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Aluna: Patrícia Alves de Abreu

DRE: 119033875

1. Introdução
O presente trabalho tem por objetivo realizar um estudo da dislexia, analisando suas
origens, causas, mecanismos cerebrais envolvidos, bem como formas de tratamento a serem
consideradas.

2. O que é a dislexia?
O diagnóstico da dislexia é feito por exclusão. Quando falamos em dificuldade de
leitura fora dos padrões comuns, inúmeras causas podem estar envolvidas, dentre elas, déficits
sensoriais, retardo mental, questões auditivas e até mesmo a complexidade das regras de
ortografia da língua alvo. Dessa maneira, quando todos esses aspectos forem eliminados,
podemos falar em um diagnóstico de dislexia, sendo esta definida como uma dificuldade
desproporcional que acomete o percurso natural de aprendizagem da leitura 1 que, por sua vez,
é a habilidade de reconhecer e compreender palavras.2

3. Causas da dislexia
Longe de ser uma construção social de uma sociedade que tende a definir como
patologia todo comportamento fora de um espectro que por ela é determinado como padrão,
um dos maiores obstáculos que enfrenta a comunidade científica é determinar com precisão as
causas da dislexia. A capacidade de leitura é consequência de um feixe de fatores combinados
desde processadores neuronais e reconhecimento visual e fonológico da língua, assim como
um bom ensino.
Observa-se, contudo, um núcleo comum entre as crianças disléxicas: um déficit na
decodificação dos signos escritos aos fonemas da língua, ou seja, estamos tratando de
questões fonêmicas, questões de análise dos sons da fala. Por possuírem problemas de
representação dos fonemas, isso leva a um inevitável distúrbio na representação das palavras
consequentemente. O disléxico tem dificuldades na decodificação entre grafema e fonema, o
que leva a um processamento devagar da linguagem.

1
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. 1ª edição.
Porto Alegre: Penso. 2011, p. 254.

2
PINHEIRO, Ângela M.V. Dislexia do desenvolvimento: perspectivas cognitivo-neuropsicológicas, p. 1.
A percepção de pequenas características dos sons da fala como a sonoridade de uma
consoante, por exemplo, é completamente alterada nessas crianças. Entretanto, um
questionamento que é feito é se esse déficit também não afetaria outras tarefas não
linguísticas. E sim, a discriminação de tons, ruídos, assim como a percepção visual podem
também estar alteradas, por isso, para algumas teorias, a dislexia vai além de uma questão
fonológica somente, apesar de ela ser o denominador comum de todas as crianças que
possuem tal déficit.
Fatores biológicos derivam de influências internas e externas. Dentre os fatores
biológicos internos, encontram-se uma ausência de assimetria direita-esquerda nas áreas de
processamento da linguagem; anomalias celulares na área ao redor da Fissura de Sílvio e;
anomalias nas vias auditivas e visuais. 3 Já entre os fatores internos estão questões de ordem
emocional, motivacional e até mesmo uma educação deficitária. Todas essas questões podem
levar a alterações funcionais.
Contudo, observa-se também que a atividade do cérebro dos disléxicos não é normal e
diversas regiões são subativadas. O lobo temporal esquerdo é subativado, e em contrapartida,
o córtex frontal inferior esquerdo é superativado durante atividades fonológicas ou durante a
leitura, como se fosse uma forma de compensar uma subatividade das regiões posteriores. A
principal característica do cérebro disléxico é justamente uma diminuição da atividade
temporal esquerda. Além disso, o córtex temporal lateral e uma região temporal também
lateral também são subativadas. Isso explicaria as questões fonológicas observadas nos
disléxicos decorrentes do posicionamento das redes neuronais que implicam em uma baixa
consciência fonêmica e consequente desproporcionalidade no aprendizado do código
alfabético.
Mas, o que levaria a essa ativação não suficiente das regiões temporais esquerdas?
Estudos sugerem que um aumento da quantidade de matéria cinzenta em algumas regiões
cerebrais e uma diminuição em outras seria a razão para que os neurônios não estivessem em
seus locais devidos. A migração neuronal - processo que ocorre durante o período gestacional
- parece prejudicada nos disléxicos. Os neurônios não chegam ao seu alvo e o hemisfério
esquerdo não consegue se desenvolver como deveria, o que afeta a questão da linguagem
nesses indivíduos.
Essas anomalias nas migrações neuronais derivam dos genes DYXC1C1 (no
cromossomo 15), KIAA0319 e DCDC2 (ambos no cromossomo 6) e ROBO1 (no

3
PINHEIRO, Ângela M.V. op. cit. , p.2
cromossomo 3). Esses cromossomos atuam nas operações de posicionamentos dos neurônios
nas várias regiões necessárias à leitura.4

4. Tratamentos
Pelo fato de as migrações neuronais serem um processo que ocorre durante a gestação, é
inviável o tratamento da dislexia por via medicamentosa ou terapias gênicas. Entretanto,
apesar de se tratar de uma doença genética, o cérebro é um órgão plástico e essas migrações
não o afetam totalmente. A psicologia não deve ser dissociada da biologia, uma vez que
quaisquer intervenções psicológicas são capazes de produzir efeitos até em níveis
microscópicos, como os celulares e moleculares. Por isso, novas técnicas e métodos de
aprendizagem e reeducação de leitura que permitem ampliar a consciência fonêmica da
criança são eficazes e demonstram bons resultados.
Jogos educativos, repetição de uma mesma tarefa, maximização da atenção e de
emoções positivas, todo um processo de reeducação traz dois efeitos ao cérebro que são a
normalização e a compensação. A atividade na região temporal esquerda possui um
considerável aumento, além de regiões próximas às regiões que são ativadas em crianças não
disléxicas também serem ativadas, o que levam a compensações no cérebro dos disléxicos.
Portanto, apesar de muitas dúvidas ainda existirem quanto ao estudo da dislexia, alguns
resultados científicos e terapias educativas são muito promissores no tratamento e
desenvolvimento cerebral daqueles que a possuem.

5. Referências bibliográficas
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de
ler. 1ª edição. Porto Alegre: Penso. 2011;

PINHEIRO, Ângela M.V. Dislexia do desenvolvimento: perspectivas cognitivo-


neuropsicológicas. Belo Horizonte. Editora UFMG. 2017.

4
DEHAENE, Stanislas. op. cit., p. 271.

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