Esta é a condição comum de todos os seres
humanos. É claro, já ouvimos histórias raras de pessoas que coincidentemente tiveram quase que só
alegria na maior parte de suas biografias. Porém, não lhes faltou uma noite mal dormida por causa de
uma terrível dor de dente. Ou incômodos semelhantes. Ou seja, quando se fala da felicidade não se pode
omitir essas reviravoltas da vida.
Sempre tive uma recepção negativa das literaturas de autoajuda que parecem mais lições de
autoengano. Não existem soluções mágicas para ser feliz e nem para ficar milionário. A felicidade
depende de autoconhecimento, conhecimento das circunstâncias da vida, de treinamento e de boas
coincidências. Ela é um exercício diário e o know how necessário pode ser adquirido através da
educação. Isso tornará o indivíduo consciente de suas ações em prol da felicidade, mas nunca poderá
garantir plenamente que não terá um infortúnio. Talvez o primeiro desafio que nos apresenta o tema da
felicidade é como conciliar o sofrimento inevitável com a felicidade. Já sabemos que o sofrimento é
inevitável. Mesmo que façamos tudo para não provocá-lo, mas acabamos sendo vítimas das ações dos
outros ou da natureza.
Neste artigo, vamos procurar na filosofia moral uma doutrina sobre a felicidade. Tenho apostado
ultimamente na doutrina epicurista. Epicuro de Samos procurou explicar o problema da felicidade
através de uma abordagem realista. A felicidade, segundo esse filósofo antigo, pertence à dimensão
material do corpo. Somos felizes levando em conta nossa consciência, mas, acima de tudo, é uma
Quandos os lósofos falam de felicidade 03

questão de sensação. Por isso, Epicuro parte das duas sensações fundamentais do psiquismo humano:
dor e prazer. Nós experimentamos o mundo através de nossos sentidos e classificamos as sensações em
dolorosas e prazerosas. E a felicidade coincide com o prazer.

2 O problema da felicidade na filosofia epicurista

A ética ocupa um lugar central na filosofia de Epicuro de Samos. Assim como para todas as
correntes filosóficas do período helenista, o epicurismo põe o tema da felicidade no centro do debate
ético. Para os filósofos helenistas, não tem sentido discutir filosofia dissociado da vida cotidiana. A
sabedoria não serve somente para compreender o mundo, mas também para aprender como viver nele.
E a vida boa é, coincidentemente, uma vida feliz.
Na educação epicurista para a felicidade, o prazer é o maior princípio. No entanto, não é
qualquer prazer que leva à felicidade. Epicuro diz que “Não há vida prazerosa sem que seja ajuizada,
bela e justa, nem se pode viver ajuizada, bela e justamente, sem prazer” (EPICURO, Sent. Vat., V). A
felicidade é o resultado de uma equação que soma experiência estética e experiência ética. A maior
virtude que reside aí é a prudência nesse caminho. Assim diz Epicuro na Carta a Meneceu:

O princípio para alcançar tudo isso e o bem maior é o bom senso. Portanto, o bom senso é mais
precioso do que o mesmo amor à verdade, do qual derivam todas as outras virtudes, porque
ensina que não é possível viver com alegria sem fazê-lo com sensatez, beleza e justiça, nem
com sensatez e beleza. fazendo isso com alegria. Pois as virtudes estão ligadas por princípio ao
fato de viver com alegria, e o fato de viver com alegria é inseparável delas (EPICURO, Ep. Ad
Moen., 132). Tradução nossa.

A prudência é considerada como uma virtude mais valiosa do que o amor à verdade. A
prudência é a matriz de todas as virtudes porque ela ensina que não é possível viver uma vida prazerosa
sem cálculos e sem justiça. Epicuro associa prudência, beleza e justiça com a vida prazerosa. Portanto,
viver bem depende do equilíbrio entre essas virtudes.
Em Epicuro, ética e estética estão conjugadas no interesse de uma vida bem vivida. Das quatro
virtudes defendidas pelo filósofo, duas dizem respeito à experiência estética (alegria, beleza) e duas se
situam no campo ético (prudência, justiça). Elas estão unidas pelo princípio que estrutura toda a noção
de felicidade: o prazer. Em seguida, vamos verificar que função tem o prazer na ética epicurista.

3 A função do prazer na busca pela felicidade

Segundo Epicuro, o prazer é o princípio e o fim de uma vida feliz. O prazer é tão importante para
a sua filosofia que Epicuro desenvolve uma tipologia dos prazeres. Algumas características precisam
ser observadas no prazer. Ele não é somente oposto a uma dor, mas pode ter uma relação de causa e
consequência com um evento doloroso. Existem prazeres que trazem dores como resultados, se os
meios utilizados para alcançá-los não forem adequados (EPICURO, Sent. Vat., VIII). Além disso, não é
a quantidade de prazer que torna uma experiência prazerosa. Ele é o mesmo em menor e maior grau
(EPICURO, Sent. Vat., IX). O prazer necessário é aquele que cumpre a sua finalidade. Essa finalidade é
Quandos os lósofos falam de felicidade 04

a saciedade. Por exemplo, a comida simples e a requintada produzem o mesmo prazer, a saciedade da
fome.
Os prazeres são objetos de um desejo. Há desejos naturais e necessários e desejos inúteis. Esse
conhecimento possibilita a escolha dos desejos adequados para que o prazer seja apto para a felicidade.
Ninguém deve escolher todo tipo de prazer, simplesmente porque é prazer, e nem evitar toda dor. O
critério de avaliação é de benefícios e de danos (EPICURO, Ep. Ad. Men.).
Além de existirem desejos necessários e desejos inúteis, Epicuro classifica também os prazeres
em dois tipos: o cinético e o catastemático. O primeiro envolve atividade, movimento. O segundo é um
prazer do repouso. O prazer catastemático constitui o fundamento da felicidade para o epicurismo.

1) O eixo em que se distinguem os prazeres catastemático e cinético é remover a dor. Assim,


um prazer catastemático é um prazer que remove a dor, e o prazer cinético é um prazer que não
afasta a dor. 2) Um prazer cinético é, por definição, um prazer desnecessário, pois não tem nada
a ver com a remoção da dor. 3) Um prazer catastemático deve ser identificado não só com a
ausência de dor, mas também com todo o processo conduzindo a esse estado (LIEBERSOHN,
2015, p. 271-296). Tradução nossa.

Todos os prazeres consistem na remoção da dor. O prazer cinético é o processo e o catastemático


é o resultado da remoção da dor. Quando se experimenta o prazer cinético não se afasta totalmente a
possibilidade da dor, isso só ocorre com o prazer catastemático. Epicuro o identifica com a serenidade
mental e com a saúde física. Segundo o filósofo, o catastemático corresponde a um tipo de prazer
natural que é inerente a todos os seres vivos. Ele se caracteriza pela passividade, pela estabilidade
interior. O alcance desse prazer não exige muitos recursos materiais.

As palavras de Epicuro em sua obra Sobre a escolha são: “a tranquilidade da alma e do corpo
são prazeres estáticos; a alegria e o deleite consistem em movimento e atividade.”
(DIÓGENES LAÉRCIO X, Vida de Epicuro,136).

A principal vantagem do prazer catastemático é valorização do nosso estado de serenidade


cotidiana. Ele é mais valioso do que banquetes e grandes conquistas. É um tipo de prazer que nem
sempre é tido como tal. Imagine você acordando num domingo de manhã e sentindo-se despreocupado,
sem nenhuma dor. É um infinitude de sensação de existir dentro de um tempo finito. A sensação do
prazer catastemático se assemelha a um estado neutro, mas ele é um prazer natural. Esse estado de bem-
estar, sem gasto de energia para consegui-lo, isento de ansiedade, é procurado em muitas tradições
como algo mais transcendental. Mas, Epicuro o identifica no próprio corpo, na natureza.
Às vezes, se confunde a noção de prazer de Epicuro com um hedonismo irresponsável. A
doutrina que ele defendia é totalmente contrária a essa perspectiva. Ela diz respeito a um prazer que
garante a autoconservação, a saúde física e mental. Por isso, que o maior prazer é um bem-estar mental,
ou seja, a serenidade, a ausência de perturbações.

Quando então dizemos que o prazer é o fim, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes
ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram a
nossa doutrina, ou não concordam com ela, ou a interpretam erroneamente, mas ao prazer que é
ausência de sofrimentos no corpo e de perturbações na alma. (DIÓGENES LAÉRCIO X, Ep.
Quandos os lósofos falam de felicidade 05

Ad. Men., 131).

Para manter o estado de serenidade, Epicuro rejeita o barulho da pólis, o vínculo com as
instituições, a vida luxuosa e a fama (MARÍN, 2015, p. 36). A militância política, por exemplo, seria
desaconselhada por Epicuro por causa das perturbações da vida política. Sabemos pela prática
brasileira o quanto os assuntos políticos podem ser prejudiciais à saúde mental. Enquanto, os estoicos
foram ativos na política, os seguidores de Epicuro preferiram a vida em pequenas comunidades. A
política para eles é a administração da justiça alicerçada na amizade social.
Não pense também que uma noite de orgia e bebedeira corresponda à ética epicurista. O critério
de escolha do hábito de vida é a prudência. Os excessos são prejudiciais à saúde porque resultam em
dores. Como Epicuro acreditava que o prazer não é quantitativo, mas qualitativo, entre tomar uma lata
de cerveja e um barril de chope não haverá aumento de prazer. O mesmo ocorre com o sexo. Entre várias
mulheres ou ter uma só, não aumentará o prazer. As experiências prazerosas são qualitativas e não
aumentam o resultado pelo acúmulo de vezes.
O hábito de vida epicurista é marcado pela alimentação frugal, o bom vinho, cultivo de boas e
sinceras amizades, a leitura e, sobretudo, pela alegria. Uma vida reservada em contato com a natureza
representa esse ideal. É uma vida prazerosa e aproveitada ao máximo sem prejuízo à saúde física e
mental. É nesse sentido que Epicuro exalta a beleza, o prazer, a alegria ao lado da justiça e da prudência.
Quem vive ajuizadamente pode aproveitar os prazeres da vida porque aprendeu a economia do prazer.

4 Considerações finais

A contribuição do epicurismo para o debate da felicidade foi reabilitar o papel do prazer e das
emoções no campo ético. As éticas racionalistas como a de Aristóteles, a dos estoicos e a cristã sempre
conservaram uma desconfiança em relação ao prazer. As emoções eram vistas como estorvo ou perigo
para a alma. Epicuro reconcilia o homem com sua própria natureza. O prazer é um bem natural. Utilizar
um prazer em favor da felicidade é questão de educação para o cultivo da prudência.
Como vimos, a felicidade é um estado estético e ético. Viver pressupõe uma existência com
prazer, realizar as coisas com prazer. Esse é o caminho mais natural. Ninguém nasceu para sofrer e não
existe tarefa mais urgente para a humanidade do que diminuir o sofrimento no mundo. As lições de
Epicuro são preciosas para o hedonismo contemporâneo. As pessoas são cada vez mais dependentes de
prazeres ilusórios como o consumismo, a fama, o lazer. A ética epicurista pode nos ensinar a tirar o
máximo de proveito do prazer sem nos causar malefícios. É a habilidade que falta na educação
contemporânea e o resgate da ética epicurista traz essa valiosa contribuição.

REFERÊNCIAS

LIEBERSOHN, Yosef. Epicurus' “Kinetic” and “Katastematic” Pleasures. A Reappraisal. Elenchos,


36, fasc. 2, p. 271-296, 2015.

MARÍN, Estiven Valencia. Ética del hedonismo en la obra Carta a Meneceo de Epicuro de Samos:
Resignificación del concepto placer. Trabajo de grado. Universidad Católica de Pereira, 2015.
Quandos os lósofos falam de felicidade 06

SAMOS, Epicuro de.

SANTOS, Rogério Lopes. A crítica cristã ao prazer epicureu. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 33,
n. 67, p. 167-196, jan./abr. 2019.
Quandos os lósofos falam de felicidade 07

A VIDA FELIZ A PARTIR DO DE VITA BEATA DE SÊNECA

Erick Faria Albergaria


Pedro Vítor Mello

RESUMO

Na presente pesquisa, abordou-se a questão da busca da felicidade, nas palavras de Lúcio Aneu Sêneca.
Este foi um importante filósofo do período de supremacia romana, mais precisamente, durante o
governo de Nero. A principal obra utilizada foi De vita beata, um diálogo dirigido ao seu irmão Gálio.
Tratou-se primeiramente sobre a questão da natureza, diferenciando-a em suas dimensões individual e
universal, e concluiu-se dissertando acerca da razão.
Palavras-chave: Sêneca; De Vita Beata; Estoicismo; Natureza; Razão; Felicidade.

ABSTRACT

In the present research, the question of the pursuit of happiness was approached, in the words of Lucius
Anaeus Seneca. This was an important philosopher of the period of Roman supremacy, more precisely,
during the government of Nero. The main work used was De vita beata, a dialogue addressed to his
brother Gallio. It first dealt with the question of nature, differentiating it in its individual and universal
dimensions, and concluded with a discourse on reason.
Key words: Seneca; De vita Beata; Stoicism; Nature; Reason; Happiness.

Introdução

Neste artigo, buscou-se responder à seguinte questão: Como se ter uma vida feliz? Para tal,
tomou-se por base principal o diálogo De vita beata, de Lúcio Aneu Sêneca, um dos mais importantes
filósofos do Império Romano. Fez-se uso de comentadores do autor, tendo foco nos autores mais
contemporâneos. Neste artigo, não se buscou chegar à única receita da felicidade, mas trazer reflexões
que corroborem para se chegar a ela. Foi feita uma breve biografia do autor. Para se aprofundar no autor,
recomenda-se a obra do monsenhor Feracine Sêneca – o filósofo estoico preceptor e tutor de Nero. Em
seguida, se abordou os temas relativos à natureza, em sua forma individual e universal; e à razão, como
guia para se ter uma mente sã, e através disso, não se deixar levar pelos prazeres, riquezas, aparências e
pela opinião alheia.

1 Sêneca, sua vida e doutrina

Lúcio Aneu Sêneca (em latim, Lucius Annaeus Seneca), nasceu em Córdoba, atual Espanha, no
final do século I antes da Era Comum. Foi filósofo, político e tutor e conselheiro de Nero. Ele foi o
filósofo de maior destaque do estoicismo imperial (também chamado de neo-estoicismo ou estoicismo
romano). Como Mora (2004 b, 2637) aponta que como os estoicos gregos, Sêneca era determinista e
corporalista, contudo a filosofia de Sêneca traz um “tom próprio”, que a qualifica ainda mais.
A obra Sobre a vida feliz, um diálogo que Sêneca direciona para seu irmão Gálio, onde ele
responde ao questionamento, o que torna a vida feliz? Escrita no período em que Sêneca era conselheiro
Quandos os lósofos falam de felicidade 08

de Nero. Nessa obra, ele traz de maneira clara, o que segundo a doutrina estoica torna a vida feliz que, a
saber, é viver conforme a natureza individual e a universal (destino), sendo guiado pela razão.

2 Viver conforme à natureza

Sêneca aponta como vida feliz, aquela em que o homem segue sua própria natureza. Ele seguia a
natureza assim como os estoicos, os quais ele afirma não seguir cegamente, mas concordar com suas
ideias após analisá-las através da razão. “É, pois, feliz a vida que está conforme a própria natureza”,
contudo, para se alcançar a felicidade seguindo a própria natureza, é indispensável possuir a mente sã, e
estar na completa posse de suas faculdades, além de ser forte, paciente, se adaptar às circunstâncias
temporais, se atentar ao corpo e ao que o circunda, mas sem ansiedade, além de amar o que melhora a
qualidade de vida, mas sem tornar-se escravo dos bens materiais e prazeres (SÊNECA, 2022. 3.3).
A natureza é como uma bússola para Sêneca, uma guia que mostra o caminho para a felicidade.
Ele também, seguindo essa doutrina, e alicerçado por valores estoicos, dá alguns conselhos para se
viver conforme a própria natureza
É a natureza que devemos assumir como guia. A ela se volta a razão e pede conselho. Eis que
passo a explicar-te o que entendo: se soubermos conservar, cuidadosa e serenamente, os dotes
físicos e inclinações naturais como bens de um dia e por isso fugazes; se não somos escravos
deles nem submetidos ao poder das coisas exteriores; se as ocasionais alegrias do corpo têm
para nós o mesmo valor que as tropas auxiliares, sendo que as pesadas são iguais às ligeiras no
exército (essas obedecem e não comandam), então, por certo, será de utilidade para a mente
tudo isso. (SÊNECA, 2022. 8.2)

A visão de mundo de Sêneca, era de liberdade para todos. Não importava se era livre ou escravo.
Onde houvesse uma vida humana, com ela, havia a possibilidade de fazer o bem. Sêneca acreditava que
não havia diferença entre as pessoas de classes sociais diferentes quanto à dignidade, e dessa forma, não
se deve fazer o bem apenas para as pessoas com maior poder aquisitivo. Por ser muito rico, o filósofo
conhecia as possibilidades que o dinheiro trazia, mas não tinha o dinheiro como objeto de felicidade,
mas a virtude, e é próprio dela fazer o bem, como é visível na passagem (SÊNECA, 2022. 24.3)
Como percebe Feracine (2007, p. 108) os estoicos se encontram com a dificuldade de equilibrar
os conceitos de “destino” com o de “liberdade”. Para essa questão, Neves (2017, p.11) observa que a
solução encontrada por eles, era “viver em conformidade com nossa 'própria natureza e com a natureza
do universo', seguindo a lei da razão comum a todos”. A partir disso, se diferencia dois tipos de
natureza, a individual e a universal (destino), as quais pela razão busca o estoico se conformar. Já que no
pensamento estoico, como mostra Feracine (2007, p. 109), a felicidade que se dá na tranquilidade da
alma, “depende da conformidade com a natureza e da adequação consigo mesmo”. Por essa razão,
Sêneca afirma que, como todos os estoicos, ele se orientava pela natureza (individual e universal). E que
é feliz quem vive conforme a sua natureza individual (SÊNECA, 2022. 3.3).

2.1 Viver conforme a natureza individual

Para Sêneca, a culpa da infelicidade dependerá única e exclusivamente do indivíduo. Afinal, ele
Quandos os lósofos falam de felicidade 09

não pode mudar a natureza, mas pode mudar seu posicionamento para com a natureza. Isso traz para o
texto de Sêneca um caráter subjetivo. Tanto que ele fala que na questão da felicidade não se deve
orientar pela maioria, pois não existe uma democracia da felicidade, a maioria aqui, é um argumento
negativo (SÊNECA, 2022. 2.1). Por esse motivo, ele adverte a seu irmão Gálio que

é preciso atentar para não seguir tal como ovelha o rebanho à frente porque, não sabendo
para onde ir, vai para onde as outras se dirigem. Realmente, nada mais pernicioso que se
adequar à opinião pública, tendo por mais acertado o que é consensual. Como atestam
numerosos exemplos, acontece findar vivendo não de acordo com a razão e, sim,
imitando os outros (SÊNECA, 2022. 1.3).

Já em outra obra, ele afirma que os “talentos mal direcionados reagem negativamente e seu
trabalho fica infrutífero porque conflita com a própria natureza” (SÊNECA, 2007, p. 48). Embora, ele
aqui esteja falando sobre trabalho, a mesma afirmação pode-se aplicar à vida. Caminhar contra suas
aptidões naturais, seus talentos, torna a vida infeliz, pois, conflita com a natureza. Ou seja, é infrutífero
lutar contra a natureza. Mais à frente, ele diz que é preferível ser menosprezado por viver conforme a
sua natureza, do que arcar com o sofrimento de uma atuação por toda vida (SÊNECA, 2007 p. 78).

2.2 Viver em conformidade com a natureza universal

Para melhor entender, é necessário compreender o que Sêneca quer dizer com “destino”.
Abbagnano (1982, p. 243) diz, em seu dicionário, que os estoicos antigos (Zenão, Crisipo, ...),
reconhecem o destino “como a 'causa necessária' de tudo, ou a 'razão' pela qual o mundo é dirigido”. Já
os estoicos imperiais retomam essa ideia e lhe aplicam na moral. Já Mora (2004 a, p. 686) nota que

isso leva os estoicos, em princípio, a suprimir a noção de “liberdade externa” e a


conceber a liberdade como uma “conformidade com o universo” (ou com “a natureza”).
A liberdade era assim, para os estoicos, o modo como cada um atua com relação ao
“destino”. Dessa maneira os estoicos acreditavam evitar as dificuldades suscitadas pela
crença num decreto divino “arbitrário”.

E, é justamente isso que Sêneca sugere, uma conformidade para com o destino, por meio da
razão, evitando assim a inquietude. Como exemplo, Sêneca (2007, p. 70) relata que Zenão, fundador do
estoicismo, que “ao ser informado do naufrágio em que todos os seus bens tinham perecido, (...)
exclamou: 'A fortuna está ordenando que eu me dedique, mais desembaraçado, à filosofia'”.

3 Viver guiado pela razão

“A filosofia, é pois, para Sêneca”, como diz MORA (2004 b, p. 2637), “fundamentalmente
'assunto prático', isto é, assunto dirigido ao 'bem viver', o que quer dizer não o alcançar gozos ou
prazeres, mas a verdadeira felicidade, que é paz e tranquilidade do ânimo”. E, para alcançar esse
objetivo, Sêneca apresenta a razão como instrumento. É a razão que permitirá o homem se
autoconhecer, discernir e viver conforme sua própria natureza. E será a razão que fará o homem se
conformar com o destino. Então, será a razão que levará o homem a alcançar a tranquilidade da alma.
Quandos os lósofos falam de felicidade 10

Para seguir a própria natureza, é preciso se guiar pela razão. Segundo Sêneca: “É feliz de
verdade quem usa, de modo correto, a capacidade judicativa da mente. Feliz é aquele que, satisfeito
com sua condição, seja ela qual for, desfruta da mesma. Feliz quem entrega à razão o direcionamento de
toda a sua vida” (SÊNECA, 2022. 6.2). A razão toca o sumo bem, que é segundo o filósofo, a harmonia
da alma (SÊNECA, 2022. 8.5).
Sêneca orienta que para ser feliz é necessário um guia, um mestre. Os caminhos para uma vida
feliz são desconhecidos. Por isso, ter alguém que conheça melhor o caminho é necessário. Contudo, há
também perigos em seguir os outros de qualquer forma, como uma ovelha em meio ao rebanho. Dessa
forma, acaba-se vivendo não por meio da razão, mas, por mera imitação dos outros. Logo, não é porque
a maioria tomou um caminho, que este é o melhor, ou mesmo, bom. Sobre isso, ele afirma:

Quando se trata da felicidade da vida, não se pode responder a modo de votação por mudança
de lugar: a maioria está desse lado, então, do outro lado está a parte pior. [...] Esse método não
se aplica aos problemas humanos, onde coisa melhor nem sempre agrada a maioria. Aqui, a
multidão é argumento negativo.

Sêneca afirma que a verdade não é quantitativa, e que não se pode viver uma vida feliz, fora da
verdade. Por isso, atenta ao risco das multidões, pois elas procuram o que é bom para elas, e esse bem,
nem sempre é verdadeiro, mas tomado de interesses (SÊNECA, 2022. 2.1).
De acordo com o filósofo, também não se pode viver uma vida feliz dando crédito às aparências.
Pois como é popularmente conhecido o dito “as aparências enganam”. Por isso, aquele que enxerga
apenas o exterior, e se deixa levar pelas aparências, não busca a verdade que pode estar escondida. Para
tanto, Sêneca diz: “Eu não olho para a cor das vestes que cobrem o corpo. Não acredito em aparências.
Tenho um instrumento melhor do que os olhos e mais confiável que me permite distinguir o verdadeiro
do falso. O bem da alma quem o descobre é ela mesma” (SÊNECA, 2022. 2.2).
Por meio da razão, Sêneca conclui que a verdadeira felicidade consiste na virtude. Para ele,
apenas o que está ligado à virtude pode ser considerado um bem. Em contraponto, o que está em
conexão com a maldade deve ser considerado mau. E aconselha a imitar Deus, dentro de suas
capacidades humanas, e se manter inabalável, seja ao deparar-se com o mau, ou seja, junto ao bem, a
virtude.
E para alcançar esse objetivo, Mora (2004 b, p. 2637) fala que para Sêneca, é necessário “que o
homem se contente com que 'tem à mão', ad manum, sem buscar o externo”. Contudo, ele “nem sempre
rejeita 'as coisas externas', mas isso é apenas enquanto essas coisas podem contribuir para o (...) 'bem
viver'”. A partir desse pensamento é que Sêneca vai discernir sobre os prazeres e sobre a riqueza.

3.1 Os prazeres

A respeito dos prazeres, Sêneca diz que

embora, difusamente, disseminado, com atrativos aliciantes para a alma a ponto de


defrontar-se o indivíduo com atrativos sedutores e com força suficiente para capturá-lo,
seja no todo, seja em parte, cabe perguntar. Quem dentre os mortais, dotado de um lastro
Quandos os lósofos falam de felicidade 11

mínimo de racionalidade, ainda que, de contínuo, atraído, teria a ousadia de, relegando
às traças a alma, dedicar-se só ao corpo? (SÊNECA, 2022. 5.4)

No entanto, muitos dedicam sua vida aos prazeres colocando-os como fim último de sua
existência. No que tange a isso Sêneca é duro, e coloca o prazer como algo secundário. E diz ser louco
quem prefere o prazer, em vez da virtude (SÊNECA, 2022. 6.1). Pois, como relata Lopandza, “Sêneca
percebe que o homem que se entrega ao prazer está mais apto a sofrer”.
Mas, por que Sêneca condena os prazeres? Por dois motivos principalmente: Primeiro, pela sua
natureza que é efêmera, como analisa Sêneca,

o prazer se exaure em meio ao que há de mais belo. Limitado como é, fica, bem logo,
saciado. Sujeito como está ao tédio, logo após o primeiro ímpeto, já afrouxa. Não pode
ser estável o que, por natureza, é móvel. De igual modo não pode ter consistência o que
aparece e desaparece como num relâmpago, destinado a findar no instante mesmo em
que surge. Com efeito, já vê o fim, quando começa (SÊNECA, 2022. 7.4).

Devido essa sua natureza ele não pode proporcionar a tranquilidade de alma, e por consequência
para Sêneca, a felicidade.
O segundo motivo, é que os prazeres são baixos, ao contrário da virtude. Diz Sêneca:

O prazer é coisa baixa, servil, débil, efêmera que tem domicílio em bordéis e nas tabernas. (...)
o prazer, com frequência, oculta-se, busca a escuridão que o acoberta, frequenta as piscinas e os
balneários de água quente, lugares esses longe dos olhos dos edis. Ele se mostra flácido,
desnervado, cheirando a vinho e a perfume, empalidecido, quando não formoseado e
embalsamado qual cadáver (SÊNECA, 2022. 7.3).

No entanto, Sêneca ao colocar os prazeres como secundários, ele não está proibindo o homem
dos prazeres, mas como algo que, desde que não atrapalhe, é permitido. Tanto que, ele chega até a
concordar com algumas ideias de Epicuro. Contudo, ele condena o epicurismo de sua época, dizendo
que o epicurismo se tornou um lar de viciados, que buscam em Epicuro uma justificativa de sua
depravação (SÊNECA, 2022. 12.4-13.3). Depois dos ideais epicuristas serem deturpadas e transpostas
por ideais de busca pelo prazer, que protagonizam sobre as necessidades naturais, Sêneca vem em
defesa de Epicuro
Eu tenho a convicção que posso declinar mesmo a contragosto de nossos companheiros de
escola. Epicuro deu preceitos nobres e retos e, se vistos mais de perto, até austeros. De fato, o
prazer é reduzido a uma dimensão diminuta. Aliás, a mesma regra a qual submetemos a
virtude, ele impõe aos prazeres, ou seja, obedecer à natureza. Ocorre que o quanto basta para a
natureza é pouco para a luxúria (SÊNECA, 2022. 13.1).

3.2 A riqueza

Como bem nota Vicente e Pereira (2011, p. 79-89) “a riqueza, no pensamento de Sêneca, assim
como o prazer, não contempla valor moral, ou seja, em si mesma a riqueza não é boa nem ruim”. Nesse
caso, tudo dependerá de como o indivíduo está apegado às riquezas. Criando assim a relação: indivíduo
– apego – riqueza. Nesta relação em nada influencia o tamanho da riqueza, mas o tamanho do apego do
Quandos os lósofos falam de felicidade 12

indivíduo.
As riquezas recebem grande atenção nos textos senequianos. Isso se dá, justamente pelo fato do
próprio Sêneca ser uma das pessoas mais ricas de Roma em seu tempo. Isso fez com que ele fosse
alvejado por críticas. Contudo, para ele, não eram as riquezas e os prazeres que traziam a felicidade
verdadeira, mas eram meros instrumentos de felicidade. Em um diálogo, diz, se defendendo: “Enfim, as
riquezas pertencem a mim, mas, no teu caso, tu és que pertences a elas”. Essa frase, mostra que o
homem deve ser o mestre de suas posses, e não se deixar dominar por elas. Se no futuro, as riquezas se
forem, para o homem sábio e feliz, será como se nem as tivesse tido antes, não o afetará, como ele
afirma: “Para mim, se minhas riquezas se desvanecessem, não reduzem a nada a não ser a elas mesmas”
(SÊNECA, 2022. 22.5); ou ainda:

olharei a morte com o mesmo ânimo com que tenho ouvido falar dela; suportarei qualquer
fadiga com fortaleza, desprezarei riquezas, quer as atuais, quer as futuras, sem ficar mais triste
ou mais soberbo se elas brilham ao meu redor ou lá longe; serei insensível aos caprichos da
sorte venturosa ou desafortunada; contemplarei todas as terras como se minhas fossem e as
minhas como se a todos pertencessem; viverei na convicção de ter nascido para os outros e
agradeço à natureza por causa disso (SÊNECA, 2022. 20.3)

Pois, veja como exemplo um popular conto franciscano: Conta-se que um frade quis viver uma
extrema pobreza, maior do que os frades menores (ordem fundada por São Francisco de Assis), então,
se desfez de toda a sua mobília e por ordem do seu superior, permaneceu apenas com dois hábitos e um
prego para pendurar o hábito que não estivesse usando. Certo dia, o prego em que pendurava seu hábito
reserva sumiu. E o frade desesperado acusou a todos seus irmãos de o terem furtado. O superior vendo
aquela algazarra, disse ao frade, como ele era rico. Na história, o frade possuía uma riqueza muito
pequena, mas o seu apego era tanto ao ponto de tirar-lhe a tranquilidade. Sêneca adverte que o homem
que deve possuir a riqueza e não as riqueza possuírem o homem (SÊNECA, 2022. 22.5).
Para finalizar o tema, Sêneca coloca como máxima para a medida das riquezas: “Em relação ao
dinheiro, o melhor critério consiste em não cair na pobreza nem dela afastar-se totalmente” (SÊNECA,
2007 p. 53). Tendo o que se é necessário para viver tranquilo, sem muitas preocupações, se chega à
tranquilidade, a uma vida feliz.

Considerações finais

Através do que foi exposto neste artigo, chegamos à conclusão de que, apenas é possível se
alcançar a felicidade, vivendo conforme a natureza, e deixando-se guiar pela razão. Pois como afirma o
filósofo autor do material base desta pesquisa: feliz quem vive conforme a sua natureza (SÊNECA,
2022. 3.3), e é “feliz quem entrega à razão o direcionamento de toda a sua vida” (SÊNECA, 2022. 6.2).
Para tal, é necessário, não se deixar levar pela opinião da maioria, ou se entregar cegamente aos
prazeres e às riquezas, sendo assim senhor delas, e não escravo. Por fim, se conformar com o destino, e
não sofrer por perdas para ele, pois através disso, se chega à tranquilidade da alma (ataraxia), que para
Sêneca, é a felicidade.

Referências
Quandos os lósofos falam de felicidade 13

DESTINO. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Mestre Jou: São Paulo, 1982. 2° ed.

DESTINO In: MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia, tomo I (A-D). Loyola: São Paulo, 2004. 2°
ed.

FERACINE, Luiz. Estoicismo. In. SÊNECA, Lúcio Aneu. A tranquilidade da alma / A vida retirada:
texto integral. Tradução: Feracine, Luiz. Escala: São Paulo, 2007.

LOPANDZA, Gerseley Ivanick Mandinga. A importância da resposta estoica de Sêneca para a


felicidade. Disponível em: <https://www.google.com/url?sa=t&source=web&rct=j&url=
https://semanauniversitaria.unilab.edu.br/gerenciar/download.php%3Farquivo%3D../submissao/trab
alhos/e70a6be9f9ce8c44d10583c6b575b46f.pdf%26novoNome%3D1217_A_IMPORTANCIA_DA
_RESPOSTA_ESTOICA_DE_SENECA_PARA_A_FELICIDADE&ved=2ahUKEwimusrMwLT4
AhVVAdQKHYEHA34QFnoECA4QAQ&usg=AOvVaw1991nNNFm6JWsu6YGvRfOi>. Acesso
em: 31 mai. 2022.

NEVES, Mônica Nunes de. A arte de viver em Sêneca: Práticas para vida feliz. Niterói, 2017
Disponível em: <https://app.uff.br/riuff/handle/1/6844>. Acesso em: 15 de jun. De 2022.

SÊNECA In: MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia, tomo IV (Q-Z). Loyola: São Paulo, 2004.
2° ed.

SÊNECA, Lúcio Aneu. A tranquilidade da alma. In. SÊNECA, Lúcio Aneu. A tranquilidade da alma /
A vida retirada: texto integral. Tradução: Feracine, Luiz. Escala: São Paulo, 2007.

______. A vida feliz. Disponível em: < http://www.filosofia.com.br /figuras/livros_inteiros/71.txt>.


Acesso em: 31 de mai. 2022.

VICENTE, José João Neves Barbosa; PEREIRA, Carlos Antonio. Sêneca e a vida feliz. In: Seara
Filosófica. N. 4, Verão, p. 79-89, 2011.
Quandos os lósofos falam de felicidade 14

A ÉTICA DA FELICIDADE NO LIVRO III


NA CONSOLAÇÃO DA FILOSOFIA DE SEVERINO BOÉCIO:
RESSONÂNCIAS PARA A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

José Aristides da Silva Gamito


Luan Carlos Alves Gomes
RESUMO
No Livro III da Consolação da Filosofia, Severino Boécio desenvolve uma reflexão sobre a felicidade,
definindo-a como a soma de todos os bens. Mas, a seu ver um bem somente pode ser entendido como
garantia da felicidade se garantir permanência diante da transitoriedade das coisas. Essa segurança não
pode ser encontrada na riqueza, na fama e na honra. O verdadeiro bem que pode garantir a felicidade
está além da transitoriedade das coisas, isto é, Deus.
Palavras-chave: Felicidade. Sumo Bem. Transitoriedade. Deus.

ABSTRACT
In Book III of the Consolation of Philosophy, Severinus Boethius develops a reflection on happiness,
defining it as the sum of all goods. But, in his view, a good can only be understood as a guarantee of
happiness if it ensures stability in the face of the transience of things. That security cannot be found in
wealth, fame, and honor. The true good that can ensure happiness is beyond the transience of things,
that is, God.
Keys-word: Happiness. The greatest good. Transience. God.

1 Introdução

Uma das respostas para o problema da felicidade vem de Severino Boécio. A pergunta que
norteia o Livro III da sua obra Consolação da Filosofia é: É possível encontrar a felicidade nos bens
imanentes ou teríamos de relegar essa tarefa para a transcendência? E como é de se esperar das éticas
religiosas, o sumo bem é buscado nas coisas divinas. Boécio desenvolveu uma ética da felicidade de
inspiração platônico-cristão.
Neste estudo conciso, situaremos o autor e o contexto de sua obra. A primeira parte do Livro III
apresenta os descaminhos da felicidade e depois, alguns direcionamentos sobre o que consiste a
felicidade. Nesse livro, o tema é o propósito das coisas e especialmente do homem. Retomando um
tema caro a Platão e Aristóteles, a filosofia argumenta que o destino do homem é a felicidade verdadeira
e não o que normalmente se considera como felicidade. Ele mostra algumas possibilidades que fizeram
e fazem as pessoas encontrarem falsos bens e compreenderem como possíveis modos de ser feliz, são
elas: riqueza, honra, poder, glória, prazer.

A Filosofia insiste em fazer ver que a busca da felicidade é uma nota constante dos homens.
Estes, entretanto, insistem em julgar que a riqueza, a honra, o poder, a glória e o prazer é a
verdadeira face da felicidade. Ser feliz é ter muita riqueza, não ter falta de bens materiais. A
filosofia demonstra, entretanto, a incapacidade absoluta deste tipo de bens para satisfazer a
alma humana: “Nenhum destes bens pode dar 'o estado perfeito' de felicidade”. (FERREIRA,
1983).

Longe de ser um verdadeiro bem, são falsas realizações, que afastam o homem da felicidade
justamente por se assemelhar a ela, mas devido à sua temporalidade, acabam levando-o apenas ao
Quandos os lósofos falam de felicidade 15

sofrimento e infelicidade. O fim de todas as coisas é o supremo bem, a combinação de todas as virtudes,


ou seja, Deus.

2 Autor, obra e contexto

Anício Torquato Severino Boécio, conhecido como Boécio, nasceu em Roma, por volta de 480,
foi um aristocrata romano cristão, nascido na época em que o Império Romano estava se desintegrando
e os ostrogodos governavam a Itália. Ficou órfão aos sete anos, tendo sido criado por uma família
aristocrática em Roma. Extremamente bem-educado, falava grego e tinha amplo conhecimento sobre
literatura e filosofia grega e latina. Dedicou a vida a traduzir e a comentar textos gregos, especialmente
as obras de Aristóteles sobre lógica, até ser designado como principal conselheiro do rei ostrogodo
Teodorico. Cerca de cinco anos depois, por uma intriga da corte foi injustamente acusado de traição e
sentenciado à morte no período 525. Ele escreveu sua obra mais famosa, a A Consolação da Filosofia,
na prisão, aguardando o julgamento.
O filósofo Boécio foi educado na tradição filosófica platônica e era cristão. Ganhou fama por sua
solução a um problema que antecede Aristóteles: se Deus já sabe o que vamos fazer no futuro, como
podemos dizer que temos livre arbítrio? Boécio nos apresenta uma forma para podermos entender
melhor esse questionamento, “se Deus vive no eterno presente, Ele conhece o futuro como se ele fosse o
presente”. Um exemplo bem claro: sou livre para não ir ao cinema hoje. Então, como Deus conhece o
futuro como se fosse o presente, Deus sabe que vou ao cinema hoje. “Deus antevê nossos pensamentos e
autônomos.” (Boécio)
Enquanto, esteve no cárcere, Boécio escreveu sua obra mais famosa A Consolação da Filosofia,
composta de cinco livros alternando-se em prosa e verso em que desenvolve um diálogo entre ele e a sua
visitante, a Filosofia, que lhe aparece na figura de uma mulher de venerável aspecto, com olhos
luminosos onde busca o alívio para seu martírio. A obra abrange a filosofia propriamente dita, a moral, a
teodiceia, a metafísica e a psicologia. Sobre sua obra A Consolação da Filosofia, é composta por cinco
volumes, mas, nosso foco principal a ser trabalhado é especificamente baseado no livro III da mesma
obra. Os livros são compostos de textos em prosa e em verso.

2 A ética da felicidade no Livro III

O tema da felicidade é ocupação do Livro III. A felicidade é uma preocupação de todos os seres
humanos. Todos a aspiram, mesmo a buscando por meios diferentes. Como afirma Boécio, “Todo o afã
dos mortais, embora as motivações devidas a interesses variados o façam percorrer caminhos diversos,
se esforça por alcançar o mesmo objectivo, o da felicidade” (DCP, III, Prosa 2, 2). Ela é o resumo de
todos os bens, por isso, mesmo que as pessoas tomem decisões erradas, mas elas querem encontrar a
felicidade. Em outras palavras, a felicidade “é o estado acabado em que se reúnem todos os bens” (DCP,
III, Prosa 2, 3). Quando alguém a encontra está saciado e não procura nenhum outro bem.
O assunto da felicidade como objeto filosófico vem desde as filosofias helenistas,
principalmente, entre estoicos e epicuristas. Essas doutrinas transformaram a filosofia em modo de
vida, demonstrando que é possível desenvolver uma técnica para viver melhor. Em muitos casos, as
Quandos os lósofos falam de felicidade 16

propostas passaram por racionalização das atividades humanas. Boécio adota a via da racionalização,
inspirada na teologia platônica, para definir o sumo bem que garante ou coincide com a felicidade.
Porém, dentro da estrutura do Livro III, ele começa apresentando os caminhos ilusórios da felicidade.
Segundo Boécio, todas as ações humanas são movidas por causa do prazer até mesmo as relações
sociais. A constituição da família, por exemplo, ele a inclui nesse rol. Só deixa de fora os amigos,
justificando que a amizade é resultado da virtude. Às vezes, as pessoas confundem o maior desejo com o
sumo bem. Mas a felicidade para Boécio não se encontra no poder, na fama e no prazer. Ele se opõe
também que ela resulte do prazer (DCP, III, Prosa 2, 9-12). Boécio critica equivocadamente a doutrina
epicurista do prazer. Essa confusão da doutrina epicurista do prazer com um hedonismo irresponsável é
muito comum nos autores antigos. Assim como Aristóteles, na Ética a Nicômaco, Boécio considera as
formas enganosas de felicidade: riqueza, honra, poder, glória e prazer. Trata-se de uma ética da felicidade
idealista e totalmente contrária ao materialismo.
Cada uma dessas falsas vias da felicidade recebe um tratamento no Livro III. O poder é
compreendido por muitos como sumo bem e eles querem governar ou viver vinculados a quem tem o
poder. Essa tendência pode ser observada desde as intrigas políticas da Roma Antiga até os bastidores
da República Brasileira. Muitos indivíduos dedicam uma vida inteira a perseguir cargos políticos para
terem o poder de interferir nas decisões públicas e tirar proveito delas para si e para os seus familiares.
A fama pode estar associada ao sentido de glória militar nas batalhas e subjugação de povos. Isso
reflete muito um ideal do mundo antigo. A romanos e a espartanos, era muito caro ser um guerreiro de
renome. A ordem dos motivos que levam os indivíduos a buscar a tríade poder, fama e prazer pode ser
alterada. Há quem busca a riqueza para ter poder e prazer e quem busca o poder por causa da riqueza e
da fama.
As riquezas, apesar de serem tão almejadas, não são capazes de tornar um homem autossuficiente,
sempre faltará alguma coisa pra ele. Além disso, permanece sempre a possibilidade de perder todos os
bens. Muitos homens riquíssimos foram à falência. Quem possui riqueza continuará sempre
dependendo de um agente externo para conservar a sua riqueza. O homem de negócio pode fazer um
mal investimento ou ser fraudado por alguém. Para defender seus interesses, dependerá de outras
pessoas, de tribunais (DCP, III, Prosa 3, 5-18).
Os desejos vinculados à riqueza são insaciáveis: “Já nem menciono o facto de que para a Natureza
basta pouca coisa, mas para a ganância nada é suficiente (DCP, III, Prosa 3, 19). Se a riqueza não é
capaz de apagar a necessidade, não há razões em procurá-la como meio de não carecer de mais nada
(DCP, III, Prosa 3, 19). Além disso, quem possui a riqueza precisa da ajuda dos outros para defender
seu patrimônio (DCP, III, Prosa 3, 16). A erradicação da necessidade e da conquista da autossuficiência
aparece em Boécio como uma condição para avaliar se um bem é capaz de prover ou não a felicidade.
Do mesmo modo, Boécio argumenta contra a valorização da honra. O fato de um indivíduo ser
renomado não o torna isento dos vícios, de errar como os demais. A honra não concede virtude. A
investidura de alguém em cargos de honra pode estimulá-lo a se tornar mais mau. Além disso, o
reconhecimento não é inerente ao indivíduo. Se um deputado brasileiro for viajar a um país distante,
sem as devidas credenciais da diplomacia, nenhum reconhecimento terá seu posto (DCP, III, 9-11).
Segundo Boécio, um cargo público por si só não confere dignidade a uma pessoa. O prestígio de um
Quandos os lósofos falam de felicidade 17

homem público é conferido pela opinião dos outros (DCP, III, Prosa 4, 11). Outra ambição presente na
política romana é conviver e manter laços com pessoas poderosas. Mas nem isso pode ser considerado
algo conveniente visto que a condição de quem tem poder é vulnerável. Uma carreira política é instável
porque depende da opinião pública que muda com facilidade. Se era o poder que tornava as pessoas
felizes, elas já estavam fadadas à infelicidade (DCP, III, Prosa 4, 1-6).
Talvez seja a glória um dos bens procurados mais ilusórios. Boécio censura a vaidade que vem dos
elogios. O sábio quando realiza algo admirável por mérito, ele avaliará seus feitos pela verdade da
consciência e não pelo aplauso do público. A glória depende da propagação do nome de alguém e será
sempre relativa. Nada adianta para a fama de um guerreiro que não é conhecido em outras nações
(DCP, III, Prosa 6, 3-5).
Boécio considera que nem a glória e nem a nobreza representa um valor autossuficiente. A glória
depende da propagação de um nome por outras pessoas e a nobreza é um reconhecimento público em
função dos méritos dos antepassados (DCP, III, Prosa 6, 3-7). Todos esses valores aristocráticos
supervalorizados pela sociedade romana são ilusórios para o projeto de felicidade de Boécio.
Nesse rol de bens procurados, vem o prazer. Conforme Boécio, o desejo do prazer já vem
acompanhado por dois estados de perturbação: a ansiedade para consegui-lo e o arrependimento de tê-
lo experimentado. Os prazeres trazem resultados muito tristes (DCP, III, Prosa 7, 1-3). Se alguém for
dirigir sua vida sempre pelo prazer, se sujeitará a disputas pela riqueza, se humilhará pela fama e estará
sujeito às intrigas que rondam o poder. Tomar o corpo como garantia da felicidade é fiar em algo muito
frágil. Nem é possível superar os limites da natureza, principalmente, a fragilidade e perecibilidade
corporal (DCP, III, Prosa 8, 1-7).
Depois de expostos os caminhos que não conduzem à felicidade, Boécio encaminha o leitor para o
seu projeto de felicidade. Já sabemos que “nem a auto-suficiência em recursos, nem o poder dos
reinados, nem a reverência conseguida através das dignidades, nem a celebridade através da glória,
nem o gozo através dos prazeres podem alcançá-la” (DCP, III, Prosa 9, 2). A felicidade não deve ser
procurada nessas coisas.
Para Boécio, a verdadeira felicidade deve tornar o homem autossuficiente, poderoso, respeitado,
célebre e alegre (DCP, III, Prosa 9, 26). Mas para garantir esse estado é necessário encontrar algo que
proporcione isso de modo permanente. Uma felicidade plena dependeria de uma fonte de todos os bens
que não fosse suscetível às mudanças do tempo e do cotidiano: “tem de se admitir que o sumo Deus está
repleto do sumo e perfeito bem; ora nós estabelecemos que a verdadeira felicidade era o sumo bem,
portanto é necessário que a verdadeira felicidade encontre o seu lugar em Deus altíssimo” (DCP, III, 10,
10).
Por fim, Boécio iguala a suma autossuficiência, o sumo poder e todo sumo bem com a felicidade e
esta com Deus. Somente Deus é autossuficiente. O filósofo utiliza a teologia platônica para demonstrar
que Deus é o sumo bem e governa todas as coisas. O caminho da felicidade em Boécio é o da
interioridade, do cultivo dos valores da alma. Assim:

[...] para poder chegar ao Bem Supremo, que é o princípio, o sustentáculo, o guia e o fim, se faz
necessário trilhar o caminho não mais das coisas exteriores, materiais, as quais são instáveis,
mas o caminho da alma humana. Não pode ser o mero renunciar às verdades do mundo
Quandos os lósofos falam de felicidade 18

exterior, como na postura cética antiga, mas, além de isolar-se das coisas materiais, é
necessário voltar-se para dentro de si próprio, no seu interior, e ficar a sós, porém com Deus
(NETO; TREVIZAN; SILVA, 2019, p. 124-135).

O alcance da felicidade depende de superar o constante desejo de posse e de gozo das coisas
materiais. Uma ética idealista como propõe o contentamento na mente. A saciedade e o bem-estar são
garantidos pela interioridade e não pelas circunstâncias externas. A busca da contemplação e da
elevação do pensamento para as coisas transcendentais confere essa certeza de felicidade.

3 Aplicações da ética boeciana à sociedade contemporânea

A crítica de Boécio à riqueza, ao poder e à fama vem a calhar perfeitamente nos hábitos da
sociedade contemporânea. Um capitalismo exacerbado promovido pela propaganda e justificado por
palestras motivacionais demonstra como a sociedade atual tem um apego ao poder do dinheiro. O
consumismo e o desejo de ter poder de compra movem milhares de pessoas a trabalharem
incansavelmente para atingir isso como posse da felicidade. Mas, muitos acabam adoecendo por causa
de um hábito de vida frenético voltado totalmente para o trabalho.
Assim como na época de Boécio, a luta pelo poder político continua tóxica. Desde pequenos
municípios à esfera federal, há pessoas que utilizaram de todos meios antiéticos para entrarem ou
permanecerem no poder. Os políticos de carreira são exemplos disso. É uma vida toda dedicada à
sensação de poder como felicidade. O voto, por exemplo, funciona como uma moeda de troca, visando
vantagens pessoais.
As mídias sociais se transformaram em instrumentos de busca pela fama. Os digital influencers
e os youtubers vivem lutando para conseguir seguidores, para agradá-los. Mas, a fama é momentânea e
qualquer discórdia pode levar alguém ao ostracismo. O linchamento virtual tornou-se a arma mais
poderosa para destruir reputações e para provar como a fama não traz felicidade.
A partir desses exemplos, é possível observar como a ética boeciana pode identificar os mesmos
problemas que envolvem a felicidade hoje. A proposta de Boécio pode ser reapresentada como um
apelo à espiritualidade e à redescoberta da transcendência dentro de uma sociedade muito religiosa,
mas pouco espiritualista, como é o caso do Brasil. Por exemplo, segundo o Datafolha, 75% dos
brasileiros são cristãos, mas em termos de hábitos de vida são muito materialistas, consumistas e
individualistas. No meio pentecostal, por exemplo, os bens que são mais pedidos a Deus nos cultos são
materiais: emprego, promoção, carro, casa própria.
Há necessidade de se recuperar valores exaltados por Boécio como a amizade e a
autossuficiência. Atualmente, enfrentamos uma dificuldade em lidar com valores duradouros. Os
relacionamentos são de curta duração. Trocam-se de pessoas como se troca de celular, de roupas. Isso
gera um ciclo de ansiedade e de decepção. A constante insatisfação acontece porque as pessoas
depositam a confiança de sua realidade em coisas transitórias. O que falta é justamente a aceitação de
valores permanentes como defendia Boécio.
Quandos os lósofos falam de felicidade 19

Considerações finais

A reflexão ética de Boécio suscita muitos desdobramentos. Uma primeira observa que se salta
aos olhos é que ênfase no objeto da felicidade no além-mundo, deixa a desejar sobre pontos importantes
para se viver a felicidade enquanto vivos nesta terra. Os bens deste mundo, de fato, não são suficientes e
nem trazem a felicidade por si. Mas, dependemos de muitos deles para tocar nossa vida.
Uma ética religiosa do tipo peca por não procura a ensinar a conviver e tirar proveitos dos bens
do mundo. A rejeição total do prazer e dos bens mundanos torna ética demasiadamente idealista e
inalcançável. Além disso, falta incorporar mais esses valores transcendentais para que seja uma
proposta que fale para todos, desde o homem mais espiritualista até o materialista.

Referências

BOÉCIO, Severino. Consolação da Filosofia. Trad. Luís M. G. Cerqueira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2016.

NETO, Leonildo Fiumari; TREVIZAN, Marcio Bogaz; SILVA, João Alberto Mendonça. A felicidade
em Boécio e Hadot: aproximações para uma filosofia como modo de vida. Disponível em:
h p://www.ensaiosfilosoficos.com.br/Ar gos/Ar go20/09_Neto_Ensaios_XX.pdf. Acesso em 25 mai.
2022.

SANGALI, Idalgo José. A conquista da felicidade via filosofia: o exemplo de Boécio. Disponível em:
<h ps://www.scielo.br/j/trans/a/RdT8vT3fLt89jM4TVDCQFrn/?lang=pt>. Acesso em 25 mai. 2022.

NASCIMENTO, Marlon. Boécio e a consolação da filosofia: Considerações acerca da virtude. Intuitio,


Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 68-81, 2016. Disponível em:
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FILHO, Juvenal Savian. Boécio e a ética da felicidade. MEDIÆVALIA, Textos e estudos, 24, p. 17-35,
2005. Disponível em: h ps://ojs.letras.up.pt/index.php/mediaevalia/ar cle/download/6315/5943/20668
Quandos os lósofos falam de felicidade 20

O UTILITARISMO DE JEREMY BENTHAM: A FELICIDADE COLETIVA


Diego de Oliveira Rabelo
Gustavo Pio Soares

RESUMO

O artigo elaborado, tem como objetivo dissertar sobre o Utilitarismo como corrente filosófica ética e
apresentar alguns princípios que levaram Bentham a criá-la. O utilitarismo é uma teoria que apresenta
os fundamentos da conduta moral, permitindo assim avaliar e julgar as ações que se pratica. Esta utiliza
como base o princípio da felicidade, não a felicidade individual de cada indivíduo, mas sim a coletiva.
Vale ressaltar que tal teoria foi criada pelo jurista, economista e filósofo Jeremy Bentham, que preferiu
o estudo do direito ao invés de exercer a profissão de advogado, chefiando um grupo de radicais
filósofos que buscavam por reformas políticas e sociais. Contudo, a partir desse estudo, se poderá
avaliar qual o resultante de nossas ações, ou seja, se predomina como consequência a dor ou o prazer.
Dependendo do resultado, se poderá talvez uma adaptação de atitudes.
Palavras-chave: Jeremy Bentham. Utilitarismo. Felicidade. Coletivismo. Filosofia.

ABSTRACT

The article prepared, aims to discuss Utilitarianism as an ethical philosophical current and present some
principles that led Bentham to create it. Utilitarianism is a theory that presents the foundations of moral
conduct, thus allowing to evaluate and judge the actions that are practiced. It uses as a basis the principle
of happiness, not the individual happiness of each individual, but the collective happiness. It is worth
mentioning that this theory was created by the jurist, economist and philosopher Jeremy Bentham, who
preferred the study of law rather than practicing the legal profession, leading a group of radical
philosophers who sought political and social reforms. However, from this study, it will be possible to
assess what the result of our actions is, that is, whether pain or pleasure predominates as a consequence.
Depending on the result, an adaptation of attitudes may be possible.
Palavras-chave: Jeremy Bentham. Utilitarism. Happiness. Colectivism. Philosophy.

1 Introdução

A teoria utilitarista elaborada pelo filósofo Jeremy Bentham foi vista como uma ideia
revolucionária, pois pela primeira vez um filósofo defendia que a moralidade não dependia de Deus
nem de ideias utópicas. Sendo assim, os utilitaristas foram também reformadores sociais, apoiando
novas formas de pensar, como abolição da escravatura e igualdade entre homens e mulheres.
Nesse sentido, Bentham apresenta a dor e o prazer como o objetivo a ser analisados para a
relação de felicidade. Ambos administram a felicidade, dizendo a direção das ações, dentro de um
padrão entre o certo e o errado, determinando suas causas e defeitos, tendo que ser analisado o efeito do
ato a ser praticado.
A partir da consequência da dor ou do prazer, se pode então calcular a felicidade. Esta se calcula
a partir de uma autoanálise, ou seja, em uma determinada situação, cada qual deve procurar medir se sua
ação foi resultante com maior índice de dor ou de prazer. Conseguinte, se a dor for maior que o prazer,
tal ação não foi satisfatória e não deve ser realizada novamente. Caso contrário, o prazer sobressair,
acredita-se então que tal ação te traz felicidade.
Quandos os lósofos falam de felicidade 21

Contudo, sobre os conceitos utilitaristas entende-se a necessidade de sempre buscar a felicidade


com uma visão ampla, coletiva. Nossas ações devem visar a menor possibilidade de dor possível, para
assim vivermos na felicidade.

2 O Utilitarismo

O utilitarismo, desenvolvido pelo filósofo britânico Jeremy Bentham no século XVIII, é uma
escola de pensamento caracterizada por um sistema filosófico moral e ético no qual o comportamento
útil é considerado o mais correto. A busca do prazer é uma característica importante nessa tendência.
Nesses aspectos, as ações visam ao final onde os resultados são direcionados para o prazer e felicidade,
e a utilidade dessas ações. Por isso, examina comportamentos e consequências que trazem felicidade
aos seres sensíveis, ou seja, aqueles que são conscientemente emocionais. Os homens podem regular
empiricamente e escolher seu comportamento. Desta forma, é possível obter alegria através da
consciência às custas do sofrimento e da dor. Bentham, em seu livro “Uma introdução aos princípios da
moral e da legislação” ao se tratar do princípio da Utilidade, inicia afirmando que:
“A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a dor e o
prazer. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer, bem como determinar o que na
realidade faremos. Ao trono desses dois senhores está vinculada, por uma parte, a norma que
distingue o que é reto do que é errado, e, por outra, a cadeia das causas e dos efeitos.”
(BENTHAM, 1974, p. 9).

Nesta obra, o filósofo busca primeiramente objetos, suas relações, circunstâncias específicas e
outras questões que legisladores e juízes devem levar em conta antes de tomar suas decisões. Aqui está
o princípio do uso como determinante teórico de suas estruturas. Mas deve-se notar que o princípio nem
sempre é assim chamado, porque, logo na primeira página desta obra, Bentham comentou o nome do
princípio, ao qual ele deu seu nome de batismo, o princípio da maior felicidade ou princípio de
felicidade. Em uma nota, adicionada em julho de 1822, Bentham explicou que mudou o nome
simplesmente por “amor à brevidade”, ou em outras palavras, para “compactar” a definição. No
entanto, admite que esta decisão de mudança criou dificuldades, pois a ligação entre as duas palavras
“útil” e “alegria” não é suficientemente clara. Veja como ele define esse princípio:
Por princípio de utilidade entende-se aquele princípio que aprova ou desaprova qualquer ação,
segundo a tendência que tem a aumentar ou a diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está
em jogo, ou, o que é a mesma coisa em outros termos, segundo a tendência a promover ou a
comprometer a referida felicidade. Digo qualquer ação, com o que tenciono dizer que isto vale
não somente para qualquer ação de um indivíduo particular, mas também de qualquer ato ou
medida de governo (BENTHAM, 1974, p.10).

Contudo, entre o prazer e a dor se consiste o objeto da felicidade. Ressalta-se que, tal felicidade
leva em consideração o bem coletivo. Esta pode acontecer em situações muito diversas que variam no
tempo e no espaço, de sorte que um estilo de vida de sucesso para um determinado grupo pode ser
desastroso para outro. Eis por que Bentham não defende a existência de um estilo de vida que
corresponda à perfeição. Sendo assim, segundo o filósofo:
O princípio que estabelece a maior felicidade de todos aqueles cujo interesse está em jogo,
como sendo a justa e adequada finalidade da ação humana, e até a única finalidade justa,
Quandos os lósofos falam de felicidade 22

adequada e universalmente desejável; da ação humana, digo, em qualquer situação ou estado


de vida, sobretudo na condição de um funcionário ou grupo de funcionários que exercem os
poderes de governo (BENTHAM, 1974, p. 9).

3 Dor e prazer

Com referência específica à fecundidade e pureza, o autor define a primeira como “a


probabilidade que o prazer ou a dor têm de serem seguidos por sensações da mesma espécie”
(BENTHAM, 1979, p. 22), isto é, a capacidade de o prazer produzir mais prazer e a da dor produzir mais
dor. A pureza, por outro lado, implica a capacidade do prazer e da dor de manter a sensação de seu estado
original, ou seja, não induzir sensações contrárias a elas, por exemplo, prazer produzir sensações de dor
e a dor criar uma sensação de prazer. A autora Márcia Cristina Otaviani, em seu artigo sobre o
utilitarismo ressalta sobre os sentimentos de dor e prazer. Segundo ela
“é importante salientar a relevância dada pelo autor aos sentimentos de prazer e dor. Tais
sentimentos estão diretamente ligados à suas explicações de como conhecemos as coisas no
mundo real, pois Bentham valoriza sobremaneira os sentidos. Para o autor, só podemos
considerar algo como real se pudermos percebê-lo através dos nossos cinco sentidos; caso não
possamos perceber ou sentir essa coisa, ela deve ser considerada como uma entidade fictícia,
ou seja, como não existente no mundo real, mas sim, no mundo do discurso” (OTAVIANI,
2010, p. 11).

Bentham destaca que fecundidade e pureza em geral não podem ser tomadas como atributos de
prazer e dor em si, portanto, ao avaliar prazer e dor, não devem ser levados a sério o rigor deste termo. A
consideração de comportamentos ou eventos semelhantes é direcionada para comportamentos ou
eventos que produzem dor ou prazer, então “devem ser consideradas na avaliação da tendência do
respectivo ato ou do respectivo evento” (BENTHAM, 1979, p. 23). Após elencar as circunstâncias que
influenciam o valor do prazer e da dor, o autor apresenta como criar esse equilíbrio. A primeira vez
corresponde a identificar a pessoa cujos interesses são susceptíveis de serem mais afetados pela ação,
para depois proceder ao exame dos seguintes fatores:
O valor de cada prazer distinto que se manifesta como produzido pelo ato na primeira
instância; (2) O valor de cada dor distinta que se manifesta como produzida pelo ato na
primeira instância; (3) O valor de cada prazer que se manifesta como produzido pelo ato após o
primeiro prazer. Isto constitui a fecundidade do primeiro prazer e a impureza da primeira dor;
(4) O valor de cada dor que se manifesta como produzida pelo ato após a primeira. Isto constitui
e fecundidade da primeira dor e a impureza do primeiro prazer (BENTHAM, 1979, p.23).

Assim, a soma de todos os prazeres e dores deve ser tomada. A propensão da ação é boa se o
resultado for favorável ao prazer e, correspondentemente, a tendência é ruim se for favorável a dor.
Então é necessária “uma avaliação do número das pessoas cujos interesses aparecem em jogo e repete o
processo acima descrito em relação a cada uma delas.” (BENTHAM, 1979, p. 23-24).
Nesse sentido, se o resultado de uma ação conduz ao prazer, então o comportamento tende a ser
geralmente bom para os afetados pela ação, mas se ocorre o contrário, então o comportamento tende a
ser mal geral com respeito ao mesmo indivíduo ou comunidade. O equilíbrio estabelecido pelo autor
entre prazer e dor, infere que as consequências dos comportamentos têm uma relação custo-benefício, o
que torna o elemento necessário em determinadas circunstâncias ou aplicáveis, sanções morais, ou a
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própria lei. Nesse equilíbrio, o indivíduo, como sociedade, pode mensurar as consequências das ações
por meio de cálculos que devem sempre levar em conta os dois temas, prazer e dor.

4 Medir a felicidade

Quanto à forma de calcular o valor de um prazer ou de uma dor, segundo Bentham, deve-se
basear em pelo menos sete variáveis, que ele chama de “elementos ou dimensões de valor”. São elas:
intensidade, duração, certeza ou incerteza, proximidade ou longinquidade, fecundidade, pureza e
extensão. Então, na prática, se manipularmos essas variáveis, podemos nos encontrar no caso de um
prazer sentido por um longo período de tempo com um equilíbrio líquido mais alto no cálculo do grau
de felicidade em comparação com uma alegria que parece mais intensa, porém de curta duração. Ou, da
mesma forma, o prazer sentido por muitas pessoas pode facilmente superar o equilíbrio do prazer que é
mais intenso, mas atinge menos pessoas.
Para exemplificar, suponhamos que se queira construir uma represa em uma certa localidade.
Essa ação produzirá um bem por possibilitar a produção de energia elétrica e irrigação de terras
da região. Ela produzirá também um certo sofrimento: famílias que há muito tempo vivem na
região que será alagada terão de ser deslocadas etc. Esse mal poderá ser reduzido se o governo
reembolsar as perdas ... Como o prazer resultante acabará sendo muito maior que o sofrimento,
a construção da represa torna-se, quando medida por seus prováveis efeitos, uma boa ação.
(COSTA, 2002, p. 155-184).

Outra situação que exemplifica a medição da felicidade através da menor possibilidade de dor se
tem no exemplo do trem. Este que, ao passar por uma bifurcação na linha férrea, tem à sua frente a opção
de atropelar uma pessoa em um dos trilhos ou escolher atropelar cinco pessoas no outro trilho. De
acordo com o utilitarismo de Bentham, o maquinista do trem deve escolher atropelar somente uma
pessoa, pois assim o sofrimento da família seria menor do que se fosse o sofrimento de cinco famílias.
Segundo o artigo de Maria Cristina Longo Cardoso Dias, “O princípio de utilidade é aquele que
reconhece a justeza de uma ação de acordo com suas consequências. Em outras palavras, considera uma
ação justa pela capacidade que tem de gerar prazer e injusta por ocasionar dor.” (DIAS, p. 12).
Portanto, diz-se que o bem moral existe quando a vontade humana é vista como instrumento
para a produção de um bem (prazer) ou para evitar a dor (outro bem material).
Do exposto acima, depreende-se que não há ações boas ou más em si mesmas, motivos de
ações bons ou maus em si mesmos, ou costumes bons ou maus em si, o que existe e deve ser
levado em conta são as consequências das ações, só estas podem ser julgadas, pois só elas
possuem a capacidade de gerar prazer ou dor (estes sim bens ou males em si) em um indivíduo.
Inclusive, os vícios e virtudes só podem ser assim nomeados de acordo com as consequências
produzidas por determinada ação, ou conforme a potencialidade que tenham de ocasionar
prazer ou dor. (BENTHAM, 1974).

Conclusão

Contudo, analisando o contexto que se vincula a felicidade, encontra-se ela ligada a dor e o
prazer. O filósofo Jeremy Bentham desenvolve uma corrente de pensamentos chamada de utilitarismo,
onde esta vincula-se a pensamentos baseado em um sistema moral e ético. Esta que caracteriza a busca
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pelo prazer como um viés importante, bem como ligada a felicidade. Assim ao descrevê-la, ele
apresenta uma forma para calculá-la, ou seja, o nível que consiste a felicidade. Baseando em fatos
vividos, a dor não pode ser maior que o prazer. Por ora, se a dor for maior, a ação realizada não foi
satisfatória, e por isso, não deve ser praticada novamente. Assim, o nível da felicidade precisa ser
analisado. Dentro dos conceitos utilitaristas, a felicidade tende a ser analisada e vivida também dentro
de uma coletividade, pois o prazer sentido por um grupo de pessoas pode superar o saldo de um prazer
mais intenso. Por fim, a felicidade poderá ser medida dentro da dor e do prazer.

REFERÊNCIAS
BENTHAM, Jeremy. Os pensadores: Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São
Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial. 1974.

COSTA, Cláudio. Razões para o utilitarismo: uma avaliação comparativa de pontos de vista éticos.
E t h i c @ , F l o r i a n ó p o l i s , v. 1 , n . 2 , p . 1 5 5 - 1 8 4 , 2 0 0 2 . D i s p o n í v e l e m :
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/14591>. Acesso em: 10 jun. 2017.

DIAS, Maria Cristina Longo Cardoso. A medida da ética em Bentham. Cadernos de Ética e Filosofia
Política, n. 20, p. 6-21, 2013. Disponível em: <https://core.ac.uk/download/pdf/268351164.pdf>.
Acesso em: 13 jun. 2022.

BARBOSA, Amanda Cardoso. Utilitarismo de Jeremy Bentham: reflexões sobre suas categorias
centrais acerca da moral. VI Congresso em Desenvolvimento Social, Universidade Estadual Montes
Claro, p. 1868-1876, 2018. Disponível em: <https://congressods.com.br/sexto/
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AL.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2022.

OTAVIANI, Márcia Cristina. Jeremy Bentham: Prazer e Dor – como mensurá-los? História da Ciência
e Ensino, v. 1, p. 7-15, 2010. Disponível em: <Vista do Jeremy Bentham: Prazer e Dor – como mensurá-
los? (pucsp.br)>. Acesso em: 15 jun. 2022.
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A FELICIDADE EM SARTRE

Geraldo Lucas de Souza Silva


Pedro Júlio Ferreira Arcanjo

RESUMO

A felicidade é algo que nós seres humanos estamos sempre em busca para nos renovar interiormente.
Todos desejam a felicidade, e cada um a encontrará de maneira diferente. Sartre em seus estudos, e em
suas obras recorda que o a humanidade é totalmente livre, ou seja, tudo o que fazemos, o que decidimos,
todas as nossas ações irão impactar diretamente em nossa felicidade. Ao longo desse artigo,
apresentaremos alguns pontos essenciais para sermos felizes, tendo sempre como base Jean Paul
Sartre. Em sua filosofia Sartre nos leva a tomar as rédeas de nossa vida, fazendo-nos refletir sobre cada
decisão a ser tomada.
Palavras-chave: Sartre. Felicidade. Liberdade. Escolha. Ser humano.

ABSTRACT

Happiness is something that we human beings are always looking for to renew ourselves from within.
Everyone wants happiness, and everyone will find it differently. Sartre in his studies, and in his works
recalls that humanity is totally free, that is, everything we do, what we decide, all our actions will
directly impact our happiness. Throughout this article, we will present some essential points to be
happy, always based on Jean Paul Sartre. In his philosophy Sartre leads us to take the reins of our lives,
making us reflect on each decision to be taken.
Keywords: Sartre. Happiness. Freedom. Choice. Human being.

Introdução

Este artigo tem por objetivo abordar o que é a felicidade de acordo com a filosofia de Jean-Paul
Sartre. Tomamos como referência suas obras e vídeos de pessoas explicando o seu pensamento.
Será levantada algumas questões que nos farão refletir sobre os meios para encontrar a
felicidade, sobre como ser feliz. Todo e qualquer ser humano quer ser feliz e para isso abordaremos a
concepção de Sartre para que assim possamos ter em mente alguns meios para sermos felizes.

1 Liberdade para ser feliz

Quando o assunto é sobre Sartre, logo vem em mente uma de suas falas, “A existência precede a
essência”. Ou seja, primeiro o ser humano existe, faz tudo o que tem vontade de fazer e só então sua
essência será conhecida. Para Sartre todos são livres, livres para fazer suas próprias escolhas, livres para
decidir se irão ou não fazer uma faculdade, se vão ou não trabalhar em determinada área. Segundo ele
“Somos condenados a sermos livres” (TV BERTINO SILVA, 2020). Ao optar por algo, essa decisão
influenciará diretamente em suas vidas, se escolherem fazer determinado curso porque alguém da
família, porque amigos, porque a sociedade descreve como sendo esse o meio para ser bem-sucedido na
vida, e por causa dessa escolha, deixa de trabalhar em uma determinada área que gosta, uma área que
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satisfaça, deixa de lado os próprios sonhos e objetivos para viver os sonhos de outra pessoa, logo a
felicidade que se espera alcançar se afastará para longe de si.
Para não se tornarem pessoas amarguradas, tristes, descontentes com a realidade que as rodeia,
é essencial que tenham em mente que todos são livres e essa liberdade faz com que os únicos
responsáveis por tudo o que se conquista ou deixam de conquistar. Então deve-se sempre fazer as
melhores escolhas, para que essas escolhas de fato tragam alegria, apesar de a alegria poder ser algo
momentâneo, algo que porventura não dure o tempo que desejaria, pode sempre fazer as melhores
escolhas e nesse percurso aproveitar todo o caminho. Para Sartre “podemos ser o que quisermos, afinal,
como nossa vida não está definida nem orientada por qualquer força” (CARREIRA EM FOCO, 2020).
Logo se conclui que, o que seremos no futuro, o que somos no presente, o que fomos no passado e o que
conquistamos e o que conquistaremos futuramente, são consequências de nossos atos, de nossas
escolhas. Pois o fato de sermos livres significa também que tudo o que nos acontece é consequência de
alguma decisão tomada em um momento de nossas vidas.
Para Sartre “o homem é um ser supremamente livre, criador do seu próprio mundo, medida dos
seus valores” (Sartre). Ou seja, o ser humano é o único responsável por conquistar a sua própria
felicidade, felicidade essa que o ser humano vai construindo ao longo da vida, seja por uma nova
amizade, por passar em um concurso que tanto queria, todas essas coisas são formas de felicidade, mas
na maioria das vezes são felicidades momentâneas. Surge então a grande questão: Como conquistar
uma felicidade duradoura? Esse é um questionamento intrigante, e ao longo do caminho tentaremos
responder tal questionamento.
Para considerar a felicidade, deve-se considerar seu lugar no mundo como ser humano. Todos
sabemos que a vida é feita de um milhão de pequenas coisas que nem sempre dá a satisfação que se
deseja, mas absorvem todos os esforços já feitos. É uma condição humana ocupar-se. A humanidade
precisa realizar atividades para atender às suas próprias necessidades, situações que são comuns e
realizadas sem pensar.

“Exemplo? Levantar-se às seis da manhã, banhar-se, tomar o café, dirigir-se ao trabalho ou à


escola, jornada que se inicia para quase todos às sete horas da manhã. Ocupações simples e
inerentes ao nosso existir no mundo. Até aí nada demais. A vida nos seria insuportável se
tivéssemos que justificar as nossas ações a cada vez que as praticássemos.” (MARTINS, 2022).

O dia a dia começa a se tornar problemático quando o cotidiano se torna inaudível ou impessoal.
Quando uma rotina se torna algo que é cansativo ou opressivo. Essa insatisfação torna as pessoas
amarguradas, doentias e desestimuladas. Infelizmente, há muitas pessoas que são 'prisioneiras' de si
mesmas, e a filosofia não aborda o que é desagradável em suas vidas, mas reflete sobre a felicidade e as
condições concretas de existência.

2 A felicidade na liberdade

Jean Paul Sartre acreditava que Deus não existe, portanto o ser humano surge do nada como um
ser que existe antes de ser definido por qualquer conceito. O que implica que o ser humano primeiro
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existe, descobre e surge no mundo e então é definido. Como resultado não há natureza humana pois não
há Deus para criá-la, a única natureza preexistente é a biológica ou sobrevivência, o resto é adquirido de
tal maneira que não vem do sujeito e não lhe é assegurado pelo sujeito. Infelizmente há muitas pessoas
“prisioneiras” de si mesmas, e a filosofia não resolve o que de desagradável possa advir de nossa vida.
Pois na concepção existencialista, não há culpados porque Deus não existe, e o fato de o subconsciente
não existir é o que leva à noção de uma não liberdade, pois tudo, inclusive a possibilidade de descobrir
valores inteligentes, desaparece com eles.
Para Sartre “somos condenados a sermos livres”, por meio dessa liberdade se obtém a
felicidade, desejada por todos, mas ela também determina a própria escolha, ou seja, tomar as próprias
decisões que muitas vezes levam o ser humano ao sucesso ou à frustração. Como resultado, o
inautêntico pode contrapor o autêntico, e a má-fé pode contrapor a boa-fé. Somos o que fazemos de nós
mesmos, e seremos o que fazemos de nós mesmos. O que importa é como cada ser humano responde à
vida. Essa posição filosófica, que assegura nossas escolhas ao direcionar nossos caminhos, nos concede
autoridade sobre nossos destinos. Se quisermos que seja assim, fatos deploráveis só nos trarão
desespero e desesperança, como exemplo:

Aceitar a impossibilidade com maturidade, entender que a vida não é um molde de nossas
expectativas e sonhos é enfrentar as adversidades, transformando esperança em ação... É
reinventar a vida! Para Sartre, a vida é invenção e criação, e a felicidade não é inatingível. Ela é
possível e reside no cuidado consigo, na autenticidade e na boa-fé (MARTINS, 2022).

Outro aspecto que Sartre pontua como essencial para não fugir da verdadeira essência, para não
se tornar uma pessoa diferente do que realmente é, e acabar sendo alguém frustrado, amargurado,
alguém que não consegue ser feliz, é não praticar a má-fé. Pois “a felicidade só é possível quando não
praticamos a má-fé” (CARREIRA EM FOCO, 2020). E ainda seguindo essa linha de raciocínio que:
A má-fé tenta me constituir como o ideal do valor, como sendo o que não sou. Para alcançar
esse modo de ser, escapo ao meu ser no meu ser – fato que só é possível porque em não sou
sincero, pois, do contrário, jamais seria concebível a possibilidade de má-fé. (SARTRE, 2008)
(RIBEIRO, 2022).

Quando passamos a agir de forma contrária à nossa concepção, a felicidade acaba se esvaindo
de nós, pois deixamos de lado o que realmente nos importa, para vivermos, para sermos aquilo que
outras pessoas, que a sociedade, que o meio que nos circundam esperam que sejamos. Passamos a agir
com o intuito de agradar as pessoas, mesmo que não concordemos com tal atitude.
Devemos escolher o que de fato nos fará bem, ouvir a opinião dos outros é importante, mas
devemos ter sempre em mente que é necessário escolher o que de fato desejamos, o que de fato nos trará
alegria, pois como diz Sartre, somos condenados a sermos livres, e o fato de sermos totalmente livres,
por estarmos ausentes de qualquer força que nos defina o caminho a seguir, por nada nem ninguém
exercer qualquer tipo de influência sobre nós. Logo ser feliz é algo que depende único e exclusivamente
de nós mesmos, a cada escolha que fazemos, por menor que seja, iremos colher os frutos dessa escolha
adiante, se serão alegrias ou tristezas, dependerá de nossa escolha agora no presente. E mesmo que
pensemos que não precisamos escolher nada, já estamos escolhendo algo, estamos optando por não
Quandos os lósofos falam de felicidade 28

tomar nenhuma decisão, e essa escolha também trará resultados significativos.


A filosofia de Sartre nos leva a tomar as rédeas de nossas vidas, faz com que tenhamos a
consciência de que os únicos responsáveis por tudo o que acontece em nosso meio é responsabilidade
nossa. São nossas escolhas que nos fizeram quem somos, são nossas escolhas que determinarão o que
seremos futuramente. Para Sartre quando tomamos uma decisão e ao desenrolar dessa decisão tomada
percebermos que por um
motivo ou outro deveríamos ter optado por tomar uma outra decisão, também somos livres para voltar
atrás e fazer a escolha certa. Nada nos impede em nenhum momento de nossas vidas de escolher algo,
de escolher voltar atrás em nossa decisão. “Desta forma gera no homem a angústia de saber que nada o
impede de voltar atrás, o medo de arcar com sua própria liberdade. Assim, condenados a uma liberdade
insatisfatória, jamais alcançando o que realmente desejamos sendo, portanto, uma liberdade
irrealizável” (TOZETTO, 2022). Pois ao mesmo tempo que escolho por algo, posso também ter em
mente que se aquilo não me fizer feliz, posso simplesmente voltar atrás e escolher o outro caminho.
Ficando sempre preso a essas ideias, deixando de sermos de fato livres para vivermos sempre preso a
essa falsa liberdade, como se ao escolher algo e nos arrependermos, pudéssemos voltar atrás e apagar
aquele pedaço da história e começar novamente, mas de outra forma.

Conclusão

Retornemos a questão abordada anteriormente: Como conquistar uma felicidade duradoura?


Não existe uma fórmula mágica para essa questão, o que existem são pontos levantados por Jean Paul
Sartre, pontos esses que nos levam a refletir sobre o que de fato queremos para nossa vida, pensar a
respeito do que nos fazem felizes agora no presente e acima de tudo pensar no que realmente queremos
para o futuro. É certo de que no caminho aparecem muitos desafios e nem sempre estamos esperando
por tais coisas que porventura venha a aparecer, no entanto se tivermos todos uma meta estabelecida,
tivermos um foco do que realmente queremos, do que realmente almejamos, podemos contornar toda
situação que nos ocorrer e sermos felizes. Afinal todos querem ser felizes e apesar de sermos
condenados a sermos livres e consequentemente sermos responsáveis por nossos resultados, ser feliz
não é algo impossível. Todo e qualquer ser humano pode ser feliz, a felicidade começa quando nos
sentimos bem conosco mesmo, quando temos a consciência limpa, quando agimos eticamente correto,
quando fazemos as escolhas certas e quando temos um foco.
Uma pesquisa levantada pelo Instituto Akatu (2022) sobre o que é a felicidade mostra que
“Apenas três em cada 10 brasileiros indicaram a tranquilidade financeira em suas respostas.” (O que
traz felicidade para você?) A grande maioria dos entrevistados deram como resposta coisas simples e de
fácil acesso para todos. Foi pontuado que a felicidade é “estar saudável e/ou ter sua família saudável.
Conviver bem com a família e os amigos também foi apontado com fator de felicidade para 60% do
público que respondeu à pesquisa.” (O que traz felicidade para você?). Tudo isto parte do conceito de
liberdade apontado por Sartre, pois para ser saudável vai depender do tipo de vida que a pessoa leva,
como os exercícios que praticam, a alimentação, se fumam, se bebem. Tudo é algo pessoal de cada
pessoa, todos somos livres para escolhermos, e essas escolhas implicaram diretamente no futuro de
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cada um. Sendo uma pessoa boa, é fácil conviver com família e amigos, desde que tire um tempo para
isso e se dedique em fazer coisas que todos gostem. A felicidade talvez não seja duradoura, mas se
fizermos as nossas escolhas corretamente, podemos fazer com que a felicidade seja algo contínuo em
nossas vidas.

REFERÊNCIAS

TV BERTINO SILVA. Projeto de felicidade para Sartre. Youtube, 12 de out de 2020. Disponível em:
<https://youtu.be/QasNYpMLlYY>. Acesso em: 15 jun de 2022.

CARREIRA EM FOCO. O que é a felicidade? (Sartre). Youtube, 14 de jan. de 2020. Disponível em:
<https://youtu.be/Dfo3YC_DLos>. Acesso em: 15 de jun de 2022.

MARTINS, Ângela. A felicidade, segundo Heidegger e Sartre. Disponível em:


<https://opopular.com.br/noticias/ludovica/blogs/2.233387/filosofia-com-1.861139/a-felicidade-
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RIBEIRO, Débora Cristina Braga. A teoria em cena: o valor e a má-fé na literatura de Jean-Paul Sartre.
Disponível em: <http://w3.ufsm.br/literaturaeautoritarismo/revista/num18/art_08.php>. Acesso em:
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TOZETTO, Leila Caroline J. O existencialismo de Sartre. P. 184. Disponível em:


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MORAVIA, Sergio. Sartre. Lisboa: Edições 70, 1985.


Página intencionalmente deixada em branco
Todo o afã dos mortais, embora as motivações devidas
a interesses variados o façam percorrer caminhos diversos,
se esforça por alcançar o mesmo
objetivo, o da felicidade.

Severino Boécio

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