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DISTÚRBIO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: A IMPORTÂNCIA

DO DIAGNÓSTICO PRECOCE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Taís Aparecida Gomes da Silva1


Josilene Souza Lima Barbosa2

GT6 − Educação, Inclusão, Gênero e Diversidade.

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo investigar a importância do diagnóstico na evolução do aluno
com Distúrbio do Processamento Auditivo Central – DPAC. Adotou-se para esta pesquisa o método
Estudo de Caso, tendo como campo empírico uma Escola de Ensino Regular da Rede Particular,
localizada na cidade de Aracaju-Sergipe e como instrumentos de coleta: a observação espontânea,
sistemática e participante; entrevistas com a professora regente e com a família. Como aporte teórico,
utilizou-se os estudos de Comerlatto (2016), Schettini; Rocha; Almeida (2011); Nichols (2007), dentre
outros. Os resultados evidenciaram que a análise de DPAC é minuciosa e precisa de evidencias de
diferentes olhares para sair de hipóteses diagnósticas, onde a participação da escola e da família é de
extrema importância.

Palavras-chave: Aprendizagem. Diagnóstico. Distúrbio do Processamento Auditivo Central.

ABSTRACT
This study aimed to investigate the importance of diagnostics in the evolution of a student with Central
Auditory Processing Disorder (CAPD).The research was based on Case Study Methodology that used
as empirical information a regular education private school, located in Aracaju City (Sergipe State)
and tools used to collect data were: spontaneous observation, methodic and collaborative; interviews
with his teacher and his Family. On a theoretical basis, studies from Comerlatto (2016), Schettini;
Rocha; Almeida (2011); Nichols (2007) were used amongst others. The results showed us that CAPD
analysis is precise and support from different views to lead to the diagnostic hypothesis that school
and Family participation is extremely important.

Keywords: Education. Diagnosis. Central Auditory Processing Disorder (APD).

1 INTRODUÇÃO

1
Graduada em Pedagogia pela Faculdade Amadeus – FAMA em Aracaju/SE. Professora da rede particular de
ensino de Sergipe. Pós-Graduada em Psicopedagogia pela Faculdade São Luís de França em Aracaju/SE. Pós-
graduada em Atendimento Educacional Especializado pela Faculdade Amadeus – FAMA em Aracaju/SE.
E-mail: tatagsilva@yahoo.com.br.
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Mestra em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em Educação Inclusiva e em Libras.
Professora da Rede Municipal de Tobias Barreto-SE, atuando no Atendimento Educacional Especializado.
Docente do Instituto Federal de Sergipe como titular da disciplina de Libras. Pesquisadora do Núcleo de
Pesquisa em Inclusão Escolar da Pessoa com Deficiência-NUPIEPED-UFS. E-mail
josylenelbarbosa@yahoo.com.br

1
O Distúrbio do Processamento Auditivo Central – DPAC define-se por uma
dificuldade em lidar com as informações que chegam pela audição. É um transtorno funcional
da audição, no qual a criança detecta os sons normalmente, porém tem dificuldades em
interpretá-los. Indivíduos com esse distúrbio podem apresentar dificuldades de leitura, escrita,
na fala e manifestações comportamentais.
Crianças com dificuldade de aprendizagem ou com alteração no processamento
das informações auditivas têm pouca compreensão da fala na presença de ruídos.
Considerando-se que as salas de aula e as residências são ruidosas, podemos dizer que este
fato aumenta a dificuldade de compreensão da fala, podendo causar déficit na comunicação e
no aprendizado.
Segundo Schettini, Rocha e Almeida (2011) o Processamento Auditivo – PA
ocorre desde os primeiros anos de vida, completando sua maturidade na puberdade. Qualquer
alteração ou dificuldade em processar o que escuta, pode comprometer o desenvolvimento da
linguagem oral e escrita. Desta forma, se faz necessário uma intervenção médica para
investigar o desenvolvimento global da criança.
Portanto, o estudo aqui apresentado discute a importância do diagnóstico na
evolução da criança, sobretudo no ambiente escolar. Neste trabalho, definiu-se o termo DPAC
para se referir ao Distúrbio do Processamento Auditivo Central, apresentado por um aluno do
2º Ano do Ensino Fundamental de uma Instituição particular de Ensino Regular na cidade de
Aracaju – SE.
O desejo de estudar sobre este tema, surgiu ao longo da caminhada da
pesquisadora, enquanto professora regente da turma em questão, e as descobertas e
dificuldades enfrentadas pela mesma e por seu aluno diante ao DPAC.
A pesquisa justificou-se diante da necessidade de aprofundar-se sobre o tema e
mostrar a influência que um diagnóstico pode ter no processo de evolução de um aluno e na
atuação docente. Fez-se necessário a coleta de dados e revisão bibliográfica para mediar o
processo de observação do campo empírico, a fim de compreender melhor todas as
necessidades e dificuldades apresentadas pela criança. Vygotsky (1989) defende que a

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educação inicial fundamenta todo o trabalho educativo futuro. Para ele, o meio social e sua
estrutura são o fator final e decisivo de qualquer sistema educativo.

2 DISTÚRBIO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL: causas, diagnóstico e


tratamentos.

Atualmente, Distúrbio do Processamento Auditivo Central – DPAC, tem sido


bastante comentado e relatado, sobretudo em ambientes escolares, onde o número de
diagnósticos desta natureza tem aumentado, porém bastante desconhecido ainda pela área de
Educação, que terá papel fundamental no processo de evolução da criança em seu
aprendizado. O DPAC é um problema reconhecido pela medicina há apenas 15 anos e é um
transtorno que afeta a compreensão do indivíduo.
O processamento auditivo é parte primordial no desenvolvimento de um
indivíduo, o Sistema Sensorial, especialmente a audição, é o canal de aprendizagem mais
utilizado durante o processo de aquisição de conhecimentos e para que isso aconteça de
maneira satisfatória se faz necessário que o Sistema Sensorial esteja funcionando dentro de
sua normalidade. Quando isso não ocorre, é possível que a criança esteja com algum fator que
a impede de exercer suas habilidades. Neste caso, a criança precisa passar por uma avaliação
mais específica no que se refere a exames audiométricos que avaliam o comportamento do
processamento auditivo, onde será analisado o funcionamento do Sistema Sensorial e do
Sistema Nervoso Central afirma Oliveira (2011).
O DPAC é caraterizado por afetar as vias centrais da audição, ou seja, as áreas do
cérebro relacionadas às habilidades auditivas. Essa disfunção acontece, principalmente pela
demora em processar informações auditivas no cérebro e que, ás vezes, nem conseguem ser
processadas. Desta forma, a criança não consegue interpretar o que está sendo dito e não
processa como algo significativo, deixando de lado ou entendendo de maneira errada a
mensagem recebida.

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De acordo com Ademir Antônio Comerlatto Júnior3 (2016), as habilidades que
envolvem o processamento auditivo são: detecção, localização, discriminação,
reconhecimento, aspectos temporais da audição e escuta com estímulos externos. O DPAC
pode atingir uma ou várias dessas habilidades a depender do grau da disfunção que também só
é possível detectar através de exames que avaliam o comportamento do processamento
auditivo.
O DPAC é um dos distúrbios auditivos mais difíceis de detectar, pois muitos dos
sintomas estão associados a outras Síndromes como: TDAH, TDA, Dislexia e Transtorno do
Espectro Autista – TEA, por consequência muitas dessas crianças recebem um diagnóstico
errado ou incompleto e fazem tratamentos que não as favorecem com abordagens para
reparação de um “problema auditivo”.
As causas do Distúrbio do Processamento Auditivo Central podem estar ligadas a
hereditariedade, otites constantes, traumatismo craniano, presença de outros distúrbios
neurológicos, maturação tardia dos canais auditivos, alteração no Sistema Nervoso Central ou
envelhecimento natural do cérebro, porém seu diagnóstico pode surgir de causas ainda
desconhecidas e por essa razão o diagnóstico é delicado e requer estudos mais aprofundados.
Os sintomas mais comuns encontrados em pessoas com DPAC são: fala ou
linguagem inadequada à idade; dificuldade para ouvir e compreender o que está sendo dito - a
criança parece escutar, mas não entende o que ouve - dificuldade em manter uma conversa;
dificuldade em anotar aquilo que ouve; dificuldade de aprendizagem; dificuldade em manter a
atenção e executar instruções orais. Além disso, apresentam dificuldade de memorização em
atividades diárias; dificuldades acadêmicas para ler e escrever; fadiga em aulas ou palestras;
troca de letras na fala ou escrita; escrita de números espelhados; dificuldades em compreender
informações em ambientes ruidosos; desatenção e distração; solicita repetição constante da
informação; agitação e dificuldade para entender conceitos abstratos ou de duplo sentido.
Por essa razão, o diagnóstico do DPAC conta com um leque diverso de situações
que precisam ser avaliadas cuidadosamente, pois, é preciso levar em conta ainda, todo o
contexto em que a criança vive e a observação dentro de procedimentos mais elaborados para
uma análise audiométrica precisa que irá direcionar o fonoaudiólogo a identificar quais as
3
Fonoaudiólogo, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e profissional consultor da
Associação dos Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear (Adap).
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habilidades auditivas em que a criança tem maior dificuldade e consequentemente escolher o
tipo de abordagem no tratamento terapêutico para uma reabilitação que a favoreça.

O treinamento auditivo é um dos métodos terapêuticos utilizados na


reabilitação auditiva no DPAC e pode ser definido como o uso de um
conjunto de tarefas acústicas pré-determinadas com objetivo de ativar e/ou
modificar o sistema auditivo. Existem dois modelos de treinamento auditivo,
o informal, que se refere a intervenções terapêuticas sem o uso de
equipamentos específicos para o controle dos estímulos acústicos
trabalhados. Muitas vezes é indicado para crianças menores por conta de
fatores como a atenção e motivação, visto que a atividade pode ser
conduzida com maior facilidade por meio do lúdico, como jogos e
brincadeiras. E o formal, que refere-se ao processo terapêutico onde são
utilizados equipamentos eletroacústicos que possibilitam o controle dos
estímulos utilizados em sua duração, frequência e intensidade. Este modelo
pode ser conduzido, por exemplo, com o uso de um computador e em cabina
acústica com o uso do audiômetro. (COMERLATTO, 2016)

Para que um tratamento como o do DPAC seja positivo é de extrema importância


um trabalho multidisciplinar que requer diferentes olhares para um mesmo problema. O
trabalho com neurologista, fonoaudiólogo, psicólogo, psicopedagogo, professores e a família
principalmente, pois o envolvimento familiar é algo que em qualquer tratamento pode trazer
benefícios ao processo terapêutico, se trabalhado a aceitação dos familiares a fim de que todos
se envolvam para um bem maior, a evolutiva será bastante eficaz.
Nesse sentido, o trabalho multidisciplinar contribui ainda para que um diagnóstico seja
fechado mais rapidamente. Exames específicos serão realizados pelo fonoaudiólogo com base
também nas observações sugeridas dentro do ambiente escolar e familiar. O diagnóstico
precoce pode contribuir para a evolução da criança, pois quanto mais cedo a mesma for
diagnosticada, mais rápido ela será estimulada adequadamente. A triagem realizada em
recém-nascidos até o terceiro mês de vida é a única forma de prevenção dos problemas
audiométricos afirmam Schettini, Rocha, Almeida, Mendes (2011).

2.1 O papel da família para o desenvolvimento social e escolar da pessoa com DPAC.

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O envolvimento familiar em qualquer tipo de terapia é de extrema importância,
pois ela é parte do tratamento e quando a família não agrega positivamente sua participação,
isso acaba dificultando e muitas vezes atrapalhando na reabilitação do indivíduo. Muitos pais
também têm dificuldade e preconceito em aceitar que o filho é vítima de algum distúrbio de
aprendizagem, por isso se faz necessário um trabalho paralelo também com a família, para
que se familiarizem com o problema e possam contribuir ativamente no processo de
reabilitação.
Ter a oportunidade de receber um diagnóstico correto e de passar pelo tratamento
adequado é algo que pode mudar completamente a vida de uma pessoa com DPAC, pois o
desempenho escolar, acadêmico, no trabalho, nas relações interpessoais e todas as áreas da
vida do indivíduo são afetadas por este distúrbio. Sendo assim, toda ajuda principalmente do
núcleo familiar vai favorecer nesse processo.
Para que isso aconteça a família precisará de ajuda de vários profissionais e nem
sempre as condições financeiras da família permitem que o indivíduo com DPAC tenha o
acompanhamento necessário, isso certamente acaba atrasando e até mesmo agravando o
problema, mas se a família estiver envolvida e informada, poderá ajudar muito mais e muitas
vezes o efeito participativo dos mais próximos ocasionam mudanças bastante satisfatórias.
Uma família presente, que está sempre acompanhando o processo evolutivo da
criança na escola, por exemplo, poderá ajudar muito no processo de ensino-aprendizagem.
Uma vez que o professor pode não ser familiarizado com o Distúrbio do Processamento
Auditivo Central e não saber como trabalhar em sala de aula com esse aluno, a família poderá
oferecer apoio e esclarecimentos que irão ajudar o indivíduo no ambiente escolar.

2.2 A INCLUSÃO DO ALUNO COM DPAC NO ENSINO REGULAR: desafios e


perspectivas.

As crianças com o Distúrbio do Processamento Auditivo Central sofrem tanto que


a autoestima delas fica completamente afetada. A escola e os familiares precisam estar atentos
a esses sinais que podem interferir no processo de ensino-aprendizagem de maneira drástica,
pois para o aluno a audição não será o único canal pelo qual ele irá demonstrar dificuldades,
mas como na escrita ao copiar do quadro, por exemplo, na socialização com os colegas, na
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organização dos materiais, na execução de jogos e dinâmicas, dentre outros comportamentos e
dificuldades que são sinalizados diariamente pelo aluno e que precisam ser considerados e
observados pelo professor.
Se a criança for rotulada constantemente nos ambientes em que convive, ela estará
internalizando esse pensamento achando que não sabe de nada, desenvolverá vários tipos de
medos e insegurança sempre temendo repressão, não terá interesse pelos estudos e não se
sentirá estimulada a fazer diferente do que está habituada a fazer, por sentir dificuldades em
entender o que está sendo proposto. Daí a importância de que o professor esteja atendo aos
sinais comportamentais e dificuldades de aprendizagem do aluno para que seja realizado um
trabalho mais específico e direcionado as dificuldades apresentadas pelo aluno, a fim de
amenizar a angústia que muitos deles carregam ao se acharem menos capacitados que os
outros colegas.
Diante disso, o professor precisará se manter informado sobre as limitações do
aluno e fazer adaptações necessárias nas atividades diárias e trabalhar em sala de aula de
maneira que ele se sinta parte, não só da turma, mas um aluno participativo, atuante em seu
processo de aprendizagem. Desta forma, poderá desenvolver um trabalho que envolva não só
o aluno, mas a escola num todo e a família, explorando todas as possibilidades para se chegar
a um resultado satisfatório.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Para a realização deste trabalho, foi realizado um estudo de caso com o objetivo
de investigar a importância que um diagnóstico precoce pode ter no desenvolvimento do
aluno com Distúrbio do Processamento Auditivo Central – DPAC. Para reforçar o estudo
realizado neste artigo, foi observado o processo de desenvolvimento de “R.M.B.S.” de 9 anos,
estudante do 2º Ano do Ensino Fundamental Menor de uma instituição da rede particular de
ensino em Aracaju - SE, onde o mesmo estuda desde 2013 quando tinha 6 anos de idade.
De acordo com Gil (2009) os estudos de caso permitem um envolvimento maior
com o que se quer estudar, considerando todos os aspectos apresentados durante a pesquisa. O
envolvimento acaba favorecendo uma aproximação satisfatória dos resultados, sejam eles
bons ou ruins, mas que beneficiam a busca por novas pesquisas.
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Para o desenvolvimento do estudo foram utilizados como meios de coleta de
dados a entrevista com os pais, professora de sala de aula e psicopedagoga responsável por
acompanhar o desenvolvimento escolar de “R.M.B.S.”, além das observações realizadas na
escola, levando em conta todos os espaços e atividades que o aluno participa. Também foram
coletadas informações relatadas pelas professoras dos anos letivos anteriores, que
contribuíram para tomar como ponto de partida as observações realizadas. Ao averiguar a
pasta do aluno, foi encontrado um relatório psicopedagógico de junho de 2015 onde o mesmo
descarta uma hipótese diagnóstica de TDAH – Transtornos do Déficit de Atenção e
Hiperatividade levantado pela pediatra que o encaminhou e detalha o presente diagnóstico de
DPAC, caracterizando o aluno dentro do distúrbio.
A observação do cotidiano escolar foi escolhida como fonte principal de coleta,
pois é através dela que se pode obter elementos que possibilitam uma investigação,
favorecendo a construção de hipóteses, levando em consideração os dados já coletados, pois é
necessário que se faça a ligação desses dois meios, a fim de se chegar a um denominador
comum.

3.1 O sujeito da pesquisa

O sujeito desta pesquisa está representado pelas inicias de seu nome completo, R.
M. B. S. como forma de preservar sua identidade. Assim, como em todo processo empírico da
pesquisa, pois se quis, principalmente, preservá-lo em sala de aula, sem expor de maneira
incisiva suas limitações, uma vez, que ele é um indivíduo único, cheio de particularidades,
experiências e capaz cognitivamente de interagir, juntamente aos colegas, a tudo que lhe é
proposto a fazer.
R. M. B. S. tem nove anos, uma criança com aparência saudável e
desenvolvimento físico normal. Às vezes, apresenta comportamento agitado e fala fora de
hora e de contexto, levando em conta que está em sala de aula e que muitos de seus
comentários fogem quase sempre, do assunto que está sendo trabalhado. O aluno iniciou seus
estudos nessa Instituição aos 6 anos, no ano de 2013, quando ainda cursava o Infantil IV,
curso da Educação Infantil.

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Segundo os dados coletados pela professora que o acompanhou na Educação
Infantil no ano de 2013, R. M. B. S. veio de outra Instituição bastante tímido e conversando
muito sozinho. Ela acredita que no processo de adaptação da criança em sua nova escola,
trouxe consigo um amigo imaginário, que possivelmente era seu amigo mais próximo na outra
Instituição. Seu desenvolvimento no último ano da Educação Infantil não teve uma evolução
satisfatória, levando a professora a crer que R. M. B. S. apresentava alguma dificuldade de
aprendizagem. Os pais na época levaram a criança para uma avaliação e o mesmo foi
diagnosticado e tratado como hiperativo.
R. M. B. S. não alcançou as habilidades necessárias para acompanhar seus colegas
para o Ensino Fundamental I, para cursar o 1º Ano (alfabetização). Sendo assim o aluno
permaneceu no último ano da Educação Infantil em 2014 e continuou sendo acompanhado
pela mesma professora. No decorrer do ano letivo de 2014 o aluno deixou de ser
acompanhado no tratamento que estava fazendo, pois o mesmo não parecia fazer efeito ou que
estivesse ajudando o aluno a evoluir. Neste mesmo ano, R. M. B. S. se formou no ABC e
passou para o 1º Ano do Ensino Fundamental Menor.
No ano de 2015, R. M. B. S. acompanhou sua turma, porém ainda não possuía
habilidades de leitura e escrita, como a maioria de seus colegas. A professora regente da
turma percebia uma dificuldade grande do aluno em identificar letras e números, apresentava
limitações com relação à interpretação de textos, mesmo em pequenas leituras como
enunciados de questões, perdia com facilidade a atenção na aula e falava muito e fora do
contexto.
No segundo semestre deste mesmo ano R. M. B. S. foi encaminhado com um
relatório pedagógico feito por sua professora, para uma avaliação com uma psicopedagoga. O
relatório ressaltava as dificuldades apresentadas pelo aluno em sala de aula, no que se referia
principalmente ao seu aprendizado. Ao passar pela avaliação com a psicopedagoga, contendo
testes como: a escala de TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, versão
para professores; O BACLE (instrumento para avaliar as pré-competências de leituras e
escrita); Análise do material escolar; Sondagem do processo de escrita segunda a Psicogênese
de Emília Ferreiro; Testes de prontidão para alfabetização; Atividades pedagógicas;
Habilidades de leitura e escrita segundo o PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na

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Idade Certa) e Provas Projetivas de Visca, surgiu a necessidade de uma investigação do
DPAC – Distúrbio do Processamento Auditivo Central, pois de acordo com as observações
feitas pela psicopedagoga e informações fornecidas por seus genitores, o caso requer
investigação do diagnóstico diferencial, para que se obtenha novos dados, a fim de sair de
uma hipótese diagnóstica, passando por uma avaliação específica com fonoaudiólogo.
Após a avaliação específica o aluno R. M. B. S. recebeu diagnóstico de Distúrbio
do Processamento Auditivo Central, este, manifestado pela dificuldade em lidar com as
informações que chegam pela audição, ou seja, a criança detecta o som normalmente, mas tem
dificuldades de interpretá-los. Com isso, permite-se um prognóstico favorável em relação ao
desenvolvimento global da criança, pois será realizado um acompanhamento específico, a fim
de estimular, principalmente o aprendizado de R. M. B. S.. O diagnóstico foi fechado no final
do ano de 2015, o aluno manteve-se junto à turma acompanhando-os para o 2º Ano do Ensino
Fundamental Menor juntamente com sua atual professora que pôde dar continuidade ao
trabalho já realizado com o aluno.
Pôde-se perceber que ao iniciar o ano letivo de 2016, muito do aprendizado
adquirido no ano anterior fora esquecido, muito precisou ser feito para alcançar o nível em
que ele estava ao concluir o 1º Ano. R. M. B. S. iniciou o ano com acompanhamento
psicopedagógico, com fonoaudiólogo, psicológico e ainda com Atendimento Educacional
Especializado particular. A professora que o acompanhou durante o 1º Ano e que estava
acompanhando-o no 2º Ano, percebeu uma grande evolução, no que se refere ao seu
aprendizado, o aluno já começava a ler e a escrever e fazer interpretações de pequenos textos
e enunciados. Vale ressaltar que muito de seus comportamentos ainda permaneciam, como:
falar muito e fora de contexto, perder atenção facilmente e em consequência não conseguir
acompanhar a aula. Além dos relatos da família, a psicopedagoga pediu aos mesmo que
levassem R. M. B. S. ao neuropediatra, pois havia ainda a possibilidade de uma nova hipótese
diagnóstica, a de Transtorno do Déficit de Atenção – TDA, caracterizado principalmente pela
falta de atenção.
R. M. B. S. passou novamente por uma avaliação e recebeu o diagnóstico de
TDA, iniciando tratamento com medicação controlada (Rispiridona). Um novo relatório
pedagógico foi emitido por sua professora e entregue a neuropediatra, o mesmo tinha como

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objetivo explanar o comportamento da criança mediante ao processo medicamentoso. O aluno
se manteve agitado em seus primeiros 15 de tratamento, mas apresentou maior foco e
concentração depois disso. Importante lembrar que existe um planejamento de inclusão para
que R. M. B. S. se desenvolva dentro de suas possibilidades. Suas atividades e avaliações são
adaptadas e mediadas, todos os comandos verbais são falados com pausa e com a sequência
de um comando por vez, desta forma a criança consegue interpretar o que escutou e executar
com maior facilidade.
O aluno permanece em um nível menor de aprendizagem comparado aos demais
de sua classe, porém vai continuar acompanhando-os no 3º Ano do Ensino Fundamental
Menor. Contudo, o ano letivo de 2016 se encerra com saldo satisfatório, visto que muitas de
suas habilidades foram alcançadas e que o aprendizado não foi interrompido, como também
não mostrou declínio. Vale ressaltar que o aluno apresenta dificuldades em matérias que
exijam raciocínio lógico, natural no aluno que apresenta um quadro de Déficit de Atenção,
onde se exige um maior esforço cognitivo. O que se percebe é que diante das limitações
apresentadas por R. M. B. S. ele obteve uma evolução satisfatória, o que acabou influenciando
na melhora de sua autoestima, que antes era notório a necessidade de aprovação e elogios
sempre que realizava uma atividade, porém, o mesmo se percebe como agente de seu
aprendizado e reconhece suas limitações, mas sem grandes frustrações.
A professora de “R.M.B.S.” ressalta que após o diagnóstico e início das
intervenções o aluno teve grandes avanços, no que se refere à leitura, escrita, noções
espaciais, socialização participando das aulas ativamente e se sentindo muito mais confiante,
até mesmo pra falar quando não entendeu o assunto ou demonstrando que não está
familiarizado com o conteúdo. Aprofunda ainda, dizendo que o aluno não gosta de muito
barulho e se estressa em situações de conflitos com os colegas, chorando e demonstrando
raiva. Acredita ser algo que ele ainda tenha dificuldades para lidar e por isso acaba reagindo
com bastante intensidade. Relata que o aluno é participativo e que se esforça para participar
de eventos no colégio, sendo parte atuante de seu aprendizado.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O objetivo desta pesquisa foi levar aos leitores noções do que seja o Distúrbio do
Processamento Auditivo Central – DPAC, dentro de uma dinâmica em sala de aula, onde se
quis mostrar a importância do diagnóstico para a evolução do aluno.
De acordo com as leituras bibliográficas sobre o assunto, os dados obtidos através
da coleta de dados e as observações realizadas, os professores podem atuar em conjunto com
as outras áreas de estudo, uma vez que, uma equipe multidisciplinar pode contribuir de
maneira eficaz e com resultados satisfatórios. Desta forma, os professores podem ajudar o
aluno a superar suas dificuldades e limitações dentro do contexto escolar, a fim de contribuir
para sua evolução e em consequência colaborar com as demais áreas.
A atuação do professor em sala de aula define a importância dos estímulos e
oportunidades que os discentes recebem ao longo da vida, como se pode perceber na fala de
Vygotsky. [...] A criança com defeito não é uma criança deficiente. O grau de sua
anormalidade ou normalidade depende do resultado da compensação social. (VYGOTSKY,
1989, p. 10)
Diante dessa perspectiva foi possível observar que a atuação da professora de R.
M. B. S. estava integrada as adaptações necessárias que contribuíssem com o aprendizado do
aluno, buscando informações que pudessem ajudar nesse processo, além de receber
orientações da fonoaudióloga, psicopedagoga e neuropediatra da criança.
Foi observado que, após o diagnóstico definido, a criança evoluiu em seu
aprendizado. Isso se deve ao fato da criança ser estimulada de maneira adequada, tendo
acompanhamento específico, em que o envolvimento familiar veio para somar aos resultados
positivos de todo processo terapêutico.
Nichols e Schwartz (2007, p. 61) citam a família como parte deste processo: “A
família é o contexto dos problemas humanos. Como todos os grupos humanos, a família tem
propriedades emergentes [...]”. Assim a ação conjunta da família e a equipe multifuncional,
terá efeito evolutivo na criança, além de contribuir na melhoria das relações sociais de todos
os envolvidos.

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É importante lembrar a relevância de se ter um estudo aprofundado por parte dos
educadores, pois apesar do assunto ser muito comentado, pouco ainda se conhece. Isso
interfere principalmente na atuação dentro de sala de aula, pois o professor precisa estar ciente
de como deve ser sua intervenção para com as especificidades do aluno, a fim de desenvolver
as habilidades necessárias para que o educando supere suas dificuldades. Para isso, requer
uma reflexão de sua própria atuação diante das demandas específicas dos problemas de
aprendizagem e a procura de uma formação contínua.
Além disso, se faz necessário a atuação de um Atendimento Educacional
Especializado - AEE, pois a criança com DPAC requer uma atenção diferenciada e nem
sempre isso é possível em sala de aula, devido ao grande número de alunos. Desta forma, as
atividades serão trabalhadas de forma adequada e num ambiente silencioso, onde o aluno não
terá interferências externas.
O Atendimento Educacional Especializado - AEE é uma modalidade de ensino
que perpassa todos os níveis e etapas da educação básica e superior, pois identifica, elabora e
organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade para a atuação do aluno, considerando suas
necessidades específicas. Ele deve ser integrado à proposta da escola, embora suas atividades
se diferenciem das realizadas em salas de aula de ensino regular (Brasil, 2009).
Assim, conclui-se que a prática e os desafios em sala de aula são necessários para
o aprendizado e um novo olhar sobre a educação e suas diferentes função para o aprendiz,
pois como disse Paulo Freire (1987, p.68): ''Não há saber mais, nem saber menos, há saberes
diferentes''.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas dimensões dessa pesquisa, os resultados empíricos salientam a necessidade


do conhecimento sobre o Distúrbio do Processamento Auditivo Central e as dificuldades que
uma criança pode apresentar em todo seu processo de aprendizagem, além de mostrar a
importância de um diagnóstico precoce a fim de obter estímulos auditivos necessários para
que se alcance resultados satisfatórios. Teve como elementos de informações: a análise de

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relatórios, entrevistas e as observações no campo da pesquisa como principal fonte de coleta
dos dados.
Diante da hipótese levantada no início da pesquisa foi possível constatar no
decorrer do estudo que apesar de ser um assunto atualmente bastante comentado, ainda é
muito pouco conhecido. O que acaba dificultando o trabalho em sala de aula, pois o professor
precisa estar bem informado sobre o assunto e acompanhar todo o processo diagnóstico e até
mesmo contribuir para o mesmo, pois assim sua atuação diante da problemática se tornará
mais eficaz.
Quanto ao objetivo em mostrar a “o que é o DPAC e a importância do diagnóstico
na evolução do aluno”, pode-se observar que o diagnóstico precoce possibilita a intervenção
médica num período importante de desenvolvimento da criança, pois se o cérebro não recebe
as informações, como pode processá-las? Isso ajudará a criança em seu aprendizado, pois
crianças com DPAC perdem parte das informações ditas e acabam não absorvendo ou não
aprendendo o que lhe é ensinado.
Em relação ao nível de aprendizagem, o aluno envolvido nesse estudo, ainda está
em processo de alfabetização, uma vez que estar alfabetizado não é apenas saber ler e
escrever, mas também interpretar aquilo que está lendo e escrevendo. Com isso, surge a
importância de metodologias específicas que atendam as necessidades apresentadas pela
criança.
Contudo, o aprendizado de crianças com DPAC surge principalmente pelo
interesse dos envolvidos. A família tem papel fundamental neste processo, pois em casa os
responsáveis podem estimular as habilidades auditivas da criança, buscando meios para
cooperar para que o processo de reeducação auditiva se dê em menos tempo.
Assim, entende-se que o estudo de caso apresentado contribuiu para mostrar que
quando um aluno mostra dificuldades de aprendizado e a família busca descobrir suas causas,
participando e entendendo este processo, a criança pode evoluir em seu aprendizado. Cabe
ressaltar que o aluno em questão, teve acesso a todos os exames necessários e terapias que o
ajudou a progredir. Lembrando que em muitos casos isso não é possível, visto que parte dos
tratamentos oferecidos ainda são ofertados somente por clínicas particulares.

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Os resultados obtidos por nessa pesquisa foram satisfatórios, porém nos leva a
uma reflexão de que ainda há muito que se fazer. São casos como esse que provocam
inquietação e impulsionam o desenvolvimento de novas pesquisas. A fim de buscar novas
metodologias que atinjam todas as formas de aprendizado e suas especificidades.
Por fim, a sensação de dever cumprido e a alegria por ter contribuído no processo
de aprendizagem do querido R. M. B. S., aluno este que me acrescentou muito conhecimento
e que foi parte essencial nesta fase de conclusão como professora de Atendimento
Educacional Especializado – AEE.
Ao coletar informações, observar e consultar os documentos do aluno, objeto de
estudo para essa pesquisa, fica claro que quando o processo de inclusão é realizado não só na
escola, mas junto e com o apoio da família, torna-se muito mais fácil e eficaz e o resultado é
positivo para ambas as partes envolvidas, principalmente, a criança. O processo de inclusão
de “R.M.B.S.” aconteceu naturalmente, visto que o mesmo já fazia parte da Instituição de
Ensino, o que acabou sendo um fator positivo, pois foi mais fácil de trabalhar suas limitações
dentro de um ambiente onde ele já está familiarizado.
Desta forma, podemos observar que a metodologia de ensino apresentada pela
Instituição, contribui de maneira satisfatória para a evolução de “R.M.B.S.”, pois trabalha de
maneira adequada, a fim de atingir todos os potenciais do aluno, ainda que ele necessite ser
estimulado de diferentes formas, principalmente relacionando sempre ao seu cotidiano,
fazendo que sua aprendizagem seja significativa.

REFERÊNCIAS

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