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FATORES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA


QUE PODEM INFLUENCIAR O PROCESSAMENTO
AUDITIVO: REVISÃO SISTEMÁTICA

Factors in childhood and adolescence that may influence


the auditory processing: systematic review
Nádia Giulian de Carvalho(1), Carolina Verônica Lino Novelli(1),
Maria Francisca Colella-Santos(2)

RESUMO

Há consenso na literatura da importância do sistema auditivo para o desenvolvimento da linguagem


oral e escrita. O Distúrbio do Processamento Auditivo refere-se à dificuldade no processamento de
informações auditivas, não sendo devido à perda auditiva, nem ao déficit intelectual. O objetivo desta
revisão sistemática da literatura foi analisar quais fatores ocorridos na infância e adolescência podem
influenciar no processamento auditivo, não necessariamente sendo a causa ou consequência do
distúrbio. Foram utilizadas as bases SciELO e PUBMed por duas pesquisadoras de forma indepen-
dente. Os descritores utilizados foram: processamento auditivo; percepção auditiva; crianças; ado-
lescentes, em combinações variadas. Dentre os 205 artigos identificados, 30 artigos corresponderam
aos critérios de inclusão, sendo analisados. Apenas dois estudos demonstraram fatores positivos
influenciando a habilidade do processamento auditivo: a influência da estimulação musical na infân-
cia e o uso de Metilfenidato, como tratamento doTranstorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
As influências são, em sua maioria, negativas ao processamento auditivo, destacando-se a relação
do distúrbio com a dislexia, dificuldades escolares, distúrbio específico de linguagem, nível socioe-
conômico baixo, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, nascimento pré-termo, desvio
fonológico, deficiência visual, respiração oral, gagueira, otite média, fissura labiopalatina, anemia,
exposição ao mercúrio metálico, síndrome da apnéia/hipopnéiaobstrutiva do sono, acidente vascular
cerebral, crianças em vulnerabilidade social e crianças disfônicas. O Processamento Auditivo mostra-
-se sensível as influências negativas de fatores ambientais, químicos, condições socioeconômicas,
alterações de linguagem, auditivas, e neurológicas. A exposição à música e o uso de Metilfenidato
foram os únicos fatores, com influência positiva nas habilidades do processamento auditivo.

DESCRITORES: Testes Auditivos; Percepção Auditiva; Criança; Adolescente

„„ INTRODUÇÃO diferencial do sistema auditivo no que se refere a


melhor audibilidade nas frequências de formulação
A função auditiva e sua estreita relação de inter- da fala1. Estes autores ainda ressaltam que há
dependência com a linguagem ainda é envolvida muitas questões a serem desmembradas, como os
por mistérios ontogênicos, como a sensibilidade mecanismos biológicos, mecânicos, neuroquímicos
e elétricos.
O funcionamento adequado do sistema auditivo
(1)
Centro de Investigação de Pediatria da Faculdade de Ciên-
cias Médicas da Universidade Estadual de Campinas, UNI- periférico e central é fundamental para o desenvolvi-
CAMP, Campinas, São Paulo, Brasil. mento da linguagem oral e escrita. Pode ser dividido
(2)
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual em duas porções, o sistema auditivo periférico e o
de Campinas, UNICAMP, Campinas, São Paulo, Brasil. sistema auditivo central, que estão inter-relacio-
Conflito de interesses: inexistente nados. O sistema auditivo periférico compreende

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estruturas da orelha externa, média, interna e por meio de uma bateria de testes, os quais avaliam
nervo vestibulococlear que são responsáveis pela a função auditiva central, mas demandam também
captação, transmissão e transdução da onda sonora cognição, atenção, memória e linguagem.
e seu processamento na cóclea e porção coclear O DPA pode ser agravado em ambiente acústico
do nervo vestibulococlear, localizados na região desfavorável com repercussões nas habilidades
temporal da cabeça. A cóclea, em crianças sem acadêmicas. As principais queixas escolares em
acometimentos, já se apresenta funcional ao nasci- relação às crianças são: “vive distraído”, “vive no
mento, diferentemente do sistema auditivo central mundo da lua”, “só ouve quando quer”, “não presta
que é imaturo; o desenvolvimento da percepção atenção na professora”, “não consegue aprender”5.
auditiva é um evento prolongado com início na fase A autora ainda descreve que podem ser decor-
pré-natal, sofrendo interferência em seu desenvol- rentes de lesões neuromorfológicas cerebrais,
vimento na infância e na adolescência2. distúrbios neurológicos ou atraso maturacional das
O sistema auditivo é responsável pelo proces- vias auditivas do sistema nervoso central e cérebro;
samento da informação realizado por diversos no entanto, não existem trabalhos epidemiológicos
centros de integração, com funções de detecção indicando a prevalência das causas. Desta forma,
e discriminação do som, separação do ruído de são necessários mais estudos para uma compre-
fundo, compreensão e reconhecimento do som ensão mais ampla sobre o tema.
como familiares, dentre outros. Todo este processo O conhecimento dos fatores que podem
envolve transmissão da informação auditiva pelas influenciar o DPA é relevante como alerta para
fibras do VIII nervo craniano para os núcleos uma adequada investigação do histórico clínico do
cocleares, tronco encefálico, tálamo e córtex indivíduo (anamnese), assim como, para o desen-
auditivo3. volvimento de ações de prevenção e promoção da
O termo “Distúrbio do Processamento Auditivo” saúde.
(DPA) é referido pela American Speech-Language- O objetivo deste estudo foi analisar quais fatores
Hearing Association4 como dificuldade no processa- podem influenciar as habilidades do processamento
mento de informações auditivas em uma ou mais auditivo na infância e adolescência, não os classi-
habilidades auditivas, e representa uma limitação da ficando como causa ou consequência do distúrbio.
transmissão, análise, organização, transformação,
elaboração, armazenamento e/ou recuperação, e „„ MÉTODOS
uso das informações de um evento acústico, não
atribuídos à perda auditiva, nem ao déficit intelectual. Foi realizada busca eletrônica nas bases de
Os indivíduos com suspeita de DPA, segundo a dados SciELO e PUBMed por duas pesquisadoras
ASHA, frequentemente apresentam características de forma independente, no mês de setembro de
comportamentais de dificuldade em compreender 2013. A escolha destes bancos de dados justifica-se
a linguagem falada em situação de ruído compe- pelo número expressivo de veiculação de estudos
titivo, pedem para repetir frequentemente a infor- nacionais, com amostra da população brasileira,
mação falada, apresentam dificuldade de prestar foco desta pesquisa.
atenção, se distraindo facilmente, dificuldade em A pesquisa foi realizada com o cruzamento dos
seguir comandos auditivos complexos, dificuldade seguintes descritores e seus correspondentes em
de localização sonora e dificuldade de aprendi- inglês: processamento auditivo; percepção auditiva;
zagem. No entanto, essas características não são crianças; adolescentes. Foram encontrados 170
exclusivas do DPA, podendo ser encontradas em artigos em cada base, totalizando 340, após a
outros diagnósticos como distúrbio de linguagem, eliminação dos estudos duplicados nas bases,
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade obteve-se um total de 205 artigos na íntegra. Foram
(TDAH) e Síndrome de Asperger. Portanto, o digitalizados em uma planilha do Excel os dados
DPA deve ser compreendido como um distúrbio relacionados ao título do estudo, periódico, ano de
auditivo que pode ser isolado ou associado a outras publicação, faixa etária, caracterização dos grupos
alterações corticais, como o distúrbio de aprendi- estudados e testes aplicados.
zagem, TDAH, entre outros. Entretanto, nem todas Fez-se, então, a seleção dos estudos perti-
as dificuldades de aprendizagem, linguagem e nentes, utilizando-se como critérios de inclusão: 1.
déficits de comunicação são devido ao Distúrbio do artigos originais; 2. estudos observacionais analí-
Processamento Auditivo. ticos (transversais de grupo controle); 3. estudos
A avaliação do processamento auditivo pode que utilizaram na metodologia procedimentos que
ser realizada por meio de testes comportamentais possibilitassem a avaliação do Processamento
e eletrofisiológicos. Os testes comportamentais são Auditivo por métodos comportamentais padroni-
realizados em uma cabina acusticamente tratada zados para a versão português6 e 4. estudos que

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contivessem na amostra crianças e adolescentes, Os monóticos são os testes que utilizam a


com idade entre 4 e 19 anos (de acordo com a mensagem principal e a mensagem competitiva
Organização Mundial de Saúde- OMS) com audição na mesma orelha, simultaneamente7. Os testes
normal, com alguma condição de risco para o DPA monóticos utilizados pelos estudos analisados
(Figura 1). Critérios de exclusão: 1. estudos com foram: Teste de Logoaudiometria Pediátrica (PSI)
crianças e adolescentes usuários de implantes ou com Mensagem Competitiva Ipsilateral (MCI) e
aparelhos de amplificação sonora; 2. estudos que Teste de Sentenças Sintéticas (SSI) com Mensagem
não utilizassem os testes comportamentais como Competitiva Ipsilateral (MCI) e, os Testes de Fala
método de avaliação; 3. estudos sem grupo controle; Filtrada (FF) e Fala com Ruído (FR).
4. estudos com mais de 10 anos de publicação; 5. Os testes dicóticos são aqueles que utilizam o
estudos aos quais a amostra não era composta estímulo principal em uma orelha e a mensagem
por crianças e adolescentes. Após aplicação dos competitiva na orelha contralateral simultanea-
critérios descritos, foram selecionados 30 artigos mente através de um fone7. São eles: Teste Dicótico
para análise; os respectivos estudos foram publi- de Dígitos (DD), Teste Dicótico de Dissílabos
cados no período de 2005 a 2013.A seleção dos Alternados (SSW), Teste Dicótico Não-Verbal (DNV)
testes da bateria de avaliação comportamental do e Teste de Fusão Binaural (FB).
PA determinou as habilidades a serem avaliadas. Além desses, utilizou-se também testes para
A maioria dos estudos não avaliaram todas as avaliação do processamento temporal, sendo
habilidades envolvidas, desta forma, não analisou eles: Testes de Detecção de Intervalos Aleatórios
a eficiência do processamento neural em diferentes (RGDT), Teste de Padrão de Frequência e Duração
níveis dentro do SNAC. Os testes utilizados são (PPS e DPS) e Gap In Noise (GIN).
classificados como dióticos, monóticos e dicóticos.
Os testes dióticos são aqueles em que os
estímulos auditivos são apresentados nas duas
„„ REVISÃO DA LITERATURA
orelhas simultaneamente, em campo livre7; são
eles: Teste de Localização Sonora e Testes de Seguindo então, os critérios de inclusão, dos
Memória Sequencial para Sons Verbais (MSSV) 30 artigos selecionados, 19 (63%) apresentaram
e Não-Verbais (MSNV), que avaliaram as habili- amostra composta por crianças e adolescentes, 9
dades de localização e memória para sons em (30%) por crianças e dois artigos (7%) por adoles-
sequência, e fazem parte da Avaliação Simplificada centes, conforme ilustrado no diagrama (Figura1).
do Processamento Auditivo.

Figura 1 – Diagrama explicativo sobre o processo de seleção dos artigos

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Os resultados dos estudos estão agrupados Os estudos que abordaram a influência dos
de acordo com as semelhanças dos fatores e fatores externos nas habilidades auditivas, que
alterações abordadas, sendo eles: fatores externos, envolvem o nível sócio- econômico, agentes
alterações neurológicas, alterações estruturais químicos, psicoativos e música estão apresentados
e/ou funcionais, alterações da linguagem oral e na Figura 2:
alterações da linguagem escrita.

Artigo Amostra Avaliação Resultados Conclusão


A1. (Balen, Boeno e Idade: 6 a 11 anos; Testes Random Gap Houve diferença Houve influência do
Liebel, 2010) G1: nível sócio- Detection Test (RGDT) e significante entre os nível socioeconômico na
econômico alto; G2: Gaps-in-Noise( GIN). grupos, em ambos os resolução temporal, nos
nível sócio-econômico testes. dois testes realizados.
médio; G3: nível sócio-
econômico baixo.
A2. (Cavadas, Idade: 7 a 15 anos; Testes de Localização G1 com desempenho Os testes de PAC não
Pereira e Mattos, G1: com TDAH fazendo Sonora, Memória semelhante ao G3 permitiram diferenciar
2007. uso de Metilfenidato; Sequencial para Sons nos testes de PAC; portadores de TDAH;
G2: sem déficit de Verbais e Não-Verbais, G2 apresentou pior uso do Metilfenidato se
atenção, com transtornos Fala com Ruído e Teste desempenho G3 associou à melhora do
de aprendizagem; Dicótico de Dissílabos apresentou melhor desempenho nos testes
G3: sem déficit de Alternados (SSW). desempenho. nos portadores de TDAH,
atenção, sem transtorno mas não permitem
de aprendizagem. estabelecer relação.
A3. (Dutra, Monteiro Idade:12 a 17 anos; Testes de Localização Diferenças Adolescentes expostos
e Câmara, 2010) G1: trabalhadores da Sonora, Memória estatisticamente ao mercúrio metálico
queima dos amálgamas Sequencial para Sons significantes entre os apresentaram
de ouro-mercúrio ou Verbais e Não-Verbais, grupos para os testes de desempenho inferior aos
residentes próximos Fala com Ruído, Padrão Padrão de Frequência e não expostos, para a
às áreas da queima; de Frequência e Duração Duração e SSW. maioria dos testes.
G2: sem história de e Dissílabos Alternados
exposição ao mercúrio. (SSW).

A4. (Escalda, Idade: 5 anos; Testes de Localização Desempenho nos testes A experiência
Lemos e França, G1:com experiência Sonora, Memória de Localização Sonora musical promove o
2011). musical; G2: sem Sequencial para Sons e Memória Sequencial aprimoramento das
experiência musical. Verbais e Não-Verbais. para Sons Não-Verbais habilidades auditivas de
teve relação com a crianças de 5 anos.
experiência musical da
amostra.
A5. (Murphy et al, Idade: 7 a 10 anos / 11 a Teste Pediátrico de Diferenças significantes Pior desempenho do
2012). 16 anos; Inteligibilidade de entre os grupos para G1 para os testes
G1: em situação de Fala (PSI), Fala com a maioria dos testes; comportamentais do
vulnerabilidade social; Ruído, Dicótico Não- G1 com desempenho PAC.
G2: sem queixas. Verbal, Dicótico de estatisticamente pior do
Dígitos e Memória que G2 para todos os
Sequencial para Sons testes, exceto para o PSI.
Verbais e Não-Verbais.

Figura 2 – Influência dos fatores externos no Processamento Auditivo: Nível Sócio-econômico,


Agentes Químicos, Psicoativos e Música

Pesquisadores investigaram a possível influ- temporal, entretanto, ressaltam que não se pode
ência do nível socioeconômico na habilidade do concluir que o nível socioeconômico baixo gere
processamento auditivo de resolução temporal de alterações na resolução temporal, visto que foram
escolares8, dividindo-os em três grupos: nível socio- observados desempenho que se desviavam da
econômico alto, médio e baixo. Houve diferença normalidade nesta habilidade em todos os grupos;
estatisticamente significante no desempenho entre a amostra não foi separada por parâmetros de
os grupos, sendo o melhor desempenho o do grupo normalidade ou presença de alteração no proces-
de nível socioeconômico alto, seguido do médio e samento auditivo, sendo que os resultados foram
pior no baixo. Os autores observaram que o nível similares ao de estudo que investigou aspectos
socioeconômico pode influenciar a resolução relacionados ao processamento auditivo em grupos

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de crianças e adolescentes em situação de vulne- habilidade de memória para sons em sequência,


rabilidade social9 e observaram que estes sujeitos avaliada nos testes de memória sequencial verbal
tiveram desempenho significantemente pior em e não verbal com quatro instrumentos, com desem-
relação ao grupo controle. As habilidades auditivas penho semelhante ao esperado para crianças de seis
avaliadas nos referidos estudos foram: resolução anos de idade, determinado pela sua experiência
temporal, fechamento auditivo, figura-fundo e musical. A experiência musical tem se destacado
memória para sons em sequência. A influência não só na contribuição ao processamento auditivo,
do nível socioeconômico no desenvolvimento de conforme elucidado, mas demonstra interferências
linguagem foi a segunda variável mais estudada no desenvolvimento global infantil, com relações
nos últimos anos, demonstrando um melhor positivas entre habilidades comunicativas, metalin-
desempenho de linguagem em crianças de famílias guísticas e auditivas14.
com maior renda, o que, de acordo com a revisão As alterações neurológicas, como o Transtorno
sistemática, sugere que a renda familiar influencia a do Défict de Atenção e Hiperatividade (TDAH),
quantidade de estímulos fornecidos e consequen- Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Prematuridade,
temente no desenvolvimento da criança10. Desta com possíveis influências no PA também foram
forma, considerando que a cognição, memória e estudadas, e estão apresentadas na Figura 3:
linguagem são necessárias para a realização dos O TDAH demonstrou interferir negativamente
testes do PA, confirma-se a relação do fator nível nas habilidades de processamento auditivo; as
socioeconômico com os resultados encontrados na crianças com TDAH apresentaram desempenho
avaliação. estatisticamente pior se comparado aos grupos de
Além dos fatores socioeconômicos, os agentes crianças do estudo com Dislexia e grupo controle
químicos presentes na sociedade, como o mercúrio sem alterações. As habilidades alteradas foram
metálico, também demonstraram ter efeito no de fechamento auditivo, figura-fundo e ordenação
Processamento Auditivo. A exposição ao mercúrio temporal, sugerindo uma estreita relação entre as
metálico, proveniente de áreas de mineração habilidades de atenção e as habilidades de proces-
artesanal de ouro, é referida como um problema samento auditivo avaliadas15.
de saúde com efeitos no sistema nervoso central, Dois estudos analisaram a presença do
afetando a substância negra e os lobos occipitais distúrbio do processamento auditivo em crianças
e temporais. Assim, foram observadas diferenças nascidas pré-termo16,17. O primeiro estudo verificou
significantes em adolescentes expostos ao mercúrio a existência de correlação entre os resultados
nos testes comportamentais, em comparação aos da avaliação do processamento auditivo com
que não tiveram exposição, com prejuízos estatis- a avaliação comportamental realizada aos 12
ticamente significante nos testes MSNV, testes meses, demonstrando, assim, a relação entre a
PPS e DPS e para o teste SSW em Português, habilidade de ordenação temporal e a habilidade
com alterações na percepção de sons breves e de localização sonora. O segundo estudo utilizou o
sucessivos11. Portanto, as habilidades alteradas teste RGDT, para avaliar a habilidade de resolução
neste estudo foram de memória para sons em temporal. Ambos os estudos verificaram diferenças
sequência, ordenação temporal e figura-fundo. significantes entre o grupo das crianças nascidas
Outra substância química presente nos estudos é pré-termo e o grupo controle (a termo).
o Metilfenidato, utilizado como fármaco, prescrito O acidente vascular cerebral também interferiu
aos portadores de TDAH; o uso desta substância na habilidade auditiva de figura-fundo, sendo
se associou à melhora no resultado dos testes observado que o desempenho atencional foi pior
destes indivíduos, tendo sido avaliadas as habili- no grupo estudo, composto por crianças e adoles-
dades de localização sonora, memória para sons centes com diagnóstico de AVC comprovado.
em sequência, fechamento auditivo e figura-fundo. A atenção auditiva foi avaliada por testes de
Os autores atribuíram tal resultado à melhora na separação binaural, DNV e consoante-vogal, e
atenção, não permitindo estabelecer relação entre o também de integração, SSW e dicótico de dígitos,
uso do medicamento e à melhora no desempenho12. sendo possível verificar a relação entre o AVC e
Além dos fatores externos já mencionados, a o déficit na atenção seletiva tanto em tarefas com
experiência musical teve interferência positiva no estímulos verbais como não verbais18.
processamento auditivo, pesquisadores investi- O Distúrbio do Processamento Auditivo também
garam as relações entre experiência musical e pode ser influenciado por alterações estruturais e/ou
as habilidades de processamento auditivo e de funcionais na infância, como a Fissura Labiopalatina,
consciência fonológica13. As crianças com experi- Respiração Oral, Disfonia e Deficiência Visual,
ência musical obtiveram desempenho superior na segundo os estudos indicados na Figura 4.

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Artigo Amostra Avaliação Resultados Conclusão


A6. (Abdo, Murphy e Idade: 7 a 12 anos; Testes Fala com Ruído, G3 com pior resultado Estreita relação entre as
Schochat, 2010). G1: sem queixas de Dicótico de Dígitos e em todos os testes, habilidades de atenção
alteração do PA ou atraso Padrão de Frequência. seguido do G2 e G1. e as habilidades do PAC
no desenvolvimento avaliadas.
de linguagem oral ou
escrita;
G2: com dislexia;
G3: com TDAH.
A2. (Cavadas, Idade: 7 a 15 anos; Testes de Localização G1 com desempenho Os testes de PAC não
Pereira e Mattos, G1: com TDAH fazendo Sonora, Memória semelhante ao G3 nos permitiram diferenciar
2007). uso de metilfenidato; Sequencial para Sons testes de PAC; portadores de TDAH;
G2: sem déficit de Verbais e Não-Verbais, G2 apresentou pior uso do metilfenidato se
atenção, com transtornos Fala com Ruído e desempenho associou à melhora do
de aprendizagem; Duração e Dissílabos G3 apresentou melhor desempenho nos testes
G3: sem déficit de Alternados (SSW). desempenho. nos portadores de TDAH.
atenção, sem transtorno
de aprendizagem.

A7. (Elias e Moura- Idade: 7 a 16 anos; Testes Dicótico Não- No teste Dicótico Não- Crianças com AVC
Ribeiro, 2012). G1: crianças com AVC; Verbal, Consoante-Vogal, Verbal, maior dificuldade apresentaram déficits na
G2: crianças saudáveis. Dicótico de Dígitos e de identificações com habilidade de atenção
Duração e Dissílabos a orelha contralateral à seletiva, em tarefas
Alternados (SSW). lesão em atenção livre dicóticas, com estímulos
e dificuldade nas etapas verbais e não verbais.
direcionadas. No teste
Consoante-Vogal, houve
dificuldade de focalizar
a atenção nas etapas
direcionadas. Nos testes
Dicótico de Dígitos e
SSW, foram constatados
déficits ipsi, contra e
bilaterais.
A8. (Fortes, Pereira e Idade: 5 a 6 anos; Teste RGDT. G1 com menores limiares Nascidos pré-termo se
Azevedo, 2007). G1: nascidos a termo; de detecção de intervalo diferenciam dos nascidos
G2: nascidos pré-termo. de tempo do que G2. a termo quanto ao
comportamento auditivo
de resolução temporal.

A9. (Galloet al, 2011). 4 a 7 anos; Testes de Localização No G1, 93,75% Crianças nascidas pré-
G1: nascidos pré-termo; Sonora, Memória apresentaram alteração termo apresentaram
G2: nascidos a termo. Sequencial para Sons do PAC, com diferença pior resultado do que
Não-Verbais, Fala com entre os grupos para os crianças nascidas a
Ruído, PSI e Dicótico de testes de Ordenação termo, na avaliação do
Dígitos. Temporal, PSI e Fala PAC.
com Ruído.

Figura 3 – Influência das alterações neurológicas no Processamento Auditivo: TDAH, AVC e


Prematuridade

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A10. (Arnautetal, Idade: 4 a 8 anos; Testes de Localização Semelhança entre os Crianças disfônicas
2011). G1: disfônicos; Sonora e Memória grupos nos testes de apresentam alterações
G2: sem queixas de Sequencial para Sons Localização Sonora e das habilidades de
alterações vocais. Verbais e Não-Verbais. Memória Sequencial localização ou ordenação
para Sons Verbais; G1 temporal; ordenação
com desempenho pior temporal para sons não
no teste de Memória verbais pior no grupo
Sequencial para Sons disfônico.
Não-Verbais.
A11. (Correa et al, Idade: 8 a 12 anos; Testes de Fala Filtrada, G1 com pior Crianças com
2011). G1: com respiração oral; Padrão de Frequência e desempenho nas Respiração Oral
G2: com respiração SSW. habilidades de apresentam desempenho
nasal. organização, integração inferior nas habilidades
auditiva, fechamento do PAC do que crianças
auditivo e padrão com padrão respiratório
temporal. normal.
A12. (Lemos et al, Idade: 7 anos; Teste Dicótico de Dígitos. G1 apresentou A aplicação de apenas
2007). G1: com fissura porcentagem de acerto um teste de PAC não foi
labiopalatina; inferiores ao G2, em AO; conclusiva, considerando
G2: sem a anomalia. meninas apresentaram o grupo de estudo
resultados piores que os deficiente para estudar a
meninos. eficácia do teste.
A13. (Moraes et al, Idade: 7 a 10 anos; Testes de Localização G1 com pior Alguma alteração central
2011). G1: com fissura Sonora, Memória desempenho nos testes foi encontrada em 100%
labiopalatina e história Sequencial para Sons de Localização Sonora, das crianças estudadas
de otite; Verbais e Não-Verbais, Memória Sequencial em ambos os grupos.
G2: com fissura Teste de Fusão Auditiva, para Sons Verbais e
labiopalatina sem história PSI, Fala no Ruído, SSI, Não-Verbais, Teste de
de otite. Dicótico Não-Verbal, Fusão Auditiva; G2 com
SSW e Dicótico de pior desempenho nos
Dígitos. testes PSI, Fala com
Ruído e SSI.
A14. (Santos, 2011). Idade: 8 a 12 anos; Testes de Localização G1 e G2 com resultados G1 com desempenho
G1: portadores de Sonora, Memória semelhantes nos testes inferior G2 na avaliação
Deficiência Visual; Sequencial para Sons de Localização Sonora, do PAC.
G2: com visão normal. Verbais e Não-Verbais, Memória Sequencial
Fala com Ruído, Dicótico para Sons Não-Verbais
de Dígitos, Padrão de e Fala com Ruído;
Duração e RGDT. nos demais testes, G1
apresentou desempenho
inferior.
A15. (Zilliottoetal, Idade: 5 a 11 anos; Testes de Localização G2 com pior Presença da Síndrome
2006). G1: respiradores orais e Sonora, Memória desempenho que G3 no da Apneia / Hipopnéia
Polissonografia normal; Sequencial para Sons Teste Dicótico de Dígitos. Obstrutiva do Sono
G2: respiradores orais e Verbais e Não-Verbais e relacionou-se
Polissonografia alterada; Dicótico de Dígitos. positivamente com o
G3: sem queixas distúrbio do PAC.
otorrinolaringológicas.

Figura 4 – Influênciadas alterações estruturais e/ou funcionais no Processamento Auditivo: Fissura


Labiopalatina, Respiração Oral, Disfonia e Deficiência Visual

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Influências no Processamento Auditivo  1597
Na avaliação do PA de crianças Disfônicas, também foi investigado (Figura 5) e, apesar de
avaliaram-se as habilidades auditivas de demonstrarem a interferência destas alterações
Localização e de Ordenação Temporal, tendo sido em determinadas habilidades auditivas centrais,
observado diferença entre os grupos estudo e a maioria dos estudos são singulares no aspecto
controle, no que diz respeito à memória sequencial estudado.
para sons não-verbais. O estudo mostrou ainda A habilidade de ordenação temporal de crianças
que, para as crianças disfônicas, a habilidade de com Distúrbio Específico de Linguagem – DEL
localização sonora melhorou com o aumentou da demonstrou-se alterada e com correlação ao proces-
idade19. samento linguístico; deste modo, quanto maior
Com relação ao estudo que analisou a presença o comprometimento no processamento auditivo
do distúrbio do PA em crianças respiradoras orais, temporal encontrado nestas crianças, pior o desem-
foi encontrada diferença no desempenho auditivo penho nas tarefas de alta complexidade sintática25.
dessas crianças, com diferenças estatisticamente As crianças com gagueira também apresentaram
significante nas habilidades de figura-fundo, fecha- pior desempenho na habilidade de ordenação
mento e ordenação temporal20, visto que o sistema temporal com diferença estatisticamente signifi-
respiratório tem influência na oxigenação cerebral. cante em comparação às crianças sem gagueira,
O estudo que avaliou a população infantil com indicando relação entre este distúrbio da linguagem
síndrome da apnéia/hipopnéia obstrutiva do sono, oral e processamento auditivo26. Em relação à
identificou alterações nas habilidades do proces- interface entre desvio fonológico e habilidades do
samento auditivo desta população, em especial a processamento auditivo, estudos corroboram que
habilidade de figura-fundo, relacionando-as como crianças com fala desviante apresentam desem-
decorrentes dos mesmos mecanismos que levam penhos inferiores em comparação às crianças
às alterações neurocognitivas, de maneira geral; os sem desvios fonológicos, sendo que, as principais
autores ressaltaram ainda o aumento da população habilidades desviantes são: resolução temporal,
pediátrica com obstrução parcial ou total de vias localização, memória para sons em sequência,
aéreas superiores, as quais ocasionam interrupções figura-fundo e fechamento auditivo27-30.
intermitentes da ventilação normal durante o sono21. Finalizando, observou-se que a maioria dos
A relação da deficiência visual com o processa- estudos buscou conhecer as influências das
mento auditivo central foi analisada por pesquisa- alterações de linguagem escrita (Dislexia, Déficit de
dores que encontraram desempenho desfavorável, Aprendizagem) nas habilidades auditivas, sendo a
mas não estatisticamente significante, nas crianças dislexia o principal enfoque – Figura 6.
com deficiência visual em relação ao grupo controle, Os estudos apresentados foram diversificados
tanto na avaliação audiológica básica, como na quanto aos aspectos e/ou fatores correlacionados
bateria de testes do Processamento Auditivo, nas com o PA e suas habilidades. Observou-se concor-
habilidades de figura-fundo, ordenação e resolução dância quanto ao baixo desempenho, na avaliação
temporal22. do processamento auditivo, de crianças com
A fissura labiopalatina foi relacionada às habili- distúrbio de leitura/escrita e dislexia em compa-
dades auditivas foram avaliadas em dois estudos. ração às crianças sem distúrbios, especialmente
Em um estudo investigaram a audição de 20 crianças nas habilidades de processamento temporal15,31-37.
com fissura labiopalatina com e sem histórico de Crianças sem o diagnóstico de dislexia, mas com
otite média e encontraram nos dois grupos desem- dificuldades escolares foram avaliadas por meio
penho ruim na maioria dos testes. A população dos testes PSI, DNV e SSW, as crianças do grupo
com história de otite apresentou resultados piores com dificuldades escolares apresentaram pior
na avaliação do processamento auditivo nas habili- desempenho em todos os testes aplicados para as
dades de localização sonora, memória para sons em três faixas etárias, sugerindo atraso na maturação
sequência e integração auditiva se comparado com das habilidades de figura-fundo dos escolares com
a população sem história de otite; esta população dificuldades38. Outro estudo que aplicou os testes
teve piores desempenhos nas habilidades de de LS, MSSV, MSNV e o PSI encontraram maior
fechamento e figura-fundo23. Do mesmo modo, em frequência de alterações no grupo de crianças
outro estudo, foi verificado desempenho inferior na com dificuldade, em todos os testes, porém, sem
habilidade de figura-fundo em crianças com fissura diferenças estatisticamente significante39.
labiopalatina, por meio do teste dicótico de dígitos, Em resumo, três estudos (10%) não encon-
em relação às crianças sem fissura24. traram relação entre a variável estudada e o
O processamento auditivo de indivíduos com Distúrbio do Processamento, concluindo que são
alterações da linguagem oral (gagueira, distúrbio necessárias novas pesquisas na área para melhor
específico de linguagem (DEL), Desvio Fonológico), investigação desta relação. Em um desses estudos,

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1598  Carvalho NG, Novelli CVL, Colella-Santos MF

A16. (Attoni, Quintas Idade: 5 a 7 anos; Testes de Localização Todas as crianças do G2 Alterações no PAC estão
e Mota, 2010). G1: sem Sonora, Memória apresentaram alterações intimamente ligadas às
comprometimento de Sequencial para Sons no PAC, diferentemente dificuldades de fala.
fala; Verbais e Não-Verbais, das crianças sem
G2: com desvio PSI, Fala com Ruído, comprometimento de
fonológico. Dicótico de Dígitos e fala.
SSW.
A17. (Attoni, Quintas Idade: 5 a 7 anos; Testes PSI, Fala com G1 com alterações na Crianças com desvio
e Mota, 2010). G1: com desvio Ruído, SSW e Dicótico Avaliação do PAC e G2 fonológico apresentam
fonológico; de Dígitos. com resultados normais. alterações do PAC.
G2: com
desenvolvimento normal
de fala.

A18.(Fortunato- Idade: 8 a 10 anos; Teste Padrão de G2 apresentou O teste de Padrão


Tavares et al, 2009). G1: com Frequência. desempenho no TPF de Frequência está
desenvolvimento típico fora dos valores de correlacionado
de linguagem; referência. positivamente com
G2: diagnosticados com habilidades de
DEL. complexidade sintática.

A19. (Muniz et al, Idade: 6 a 9 anos; Teste RGDT. 94,5% das crianças Crianças com desvio
2007). G1: com diagnóstico de do G1 apresentaram fonológico podem
desvio fonológico; resultados alterados, apresentar alteração de
G2: sem desvio com diferença processamento temporal,
fonológico ou outra significante entre os necessitando de mais
alteração de linguagem grupos. tempo para detecção de
oral. intervalos de tempo entre
estímulos auditivos, do
que as crianças sem
queixas.
A20. (Quintas et al, Idade: 5 a 7 anos; Testes de Localização G1 com piores Significante relação entre
2010). G1: com desvio Sonora, Memória resultados na avaliação o desempenho do PAC
fonológico; Sequencial para Sons do PAC. e a presença de desvios
G2: sem desvios Verbais e Não-Verbais, fonológicos.
fonológicos. Dicótico de Dígitos,
Fusão Binaural e SSW.
A21. (Silva, Oliveira e Idade: 9 a 12 anos; Testes Padrão de G2 com desempenho Relação entre gagueira e
Cardoso, 2011). G1: com gagueira Frequência e Duração. superior nos dois testes distúrbio do PAC.
desenvolvimental aplicados.
persistente;
G2: sem queixas ou
sinais de transtornos
psiquiátricos /
neurológicos,
dificuldades de fala,
audição, linguagem e/ou
aprendizagem.

Figura 5 – Influência das alterações da linguagem oral no Processamento Auditivo: Gagueira, DEL,
Desvio Fonológico

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Influências no Processamento Auditivo  1599
A5. (Abdo, Murphy Idade: 7 a 12 anos; Testes Fala com Ruído, G3 com pior resultado em Estreita relação entre as
e Schochat, G1: sem queixas Dicótico de Dígitos e todos os testes, seguido habilidades de atenção e as
2010). de alteração do Padrão de Frequência. do G2 e G1. habilidades do PAC avaliadas.
PAC ou atraso no
desenvolvimento de
linguagem oral ou escrita;
G2: com dislexia;
G3: com TDAH.
A22. Idade: 8 a 14 anos; Teste RGDT. Diferença Escolares com dislexia do
(Boscarioletal, G1: com diagnóstico estatisticamente desenvolvimento podem
2010). de dislexia do significante entre apresentar alterações no
desenvolvimento; os grupos, com pior processamento temporal
G2: sem alterações desempenho para o auditivo, com prejuízo
neuropsicolinguísticas. G1; este apresentou no processamento
polimicrogiriaperisylvana fonológico. Malformação do
na avaliação neurológica. desenvolvimento cortical pode
ser o substrato anatômico dos
distúrbios.
A23. (Capellini, Idade: Média de 10 anos Testes Memória Diferença significante Processos auditivos interferem
Germano e e 4 meses; Sequencial para Sons entre os grupos na diretamente na percepção
Cardoso, 2008). G1: com diagnóstico de Verbais e Não-Verbais, maioria dos testes. de aspectos acústicos,
dislexia; Localização Sonora, temporais e sequenciais dos
G2: com desempenho PSI, Dicótico de Dígitos sons para formação de uma
escolar satisfatório. e SSW. representação fonológica
estável.
A24. (Murphy Idade: 9 a 12 anos; Testes de Ordenação G1 com desempenho Não é possível afirmar
&Schochat, 2009). G1: com dislexia; e Discriminação de estatisticamente pior em que o desempenho pobre
G2: sem queixas Frequência e Duração. todos os testes. das crianças com dislexia
escolares. nos testes do PAC esteja
relacionado ao desempenho
pobre em tarefas de leitura e
consciência fonológica.
A25. (Neves Idade: 8 a 10 anos; Testes PSI, Fala com G1 apresentou pior Atraso na maturação das
&Schochat, 2005). G1: com queixas de Ruído, Dicótico Não desempenho em todos os habilidades do PAC no grupo
dificuldades escolares; Verbal e SSW. testes aplicados e para as de crianças com dificuldades
G2: sem queixas de três faixas etárias. escolares.
dificuldades escolares.
A26. (Oliveira, Idade: 9 a 12 anos; Testes de Padrão de G1 com pior desempenho Crianças com dislexia
Murphy e G1: com dislexia; Frequência, Dicótico nos testes Padrão de apresentam alterações das
Schochat, 2012). G2: sem queixas de Dígitos e Fala com Frequência e Dicóticos de habilidades auditivas de
relacionadas à leitura e Ruído. Dígitos. processamento temporal e
desempenho escolar. figura-fundo.
A27. (Pelitero, Idade: 8 a 12 anos; Testes de Localização Maior frequência de Não foram encontradas
Manfredi e G1: com desempenho Sonora, Memória alterações no G2 diferenças estatisticamente
Schneck, 2010). médio ou superior no Sequencial para Sons com relação ao G1, significantes entre os grupos.
Teste de Desempenho Verbais e Não-Verbais em todos os testes,
Escolar; e PSI. porém, sem diferenças
G2: com desempenho estatisticamente
inferior em pelo menos 1 significantes
dos subtestes.
A28. (Saueretal, 8 a 12 anos; G1: com Testes Dicótico de Diferenças Crianças com dislexia
2006). diagnóstico de dislexia; Dígitos, Dicótico de estatisticamente apresentam alterações do
G2: sem queixas de Dissílabos Alternados e significantes entre os Processamento Neurológico
aprendizagem. Dicótico Não-Verbal. grupos, em todos os Central.
testes.
A29. (Simões 7 anos a 12 anos e 11 Testes Fala com Ruído, G1 com maior Sujeitos com dislexia
&Schochat, 2010). meses; G1: com dislexia; Dicótico de Dígitos e probabilidade de apresentam padrões diferentes
G2: com transtorno do Padrão de Frequência e alteração nos testes Fala de transtorno de PAC, com
PAC. Duração. com Ruído e Dicótico de alteração maior em testes
Dígitos. que avaliam o processamento
temporal do que em outras
habilidades.
A30. (Wiemes et 7 a 14 anos; G1: com Testes SSW e Fala com 70% do G1 com Foram encontradas alterações
al, 2012). latência do P300 acima Ruído. disfunção auditiva no do PAC em crianças com
de 335ms; G2: com teste Fala com Ruído e distúrbio de leitura e escrita,
latência do P300 menor 100% no teste SSW. com latência do P300 acima de
do que 335ms. 335ms.

Figura 6 – Influência das alterações da linguagem escrita / aprendizagem no Processamento Auditivo:


Dislexia, Déficit de Aprendizagem

Rev. CEFAC. 2015 Set-Out; 17(5):1590-1603


1600  Carvalho NG, Novelli CVL, Colella-Santos MF

a justificativa se baseia no fato de se ter realizado que diversos fatores podem influenciar as habili-
apenas um teste, o que limitou o resultado. No dades do processamento auditivo avaliadas, sendo
segundo estudo, observou-se limitação devido a difícil afirmar se os fatores estudados e o baixo
aplicação de poucos testes para verificar a relação desempenho nos testes propostos demonstram
entre variável e distúrbio. Apesar de terem sido uma disfunção primária, ou são comorbidades, em
aplicados testes dióticos, monóticos e dicóticos, a especial quando envolvem relação entre habili-
bateria de testes selecionada não avaliou todas as dades auditivas e cognitivas, como exposto neste
habilidades auditivas. estudo.
Dos 30 artigos selecionados, apenas dois (7%) Os estudos apresentados são, em sua maioria,
utilizaram todas as categorias de testes citados; singulares nos fatores estudados, e as influências
sete (23%) utilizaram apenas testes de Resolução positivas e negativas encontradas não podem ser
Temporal, três (10%) utilizaram apenas testes generalizadas. Do mesmo modo, não se deve
dicóticos e dois (7%) utilizaram apenas testes afirmar que os sujeitos avaliados apresentam
dióticos, ou seja, realizaram apenas a Avaliação distúrbio, analisando somente os resultados de
Simplificada do Processamento Auditivo. Nenhum alguns testes aplicados de forma isolada. Apesar
dos estudos realizou apenas testes monóticos. das limitações destes estudos, ressalta-se a
Além disso, seis estudos (20%) aplicaram apenas relevância dos mesmos pois despertam a atenção
um teste. para alguns fatores apresentados que podem
O teste mais empregado foi o Teste Dicótico influenciar o Processamento Auditivo. Faz-se
de Dígitos, sendo utilizado em 15 artigos, ou seja, necessário um esforço contínuo para confirmação
50%. Alguns testes foram utilizados apenas em um dos achados que podem estar associados aos
estudo, como é o caso do Teste de Fusão Binaural distúrbios de processamento auditivo, com objetivo
e do Teste SSI. de potencializar as ações clinicas e educacionais
O teste SSW foi utilizado em alguns trabalhos de profissionais envolvidos com esta população.
com população na faixa etária abaixo dos 8 anos,
entretanto, é recomendado ser utilizado a partir dos „„ CONCLUSÃO
9 anos de idade, considerando o efeito da neuroma-
turação em indivíduos saudáveis5. O Processamento Auditivo mostra-se sensível
As habilidades do processamento auditivo têm à influência negativa de vários fatores: condições
demonstrado forte correlação com tarefas que ambientais, condições socioeconômicas, alterações
avaliam habilidades neuropsicológicas, com ênfase de linguagem (fonologia, escrita, gagueira),
na atenção concentrada, percepção de faces, alterações auditivas periféricas (otites média),
linguagem oral e memória, o que se justifica pelo químicos (mercúrio metálico) e alterações neuroló-
compartilhamento de habilidades cognitivas40. gicas (Dislexia, TDAH). A exposição à música foi a
O diagnóstico do Distúrbio do Processamento única influência positiva nas habilidades do proces-
Auditivo, diante de sua complexidade, inúmeras samento auditivo, e o uso do Metilfenidato por
causas e repercussões no desempenho de portadores de TDAH, indicou melhora no reteste,
crianças e adolescentes, requer uma equipe multi- mas não permite estabelecer a relação entre o uso
profissional. Os estudos analisados demonstram do medicamento e a melhora no desempenho.

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Influências no Processamento Auditivo  1601

ABSTRACT

There is consensus in literature of the importance of the auditory system to the development of oral
and written language. The Auditory Processing Disorder refers to difficulty on processing of auditory
information.The aim of this systematic literature review was to analyze which factors occurring in
childhood and teens may influence auditory processing, not necessarily being the cause or consequence
of the disorder. Two researchers used PubMed and SciELO databases independently. The descriptors
used were auditory processing; auditory perception; children; teens, in various combinations. Among
the 205 articles identified, 30 articles matched the inclusion criteria and were analyzed. Only two
studies showed positive factors influencing auditory processing skills: the influence of musical
stimulation in infancy and the use of methylphenidate as a treatment for attention deficit/hyperactivity
disorder. The influences are, mostly, negative to auditory processing, emphasizing the relationship
of the disorder with dyslexia, learning difficulties, specific language impairment, low socioeconomic
level, attention deficit/hyperactivity disorder, preterm birth, phonological disorders, visually impairment,
mouth breathing, stuttering, otitis media, cleft lip and palate, anemia, exposure to metallic mercury,
obstructive sleep apnea-hypopnea syndrome, stroke, children on social vulnerability and dysphonic
children. Auditory Processing proves sensitive to the negative influences of environmental, chemical
factors, socioeconomic status, language disorders, auditory, and neurological. Exposure to music and
the use of methylphenidate were the only factors with positive influence on auditory processing.

KEYWORDS: Hearing Tests; Auditory Perception; Child; Adolescent

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http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201517519014
Recebido em: 04/11/2014
Aceito em: 02/03/2015

Endereço para correspondência:


Nádia Giulian de Carvalho
Rua Dr. Alves do Banho, 666, apto. 101a, bairro
São Bernardo
Campinas – SP – Brasil
CEP: 13030-580
E-mail: nadiagiulian@gmail.com

Rev. CEFAC. 2015 Set-Out; 17(5):1590-1603

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