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E-BOOK

TODO PACIENTE COM


DISLEXIA TEM O
TRANSTORNO DO
PROCESSAMENTO
AUDITIVO?

FGA. DRA. MAYRA PIRES


CRFa: 2-9263-5
Olá!
Muitos fonoaudiólogos tem a dúvida
frequente se todo paciente com dislexia
apresenta o transtorno do
processamento auditivo.
Esse E-book gratuito tem o objetivo de
discutir algumas questões sobre o
assunto, espero que você goste e te
traga reflexões sobre a sua prática
clínica!

É proibido utilizar este E-book de forma


indevida e com fins lucrativos. Esse
material é de propriedade intelectual da
autora.
O que é dislexia?

Algumas crianças podem apresentar


dificuldades relacionadas à leitura no
decorrer do processo de alfabetização,
porém, por questões neurobiológicas, a
dislexia caracteriza-se como um défict
na manipulação fonológica em que há
uma dificuldade de aprendizagem da
leitura que não pode ser explicada por
outras causas.
Dehaene (2009)
Quais as possíveis explicações para a
dislexia ocorrer?

Anomalia na organização do córtex


temporal, sendo sua ativação insuficiente
durante o processo de leitura.

Há indícios de um forte componente


genético que cause esse transtorno do
desenvolvimento.
(Dehaene, 2009)

Existem diferentes tipos de dislexia com


distintas manifestações clínicas que não é o
objetivo desse E-book abordá-las e
entraremos a seguir, nas questões
relacionadas ao processamento auditivo em
pacientes com dislexia.
Paula Tallal é uma pesquisadora que estuda
o processamento temporal e suas possíveis
correlações com a linguagem.

Em 1973 ela desenvolveu um estudo com


um teste chamado "auditory repetention
test" que tinha uma variação de intervalos
inter-estímulos (o final de um estímulo e
início do outro, podemos encontrá-los nos
testes de percepção de gaps e ordenação
temporal) em dois tons de frequência
maiores e menores em relação ao tempo,
como no exemplo abaixo:

200 ms

Intervalo inter-estímulo

100 ms

Intervalo inter-estímulo

50 ms

Intervalo inter-estímulo
Nesse estudo, o auditory repetention test
foi aplicado em crianças com
desenvolvimento normal e crianças com
transtorno do desenvolvimento da
linguagem (TDL). Foi constatado que as
crianças com TDL apresentavam
dificuldades para perceber auditivamente
os menores intervalos inter-estímulos.

A partir desta constatação começou-se a


pensar se crianças com transtornos de
linguagem poderiam apresentar
dificuldades para processar de forma
auditiva estímulos rápidos, como as
consoantes que apresentam mudanças
espectrais em curto espaço de tempo.
Foram realizados estudos em outras
populações, como pacientes com dislexia e
encontrados resultados semelhantes aos das
crianças com TDL em relação aos aspectos
temporais.

A partir disso Paula Tallal em 1980


desenvolveu uma teoria chamada "Teoria
do Processamento Temporal Rápido" para
explicar que crianças com transtornos de
linguagem teriam dificuldades de integração
da informação sensorial que converge em
rápidas sucessões no sistema nervoso
auditivo central. Segundo esse teoria existiria
uma limitação auditiva para processar
pistas acústicas temporais mais rápidas.
Porém, sempre existe um outro lado da
moeda se tratando de organismo humano
e foram realizados outros estudos com
base na teoria de Paula Tallal e não foram
encontradas dificuldades relacionadas ao
processamento temporal em pacientes
com transtornos de linguagem.

O que nos leva a acreditar que não


devemos colocar todos os pacientes com
dislexia na mesma panela e afirmar que
todos tem alteração relacionadas ao
processamento temporal.
Podemos encontrar alterações
nos testes que envolvem o
processamento temporal em
pacientes com dislexia, mas
também podemos encontrar
resultados normais, pois
existem quadros de dislexia
relacionados somente a
dificuldades no processamento
fonológico.
Lembre-se que não podemos
tentar justificar a dislexia por
meio do processamento
auditivo, pois são transtornos
que podem ocorrer de forma
simulatânea, como uma
comorbidade e não como causa
e efeito.
Referências bibliográficas

Dehaene, S. Os neurônios da leitura. Ed: Penso. 2009.

Tallal P, Piercy M. Developmental aphasia: impaired rate of


non-verbal processing as a function of sensory modality.
Neuropsychologia. 1973; 11:11:389-98.

Tallal P. Auditory temporal perception, phonics and reading


disabilities in children. Brain Lang. 1980; 9:182-98.

Ziegler W, Aichert I. How much is a word? Predicting ease


of articulation planning from apraxic speech erros patterns.
Cortex. 2015; 69:24–39.

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