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VI – PROPOSTAS DE

SUPERAÇÃO
DO CONFLITO RACIONALISTA-
EMPIRISTA
A – A PROPOSTA DO
INTELECTUALISMO
1. Introdução

 O intelectualismo procura ser uma


mediação entre racionalismo e
empirismo. Esta proposta considera que
tanto a razão quanto a experiência
participam da produção do
conhecimento.
 O intelecto tem a função de ler os dados
da experiência. Os conceitos provêm dela.
 A experiência e o pensamento constituem
juntos o fundamento do conhecimento. A
experiência participa das representações das
intuições sensíveis e o pensamento dos
conceitos. Há uma relação genética entre eles.
 Aristóteles inclinava-se para o empirismo como
pesquisador da natureza, mas tinha uma
posição semelhante àquela do intelectualismo.
 A essência das coisas foi transferida do mundo
inteligível para os objetos do mundo.
 A essência das coisas torna-se compreensível
pela ação do intelecto ativo (noûs poietikós). Ela é
transformada em conhecimento pelo intelecto
passivo (noûs pathetikós).
 Tomás de Aquino recebe essa teoria e defende
uma posição semelhante. Os conceitos têm
relação e se fundamentam na experiência.
 Os intelectualistas vão exaltar o conhecimento
abstrativo. Enquanto, os voluntaristas vão
colocar a vontade acima do entendimento.
 Hegel apresenta uma forma de intelectualismo
devido a sua alta confiança na racionalidade. A
ideia tem totalmente independência no seu
sistema.
 As formas de voluntarismo de Schopenhauer
e Nietzsche serão justamente uma reação à sua
extrema confiança na razão.
 O intelectualismo defende a existência de juízos
necessários e universalmente válidos.
EM SÍNTESE:

“O intelectualismo antepõe que o conhecer


humano é realista, já que, partindo dos
dados sensíveis, o entendimento, por meio
da abstração, apreendera as espécies
inteligíveis nas que logo após alcançará a
essência das coisas individuais.”
1.1. Apriorismo kantiano
A teoria epistemológica de Kant pode ser
resumida nos seguintes pontos:

a) A “coisa em si” não pode ser conhecida;


b) o nosso conhecimento se limita aos fenômenos;
c) o mundo dos fenômenos surge na nossa
consciência que elabora os dados sensíveis a
partir das formas a priori da sensibilidade e do
entendimento;
d) o conhecimento é uma construção da
consciência do sujeito;
e) por esta natureza, o conhecimento tende a ser
relativo; e
f) a razão não pode conhecer ideias
transcendentais, mas pode utilizá-las para
questões de ordem prática.
Conhecimento a priori: é totalmente
independente da experiência. A necessidade é um
dos critérios desse tipo de conhecimento. Exemplo:
as proposições da matemática.
O apriorismo considera tanto a experiência
quanto o pensamento como fontes do
conhecimento. Diferentemente do racionalismo,
ele considera esses conhecimentos a priori de
natureza formal. Esses conhecimentos são formas
para receber o conteúdo da experiência.
O princípio que governa o apriorismo diz o
seguinte: “conceitos sem intuições são vazios;
intuições sem conceitos são cegas.”
2. Intelectualismo de Tomás de Aquino
Santo Tomás explica a intelecção como ação,
insistindo em sua natureza como intencionalidade.
O conhecer consiste em extrair o universal do
particular, o inteligível do singular.
Os tomistas buscavam o conhecimento da
parte imaterial das coisas. A verdade é a
adequação do intelecto e da coisa.
Em oposição a Agostinho, Tomás considera
que a verdade não está nas coisas, mas no
intelecto. A verdade está no intelecto e em
conformidade com aquilo que é inteligido.
“Deste modo, é necessário afirmar que nosso
entendimento conhece as realidades materiais
abstraindo-as das imagens” (Summa Theologiae,
Questão 81, artigo 1).
RACIONALISMO EMPIRISMO INTELECTUALISMO
O pensamento é a fonte A fonte e fundamento Ambas participam na
e o fundamento do é a experiência. formação do
conhecimento. Não há nada de novo conhecimento.
Os conceitos são no pensamento. Retira os conceitos da
produtos a priori da experiência.
razão. Há conteúdos novos
produzidos pelo
pensamento.
B – A PROPOSTA DO
APRIORISMO
 Imanuel Kant procura criticar e equilibrar o
embate entre racionalismo e empirismo. O
conhecimento provém de duas fontes, em duas
fases.
 Kant é o iniciador do apriorismo. O
conhecimento começa com a experiência, mas
procedem do intelecto.
 O apriorismo considera tanto a experiência
quanto o pensamento como fontes do
conhecimento.
 O nosso conhecimento possui conteúdos
independentemente da experiência.
 Diferentemente do racionalismo, ele considera
esses conhecimentos de natureza formal. Esses
conhecimentos são formas para receber o
conteúdo da experiência.
 O princípio que governa o apriorismo diz o
seguinte: “conceitos sem intuições são vazios;
intuições sem conceitos são cegas.
 O intelectualismo deriva o fator racional do
fator empírico. O apriorismo o faz do próprio
pensamento.
3. Pressupostos do voluntarismo
O voluntarismo medieval se expressa em
termos morais, a vontade é preponderante em
relação ao intelecto nas ações.
Na Idade Contemporânea, Hegel propõe um
intelectualismo metafísico que gera reações
voluntaristas. Para ele, a realidade é inteligível,
não uma vontade irracional.
Schopenhauer e Nietzsche reagem ao
intelectualismo de Hegel.
O voluntarismo afirma o primado da
vontade sobre do intelecto.
4. Schopenhauer
Schopenhauer chama o fenômeno kantiano
de representação e a coisa em si, de vontade.
Sendo que a vontade é predominante.
Diferentemente de Kant, acredita na
possibilidade de conhecer a coisa em si. Mas o
conhecimento nunca atinge um ponto absoluto.
“O corpo humano visto de fora não passa de
uma representação como qualquer outra. Mas
compreendido por dentro se revela como elo de
unificação entre a vontade e a representação.”
“A vontade é o conhecimento a priori do
corpo; o corpo é o conhecimento a posteriori da
vontade.”
Vontade: “é um ímpeto cego, irresistível,
que já vemos aparecer na natureza inorgânica e
vegetal, assim como também na parte vegetativa
de nossa própria vida.”
Conhecemos os objetos por meio da
experiência interna do corpo. Schopenhauer
procura entender a causalidade a partir da
experiência interna.
Os conteúdos da experiência são
organizados dentro do espaço (posição) e do
tempo (sucessão). A geometria e aritmética são,
respectivamente, as ciências do espaço e do tempo
(razão do ser).
Os estados das coisas formam uma cadeia de
sucessão, causas e efeitos, dentro do espaço e do
tempo (razão do devir). O entendimento humano
é capaz de formular conceitos e a razão faz um
ordenamento do conhecimento (razão do
conhecer).
Os movimentos dos corpos são motivados
pela vontade. O sentido interno é o sujeito do
querer e este vem a ser objeto do conhecer (razão
do agir).
5. Nietzsche
Nietzsche usa vontade como impulso
fundamental e mecânico, sem causa racional, que
impele a natureza para a vida.
A motivação da busca de conhecimento é a
vontade de poder. É um esforço para evitar cair na
mentira e na falsidade. A razão é orientada por um
modo de vida ou de moral. A base do
conhecimento é o instinto de conservação.
Para Nietzsche, o conhecimento absoluto e
integral da realidade é considerado uma
impossibilidade. Não podemos conhecer um fato
em si.
O conhecimento do mundo passa pelas
interpretações em diferentes perspectivas. A
realidade que o homem procura conhecer em
Nietzsche é a vida. E ela é movida pela vontade.
Nieztsche questiona a distinção sujeito-
objeto tão cara aos epistemólogos modernos. A
partir de uma influência biológica, ele busca
formular uma explicação do conhecimento. Ele é
um produto da evolução da espécie humana. As
forças instintivas interagem com o meio, se
regulam, e atuam na conservação da espécie.
O filósofo abandona a busca pela verdade e
se concentra nas vantagens do conhecimento para
a conservação da vida. Ele tem a função de
controle e de manejo do meio para a
sobrevivência. A linguagem é outro produto do
processo que contribui para essa finalidade porque
possibilitou o compartilhamento do pensamento, e
daí, a cooperação.
“Para o filósofo conhecimento é perspectivo
e condicionado às formas de vida”. As funções
cognitivas esquematizam, identificam
regularidades nas relações do corpo com o meio. A
função da razão é adequar, igualar o caos das
impressões sensórias. O corpo precisa de
permanência e regularidade para realizar sua
vontade de poder.
As percepções se dividem em dois grupos.
Há um grupo que é moldado para fins de
socialização e outro que permanece latente. A
percepção concatena arbitrariamente os
fenômenos. A coisa em si não pode ser conhecida,
aliás, é para Nietzsche uma ilusão. Todas as
percepções são classificadas em juízo de valor,
entre úteis e prejudiciais.
CAMPO DAREFERÊNCIAS:
TEORIA DO CONHECIMENTO
ALVIM, Márcia Helena, BRZOZOWSKI, Sonia. Artigo VI
“se o conhecimento intelectual é adquirido a partir das
coisas sensíveis?”. Saberes, Natal RN, v. 19, n. 2, Agosto,
93-106, 2018.
HESSEN, Johannes. Teoria do Conhecimento. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
FERNANDES, Paulo Adriano do Amaral. O conceito de
relação a partir da noção tomásica da verdade como
“adequação da coisa e do intelecto” na questão 16 da
primeira parte da suma teológica. Anais da Jornada de
Estudos Antigos e Medievais, Maringá, 2013.
CAMPO DA TEORIA DO CONHECIMENTO
JESUS, Francisco de Paula Santana de. Nietzsche e a
teoria do conhecimento. Revista Apoena, v.2, n. 4, 2020.

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