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TEOLOGIA PRÓPRIA

SUMÁRIO

1 - PORQUE É DIFÍCIL COMPREENDER DEUS .................................................................. 5


1.1. RAZÕES PARA A DIFÍCIL COMPREENSÃO SOBRE DEUS ..........................................................5
2 - OS ATRIBUTOS DE DEUS ........................................................................................ 13
2.1. DIVISÃO DOS ATRIBUTOS DE DEUS .................................................................................13
2.2. ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS .......................................................................................14
2.3. ESPIRITUALIDADE........................................................................................................15
2.4. QUAL É A IMPORTÂNCIA DE DEUS SER ESPÍRITO?..............................................................16
2.5. A INDEPENDÊNCIA DE DEUS ..........................................................................................24
2.6. IMUTABILIDADE DE DEUS .............................................................................................30
2.7. APARENTES MUDANÇAS DE DEUS ..................................................................................39
2.8. A INFINIDADE DE DEUS ................................................................................................43
2.9. A ETERNIDADE DE DEUS ..............................................................................................43
2.10. IMENSIDÃO DE DEUS ...................................................................................................46
2.11. A ONIPRESENÇA DE DEUS ............................................................................................48
2.12. ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS ..........................................................................................52
2.13. O CONHECIMENTO DE DEUS .........................................................................................53
2.14. A SABEDORIA DE DEUS ................................................................................................60
2.15. A VERACIDADE DE DEUS ..............................................................................................65
2.16. A BONDADE DE DEUS ..................................................................................................66
2.17. O AMOR DE DEUS ......................................................................................................68
2.18. A PACIÊNCIA DE DEUS .................................................................................................70
2.19. A MISERICÓRDIA DE DEUS ............................................................................................71
2.20. RELAÇÃO ENTRE MISERICÓRDIA E PACIÊNCIA ...................................................................72
2.21. RELAÇÃO ENTRE MISERICÓRDIA E JUÍZO .........................................................................73
2.22. RELAÇÃO ENTRE MISERICÓRDIA E GRAÇA........................................................................73
2.23. A GRAÇA DE DEUS ......................................................................................................74
2.24. A SANTIDADE DE DEUS ................................................................................................74
2.25. A JUSTIÇA DE DEUS .....................................................................................................76
2.26. DISTINÇÕES APLICADAS À JUSTIÇA DE DEUS .....................................................................77
2.27. A VONTADE DE DEUS ..................................................................................................78
2.28. CARACTERÍSTICAS DA VONTADE DE DEUS ........................................................................79
2.29. O PODER DE DEUS......................................................................................................83
3 - A EXISTÊNCIA E O SER DE DEUS .............................................................................. 85

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3.1. A EXISTÊNCIA DE DEUS ................................................................................................85


3.2. PROVAS TRADICIONAIS DA EXISTÊNCIA DE DEUS ...............................................................85
4 - OS NOMES DE DEUS .............................................................................................. 89
4.1. NO ANTIGO TESTAMENTO............................................................................................89
4.2. NO NOVO TESTAMENTO ..............................................................................................91
5 - DEUS E SUA TRIUNIDADE ....................................................................................... 95
5.1. A TRIUNIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO ........................................................................95
5.2. A TRIUNIDADE NO NOVO TESTAMENTO ..........................................................................97

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AULA
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1- PORQUE É DIFÍCIL COMPREENDER DEUS


O ponto central da doutrina de Deus são os atributos de Deus, porque eles são a
única coisa revelada que nos diz algo sobre a natureza do ser divino. Ninguém é capaz de
entender Deus em sua essência – daí ele ser incompreensível. Deus pode ser conhecido,
mas nunca compreendido. Em sua essência Deus é incompreensível, mesmo que
conheçamos muitas coisas que Ele revelou de si. Deus pode ser conhecido até onde ele se
nos revela, mas não pode ser compreendido porque a compreensão do seu interior
envolve um conhecimento exaustivo dele, e isso, obviamente, não é possível, por duas
razões:
1. Porque Ele não nos deu a conhecer tudo o que Ele é;
2. Porque não seríamos capazes de absorver tudo o que Ele é devido a nossa
finitude.
Mesmo conhecendo Deus, não podemos compreender o seu ser interior, pois a sua
natureza é muito diferente da nossa e muito mais complexa.
Existe uma distância qualitativa e infinita entre Deus e os homens. Essa distância
entre Deus e os homens é:
1. A distância entre o finito e o infinito;
2. A distância entre o tempo e a eternidade;
3. A distância entre o nada e o tudo.
Todavia a noção da grande distância que existe entre o criador e a criatura advém da
revelação que Deus faz de si mesmo.
Se Deus não nos houvesse revelado (revelação Geral e Especial) não saberíamos nada
sobre a grandeza de Deus e nem à distância que há entre Ele e nós (At 7:23-29). É através
de Sua revelação que ele se nos torna conhecível e, ao mesmo tempo incompreensível. A
incompreensibilidade de Deus é derivada de certos textos da Escritura que tratam de
alguns dos seus atributos incomunicáveis, como Sua imensidão e onipresença (1Re 8:27).
Todavia, a doutrina da sua incompreensibilidade é claramente afirmada em textos como Jó
11:7 “Porventura alcançaras os caminhos de Deus ou chegarás á perfeição do Todo-
poderoso?”

1.1. Razões Para a Difícil Compreensão Sobre Deus

Deus é incompreensível pelo que Ele é (Jó 36:26)

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A natureza de Deus é infinitamente distinta da nossa, quantitativamente e


qualitativamente. Não há em nós possibilidade de compreender aquilo que está muito
acima de nós. Não conseguimos compreender a grandeza de Deus, porque o nosso
conceito de grandeza está ligado àquilo que se pode medir. Deus não pode ser medido em
tamanho nem tempo. Ele é infinito em sua grandeza. Por isso, não podemos ter idéia da
sua grandiosidade majestosa. Ele excede o nosso entendimento.
Deus é incompreensível pelo que faz (Jó 37:5)
Os efeitos de Deus incluem as grandes coisas que não existiam, mas que vieram a
existir por Sua palavra, como o universo criado e os seres vivos (Is 41:4). Não somente os
atributos incomunicáveis como auto-existência, imutabilidade, eternidade e infinidade
tornam Deus incompreensível a nós. Mesmo os atributos comunicáveis mais cantados pela
igreja têm certa dose de incompreensibilidade. Veja o que Paulo diz do amor de Deus, que
é o atributo mais desejado de todos os crentes: “... e conhecer o amor de Cristo, que
excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef
3:19). Não podemos compreender como Deus ama, pois o modo de Ele amar é muito
diferente do nosso. A base do seu amor está nele próprio, e nunca nas razões que o objeto
amado oferece. Conosco é exatamente o inverso e, por isso, o que Ele faz por nós se torna
incompreensível. Veja ainda o que é dito da paz de Deus, que é uma das coisas que mais
deliciosamente desfrutamos: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará
os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.” (Fp 4:7). Mesmo essa sensação
maravilhosa que advém do que Cristo fez por nós vai além do que podemos compreender,
Deus é incompreensível, em Sua profundeza, em tudo o que faz.
Deus é incompreensível por causa de Suas profundezas insondáveis (Is 55:8,9)
As profundezas de Deus não podem ser sondadas por nós. Os pensamentos de Deus
estão muito acima dos nossos pensamentos e os seus caminhos são muito mais altos do
que os nossos caminhos. Por essa razão, Paulo, após tratar dos misteriosos caminhos do
Senhor na soberana salvação de alguns assim como na reprovação de outros, diz: “Ó
profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos e quão inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois,
conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?” (Rm 11:33,34). A mente de
Deus é absolutamente insondável pela simples razão de ela ser infinita. Os filósofos
chegaram a essa conclusão através de sua própria ignorância ao tentarem alcançar a Deus,
mas os apóstolos compreenderam essa verdade pela revelação do próprio Deus. A
sabedoria de Deus é apresentada de múltiplas formas (Ef 3:9-11), e o ser humano fica
boquiaberto diante dela, sem sequer compreende-la. As mentes mais brilhantes deste
mundo encontram um grande mistério na mente sábia de Deus. A sabedoria de Deus é
uma coisa tão profunda, que mesmo quando estivermos completamente redimidos, a

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mente de Deus ainda será um mistério para nós. Não seremos compreendedores de Deus
depois de consumar-se a redenção. Mesmo quando a imagem de Deus for totalmente
restaurada em nós, ainda assim não compreenderemos a Deus. A negação dessa verdade
equivale à idéia de que nos consideramos semelhantes a Ele. Isso nunca acontecerá, nem
na glória!
O modo como Deus age na história do mundo também é incompreensível, não
porque o seu modo de operar não seja razoável, mas porque a nossa mente é incapaz de
alcançar o seu raciocínio e acompanhar o seu pensamento. Daí a razão de muitos
questionamentos, tipo: "Por quê Deus permite o sofrimento da humanidade? Por quê há
tantas desgraças no mundo? Por quê Deus permite a existência do mal? Por quê isso? Por
quê aquilo?". O modus operandi de Deus escapa ao nosso entendimento e isso nos
maravilha! A razão do encantamento está na limitação do nosso entendimento em
comparação com a profundidade dos juízos e dos caminhos de Deus, que são
inescrutáveis! Nenhum homem pode penetrar as profundezas de Deus. Elas são
conhecidas somente pelo espírito de Deus que a todas as coisas examina! Isaias diz de
maneira inequívoca que ninguém pode esquadrinhar o entendimento de Deus (Is 40:28).
Só o espírito do próprio Deus pode sondar o seu interior. Ninguém mais!
Deus é incompreensível porque é incomparável
Deus não é somente infinito, mas Ele é absolutamente singular, incomparável!
Nenhum ser criado pode ser igualado a Deus, ou ter o seu próprio raciocínio. Ninguém tem
quaisquer condições de ser o conselheiro de Deus ou de lhe dizer o que ele deve fazer. Ele
mesmo desafia os seres humanos orgulhosos e vaidosos a encontrarem alguém que possa
ser comparado a Ele. Deus estava acima de qualquer dos deuses imaginados pelos homens
mais sábios do mundo. Essa foi a mensagem que Paulo tentou passar aos intelectuais do
seu tempo. É sobre esse Deus insondável e inescrutável que ele falou aos filósofos que
andavam a procura de novidades no Areópago de Atenas. O Deus que Paulo apresentou
era absolutamente independente e não necessitava absolutamente de nada (At 17:24, 25,
28). Os deuses dos gregos foram todos criados à imagem e semelhança dos homens, mas o
Deus apresentado por Paulo sobrepujava a todos eles juntos. Ele era inigualável!
Nos versos abaixo, Deus zomba da pequenez dos homens em comparação a sua
infinita grandeza e singularidade. “Os reis e as nações não passam de gota d´água ou do pó
da areia diante da majestade divina.” (Is 40:15). O profeta Isaias registra as várias vezes em
que Deus desafia os homens a achar alguém semelhante a Ele, mostrando o Seu desprezo
pela soberba dos homens, Is 40:18,25 diz: “Com quem comparareis a Deus? Ou que cousa
semelhante confrontareis com ele ?...A quem , pois, me comparareis para que eu lhe seja
igual? diz o Santo.” Estas perguntas de Deus revelam a tolice e a soberba dos homens.
Estes faziam imagens de escultura, pensando que Deus podia ser comparado a elas. As

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imagens estavam violando o primeiro e o segundo mandamentos ordenados a Moisés. Os


contemporâneos de Isaias eram idólatras, e Deus sempre foi intolerante com essa
depravação da verdadeira e única divindade. O Invisível não pode ser tratado como se
fosse uma criatura, com aparência e com forma. Ele é um ser eminentemente espiritual,
sendo infinito em sua espiritualidade, e isto o distingue absolutamente das outras
criaturas! Nenhum dos deuses criados pelos pagãos pode ser comparado a Deus porque
Ele é ímpar! Não existe cópia de Deus ou alguém que se assemelhe a Ele. Após fazer uma
apologia de si mesmo, Deus fez os homens olharem ao seu redor e averiguarem as grandes
obras da natureza, para que vissem quem estava por trás de toda aquela grandeza!
Somente alguém maior do que a própria natureza (Is 40:26). Esse é o Deus singular! Is
46:5 diz: “A quem me comparareis para que eu lhe seja igual? e que cousa semelhante
confrontareis comigo?” É algo totalmente absurdo fazer com que o infinito seja
representado pela aparência de uma criatura. É uma tentativa de transformar a verdade
em mentira. Deus não pode ser representado por nada, porque não há nada que se
compare a Ele. Só o igual pode representar. Aquele que está acima de toda criatura e de
toda a criação é inigualável! O finito não pode ser comparado com Deus, porque ninguém
é semelhante a Ele! Deus é absolutamente inigualável (Is 44:6-8) e isto o torna
incompreensível! Nenhum outro ser é capaz de chegar próximo do único Deus e Senhor de
toda a terra.
Deus é incompreensível porque Ele é inacessível
Paulo, o apostolo, diz que Deus habita numa esfera da qual os homens não podem se
aproximar. Escrevendo a Timóteo, Paulo diz que Deus “habita em luz inacessível, a quem
homem algum jamais viu, nem é capaz de ver” (1Tm 6:16). Nenhum homem pode
aproximar-se de Deus, mesmo no estado de glória que vier a ter quando da consumação
final de nossa salvação. O Ser todo glorioso não pode ser confrontado nem visto pela
criatura. Qualquer coisa que o homem vier a saber dEle será sempre de maneira mediada,
isto é, por meio do Deus encarnado, Jesus Cristo. O contato com a Luz será através da
Lâmpada. Ninguém poderá ver a luz sem a lâmpada (Ap 21:23). Ninguém conhece a Deus
além do que Cristo Jesus revelou dEle.
João confirmou a inacessibilidade de Deus dizendo que “ninguém jamais viu a Deus: o
Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1:18). Somente o Filho de
Deus teve condições, por causa da sua própria natureza divina, de ver o Pai. Por essa razão,
João afirma: “Não que alguém tenha visto ao Pai, salvo aquele que vem de Deus: este o
tem visto” (Jo 6:46). Portanto, criatura alguma pode penetrar os segredos da divindade
inacessível, a quem todos devem honra e glória.
Deus é incompreensível por estar além dos limites espaciais e temporais

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Is 40:12 diz: “Quem na concha de sua mão mediu as águas, e tomou a medida dos
céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra, e pesou os montes
em romana e os outeiros em balança de precisão?” Ele é tão grande que todo o universo,
que é considerado como “infinito” pelos estudiosos, cabe na palma de suas mãos, e tudo é
tão pequenino se comparado com o Criador. A distância entre o Criador e a criatura fica
mais patente quando Deus, através do profeta Isaías, se compara ate mesmo ás nações
mais poderosas, que são consideradas como absolutamente nada na sua presença.
Observe a linguagem do profeta em Is 40:15,17: v.15 - “Eis que as nações são
consideradas por ele como um pingo que cai dum balde, e com um grão de pó na balança;
as ilhas são como pó fino que se levanta”; v.17 - “Todas as nações são como nada
perante ele; ele considera-as menos do que nada e como uma coisa vã”.
Deus é incompreensível por ser o único Deus
Deus é absolutamente singular. Nada se compara a Ele, como já vimos
anteriormente. A sua singularidade o distingue de tudo o que existe, e as palavras,
sentimentos e imaginações humanas não podem descrevê-lo nem defini-lo. Êx 20:2-3 diz:
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás
outros deuses diante de mim...” Deus inicia os seus mandamentos cortando toda a
possibilidade de haver alguém que faça competição com Ele.
Deus é único e não admite qualquer outro ser que venha a tomar a glória que lhe é
devida. Por essa razão, ninguém consegue entender os propósitos e o ser interior de Deus.
A sua singularidade nega a possibilidade mesmo de ser conhecido (se não se revelasse), e
certamente inclui a sua incompreensibilidade. “Eu sou o Senhor teu Deus” - Isto não
significa que não haja a possibilidade de pertencermos a outro deus ou de crermos num
deus que fazemos com as nossas próprias mãos. Mas porque o Deus único nos possuiu e,
em pacto, revelou-se a nós, como zeloso que é, ele não admite que outro deus possa
ocupar o nosso pensamento. Contudo, a despeito de sua atitude revelacional ali no Monte
Sinai, ele permanece um Deus absconditus, (o Deus oculto, escondido) como ensinava
Lutero.
Mesmo estando diante da face de Deus, Moisés queria ver a essência de Deus, mas
este lhe respondeu que nenhum homem poderia continuar vivendo se pudesse ter
qualquer contato com o seu caráter mais glorioso, ou seja, vê-lo em sua essência. Nenhum
outro deus ou ser criado é semelhante a Ele. Por isso, esse único Deus não pode ser
compreendido. Dt 4:35,39 diz: “A ti te foi mostrado para que soubesse que o Senhor é
Deus; nenhum outro há senão ele...Por isso hoje saberás, e refletiras no seu coração, que
só o Senhor é Deus em cima no céu, e embaixo na terra; nenhum outro há.” Depois de
mostrar todas as suas maravilhas a Moisés e ao povo, Deus aproxima-se de Moisés e lhe
diz as palavras acima, e este as transmite ao povo, que havia sido testemunha ocular dos

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poderosos feitos do Senhor. Pelo que Deus é e faz, os homens podem saber que somente
ele é Deus, mas os seus atos e as suas palavras não nos podem dar um conhecimento dEle
que nos capacite a compreendê-lo. Mesmo que o homem chegue a refletir no seu coração
sobre a divindade impede que tenhamos compreensão do que ele realmente é. 1Sm 2:2
diz: “Não há santo como o Senhor; porque não há outro além de ti; e rocha não há,
nenhuma, como o nosso Deus”. Numa oração cheia de angústia, esperando que Deus a
ouça e lhe dê um filho, Ana apela para a singularidade de Deus. Todos os homens
tementes a Deus diriam o que Ana disse acima, mas todos eles ainda ficariam por entender
os caminhos de Deus e os seus propósitos. Eles nos são ocultos e mesmo quando
revelados, permanecem sem serem compreendidos.
Esta verdade torna o ser humano pequenino, ou melhor, é a sensação de pequenez
do homem que o torna um verdadeiro adorador como Ana o foi. Deus é inescrutável em
seus caminhos e santo em todas as suas obras; a nossa alma sabe disso muito bem e cada
vez mais se admira de sua profundidade e da imensidão dos seus pensamentos! Is 44:8
diz: “Não vos assombreis, nem temais; acaso desde aquele tempo não vo-lo fiz ouvir, não
vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas. Há outro Deus além de mim? Não, há
outra Rocha que eu conheça.” Os homens sempre tentaram criar deuses para expressar a
sua própria religiosidade, mas todos eles são falsos. Quando Paulo comparou os deuses do
Olimpio com o verdadeiro Deus, ele desafiou os gregos a crerem no Deus criador,
providente e redentor.
Nenhum deus criado pelos homens faz o que Deus faz. Deus é singular não somente
na sua essência, mas no que faz. Ele é único e, portanto, incompreensível! Só podemos
compreender aquilo que tem alguma semelhança a nós. Como somos infinitamente
pequenos e Deus é o único Deus, não podemos saber nada dele além daquilo que ele nos
revelou. Devido a sua singularidade, por mais que diga algo de si, ele nunca nos levará a
compreendê-lo de modo que venhamos a saber quem ele realmente é.
Deus é incompreensível porque é inominável
Não há nenhum nome que expresse tudo o que Deus é. Os nomes todos que a
Escritura dá a Deus não são suficientes para nos dar uma compreensão de Deus. A sua
essência não pode ser descoberta pelos seus nomes. Deus possui uma enorme variedade
de nomes justamente porque cada um deles reflete algo do que Ele é.
Na verdade, Deus é sem nome porque tudo o que ele diz de si mesmo, embora seja a
verdade absoluta, ou seja, corresponda á realidade, não exaure o que ele é na sua
essência. Portanto, mesmo os nomes que a Escritura atribuiu a Deus são insuficientes para
explicar a sua natureza.
Pergunto: O ser de Deus pode ser conhecido? Sim! Até onde Ele mesmo se revela.
Contudo, no Seu ser mais interior Deus é incompreensível. Conhecido, sim! Compreendido,

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não! Daí a importância de estudarmos os Seus atributos. Eles revelam o Seu caráter. Fora
da revelação de Deus pelos Seus atributos, não podemos ter nenhum conhecimento do
Seu ser. Podemos conhecê-lo até onde Ele (Deus) se revela em Seus atributos, ainda que
esse conhecimento esteja condicionado às nossas limitações humanas.
O conhecimento que o homem tem de Deus é limitado ao que Ele revela de si mesmo
na natureza e nas Escrituras Sagradas. Se pudéssemos ter um conhecimento exaustivo de
Deus, seríamos iguais a Ele. Somente um igual pode conhecer o outro exaustivamente. “O
finito não é capaz de captar ou conter o infinito” (máxima reformada).
Embora não possamos ter um conhecimento exaustivo de Deus, cremos que
podemos ter um conhecimento adequado dEle, isto é, um conhecimento que corresponde
à realidade. Esse conhecimento divino correspondente a realidade é adequado porque as
informações sobre Ele partem dEle mesmo.
É fato que Deus não pode ser plenamente conhecido por ninguém (Sl. 139: 6; 145: 3;
Rm. 11:33), tudo que podemos conhecer de Deus é porque Ele quis nos manifestar (Mt.
11: 27; Rm. 1:19). Não é a sabedoria humana que faz Deus conhecido, mas a revelação (1
Co. 1:21; 2: 14; 2 Co. 4: 3-4). Isto porque o finito não pode compreender o infinito. Para
alcançar o conhecimento de Deus dependemos das Escrituras Sagradas. O reformador João
Calvino considerava que para o homem é impossível investigar as profundezas do Ser de
Deus. “Sua essência,” diz ele, “é incompreensível de tal maneira que sua divindade escapa
completamente aos sentidos humanos”. Não é que os Reformadores Protestantes
negassem que o homem pode saber algo da natureza de Deus por meio da criação, mas
afirmavam que o homem só pode adquirir verdadeiro conhecimento de Deus pela
Revelação Especial, sob a iluminadora influência do Espírito Santo. Sem a revelação o ser
humano jamais seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de Deus, pois só o Espírito
Santo pode dar esse conhecimento (1 Co. 2:11). Assim, só com a Bíblia podemos conhecer
coisas verdadeiras acerca de Deus, e essa é a glória do ser humano (Jr. 9: 23-24). Portanto,
é, sobretudo pelas Escrituras, que nos guiaremos neste estudo.
Mas, por que conhecer Deus? O conhecimento de Deus se faz necessário, porque é só
conhecendo o objeto da nossa adoração, que saberemos como nos relacionar
corretamente com Ele, como obedecê-lo e adora-lo (Vd. Jo. 4: 19-24).
Se Deus não é conhecido, não pode ser obedecido; porque a obediência é sempre
baseada sobre o conhecimento. Quando a alma é abençoada com o conhecimento de
Deus, descobre que este conhecimento é vida (João 17:3), e vida é poder; e quando se tem
pode-se agir.

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2- OS ATRIBUTOS DE DEUS
Os atributos são ‘qualidades’, ‘propriedades’, ‘virtudes’ ou ‘perfeições’ de Deus. Os
atributos não são algo que se acresce a Deus, mas são qualidades essenciais d'Ele. Berkhof
define atributos como sendo “as perfeições atribuídas ao Ser Divino na Escritura, ou as que
são visivelmente exercidas por Ele nas obras da criação, providência e redenção”.

2.1. Divisão dos Atributos de Deus

Várias divisões têm sido sugeridas na história da teologia sistemática:


Atributos naturais e morais
Os naturais são auto-existência, simplicidade, infinidade, etc. que não dependem de
Sua vontade. Os morais são bondade, verdade, misericórdia, justiça, santidade, etc. que
caracterizam Deus como um ser moral.
Atributos absolutos e relativos
Os primeiros correspondem à essência de Deus considerado em si mesmo (auto-
existência, imensidão, eternidade, etc.) ao passo que os segundos correspondem à
essência divina em relação à criação (onipresença, onisciência). A objeção a essa divisão é
que todas as qualidades de Deus têm de algum modo a ver com o mundo que Ele criou,
embora elas já existissem em Deus antes do mundo ser criado. Todas fazem parte do Ser
de Deus.
Atributos imanentes (intransitivos) e emanentes (transitivos)
Os primeiros são os atributos que não se projetam nem operam fora da essência
divina (imensidão, simplicidade, eternidade, etc.); os segundos são aqueles que se irradiam
e produzem efeitos externos de Deus (onipotência, benevolência, justiça, etc.). A objeção a
essa divisão é que se alguns atributos fosse estritamente imanentes, o conhecimento deles
seria totalmente impossível.
Atributos comunicáveis e incomunicáveis
Podemos classificar os atributos de Deus de duas formas: Comunicáveis e
Incomunicáveis – os últimos são aqueles que não encontram nenhuma analogia no ser
humano, e tem a ver com o Ser Absoluto de Deus (imensidão, simplicidade, eternidade,
etc.), apontando para Deus como o Deus escondido; os primeiros são os que encontram
alguma ressonância nos seres humanos. Eles são transmitidos, em algum grau, aos seres
humanos, e tem a ver com o Ser pessoal de Deus (poder, amor, bondade, justiça, etc.),
apontando para o Deus revelado que se nos dá a conhecer mais facilmente.

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A confissão de Fé de Westminster mostra os atributos incomunicáveis e os


comunicáveis (mesmo que ela não use essa distinção clássica) nas seguintes palavras: “Há
um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito
puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno,
incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto,
fazendo tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que é
reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e
verdadeiro remunerador dos que o buscam, e, contudo, justíssimo e terrível em seus
juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por inocente o culpado.” (II,1).
A primeira lista de palavras em negrito, na citação acima, diz respeito aos atributos
incomunicáveis, enquanto que a segunda mostra os atributos comunicáveis. A glória de
Deus é a soma de todos os Seus atributos. Para compreendermos um pouco da Sua glória,
Deus se revela em cada um dos seus atributos, pouco a pouco.
Antes de analisarmos os atributos de Deus, propriamente dito, quero fazer uma
importante observação. O nosso objetivo ao ensinarmos sobre o conhecimento de Deus
não é abarrotar os irmãos de informações sobre o Senhor. O nosso objetivo não é
simplesmente tornar os irmãos sábios em quantidade de conhecimento sobre o Senhor. O
objetivo é, antes, tornar os irmãos quebrantados por conhecer o seu Senhor, tornar-se
reverente, temente, obediente, ante a majestade e supremacia daquele que é o Senhor
absoluto do céu e da terra, daquele cujo nome é terrível, daquele cujo nome é excelso.
Enfatizamos ainda que o conhecimento de Deus deve trazer à consciência de cada um de
nós qual é a profunda relação entre o perfeito caráter de Deus, cada atributo que estamos
expondo, e a vida prática de cada um, a nossa vida como crentes, como arautos, como
adoradores, como filhos de Deus. Se esse objetivo não for atingido, então falhamos,
porque cada atributo de Deus tem tudo a ver com a vida prática dos seus filhos, com a vida
de santidade, de perfeição, de conformação à imagem de Jesus Cristo. Não nos percamos,
portanto, na fasci-nação de possuirmos muitas informações sobre Deus; não nos percamos
na tentação de ter grandes conhecimentos sobre um Deus distante, para, em seguida,
continuarmos numa vida indiferente, sem santidade, crescimento, adoração, estudo da
Bíblia e poder para testemunhar. Fujamos dessa maldição travestida de bênção!
A seguir começaremos com os atributos incomunicáveis, pois expressam a
singularidade de Deus.

2.2. Atributos Incomunicáveis

Os atributos incomunicáveis são aqueles que distinguem Deus como Deus, sendo
ímpar naquilo que é e faz. Esses atributos são a marca distintiva do altíssimo que o torna
absolutamente inigualável! Eles são exclusivos de Deus e não há correspondência aos

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mesmos na criatura Esses atributos não podem ser transferíveis aos seres humanos, pois a
finitude destes impede que os possuam.
Esses atributos são chamados incomunicáveis porque indicam que, de nenhum
modo, podemos ver traços desses atributos em nossa personalidade. Deus não passou ou
comunicou nenhum aspecto deles a nós. Não há nenhuma analogia (comparação) em
nosso ser com aquilo que é próprio e exclusivo da divindade. Portanto, os atributos
incomunicáveis pertencem somente a Deus, não havendo correspondência a eles na
criatura. Esses atributos representam a singularidade de Deus.
Em seguida, veremos basicamente quatro atributos incomunicáveis: Espiritualidade,
Independência, Imutabilidade e Infinidade.

2.3. Espiritualidade

Deus é um ser espiritual, puríssimo e infinito. Nesse sentido Ele é ímpar, diferente
mesmo dos anjos, que também são seres espirituais. No diálogo de Jesus com a mulher
Samaritana há a afirmação do próprio Jesus sobre a natureza do Seu Pai. Disse Ele: “Deus é
Espírito” (Jo 4:24), Estevão (At. 7:48) e Paulo (At 17:24), repetem esta mesma idéia de
Jesus – isto significa que Deus não possui natureza corpórea como os homens, e que não
há nEle mistura alguma com o que é físico ou material. (Is 31:3).
Obviamente, há outras criaturas Suas que também são seres unicamente espirituais,
sem qualquer conotação corpórea, como os anjos, por exemplo, (Hb 1:13,14). Mas Deus é
um espírito muito diferente dos outros seres espirituais, porque, juntamente com o fato
de ser espírito puríssimo, Ele é infinito, imensurável, onipresente, onipotente, possuindo
todos os demais atributos incomunicáveis justamente porque é um ser eminentemente
espiritual.
Exemplifiquemos isto através da análise dos diversos modos de ser de um espírito:
1. Espírito Humano - As almas dos homens são chamadas “espíritos” (Ec 12:7). A
parte imaterial dos homens é também chamada de “espiritual”, que se contrapõe
ao corporal humano. Esse espírito, a despeito de poder viver desincorporado
(quando o homem morre), todavia, não é a expressão do ser humano completo.
2. Espírito de Cristo - As Escrituras dizem que o Redentor tem um espírito. Aqui não
se trata do Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, mas da alma humana do
redentor (Jo19:30) Como homem que era, Jesus possuía corpo e alma
verdadeiramente humanos, mesmo depois de ressuscitado. Veja a noção que
Jesus Cristo dá de um espírito: “... um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho” (Lc 24:39).

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3. Os anjos são espíritos - O Salmo 140:4 mostra a espiritualidade dos anjos. Mesmo
os anjos caídos são seres espirituais (Mc 1:27). Os anjos, ou outros seres celestiais,
são meramente espirituais, sem qualquer conotação física. Todas as vezes que
homens viram anjos (nas Escrituras), estes assu-miram uma forma visível a fim de
que pudessem se comunicar com os seres humanos, mas são seres
eminentemente espirituais.
Um espírito, portanto, é um ser imaterial que age por si mesmo. Um mero corpo não
pode agir por si mesmo. Ele tem que ser animado por um espírito.
Deus é o mais espiritual de todos os seres. Como Ele excede as criaturas, Ele também
as excede em seu modo de ser espiritual, porque é o Pai dos espíritos (Hb 12:9).

2.4. Qual é a Importância de Deus Ser Espírito?

É significativo o fato de Deus ser Ente Espiritual Puríssimo. Senão vejamos:


Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não poderia ser Criador
A matéria veio a existir das coisas que não existiam. A matéria é criação, teve um
começo. Toda criação “veio do nada”, ainda que seja preferível dizer que ela foi feita sem
haver qualquer material preexistente. Somente um Espírito infinito poderia criar a matéria
e os espíritos finitos. Nenhum ser corpóreo poderia ter criado a matéria, se ele já é
matéria. A matéria é temporal, assim como os seres espirituais. Todos tiveram um começo.
Nada que é finito pode gerar outro igual. Somente o Deus-Espírito infinito pode ser
criador.
Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não seria infinito
Todos os corpos têm uma natureza finita. Tudo o que é material tem um limite,
mesmo o universo que Deus criou. O universo não é infinito. Se tivesse um corpo, Deus
seria composto de partes, o que traria limite a Ele. Para considerá-lo livre de limitações,
temos que crer na espiritualidade pura de Deus. Ele excede a Sua própria criação (2Cr 2:6).
Deus possui uma essência que extravasa os limites da Sua própria criação. Se Deus tivesse
partes, as partes finitas nunca poderiam compor um ser infinito. E o que é infinito não
pode ser dividido.
Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não poderia ser Independente
Um ser corpóreo é um ser composto e tudo o que é composto depende
integralmente das partes. Como a essência do homem depende da conjunção ou da união
do espírito com o corpo, senão ele cessa de ser o que é, assim Deus dependeria do devido
exercício das partes para ser Deus, porém um Deus dependente. Se em Deus houvesse
qualquer elemento corpóreo, Deus dependeria do bom exercício das partes do corpo para

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poder ser o que é. Soa muito estranho Deus ter partes das quais depende. Um Deus assim
parece-se mais conosco, todavia, e não com o Deus que a Bíblia apresenta, o “EU SOU”. Ele
disse: “Eu sou o primeiro e o último” (Is 44:6). Nada houve antes dEle, e nada haverá
depois dEle. Ele não depende de nada, mas tudo depende dEle.
Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não seria Imutável
Sua imutabilidade depende da Sua simplicidade. Ele é imutável na Sua essência
porque é puro e é um Ser espiritual não misturado com partes finitas. Se Adão houvesse
obedecido, ele não morreria. Ficaria imutável na sua condição de santidade em que foi
criado. Da mesma forma que os anjos eleitos estão no céu ou os remidos ficarão na nova
terra. Eles não terão o seu estado de santidade alterado, porque serão conservados dessa
forma pela bondade de Deus. A imutabilidade do seu estado decorre da vontade de Deus,
não uma imutabilidade de essência. Eles continuam ainda, lá no céu, a ter uma natureza
mutável. Apenas serão preservados em santidade pelo amor gracioso de Deus. A
imutabilidade de essência pertence somente a Deus porque Ele é eminentemente
espiritual e, por isso, incriado, independente e poderoso.
Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não poderia ser Onipresente
Ele está acima no céu e embaixo na terra. Ele enche os céus e a terra (Jr 23:24). Essa
propriedade é impossível para um ser corpóreo. Somente um ser eminente e puramente
espiritual pode ter essa capacidade. Visto que Deus está em toda parte, Ele certamente
deve ser espiritual. Se Ele tivesse corpo, não poderia penetrar todas as coisas, estaria
limitado a um lugar. Ele não poderia estar em todos os lugares com todo o Seu ser, apenas
em partes: um membro num lugar, e outro em outro. Se Ele fosse somente corpo, não
poderia haver nenhuma outra coisa no universo, senão Ele próprio. Dois corpos não
podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Um excluiria o outro.
Se Deus não fosse um Ser Espiritual, Ele não seria o mais perfeito
Se Ele não fosse um espírito puríssimo, outras de suas criaturas poderiam ser mais
perfeitas do que Ele. Em geral, há mais noção de imperfeição e limitação nas criaturas
corpóreas do que nas espirituais. Deus, como ser espiritual, não pode ser menos perfeito
do que suas próprias criaturas. É a sua plena natureza espiritual que lhe dá o caráter
perfeito que tem. Todas as outras criaturas, mesmo as espirituais, são sujeitas a limitações,
imperfeições e mudanças, mas Deus é espírito perfeito, não um ser vacilante.
Pudemos, portanto, observar que os atributos incomunicáveis de Deus estão de
algum modo, dependentes do fato de Deus ser puramente espiritual. È muito importante
que essa espiritualidade infinita de Deus seja conhecida e proclamada, porque nisto Ele
difere absolutamente de todas as suas criaturas. Todas as outras criaturas, mesmo as

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espirituais, são sujeitas a limitações, imperfeições e mudanças, mas Deus é espírito


perfeito (Pai dos espíritos), livre de todas as limitações temporais. Senão vejamos:
Deus é um ser invisível
Uma das características da espiritualidade é ser invisível. Um ser corpóreo não pode
ter a propriedade da invisibilidade, embora haja coisas matérias que não sejam visíveis: o
vento é material e, todavia, invisível.. Todo corpo que tem membros, como um corpo é
visível. Como Deus não possui corporeidade, Ele é invisível.
Ele não somente é invisível, mas também é imperceptível aos nossos sentidos, ao
contrário do vento. Não vemos o vento, mas o sentimos, porque a invisibilidade do vento
não faz com que ele não se choque com os seres corpóreos. Em contraste com eles, Deus é
incapaz de ser visto e percebido pelos sentidos humanos, a menos que se comunique com
os seres humanos e se faça perceptível.
Se Ele é invisível é porque é espiritual. Suas obras são visíveis, mas não o seu ser.
Jesus nos mostra o que a Sua natureza humana é (Lc 24:39), mas Ele não poderia dizer o
mesmo de Sua natureza divina, que é eminentemente espiritual. Portanto, é impossível
para o ser humano ver a Deus, porque este não pode ser percebido pelos nossos sentidos
visuais (1Tm 1:17). Não é uma questão de falta de oportunidade, mas de incapacidade. É
propriedade divina não poder ser contemplado por olhos humanos. (1Tm 6:16; Jo 1:18;
1Jo 4:12). Isso se deve ao fato de que Ele é um ser eminentemente espiritual, que não
possui forma (Jo 5:37; 6:46 - Aqueles que parecem acreditar que tem visões sempre farão
bem em ter isso em mente). Se Deus tivesse uma substância corpórea (corpo ou parte de
corpo), Ele poderia ser medido e visto pelos olhos físicos.
Então, que dizer das expressões que mostram Deus como tendo partes do corpo:
mãos (Is 65:2; Hb 1:10); pés (Gn 3:8; Sl 8:6); olhos (1Re 8:29; 2Cr 16:9); ouvidos (Ne 1:6;
Sl 34:15)? Elas são representações antropomórficas e simbólicas para trazer o infinito ao
alcance da apreensão do finito. Elas servem para tornar Deus real e para expressar Seus
vários interesses, poderes e atividades.
Deus é eminentemente espírito invisível, os Israelitas não viram “aparência
nenhuma” quando o Senhor lhes apareceu no Horebe, e, portanto não deveriam fazer para
si imagem dEle (Dt 4:15-19). Deus disse a Moisés que homem algum poderia vê-Lo e
continuar vivo (Ex 33:20); e João disse: “ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1:18). Paulo se
referiu a Ele como “o Deus invisível” (Rm 1:20; Cl 1:15; 1Tm 1:17), e declarou que
nenhum homem jamais O viu ou pode vê-Lo (1Tm 6:16).
Mas o que dizer das passagens que falam de terem homens visto Deus? Por exemplo:
Gn 32:30; Ex 3:6; 24:9, 10; 33:21-23; Nm 12:6-8; Dt 34:10; Is 6:1. Embora Deus seja
espiritual em Seu ser essencial, quando Ele decide pode apre-sentar aparências de si

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mesmo, todavia não em seu verdadeiro ser. São lampejos, que nos permite compreendê-lo
naquilo que Ele quer se revelar. Reflexo não é essência. Torrey diz que “uma pessoa pode
ver um reflexo de seu rosto em um vidro. Seria a verdade se ela disser: ‘Vi meu rosto’ e
também se disser: ‘Nunca vi meu rosto’ ” Assim também homens viram o reflexo de Sua
glória, mas não viram Sua essência. Cf. Êx 33:21-23. Portanto, é correto dizer que embora
jamais venhamos a ver a essência integral de Deus, mesmo assim Deus nos revela algo de
Si por meio de coisas visíveis, criadas. Isso acontece de várias maneiras. Citarei somente
três: Pelas Analogias – Elas nos ajudam a revelar Deus de uma forma mais ou menos
“visível”. Gn 1:27; Sl 19:1; Rm 1:20; Pelas Teofanias – Deus assumindo forma visíveis para
revelar-se as pessoas. Ex 3:2-4 (fogo); Ex 13:21,22 (nuvem, coluna de fogo); Ex 20:18-21
(fumaça); Jz 13:21,22 (forma humana); Pela Pessoa de Cristo - Essa foi uma manifestação
visível de Deus muito mais impressionante do que qualquer teofanias do Velho
Testamento – Jo 14:9; 1:18; Cl 1:15; Hb 1:3. Assim, na pessoa de Jesus Cristo temos a
única manifestação visível de Deus no Novo Testamento. Manifestação essa que os crentes
que testemunharam as teofanias do V.T. não puderam ver cf. Mt 13:16,17.
Surge um questionamento no momento. Veremos a Deus no Céu? Jamais poderemos
ver ou conhecer a totalidade de Deus, pois Sua grandeza é insondável (Sl 145:3 cf. 1Tm
6:16), nem também o Deus Pai vai tomar forma corpórea para habitar com os seus filhos,
Ele continuará se manifestando na pessoa do Seu Filho Jesus Cristo. (Ap 1:7).
Deus é um ser incorpóreo
Como um ser espiritual puríssimo, Deus é um ser incorpóreo (imaterial – Lc 24:39).
Esse é um dos conceitos mais óbvios no Deus das Escrituras. Se Deus fosse corpo, não
poderia haver nenhuma outra coisa no universo senão Ele Próprio (Sl 139:7-10; 1Re 8:27).
Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, um excluiria o outro.
Deus não tem forma, não é mensurável espacialmente, nem possui qualquer tipo de
aparência. Esta verdade esta subjacente no segundo man-damento. Por essa razão, Ele
abomina qualquer forma que o ser humano possa lhe dar. Daí a proibição nos
mandamentos de se fazer imagens que o representassem. No segundo mandamento Deus
proíbe o Seu povo de pensar que o ser divino seja semelhante a qualquer outra coisa da
criação física (Ex 20:4-6). Em Deuteronômio 4:12-19, Deus dá as razões para explicar esse
mandamento, o v.15 precisamente diz: “... pois semelhança nenhuma viste no dia em que
o Senhor vosso Deus em Horebe (Monte Sinai) falou convosco do meio do fogo.” Se
atentarmos para o que diz Ex 20:4 vamos ver que a linguagem ligada à criação que se usa
neste mandamento: “em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da
terra”, é um lembrete de que o Ser de Deus, isto é, o Seu modo essencial de existência, é
diferente de tudo que Ele criou. Portanto, conceber o Ser divino em termos de qualquer
coisa do universo criado é representá-lo equivocadamente, é limitá-lo e concebê-lo como

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algo menor do que realmente é. É certo que Deus fez toda a criação para que cada parte
dela reflita algo do próprio caráter divino. Entretanto, se conceber a existência ou o modo
de Deus comparando-o a alguma coisa criada, é conceber a Deus de modo terri-velmente
enganoso e desonroso. É por isso que o zelo divino é apresentado como motivo da
proibição da confecção de imagens dEle –“porque eu o Senhor, teu Deus, Deus zeloso...”
(Êx 20:5). Deus é zeloso para proteger Sua própria honra. Ele avidamente almeja que as
pessoas o concebem como Ele é, e O adorem em virtude da Sua excelência. Deus fica irado
quando a Sua glória é diminuída ou quando o Seu caráter é falsamente representado – Dt
4:23,24.
Charles Hodge diz que “a idolatria consiste não apenas na adoração de deuses falsos,
mas também na adoração do verdadeiro Deus através de imagens”. Isto é, não devemos
fazer uso de qualquer representação visual ou gravuras do Deus triuno, ou de nenhuma
pessoa da trindade com a finalidade de adoração. O mandamento não se refere então ao
objeto de nossa adoração, mas a maneira como esta é feita; o que Ele diz é que nenhuma
estátua ou figura daquele que adoramos deve ser usada como auxílio a esta adoração.
J. I. Packer por sua vez, diz que parece estranho à primeira vista, que tal proibição
esteja colocada entre os dez princípios básicos da religião bíblica, pois não vemos, de
imediato, muita razão para isso. Que mal pode haver, perguntamos, se o adorador rodear-
se de estátuas e quadros se eles o ajudam a elevar seu coração a Deus? Acostumamo-nos a
tratar este problema como se estas coisas devessem ser usadas ou não, de acordo com o
temperamento e o gosto pessoal de cada um. Sabemos que muitas pessoas têm crucifixos
e figuras de Cristo em seus quartos e elas dizem que olhar para esses objetos ajuda a
focalizar seus pensamentos em Cristo. Sabemos que muitas pessoas dizem ser capazes de
adorar com mais liberdade e facilidade em igrejas cheias de tais ornamentos do que em
igrejas sem eles. Bem, que há de errado nisso? Que mal essas coisas podem causar? Se as
pessoas as acham realmente úteis, que há de mais para se dizer? Que propósito há em
proibi-las? Diante desta perplexidade, alguém poderá sugerir que o segundo mandamento
se aplica apenas a representações imorais ou degradantes de Deus, tiradas dos cultos
pagãos e nada mais.
Mas as palavras do mandamento eliminam tal suposição. Deus diz categoricamente,
“Não farás para ti imagem de escultura nem alguma semelhança” para ser usada em
adoração. Esta afirmação categórica proíbe não apenas o uso de figuras e estátuas que
mostram Deus como um animal, mas também o uso de figuras e imagens que O mostram
como a elevada criatura que conhecemos – o homem. Proíbe também o uso de figuras e
imagens de Jesus Cristo como um homem, embora o próprio Jesus tenha sido e permaneça
um Homem; pois toda figura ou imagem é necessariamente feita com a “semelhança” do
homem ideal, como o imaginamos, e portanto, está sob a proibição imposta pelo
mandamento. Sproul em seu livro “Boa Pergunta”, p.234, diz que um bom exemplo desta

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distorção é “a cabeça de Cristo feita por Salomão, apesar de toda sua beleza, tem
comunicado a várias gerações de pessoas um Jesus afeminado”. Não há dúvida alguma de
que o segundo mandamento nos obriga a dissociar nossa adoração tanto pública como
particular, de qualquer figura ou estátua de Jesus, assim como de qualquer representação
de Seu Pai.
Por quais razões as coisas têm que ser assim? Citarei duas razões:
As imagens desonram a Deus, pois obscurecem a Sua glória
A semelhança das coisas celestes (sol, lua, estrelas) ou terrestres (homens, animal,
pássaro, inseto) e marítimas (peixes, mamíferos, crustáceos) não é exatamente a
semelhança do Seu criador. “A verdadeira imagem de Deus”, escreveu Calvino, “não é
encontrada em todo o mundo; conseqüentemente... Sua glória é profanada, e Sua verdade
corrompida pela mentira, sempre que Ele é apresentado aos nossos olhos de uma forma
visível... Portanto, projetar qualquer imagem de Deus é em si mesmo ímpio; porque por
essa corrupção Sua majestade fica adulterada, e Ele é imaginado diferente do que é na
realidade”. O ponto aqui não é apenas que a imagem representa Deus como tendo corpo e
membros, o que na realidade Ele não tem. Se fosse apenas esta a objeção a imagens, a
representação de Cristo não seria errada, mas a realidade é muito mais profunda. O ponto
focal da objeção a figuras e imagens é que inevitavelmente elas ocultam quase toda, senão
toda a verdade sobre a natureza pessoal e o caráter do Ser divino que representam.
Para ilustrar: Arão fez um bezerro de ouro (isto é, a imagem de um boi). A intenção
foi ter um símbolo visível de Jeová, o Deus poderoso que havia tirado Israel do Egito. Não
há dúvida de que a intenção era honrar a Deus, criando um símbolo de sua grande força.
Mas, não é difícil ver como esse símbolo é de fato um insulto a Ele, pois que idéia de seu
caráter moral, sua justiça, bondade e paciência, poderia alguém fazer olhando para a sua
imagem representada por um boi? Assim a imagem de Aarão escondeu a glória de Jeová.
De um modo semelhante, o patético do crucifixo obscurece a glória de Cristo, pois esconde
o fato de sua divindade, sua vitória na cruz, e seu reino presente. Ele mostra sua fraqueza
humana, mas esconde sua força divina; descreve a realidade de sua dor, porém não
mostra a realidade de sua alegria e força. Em ambos os casos o símbolo é sem valor por
aquilo que deixa de apresentar. O mesmo acontece com todas as outras representações
visuais da divindade.
Calvino nas suas institutas, diz que “as imagens corpóreas são indignas da majestade
de Deus porque os homens lhe diminuem o temor e aumentam o erro.”
O que quer que pensemos a respeito da arte religiosa de um ponto de vista cultural,
não devemos olhar para figuras de Deus a fim de que nos mostrem sua glória e que nos
levem à adoração, pois na verdade a sua glória jamais é encontrada nesses quadros. Por
isso é que Deus acrescentou no segundo mandamento uma referência a Si mesmo como

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TEOLOGIA PRÓPRIA

“zeloso” para se vingar daqueles que O desobedecem: pois o “ciúme” de Deus, na Bíblia, é
seu zelo em manter sua própria glória, que é posta em jogo quando imagens são usadas na
adoração. Em Isaías 40:18 depois de haver declarado vivamente a grandeza
incomensurável de Deus, é feita a pergunta: “Com quem comparareis a Deus? Ou que
coisa semelhante confrontareis com ele?” A pergunta não espera uma resposta, apenas
um silêncio reservado. Seu propósito é lembrado que é tão absurdo quanto ímpio pensar
que uma imagem modelada, como precisam ser, de acordo com alguma criatura, possa ter
qualquer semelhança aceitável com o Criador.
O Catecismo Maior de Westminster respondendo a pergunta 109 – “Quais são os
pecados proibidos no segundo mandamento?” afirma que os pecados proibidos no
segundo mandamento são: (…) fazer qualquer representação de Deus - Dt 4:15-19; At
17:29; Rm 1:21-25 — de todas ou de qualquer uma das três Pessoas — quer interiormente
em nossas mentes, quer externamente em qualquer tipo de imagem ou semelhança de
alguma criatura - Dn 3:18; Gl 4:8, e toda a adoração dessa representação, ou de Deus nela
ou através dela - Ex 32:5.
O fato das imagens desonrarem a Deus e obscurecem a Sua glória não é a única
razão pela qual somos proibidos de usar imagens na adoração.
As imagens enganam os homens
Elas projetam idéias falsas a respeito de Deus. O modo inadequado como O
representam perverte nossos pensamentos a Seu respeito, e incutem em nossas mentes
erros de todos os tipos sobre Seu caráter e vontade. Ao fazer a imagem de Deus na forma
de um bezerro, Arão levou os israelitas a pensarem nEle como um Ser que podia ser
adorado através de frenética devassidão. Conseqüentemente, a “festa do Senhor” que
Aarão organizou (Ex 32:5) transformou-se em uma orgia vergonhosa. Ainda mais, a história
tem provado com fatos que o uso do crucifixo como auxílio para a adoração tem levado o
povo a pensar que devoção é meditar sobre os sofrimentos corporais de Cristo; e isso os
torna mórbidos em relação ao valor espiritual da dor física, impedindo-os de conhecer o
Salvador ressurreto.
Estes exemplos mostram como as imagens falsificaram a verdade de Deus na mente
dos homens. Psicologicamente, é certo que se seus pensamentos estiverem habitualmente
focalizados em uma imagem ou figura dAquele a quem suas orações são dirigidas, você
pensará nEle e orará a Ele como a imagem O representa. Assim, neste sentido você estará
“se curvando” e “adorando” sua imagem; e na mesma medida em que essa imagem falha
em representar a verdade sobre Deus, você estará também deixando de adorar a Deus em
verdade. É por isso que Deus nos proíbe de fazer uso de imagens e figuras em nossa
adoração.

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A compreensão de que imagens e figuras de Deus afetam nossos pensamentos sobre


Deus leva a um campo mais avançado no qual se aplica a proibição do segundo
mandamento. Ele tanto nos proíbe moldar imagens de Deus como também criar
mentalmente imagens de Deus. Imaginar Deus em nossa mente pode ser uma infração tão
real do segundo mandamento quanto imaginá-lo mediante o trabalho de nossas mãos.
Ouvimos freqüentemente expressões como esta: “Eu gosto de pensar em Deus como o
grande Arquiteto (ou Matemático, ou Artista)”. “Eu não penso em Deus como um juiz:
gosto de pensar nEle simplesmente como um Pai.” Sabemos por experiência como
expressões servem de prelúdio à negação de alguma coisa que a Bíblia nos diz a respeito
de Deus. É necessário que se diga com a maior ênfase possível que quem se considera livre
para pensar em Deus como gosta está infringindo o segundo mandamento. Na melhor das
hipóteses, podem pensar em Deus apenas como um homem, talvez um homem ideal ou
um super-homem, mas Deus não se iguala a nenhum tipo humano. Nós fomos feitos à sua
imagem, porém não podemos pensar nEle de acordo com a nossa imagem, pois pensar em
Deus desse modo é ser ignorante a seu respeito, não O conhecendo. Toda teologia
especulativa, que se baseia em arrazoados filosóficos em vez da revelação bíblica, está
errada. Paulo nos conta onde termina este tipo de teologia: “o mundo não o conheceu por
sua própria sabedoria” (1Co 1:21). Seguir a imaginação no campo da teologia é um modo
de se manter ignorante a respeito de Deus, tornar-se um adorador de imagens – o ídolo
neste caso seria uma falsa imagem mental de Deus criada pela especulação e imaginação.
Tendo em vista este fato, o propósito do segundo mandamento torna-se claro.
Negativamente, é uma exortação contra os modos de adoração e a prática religiosa que
nos levam a desonrar a Deus e a falsificar sua verdade. Positivamente, convoca-nos a
reconhecer que Deus, o Criador, é transcendente, misterioso e inescrutável, além do limite
de qualquer conjectura filosófica de que sejamos capazes; e, como conseqüência, um
chamado para que nos humilhemos para ouvi-lo e aprender dEle, deixando que Ele mesmo
nos ensine como é e como devemos pensar nEle. “Meus pensamentos não são os vossos
pensamentos”, Ele nos diz, “nem os vossos caminhos os meus caminhos... Porque, assim
como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que
os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Is
55:8-9). Paulo fala do mesmo modo “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os teus juízos, e quão inescrutáveis os
seus caminhos! Quem, pois conheceu a mente do Senhor?” (Rm 11:33-34).
Deus não é como nós. Sua sabedoria, seus objetivos, sua escala de va-lores, seu modo
de proceder difere tanto do nosso que não temos possibilidade de comparar nossos
caminhos com os seus ou inferi-los por analogia segundo a idéia que fazemos do homem
ideal. Não podemos conhecê-lo a menos que Ele fale e conte a seu próprio respeito. Mas,
na realidade, Ele tem falado. Falou aos seus profetas e apóstolos e através deles, e tem

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TEOLOGIA PRÓPRIA

falado nas palavras e atos de seu próprio Filho. Através de sua revelação, a que temos
acesso pelas Sagradas Escrituras, podemos formar uma noção verdadeira sobre Deus; sem
ela nunca o faremos. Parece assim que a força positiva do segundo mandamento é exigir
que formemos nossa idéia sobre Deus com base na sua Santa Palavra e não em qualquer
outra fonte, todas imagens de Deus feitas pelos homens quer sejam moldadas ou mentais
são realmente emprestadas de um mundo sem Deus e pecador, e com certeza não estarão
de acordo com a Palavra santa do próprio Deus. Fazer uma imagem de Deus é buscar a
inspiração em recursos humanos e não no próprio Deus, sendo este realmente o erro ao se
fabricar imagens.
Não podemos esquecer: Deus não tem corpo físico, nem é feito de nenhuma espécie
de matéria como boa parte da criação. Além do mais, não é meramente energia nem
pensamento, nem nenhum outro elemento da criação. Tampouco é como vapor ou
fumaça, ar ou espaço, pois tudo isso são coisas criadas. O Ser divino não é sequer
exatamente como o nosso espírito, que também é criado e aparentemente capaz de existir
apenas num lugar por vez. Em lugar de todas essas idéias de Deus, devemos dizer que
Deus é espírito. Seja o que for que signifique, é uma espécie de existência diferente de
qualquer coisa criada.

2.5. A Independência de Deus

Este atributo incomunicável também é conhecido como auto-existência. Deus é um


ser que existe necessariamente, a saber, nunca veio à existência por vontade própria ou de
alguém. Ele existe por si mesmo e sempre foi da maneira como é, não necessitando de
nada e de ninguém além de si próprio. Como disse Christopher Nesse “Deus é a causa das
causas” ou como disse Tomás de Aquino “Ele é a ‘causa primeira’ sem ser causado”. O ser
humano não existe necessariamente. Ele veio a existir por vontade de alguém, mas o
mesmo não pode ser dito de Deus. O homem existe, mas Deus é. A natureza de Deus exige
que Ele seja auto-existente, porque todas as outras coisas vieram a existir pela sua vontade
(Ap 4:11). Deus é o Criador incriado e livre de qualquer necessidade. Ele é auto-suficiente,
ao passo que todas as coisas que vieram a existir são sempre dependentes. A finitude aqui
está em contraste com a infinitude de Deus que se evidência em sua auto-existência.
A independência de Deus pode ser vista de vários modos:
Deus é independente na sua existência
Os seres humanos existem porque um dia foram trazidos à existência pela vontade de
outros seres, mas não é assim com Deus. Não há nada ao nosso redor – família, casa,
árvore, montanhas e tudo o que possa ser imaginado – que não tenha vindo á existência,
mas Deus é distinto de tudo o que existe, que é produto da sua criação. Tudo neste mundo
tem uma causa, exceto Deus, Ele é a causa de todas as causas, a alma de todas as almas.

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TEOLOGIA PRÓPRIA

Ele não teve começo. Ele é o Criador incriado. Ele não depende de nada fora de si mesmo.
Em outras palavras, Deus é, mas a sua criatura veio á existência. Como Richard Sibbes
disse: “Deus é, se ele não fosse, coisa alguma poderia ser”.
A Escritura indica a independência e a auto-existência de Deus pelo menos em duas
ocasiões; quando Moises foi a Faraó, foi o “Eu sou o que sou” que o enviou (Ex 3:13-15);
Ele é o Deus vivo que tem “vida em si mesmo”, e diz que a pessoa do Filho também tem
“vida em si mesmo”(Jo 5:26). Deus existe por si mesmo e, portanto, independe de tudo.
Ele se basta. A natureza de Deus requer que Ele exista, mesmo que nada mais existisse.
É esse atributo da independência que o faz ser conhecido mesmo na filosofia humana
como a Primeira Causa de todas as outras coisas que vieram a existir. Ele é o organizador
(planejador) e o executor de tudo que há. Nada do que existe veio a existir sem Ele, mas
Ele mesmo não depende de nada e de ninguém. Os homens não gostam muito de falar
desse atributo de Deus, porque a idéia da independência de Deus os humilha. Não há nada
que deixe o homem mais aborrecido do que o fato de Ele ser dependente. É aqui que estar
uma das infinitas diferenças entre o Criador independente e a criatura totalmente
dependente. Deus não passou nada de sua independência ao homem. Por isso, esse
atributo é chamado de incomunicável. Todavia, uma das coisas que mais encantam o ser
humano é a idéia de ser independente de Deus. Talvez essa vontade pecaminosa advenha
do fato de Ele, desde o começo, querer ser igual a Deus (Gn 3:1-6; 4:12, 16,17; 9:1; 11:1-9).
Mas isto é uma impossibilidade lógica, pois não pode haver dois infinitos ou
independentes (um teria que ser o criador e o outro a criatura).
Outro aspecto da independência do seu ser é que Ele não precisa de nada. Ele se
basta a si mesmo. Ele não precisa de nada que exista fora dEle. Antes de toda as coisas
existirem Ele já era e se bastava. Os deuses do panteão grego eram criados pela
imaginação humana, sendo, por causa disso, deuses dependentes dos seus criadores.
Contrastando o verdadeiro Deus com esses deuses dependentes, Paulo diz que ele “nem é
servido por mãos humanas, como se de alguma cousa precisasse; pois ele mesmo é quem
a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17:25). Robert Horn diz que “mesmo que
Deus tivesse necessidade, nós não poderíamos suprí-las pois possuímos só o que Ele
primeiro nos deu.”
Embora Deus tenha a base da sua existência em si próprio, não se pode dizer que Ele
é auto-causado ou auto-originado, porque Ele é eterno e não tem origem nem fim. Isto é
um grande mistério, porque somente Deus sabe como é que Ele existe, porque Ele tem
existido, e porque existirá para sempre. A independência de Deus inclui mais do que a
idéia de sua auto-existência. Sua independência caracteriza-se não somente em sua
existência, mas em todo o seu ser e atributos, seus decretos e suas obras da criação,
providência e redenção.

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Esse atributo distingue Deus de todas as criaturas. Por essência, Deus é diferente dos
seres criados, porque Ele é auto-existente, independente, fonte e origem de todas as
coisas. Ele é absolutamente auto-existente em seu ser e obras. Deus é aquele que está
acima de tudo e em tudo, contudo é distinto de tudo.
Deus é independente no seu relacionamento
Ele é absolutamente independente, não precisando relacionar-se com ninguém além
de si próprio. Ele fez o mundo porque quis (Ef 1:11), mas o mundo não era necessário para
a existência de Deus. Durante uma eternidade passada, Deus esteve só (Gn 1:1): completo,
suficiente, satisfeito em si mesmo, de nada necessitando. (Lc 17:10). Deus sempre viveu
relacionado consigo mesmo antes de criar o mundo, porque Ele se basta. Se um universo,
ou anjos, ou seres humanos, lhe fossem necessários de algum modo, teriam sido
chamados à existência desde toda eternidade, ao serem criados, nada acrescentaram a
Deus essencialmente (Ml 3:6). Todavia, como ser de caráter pessoal que é, Ele precisa de
relacionamento, mas não precisa relacionar-se com ninguém fora do seu próprio ser. Ele é
independente no seu relacionamento porque Ele se basta em seu próprio ser. Ele sempre
existiu em relacionamento porque Ele existe tripessoalmente. O seu caráter tripessoal é
auto-suficiente. Observe a expressão do Filho encarnado, Jesus Cristo, conversando com o
Pai sobre o “tempo” em que os dois se relacionavam antes de haver criação: Jo 17:5 – “E
agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que
houvesse mundo.”
Deus nunca precisou do mundo nem das pessoas do mundo para que pudesse, como
ser pessoal que é, relacionar-se, porque sempre bastou-se nessa área devido ao seu
caráter de subsistência tripessoal.
Ele não precisa conhecer a sua criação a fim de que possa ter um objeto para
conhecer e amar, e com quem possa regozijar-se e ter comunhão. Isso Ele faz dentro do
próprio ser divino. Essa propriedade é impossível para o homem, que é unipessoal. A fim
de que ele possa relacionar-se, amar e ter alegria tem que haver uma outra pessoa. Por
essa razão, Deus fez Eva para servir de companhia para Adão. Deus não precisava de
ninguém para ser o que é. Ele não precisa de ninguém além de si próprio. Ele basta a si
mesmo, porque é tripessoal. Perceba como isso é belo. O Pai “conhece o Filho” (Mt 11:27).
Ele “ama o Filho” (Jo 3:35). O Filho foi gerado pelo Pai (Hb 1:5), todas essas relações
existem desde antes da criação do mundo. O próprio Filho encarnado, enquanto no estado
de humilhação, pediu ao Pai que lhe restaurasse a glória que Ele tivera junto do Pai, antes
da fundação do mundo (Jo 17:5). Houve um tempo (antes do mundo) quando a criação
não existia, no entanto a Trindade já se relacionava entre si. Se Deus dependesse das
coisas criadas para ser o que é, Deus não seria “Bendito Eternamente” porque não poderia
ter alegria, gozo e conhecimento de Si mesmo. Mas Deus tem uma perfeita independência.

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Antes que houvesse qualquer outra coisa além do ser divino, as pessoas da Trindade já se
relacionavam, tendo amor uma pela outra e alegrando-se mutuamente. Isso acontece
porque Deus é independente de qualquer outro ser para relacionar-se. O ser humano
precisa de outro ser para ter relacionamento e para poder se conhecer, mas Deus não. Ele
é independente. Deus nunca precisou do mundo nem das pessoas do mundo para que
pudesse, como ser pessoal que é, relacionar-se, porque bastou-se nessa área devido ao
seu caráter de substância tripessoal.
Deus é independente nos seus pensamentos
Deus é independente nos seus pensamentos. Por pensamentos, estou me referindo á
mente do Senhor. Ninguém se iguala ao Senhor no processo e no conteúdo de seu
raciocínio. Simplesmente Ele é ímpar. Esta foi a sensação que Paulo teve quando começou
a tratar dos mistérios redentores de Deus: “Ó profundidade da riqueza, tanto, da
sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e quão
inescrutáveis os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o
seu conselheiro?” (Rm 11:33,34)
Ao descrever os pensamentos redentores de Deus, Paulo fica extasiado! Eles
demonstram uma sabedoria sem limites e sem paralelo. A obra redentora de Deus envolve
uma inteligência que está além da nossa compreensão. Paulo usa duas palavras para
descrever a sabedoria dos planos de Deus: “insondáveis” e “inescrutáveis”. Essas duas
palavras demonstram que a sabedoria da mente do Senhor não pode ser investigada pelos
homens e, portanto, não pode ser compreendida por eles!
Com essas palavras sobre a inteligência de Deus e os seus planos re-dentores, Paulo
não somente diz que esse assunto é difícil de compreender, mas afirma que esses planos
são impossíveis de serem compreendidos. É importante assinalar que Paulo não está
falando aqui dos “mistérios escondidos” de Deus, mas simplesmente daquilo que ele
revelou sobre a salvação. Mesmo essas coisas ele chama de insondáveis e inescrutáveis.
Que adjetivos, então, Paulo usaria para tratar das coisas secretas de Deus?
Contudo, não estamos dizendo que as coisas que Deus revela sejam totalmente
incompreensíveis. Muitas delas podemos entender, mas o que Paulo diz é que é impossível
captar o modus operandi da mente divina. Todavia, se o homem quer conhecer alguma
coisa do que Deus está fazendo, ele deve depender inteiramente da sua revelação. Ainda
assim, não implica necessariamente entendimento, mas certamente espanto e santa
admiração!
Foi exatamente o que Paulo percebeu quando escreveu essas palavras a respeito da
mente de Deus que é absolutamente independente: “Quem, pois, conheceu a mente do
Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? (Rm 11:34).

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Deus não depende de ninguém para conceber as coisas que concebe, nem para
pensar o que pensa ou fazer o que faz (Rm 11:35,36). Ele é perfeitamente auto-pensante,
livre de qualquer influência. Ele não precisa de instrução de quem quer que seja. O
processo do seu pensamento é absolutamente suficiente em si mesmo, perfeitamente
completo, concebendo e conhecendo perfeitamente todas as coisas de uma maneira
infinita.
A mente do Senhor não pode ser conhecida á parte de sua revelação, porque
ninguém conhece a mente do Senhor nem pode ser seu conselheiro. Ele não é devedor a
ninguém daquilo que Ele pensa. Por essa razão, Ele não dá satisfação das suas idéias nem
precisa justificá-las diante dos seres racionais.
A conclusão da doxologia de Paulo é que Deus é um Deus auto-existente, auto-
suficiente, sendo independente em todos os seus pensamentos, possuindo de si mesmo
conhecimento e sabedoria infinitos, independente das coisas criadas.
Deus é independente na formulação dos seus planos
“O Senhor frustra os desígnios das nações e anula dos povos. O conselho do Senhor
dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as gerações” (Sl 33:10,11). Na
realidade, os desígnios dos homens são reputados em nada por Deus. Ele simplesmente
ignora os planos dos homens, porque os seus planos é que prevalecem. Eles duram para
sempre!
Quando o Senhor resolve fazer alguma coisa Ele não consulta os homens. Ele planeja
todas as coisas como lhe agrada. Nos seus conselhos, Ele não se aconselha com ninguém,
pois Ele é suficiente em si mesmo em conhecimento e em sabedoria. Por essa razão, diz o
profeta em tons enfáticos: “Quem guiou o Espírito do Senhor? Ou, como seu conselheiro, o
ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o
instruiu na vereda do juízo e lhe ensinou sabedoria e lhe mostrou o caminho do
entendimento?”(Is 40:13,14)
Toda a história humana é a realização dos desígnios do Senhor previ-amente
traçados. Ninguém disse ao Senhor o que Ele devia fazer, porque todas as coisas estão
perfeitamente claras na sua mente auto-suficiente. Deus é absolutamente independente
na elaboração dos Seus projetos. Por essa razão, o profeta pergunta aos homens: “Com
quem comparareis Deus? Ou que cousa semelhante confrontareis com ele?” (Is 40:18), e o
próprio Deus, de uma maneira direta, pergunta ao ser humano: “A quem, pois, me
comparareis para que eu lhe seja igual?”(Is 40:25).
Deus é independente na execução de sua vontade
Deus não é so-mente auto-suficiente na elaboração dos seus planos, mas também na
execução deles.

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Ele executa todas as coisas de acordo com o conselho da sua vontade (Ef 1:5,11; Rm
9:19); nesse sentido ele é também incomparável (Is 40:18). Ele é totalmente independente
das suas criaturas em tudo o que decide fazer. Ele não precisa de sugestões dos homens
para realizar o que realiza. Ele não precisa do apoio dos homens ou da aprovação deles
para o exercício da sua vontade.
A independência da vontade de Deus é ilustrada de maneira clara no livro do profeta
Daniel. No capitulo quatro de Daniel há a história que narra a honra e o louvor que o rei
Nabucodonosor presta ao Senhor Deus em virtude do exercício da sua vontade
independente. O rei havia sido extremamente orgulhoso e arrogante enquanto dominou
sobre o povo cativo. Veio, então, a pesada mão de Deus sobre ele, fazendo-o viver como
um animal sobre a terra (4:33). Então veio o tempo quando o rei foi restaurado à sua
condição normal de homem, voltando ao entendimento (4:34). Depois de recobrar o
entendimento, o rei louvou ao Senhor e reconheceu a sua soberania sobre todos os reis da
terra e sobre toda a criação. Estas são as suas palavras: Dn 4:35 – “Todos os moradores da
terra são por ele reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do
céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que
fazes?”
Deus poderia destruir o desígnio das nações de um modo imediato, a saber, sem o
uso de meios, como ele fez com Nabucodonosor. Contudo, nem sempre ele age
imediatamente. O rei mostra aqui que Deus pode usar meios para cumprir os seus
desígnios. O rei estava absolutamente certo quando disse que Deus usa instrumentos
humanos para a consecução da sua vontade. No texto acima ele diz que opera com o
exercito dos céus, o que provavelmente refere-se a anjos, e com os moradores da terra, a
saber, os exércitos dos homens, para cumprir os seus desígnios de derrubar e abater as
nações.
Nabucodonosor ainda diz que a vontade decretiva de Deus não pode ser contrariada
ou impedida. “Não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” – A
vontade de Deus não pode ficar sujeita a nossa vontade. Não podemos impedir que a sua
vontade possa ser feita. Isto é assim porque Deus é independente na execução da sua
vontade. Ele faz todas as coisas como lhe apraz e nada fora dele mesmo pode interferir na
execução dos seus planos. Foi exatamente nisto que o rei, outrora orgulhoso, veio prestar
respeito á vontade independente de Deus. Como resultado de um amargo episódio,
debaixo da poderosa mão de Deus, o rei de Babilônia confessou a sua vontade
infinitamente diminuída diante da vontade independente de Deus.
Como Deus poderia cumprir todos os seus desígnios usando os meios da própria
criação para resistir á soberba dos homens? A resposta está no ponto seguinte.
Deus é independente no seu poder

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Deus é independente na execução da sua vontade porque ele é independente no seu


poder. A execução da sua vontade requer um poder e domínio absoluto. Por essa razão, o
salmista diz: “No céu está o nosso Deus; e tudo faz como lhe agrada” (Sl 115:3).
Ele não precisa de ninguém para pôr em prática o que decretou. Seu poder é
mostrado de maneira extraordinária nas Escrituras. Ele pode tudo enquanto que as suas
criaturas nada podem sem ele.
Deus não é poderoso da forma como os homens dizem ser. O seu poder é in-
comparável. Os homens só podem fazer coisas (se assim lhes for permitido por Deus) com
o material que possuem, mas Deus faz com que todas as coisas venham a existir quando
não haviam ainda (Rm 4:17). Ele reivindica esse direito inalienável para si, quando trata das
coisas visíveis e das invisíveis, das coisas da criação e da redenção: “Quem fez e executou
tudo isso? Aquele que desde o principio tem chamado as gerações à existência, eu, o
Senhor, o primeiro, e com os últimos eu mesmo” (Is 41:4).
Ninguém há como Deus em matéria de poder, porque o seu poder lhe é inerente,
enquanto que o das criaturas é derivado. O seu poder é infinito en-quanto que o das
criaturas é finito. Ambos os poderes são absolutamente incomparáveis! Quando exercem o
seu poder e energia, os homens se cansam, mas não o Senhor. Por isso ele disse: Is
40:28,29 – “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o criador dos fins da
terra, nem se cansa nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento. Faz
forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.” Esses versos
mostram o poder independente de Deus e o poder dependente dos homens. Que distância
enorme existe entre o Criador e a criatura!

2.6. Imutabilidade de Deus

Este atributo incomunicável é uma das excelências que O distingue de todas as suas
criaturas. O Salmo 102 é um exemplo vívido do homem que passa, em contraste com Deus
que permanece. O verso 12 diz: “Tu, porém, Senhor, permaneces para sempre, e a
memória do teu nome de geração em geração”. Deus é perpetuamente o mesmo: não
sujeito à mudança nenhuma em Seu ser, em seus atributos, em seus decretos e em suas
promessas. Daí, ser Deus comparado a uma Rocha (Dt 32:4). Ele é a Rocha que permanece
inamovível quando todo o oceano circundante está numa condição de continua oscilação;
conquanto que todas as criaturas são sujeitas à mudança. Deus é imutável visto que Deus
não tem princípio nem fim, não pode experimentar mudanças. Ele é eternamente o “... Pai
das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17). É esta
imutabilidade que faz com que Deus seja conhecido como aquele que é estável e,
portanto, digno de confiança. Por isso, Deus é absolutamente distinto das suas criaturas.

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É nesse contexto que podemos perceber a fraqueza, a dependência e a mutabilidade


dos homens em contraste com a força imutável e constante de Deus. Deus é a Rocha que
permanece para sempre, nunca muda e nunca se altera.
O homem é pura vaidade (Sl 62:9). Ele promete mais do que pode cumprir e nos
decepciona quando mais precisamos dele (Jo 2:25). Compare Sl 62:9 com os seguintes
textos Sl 73:26; Is 54:10; e Sl 125:1, observem o contraste entre a criatura e o criador.
Deus é perfeitamente completo em si mesmo. Conseqüentemente, Ele não é passível
de mudança. Seu ser é imutável porque Ele não tem progresso nem retrocesso algum.
Deus não pode ser aumentado nem diminuído em suas capacidades essências. De um
modo simples, mas claro, diz o salmista: “Eles perecerão, mas tu permaneces; todos eles
envelhecerão como um vestido, como roupa os mudará, e serão mudados. Tu, porém, és
sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim”.(Sl 102:26,27).
O Salmista está falando, nos versos anteriores (vv. 24,25), da criação de Deus. Na sua
criação, tudo muda e possui a tendência de se deteriorar. Não há nada que, por si só,
permaneça para sempre. Contudo, o Criador não é como a criação. O primeiro permanece
para sempre imutável, havendo sempre uma constância em Deus, enquanto que a última é
mudada pelo envelhecimento. Deus permanece o mesmo, sendo inalterado no seu ser.
Deus não evoluiu, nem cresceu, nem melhorou. Isto o distingue sobremaneira de todos os
seres criados!
Jamais houve tempo quando Deus não era; jamais haverá tempo quando Deus
deixará de ser. Tudo que Ele é hoje, sempre foi e sempre será. “Eu o Senhor não mudo”, é
a sua afirmação categórica (Ml 3:6). Ele não pode mudar para melhor, pois já é perfeito; e
sendo perfeito, não pode mudar para pior. Deus é completamente imune de tudo quanto
lhe é alheio, é impossível melhoramento ou deterioração.
Toda mudança passa por uma ordem cronológica. Tem de haver um ponto antes e
outro depois da mudança. Exemplo: não era – agora é; era- agora não é. Mas, jamais
houve tempo quando Deus não era e jamais haverá tempo quando deixará de ser. Ele é
eterno. Por isso não muda. Deus está fora do tempo. Tudo o que Ele é hoje, sempre foi e
sempre será (Hb 1:10; 13:8). Em Deus não pode haver uma série de “posteriores” e
“anteriores”;
Toda mudança requer uma nova informação. Quando alguém muda de idéia, é
porque recebeu uma nova informação da qual não tinha conhecimento anteriormente ou
porque as circunstâncias mudaram de forma a requerer uma atitude ou ação diferente.
Mas se Deus “mudou de idéia”, não pode ser porque ele ficou sabendo de qualquer nova
informação que desconhecia anteriormente. Ele é onisciente, Ele sabe todas as coisas (Sl
147:5). Portanto, qualquer aparente mudança em Deus tem de ser porque as
circunstâncias mudaram e demanda uma ação diferente. No entanto, essa atitude ou ação

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diferente já estava prevista no plano de Deus, como veremos adiante, quando tratarmos
das aparentes mudanças de Deus.
A imutabilidade do ser divino está conectada com a sua independência, eternidade e
infinidade. Um atributo conduz aos outros e está relacionado com eles. Deus não muda
porque Ele é invariável na sua natureza. É próprio das coisas finitas se alterarem, mas não
daquele que é infinito. O homem caiu porque é possível a seres finitos caírem do estado
em que foram criados, mas o mesmo não pode ser dito do Criador-Redentor. Por causa
dessa imutabilidade, Deus, a despeito dos pecados do seu povo, não os leva à condenação.
Ele é imutável no seu ser e naquilo que decide fazer. Ele é perpetuamente o mesmo.
Somente Ele pode dizer “... EU SOU O QUE SOU...” (Ex 3:14). Ele é absolutamente livre da
influência do curso do tempo. Essa é a imutabilidade de um Deus eterno e auto-suficiente.
Ele é sempre o mesmo, o que dá base para cremos na sua fidelidade às suas promessas e
aos seus decretos. Tudo vem dEle, “o Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou
sombra de mudança.” Ele não é devedor de ninguém; Ele possui tudo. Todas as coisas que
temos vem dEle, e para Ele tornam. (Rm 11:36; Cl 1:16 cf. Jó 41:11; Lv 25:23; Sl 89:11).
Porque Ele não depende das coisas criadas e porque a sua essência é eterna, Ele não
muda. As escrituras apresentam a Deus como quem existia eternamente, quando ainda
nada existia, e isso o faz imutável em seu ser e aquele de quem provém todas as coisas (Jo
3:27; 1Co 4:7). Tudo o que é criado não é eterno e, por isso, está sujeito a mudança. Mas
Deus é eterno, imutável, sem as dificuldades da temporalidade e da finitude.
Por causa deste atributo, Deus está livre de qualquer aumento, diminuição,
crescimento ou decadência. É impossível para Deus mudar para melhor ou para pior,
porque Ele é auto-suficiente em tudo. Suas prescrições e decretos não variam nunca. Por
essa razão podemos confiar nele inteiramente. Ele não muda.
Se Deus não fosse imutável Ele não seria Deus. Qualquer coisa que muda deixa de ser
o que é. Mas Deus não altera em nada o seu ser.
A razão nos ensina que nenhuma mudança pode ocorrer em Deus, porque isto
implicaria mudança para melhor ou para pior. Mas essas coisas são impossíveis em Deus,
porque Ele é perfeito em tudo o que faz e é. Deus não envelhece, não se cansa, não perde
a paciência pela idade. Deus tem o mesmo vigor, a mesma atenção, o mesmo equilíbrio, a
mesma lucidez, a mesma sabedoria, o mesmo governo. No Salmo 93:2 lemos “O teu trono
está firme desde então: tu és desde a eternidade”. Trono firme é sinônimo de governo
absoluto. Deus governa desde a eternidade. Dentro dessa grandeza de Deus nós somos um
ponto, um pingo d’água, mas sempre fomos objetos do seu governo; com a segunda
expressão tu és desde a eternidade, o salmista quer dizer que Deus é Deus desde a
eternidade. Não houve promoção, ascensão de postos, ganho de hierarquia. Não, Deus é
Deus desde a eternidade. Também no Salmo 90:2 diz: “Antes que os montes nascessem,

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ou que tu formasses a terra e o mundo sim de eternidade a eternidade, tu és Deus”. Aqui o


salmista enfatiza o Deus imutável desde antes da criação e a sua deidade imutável de
eternidade a eternidade, isto é, da eternidade que vem do passado (na nossa linguagem
humana) para a eternidade que vai para o futuro (também na nossa linguagem humana).
Como é consolador saber que temos um Deus que não muda! No nosso caso já é um
absurdo, uma fraqueza só. Como criaturas somos mutáveis e a nossa natureza admite
mudança. Crescemos e nos desenvolvemos como folhas nas árvores. Depois murchamos e
secamos e morremos - mas nada muda Deus. O escritor aos hebreus usa a expressão “vida
indissolúvel”, quando se refere a Cristo (Hb 7:16). A pessoa de Deus (O seu Ser) e a sua
vontade, produziram a sua Palavra, a verdade, e ela também é imutável. Imaginem os
irmãos se a Palavra de Deus mudasse? Como ficaríamos nós, em quem nos estribaríamos
quem nos seguraria para a vida eterna? Se Deus resolvesse não mais iluminar nossos
corações com a sua Palavra? Como ficaríamos? Mas, graças à imutabilidade do caráter de
Deus Ele não muda. Deus é perfeito. Nós mudamos de opinião, mudamos nossas verdades;
às vezes falamos uma coisa e no instante seguinte desfazemos tudo; falamos coisas com
tanta certeza para, no instante seguinte, retratar-nos. Nossa mente é como o pulso de um
homem doente, muda a cada meia hora. Nossas verdades são instáveis, sem sustentação.
Mas isso não acontece com as verdades de Deus. Elas subsistem eternamente como
produto do seu Ser e da sua vontade perfeita. Isaías escreve: “Toda carne é como a erva...
seca-se a erva... mas a Palavra do nosso Deus permanece eternamente’ (Is 40:6). E Davi
disse: “Para sempre ó Senhor, está firmada a tua Palavra no céu” (Sl 119:89). Ao abrirmos
nossas Bíblias precisamos sempre nos lembrar que Deus ainda cumpre todas as suas
promessas, ordens, declarações de propósitos, admoestações que fez aos crentes do Velho
Testamento e do Novo Testamento. Nenhuma das suas promessas são relíquias dos
tempos passados, antes são revelações eternas para os crentes de todas as épocas. “Não
rogo somente por estes, mas por aqueles que vierem a crer em mim por intermédio da Tua
Palavra” (Jo 17:20). E outra vez: “A Escritura não pode falhar” (Jo 10:35). Deus é imutável.
Há uns dois ou três anos um famoso pregador de massas classificou o reaparecimento das
doutrinas da graça como o ressurgimento de ‘doutrinas de museu’, e os pregadores que as
estavam proclamando foram tachados de ‘zeladores de museu’. Ele só esqueceu uma
coisa: Que Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e o será para todo sempre. Sua natureza
humana não mudou a natureza divina. Uma nuvem sobre o sol não muda o corpo solar.
Este atributo da imutabilidade distingue Deus de todas as suas criaturas. O homem é
mutável e tem dificuldade de compreender que Deus possa ser diferente dEle (Hb 1:10-
12).
A frase fundamental neste versículo é: “Tu, porém, és sempre o mesmo”. Aqui a
imutabilidade de Deus está patentemente afirmada. Ele fala da singu-laridade da
constância de Deus em contraste com as coisas da criação, que passam. É próprio das

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coisas finitas passarem, mas não do que é infinito e independente. A auto-existência de


Deus faz com que Ele seja imutável, constante, sem perecer nem mudar nunca.
Deus é imutável nos seus decretos
Os decretos são as resoluções que o Senhor toma (na eternidade) a fim de que sejam
cumpridas ou realizadas na história do mundo. Ele decreta todos os acontecimentos,
grandes ou pequenos, sejam diretamente relacionados com a história da redenção ou não.
Tudo o que acontece em nosso mundo e em nossa vida pessoal é produto da vontade
decretiva de Deus, que é imutável. Jó diz que se Ele resolveu alguma coisa ninguém pode
dissuadi-lo. Jó 23:13,14 diz: “Mas se ele resolveu alguma coisa, quem o pode dissuadir? O
que ele deseja, isso ele fará. Pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito, e
muitas coisas como estas ainda tem consigo.”
Ninguém dissuade Deus de fazer alguma coisa que Ele decide fazer. Nem todos os
homens do mundo podem fazer Deus mudar de opinião quando Ele resolve fazer algo,
mesmo que seja doloroso. O crente Jó tinha consciência plena de que o sofrimento pelo
qual passava era produto dos decretos imutáveis de Deus. Tinha convicção de que todas as
coisas que Deus havia ordenado a seu respeito haveriam de acontecer infalivelmente,
porque ele sabia que Deus é imutável nas suas decisões. Não há como mudar os planos de
Deus. Tudo quanto foi decidido na reunião solene da santíssima trindade, infalivelmente
aconteceu, acontece e acontecerá. “Nenhum dos seus planos pode ser frustrado” disse Jó
(Jó 42:2).
O mesmo crente Jó tinha uma confiança absoluta no poder de Deus. Por isso, disse:
“Bem sei que tudo podes”. Contudo, a sua crença no poder de Deus não o levou a pedir a
Deus para que mudasse os seus planos. Ao contrário, Jó possuía também a plena confiança
de que nenhuma coisa que Deus havia determinado fazer podia ser frustrada. Deus é
absolutamente imutável para ter seus planos atrapalhados por quem quer que seja.
Provérbios 19:21 deixa essa verdade bem clara. “Muitos propósitos há no coração do
homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá”. (Sl 46:10; Rm 11:29)
Os seres humanos podem fazer planos, e os fazem constantemente. Muitos deles
hoje, quando consultados sobre a realização dos seus planos, respondem: “Com certeza!”,
sem que leve em conta a impotência que lhes é peculiar (Pv 16:1; 19:21; Is 30:1; Jó 5:2).
Deus, contudo, faz com que seus planos prevaleçam sobre os planos dos homens, porque
somente seus planos são imutáveis. Todas as coisas que os homens planejam serão
executadas contanto que estejam de acordo com os planos do Altíssimo. Os Planos do
altíssimo, esses sim, serão realizados, conforme diz Is 14:24,27 “Jurou o Senhor dos
Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se
efetuará...Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois, o invalidará? A sua
mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” Este verso sugere, de forma

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TEOLOGIA PRÓPRIA

inequívoca, um decreto imutável de Deus. Tudo na história é feito em cumprimento dos


decretos divinos. Não há quem faça o Senhor voltar atrás em seus propósitos. Quando Ele
determina fazer alguma coisa, não há retorno. Os homens são impotentes para reverter
um decreto divino. Por essa razão, o profeta é contundente na sua apologia do decreto
imutável de Deus! “Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar
alguém das minhas mãos: agindo eu, quem impedirá?” (Is 43:13). Se Deus mudasse seu
decreto, seria por uma falha de sabedoria ou previsão, pois essa é a razão pela qual os
homens mudam seus propósitos. Os homens enxergam algo só depois que acontece,
porque não vêem previamente. Deus é perfeito, Ele vê todas as coisas num todo diante de
si.
O profeta Isaías é fantástico nas afirmações da imutabilidade dos decretos divinos.
Quando Deus resolve não salvar alguém, não há quem o possa salvar, mas quando Deus
resolve salvar, não há quem arranque essa pessoa do Seu grandioso amor. Isso é também
é verdade a respeito da condenação que Deus traz aos seres humanos. Quando Deus age
poderosamente, quem o pode impedir? (Jó 11:10). Essa é a pergunta inquietante para os
ímpios e, ao mesmo tempo, consoladora para os cristãos que estão debaixo da ação
divina! Como é bom saber que essa mesma idéia pode ser aplicada no plano da salvação:
quando Deus age salvadoramente em nós, quem nos separará do Seu amor que está em
Cristo Jesus? Quem impedirá Deus de agir redentoramente em nós? Nem mesmo satanás!
O Deus e Pai de Jesus Cristo é ímpar naquilo que faz. Não há ninguém como Ele que,
na sua imutabilidade, faz coisas antigas e que permanecem até hoje, conforme diz Is 46:8-
11. - v.8 - Lembrai-vos disto, e considerai; trazei-o à memória, ó prevaricadores. v.9 -
Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro
Deus, não há outro semelhante a mim. v.10 - Que anuncio o fim desde o princípio, e
desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será
firme, e farei toda a minha vontade. v.11 - Que chamo a ave de rapina desde o oriente, e
de uma terra remota o homem do meu conselho; porque assim o disse, e assim o farei vir;
eu o formei, e também o farei. Por que permanecem até hoje? Porque o seu “conselho
permanecerá firme” (v.10). Então, Ele completa dizendo que a sua vontade Ele fará.
Ninguém impede Deus de cumprir os Seus desígnios, nem mesmo as orações sinceras dos
seus servos fiéis (Jr 11:14; 15:1). Quando Deus “toma um propósito (decreto), Ele o
executa”. As determinações de Deus são infalíveis. Não há como escapar da vontade
inevitavelmente imutável de Deus.
“A glória de Israel não mente nem se arrepende” disse Samuel, “porquanto não é
homem para que se arrependa” (1Sm 15:29). O profeta gentio Balaão disse a mesma coisa:
“Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa,
porventura tendo Ele prometido não o fará? Ou tendo falado, não o cumprirá?” (Nm
23:19). Arrependimento quer dizer mudança de atitude significa rever um plano e

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TEOLOGIA PRÓPRIA

modificá-lo. Deus não age dessa maneira, pois tudo que fez foi baseado no Seu perfeito
conhecimento do passado, presente e futuro, não através de probabilidades muito fortes,
mas através do conhecimento perfeito de todas as coisas, conhecimento esse que lhe
permitiu decretar tudo. Deus não conhecia os fatos e os decretou, pelo contrário, Deus
decretou todos os fatos. Dessa forma não pode haver emergência, acaso, mudança de
planos por circunstâncias inesperadas, surpresas. Os homens mudam seus planos do
futuro porque a previsão que fazem é baseada em hipóteses, em probabilidades, e essas
podem falhar, levando junto os planos, as previsões dos homens. Mas Deus, que é
onisciente e onipotente, nunca precisa rever o seu decreto. O salmista declarou: “O
conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração por todas as gerações”
(Sl 33:11). Aquilo que Deus faz no tempo Ele planejou desde a eternidade, e tudo aquilo
que planejou na eternidade Ele executa no tempo, invariavelmente, imutavelmente. O
escritor aos hebreus se regozijava na imutabilidade dos propósitos de Deus, por isso que
tanto fez referência na sua carta. Em Hb 6:17 ele declarou; “Por isso Deus, quando quis
mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se
interpôs com o juramento”. O autor da carta aos Hebreus deixa claro que Deus fez
juramentos para mostrar “firmemente a imutabilidade do seu propósito”. Deus faz aquilo
que Ele proíbe nos homens (juramentos – Mt.5:34-37) porque Ele não falha naquilo que
diz, porque Ele é poderoso para cumprir a sua palavra. Tudo isso para mostrar que Ele não
muda no que diz e decide fazer. Deus jurou pra nós, os herdeiros da promessa. É
simplesmente inacreditável aos olhos comuns, só mesmo pela fé!
Diante do que foi exposto, pergunto: Que utilidade há em orar a um ser cuja vontade
já foi fixada? (Sl 139:4; Mt 6:8). Simplificando a resposta apre-sentamos três razões:
Primeira, porque Deus assim exige (Jr 33:3). As Escrituras nos exortam a orar,
ordenam que oremos e nos animam a orar, não para mudarmos o plano de Deus, não para
exercer um poder que nunca nos foi dado, não para alguém se convencer de que tem
muito prestígio diante de Deus, mas para que tenhamos maior e verdadeira comunhão
com Deus. Embora Deus saiba todas as coisas, inclusive nossas necessidades, Ele quer que
falemos com Ele. A oração não é um monólogo, em que apenas nos falamos; Deus nos fala
também, muitas vezes durante nossa própria oração. Nesse diálogo somos edificados. Se
alguém será mudado, esse alguém será eu e você, porque passamos a obedecer a Sua
ordem.
Segunda, Deus prometeu que receberíamos bênçãos materiais e espirituais quando
nós os buscássemos ( 1Jo 5:14,15). O plano completo de Deus foi arranjado de tal maneira,
em sua infinita sabedoria, que muitas das suas bênçãos são dadas exclusivamente em
resposta as nossas orações. Deus ordena os fins (decretos) e os meios para alcançar os fins.
Um desses meios é a oração do Seu povo.

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Terceira, mesmo que o sim ou não das bênçãos solicitadas não fossem afetadas pelas
nossas orações, ainda restariam motivos suficientes para oferecermos petições constante
a Deus. A oração não se resume em súplicas e intercessão. Temos gratidão (Ef 5:20),
confissão (Ed 10:11; Ne 1:6), adoração e louvor (Sl 34:1). Alguém já disse que “se a oração
não pode trazer Deus até a alma, ela leva a alma a Deus.” Acima de tudo a oração é um
reconhecimento da nossa dependência de Deus e é também algo que glorifica o Seu nome
(2Co 4:15). No passado Deus proporcionou bênçãos em resposta às orações dos homens e
a sua imutabilidade nos encoraja que Ele continuará a fazer outro tanto no presente e no
futuro. Portanto, a imutabilidade de Deus ao invés de servir de motivo para nos
restringirmos em nossas orações, ela a torna indispensável. Nossas débeis petições
produzem o devido efeito diante de Deus, quando em consonância com seu propósito
imutável (1Jo 5:14,15). Negar essa possibilidade equivale a negar a eficácia da intercessão
de Cristo em nosso favor.
Deus é imutável em seus atributos
Atributos de Deus são as qua-lidades inerentes ao seu Ser, por exemplo, misericórdia,
graça, justiça, ira, eternidade, etc. etc. Pois esses atributos também não mudam. Desde a
eter-nidade passada, quando nenhuma das criaturas havia ainda, Deus possuía todos os
atributos que possui no tempo de hoje e possuirá eternamente. As qualidades do seu Ser
são sempre as mesmas. Seu poder é imbatível, sua sabedoria não diminui nem aumenta
(até porque não tem para onde aumentar), sua santidade é sem mácula, sem mancha, sua
perfeição é de eternidade a eternidade. Antes de todas as coisas, e agora e para sempre,
Deus nunca cometeu um erro sequer, tudo nEle sempre foi absolutamente perfeito. A
veracidade de Deus é imutável, pois a Sua Palavra “permanece no céu” (Sl 119:89). Seu
amor também é eterno: “com amor eterno te amei” (Jr 31:3). Tam-bém a sua misericórdia
dura para sempre e a sua fidelidade é de geração em geração (Sl 100:5). Já quando
olhamos para nós, a diferença é gritante. A tensão, o choque, ou mesmo uma fraqueza de
saúde podem alterar o nosso caráter. No decurso da vida de cada um de nós os gostos, as
perspectivas, e o temperamento, podem sofrer mudanças radicais; uma pessoa gentil e
simpática pode se tornar amarga e excêntrica; uma pessoa de gênio controlado pode se
tornar agressiva e insensível. O homem tem sentimentos alteráveis. Hoje ele ama, amanhã
ele odeia. Os que gritaram: “Hosana, ao Filho de Davi!” Foram os mesmos que disseram:
“Crucifica-O!, crucifica-O!” O ser humano que hoje está de bom humor, amanhã está de
mau humor. O homem é variável nos seus pensamentos e nos seus sentimentos porque
não sabe julgar retamente; ele muda de opinião facilmente porque não possui todos os
elementos de uma só vez, porque é passível de sucessão de tempo, porque está sujeito às
categorias temporal e espacial. Mas não é assim com Deus, Por essa razão, podemos
confiar nEle, porque Ele é imutável, a Rocha Eterna que não muda (Dt 32:4) Ele permanece
sempre o mesmo. Há três mil e quinhentos anos Deus apareceu a Moisés e se revelou o

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que Ele era em relação aos homens, isto é, pronunciou o seu nome e o comparou ao nosso
tipo de existência mutável. Ele disse que o seu nome era: EU SOU O QUE SOU (Ex 3:14). No
verso seguinte (v.15) Ele colocou-se postado, fixo, e todos os patriarcas e todas as
gerações passando por Ele, ou seja, tudo estava mudando, menos Ele, “E Deus disse mais a
Moisés: assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor, Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o
Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é
meu memorial de geração em geração”; vejam as palavras usadas: Abraão – Isa-que – Jacó
- meu nome eternamente - de geração em geração. Passou Abraão, passou Isaque, passou
Jacó, passaram as gerações e o meu nome permanece eternamente. Deus é imutável.
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje, e eternamente. Mas não pára por aqui, tem mais:
Este nome EU SOU O QUE SOU não é uma descrição de Deus, mas é uma declaração de sua
própria existência, de sua eterna imutabilidade, uma lembrança e um aviso aos homens
daquilo que Ele é, de como Ele é. Em Ex 34 encontramos o complemento, os detalhes do
nome que Deus havia revelado a Moisés. Em Ex 34:1-7 lemos v.1 - ENTÃO disse o SENHOR
a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nas tábuas as
mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que tu quebraste. v.2 - E prepara-te
para amanhã, para que subas pela manhã ao monte Sinai, e ali põe-te diante de mim no
cume do monte. v.3 - E ninguém suba contigo, e também ninguém apareça em todo o
monte; nem ovelhas nem bois se apascentem defronte do monte. v.4 - Então Moisés
lavrou duas tábuas de pedra, como as primeiras; e levantando-se pela manhã de
madrugada, subiu ao monte Sinai, como o SENHOR lhe tinha ordenado; e levou as duas
tábuas de pedra nas suas mãos. v.5 - E o SENHOR desceu numa nuvem e se pôs ali junto a
ele; e ele proclamou o nome do SENHOR. v.6 - Passando, pois, o SENHOR perante ele, cla-
mou: O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em
beneficência e verdade; v.7 - Que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a
iniqüidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a
iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta
geração. ; olhemos com mais atenção os v.5-7. O Senhor desceu na nuvem até Moisés e
proclamou o seu nome (o nome de Deus, claro). No v.6, Deus passa diante de Moisés e
clama (Deus é quem clama) e detalha o seu nome: diz que é compassivo, clemente,
longânimo, grande em misericórdia e fidelidade, que guarda a misericórdia em mil
gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, não inocenta o culpado e
visita a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração. Esta declaração,
portanto, complementa aquela de Ex 3:14,15. Em outras palavras, Deus disse a Moisés: EU
SOU O QUE SOU (Em Ex 3), e aqui em Ex 34 Deus diz que é compassivo, paciente, fiel, etc.
etc. EU SOU O QUE SOU, Eu sou isso, não mudo, sou imutável, tragam sempre isso na
lembrança, não se esqueçam nunca!

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Deus é imutavelmente compassivo, isto é, cheio de compaixão; é imutavelmente


clemente, ou seja, cheio de clemência, cheio de disposição para perdoar; longânimo, isto
é, paciente; grande em misericórdia, isto é, a graça comum, aquele atributo de Deus que
impede que a nossa depravação total aflore a plena carga, chegue à superfície com força
total; grande em fidelidade – em fidelidade a Si mesmo, aliás, isso é muito mal
compreendido. Toda fidelidade de Deus é aplicada a Si mesmo. Deus só tratou com o
homem através de concertos: o das obras, no Éden, e o da graça, após a queda. No
primeiro Ele foi fiel a Si mesmo matando o homem, como rezava o pacto, se o homem
desobedecesse. No segundo, o pacto da graça, Deus é fiel a Si mesmo, através de Jesus, e
concede vida a todos quantos estão inscritos na eterna aliança da graça, cujo mediador é o
Senhor Jesus Cristo. Deus é fiel a Si mesmo, sempre fiel a Si mesmo, imutavelmente fiel;
Deus é imutavelmente perdoador, Ele é “rico em perdoar” (Is 55:7). Deus perdoa os
pecados do seu povo tão logo sejam confessados, pois, “se confessarmos os nossos
pecados Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”
(1Jo 1:9) – um detalhe: fiel e justo com Jesus Cristo, não conosco, pois, se pecássemos e
Deus fosse fiel e justo para conosco, Ele imediatamente nos fulminaria, entendamos isso!
Pois bem, o perdão dos pecados é garantido apenas para aqueles que se arrependem,
melhor explicando, apenas para aqueles a quem Deus concede o arrependimento para a
vida (At 11:18); Deus também, imutavelmente, não inocenta o culpado. O pecado precisa
ser vingado, sempre. Alguém precisa pagar o pecado cometido. O pecado é uma falta
contra a lei, um crime, e a justiça de Deus precisa ser satisfeita. Dessa forma, o pecado dos
que crêem é pago por Jesus Cristo, por isso esses pecadores se salvarão. Por outro lado, os
pecados dos que não crêem são pagos por eles mesmos, no inferno, para satisfazer a
justiça de Deus, que não poderá jamais inocentar o culpado; Deus, invariavelmente, visita
a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração. Visitar aqui significa
castigar, e isso deve servir de alerta para os homens ímpios que amam a iniqüidade, amam
as obras das trevas e não se chegam para a luz, pois o Senhor Deus é Deus zeloso, Deus
vingador que, imutavelmente, castiga os pecados cometidos. E esse, por sinal, é um
atributo sumido dos púlpitos desde décadas. Os pastores cessaram de pregar sobre a
vingança de Deus contra o pecador. Cessaram de pregar porque têm medo ou porque não
crêem mesmo, e isso causa prejuízos enormes ao povo, que ouvem apenas o falso
testemunho sobre a Palavra de Deus, ouvem-na subtraída, mercadejada, adulterada.
Esse, irmãos, é o caráter do nosso Deus santo. EU SOU O QUE SOU, e Eu sou tudo isso
de forma imutável, invariável. Lembrem-se sempre disso, diz-nos o nosso Deus.

2.7. Aparentes Mudanças de Deus

A despeito de não haver nenhuma mudança na sua natureza, nos seus atributos, nos
seus decretos e nas suas promessas, não podemos dizer que Deus é inamovível em tudo o

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que faz. Deus tem movimentos no Seu ser e no seu modo de agir, que não o torna um ser
estático. Deus muda de atitude quando as suas promessas, por exemplo, são
condicionadas à obediência dos seres humanos.
Portanto, se quisermos dar uma definição ainda melhor da imutabilidade de Deus,
teremos que dividi-la em duas partes, como fez Grudem: “Deus é imutável em seu ser,
suas perfeições, seus propósitos e suas promessas; todavia, Deus age, e ele o faz de modo
diferente em resposta a diferentes situações”. Essa segunda parte da definição diz respeito
às aparentes mudanças que as Escrituras atribuem a Deus e nos guarda contra a idéia da
imobilidade em Deus.
Analisemos agora algumas mudanças aparentes no ser de Deus, que devem ser
devidamente entendidas sem que tornemos Deus parecido com os seres criados, isto é,
mutável.
As Escrituras mostram as muitas vezes em que Deus muda de atitude para com o
homem. Essas mudanças estão relacionadas com as suas bênçãos ou maldições
condicionais.
O Salmo 78 é um exemplo típico dessas mudanças em Deus. Deus muda de atitude
no seu relacionamento com os seres humanos dependendo da atitude que eles têm para
com seus mandamentos. Então, Deus age de acordo com os padrões e exigências de sua
natureza moral. É o caso do rei Ezequias (Is. 38:1-8). Deus não alterou os seus planos
quanto à duração da vida do rei, mas simplesmente afirmou que ele morreria de uma
doença mortal, se não houvesse uma intervenção divina. Quando o rei se arrependeu dos
seus pecados e suplicou pela misericórdia divina, Deus ouviu a sua oração e lhe deu a
sobrevida (vv.2-5). Essa sobrevida de 15 anos já estava nos planos de Deus, que também
incluem o arrependimento dos seus filhos (Ezequias não se arrependeu por acaso – At
5:31; 11:18 – Ele só não fez morrer de uma doença mortal...). Portanto, seria tolice pensar
em Deus como alguém que altera os seus decretos por causa da atitude dos homens (cf. Jó
23:13,14; 42:2; Pv 19:21; Is 14:24, 27; 43:13).
O que Deus decretou inevitavelmente acontecerá. Se todos os crentes do mundo
tivessem de orar coletivamente, isso não alteraria aquilo que Deus, em Seu conselho
secreto, resolveu que faria (Jr 11:14; 15:1). Deus se move de acordo com os planos que
estabeleceu. Esses planos incluem as bênçãos condicionais. Quando o estado moral dos
homens muda, isto é, quando os homens se arrependem do mal praticado, Deus também
muda de atitude para com ele sendo-lhes misericordioso (Jn 1:2; 3:4,10). A sentença
muda, não o seu decreto. Torrey explicando Jn 3:10 diz que “Deus permaneceu o mesmo
quanto à Seu caráter, abominando infinitamente o pecado, e em Seu propósito de visitar
com julgamento o pecado; quando porém, Nínive mudou em sua atitude para com o
pecado, Deus, necessariamente, modificou Sua atitude para com Nínive. Seu caráter

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permanece o mesmo, mas Seus tratos com os homens mudam, à medida que os homens
mudam de uma posição que é odiosa à inalterável indignação de Deus contra o pecado,
para uma posição que é agradável a Seu inalterável amor pela justiça.” E Broche ilustra
essa maravilhosa verdade da seguinte maneira: “Um barco avança contra a correnteza; a
correnteza lhe oferece resistência. Assim é a nação que transgride a lei de Deus: fica
sujeita ao julgamento. Os remadores mudam de direção e fazem o barco seguir a
correnteza; esta ajuda o barco em seu avanço. Assim também sucede à nação que se
arrepende e se põe em harmonia com a lei de Deus; fica ao alcance da Sua bênção. A
correnteza porém, permanece a mesma; ela não mudou; somente o barco alterou seu
rumo em relação à correnteza. Deus também não muda – nós é que mudamos; e a mesma
lei que foi posta em execução para castigar, agora se expressa por meio da bênção.” Essa
mudança de atitude em Deus de forma alguma indica que Ele mudou qualquer coisa em
sua natureza ou em seus atributos ou em suas promessas. Deus na verdade não muda,
mas apenas aparenta mudar quando nós mudamos, assim como o vento parece mudar
quando nos viramos e vamos em outra direção. Deus não pode mudar o seu caráter nem
as suas promessas incondicionais. Ele não pode negar a sua própria natureza (2Tm 2:13). É
porque Deus é imutável em si mesmo que ele aparenta estar mudando em relação aos
seres humanos. Esses sim, (seres humanos) sofrem variações em seu caráter e em sua
conduta.
A imutabilidade de Deus exige que seus sentimentos e suas ações para com
diferentes seres humanos sejam diferentes. O sentimento que o Senhor tem para com
uma pessoa que acabou de cair em pecado não pode ser o mesmo que sente em relação a
essa mesma pessoa quando ela confessa o seu erro e invoca a sua misericórdia. Neste caso
não é o Senhor quem muda, mas é a pessoa que muda em relação a Ele. Clarence disse
que “o mesmo sol que endurece a argila, amolece a cera.”
Deus muda de ira para misericórdia, de maldição para bênção, de rejeição para
aceitação. Essa atitude relacional de Deus não provoca nele nenhuma melhora ou piora.
Ele apenas age de acordo com a sua natureza. Uma hora ele age de acordo com o seu
amor, outra hora de acordo com a sua justiça, sua soberania, etc. Foi assim que aconteceu
com o rei Ezequias e com todos nós que estamos debaixo das suas bênçãos condicionais.
Em muitos lugares as Escrituras afirmam que “Deus se arrependeu”, como em Gn
6:5,6; Jr 18:8, 10; 26:13; Ex 32:9, 10,14; Jn 3:9,10; 4:2; Am 7:1-3 - cf. Jl 2:13. Alguns
desses textos dizem respeito a uma mudança da atitude de Deus estudada acima, mas há
outro que parecem indicar uma mudança mais séria em Deus, que merecem uma análise
mais detalhada.
Esse fenômeno de Deus se “arrependendo” é explicado em teologia como sendo um
antropopatismo, isto é, a atribuição de um “sentimento humano” a Deus.

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Todavia, há certos “sentimentos” de Deus que são próprios somente dEle, e não das
criaturas. Os escritores sacros tentaram expressar um sentimento que é próprio de Deus
usando palavras humanas, mesmo que inspiradas, permanecem humanas, e não
suficientes para explicar o que a divindade sentiu quando se diz que Ele se “arrependeu”.
Uma outra verdade a respeito desta matéria, que está muito clara em vários textos
das Escrituras, é que o arrependimento atribuído a Deus não tem o mesmo sentido que o
arrependimento atribuído aos homens. Os versos a serem estudados a seguir atestam essa
verdade.
De um lado, Deus não tem o “arrependimento” que o homem tem. Deus não é
homem para se arrepender. É óbvio que o “arrependimento”, que conota erro, falta de
planejamento, impotência, etc., não pode ser atribuído a Deus. Essas coisas são próprias
de seres criados, além de serem pecadores. O escritor bíblico contrasta o homem finito e
pecador com o Deus eterno e imutável “Deus não é homem, para que minta; nem filho do
homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o
confirmaria?” (Nm 23:19). Isto quer dizer que Deus não possui as coisas próprias de um
ser humano. Deus não planeja mal, Deus não erra nos seus objetivos, não pode crescer
nem diminuir no seu conhecimento de tudo o que há. No mínimo, o arrependimento de
Deus não é igual ao dos seres humanos na sua essência. NEle está a verdade imutável (Sl
119:89) e Ele não age como agem os homens, arrependendo-se, isto é, mudando os seus
planos ou as suas promessas, por causa da sua impotência ou do seu plano mal feito, ou
ainda voltando atrás dos seus pecados. “Jurou o SENHOR, e não se arrependerá: tu és um
sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.” (Sl 110:4).
De outro lado, o arrependimento que Deus tem, o homem não possui. O
arrependimento de Deus é singular nEle. É impossível para o homem possuir o que é
próprio de Deus. No entanto, a expressão hebraica usada é a mesma. Uma das evidências
mais forte de que o arrependimento de Deus não é igual ao dos seres humanos está
demonstrada em 1Sm 15:11, que deve ser comparado com 1Sm 15:29. Num mesmo
capítulo se diz que Deus se arrepende e que Ele não se arrepende. Como podemos
entender isso? No verso 11, o escritor está se referindo ao arrependimento dos homens.
Observe que no verso 29, ele se refere ao arrependimento de Deus, Observe que a palavra
hebraica é a mesma nos dois casos, mas o sentido não é o mesmo. Eu posso saber com
clareza qual é o tipo de arrependimento que os seres humanos possuem, mas não tenho
condições de saber qual é o conteúdo do arrependimento em Deus. Certamente, os dois
não são da mesma natureza.

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2.8. A Infinidade de Deus

Todos os atributos incomunicáveis de Deus estão intimamente relacionados; eles não


são estanques entre si. Deus é independente e, por isso, é imutável. É imutável porque não
é alterado por nada que vem de fora, justamente porque é independente. Estas duas
qualidades são possíveis em vir-tude de Ele ser um Deus que possui infinidade. Quando
falamos na infinidade de Deus, estamos nos referindo à impossibilidade de se medir ou
quantificar as características do Ser divino. Há vários atributos que o homem possui e que
são reflexos de alguns atributos que Deus tem. Esses atributos são chamados
“comunicáveis”. Eles são finitos e mensuráveis em todos os seres humanos. Todos nós
podemos medir o conhecimento, a bondade, e o poder de um ser humano, mas não
podemos medir essas perfeições em Deus, porque Deus as tem de um modo infinito,
impossível de ser averiguado em toda a sua profundeza. Contudo, a infinidade é um
atributo incomunicável, que nenhuma criatura pode possuir.
Há um certo sentido em que a infinidade de Deus diz respeito a tudo o que Ele é. A
sua infinidade é um atributo de todos os seus outros atributos. Nesse sentido, a infinidade
qualifica todos os outros atributos. Por essa razão, podemos dizer que a sua misericórdia é
infinita, que seu poder é infinito, etc. Berkhof diz que “a infinidade de Deus é aquela
perfeição por meio da qual Ele fica livre de todas as limitações... A infinidade não confunde
a identidade de Deus com a soma total das coisas existentes, mas exclui a coexistência das
coisas derivadas e finitas com as quais Deus mantém relação. A infinidade de Deus deve
conceber-se como intensiva, mas não como uma extensão ilimitada, como se Deus se
expandisse por todo o universo, uma parte do seu ser tocando-nos aqui e outra mais
adiante, porque Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão”.
A infinidade de Deus pode ser vista de duas maneiras: quando vista com relação ao
tempo a chamamos de Eternidade, e quando a vemos com relação ao espaço a chamamos
de Imensidão ou Onipresença.

2.9. A Eternidade de Deus

A eternidade de Deus já era crida desde o começo dos nossos pais na fé (Gn 21:33),
em contraposição à transitoriedade dos deuses pa-gãos. Essa crença na eternidade
atravessou a história através das Escrituras, tornando-se cada vez mais firme nos escritos
apostólicos (Rm 16:26).
A palavra eterno é usada em três sentidos diferentes:
1. Sentido figurado – Como nas expressões “montes eternos” (Sl 49:26; 76:4),
outeiros eternos” (Dt 33:15; Hc 3:6), os quais denotam antiguidade ou duração
muito prolongada.

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2. Sentido Limitado – Denotando a existência de algo que teve princípio mas que
não terá fim, como a alma dos anjos e dos homens e o castigo do ímpio. (Mt
25:46).
3. Sentido Literal – Denotando uma existência que não tem começo, nem fim, como
a de Deus. O tempo tem passado, presente e futuro; mas não é assim com Deus.
Este é um dos atributos mais difíceis de serem entendidos porque os seres humanos
estão presos a duas categorias das quais não podem jamais fugir: tempo e espaço. Em
tudo o que fazemos, falamos ou imaginamos, estas duas categorias obrigatoriamente
aparecem. Nunca podemos escapar da idéia de presente, passado e futuro. A vida sempre
será medida por unidades seqüenciais de tempo. A grande dificuldade em entender este
atributo está aí, estamos sempre relacionando todas as coisas com o tempo e o espaço.
Todavia, quando falamos de Deus, não podemos enquadrá-lo nas mesmas medidas que as
nossas. Ele não está sujeito às categorias espaciais e temporais. Deus é sem limite quanto a
espaço, tempo, conhecimento e poder (Deus jamais aprende coisas novas nem nada
esquece. Seu conhecimento é perfeito).
O escritor do Salmo 90 trata desse assunto de forma muito simples, que qualquer
pessoa sem formação acadêmica pode entender. É o sentido popular de eternidade. Sl
90:1 – “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração”. Como o salmista
pode afirmar tão categoricamente que o Senhor é o refúgio dos crentes por gerações sem
conta? Por causa da sua relação com o tempo. Deus não é afetado pela noção temporal,
como nós o somos. A expressão “de geração em geração” mostra o refúgio perene e
duradouro que Deus é para o seu povo, ao mesmo tempo que indica a transitoriedade dos
seres humanos em contraposição à duração infinita de Deus descrita no verso seguinte. A
razão dessa segurança perene do crente está baseada na eternidade de Deus: Sl 90:2 –
“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a
eternidade tu és Deus”. Aqui o autor bíblico retrata Deus em contraste com a finitude
temporal do homem. A expressão “de eternidade a eternidade” indica que Deus existe
desde sempre e para todo o sempre. Ele não tem princípio nem fim de dias. É por essa
razão que os crentes podem confiar nEle, porque Ele nunca deixa de ser o que sempre foi e
é.
É bom nos lembrarmos de que a noção de eternidade apresentada pelas escrituras é
a mais inteligível possível, em razão da nossa relação inescapável com a noção temporal.
As gerações vêm e se vão, mas Deus permanece o mesmo. Todavia, os seres humanos
perecem a cada vez que Deus ordena: Sl 90:3-4 – “Tu reduzes o homem ao pó, e dizes:
Tornai, filhos dos homens. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se
foi, e como a vigília da noite”. (ver os vv.5-6).

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Os seres humanos são profundamente afetados pelos anos, mas não é assim com
Deus. Nesses versos três e quatro está afirmado o absoluto contraste entre a criatura e o
Criador com relação ao tempo. As criaturas, embora não cessem de existir, sofrem o
desgaste do tempo e, pela ordenação divina, morrem. Mas Deus não é afetado pelos anos,
porque para Ele, mil anos é a mesma coisa que o dia de ontem que se passou ou como a
vigília da noite. Um milênio é uma quantia enorme de tempo para nós. Nesse espaço
importante para a raça humana impérios nascem e desaparecem, e muitos eventos ficam
no esquecimento. Todavia, esses anos todos não fazem diferença para Deus. Ele existe
desde sempre e para sempre. Mil anos equivalem a muitas gerações de seres humanos,
mas isso não tem importância alguma para a existência de Deus. O Deus eterno, para
quem não existe passado, presente ou futuro, é o Deus que criou o tempo e que, portanto,
existe antes da existência do tempo e existirá mesmo que a noção temporal venha a
desaparecer. É por essa razão que para Ele mil anos não representam nada de significativo!
O atributo da eternidade, quando relacionado ao tempo, não significa que Deus vive
por muito tempo e sempre viverá, mas que Ele é o mesmo sempre. Os escritores da Bíblia
sempre procuram uma maneira bem humana para descrever algo que é parte essencial e
singular de Deus, como a eternidade. Não é sem razão que as Escrituras exaltam esse único
Deus que é independente, imutável e eterno!
É costume entre nós se dizer que se as eras do mundo fossem comparadas com Deus,
elas não passariam de um segundo da idade de Deus. “Os minutos da criação podem ser
medidos, mas os anos da duração de Deus, sendo infinito, são imensuráveis” (ver Jó
36:26).
Deus dura para sempre, sendo sem começo e sem fim. Eternidade é isso. Uma
duração infinita, ou seja, duração sem começo e sem fim. Um sempiterno presente. Um
dos internatos de um instituto de surdos-mudos de Paris, sendo solicitado a expressar sua
idéia da eternidade da divindade, escreveu: “é duração, sem princípio nem fim; existência,
sem limites ou dimensões; presente sem passado ou futuro. Sua eternidade é juventude
sem infância ou velhice; vida sem nascimento ou morte; é hoje, sem ontem ou amanhã.”
Em Deus não há declínio com o passar dos tempos. Ele não envelhece (Hb 1:12). Ele é
antes de todas as coisas e o único que essencialmente dura para sempre. Ele sempre foi e
sempre será o que Ele é. Ele existe desde sempre e dura para sempre. O curioso é que os
deuses dos pagãos não possuem esta característica, porque foram criados pela imaginação
humana. E eternidade é algo que não faz parte da mente humana, porque pertence
somente ao Deus eterno.
O existir das criaturas é sucessivo, mas o de Deus é permanente, e Ele mantém
imutável cada uma de suas perfeições, com duração infinita. Um homem não é à noite o
mesmo que ele foi pela manhã: algo acaba e alguma coisa nova é acrescentada; cada dia é

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uma mudança na sua vida, uma mudança em sua substância, uma mudança em seus
acidentes. Mas Deus tem seu ser inteiro imutável, sem qualquer sombra ou variação de
mudança. Deus é sempre o mesmo. Nada é acrescido a Ele em relação ao que era antes. É
por isso que a doutrina da eternidade está intimamente ligada à da imutabilidade e
independência.
Deus é a própria eternidade. Ele não é eterno por concessão, mas por natureza ou
essência. A eternidade de Deus não é nada mais do que a duração de Deus, e a duração de
Deus não é nada mais que sua existência sem fim. Se eternidade fosse qualquer coisa
distinta de Deus, e não a essência de Deus, então haveria algo que não é Deus necessário
para aperfeiçoar a Deus. Como a imortalidade é a grande perfeição das criaturas racionais,
assim a eternidade é a perfeição de Deus que dá lastro a todas as outras.
Essa é a maneira mais fácil de entender a eternidade porque está atada a um número
sem fim de dias e anos, atada a uma categoria conhecida nossa, que é o tempo. Nesse
sentido, portanto, eternidade não tem começo nem fim.; Mas o tempo tem ambos. O
tempo também é criação de Deus.
Deus não teve princípio nem terá fim. Ele conhece os acontecimentos na sua
sucessão dentro do tempo, mas não está limitado de nenhum modo pelo tempo. Ele
reconhece que alguns acontecimentos são passados e que outros são futuros em relação
aos acontecimentos presentes. Contudo, o passado, o presente e o futuro são igualmente
conhecidos para ele. Para nós, os acontecimentos ocorrem um a um. Mas Deus vê todos os
acontecimentos como um todo ligado, como se fosse um único acontecimento. Somente
Deus nesse sentido é eterno. Isso pode ilustrado numa pessoa que está numa torre
olhando um desfile. Ela vê todas as partes do desfile em diferentes pontos da rota, não
apenas o que está passando naquele momento. Ela tem consciência do que está
acontecendo, do que aconteceu e do que irá acontecer em cada ponto do tempo, como se
fosse um único acontecimento.

2.10. Imensidão de Deus

Quando falamos nesse aspecto da infinidade de Deus, aparecem duas palavras:


imensidão e onipresença. Em um certo sentido são termos sinônimos, porém cada um
deles possui uma conotação diferente em relação às perfeições divinas.
A Imensidão “assinala o fato de que Deus transcende (ultrapassa) a todo o espaço
sem ficar sujeito às limitações do mesmo”. A. A. Hodge diz que a “i-mensidão de Deus é a
frase usada para expressar que Deus é infinito em sua relação ao espaço”. Ao passo que a
Onipresença “denota que Deus enche cada parte do espaço com seu Ser completo”.
Berkhof ainda observa que, Enquanto a imensidão dá ênfase à transcendência de Deus a

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onipresença dá ênfase à sua imanência . Deus está imanente em todas as suas criaturas,
em sua criação total, mas de maneira alguma encerrado por ela.
Quando dizemos que Deus é imenso com relação ao espaço, significa que Ele
transcende o espaço criado. Deus está além do espaço e não se confunde com ele. Ele
enche o céu e a terra, mas estes não podem contê-lo, porque Ele está além deles e acima
deles. A essência de Deus não se confunde com a da sua criação. Está presente nela por
inteiro, sem se misturar com ela. Como a luz do sol está presente no ar, mas não se
mistura com ele, assim Deus está presente e enche todas as coisas, mas é totalmente
independente delas.
Deus está envolvido com suas obras feitas no tempo e no espaço, mas está acima de
toda limitação espacial, embora a esfera espacial pareça infinita para nós. Assim como Ele
existe antes e acima do tempo, Ele também está acima e além de todo espaço. Se Ele
estivesse confinado somente ao espaço criado, Ele não seria maior que a sua criação. O
universo não pode contê-lo porque é feito por Ele. A criatura é sempre inferior ao Criador.
1Reis 8:27 – “Mas, de fato habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus,
não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei.” (cf. 2Cr 2:6)
Neste texto Salomão se admira de construir um templo para abrigar a Deus, quando
esse Deus não pode ser contido pelo próprio universo espacial que Ele criou. Esta é a
imensidão de Deus!
Ao mesmo tempo, Salomão pasma-se de que um Deus tão grande possa habitar num
espaço tão pequeno de um universo feito com as suas próprias mãos, enchendo-o com
toda a plenitude do seu ser. Ele pasma-se ainda mais de que esse Deus possa habitar num
espaço menor ainda que é um templo de alguns poucos metros feito pelas mãos de
homens, mas enchendo-o também com a plenitude do seu ser! Está é a onipresença de
Deus!
Este texto é a afirmação simultânea da transcendência e da imanência divinas! Um
Deus tão grande, tão sublime, pede aos homens para fazerem uma casa onde possa
habitar entre eles! No Novo Testamento, a mesma idéia se manifesta quando Ele habita no
santuário das nossas vidas, e em cada um de nós individualmente, mas sem estar
circunscrito ao espaço em que habita. Isaías 66:1-2 – “Assim diz o Senhor: O céu é o meu
trono, a terra o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? e qual é o lugar do
meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas cousas, e todas vieram a existir...”
Neste texto o escritor sacro mostra a imensidão de Deus. Deus é mostrado como alguém
que possui formas humanas, para que fique acessível ao nosso entendimento. É dito que
Ele tem a sua cabeça nos céus e os pés na terra, para mostrar quão imenso Ele é, e que o
espaço físico do universo não o pode conter. É pequeno demais para Ele. Se o universo
fosse milhões de vezes maior do que é, ainda assim seria pequeno para Deus, porque este

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está além e acima dos céus. Tudo veio das mãos dEle, por isso Ele é maior do que a sua
própria criação. Atos 7:48-50 – “Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por
mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus
pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi,
porventura, a minha mão que fez todas estas cousas?”
O Novo Testamento também tem o mesmo conceito da imensidão de Deus ao
interpretar o texto do Antigo Testamento.
Deus sempre está acima da sua criação e é independente da mesma. Os espaços do
universo não podem conter a Deus, porque Deus já existia quando não havia espaço ainda.
Uma essência infinita não pode estar circunscrita a um espaço finito.
Este atributo divino é incomunicável à criatura. A noção de imensidão escapa ao
entendimento dos homens. Estamos limitados ao fator espaço e é difícil pensarmos além
dessa categoria. Não podemos ter uma real noção da imensidão divina, porque somos
seres criados, limitados e Deus é infinito!
Este atributo nos deve dissuadir de pensar que haja algum local especial de adoração
que dê as pessoas acesso privilegiado a Deus. Ele não pode ser contido em lugar nenhum.

2.11. A Onipresença de Deus

O termo onipresença sempre será usado aqui para descrever a característica da


infinidade de Deus que faz com que Ele tenha a sua presença plena em cada parte do
espaço. Salmo 139:7-10 – “Para onde me ausentarei do teu espírito? para onde fugirei da
tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá
estás também; se tomo as asas da alvorada, e me detenho nos confins dos mares: ainda lá
me haverá de guiar a tua mão e a tua destra me susterá.” O salmista está dizendo aqui que
Deus pode ser encontrado em toda parte sem que esteja parcialmente em cada parte. Ao
contrário, essa sua capacidade de onipresença significa que Deus enche cada parte do
espaço com a plenitude da sua presença. Não há como fugir da sua presença total. Ele é
encontrado em toda parte sem que haja qualquer fracionamento do seu ser. Em cada
parte do seu inteiro universo Deus é encontrado em plenitude. É importante recordar que
Ele não é o universo, mas está totalmente em cada parte do mesmo. Também precisamos
saber que Ele não está espalhado pelo universo, como se cada parte dEle estivesse num
lugar. Ele pode ser encontrado tanto nas partes mais profundas como nas mais altas.
Ninguém escapa da sua infinita presença. É esse o sentido que o salmista deu a esses
versos. Jr 23:23-24 – “Acaso sou Deus apenas de perto, diz o Senhor, e não também de
longe? Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor;
porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor.” Estes versos também mostram
como o ser humano não pode escapar à presença de Deus. Ninguém pode ocultar-se dEle

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devido à sua onipresença. Ele é o Deus sempre presente, um Deus que está perto, porque
nunca ninguém pode au-sentar-se dEle. Nenhuma criatura pode fugir dos olhos daquEle
que vê todas as coisas. Isso é impossível justamente porque Ele “enche os céus e a terra”
com sua presença. At 17:27-28 “...para buscarem a Deus se, porventura, tateando o
possam achar, bem que não está longe de cada um de nós. Pois nEle vivemos, e nos
movemos, e existimos...” Deus não está longe de ninguém quando consideramos a sua
natureza presencial. Deus está essencialmente presente em toda a parte, no céu e na
terra. Não há lugar onde Ele não esteja. Ele não está ausente de lugar algum. Ele penetra
até mesmo os lugares mais ocultos. A criatura não pode fugir da sua presença “porque
nEle vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:28). Deus está presente em cada parte do
universo com o seu ser completo. Este é o sentido de onipresença (Mt 28:19,20; At 1:8).
Há algumas coisas que precisam ser ditas a respeito da presença das coisas num
determinado lugar. Não existe apenas um único modo de se estar presente. A presença de
um objeto ou de um ser num lugar depende da sua natureza:
Os corpos estão presentes no espaço circunscritivamente. - Isto quer dizer que eles
estão limitados pelo espaço. Esta maneira de estar presente é própria das coisas
quantitativas, dotadas de extensão física. Um corpo enche um espaço particular onde ele
está; o seu espaço é a medida do seu tamanho e outro corpo não pode ocupar esse
mesmo espaço simultaneamente.
Os espíritos finitos estão presentes definidamente. - Os anjos ou demônios es-tão
operando em algum lugar definido, mas não estão em toda parte, somente em algum
lugar. A sua maneira de estar é diferente da maneira como os corpos ocupam espaço.
Muitos espíritos podem estar no mesmo espaço, mas eles não ocupam espaço do mesmo
modo que os corpos. Não se pode negar, contudo, que eles estão presentes em algum
lugar.
 Deus está presente repletivamente - Isto quer dizer que Ele enche todo espaço.
As limitações do espaço não são um referencial para Ele. Ele não está mais
presente em um lugar do que em outro. A extensão é propriedade da matéria,
não de Deus. Quando dizemos que Deus está totus em todo lugar, queremos
dizer que Ele não está em todo lugar por partes, como os corpos estão. Ele
enche todo o espaço com a plenitude do seu ser. Sobre isto, diz A. A.Hodge:
“Este enchimento do espaço não se deve à multiplicação infinita do Seu Espírito,
visto que Ele é eternamente um e individual; também não é resultado da difusão
infinita de Sua essência através do espaço infinito, como o ar é difuso sobre a
superfície da terra, visto que Deus, sendo um Espírito, não é composto de
partes, nem é capaz de extensão, mas a Divindade inteira em uma indivisível

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essência está igualmente presente em cada momento de eterna duração à


totalidade do espaço infinito, e em cada parte dEle.”
 Deus está presente em todas as coisas, mas em cada uma delas de maneira
diferente, dependendo da capacidade do objeto em que Ele está presente:
 Deus está presente na natureza de um modo diferente de sua presença nos
homens. O cuidado que Deus tem com a natureza é diferente do cuidado que
tem com os seres humanos, porque a natureza de ambos é diferente (Mt 6:25).
 Deus está presente no crente de um modo diferente do que está presente nos
outros seres humanos. O modo da sua habitação é diferente. Ele está presente
em todos os homens por causa de sua onipresença, mas está presente no
coração dos crentes por causa do seu especial cuidado e proteção dos mesmos.
Eles são o templo de Deus, onde Deus habita de maneira especial (Jo 14:23). Ele
está presente com todos em virtude de sua essência divina, mas somente com o
seu povo de maneira espiritualmente eficaz.
 Deus está presente no céu (Mt 6:9) de maneira diferente de sua presença no
templo de Israel ou no tabernáculo (Sl 76:2; Hc 2:20). O tabernáculo era apenas
uma amostra muito pequena da sua gloriosa presença no céu. A diferença está
na intensidade de influência e de impacto por causa da nossa própria natureza
pecaminosa. Lá no céu perceberemos quão diferente é a sua glória comparada
com a sua presença localizada no templo.
Presença sem Benevolência
Na vida dos ímpios a sua presença é sem qualquer benevolência. De um lado, Deus
está presente na vida dos ímpios refreando os seus pecados, enquanto eles vivem nesta
presente condição. Deus está presente neles a fim de que eles não pequem em quantidade
de que são potencialmente capazes. Deus refreia a sua pecaminosidade estando presente
neles.
Por outro lado, a sua presença com eles nesta vida pode ser de julgamento parcial,
quando mesmo estando com eles, Ele os entrega às suas paixões, mostrando o seu
descontentamento com eles. O fato de Deus entregá-los às suas paixões não significa que
a sua presença tenha se retirado deles. A sua bondade refreadora é que é retirada, não a
sua presença. Todavia, por sua onipresença, Deus está presente na vida deles. Estes são os
modos diferentes de Deus estar presente na vida dos ímpios.
Ainda na vida dos ímpios, a sua presença é também de juízo quando esta vida
termina. Essa presença acontece de modo negativo quando Ele não manifesta nenhuma
bondade para com os que estão no inferno. De modo positivo, a sua presença causa-lhes
dor. Isto acontece quando da manifestação da sua justiça no inferno ou no lago de fogo.

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Deus estará presente no lugar de punição, sem qualquer manifestação de bondade em


bênçãos confortadoras. Será uma presença que impinge terror, causando tormentos na
existência dos condenados. É a sua presença de ira e de retribuição.
Presença com benevolência - Esta é a sua presença benévola que pode existir tanto
na vida dos não-redimidos como na vida dos redimidos, no que diz respeito à sua
providência.
Providencialmente, Deus está presente com todas as suas criaturas porque Ele as
produziu e as preserva, e elas não podem escapar desse cuidado. Deus pode ter uma
presença providencial especial com algumas pessoas para que estas sejam instrumentos
na execução do seu plano. Charnock diz que essa presença influente de Deus pode ser
comparada à do sol, que, embora a tão grande distância da terra, está presente no ar e na
terra por sua luz, e dentro da terra por sua influência em forjar aqueles metais que estão
nas profundezas, sem pertencer substancialmente a nenhum dele. Todos estão expostos à
luz do sol e são aquecidos por ele. Assim, Deus envolve todos os seres com a sua presença
providencial e governadora. A diferença é que sentimos somente os efeitos do sol sobre
nós, mas ele continua muito distante. Deus, contrariamente, está longe, mas ao mesmo
tempo está junto de nós e em nós. Não somente os seus efeitos são sentidos aqui, mas a
sua presença está aqui.
Como a fragrância de um perfume penetra os lugares mais escondidos da nossa vista,
assim Deus penetra todos os lugares, porém com toda a plenitude do seu ser. Nada escapa
da presença providencial de Deus. A grande diferença é que o perfume perde o seu cheiro
de acordo com o tamanho do ambiente onde está, mas a presença providencial de Deus
abarca todo universo e dura para sempre.
A presença essencial de Deus com as suas criaturas é a base da subsistência das
mesmas. Sem essa presença, tudo pereceria. Ele criou e dá subsistência a tudo. A sua
providência atinge todas as criaturas, sejam elas remidas ou não-remidas, racionais ou
irracionais.
Todavia, há alguns modos em que Ele está presente unicamente com aqueles em que
colocou o seu coração, amando-os. Deus está presente neles:
Salvadoramente: Deus está presente somente com os do seu povo e somente eles
são objeto de sua presença especial. Todos os ímpios que estão para ser salvos o buscam
porque Ele está perto. Por sua graça especial, Ele está presente com os eleitos,
regenerando-os – dando-lhes vida.
Santificadoramente: quando Ele exercita a sua tarefa de limpeza na vida do seu povo.
Na verdade, a santificação é a salvação em processo. Deus está presente de modo

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maravilhoso, trazendo a restauração do seu povo até que tudo se complete e prepare para
a entrada na glória.
Gloriosamente: quando todo o seu povo estiver completamente redimido. Aí a sua
presença será percebida de modo ímpar, como em nenhuma outra época, pois agora o seu
povo estará preparado para poder vê-lo como Ele realmente é. O seu povo estará
adaptado para uma comunhão absolutamente plena pela simples razão de que esse povo
estará preparado para essa presença, coisa que não acontece no presente momento!
Em todos os lugares, contudo, Deus está presente repletivamente. Ele está
inteiramente presente com a infinidade do seu ser em toda a sua criação.
Relação da Infinidade com os Outros Atributos - A infinidade de Deus manifestada na
sua eternidade e na sua imensidão ou onipresença está relacionada intimamente com
todas as outras perfeições divinas, porque todas elas são a essência de Deus: sua
infinidade está relacionada com a sua sabedoria (Jó 11:7-9); com o seu poder (Jó 5:9; Sl
147:5); com a sua eternidade (Jó 36:26).
Como a eternidade é a perfeição por meio da qual Deus não tem começo nem fim,
como a imutabilidade é a perfeição pela qual Ele não tem aumento nem diminuição, assim
a imensidão ou onipresença é a perfeição pela qual Ele não tem fronteira nem limitação.
Como Ele está presente em todo tempo, também está acima e além do tempo; assim
como Ele está em todos os lugares, todavia, está acima e além da limitação espacial.
Pode-se dizer que a eternidade “é um atributo negativo em Deus, porque é a negação
de qualquer medida de tempo nele, assim como a imensidão é a difusão da sua essência, a
eternidade é a duração da sua essência”.
Assim como a eternidade é a perfeição divina que o relaciona com o tempo, a
imensidão é a sua perfeição que o relaciona com o espaço, as duas categorias sem as quais
não podemos ser, pensar, nem viver. Mesmo na outra vida, depois desta, ainda seremos
seres com essas categorias, porque ainda seremos seres humanos. É por isso que a parte
final da redenção humana será nos novos céus e na nova terra, onde as mesmas categorias
estarão presentes, embora certamente num plano inteiramente superior.

2.12. Atributos Comunicáveis

Enquanto os atributos incomunicáveis enfatizam o Ser absoluto, os comunicáveis


indicam a natureza pessoal de Deus, que se evidência na Sua atitude relacional para com
aqueles que estão fora do ser divino.
O termo “comunicáveis” indica que podemos encontrar em nossa personalidade
traços dos atributos divinos. Deus nos criou e comunicou esses atributos ao nosso ser,
mesmo que em medida infinitamente menor.

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Nesses atributos Deus é apresentado como aquele que se relaciona com a sua
criatura, que é inteligente, livre, um ser moral consciente.
Os Atributos Comunicáveis são assim divididos:
Atributos Intelectuais
 O Conhecimento de Deus (Onisciência de Deus);
 A Sabedoria de Deus;
 A Veracidade de Deus.
Atributos Morais
 A Bondade de Deus;
 O Amor de Deus;
 A Paciência de Deus;
 A Misericórdia de Deus;
 A graça de Deus;
 A Santidade de Deus;
 A Justiça de Deus.
Atributos da Soberania
A Vontade Soberana de Deus;
O Poder Soberano de Deus (Onipotência de Deus);

2.13. O Conhecimento de Deus

Berkhof define o conhecimento de Deus como sendo “aquela perfeição divina por
meio da qual Ele, em uma maneira completamente singular, conhece-se a si mesmo e
conhece todas as coisas possíveis e reais em um ato simplíssimo e eterno”. O
conhecimento de Deus tem, portanto, vários nomes, dependendo do objeto conhecido.
Com respeito aos fatos presentes, ele pode ser chamado de simples conhecimento ou
visão; com respeito ao passado, ele pode ser chamado de memória; com respeito ao
futuro, ele pode ser chamado de presciência, com respeito à universalidade dos objetos,
ele pode ser chamado de onisciência. É exatamente em relação a este conhecimento
universal que iremos comentar. Senão vejamos:
Onisciência! O que é? Onisciência é a qualidade do saber de Deus, do conhecimento
que Deus possui. Mas, qual é o conhecimento que Deus possui? Sempre que pensamos
naquilo que Deus conhece, a nossa ignorante mente é tendente a pensar que o

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conhecimento que Deus possui é o nosso conhecimento de uma maneira maior, ampliada,
superior, ou, na melhor das hipóteses, muito maior, muito superior. Temos a ousadia, a
petulância, de pensar dessa forma. Igualamos o conhecimento de Deus ao nosso com a
diferença, apenas, de que Ele tem mais conhecimento, só isso. Outros chegam às raias da
loucura em pensar que, futuramente, o homem construirá supercomputadores que
armazenarão tantas informações, tantos, dados, que serão semelhantes a Deus em
conhecimento e poder decisório. Por isso que a Bíblia classifica toda sabedoria, todo
conhecimento humanos como abominação. A presunção, alimentada continuamente pelo
orgulho, agrava a loucura da sabedoria humana, do conhecimento humano, e os homens
tornam-se mais e mais embrutecidos, cegos, miseráveis, nus. Está escrito: “Destruirei a
sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde
está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a
sabedoria do mundo” (1Co 1:19,20). Quando Deus aniquila a sabedoria do mundo não é
porque Ele é o Todo-poderoso e nós finitos e fracos. Não! Antes é porque a sabedoria
desse mundo é animal, terrena e demoníaca (Tg 3:15) e se arvora como absoluta, perfeita,
insuperável, infalível, e por isso Deus a odeia, e a aniquila. É por isso que ela é condenada,
nisso consiste a sua derrota. Todo cristão autêntico é chamado para fazer coro com as
Escrituras e também abominar a sabedoria deste mundo. E aqui não falamos do
conhecimento científico e dos seus resultados a favor da humanidade, não! Falamos antes
da presunção dos homens em considerar que o conhecimento que tem foi desenvolvido
pela capacidade própria, independente de Deus, e que, através desse conhecimento,
podem galgar qualquer altura, inclusive conhecer a Deus e outros deuses, podem domar as
suas consciências depravadas, podem decidir sobre o destino pós-morte de cada criatura,
enfim, não precisam de Deus para nada. “Ele lá e nós cá. Ele tem o saber dEle e nós temos
o nosso e nos resolvemos muito bem do jeito que somos, não precisamos do saber dEle,
definitivamente”.
E o Deus onisciente ri de todas essas distorções e presunções humanas. Ele sim
conhece todas as coisas, é o único que conhece todas as coisas e, em contraste com o
saber humano, a distância é infinita, não se pode esquadrinhar, não se pode comparar. O
saber humano é pobre, é derivado, é limitado, é atrevido, é realizado, na sua maior parte,
sobre hipóteses, é baseado sobre o “eu acho”, é presunçoso, enfim, é ignorante.
Nascemos sem saber e começamos a aprender. Uns aprendem mais e outros menos, mas
tudo imperfeito, limitado. Tudo aquilo que aprendemos guardamos num depósito
chamado memória. Muitas vezes, quando queremos uma determinada informação que
sabemos tê-la guardado na memória, e a buscamos, temos uma grande dificuldade de
encontrá-la, e às vezes não a encontramos mesmo. Dependemos da vitalidade de células
chamadas neurônios que, pelo estilo de vida que levamos, podem ter enfraquecidas ou
diminuídas (nunca aumentadas), e nesses casos, ficamos simplesmente sem a informação,

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sem o conhecimento. Então, além de ser pouco, limitado, falho, hipotético, o nosso
conhecimento não nos está disponível sempre que o queiramos, e mesmo quando o
obtemos ele é tão imperfeito que não resolve aquilo que queremos. Mas com Deus não é
assim, o conhecimento que Deus possui é: Eterno, Total e Perfeito.
O Eterno e Total Conhecimento de Deus
O conhecimento de Deus não tem tamanho, é ilimitado, infinito. Ele conhece todas as
coisas. Ele conhece a Si mesmo de uma maneira perfeita, conhece a sua criação de uma
maneira perfeita e conhece todos os homens de uma maneira absolutamente perfeita.
Com relação a Si próprio, ninguém jamais poderá perscrutá-lo plenamente, mas Ele se
conhece plenamente e esse é um fato espantoso para a nossa mente finita e assustada.
Mas, é bastante lógico que só o Ser infinito como Deus pode conhecer-se em cada detalhe.
O apóstolo Paulo mostra essa realidade quando diz, em 1Co 2:10,11 v. 10 - “Mas Deus no-
las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as
profundezas de Deus;” v. 11 - “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão
o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus,
senão o Espírito de Deus.” O Espírito Santo de Deus sonda as profundezas do coração de
Deus. Este fato, para nós, está acima de qualquer concepção. Qual dentre nós se conhece
pelo menos 10%? É frase bastante comum na boca de todos nós a expressão: “Eu mesmo
me desconheci, em e tal e tal coisa que pratiquei”, ou, “eu mesmo não sabia que era capaz
de ter feito tudo aquilo que fiz”. Conhecemo-nos muito pouco, e o pouco que nos
conhecemos é imperfeito, confuso e inexato. Mas com Deus não. Deus sonda as
profundezas do seu próprio coração perfeito. Conhece cada detalhe, cada sentimento,
cada motivação, cada propósito, do seu próprio coração. O apóstolo João também
confirma esse fato quando diz: “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1Jo 1:5). No
contexto, “luz” significa pureza moral e pleno conhecimento, plena consciência. Não estar
nas trevas e ser luz, como é o caso de Deus, então, isso significa não desconhecer
absolutamente nada. Também com relação aos seus atributos, aqueles que temos a maior
dificuldade de entender algum lampejo, Ele os conhece plenamente, perfeitamente. A sua
justiça, o seu amor, a sua misericórdia, a sua graça, a sua ira, a sua eternidade, a sua
onipotência, tudo Deus conhece com perfeição absoluta. Deus sabe o que Ele é! Os
caminhos de Deus, que para nós são insondáveis - inescrutáveis, como disse Paulo - para
Ele são conhecidos na totalidade, com perfeição. Deus sabe, por exemplo, usar a sua
misericórdia com perfeição - por isso que Ele é bom para com todos - sabe usar a sua graça
com perfeição - por isso que salva todos os que propôs salvar, com extrema diligência -
sabe usar a sua justiça com perfeição - por isso que condena todos quantos pecaram e não
receberam a sua graça salvadora. Deus não se engana nos seus propósitos nem na
execução deles. Ele resolveu fazer de tal e tal jeito e fará. Olhemos para as nossas vidas,
todos os seus fatos e circunstâncias: Pois Deus planejou cuidadosamente cada fato, cada

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detalhe e, da forma como planejou, executa, tal e qual, sem mudar de idéia, sem procurar
caminho mais fácil, mais cômodo. Não! Ele a tudo conhece. O nosso conhecimento parte
do zero e começa a crescer. O conhecimento de Deus é total desde a eternidade, nunca
aumentou, nem diminuiu. Ele sempre sabe o que sempre soube e sempre saberá. O seu
conhecimento não aumenta. Deus não adquire novos conhecimentos porque, para Ele,
não existem novos conhecimentos. Se Deus adquirisse novos conhecimentos, então, não
saberia de tudo, ainda haveria novas coisas a conhecer, a aprender. Mas não, Deus sabe de
tudo, e o seu saber é perfeito, total, eterno. Antes de toda a criação, Deus já conhecia tudo
perfeitamente. Antes mesmo que existisse, a criação já estava perfeitamente conhecida na
sua mente e, mesmo depois de criada, nada é diferente daquilo que Ele conheceu. Eliú
sabia que Deus era perfeito em conhecimento, Jó 37:16 diz: “Tens tu notícia do equilíbrio
das grossas nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos?”, e João
declarou que Deus conhece todas as coisas, 1Jo 3:20 diz: “Sabendo que, se o nosso coração
nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.”
O conhecimento que Deus possui, além de ser eterno, é também total. Ter
conhecimento total é, por exemplo, conhecer todas as pessoas que passaram por esse
planeta. Conhecer os seus nomes, os seus pensamentos, a quantidade de células do corpo
de cada uma delas, o número de dias que cada uma viveu, as inclinações, as afeições, os
sentimentos. Ter conhecimento total significa conhecer todos os seres angelicais, as hostes
celestiais, os querubins, serafins, as hostes malignas, suas intenções, propósitos, ações,
limitações. Ter conhecimento total significa conhecer animais, insetos, larvas, bactérias,
plantas, flores, árvores, que um dia existiram, existem e existirão sobre toda a face da
terra. Ter conhecimento total significa conhecer todos os planetas, galáxias, sóis, estrelas,
meteoros, como disse Davi: “Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu
nome” (Sl 147: 4). Deus conhece até as coisas que poderiam ter acontecido (Mt 11:21)
O Perfeito Conhecimento de Deus
O conhecimento que Deus possui não é somente eterno e total, mas é também
perfeito. O conhecimento que Deus tem dos atos e fatos que sucederam e sucederão é
inerrante, ou seja, da mesma maneira que conheceu e conhece, eles acontecem. O menor
detalhe não ocorreu diferente do que Ele já conhecia. O seu conhecimento a respeito do
futuro é tão completo quanto o seu conhecimento do passado e do presente, e isso é
assim porque o futuro depende totalmente de Deus. Se fosse possível acontecer alguma
coisa sem o conhecimento de Deus ou sem a sua ação direta ou permissão, então, Deus
deixaria de conhecer alguma coisa, e por isso o seu conhecimento não seria perfeito. Mas
isso não pode acontecer, não acontece. Deus conhece com plena perfeição aquilo que vai
ocorrer daqui a quatro bilhões de segundos (pouco mais de 120 anos). Irmãos, e aqui uma
pausa pra respirar: Estudar os assuntos referentes a Deus nos humilham profundamente e
nos dão um senso de pequenez tendente ao sumiço. O assunto é tão inatingível que

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desaparecemos por completo nessa imensidão. Sentimo-nos pó, cinza, escória. O nosso
orgulho desce em queda livre, o elevador no qual estamos dentro tem o cabo de aço
partido. Porém, ao mesmo tempo em que humilha, o estudo sobre os atributos e
características de Deus forçam as nossas mentes para uma largueza maior. De alguma
forma temos as nossas mentes aquietadas, consoladas e, a despeito de se terem esvaído
as nossas forças, sentimo-nos totalmente dependentes da força que Deus supre, e isso é
maravilhoso. Quando nos perdemos na imensidão de Deus, aí nos encontramos. Somos
criaturas e filhos de um Deus que tudo conhece com eternidade, com totalidade e com
perfeição absoluta.
O conhecimento que Deus possui dá-lhe visão total de todas as coisas - “Os olhos do
Senhor estão em todo parte” (Pv 15:3), e o nosso texto-base diz: “E não há criatura que
não seja manifesta da sua presença”. Deus enxerga tudo que está no céu e na terra, e até
no inferno, Dn 2:22 diz: “Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em
trevas, e com ele mora a luz.” Não há lugar onde o conheci-mento de Deus não penetre.
Nada escapa ao Seu conhecimento, nem mesmo as profundezas do coração humano (1Sm
16:7; 1Cr 28:9; Jr 17:10). Só Ele conhece perfeitamente os pensamentos e intenções do
coração (Ez 11:5 cf. Sl 7:9; 94:11; 139:2). Nada escapa à sua atenção, nada pode ser dEle
escondido. Deus olha do céu e enxerga a todos, enxerga cada obra realizada, e as
intenções dos seus desígnios, sejam bons ou maus (Gn 6:5). O Salmo 33 nos versículos 13 a
15 diz: v.13 - O SENHOR olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens;
v.14 - Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra. v.15 - Ele é que
forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras. (cf.1Co 4:5). No tempo
do profeta Ezequiel, havia príncipes em Israel que aconselhavam o povo para o mal.
Reuniam-se em grupos para maquinarem perversidades e desencorajarem o povo. Deus
ordenou o seu profeta que os denunciasse com a Palavra. Na advertência, Deus os
desmascarou dizendo-lhes que conhecia todos os pensamentos que chegavam às suas
mentes (e conhece também os que chegam às nossas), Ez 11:1-4 diz: v.1 - ENTÃO me
levantou o Espírito, e me levou à porta oriental da casa do SENHOR, a qual olha para o
oriente; e eis que estavam à entrada da porta vinte e cinco homens; e no meio deles vi a
Jaazanias, filho de Azur, e a Pelatias, filho de Benaia, príncipes do povo. v.2 - E disse-me:
Filho do homem, estes são os homens que maquinam perversidade, e dão mau conselho
nesta cidade. v.3 - Os quais dizem: Não está próximo o tempo de edificar casas; esta
cidade é o caldeirão, e nós a carne. v.4 - Portanto, profetiza contra eles; profetiza, ó filho
do homem, e o v.5 complementa dizendo: v.5 - Caiu, pois, sobre mim o Espírito do
SENHOR, e disse-me: Fala: Assim diz o SENHOR: Assim haveis falado, ó casa de Israel,
porque, quanto às coisas que vos sobem ao espírito, eu as conheço. Deus é invisível para
nós, mas nós não o somos para Ele. As trevas mais densas e a cova mais profunda não
poderão ocultar nada dos olhos de Deus. Adão e Eva quando pecaram esconderam-se

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atrás das árvores do jardim como se pudessem se ocultar dos olhos de Deus. Profunda
ignorância! Ninguém viu Caim assassinar Abel, mas o olho de Deus viu. Quando Deus
visitou Abraão para prometer-lhe que seria pai de uma grande nação, sendo Abraão já
velho e a sua senhora também, ao saber da notícia, Sara, que estava dentro da tenda, fora
da visão dos homens que conversavam, riu no seu íntimo, e foi repreendida, porque o olho
do Senhor a tudo vê, Gn 18:10-15 diz: v.10 - E disse: Certamente tornarei a ti por este
tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E Sara escutava à porta da tenda,
que estava atrás dele. v.11 - E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a
Sara havia cessado o costume das mulheres. v.12 - Assim, pois, riu-se Sara consigo,
dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já
velho? v.13 - E disse o SENHOR a Abraão: Por que se riu Sara, dizendo: Na verdade darei
eu à luz ainda, havendo já envelhecido? v.14 - Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR? Ao
tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho. v.15 - E
Sara negou, dizendo: Não me ri; porquanto temeu. E ele disse: Não digas isso, porque te
riste. Acã roubou o ouro, a prata e a capa, quando da conquista de Jericó, e os escondeu
cuidadosamente debaixo do solo, mas, o olho de Deus que tudo vê, trouxe-os à luz.
Quando ordenou tomar a cidade, Deus proibiu que se tirasse qualquer coisa dela, antes
condenou todas as coisas, Js 6:17,18 diz: v.17 - Porém a cidade será anátema ao SENHOR,
ela e tudo quanto houver nela; so-mente a prostituta Raabe viverá; ela e todos os que com
ela estiverem em casa; por-quanto escondeu os mensageiros que enviamos. v.18 - Tão-
somente guardai-vos do anátema, para que não toqueis nem tomeis alguma coisa dele, e
assim façais maldito o arraial de Israel, e o perturbeis. Quando da tomada e da vitória, Acã
não resistiu aos atraentes e sedutores despojos da rica cidade e os tomou, Js.7:1 “E
TRANSGREDIRAM os filhos de Israel no anátema; porque Acã filho de Carmi, filho de Zabdi,
filho de Zerá, da tribo de Judá, tomou do anátema, e a ira do SENHOR se acendeu contra
os filhos de Israel.” Ora, Israel acabara de vencer uma grande e poderosa cidade que era
Jericó. A próxima que se apresentava era a pequena “Ai”. Não precisou mandar o exército
todo, mas apenas uns dois ou três mil homens. E, por causa do pecado, Israel foi
vergonhosamente derrotado, Js 7:5 diz: “E os homens de Ai feriram deles uns trinta e seis,
e os perseguiram desde a porta até Sebarim, e os feriram na descida; e o coração do povo
se derreteu e se tornou como água.” Consultado, o olho de Deus que vê todas as coisas
revelou a causa da derrota, Js 7:11 diz: “Israel pecou, e transgrediram a minha aliança que
lhes tinha ordenado, e tomaram do anátema, e furtaram, e mentiram, e debaixo da sua
bagagem o puseram.” Guiado por Deus, Josué reuniu as tribos, escolheu uma família e
dentre os seus componentes, descobriu Acã. Chamou-o à frente e disse, Js 7:19-21 diz:
v.19 - Então disse Josué a Acã: Filho meu, dá, peço-te, glória ao SENHOR Deus de Israel, e
faze confissão perante ele; e declara-me agora o que fizeste, não mo ocultes. v.20 - E
respondeu Acã a Josué, e disse: Verdadeiramente pequei contra o SENHOR Deus de Israel,
e fiz assim e assim. v.21 - Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e

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duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro, do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e
tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata por baixo
dela. Em seguida ouviu-se a sentença, Js 7:24,25 diz: v.24 - Então Josué, e todo o Israel
com ele, tomaram a Acã filho de Zerá, e a prata, e a capa, e a cunha de ouro, e seus filhos,
e suas filhas, e seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e sua tenda, e tudo quanto ele
tinha; e levaram-nos ao vale de Acor. v.25 - E disse Josué: Por que nos perturbaste? O
SENHOR te perturbará neste dia. E todo o Israel o apedrejou; e os queimaram a fogo
depois de apedrejá-los. O olho do Senhor a tudo vê. Nada está encoberto à sua poderosa
visão (Hb 4:13; Lc 12:2; Pv 15:3). Quantos de nós estamos como Acã, ignorando a poderosa
onisciência de Deus? Sofrendo derrotas e mais derrotas e atribuindo tudo à provação,
nunca à disciplina? Sejamos honestos com nós mesmos e com Deus, pois sabemos
exatamente quais são as causas dos nossos fracassos e enquanto não admitirmos a
verdade dos fatos estaremos incorrendo numa série de erros: falta de consideração com a
onisciência de Deus, coração endurecido pela falta de confissão, orgulho em alta
impedindo que peçamos perdão, tentativa de enganar a Deus com encobrimento dos
verdadeiros motivos. Davi cometeu cobiça, adultério e assassinato. Escondeu o pecado por
14 meses, mas pouco depois, o Deus que tudo vê enviou-lhe um dos seus profetas para lhe
dizer: “Tu és esse homem!” (2Sm 12:7).
Os homens ímpios odeiam tanto a onisciência de Deus que, se pudessem, extirpariam
esse atributo da divindade. Mas, ao mesmo tempo em que odeiam são obrigados a
reconhecê-la. O que eles queriam mesmo é que não houvesse nenhuma testemunha das
suas práticas ímpias, dos seus assaltos e roubos, dos seus assassinatos e enganos, das suas
práticas de abominação e idolatria, “Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e
não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras” (Jo 3:20). Mas não
adianta fugir da luz e esconder-se nas trevas, não adianta esconder-se no quarto escuro,
longe da vista de todos, não adianta esconder-se debaixo do cobertor, não adianta ir
sozinho a algum lugar, não adianta esconder-se a dois em outro lugar, não adianta trancar-
se em seus próprios pensamentos, não adianta de forma nenhuma, porque Deus “diante
dele pôs todas as nossas iniqüidades: os nossos pecados ocultos à luz do seu rosto”
(Sl.90:8).
Todos os escritores bíblicos mostraram-se espantados com a capacidade da mente de
Deus em sondar e conhecer e ver todas as coisas. Isaías disse, Is 40:13-14: “Quem guiou o
Espírito do Senhor? Ou, como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou Ele conselho,
para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo e lhe ensinou
sabedoria e lhe mostrou o caminho de entendimento?” e o v.28: “Não sabes, não ouviste
que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? Não
se pode esquadrinhar o seu entendimento”.

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2.14. A Sabedoria de Deus

Este é um outro atributo intelectual de Deus. Juntamente com o conhecimento, Deus


possui a sabedoria. Ficamos maravilhados quando vemos a sabedoria num homem ao
resolver um problema ou em sua resposta a uma pergunta muito difícil. Ora, se nos
espanta a sabedoria humana, que poderia, então ser dito da sabedoria divina, que possui
um caráter infinito? A beleza do caráter de Deus está estampada em cada um de Seus
atributos que se complementam mutuamente.
A sabedoria de Deus pode ser concedida como sendo um aspecto particular do seu
conhecimento. Charnock disse que Deus “deve ter conhecimento, ou Ele não poderia ser
sábio; a sabedoria é a flor do conhecimento e o conhecimento é a raiz da sabedoria”. Em
Deus o conhecimento é a causa e a sabedoria é o efeito. É evidente que conhecimento e
sabedoria não são a mesma coisa, ainda que estejam intimamente ligados. Vemos exemplo
disso nos dons que Deus dá aos homens, pois Deus fala do conhecimento e da sabedoria
como dons diferentes, mas muito relacionados (1Co 12:8; ver Dn 5:14; Is 11:2). Nem
sempre esses dons se encontram, juntos, numa só pessoa. Um homem inculto pode
sobrepujar em sabedoria a um erudito. Os homens adquirem conhecimento por meio de
estudo, mas a sabedoria é o resultado do conhecimento intuitivo das coisas. O primeiro é
teórico, e o segundo é prático. Normalmente a sabedoria usa o conhecimento para servir a
alguns propósitos determinados. O conhecimento é o entendimento das regras gerais,
enquanto que a sabedoria é o extrair conclusões de regras particulares para um propósito
definido. A sabedoria é o conhecimento intuitivo aplicado.
Todavia, não pode haver sabedoria sem algum tipo de conhecimento. Toda
manifestação de sabedoria é derivada de um conhecimento adquirido ou intuitivo. Muito
embora a sabedoria e o conhecimento não sejam a mesma coisa, eles não podem estar
dissociados.
No caso de Deus, em quem a sabedoria é infinita, está pressuposto um conhecimento
também infinito. Em Deus a sabedoria não pode existir sem o conhecimento de todos os
fatos pertinentes ao Seu propósito. Tanto a sabedoria como o conhecimento são
imperfeitos no homem, Mas em Deus eles se caracterizam por Sua perfeição e infinitude. A
sabedoria de Deus é Sua inte-ligência manifesta na adaptação dos meios aos fins. Berkhof
descreve a sa-bedoria divina nos seguintes termos: “É aquele atributo de Deus por meio do
qual o próprio Deus produz os melhores resultados possíveis com os melhores meios
possíveis.” Uma outra definição melhorada é: “aquela perfeição de Deus por meio da qual
Ele aplica Seu conhecimento para a obtenção de Seus fins conforme a maneira que mais o
glorifique”. O conhecimento é o fundamento da sabedoria e antecede a ela. Essas duas
qualidades aparecem mencionadas juntas em Romanos 11:33. Os homens podem ter
conhecimento sem sabedoria, mas nunca sabedoria sem conhecimento. O conhecimento é

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a apreensão dos assuntos, enquanto que a sabedoria põe em ordem os assuntos, agindo
prudentemente neles.
J. I. Packer diz que nas Escrituras a sabedoria é uma qualidade tanto moral quanto
intelectual, é mais do que simples inteligência ou conhecimento, assim como significa mais
do que esperteza ou astúcia. Para ser realmente sábio, no sentido bíblico, a inteligência e a
habilidade de uma pessoa devem ser usadas para uma finalidade útil. A sabedoria é o
poder para ver e a capacidade para escolher o alvo melhor e o mais elevado, juntamente
com os meios corretos para atingi-lo.
A sabedoria, na realidade, é o lado prático da bondade moral e, como tal, é
encontrada em sua plenitude somente em Deus. Só Ele é natural, inteira e invariavelmente
sábio. Deus não é outra coisa, a não ser sábio em tudo aquilo que fez. A sabedoria, como
diziam os antigos teólogos é a Sua essência, assim como o poder, a verdade, a bondade
são Sua essência – elementos integrais que formam o Seu caráter.
A sabedoria, humana pode ser frustrada por fatores circunstanciais que fogem ao
controle do homem sábio. Aitofel, o renegado conselheiro de Davi, deu um sábio conselho
quando insistiu com Absalão para que acabasse de uma vez com Davi, antes que se
recobrasse do primeiro choque causado pela revolta de Absalão. Ele, porém, totalmente
seguiu um outro caminho e Aitofel, irritado e com o orgulho ferido, prevendo sem dúvida
que a revolta com toda a certeza seria então sufocada, e incapaz de perdoar a si mesmo
por ter sido tão tolo a ponto de se juntar a ela, foi para casa em desespero e se suicidou
(2Sm 17).
Mas a sabedoria de Deus não pode ser frustrada como aconteceu com o “bom
conselho” (v.14) de Aitofel, pois está unida à onipotência. Tanto o poder como a sabedoria
são essência de Deus. A onisciência governando a onipotência, o poder infinito dirigido
pela sabedoria também infinita, assim é basicamente a descrição do caráter divino na
Bíblia. “Ele é sábio de coração, e grande em poder” (Jó 9:4). “Com Deus está a sabedoria e
a força (Jó 12:13), “É grande na força da sua compreensão” (Jó 36:5), “Por ser ele grande
em força e em poder...não se pode esquadrinhar o seu entendimento” (Is 40:26,28).
“Porque dele é a sabedoria e o poder” (Dn 2:20). Essa mesma associação aparece no Novo
Testamento. “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho...
ao Deus único e sábio...” (Rm 16:25,27). Sabedoria sem poder seria patético, uma pessoa
em quem não se pode confiar; poder sem sabedoria seria apenas uma coisa assustadora;
mas em Deus a sabedoria sem limites e o poder infinito estão unidos e isso O torna
completamente digno de nossa confiança total.
A poderosa sabedoria de Deus é sempre ativa e nunca falha. Todas as obras de sua
criação, providência e graça demonstram isso, e enquanto não virmos nelas a sua
sabedoria não teremos uma visão correta. Não poderemos, entretanto, reconhecer a

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sabedoria de Deus a menos que conheçamos com que finalidade Ele age. Muitos erram
neste ponto. Entendem mal o que a Bíblia diz quando fala que Deus é amor (veja 1Jo 4:8-
10), pensam que Deus planeja uma vida livre de problemas para todos, independente de
sua condição moral e espiritual; e, conseqüentemente, concluem que qualquer situação
dolorosa ou difícil (doença, acidente, injúria, perda de trabalho, sofrimento de um ente
querido) indica que a sabedoria ou o poder de Deus, ou ainda ambas as coisas tenham
falhado, ou que Deus afinal não existe. Mas essa idéia do propósito de Deus é um
completo engano. A sabedoria de Deus não é, e nunca foi, prometida a um mundo caído,
no sentido de mantê-lo feliz, ou proporcionar conforto ao incrédulo. Nem mesmo aos
cristãos foi prometida uma vida fácil, pelo contrário, bem o inverso disso. Ele tem outros
fins em vista para a vida neste mundo além de simplesmente torná-la fácil para todos.
O que Ele pretende, então? Qual o seu objetivo? O que Ele almeja? Quando criou o
homem, seu propósito era que este deveria amá-LO e honrá-LO, louvando-O pela
variedade e complexidade ordenada de seu mundo, usando-o de acordo com a sua
vontade, e assim gozando tanto o mundo como a Ele. E embora o homem tenha caído,
Deus não abandonou seu propósito inicial. Ele ainda planeja que uma grande multidão
venha a amá-LO e honrá-LO. Seu objetivo supremo é levá-los a uma situação em que O
agradem inteiramente e O louvem adequadamente, em estado em que Ele venha a ser
tudo para eles e juntos se regozijem continuamente no conhecimento do amor mútuo – os
homens se regozijando no amor salvador de Deus dedicado a eles por toda a eternidade, e
Deus se regozijando no amor correspondido pelos homens, manifestado neles pela graça
através do evangelho.
Esta será a “glória” de Deus, e a “glória” do homem também, em todos os sentidos
que essa palavra significativa possa expressar. Mas isso só será totalmente realizado no
mundo futuro, no contexto da transformação de toda a ordem criada. Entretanto,
enquanto isso não acontece, Deus age firmemente para que esse propósito se realize. Seus
objetivos imediatos são levar individualmente homens e mulheres a um relacionamento de
fé, esperança e amor para com Ele, livrando-os do pecado e mostrando em suas vidas o
poder de sua graça, defendendo seu povo contra as forças do mal; e espalhando por todo
o mundo o evangelho por meio do qual Ele salva. Para o cumprimento de cada parte deste
propósito, o Senhor Jesus Cristo é central; pois Deus fez dele não só o Salvador dos
pecadores, em quem os homens devem confiar, como também o Senhor da Igreja, a quem
os homens devem obedecer. Temos visto o modo pelo qual a sabedoria divina foi
manifestada na encarnação e na cruz de Cristo; acrescentaremos agora que é à luz desse
complexo propósito por nós delineado que veremos a sabedoria de Deus em seu trato com
o homem.
A Sabedoria é Essencial em Deus

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TEOLOGIA PRÓPRIA

Como todos os outros atributos, a sabedoria também é essencial em Deus. Deus não
pode ser o que é sem ela. Ela não é própria somente das pessoas divinas, mas de toda a
Trindade. Essencialmente o que pertence a uma pessoa, pertence à outra. Portanto, o que
pode ser dito do Pai, pode também ser dito do Filho e do Espírito Santo. Não é sem razão
então, que as Escrituras dizem que todos os tesouros do conhecimento estão escondidos
em Deus e em Cristo Jesus (Cl 2:3).
A Sabedoria não pode ser Separada de Deus
O homem tem sabe-doria, mas essa sabedoria humana foi colocada nele, ele a teve
acrescida por alguém de fora. Todavia, a sabedoria não é algo acrescido a Deus e que veio
pertencer a Deus. Os homens possuem sabedoria e Deus é sabedoria. Os dois vêm sempre
juntos. Ao mesmo tempo que a sabedoria é um atributo de Deus, Deus é a própria
sabedoria. Portanto, a sabedoria é um atributo essencial de Deus sem o qual Ele não poder
ser o que é e nunca os dois andam separados.
A Sabedoria é Propriedade de Deus Somente
Há um sentido em que somente Deus é sábio. Os homens podem ser chamados
filósofos (amigos da sabedoria), mas somente Deus pode ser chamado de Sophos (de sofia,
sabedoria) pois é o único sábio. O nome filósofo surgiu do respeito que os homens tiveram
a esta perfeição transcendente de Deus. Ser sábio é uma propriedade peculiar a Deus. Ele
pode concedê-la a outros, mas é uma propriedade que lhe pertence.
A Sabedoria é Originária em Deus
A sabedoria entre os homens é obtida pela experiência dos anos, baseada no
acúmulo de informações recebidas. Mas com Deus não é assim. Ele é sábio essencial e
necessariamente. Deus não pode ser o que é sem a Sua sabedoria. Sua sabedoria é eterna
e não derivada. Ele não precisa de conselho de ninguém (Rm 11:34; Is 40:14). Ele é a fonte
original de toda a sabedoria! Os anjos e os homens têm a sabedoria comunicada, mas Deus
é a sabedoria original!
A Sabedoria é Necessária em Deus
Deus não escolhe nem resolve ser sábio. Não depende do exercício da Sua vontade
ser sábio. Assim como Ele não decide conhecer todas as coisas, porque Ele as conhece
necessariamente, Ele também não decide ser sábio. Ser sábio nEle é algo que lhe é
essencial. Ele não pode deixar de ser sábio, senão Ele deixa de ser o que é. Nesse sentido
Ele é o “Deus único e sábio” (Rm 16:27). A sabedoria é a parte vital da ação de Deus. Em
todas as suas operações a sabedoria necessariamente atua.
A Sabedoria em Deus é Incompreensível

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TEOLOGIA PRÓPRIA

É patente que a infinidade de Deus qualifica todos os outros atributos. As Escrituras


são claras quando falam da sabedoria infinita de Deus. “Grande é o Senhor nosso, e mui
poderoso; o seu entendimento não se pode medir” (Sl 147:5). É imensurável a sua
sabedoria! Se ela não pode ser medida, ela também é incompreensível.
A Sabedoria de Deus é Eterna
Uma vez que a sabedoria é essencial em Deus e que este também é eterno, logo, a
Sua sabedoria também é eterna. O autor do livro de Provérbios registra uma sabedoria
personalizada, que diz estar presente antes de todas as coisas. Essa só pode ser a
sabedoria do Senhor Deus (Pv 8:22-31). A sabedoria é inseparável de Deus e por isso ela é
eterna com Ele (Jó 12:12,13). A sabedoria de Deus é durável como a essência dEle,
portanto, não pode ser nem aumentada nem diminuída.
A Sabedoria Divina é Revelada em Cristo
Cl 2:1-3 diz o seguinte: v.1 - “PORQUE quero que saibais quão grande combate tenho
por vós, e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne;
v.2 - Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e
enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e
de Cristo, v.3 - Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.”
Todavia, esta sabedoria estava escondida em Deus – “um mistério da vontade divina”
- que, posteriormente, na plenitude dos tempos, em Cristo, veio a ser “desvendada”. Esse
mistério oculto precisa, por decreto divino, ser revelado. Cristo é, portanto, chamado de
sabedoria de Deus (1Co 1:24). Cristo é a sabedoria pessoal de Deus porque Ele nos revela
os segredos de Deus.
Assim é que Deus tirou o véu para que a igreja pudesse compreender essa sabedoria
(1Co 2:6,7,12) e a tornasse proclamada ao mundo e às potestades.
A Sabedoria Divina é Proclamada Através da Igreja
Ef 3:8-13 diz o seguinte: v.8 - A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta
graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis
de Cristo; v.9 - E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os
séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; v.10 - Para que
agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e
potestades nos céus, v.11 - Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso
Senhor. v.12 - No qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele. v.13 -
Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa
glória.
A sabedoria divina se manifesta de muitas formas

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TEOLOGIA PRÓPRIA

“A multiforme sabedoria de Deus”. A sabedoria de Deus possui muitas facetas,


muitas cores. Deus não se manifestou simplesmente no anúncio da sua lei cheia de
sabedoria no passado aos judeus; anunciou ainda o evangelho de maneira plena com a
vinda de Cristo, e esse evangelho é a sabedoria de Deus demonstrada. Essa sabedoria
possui manifestações múltiplas, que transcende a nossa capacidade de perceber todas as
suas facetas. Todavia, algumas delas podem ser percebidas: ela se manifesta em amor,
misericórdia, perdão, reconciliação, libertação, ao mesmo tempo que se manifesta na
morte de Cristo por judeus e gentios como ódio ao pecado e, portanto, com a ira em
justiça e juízo. Tudo isso é sabedoria de Deus, pois evidência como Deus fez arranjos
extraordinários para que pudesse haver a salvação do pecador, seja ele judeu ou gentio.
Deus é as duas essências: poder e sabedoria. É curioso que em várias passagens das
Escrituras os termos poder e sabedoria vêm juntos (Jó 12:13,16; Dn 2:20; 1Co 1:24; assim
também quando se trata da sabedoria derivada, o poder anda junto Dn 2:23). O poder e a
sabedoria precisam andar juntos porque eles são o fundamento de toda verdadeira
autoridade e governo. Um governador com poder mas sem sabedoria é um déspota
(usando aqui a palavra no sentido pejorativo); um governador com sabedoria mas sem
poder é um fraco. Deus é ambos, poder e sabedoria infinitos! (1Sm 2:23; Jó 28:12-28;
Daniel 2:20).

2.15. A Veracidade de Deus

Alguns teólogos costumam tratar da dificuldade colocando-a no meio dos atributos


morais, mas nós vamos colocá-la entre os atributos intelectuais porque a fidelidade está
sempre relacionada com a verdade. Esses dois atributos são inseparáveis, embora alguns
estudiosos tentem distingui-los, como é o caso de Dagg. Ele faz uma ligeira distinção entre
veracidade e fidelidade: “A veracidade é a declaração das coisas como elas são, e a
fidelidade é o cumprimento exato de suas promessas e ameaças”. No entanto, podemos
argumentar que nas Escrituras a palavra “fidelidade” está ligada inti-mamente com a
“verdade”. Não pode haver a noção de fidelidade sem que esteja ligada á verdade (Sl
145:13). As palavras de Deus “são fiéis e verdadeiras” (Ap 22:6). Quando a Bíblia diz que
Deus é “fiel”, ela está afirmando que Ele é verdadeiro em todas as suas afirmações. Em
contrapartida está o ser humano que mente e não é verdadeiro em tudo o que fala. Por
isso é que Paulo, falando da fidelidade de Deus, diz: “seja Deus verdadeiro e todo homem
mentiroso” (Rm 3:3,4). Tudo o que há em Deus corresponde á realidade; tudo o que ele
fala reflete a realidade (Sl 36:5; 89:8; Is 11:5; 2Tm 2:13).
Grudem explica que “a veracidade de Deus significa que ele é o Deus verdadeiro, e
que todo o seu conhecimento e palavras são, ambos, padrões de fé verdadeiros e padrões
de fé finais”. Aquilo que Deus expressa externamente corresponde àquilo que Ele é

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TEOLOGIA PRÓPRIA

internamente. Todas as suas afirmações estão de pleno acordo com o seu ser. Berkhof
define a veracidade de Deus como senão “aquela perfeição de seu ser em virtude da qual
ele cumpre perfeitamente a idéia da divindade, é perfeitamente digno de nossa confiança
em sua revelação e vê todas as coisas como são na realidade”. Para Berkhof a veracidade
está ligada á essência da divindade e é o que o torna confiável.
A verdade de Deus, registrada nas Escrituras Sagradas, está muito acima da nossa
compreensão finita, Por isso precisamos de sua graça para podermos entender algo dela.
Tudo o que concerne a Deus é vasto, grande, incomparável, além do nosso entendimento!
Contudo, ele é Fiel conosco e nunca se esqueceu ou falta com sua Palavra, sendo,
inclusive, fiel em iluminar o seu povo ao ler as Escrituras.

2.16. A Bondade de Deus

A bondade é outro dos atributos comunicáveis de Deus. Podemos definir a bondade


de Deus como a sua disposição favorável para com toda a sua criação. Todavia, a sua
bondade se manifesta de um modo particular àqueles que foram feitos à sua imagem e
semelhança.
Em Marcos 10:18 Jesus diz a um jovem rico: “Por que me chamas bom? Ninguém é
bom senão um só, que é Deus”. Segundo o entendimento de Jesus Cristo, a bondade era
um atributo e um título próprio da divindade. Somente Deus merecia o título de “bom”.
Por que Jesus disse que somente Deus é bom? Ele não se considerava Deus? Esse não é o
problema. O rico que se aproximou dEle não o considerava Deus, somente um “Rabi”.
Nenhum homem, na consideração de Jesus, merecia o título “bom” da forma como o moço
rico usou. Era como se Jesus tivesse dito a ele: “Se você me considera apenas um homem,
mesmo que Mestre, não posso aceitar este título qualificativo”. Aqui Jesus não negou a sua
divindade. Ele simplesmente reprovou o homem por chamá-lo de bom, ao achar que Jesus
fosse um simples mestre humano, quando este título só era devido a Deus.
A noção de bondade no mundo é diferente da noção que as Escrituras apre-sentam
com relação a Deus. E dito que um homem é bom porque ele é um homem santo, ou
porque é caridoso e liberal no gerenciamento dos seus bens. E provavelmente nesse
sentido que as Escrituras empregam a idéia de “bom” para o homem (veja Rm 5:7) em
contraste com o injusto. Mas Deus é bom no sentido de ter uma “inclinação para tratar
bem e generosamente as suas criaturas”. Deus é bondoso quando entra em relação com
suas criaturas, e então, tem prazer nas suas obras, e as beneficia. Essa sua bondade
independe de qualquer motivação nas suas próprias criaturas. Toda a bondade tem
nascedouro em si mesma, por isso tudo que Deus criou é bom (1Tm 4:4).
Por causa da bondade que lhe é essencial Ele faz o bem. Ele não pode deixar de fazer
o bem. Aliás, era isso o que Jesus fazia sempre (At 10:38).

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Deus é originalmente bom


Deus não é somente o maior dos seres, mas o melhor. Deus é originalmente bom em
si mesmo. A bondade de Deus permanece continuamente” (Sl 52:1). A “bondade” de Deus
tem que ver com a perfeição da Sua natureza: “...Deus é luz, e não há nele trevas
nenhumas” (1Jo 1:5). Há uma tão absoluta perfeição na natureza e no ser de Deus que
nada Lhe falta, nada nEle é defeituoso, e nada se Lhe pode acrescentar para melhorá-lO.
As criaturas podem ser boas, mas a sua bondade é comunicada, não essencial. Em Deus a
bondade é parte da sua natureza. Ninguém pode dissociar a bondade da noção de Deus.
Não há Deus sem esse atributo. Ele é bom essencialmente. Deus não depende de ninguém
para ter bondade. Ele a tem de si mesmo. Sua bondade não é derivada. A bondade que os
homens possuem lhes é comunicada, mas em Deus a bondade é essencialmente infinita.
Thomas Manton diz que Deus é o Sum Bem. “Ele é essencialmente bom, bom em Si
próprio, o que nada mais é; pois todas as criaturas só são boas pela participação e
comunicação da parte de Deus. Ele é essencialmente bom; não somente bom, mas é a
própria bondade: na criatura, a bondade é uma qualidade acrescentada; em Deus, é Sua
essência. Ele é infinitamente bom; na criatura a bondade é uma gota apenas, mas em Deus
há um oceano infinito ou um infinito ajuntamento de bondade. Ele é eterna e
imutavelmente bom, porquanto Ele não pode ser menos bom do que é; como não se pode
fazer nenhum acréscimo a Ele, assim também não se Lhe pode fazer nenhuma subtração”.
Deus é imutavelmente bom
A Sua bondade não muda, mesmo que os homens mudem de atitude para com Ele.
Como Deus é imutável na sua natureza, assim Ele o é nos Seus atributos. Deus não muda
de atitude para conosco em bondade, a menos que a manifestação de qualquer de suas
bênçãos seja condicional à obediência dos seus filhos. Mas mesmo quando seus filhos o
desobedecem, a sua atitude de repreensão é cheia de bondade. Deus não se mostra em ira
com seus filhos. Na hora de ira, Ele se lembra da sua misericórdia!
Deus, que é bom, não pode ter esta perfeição alterada. Os homens podem ser bons,
mas eles o serão por alguns momentos, porque o homem não tem o hábito de bondade;
mas a bondade do Senhor “dura para sempre” (Sl 52:1).
Deus é necessariamente bom
Nada é necessariamente bom, exceto Deus. Ele é necessariamente bom, como
necessariamente Ele é Deus. Ser bom não depende do exercício da sua vontade, mas a
manifestação da sua bondade depende dela.
Não era necessário para Deus criar o mundo; ele foi produto da sua vontade. Mas
quando Ele fez o mundo Ele manifestou toda a sua bondade nEle, porque Ele não poderia
ter feito nada mau. Tudo o que Ele fez foi produto de bondade. Ele não poderia criar o

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TEOLOGIA PRÓPRIA

mundo de outra maneira, porque seria contra a sua natureza. Ele é bondoso, e tudo
quanto faz está cheio de bondade. Por isso, após ter terminado a criação, Ele disse de si
para si mesmo: “E viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom” (Gn.1:31).
Desde a eternidade Deus é bom, muito embora Ele não tivesse, além de si mesmo, a
quem manifestar bondade. Isto é assim porque bondade é parte do seu ser (Sl 119:68;
145:7; 107:8, 15, 21, 31).

2.17. O Amor de Deus

Desde crianças que aprendemos que Deus é amor. As professoras da Escola


dominical nos ensinavam, as professoras da escola primária nos ensinavam, nossos pais
nos ensinavam, todos nos ensinaram que Deus é amor. Aliás, esse foi o único atributo de
Deus que aprendemos em toda a nossa vida de crentes, pelo menos a grande maioria
aprendeu assim na igreja de confissão arminiana. Hoje, porém, sabemos e entendemos
que Deus não é apenas amor, mas tem outros atributos perfeitos e eternos que compõem
a sua natureza, o seu caráter, a sua perfeição. Sabemos, por exemplo, que Deus é
onisciente, que Deus é onipotente, que Deus é gracioso, que Deus é misericordioso, mas
não vamos encontrar, na Bíblia inteira, essas definições da forma que pronunciamos.
Vamos encontrar sim, sobre a onipotência de Deus, sobre a sua onisciência, sobre a sua
graça. Afirmações, no entanto, sobre Deus, são poucas, limitadas, resumidas, restritas.
A Bíblia faz apenas três afirmações sobre a natureza de Deus e todas estão contidas
nos escritos do apóstolo João, uma no Evangelho de João e duas na sua primeira carta. A
primeira afirmação está em João 4:24 e diz: “Deus é espírito”. Essa frase foi pronunciada
por Jesus quando ensinava à samaritana de que a adoração a Deus não estava confinada a
um lugar específico, como se Deus tivesse um corpo e só pudesse receber adoração se
estivesse nesse lugar. Foi nessa ocasião que Jesus pronunciou o ensino sobre o culto
contínuo que todo crente deve prestar, independente de onde esteja, porque, disse Jesus:
Deus é espírito, e, entendemos que Jesus está a dizer que Deus está em todo lugar ao
mesmo tempo, vendo tudo e todos, sondando tudo e todos. A segunda afirmação está em
1 João 1:5, onde está escrito: “Deus é luz”. O apóstolo João fez essa declaração porque
surgiram certos cristãos influentes procedendo de acordo com um baixo padrão moral,
praticando todo tipo de transgressão e ainda dizendo que nada que faziam era pecado.
Quando olhamos o v.6 entendemos perfeitamente isso, quando o apóstolo disse que
manter comunhão com Deus e andar nas trevas é pura mentira, puro falso testemunho, e
o motivo que João apresenta para o seu argumento é que “Deus é luz”. Luz significa
santidade, pureza, baseadas no cumprimento da Lei de Deus. Treva significa perversão
moral e prática injusta, de acordo com a mesma Lei. O ponto central da de-claração de
João é que os que andam na luz procuram ser iguais a Deus no zelo pela justiça e

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obediência à sua Lei, afastando-se do pecado e tendo verdadeira repugnância por ele.
Aqueles, portanto, que dizem estar na luz, mas andam nas trevas, independente do que
digam de si mesmos, são exímios mentirosos. E, finalmente, a terceira declaração está em
1 João 4:8, onde diz: “Deus é amor”. Notem os irmãos que, antes de dizer que Deus é
amor, é dito que Deus é luz. E o que isso quer dizer? Quer dizer que o amor de Deus,
conforme aprendemos, está longe a milhas da verdade. Aprendemos errado! Aprendemos
que o amor de Deus era algo indulgente, cheio de benevolência, cheio de mansidão diante
dos erros, uma fraqueza amável, um sentimento enfermiço, modelado nas emoções
humanas, divorciado dos padrões morais, que era sempre bom, que não machucava
ninguém, que jamais mandaria pecadores ao juízo, que jamais trataria um filho seu com
vara, que faria vistas grossas ao pecado cometido por quem quer que fosse. Esse foi o
amor de Deus que nos ensinaram. Mas não é assim! Antes de ser amor, Deus é luz, e o seu
amor rejeita todo tipo de pecado, de injustiça.
É dessa forma que o leque do entendimento do amor de Deus começa a se abrir
diante de nós. Deus ama a si mesmo. Deus ama a justiça, Deus ama a sua justiça, o seu
juízo, Deus ama a Lei, Deus ama o seu Filho, Deus ama o seu povo. Estudar sobre o tema
do amor de Deus é entrar em terreno desconhecido para muitos de nós, e quanto mais
rápido entrarmos e mais longe irmos, tanto melhor para nós.
Quando estudamos a sabedoria de Deus vimos sobre sua mente; quando es-tudamos
sobre sua Palavra, aprendemos mais sobre sua boca; quando formos estudar sobre o seu
poder, veremos o seu braço, a sua mão, mas agora, estudando sobre o seu amor, vamos
ver o seu coração, e este solo é sagrado, esta terra é santa, precisamos que Deus nos
outorgue porção dobrada de sua graça para que possamos pisar nesse solo sem pecar. Há
uma ignorância generalizada do amor de Deus entre os próprios cristãos. Uma das
principais razões disso é que os nossos corações não se ocupam quase nada em considerar
o profundo amor de Deus. A verdade é que, quanto mais conhecemos o seu amor
(natureza, plenitude e bem-aventurança), tanto mais os nossos corações serão impelidos a
má-Lo.
O amor de Deus é uma outra maneira de Deus mostrar a sua bondade para com os
homens. Atualmente é muito necessário que expressemos uma idéia correta do amor de
Deus, especialmente quando nos círculos cristãos a frase que mais se lê estampada é:
“Sorria, Deus ama você!”. Precisamos estar alertas quanto as implicações errôneas deste
grande e precioso atributo de Deus.
Para alguns crentes este é o aspecto mais importante da bondade de Deus, o seu
amor. Esse atributo é tão exaltado que, na teologia de algumas pessoas, os seus outros
atributos ficam escondidos. Não é verdade que o amor seja o mais importante, mas é
certamente a maneira mais doce de Deus expressar a sua bondade, especialmente quando

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se trata da redenção de pecadores. Todavia, não podemos negligenciar o fato de que é o


seu amor o responsável pela restauração do seu relacionamento com os homens e destes
para com Ele, Se não fosse o seu amor jamais seríamos restaurados ao seu próprio favor e,
para sempre, estaríamos mortos em nossos pecados.

2.18. A Paciência de Deus

A paciência é uma outra forma de Deus expressar a sua bondade para com os
homens. Há vários termos usados na Bíblia como sinônimos de paciência. As
Escrituras afirmam abundantemente que:
 Deus é longânimo, e a longanimidade também é uma expressão da sua
bondade (Sl 103:8; Ex 34:6; 1Pe 3:20; 2Pe 3:15);
 Deus é tardio em irar-se, e essa atitude também é expressão da sua
bondade (Ne 9:17; Sl 145:8; Jl.2:13; Jn 4:2; Na 1:3).
Leiamos o registro das Escrituras: “Ou desprezas a riqueza de sua bondade, e
tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao
arrependimento?” (Rm 2:4).
Mas, infelizmente, muito pouco se tem dito sobre esta faceta do caráter de
Deus. Há muitas referências nas Escrituras sobre este aspecto encantador de nosso
grande Deus!
Pink define a paciência divina como “o poder de controle que Deus exerce sobre
si mesmo, fazendo com que ele próprio seja indulgente com o ímpio e que se
detenha por algum tempo em castigá-lo”. Berkhof define a paciência de Deus “como
aquele aspecto da sua bondade, em virtude da qual ele suporta o obstinado e o
malvado apesar de sua persistente desobediência”. Esta paciência é revelada no
adiamento do juízo merecido sobre o pecador.
Em contraste com os homens, que são irascíveis, que não têm controle sobre si
mesmos e que não perdoam facilmente as ofensas que lhes são feitas, Deus é
paciente e perdoador. Por que os homens se iram facilmente e não perdoam?
Porque eles não possuem a capacidade de controlar-se a si mesmos diante da
provocação. Mas com Deus é diferente. Ele se ira, mas tem poder sobre a sua
própria ira. Ele se domina porque um dos Seus atributos é o poder. Veja um
exemplo desta verdade em Nm 14:16-19 — “Não podendo o Senhor fazer entrar
este povo na terra que lhe prometeu com juramento, os matou no deserto. Agora,
pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo:
O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a

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transgressão, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos
filhos até à terceira e quarta geração.”
Analisemos esses versos: Moisés intercede diante de Deus pelo povo que está
peregrinando no deserto. E um povo rebelde que o Senhor “não pode deixar entrar
na terra” porque desobedeceu a Ele. Deus não pode deixar um povo desobediente
entrar em Seu repouso. Contudo, conhecendo a Deus, Moisés pede a manifestação
da sua força para que Ele seja paciente (longânimo) com o povo. A paciência, que é
o retardamento da ira, é um atributo que Deus exerce com o exercício do poder que
possui sobre si próprio, a fim de não despejar de imediato o seu furor contra os
transgressores da Sua lei. Esse poder é a causa de Sua paciência; e quando Deus adia
a manifestação da sua ira, Ele mostra gloriosamente o poder que tem em não
executar Sua ira de imediato. No texto acima Moisés pede não somente paciência
mas também o perdão para o povo, apelando para a sua misericórdia. Logo adiante
veremos a distinção entre paciência e misericórdia.
A paciência é um Atributo Essencial em Deus - As Escrituras dizem que Deus é o
“Deus de toda paciência” (Rm 15:5). Pode ser dito que a “paciência” é uma das
qualidades essenciais de Deus porque: (a) Paciência é o que Ele é. E uma de suas
perfeições, e Ele não pode ser o que é sem a Sua paciência; (b) Deus é o autor da
paciência da qual os homens são beneficiários; (c) Na paciência Ele serve de modelo
para nós (Cl 3:2; Ef 5:1).
Quando nos sentirmos desejosos de expressar a nossa ira contra alguém que
nos feriu, lembremo-nos do que Deus diz em Efésios 4:32 a 5:1.

2.19. A misericórdia de Deus

Uma outra palavra que expressa a bondade de Deus é misericórdia. De fato, Deus é
misericordioso porque é bom. O salmista diz: “Pois, tu, Senhor, és bom e compassivo;
abundante em benignidade para com todos os que o invocam” (Sl 86:5). Bondade e
misericórdia (Sl 23:6) estão intima-mente entrelaçadas. Por essa razão a misericórdia é
sempre resultado da bondade de Deus, Não há dúvida alguma a respeito dessa matéria. A
misericórdia está entrelaçada com outros atributos da bondade de Deus e, às vezes, é
confundida na sua essência com o amor ou com a graça no uso comum que as pessoas
fazem da palavra.
Quando estudamos sobre a misericórdia podemos ver Deus tendo com-paixão do
mundo caído, incluindo todas as criaturas, animadas e inanimadas. As músicas e as poesias
cristãs cantam as ternas misericórdias do Senhor. Dos atributos mais falados entre os

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crentes, talvez seja o primeiro da lista. Contudo não tem havido uma compreensão boa a
respeito do significado teológico de misericórdia.
A palavra “misericórdia” é latina e a idéia geral é “ter o coração na miséria”. Nessa
conotação ela é sinônima de “compaixão”, que é o sentimento que uma pessoa tem ao ver
o estado de infelicidade de outra. Ela tem em vista os necessitados que vivem numa
condição miserável, seja nos aspectos físicos ou espirituais. Berkhof chega a definir
misericórdia como “a bondade de Deus ou o amor de Deus para com os que se encontram
em miséria e angústia espirituais, sem levar em conta o fato de que eles a merecem.”

2.20. Relação Entre Misericórdia e Paciência

Poucos têm dado a devida atenção à paciência de Deus, talvez porque há uma
considerável dificuldade em diferenciar a paciência da misericórdia, pois ambas as facetas
estão muito próximas, e quase sempre aparecem juntas (SI 86:15).
A paciência de Deus está intimamente associada com a expressão da Sua
misericórdia. Por isso as Escrituras afirmam que “o Senhor é longânimo, e grande em
misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, ainda que não inocenta o
culpado...” (Nm 14:18).
É por causa da Sua paciência que todos os homens não são punidos imediatamente.
Nesse sentido a paciência associa-se com a misericórdia. A paciência e a misericórdia,
contudo, não são a mesma coisa. O que atribuímos a uma não podemos atribuir à outra. A
paciência é uma parte da bondade de Deus, uma espécie de manifestação da Sua
misericórdia, mas é diferente dela. A “lentidão” de Deus em irar-se dá-nos uma idéia de
misericórdia (Sl 145:8), mas a paciência difere da misericórdia. A paciência diz respeito à
criação como miserável e a misericórdia diz respeito à criação com referência à aplicação
da justiça.
No atributo da paciência aprendemos que Deus tem poder sobre si mesmo e controla
os seus “sentimentos” mostrando paciência para com o pecador. Não é errôneo dizer que
é neste ponto que a paciência de Deus difere da Sua misericórdia. Ainda que beneficie a
criatura, a paciência de Deus diz respeito principalmente a Ele, porque ela é a limitação
que Ele impôe sobre os seus próprios atos através de sua poderosa vontade, enquanto que
a Sua misericórdia termina inteiramente na sua criatura. Deus é misericordioso
pessoalmente para com o pecador; não porque ele se segura ou se controla não
expressando a Sua ira, mas porque as dívidas dos pecadores foram pagas na cruz, onde
exatamente a Sua ira é manifesta contra os pecados dos homens,

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2.21. Relação Entre Misericórdia e Juízo

Tg 2:13 diz: “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” Estes dois atributos de Deus são
incompatíveis se aplicados simultaneamente à mesma pessoa. É possível Deus ser
misericordioso e justo ao mesmo tempo, mas somente quando a misericórdia vem para
uma pessoa e outra toma o lugar dela na manifestação da sua justiça. Todavia, é
impossível a mesma pessoa receber as duas coisas simultaneamente porque esses
atributos se excluem. Se Deus é misericordioso, Ele deixa de punir; se Ele é justo Ele deve
punir. O texto de Hebreus 10:26-28, que trata dos que pecam deliberadamente
conhecendo a verdade, aponta que “sem misericórdia morre” por causa dos seus pecados.
Quando há juízo não é possível haver misericórdia. Sem misericórdia o pecador está
perdido. É exatamente por essa razão que Tiago esclarece que “o juízo é sem
misericórdia”. Quando Deus decide mostrar a sua justiça em juízo, não há o que se possa
fazer em favor do réu. Ele é condenado inapelavelmente. A única maneira do réu ser livre
da punição é quando Jesus Cristo o substitui, tomando a punição para si. E somente nesse
sentido que “a misericórdia triunfa sobre o juízo”.

2.22. Relação Entre Misericórdia e Graça

Como veremos adiante, a graça e a misericórdia são aspectos diferentes da mesma


bondade de Deus ou, como costumeiramente se diz, elas são os dois lados da mesma
moeda. Enquanto a graça, positivamente falando, é a concessão de favores aos pecadores
sem que estes mereçam, a misericórdia, negativamente falando, é Deus deixando de dar
ao pecador aquilo que ele realmente merece: a punição pelos seus pecados.
A graça contempla os seres humanos como pecadores culpados e condenados, ao
passo que a misericórdia os vê como miseráveis, necessitados e carentes do perdão.
Embora não seja fácil, à primeira consideração, perceber uma real diferença entre a
graça e a misericórdia de Deus, podemos compreendê-la se ponderarmos cuidadosamente
os Seus procedimentos para com os anjos que não caíram. Ele nunca exerceu misericórdia
para com eles, pois jamais tiveram qualquer necessidade dela, pois não pecaram, nem
ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia, eles são objetos da livre e soberana
graça de Deus. Primeiro, porque Deus os elegeu do seio de toda a raça Angélica (1Tm
5:21), Segundo, e em conseqüência da sua eleição, porque foram preservados da
apostasia, quando Satanás se rebelou e arrastou consigo um terço das hostes celestiais (Ap
12:4), Terceiro, tornando Cristo a Cabeça deles (Cl 2:10; 1Pe 3:22), meio pelo qual eles
permanecem eternamente seguros na santa condição em que foram criados. Quarto,
devido à exaltada posição que lhes foi atribuída: viver na presença imediata de Deus (Dn

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7:10), servi-lO constantemente em Seu templo celestial, receber dEle honrosas missões
(Hb 1:14). Isso é graça abundante para com eles, mas “misericórdia” não é.

2.23. A Graça de Deus

Deus é bondoso, Ele revela sua bondade na graça. Esta perfeição do caráter divino
que possui um caráter eminentemente salvador é exercitada somente em relação àqueles
que Deus amou de modo especial. Nem no Antigo Testamento e nem no Novo Testamento
a graça é mostrada à humanidade de um modo geral, muito menos às outras criaturas.
Nisto também a graça é distinta de misericórdia, porque esta é sobre “todas as suas obras”
(Sl 145:9) e aquela somente sobre os eleitos de Deus.
A graça divina é o soberano e salvador favor de Deus exercido na dádiva de bênçãos a
pessoas que não têm em si mérito nenhum, e pelas quais não se exige delas nenhuma
compensação. Não apenas isso é ainda mais; é o favor de Deus demonstrado a pessoas
que, não só não possuem merecimentos próprios, mas são totalmente merecedoras do
inferno. É completamente imerecida, não é procurada de modo nenhum e não é atraída
por nada que haja nos objetos aos quais é dada, por nada que deles provenha, e tampouco
pelos próprios objetos. A graça não pode ser comprada, nem obtida, nem conquistada pela
criatura. Se pudesse. deixaria de ser graça. Quando dizemos que uma coisa é “de graça”,
queremos dizer que seu recebedor não tem direitos sobre ela, que de maneira nenhuma
ela lhe era devida. Chega-lhe como pura caridade e, a princípio, não solicitada nem
desejada.
A mais completa exposição da maravilhosa graça de Deus acha-se nas epístolas do
apóstolo Paulo. Em seus escritos “graça” está em direta oposição a obras e merecimento,
todas as obras e todo merecimento, de qualquer espécie ou grau. Vê-se isto com muita
clareza em Romanos 11:6, “E se é por graça, já não é pelas obras: de outra maneira, a
graça já não é graça. Se é por obras, já não é pela graça; de outra maneira, as obras já não
são obras”. É tão impossível unir a graça e as obras, como o é unir óleo e água. “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós: é dom de Deus. Não vem das
obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9). O absoluto favor de Deus não pode
harmonizar-se com o mérito humano, mais do que o óleo e a água fundir-se num só
elemento. Ver Rm 4:4,5.

2.24. A Santidade de Deus

Este é o grande atributo moral de Deus. Apalavra hebraica para “santo” é qadosh,
que significa cortar, separar. O erudito do Antigo Testamento, Eichrodt, disse que santo é
aquilo que é “separado, retirado do uso comum”. Nesse sentido, todas as coisas que foram
usadas para um uso exclusivo são consideradas santas. Por exemplo: as vestes sacerdotais

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eram santas (Ex 28:2), o lugar específico para a preparação do sacrifício era santo (Ex
29:31), os vasos usados no templo eram santos (1Re 8:4), etc. Tudo o que era usado de um
modo específico para Deus era considerado santo. Estes objetos e instrumentos não
possuem qualquer conotação moral nem a idéia de majestade de que falaremos adiante.
Apenas eles mostram que foram usados para um serviço especial, separados. Todavia, este
mesmo raciocínio não pode ser dito de Deus. Deus é separado de uma forma diferente, Ele
é separado de toda forma possível de existência criada, porque Ele está além e sobre cada
uma delas, e também por causa de sua natureza majestosa. Ele é separado dos anjos, dos
homens e, especialmente, dos pecadores (neste último caso é uma separação moral). A
palavra qadosh é uma das palavras mais importantes da religião do Antigo Testamento, e é
aplicada a Deus. A mesma idéia é transportada para a religião do Novo Testamento, com a
palavra hagios, que é traduzida como “santo”. Portanto, santidade não tem simplesmente
a conotação de qualidade moral ou ética.
A santidade de Deus é o atributo que lhe faz separado de tudo quanto é pecado,
errado, injusto, profano, impuro, e que, ao mesmo tempo, dedica-se a buscar a honra e a
glória devidas à sua pessoa. A palavra ‘santo’ é usada para descrever as duas partes do
tebernáculo, por exemplo. O tebernáculo era um local separado do mal, santo, era uma
tenda, uma barraca de camping, diríamos hoje, e possuía dois ambientes: o primeiro
chamava-se ‘Lugar Santo’, e o segundo ambiente, separado do primeiro por um espesso
véu, chamava-se ‘Santo dos Santos’, onde ficava a arca da aliança e era o lugar mais
separado do mal e do pecado, absolutamente consagrado ao culto do Senhor. Está escrito:
“o véu vos fará separação entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos” (Ex 26:33). Era nesse
lugar, o Santo dos Santos, no interior do tebernáculo, que Deus habitava. Davi, referindo-
se ao templo que havia de ser edificado no monte Sião disse: “Quem Senhor, habitará no
teu tebernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? (Sl 15:1)”. Após a criação, Deus
estabeleceu o elemento que caracterizaria a sua santidade, o sábado: “E abençoou Deus o
dia sétimo e o santificou” (Gn 2:3). Literalmente, Deus consagrou esse dia. Esse dia foi
santificado porque dele foram excluídas todas as atividades comuns do mundo, sendo
dedicado exclusivamente ao culto de Deus. Da mesma forma, Arão e seus filhos deviam ser
santificados (consagrados), separados das atividades comuns, longe do mal e do pecado do
mundo, para servirem aos turnos dos cultos que se prestavam a Deus (Ex 30:25-33).
A santidade de Deus é aquilo que o seu povo deve imitar, “Santos sereis”. Quando
tirou o povo do Egito e ordenou-lhe que obedecesse à sua voz, Ele disse: “Vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19:4-6). Deus queria uma nação afastada do mal,
separada do pecado, santa. Cada israelita deveria ser um sacerdote, tão puro, tão
separado como o eram os sacerdotes instituídos. Israel falhou e Deus transferiu esse
privilégio para a sua Igreja, por isso está escrito: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as

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virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9). É assim
que os crentes do período do Novo Testamento devem seguir “a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14) e saber que a disciplina de
Deus vem para que sejamos “participantes da sua santidade” (Hb 12:10). O padrão de
todas as ações de Deus é a santidade. Tudo aquilo que Ele faz está rigorosamente de
acordo com a sua santidade. Paulo disse que a Lei é santa (Rm 7:12). A lei de Deus proíbe o
pecado em todas as suas variações, desde o mais grosseiro até o mais refinado, desde a
contaminação do corpo como os intentos da mente, desde o ato abertamente praticado
até o desejo secreto no coração. Entendemos o motivo pelo qual Davi gritava e
perguntava: “Quem subirá ao monte do Senhor?” O que temos a dizer de nós mesmos
diante da santidade de Deus? A santidade de Deus não conhece o pecado, Deus odeia o
pecado, Deus quer que sejamos separados do pecado, Deus trabalha para que o seu povo
seja separado do pecado, e Ele vai conseguir o seu intento, infalivelmente. Todos os
obstáculos serão removidos, sem dor ou com dor. A advertência é clara, 2Co 6:14-7:1.

2.25. A Justiça de Deus

Este atributo moral está diretamente vinculado e dependente do conceito de


santidade em Deus. Nenhuma idéia clara sobre a justiça de Deus haverá sem que haja uma
correta noção de sua santidade. A justiça de Deus é a característica da sua natureza que o
leva a manter a idéia da sua santidade. A justiça preserva intacta a noção de que Deus é
absolutamente santo e que não pode ser manchado ou provocado pelos seres humanos e
angélicos sem que haja uma resposta punitiva da sua parte. A justiça de Deus é a fase da
santidade de Deus que é vista no seu tratamento do obediente e do desobediente, ambos
su-jeitos do seu domínio. Nesse atributo Deus dá a cada um o que é devido. A noção de
débito ou obrigação necessariamente entra na consideração deste atributo.
A lei de Deus reflete a sua santidade. Quando a lei é infringida, a santidade de Deus o
obriga a manifestar-se justamente em ira. O pecador está em dívida com a lei e, portanto,
deve receber a punição dela. A idéia fundamental de justiça é a da estrita adesão à lei. Os
homens tem que viver de conformidade com a lei, que é a expressão da santidade de
Deus, do seu caráter. Do contrário, eles recebem a devida retribuição da parte de Deus.
Podemos considerar a justiça de Deus de duas maneiras:
1. Justiça Absoluta - Esta é definida por Berkhof como “aquela retidão da natureza
divina, em virtude da qual Deus é infinitamente justo em Si mesmo”. Esta é a
justiça inerente a Deus. Ainda que ela nunca se manifeste e os homens nunca a
percebam, este aspecto é muito importante porque define o aspecto da justiça
relativa, logo abaixo mencionada. A justiça absoluta vai definir o modus operandi

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de Deus no trato com as suas criaturas. A justiça absoluta de Deus é a que está
intimamente ligada à sua santidade.
2. Justiça Relativa - Berkhof define-a como “aquela perfeição de Deus por meio da
qual ele se mantém contra toda a violação da sua santidade e deixa mani-festo
em todos os sentidos que ele é santo”. É a justiça que se manifesta no dar a cada
um conforme os seus merecimentos. A justiça inerente de Deus (a ab-soluta) é a
base natural de sua justiça relativa ao tratar com as suas criaturas.

2.26. Distinções Aplicadas à Justiça de Deus

1. Justiça Governativa - É aquela que Deus impõe como governante dos bons e
maus. Ele é o legislador e põe os homens debaixo de suas leis. Em virtude disto,
ele institui o governo moral do mundo, impõe uma lei justa sobre os homens, com
promessas de recompensa para o obediente, e advertências de castigo para os
transgressores. No Antigo Testamento freqüentemente Deus aparece como sendo
o legislador de Israel (Is 33:22) e de todos os outros homens (Tg 4:12). Nesta
função de legislador, Deus é visto como o governador moral do universo.
2. Justiça Distributiva - Está estreitamente relacionada à justiça governativa. Esta
expressão é usada para designar a retidão de Deus na execução da lei, e se
relaciona com a distribuição das recompensas aos obedientes e dos castigos aos
desobedientes e rebeldes (Is.3:10, 11; Rm.2:5-7; 1Pe.1:17).
3. Justiça Remunerativa - É a recompensa distribuída aos seres racionais, homens e
anjos, em virtude daquilo que eles fazem de bom. As bênçãos da justiça
remunerativa são sempre condicionais - É muito impor-tante observar que a
recompensa que Deus concede aos que fazem o bem sempre está relacionada à
observância do pacto. Todas as bênçãos pronunciadas por Deus são
condicionadas à obediência às leis estatuídas na relação do pacto. Verifique o
exemplo Dt 7:12-14a — “Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardares e
cumprires, o Senhor, teu Deus, te guardará a aliança e a misericórdia prometida
sob juramento a teus pais; ele te amará e te abençoará e te fará multiplicar;
também abençoará os teus filhos, e o fruto da tua terra, o teu cereal, o teu vinho
e o teu azeite, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas, na terra que, sob
juramento a teus pais, prometeu dar-te. Bendito serás mais do que todos os
povos...”
4. Justiça Retributiva - É aquela que se refere à aplicação das penalidades. É
também chamada “justiça punitiva”. Está vinculada diretamente à manifestação

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da ira divina. Ainda que não houvesse lugar para ela antes da queda, todavia, ela
tem um lugar proeminente e necessário num mundo cheio de pecaminosidade
(Rm 1:32; 2:8; 12:19; 2Ts 1:6-9). Até os pagãos têm noção da justiça retributiva de
Deus (At 28:4).
Por causa da natureza do próprio Deus, a justiça divina está original e
necessariamente obrigada a castigar o mal, mas não a premiar o bem. Deus não precisou
entrar num pacto para castigar o mal, como o fez para recompensar a santidade. O
pagamento no caso da transgressão não é pactual, mas necessário, por causa da natureza
divina.
A justiça retributiva é um atributo cujo exercício é necessário por causa da
transgressão da lei moral. Deus não pode “baixar” uma lei, estabelecer uma penalidade,
ameaçar penalizar e, todavia, não fazer nada no caso de desobediência. A veracidade e a
santidade de Deus proíbem tal atitude (Ex 34:7; Hb 6:18). A própria natureza santa de Deus
não permite que Ele deixe o pecador sem punição.

2.27. A Vontade de Deus

Como um ser pessoal e moral que é, Deus possui uma vontade. A sua inteligência
exige que haja uma faculdade que o leve à ação, que é a vontade. Assim como sua
inteligência e conhecimento são infinitos, também é a sua vontade. Esta é uma das suas
perfeições infinitas e pertence à sua natureza essencial. A sua vontade tem a ver com a sua
natureza moral e com a sua soberania. Porque Ele é santo, prescreve as suas leis para que
sejam cumpridas. Essa é uma das expressões da sua vontade; porque Ele é soberano, faz o
que lhe apraz na vida dos seres humanos e no universo. Este é um outro aspecto da sua
vontade. Todavia, a expressão “vontade de Deus” é muito mais complexa do que estas
duas expressões podem sugerir.
A expressão "vontade de Deus" aparece muitas vezes na Escritura, mas nem sempre
ela tem o mesmo significado. A Sua vontade não tem o mesmo sentido, não é expressa da
mesma maneira, e nem com a mesma energia do Seu ser. A palavra "vontade" com relação
a Deus, tem várias conotações na Escritura. Ela pode denotar:
 A completa natureza moral de Deus incluindo Seus atributos como: amor,
santidade, justiça, etc. Neste caso a palavra vontade indica a constituição divina.
 A faculdade de determinação própria, isto é, a capacidade de determinar-se para
uma ação, ou para formar um plano.
 O produto desta atividade, isto é, o plano ou o propósito predeterminado.
 A regra de vida traçada para suas criaturas racionais.

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 Expressão do prazer ou do deleite de Deus.


O que vamos estudar estará relacionado com as letras b, d e e, procurando avaliar as
distinções aplicadas à vontade de Deus.

2.28. Características da Vontade de Deus

A Vontade de Deus é essencial nEle


A vontade de Deus nunca pode ser separada dEle. Deus não existe sem a sua vontade
pelo fato de ele ser um ser pessoal inteligente e sábio, Todos os cristãos sabem que Deus
tem uma existência triüna; isto é, Ele subsiste em três pessoas, mas não possui três
vontades diferentes, porque a vontade é característica da essência ou natureza divina, não
de sua subsistência pessoal. É verdade que todas as pessoas possuem uma vontade, mas
as pessoas do ser divino não possuem vontades diferentes, porque a vontade é a
expressão da natureza, que é a mesma, nas três pessoas. Assim como a mente de Deus é
uma (seja a do Pai, do Filho ou do Espírito), assim também é a sua vontade. Mente e
vontade são próprias da natureza divina e numericamente são uma e a mesma nas três
pessoas do Ser divino,
Diferentemente, Jesus Cristo, o Verbo encarnado, possui duas vontades, cada uma
segundo a sua natureza. Ele possui uma vontade humana e outra divina. Portanto, porque
Ele tem duas naturezas, e a vontade é própria da natureza, ele também tem duas
vontades. Ora podemos perceber nEle uma vontade, ora outra. Mas como a natureza do
ser divino (que é triúno) é uma só, Ele possui somente uma vontade. O que é a vontade do
Filho (segundo a sua natureza divina) é a vontade do Pai e a do Espírito.
A vontade de Deus é eterna
Se Deus é um ser eterno, tudo o que se relaciona aos seus atributos também é
eterno. A vontade de Deus está relacionada ao seu conhecimento. Tudo o que Deus
prescreve para que o homem faça foi formulado na sua mente eterna; tudo o que Deus faz
na história foi determinado na eternidade. Sua vontade apenas é executada na história do
mundo, mas tudo o que há no mundo, que é produto de sua vontade, foi arquitetado
antes do tempo existir, “porque ele faz todas estas cousas conhecidas desde séculos” (At
15:18). A sua presciência, isto é, o conhecimento antecipado que ele possui de todas as
coisas, tem sua origem na sua vontade decretiva, que é determinada antes de haver
mundo, porque os seus decretos são eternos. Se o seu conhecimento é eterno, certamente
é porque a sua vontade é eterna.
A vontade de Deus é poderosa
A vontade de Deus não pode ser resistida. Ela sempre é vencedora por causa do seu
poder. Há uma ilustração bem clara sobre este assunto, que está registrada em Atos 16:6-

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10. Paulo e Timóteo estavam querendo cumprir a vontade preceptiva de Deus de pregar o
evangelho a toda criatura, como era a ordem de Jesus Cristo. Então, eles resolveram ir
para a Ásia. No entanto, o texto de Lucas nos informa que eles foram “impedidos pelo
Espírito de pregar a palavra na Ásia” (v.6). Tentaram, então, ir para um outro lugar. O verso
7 nos informa que eles “tentavam ir para Bitínia”, mas outra vez o “Espírito de Jesus não o
permitiu” (v.7). Deus impediu que eles executassem os seus próprios planos porque é o
seu plano divino que está em primeiro lugar. Deus queria que eles fossem para a
Macedônia, e assim o fizeram, “concluindo que Deus os havia chamado para lhes anunciar
o evangelho” (v. 10).
A vontade soberana de Deus é poderosa e nenhum ser humano pode contrariá-la,
nem no caso de querer fazer o que é certo, como aconteceu com Paulo e Timóteo nos
versos acima. Somente foi feito aquilo que era a vontade do Senhor. Esta, por ser
soberana, prevalece sobre a vontade dos homens.
A vontade de Deus é imutável
A imutabilidade da vontade divina está fundada na imutabilidade do Seu ser. Nada da
vontade de Deus é mudado: nem os seus decretos nem as suas prescrições para os
homens, nem a sua vontade secreta nem a revelada. Porque Deus não muda, tudo o que é
essencial nEle não muda também. Portanto, se a vontade é essencial nEle, a sua vontade
não pode mudar.
Devemos crer que a vontade decretiva de Deus é imutável porque está escrito na
Palavra: “Por isso Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa
a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento” (Hb 6:17). Deus não volta
atrás nunca na sua vontade decretiva, pois ela é o fundamento de toda a história humana
que vem sendo realizada e já possuí o seu clímax previsto e anunciado pelas Escrituras.
Nada do que Deus decidiu fazer vai mudar. Ninguém pode fazer Deus voltar atrás ou
impedi-lo de concretizar os seus propósitos.
Devemos crer que a vontade preceptiva de Deus também é imutável porque os seus
preceitos permanecem para sempre. O salmista diz que “para sempre, ó Senhor, está
firmada a tua palavra no céu” (Sl119:89). Isto significa que ela é perene e que não se altera
nunca, pois o céu, nessa conotação, tem a idéia de ser eterno. Portanto, não é sem razão
que Jesus disse: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”.
Este texto significa que o cosmos e o nosso planeta, na forma em que existem, deixarão de
existir, mas não os preceitos de Deus. Pedro, então, pensando na imutabilidade das
palavras de Deus, diz: “Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da
erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente”
(1Pe 1:24-25). Essa é a imutabilidade dos preceitos de Deus, porque “essa é a palavra que
vos foi evangelizada” (1Pe 1:25b). Estes preceitos de Deus não são variáveis de acordo com

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o tempo ou a cultura de um povo. As leis de Deus permanecem para sempre as mesmas.


Elas não envelhecem como tempo e nem perdem a sua aplicabilidade em qualquer época.
O que é verdade para os homens numa época o é em qualquer outra.
Se Deus mudasse a sua vontade, seja a decretiva ou a preceptiva, ele a mudaria para
melhor ou para pior. Essa conotação de melhora ou piora e im-possível no ser divino,
porque revelaria imperfeição e falta de sabedoria nele.
A vontade de Deus é eficaz
Esta característica se aplica somente à vontade decretiva, de propósito ou secreta de
Deus. Nunca essa vontade é ineficaz. Ele sempre realiza a sua vontade, direta ou
indiretamente. Algumas expressões da sua vontade decretiva são realizadas de maneira
imediata, isto é, sem o uso de meios. A criação do universo e a criação da vida espiritual (a
regeneração) nos seres caídos são dois exemplos. Ninguém pode ir contra uma ação
imediata de Deus, pois essa vontade criadora e recriadora são atos poderosos de Deus que
independem dos seres humanos, ainda que estes sejam beneficiários delas, A primeira
obra tornou possível a vida natural dos seres humanos; a segunda tornou possível a vida
divina neles.
Is 14:24,27 diz: “Jurou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Como pensei. assim sucederá,
e como determinei, assim se efetuará.., Porque o Senhor dos Exércitos o determinou;
quem, pois, o invalidará? À sua mão está estendida: quem, pois, a fará voltar atrás?”
A vontade decretiva de Deus, como os versos acima demonstram, não pode ser
contrariada por ninguém. Deus sempre realiza os seus propósitos de forma que sempre faz
como lhe agrada e lhe apraz. O seu conselho sempre permanece de pé e sua vontade
sempre prevalece. Do contrário, Deus não poderia ser chamado de Todo-Poderoso. Porque
Deus é onipotente, sua vontade é sempre eficaz. Se uma outra vontade pudesse se opor à
dEle, essa outra vontade seria superior à primeira e, nesse caso, Deus ficaria impedido por
essa vontade, o que contrariaria fortemente a noção de um Deus forte.
A vontade de Deus é nascida somente nEle
A vontade de Deus, seja decretiva ou preceptiva, é originada somente nele. Nada fora
de Deus origina essa vontade. Se houvesse algo maior do que Ele ou anterior a Ele, então
se poderia pensar em algo mais excelente do que Ele. Mas Deus é independente e sua
vontade também. Nada do que Ele deseja, planeja e decide fazer tem os seus motivos fora
dEle. Nada do que Deus planeja e decide fazer no mundo tem a sua razão no mundo ou
nos homens. Deus faz a sua vontade no mundo sempre com motivos nascidos dentro do
seu próprio ser. Se Deus planejou criar o mundo foi decisão eminentemente sua. Ninguém
lhe sugeriu essa obra. Se Deus decidiu salvar pecadores foi com motivo nascido na sua
bondade. Nada do que Deus fez pelo homem teve a sua razão no homem. A vontade de

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TEOLOGIA PRÓPRIA

Deus é independente, sendo, portanto, nascida somente nEle. Toda a causa de sua
vontade está no seu ser, nunca fora dEle. É por isso que a sua vontade é soberana.
Mesmo as prescrições para os homens, que são a sua vontade preceptiva, tem
nascedouro na sua mente santa e amorosa. Não há qualquer sugestão de que os seus
preceitos sejam baseados em qualquer mente humana ou angélica. Porque Ele é santo,
seus preceitos são santos; porque Ele é bondoso, os seus preceitos são justos e bons,
cheios de amor e misericórdia. Toda a sua vontade, seja ela qual for, é nascida dEle e nEle,
A vontade de Deus é livre e soberana
Tudo o que existe fora do ser divino é produto de sua vontade. Deus não resolveu ser
o que é. Todavia, todas as obras de Deus, e o seu relacionamento com elas, é produto da
sua vontade. Todas as coisas existem por causa da vontade de Deus. Os seres celestiais,
que são criaturas de Deus, cantam a seguinte canção, numa atitude de adoração: “Tu és
digno, Senhor, e Deus nosso, de receber a glória, a honra e poder, porque todas as cousas
tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.” (Ap 4:11).
Tudo o que existe fora do ser de Deus tem a sua existência na vontade de Deus. Deus
não resolveu ser o que é, mas tudo o que ele fez é produto da sua vontade livre e
soberana.
A vontade livre e soberana de Deus também se manifesta nas obras da sua
providência. Nela estão os eventos grandes e os pequenos.
Com respeito aos grandes atos dos homens, podemos perceber na vida de
Nabucodonosor, o poderoso e orgulhoso rei da Babilônia, que foi humilhado em sua
dignidade, como homem e como monarca, passando a se alimentar como uma fera do
campo e vivendo como elas (Dn 4:31-34), por causa da vontade soberana de Deus que agiu
sobre a sua arrogância, após ele ter exercido o seu poder maligno sobre Judá. Observe o
que Nabucodonosor disse a respeito dos homens orgulhosos, depois dele ter sido
humilhado pela poderosa mão de Deus: “Todos os moradores da terra são por ele
reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os
moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn
4:35).
Os maiores homens do mundo são considerados como pó diante da vontade
soberana de Deus que age de uma maneira providencial, para cumprir os seus propósitos
no mundo.
Com respeito aos eventos pequenos, percebemos que até mesmo a morte de um
pardal (Mt 10:29) ou a contagem dos fios de cabelo (Mt 10:30) não escapam da ação
providente da vontade livre e soberana de Deus.

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2.29. O Poder de Deus

A soberania de Deus não somente encontra expressão na vontade divina, mas


também na sua onipotência, ou no poder de executar a sua vontade. Esses dois atributos
estão intimamente ligados. A vontade de Deus é soberana porque também o seu poder é
soberano. Um Deus que não pode fazer o que determina, e que não pode levar a cabo o
que propõe, não pode ser verdadeiramente Deus. Deus tem vontade poderosa para
resolver aquilo que lhe parece bom, como também poder para a sua execução.
A doutrina da onipotência divina precisa ser definida o mais corretamente possível.
Quando se fala em poder de Deus, logo nos lembramos de sua autoridade. Contudo, essas
duas coisas não são necessariamente iguais. Como conhecimento e sabedoria estão
intimamente ligados, mas possuem diferenças, assim também acontece com poder e
autoridade.
O poder de Deus é a sua capacidade de fazer acontecer aquilo que deseja e
determina que aconteça, seja na área física, moral ou espiritual. E a capacidade de ação
onipotente que esteja de acordo com a sua vontade. Contudo, poder não significa um ato,
mas a capacidade de transformar uma idéia da sua mente em um ato. O poder de Deus
executa o conhecimento e a sabedoria de Deus.
A autoridade de Deus é o seu direito de agir poderosamente em todas as coisas,
como lhe apraz. A autoridade de Deus é baseada naquilo que ele é, isto é, nos seus
atributos essenciais, entre os quais está o seu poder soberano.

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3- A EXISTÊNCIA E O SER DE DEUS


3.1. A Existência de Deus

Uma primeira coisa a ser notada é que a Bíblia não se preocupa em tentar provar que
Deus existe. A Bíblia já pressupõe que uma pessoa de sã consciência, não negará a
existência do Ser criador, e que a criação é um testemunho incontestável dEle (Gn. 1:1; Sl.
19: 1-2; 14:1; Rm. 1: 18-20).

3.2. Provas Tradicionais da Existência de Deus

Durante a história algumas pessoas se viram compelidas a desenvolver argumentos


racionais para explicar a existência de Deus, fazendo frente aos incrédulos. Os argumentos
mais conhecidos são:
Argumento Ontológico. Este argumento foi apresentado em várias formas por
Anselmo, Descartes, Samuel Clark, e outros. Foi apresentado em sua mais perfeita forma
por Anselmo. Este argumenta que o homem tem a ideia de um ser absolutamente
perfeito; que a existência é atributo de perfeição; e que, portanto, um ser absolutamente
perfeito tem que existir. Mas é evidente que não podemos tirar uma conclusão quanto à
existência real partindo de um pensamento abstrato. O fato de que temos uma ideia de
Deus ainda não prova a Sua existência objetiva. Além disto, este argumento pressupõe
tacitamente como já existente na mente humana o próprio conhecimento da existência de
Deus que teria que derivar de uma demonstração lógica. Kant declarou, com ênfase,
insustentável este argumento, mas Hegel o aclamou como um grande argumento em favor
da existência de Deus. Alguns idealistas modernos sugeriram que ele poderia ser proposto
de forma um tanto diferente, como a que Hocking chamou, “O registro da experiência”.
Em virtude podemos dizer: “Tenho ideia de Deus: portanto, tenho experiência de Deus”.
Argumento Cosmológico. Este argumento tem aparecido em diversas formas. Em
geral se apresenta como segue: Cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa
adequada; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa adequada, isto é, uma
causa indefinidamente grande. Contudo, o argumento não produz convicção, em geral.
Hume questionou a própria lei de causa e efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe
tem uma causa adequada, isto se aplica também a Deus, e, assim, somos suposição de que
o cosmo teve uma cauda única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a
existência de Deus. Esta dificuldade levou a uma construção ligeiramente diversa do
argumento como, por exemplo, a que B.P.Bowne fez. O universo material aparece como
sistema interativo e, portanto, como uma unidade que consiste de várias partes. Daí, deve

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haver um Agente Integrante que veicule a interação das várias partes ou constitua a base
dinâmica da existência delas.
Argumento Teleológico. Este argumento também é causal e, na verdade, é apenas
uma extensão do imediatamente anterior. Pode ser exposto da seguinte forma: Em toda
parte o mundo revela inteligência, ordem, harmonia e propósito, e assim implica a
existência de um ser inteligente e com propósito, apropriado para a produção de um
mundo como este. Kant considera este argumento o melhor dos três que mencionamos,
mas alega que ele não prova a existência de Deus, nem de um criador, mas somente a de
um grande arquiteto que modelou o mundo. É superior ao argumento cosmológico no
sentido de que explicita aquilo que não é firmado no anterior, a saber, que o mundo
contém evidências de inteligência e propósito. Não se segue necessariamente que este ser
é o Criador do mundo. “A prova teológica”. Diz Wright.1 “indica apenas a provável
existência de uma mente que, ao menos em considerável medida, controla o processo do
mundo, suficiente para explicar a quantidade de teleologia que nele transparece”. Hegel
considerava este argumento válido, mas o tratava como um argumento subordinado. Os
teólogos sociais dos nossos dias rejeitam-no, juntamente com todos os outros argumentos,
como puro refugo, mas os neoteístas o aceitam.
Argumento Moral. Como os outros argumentos, este também assumiu diferentes
formas. Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e deste deferiu a
existência de alguém que, como legislador e juiz, tem absoluto direito de dominar o
homem. Em sua opinião, este argumento é muito superior a qualquer dos outros. É o
argumento em que se apoia principalmente, em sua tentativa de provar a existência de
Deus. Esta pode ser uma das razões pelas quais este argumento é mais geralmente
reconhecido do que qualquer outro, embora nem sempre com a mesma formulação.
Alguns argumentam baseados na desigualdade muitas vezes observada entre a conduta
moral dos homens e a prosperidade que eles gozam na vida presente, e acham que isso
requer um ajustamento no futuro que, por sua vez, exige um árbitro justo. A teologia
moderna também o usa amplamente, em especial na forma de que o reconhecimento que
o homem tem do Sumo Bem e a sua busca de uma ideal moral exigem e necessitam a
existência de um ser santo e justo, não torna obrigatória a crença em um Deus, em um
Criador ou em um Ser de infinitas perfeições.
Argumento Histórico. Em geral este argumento toma a seguinte forma: Entre todos
os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores.
Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a
natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isto só pode achar sua
explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso. Todavia, em
resposta a este argumento, pode-se dizer que este fenômeno universal pode ter-se
originado num erro ou numa compreensão errônea de um dos primitivos progenitores da

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raça humana, e que o culto religioso referido aparece com mais vigor entre as raças
primitivas e desaparece à medida que elas se tornam civilizadas.
Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se assinalar antes de tudo que os crentes
não precisam deles. Sua convicção a respeito da existência de Deus não depende deles,
mas, sim, da confiante aceitação da auto-revelação de Deus na Escritura. Se muitos em
nossos dias estão querendo firmar sua fé na existência de Deus nesses argumentos
racionais, isto se deve em grande medida ao fato de que eles se negam a aceitar o
testemunho da palavra de Deus. Além disso, ao usar estes argumentos na tentativa de
convencer pessoas incrédulas, será bom ter em mente que de nenhum que nenhum deles
se pode dizer que transmite convicção absoluta. Ninguém fez mais para desacreditá-los
que Kant. Desde o tempo dele, muitos filósofos e teólogos os têm descartado como
completamente inúteis, mas hoje os referidos argumentos estão recuperando apoio e o
seu número está crescendo. E o fato de que em nossos dias tanta gente acha neles
indicações satisfatórias da existência de Deus, parece indicar que eles não são
inteiramente vazios de valor. Têm algum valor para os próprios crentes, mas devem ser
denominados testimonia, e não argumentos. Eles são importantes como interpretações da
revelação geral de Deus e como elementos que demonstram o caráter razoável da fé em
um ser divino. Além disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com os
adversários. Embora não provem a existência de Deus além da possibilidade de dúvida e a
ponto de obrigar o assentimento, podem ser elaborados de maneira que estabeleçam uma
forte probabilidade e, por isso, poderão silenciar muitos incrédulos.

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4- OS NOMES DE DEUS
Nós conhecemos Deus por “Deus”, mas será que é assim que Ele é chamado na
Bíblia? O nome de Deus é Jeová como dizem os “Testemunhas de Jeová”? Nesta seção nós
teremos a oportunidade de ver que o Senhor nosso Deus é muito grande para ser contido
em um só nome. As Escrituras do Antigo Testamento nos apresenta vários nomes pelos
quais o Senhor é chamado. E estes nomes sendo conhecidos nos fazem compreender mais
acerca do agir de Deus.
Dividiremos esta seção em: nomes Genéricos e nomes Específicos de Deus.

4.1. No Antigo Testamento

A. Os Nomes Genéricos. El, El Elyom, Elohim. Estes nomes são chamados genéricos
porque são também aplicados a divindades falsas no A.T. Isto acontece por causa da
língua; povos de uma mesma língua chamam seus deuses pelos mesmos nomes.
 El (Gn. 33:20). O Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon nos dá para esta palavra a
significação de: forte, poderoso, poder, força (Gn. 31: 29; Is. 9:5; Ez. 31: 11). E diz
que a palavra é usada em geral para nome do Deus do céu, mas pode ser também
aplicada a ídolos (p.ex. Sl. 81:10; Dn. 11: 36).
 Elohim (Gn. 1:1). Esta palavra pode ser o plural do nome divino El, que
provavelmente deriva da raiz ‘wl, com o significado de preeminência. Alguns
autores dizem que esta palavra é o plural de Eloah. É usado também para designar
uma divindade, uma aparição divina (1Sm. 28:13), ou homens com autoridade (Êx.
21: 6; Sl. 8:5; 82: 6). Com o artigo definido significa o Deus único e verdadeiro (1Rs.
18: 21, 37).
 El Elyom (Gn. 14: 19-20, Nm. 24:6; Is. 14:14) Significa aquele que é sublime,
exaltado.
B. Os Nomes Específicos. Adonay, El-Shaday, Iahweh. Estes são nomes que nas
Escrituras aparecem aplicados somente ao Deus verdadeiro.
 Adonay (Gn. 18: 3; Is. 3: 18; 6:1). Significa o Senhor; o Soberano, a quem tudo está
sujeito, e com quem o ser humano se relaciona como servo.
 El-Shaday (Gn 17:1; Ex. 6:3). Descreve Deus como o possuidor de todo poder na
terra e no céu. A natureza, a criação, tudo está sob seu controle.
 IHWH (‫( )יהוה‬Ex. 6:3). Este é o nome que mais vezes aparece na Bíblia aplicado a
Deus (6.828 vezes na Bíblia Hebraica de Kittel e na Bíblia Hebraica Stuttgartensia).

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O hebraico bíblico do A.T. é composto apenas de consoantes não tendo vogais, e


YHWH são as letras hebraicas que compõem o nome pessoal de Deus no A.T.
Temendo descumprir o terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor
(YHWH), teu Deus em vão” (Ex. 20:7), os leitores antigos da Bíblia evitavam
pronunciá-lo, substituindo o mesmo na leitura pala palavra Adonay (Senhor). Os
sinais vocálicos da palavra Adonai eram colocados entre as consoantes que
representavam o nome divino: YHWH. Com esta prática a pronúncia do nome de
Deus se perdeu. Os eruditos bíblicos hoje, em sua maioria, usam a palavra Iahweh
(Javé), e dando a razão histórica para isso diz a Comissão de Tradução, Revisão e
Consulta da Sociedade Bíblica do Brasil:
o Teodoreto, pai da igreja, da escola de Antioquia, falecido em 457 d. C. afirma
que os samaritanos, que tinham o Pentateuco em comum com os judeus
como Escrituras Sagradas, pronunciavam o nome o nome de Deus assim:
Iabé (trocando o V pelo B). Clemente, da escola de Alexandria, falecido antes
de 216 d.C. transliterava “a palavra de quatro letras” por Iaové. Também os
papiros mágicos egípcios, que são do final do terceiro século d.C., dão como
certa a pronúncia cima referida, a de Teodoreto (Iabé).
Assim, mesmo com a incerteza que há para a pronúncia deste nome, o que se pode
afirmar com segurança é que Jeová nunca foi a transliteração ou tradução do nome de
Deus (YHWH) no A.T., esta palavra é uma invenção da Idade Média. Portanto, o grupo
religioso chamado “Testemunhas de Jeová” é fundamentado sobre um nome falso, nome
que não aparece nas Escrituras Sagradas. Sobre esta palavra Jeová, diz a Comissão de
Tradução, Revisão e Consulta:
“Esse (Jeová) não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome Biblical Comentary
chama ‘Jeová’ de um “não-nome” (77:11), e o Interpreter’s Dictionary of the Bible o chama
de ‘nome artificial’ (s.v Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Kochler –
Baumgartner (s.v YHWH), chama a grafia ‘Jeová’ de ‘errada’, e defende como ‘correta e
original’ a pronúncia ‘Yahweh’.”
Portanto, as Escrituras não aprovam transliteração Jeová, os judeus nunca
pronunciaram esse nome, e a história nos mostra que a pronúncia mais provável seria
Iahweh (Javé). Não sendo esta, Jeová está completamente fora de cogitação.
Este nome Javé (vamos chamar assim) aparece unido a outros termos qualificativos
de Deus, formando assim nomes compostos, como por exemplo:
 Javé-Jireh: O SENHOR proverá (Gn. 22:14);
 Javé-Tsebaôt: O SENHOR dos exércitos (1Sm. 1:3);
 Javé-Ropheh: OSENHOR que sara (Ex. 15:26);

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 Javé-Nissi: O SENHOR é a minha bandeira (Ex. 17:15;


 Javé-Shalom: O SENHOR envia a paz (Jz. 6:24);
 Javé-Roeh: O SENHOR é meu pastor (Sl. 23:1);
 Javé-Tsidkenu: O SENHOR é a nossa justiça (Jr. 23:6);
 Javé-Shammah: O SENHOR está presente (Ez. 48: 35).

4.2. No Novo Testamento

O N.T. tem alguns equivalentes gregos (a língua do N.T.), para os nomes de Deus que
aparecem em hebraico no A.T.
 Para El, Elohim e Elyom o N.T. usa a palavra Deus, que é também uma palavra
genérica. O equivalente de Elyom (Deus altíssimo) encontra-se na expressão Theou
tou Hupsistou (Mc. 5:7; At. 16:7; Hb.7:1). Shadday e El-Shadday (Todo-Poderoso,
Onipotente) é traduzido no N.T. por Pantokrator; Theos-Pantokrator (2Co. 6:18;
Ap. 1:8; 4:8: 11:17; 15:3; 16:7.14);
 Quanto ao nome Yahweh o N.T. segue a Septuaginta (O A.T. em grego) que traduz
esta expressão por Kyrios (Senhor), que deriva de força, poder. Este nome não tem
exatamente a mesma conotação de Yahweh; mas designa Deus como o Poderoso,
o Senhor, o Possuidor, o Regente que tem autoridade e poder legal (Hb. 1:10; 8: 8-
11), Cristo também recebe este nome (Jo. 20:28; 1Co. 8:6; Ap. 17:14).
 Também encontramos Deus sendo chamado de Pather (Pai) no N.T. O A.T. já
chamava Deus assim para designar a relação de Deus com Israel (Dt. 32:6; Sl. 103:
13), e o N.T. usa a expressão para demonstrar Deus como o Originador ou Criador
de tudo (1Co. 8:6; Ef. 3:14-15; Tg. 1: 17).
Bem, pelo que acabamos de estudar podemos ver que Deus é identificado por vários
nomes nas Escrituras, e cada nome de Deus nos mostra uma das características do Senhor.
Reflita nessas características, pois elas vão nos revelando quem Deus é e o seu caráter.

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NOMES DE DEUS

NOME SIGNIFICADO REPRESENTATIVIDADE DO NOME

ADONAI Senhor = dono- - Merece obediência – Gn 24: 3,7,12;


controlador-provedor Js 5:14 cf.: Ml 1:6.
- Dá-nos provisão Fp 4:19

ELOHIM plural de “el”, Esse nome é usado especialmente


aludindo à trindade quando trata da soberania divina no
exercício de Sua obra criadora (Gn
1:1), ou quando opera poderosamente
e soberanamente na salvação de
Israel. Só no V.T. ele é usado 2.200
vezes.

EL O Poderoso e O nome EL é genérico, ele aparece


Majestoso freqüentemente combinado com
outros nomes para ajudar na distinção
entre o Deus verdadeiro e os falsos
deuses das religiões estranha a Israel
(Gn 1:1; Sl 19:1).

EL - ELyON o poderoso altíssimo, Ele possui e governa todas as coisas de


sumamente poderoso forma que todos os seus decretos são
cumpridos - (Gn 14:22).

EL - OLAM o poderoso eterno Ele conhece todas as coisas, controla


tudo e trabalha com as coisas como
lhe agrada – os dias passam, as nações
desaparecem e tudo se desvanece,
mas Deus permanece o mesmo. -
nunca cansa de cuidar dos seus (Is
40:28-31).

EL - ROI o poderoso que vê Nunca esquece nem deixa de cuidar


dos Seus (Gn 16:13).

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NOME SIGNIFICADO REPRESENTATIVIDADE DO NOME

EL SHADAI o todo-poderoso Ele é o Todo-poderoso na condução


dos ímpios e na salvação do seu
povo - cuida dos seus, como mãe a
bebezinho Gn 17:1

YAHWEH o eterno e auto-existente O Deus redentor – Deus revelador e


(JEOVÁ) (“eu sou”) executador da salvação. Um Deus
sempre presente para trazer
libertação ao Seu povo. (Gn 2:4)

JEOVÁ ELION o auto-existente Deus dos deuses, exaltado, elevado,


altíssimo transcendente - Sl l 7:17

JEOVÁ JIRÉ o auto-existente proverá Gn 22:13, 14. O cordeiro


substituindo

JEOVÁ o auto-existente vos Ex 31:13. Dá remissão, preserva,


MIKADISKIM santifica santifica

JEOVÁ NISSI o auto-existente nossa Conduz, lidera, faz-nos mais que


bandeira vencedores - (Ex 17:15 ).

JEOVÁ ROHI o auto-existente meu Sl 23:1; Sl 95:7. Guarda, guia,


pastor nutre.. .

JEOVÁ RAFA o auto-existente nos sara Ex 15:26. recostura

JEOVÁ o senhor dos exércitos 1Sm 1:3; Is 6:1-3. Poder e governo


SABAOTE (homens, estrelas, anjos)

JEOVÁ o auto-existente nossa Jz 6:24. Paz com e de Deus... .


SHALOM paz

JEOVÁ SHAMÁ o senhor está presente Ez 48:35. Presença pessoal!

JEOVÁ o auto-existente nossa Jr 23:6. Justiça imputada cf. 1Co


TSIDEKENU justiça 1:30

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5- DEUS E SUA TRIUNIDADE


“Embora seja um grande mistério que existam diversas pessoas em um só Ente, é
verdade que na divindade há uma distinção de pessoas, indicadas nas Escrituras pelos
nomes Pai, Filho e Espírito Santo e pelo uso dos pronomes Eu, Tu e ele, empregados por
elas mutuamente entre si”.
A Confissão de Fé de Westiminster (1649), uma das mais antigas confissões de fé
protestante afirma:

Na unidade da Deidade há três pessoas, de uma só substância, poder, e


eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e o Deus Espírito Santo. O pai não é de
ninguém: não é gerado nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai;
o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho (cap. II, seç. III).

Veremos agora como as Escrituras trabalham este assunto.

5.1. A Triunidade no Antigo Testamento

A doutrina da Triunidade de Deus não é completamente revelada no A.T., ali temos


claramente Deus como o Deus único (Dt. 4: 35,39), o Espirito Santo como seu agente
pessoal (Gn. 1:2; Ne. 9:20; Sl.139:7; Is. 63:10-14), e a Palavra (o verbo) como seu
pronunciamento criativo (Gn. 1:26; Sl. 33:6, 9).
A. Como já foi dito, encontramos no A.T. nomes genéricos e nomes específicos sendo
aplicados a Deus, e estes nomes nos ajudam a compreender mais um pouco sobre o
Senhor e sobre a doutrina da Triunidade. Observe, por exemplo, Gn 1:1, onde no hebraico
temos as seguintes palavras: Bereshit bará Elohim (no principio criou Deus). A palavra que
é traduzida por Deus aqui é Elohim, e é uma palavra plural. Então, para ficar correto
gramaticalmente, uma tradução literal de Elohim seria: deuses. Mas há um problema, pois
o verbo bará (criar) está no singular. Assim, a palavra Elohim (Deus) vindo no plural revela
não que haja muitos deuses, mas que Deus é uma unidade composta: Pai, Filho, e Espírito
Santo. Em vários lugares Deus confira isso usando o verbo no plural para se referir a Si
próprio (desçamos, façamos), ou o pronome nós (Gn. 1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8).
Ali, no momento da criação (Gn. 1:1) Deus é chamado de Elohim porque criava o
mundo: o Pai, o Filho (a palavra, o verbo) e o Espírito Santo (Gn. 1:2; Sl. 33: 6-9; 104:30; Jó
33:4-6; Jo. 1: 1-3).
B. Para os judeus do A.T. a grande confissão sobre o seu Deus era Dt. 6:4. E é
interessante notar a palavra hebraica que é traduzida por único no texto. Em nota sobre a

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passagem nos informa a Bíblia Vida Nova: “Único Senhor. A palavra hebraica aqui
empregada “único” (‘ehadh) significa uma unidade composta... A palavra hebraica que
expressa unidade absoluta é Yahidh, e nunca é usada para expressar a unidade da
Deidade”.
A palavra Yahidh (unidade absoluta) nós encontramos em Gn. 22:2, porque Isaque
era o único filho de Abraão, e vamos encontrar ‘ehadh (unidade composta) em Gn.2:24,
porque Adão formaria uma unidade composta com Eva (vd.tb. Ex. 24:3; 13:23). Mesmo
sabendo que yahidh e ‘ehadh são usadas as vezes como sinônimas, yahidh é mais enfática
quando se quer expressar unidade absoluta, e é interessante que justamente na confissão
mais importante do povo de Israel sobre a unidade de seu Deus, é usada na Bíblia a palavra
‘ehadh. A pergunta que se faz é: por que o escritor que conhecia muito bem o idioma
hebraico, usa essa palavra se queria mostrar uma unidade absoluta para Deus? Não, ele
sabia que Deus era uma unidade composta: Pai, Filho e Espírito Santo.
C. Além destes fatos o A.T. já prenunciava o Pai e o Filho como um único Deus em
outros lugares. Observe:
 Is. 9:6. A profecia chama Cristo de Pai da eternidade e Deus forte. Sabe-se que
eternidade só tem quem não tem começo nem fim, portanto Cristo sendo o Pai
eterno, não poderia ter tido começo. Ele é também declarado como Deus.
Sabendo-se que o próprio Deus afirma sua singularidade (Is. 43: 10-13), Cristo tem
que ser um com Ele, senão Ele seria outro deus.
 Is. 40:3. É anunciado na profecia que um homem viria para preparar o caminho do
SENHOR (YHWH). Quando João Batista começou seu ministério anunciando o
Messias (Jesus), disse que essa profecia se cumpriu em sí próprio. João diz que era
ele a “voz que clama no deserto”, e que o SENHOR (YHWH) profetizado era Cristo
(Jo. 1:19-27). Uma declaração mais clara da unidade de Deus e Cristo impossível.
 Sl. 102:25. Esse versículo é retomado em Hb.1:10, onde é claramente aplicado a
Jesus Cristo, ou seja, o Deus referido no Sl.102:25 era Cristo.
 Zc 12:10. Esta passagem é mais uma prova do A.T. de que Cristo e Deus Pai são
inexplicavelmente o mesmo Deus. Observe. O SENHOR (YHWH) (veja o versículo
7), diz pela boca do profeta que em um tempo futuro, pessoas iam olhar pra Ele se
lamentando,até aqueles que o transpassaram. Isso segundo a própria Bíblia se
cumpriu na crucificação de Jesus. João, ao relatar a cena da crucificação, diz que
esta profecia se cumpre ali, onde um soldado perfura o lado de Jesus com uma
lança e as pessoas olham Jesus transpassado (Jo.19: 34-37). Ali estava o próprio
Deus sendo transpassado em Jesus Cristo (Vd.At.20:28).

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5.2. A Triunidade no Novo Testamento

É no N.T. que esta doutrina é revelada mais claramente. Nós temos o Pai, o Filho e o
Espírito Santo apresentados lado-a-lado, como co-iguais (Mt. 28:19, note que Jesus
relaciona os três com apenas um nome: em nome. Vd.: 2Co.13:13; Jd.20-21). Esta unidade
é bem expressa também no seguinte fato: em Jo. 14: 15-23 Jesus diz que na conversão Ele
e o Pai farão morada no crente, e Paulo nos diz que quem faz morada no salvo é o Espírito
Santo, e que nós somos templo de um, e não de três (1Co. 6:18-19; Ef. 1:13-14), então
Deus, Jesus e o Espírito Santo são um.
A. Textos-prova Importantes do Novo Testamento.
 Jo. 1:1. Temos neste texto Cristo (o verbo) claramente declarado como igual a
Deus. As “Testemunhas de Jeová”, que não aceitam a divindade de Jesus, dizem
que o texto deveria ser traduzido: “a palavra (verbo) era *um+ deus”, com um
artigo indefinido (um). Isto porque no grego (a língua do N.T.) não existe o artigo
definido antes da palavra Deus (predicativo do sujeito) e assim, segundo a
gramática grega, o substantivo Deus ficaria indefinido (um deus). Será que estão
certos? Não. Realmente isto é uma regra da gramática grega, mas não em todos os
lugares. Pois no mesmo capitulo 1 deste evangelho de João, tem frases que não
tem o artigo definido antes do predicativo do sujeito e mesmo assim o artigo
indefinido não é exigido, pois não caberia ali. Observe:
o Jo. 1:6,o artigo indefinido não aparece antes da palavra Deus, mas a frase
não é: “houve um homem enviado por UM Deus”, mas “ por Deus”.
o Jo.1:14, não existe o artigo indefinido antes da palavra carne, mas a frase não
é: “a palavra se fez UMA carne, mas “ se fez carne”.
o Jo.1:18, não existe artigo indefinido antes da palavra Deus, mas a frase não é:
“UM Deus nunca foi visto por ninguém”, mas “ Deus nunca foi visto por
ninguém”.
o O Dr. D. A. Carson observa “que o interprete deve ser cuidadoso com
respeito às conclusões tiradas a partir da mera presença ou ausência de um
artigo”. Assim, está correto traduzir “e o verbo era Deus”, mesmo sendo esta
frase anartra (sem a presença do artigo definido). Esta é mais uma prova da
unidade na divindade.
 Em Jo. 14:26 é o Pai quem envia o Espírito Santo, ao passo que em Jo. 16:7 quem
envia é o Filho. Por isso as Escrituras dizem que o Espírito Santo é o Espírito de
Deus e igualmente o Espírito de Cristo (R. 8:9; 1Pd.1:11).

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TEOLOGIA PRÓPRIA

 Hb. 10: 15 faz uma citação de Jr.31: 31-33. No texto de Jeremias diz que quem está
falando é o SENHOR (YHWH), mas o autor de Hebreus diz que quem está falando é
o Espírito Santo.
 Em Is. 6:1-3, 9-19, Isaias diz que viu e ouviu o SENHOR (YHWH), dos Exércitos. Mas
como poderemos conciliar isso com Jo. 1:18; 1Tm. 6:16, que afirmam que Deus
jamais foi visto por alguém? A Bíblia responde e nos mostra que este é um dos
maiores exemplos da unidade composta de Deus. A resposta está em At. 28:25-27,
onde Paulo diz que quem falou com Isaias foi o Espírito Santo, e em Jo. 12: 37-41,
onde o autor bíblico diz que Aquele SENHOR (YHWH) que Isaias viu era na verdade
Jesus Cristo em sua glória. Esta é uma das maiores provas da Triunidade na Bíblia.
 Em Mt. 1:18-21 é anunciado que o Espírito Santo desceria sobre Maria para
engravidá-la, mas em Lc. 1:35, está escrito que o Filho de Maria é o Filho de Deus.
Só há uma explicação: Deus e o Espírito Santo são o mesmo Deus.
 Em Hb. 7: 25 temos a informação de que a obra intercessória pertence a Jesus
Cristo (Vd. tb.: Jo.15: 16b; 16:23), mas em Rm. 8: 26-27, é dito que é o Espírito
Santo quem intercede pelos cristãos. Mais uma vez unidade entre Jesus e o
Espírito.
 At. 20: 28. Este é um texto desconcertante, pois diz que quem pagou o resgate,
derramou o sangue na cruz pela Igreja, foi o próprio Deus (YHWH). Esta afirmação
só pode indicar que Cristo e Deus são o mesmo.
 Mt.21: 15-16. Temos aqui Jesus fazendo uma citação do Sl. 8: 2, onde no hebraico
o sujeito das declarações é o SENHOR (YHWH), e Jesus aplica as declarações deste
salmo a Si próprio, como se ele, Cristo, que naquele momento recebe o louvor das
crianças, fosse o YHWH do salmo citado.
 Fp. 2: 6. Nesta passagem o apóstolo Paulo diz que Jesus antes de vir ao mundo
tinha a forma (gr. Morphê) de Deus. Esta palavra (morphê) que Paulo usa aqui é
muito sugestiva, pois significa: “a natureza essencial e inalterável do ego”, então,
Paulo está afirmando aqui que Cristo antes de vir a este mundo era
essencialmente Deus.
 Em Hb. 1:3 está escrito que Jesus é a “expressão exata da essência” de Deus. A
palavra traduzida por “expressão exata” é charakter (que significa: imagem,
representação), e a palavra traduzida por “essência” é hypostasis (significa:
essência, substância). Sobre isso observa Wayne Gruden: “Significando que Deus
Filho reproduziu o Ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos os
atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os têm”.

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 1Pd. 2:8- Pedro cita Is. 8: 14 onde se diz que O SENHOR (YHWH) seria uma pedra
de tropeço para os que não cressem nEle, e diz que esta pedra era Jesus. Pedro
afirma que isto se cumpriu em Cristo.
Enfim, se poderiam multiplicar aqui textos mostrando a identificação de Deus Pai,
Filho e Espírito Santo, uma unidade composta, misteriosamente revelada. Observe mais
uma vez esta identificação nos seguintes exemplos:
 Na Bíblia o Pai, o Filho e o Espírito Santo são revelados como DEUS. O Pai (At. 17:
24); O Filho (Mc. 2:5-7; Jo. 1:1-3,18; 20: 28); O Espírito Santo (Mc. 3: 29; At. 5: 3-4;
28: 25-27 comparado com Is. 6: 9-10).
 Se não aceitarmos a Triunidade divina, como explicar textos como Dt. 4: 35, 39; Is.
44: 6, 8; 45: 5, 21; 46: 9? Os textos mostram que só existe UM Deus.
 Na Bíblia também encontramos o Pai, o Filho e o Espírito Santo revelados como
SENHOR. O Pai (Mt. 22:37); o Filho (At. 10: 36; Fp. 2:11); o Espírito (2Co. 3: 16-17).
 Se não aceitarmos a Triunidade de Deus como explicar estas passagens se a
própria Bíblia diz que só Deus é o Senhor (Mc. 12:29)?
 Também encontramos na Bíblia o Pai, o Filho, e o Espírito sendo tratados como
SANTOS. O Pai (Is. 6:3); o Filho (At. 3:13-14); o Espírito (Is. 63:10; Rm. 15:16).
 Como conciliar estes textos se a Bíblia diz que só Deus é santo (ISm. 2:2)? Isto só se
explica com a Triunidade divina.
 Encontramos na Bíblia também o Pai, o Filho sendo tratados como ONISCIENTES. O
Pai (1Cr. 28:9); o Filho (Jo. 2:24,25; 21:17; Cl. 2:2-3); o Espírito (1Co. 2:10-11).
Todas estas passagens só poderão ser explicadas com a doutrina da Triunidade
divina, sem ela tudo viraria uma confusão. Não é preciso entender, mas sim aceitar o que a
Bíblia revela. Nem sempre entendemos tudo que Deus faz, por isso Ele é Deus.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática de Strong. São Paulo:
HAGNOS, 2003.

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