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Flor de

estudo CMcaso

Perfil Cognitivo de uma Criança com


Diagnóstico Prévio de Dislexia do
Desenvolvimento Associada a Distúrbio
do Processamento Auditivo Central:
Estudo de Caso
Cristiane Marx Flor

RESUMO - Objetivo: Este estudo fez uma análise comparativa do


perfil cognitivo de uma criança com diagnóstico prévio de Dislexia do
De­senvolvimento (DD) associada a Distúrbio do Processamento Auditivo
Central, com perfis de DD descritos na literatura. Métodos: Os domínios
cognitivos da linguagem, memória, habilidades acadêmicas, percepção
viso-motora, atenção, velocidade de processamento e funções executivas
foram investigados por meio de uma bateria de testes neuropsicológicos.
Paralelamente à testagem, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os
perfis de DD descritos na literatura. Resultados: Os resultados mostraram
rebaixamento do Índice de Organização Perceptual em relação aos demais
no WISC-IV. Os domínios da linguagem, habilidades acadêmicas e
habilidades viso-espaciais mostraram-se deficitários quando comparados
a crianças da mesma faixa etária e ao desempenho do próprio sujeito nos
domínios da memória, atenção e funções executivas menos complexas.
Conclusão: Em concordância com perfis de DD investigados na literatura,
o perfil cognitivo do paciente confirmou: 1. Déficits no processamento
fonológico. 2. Desempenho acadêmico com níveis rebaixados. 3. Disfunções
executivas de planejamento, automonitoramento e raciocínio abstrato. 4.
Dificuldades na formação, articulação e compreensão de conceitos verbais.
5. Erros ortográficos característicos e problemas específicos na leitura. 6.
Dificuldades na memória de trabalho fonológica e memória semântica. 7.
Memória episódica preservada. Divergindo de outros perfis descritos na

Cristiane Marx Flor - Doutoranda em Distúrbios do Correspondência


De­senvolvimento (UPM), Mestre em Neurociência Cristiane Marx Flor
Apli­­cada à Educação e Estudos da Criança (Leiden Universidade Presbiteriana Mackenzie. Rua da Con­
Uni­versity), Psicóloga (USP) e Neuropsicóloga (FMUSP), solação, 930. São Paulo, SP, Brasil – CEP 01302-907.
São Paulo, SP, Brasil. E-mail: crismarxflor@gmail.com

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Criança com dislexia do desenvolvimento e distúrbio do processamento auditivo central

literatura, este estudo mostrou: 1. Índice de Memória Operacional no WISC-


IV dentro da faixa média. 2. Índice de Organização Perceptual rebaixado,
na faixa limítrofe. 3. Comprometimento das habilidades viso-construtivas.

UNITERMOS: Dislexia. Distúrbio do Processamento Auditivo. Perfil


Cog­nitivo. Estudo de Caso.

INTRODUÇÃO A literatura mostra que déficits no processa-


Dentre a variedade de déficits cognitivos que mento fonológico podem ocorrer na ausência de
podem manifestar-se na infância e desenca­dear Distúrbio do Processamento Auditivo Central
transtornos de aprendizagem, a Dislexia do De- (DPAC)6, assim como distúrbios do PAC podem
senvolvimento (DD) provavelmente tem sido a estar presentes em indivíduos que não apre-
mais estudada e compreendida. Sua origem é sentam dificuldades com a linguagem5. Nestes
considerada neurobiológica, afeta entre 3-6% de casos, os distúrbios auditivos seriam apenas
crianças ao redor do mundo, persiste no tempo e mediadores das dificuldades do processamento
resulta de um déficit no componente fonológico fonológico, limitando o desenvolvimento dos com-
da linguagem1. A criança com dislexia apresen- ponentes fonológicos e da escrita, mas não seriam
ta dificuldades na aprendizagem da leitura e uma causa proximal dos distúrbios da leitura4.
escrita, ainda que possua inteligência normal, É comum distúrbios no PAC mostrarem-se
motivação, qualidade de instrução educacional associados a outros distúrbios do desenvolvi-
adequadas e habilidades sensoriais normais2. mento, como Distúrbios Específicos de Lingua­
Além disso, diferentes tipos de déficits auditivos, gem (DEL), Transtornos do Desenvolvimento da
visuais e motores encontram-se frequentemente Coordenação, Discalculia3, DD e Transtorno de
associados à DD3. Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)7.
O fato de que déficits no processamento fono-
Estas associações são amplamente descritas na
lógico estejam diretamente ligados à má perfor-
literatura, como por exemplo, em um estudo com
mance em leitura na maioria das crianças com
101 crianças gregas com dificuldades de apren-
dislexia é amplamente aceito pela comunidade
dizagem, que constatou presença de DPAC em
científica4. O que ainda permanece em debate
43,3% da amostra e comorbidade entre DPAC e
são as origens desses déficits. Galaburda et al.3
DD em 25% dos casos. Neste estudo, o fator que
afirmam ser possível que déficits auditivos no
diferenciou o grupo de comorbidade DPAC e DD
primeiro ano de vida, com início antes ou no
dos demais foi o desempenho significativamente
momento em que as estruturas fonológicas es-
tejam se desenvolvendo, possam contribuir para menor no Teste Padrão de Duração8.
as anomalias no desenvolvimento fonológico. Outro estudo de revisão sistemática9 com-
Outros autores2 têm questionado se os défi- parou comportamentos que se sobrepõem em
cits fonológicos teriam caráter primário ou se crianças com DPAC e crianças com outros dis-
seriam secundários a déficits no Processamento túrbios do desenvolvimento como DEL, TDAH,
Auditivo Central (PAC), um conjunto de meca- DD e Distúrbios da Aprendizagem. Os resultados
nismos do sistema nervoso central, responsá- deste estudo mostraram que crianças com DPAC
vel pela localização e lateralização dos ruídos apresentam desempenho igual às crianças dos
sonoros, reconhecimento de padrões auditi­vos, demais grupos em testes de inteligência, me­
discriminação auditiva, aspectos temporais da mória, atenção e linguagem. Entretanto, o grupo
audição e habilidades auditivas com sinais de crianças com DD mostrou pior desempenho
acústicos e degradados5. nas habilidades de leitura.

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As pesquisas sobre Dislexia do Desenvolvi- MÉTODOS


mento mostram que não existe um perfil cogni- Sujeito em estudo
tivo único da criança com dislexia. Como há múl- Para a realização deste estudo de caso único, o
tiplos mecanismos cognitivos envolvidos neste sujeito avaliado, a quem doravante será atribuí­do
transtorno, também existem diferentes perfis o codinome Mateus, era, na época, um menino
com este diagnóstico. Um estudo do WISC-IV10, de 10 anos e nove meses, com diagnóstico prévio
com 56 crianças americanas diagnosticadas com de DD associada a DPAC, conferido pela Uni-
DD, idades entre 7 a 13 anos, mostrou uma mé- dade de Apoio de Fonoaudiologia do Instituto
dia de pontuação significativamente inferior em Central do Hospital das Clínicas de São Paulo.
todos os índices, especialmente no de Memória Antes do início da avaliação, a mãe assinou o
Operacional (IMO), comparadas ao grupo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
controle. Neste estudo, os tamanhos de efeitos onde constavam as informações a respeito do
mais amplos foram observados nos subtestes pro­­tocolo de pesquisa.
Vocabulário, Sequência de Números e Letras, Na entrevista de anamnese, a mãe revelou que
Informação e Aritmética. o desenvolvimento neuropsicomotor transcorreu
Outra pesquisa sobre o perfil neuropsicoló­ de forma típica, ao contrário do desenvolvimento
gico de 60 crianças francesas com dislexia a da linguagem, que ocorreu com atraso. Mateus
partir do WISC-IV11 mostrou o IMO em nível li­ falou as primeiras palavras aos 17 meses e a pri­
mítrofe, significativamente rebaixado em relação meira frase, aos 4 anos. Aos 3 anos de idade, in­­
aos demais índices deste teste. Nesta amostra gressou na educação infantil e, desde este perío­
francesa, as habilidades de linguagem e racio- do, já demonstrava pouco interesse pelas letras.
cínio encontravam-se preservadas, contrastando Começou a aprender a ler aos 7 anos e nunca
com uma limitação na eficiência da memória de foi reprovado, possivelmente por conta do sis-
trabalho verbal. Por sua vez, um estudo brasileiro tema de aprovação automática que vigorava no
sobre o perfil neuropsicológico de crianças com município de São Paulo na época. Em sala de
DD12 apontou dificuldades nas funções executi- aula, a professora relatou que Mateus mostrava-se
vas, memória de trabalho fonológica, memória inquieto, atrapalhava o andamento das ativi-
semântica, discriminação direita-esquerda e dades e às vezes apresentava comportamentos
preservação da memória episódica e habilida- agressivos. Sua aprendizagem encontrava-se
des viso-construtivas. defasada como um todo: lia e escrevia muito mal,
O objetivo do presente estudo foi contribuir não conseguia memorizar o que estudava e apre-
para a caracterização do diagnóstico diferencial sentava dificuldades com a matemática. Quando
da Dislexia do Desenvolvimento quando asso- recebeu atendimento psicopedagógico, no ano
ciada ao DPAC, através da análise comparativa de 2013, apresentou melhoras no desempenho
entre o perfil cognitivo de uma criança diagnos- escolar. Mateus dependia da mãe para ajudá-lo
ticada previamente com DD e DPAC, com perfis a fazer as lições de casa e da atenção integral da
cognitivos de crianças com dislexia descritos professora para realizar as atividades na escola.
na literatura. Por meio desta análise, busca-se O encaminhamento para avaliação neuro­
uma compreensão mais aprofundada de uma psicológica foi realizado pelo médico otorrinola-
das múltiplas formas de apresentação do perfil ringologista do HC-SP, por conta do diagnóstico
neuropsicológico na DD, visando contribuir para prévio de DD e alteração do PAC, conferido pela
que diagnósticos precoces possam ser efetivados fonoaudióloga do Hospital as Clínicas de SP,
e para o desenvolvimento de novas formas de além de queixas escolares de desatenção e baixo
intervenção que busquem atenuar as múltiplas rendimento escolar. Em seu histórico médico
dificuldades decorrentes deste transtorno. constam otites, sinusite e amigdalites.

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Criança com dislexia do desenvolvimento e distúrbio do processamento auditivo central

Durante a primeira infância, Mateus sofreu WISC-IV13. A aplicação desta escala possibilitou
com problemas crônicos de acúmulo de líquido a investigação das habilidades verbais por meio
no ouvido, coriza e obstrução nasal. O fato de do raciocínio, compreensão e conceituação,
estar cronicamente com os ouvidos “entupidos” expressos num Índice de Compreensão Verbal
(sic) nos anos iniciais de seu desenvolvimento, (ICV). Além disso, também possibilitou a aferi-
prejudicou sua acuidade auditiva. Segundo a fo- ção da organização perceptual e seu respectivo
noaudióloga, os primeiros exames de audiometria índice, IOP, a análise da atenção, concentração
mostravam que Mateus ouvia sons misturados e e memória operacional, expressos no Índice
trocava as letras. Aos 5 anos de idade, Mateus rea­ de Memória Operacional (IMO), e a agilidade
lizou uma cirurgia para a introdução de um tubo mental e processamento grafo-motor, traduzidos
ventilatório no ouvido e remoção das amígdalas. no Índice de Velocidade de Processamento (IVP).
Após a cirurgia, sua audiometria se normalizou Ademais, o WISC-IV também possibilitou a afe-
e o problema da troca de letras foi amenizado. rição do QI total do sujeito.
Contudo, Mateus continuou apresentando Para investigar o domínio da memória, foram
alterações no PAC. Segundo o diagnóstico da utilizados os subtestes Dígitos, Dígitos Ordem
fonoaudióloga, Mateus ainda apresentava ima- Inversa, Vocabulário e Informação do WISC-IV.
turidade e lentidão nos exames de PAC, quando Além destes, também foram utilizados os se-
comparado a outras crianças de sua faixa etá- guintes testes: 1. Teste Auditivo-Verbal de Rey14
ria. Além disso, embora sua audiometria atual (RAVLT), que permitiu a aferição de uma curva
fosse normal, Mateus apresentava dificuldades de aprendizagem de uma lista de 12 palavras
nos testes que exigiam interpretação dos sons, ao longo de quatro tentativas, bem como a
especialmente, no ouvido esquerdo. Mateus fez aferição posterior de índices de evocação de
tratamento fonoaudiológico por seis meses e, memória imediata, tardia e de reconhecimento
atualmente, faz avaliações periódicas com uma de palavras. 2. Figura Complexa de Rey15 para
fonoaudióloga do Hospital das Clínicas de SP. a investigação da memória episódica viso-per-
No aspecto psicoafetivo, segundo relato ma- cepto-espacial gráfica de evocação imediata,
terno, Mateus apresentava um vínculo muito forte além de funções executivas de planejamento. 3.
com a mãe e conflitos com o pai. Costumava ficar O teste 7 Figuras/ 7 Palavras16, que possibilitou
muito nervoso e irritado quando ouvia “nãos”. a análise qualitativa das memórias imediata e
Tanto na escola como em casa Mateus mostrava-se de evocação tardia, tanto visual, como auditiva.
ansioso, impulsivo, inseguro e desatento. O domínio da Linguagem foi investigado com
o uso dos seguintes testes: 1. Subteste Vocabu-
Instrumentos de avaliação lário, Compreensão e Informação do WISC-IV.
Além da entrevista de anamnese com a mãe, 2. Teste de Nomeação de Boston17, no qual o
foram realizadas oito sessões de avaliação com sujeito deveria nomear 60 itens visuais com di­
o sujeito, divididas em quatro encontros. Em ficuldade progressiva. 3. Teste de Desempenho
cada encontro, duas sessões de 45 minutos foram Escolar, TDE18, que avaliou as capacidades fun-
intercaladas com 30 minutos de descanso. Este damentais de escrita, leitura e aritmética para o
arranjo se deu pelo fato da família de Mateus desempenho escolar. 4. Token Test19, versão re-
morar em local muito distante do hospital onde duzida com 39 itens, que avaliou a compreensão
a avaliação foi realizada, tendo a mãe declarado verbal por estímulos de forma, tamanho e cores
que seria impossível trazer a criança mais do que diferentes. 5. Teste de Repetição de Palavras e
quatro vezes para a avaliação. Pseudopalavras20, que avaliou a memória de cur-
Para avaliar a inteligência e funções cogni­ to prazo fonológica associada à aprendizagem
tivas, foram utilizados todos os subtestes da de palavras novas e desempenho em leitura. 6.
Escala Wechsler de Inteligência para Crianças, Prova de Escrita sob Ditado, versão reduzida21,

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que avaliou o procedimento de escrita através de Déficit de Atenção/Hiperatividade Versão Pro-


de 36 itens psicolinguísticos que variavam em fessores29 foi utilizada para investigar sintomas
termos de lexicalidade, regularidade das corres- de desatenção, hiperatividade, problemas na
pondências grafofonêmicas, comprimento e grau aprendizagem e comportamento antissocial que
de ocorrência. 7. Avaliação da Compreensão Lei- se manifestam no ambiente escolar. 6. Utilizou-se
tora de Textos Expositivos22, que permitiu uma a Torre de Hanoi30 como instrumento de avaliação
avaliação qualitativa da compreensão leitora, qualitativa da capacidade de antecipação, plane-
capacidade de observação do sujeito e da análise jamento, resolução de problemas, monitoramento
de seus aspectos cognitivos. 8. CONFIAS23, que e desempenho efetivo.
possibilitou a avaliação da consciência fonoló-
gica ao nível da sílaba e fonema. Análise dos dados
As funções viso-espaciais e construtivas foram Para a análise dos dados, foram utilizadas ta-
avaliadas com o uso dos testes: 1. Figura Com- belas específicas normatizadas para a população
plexa de Rey15, que investigou a percepção visual, e/ou Z-Scores obtidos a partir das médias dos
organização viso-espacial, funções motoras e grupos normativos e seus respectivos desvios-
capacidade de planejamento, através da cópia. 2. -padrão. Alguns testes foram analisados de
Os subtestes Cubos, Raciocínio Matricial e Com­ forma qualitativa, à luz do referencial teórico
pletar Figuras do WISC-IV13. 3. Hooper19, que da neuropsicologia.
avaliou a habilidade de integração de estímulos
viso-espaciais por meio da exposição de 30 figuras RESULTADOS
fragmentadas em graus de dificuldade crescen- Os escores quantitativos das funções cogni-
tes. Por sua vez, as funções psicoafetivas foram tivas avaliadas são apresentados na Tabela 1.
avaliadas pelo Teste da Casa-Árvore-Pessoa24 Os Índices de Organização Perceptual (IOP),
(HTP) e da Escala de Stress Infantil25. com classificação limítrofe, e de Compreensão
Finalmente, o domínio das funções executivas Verbal (ICV), com classificação média-inferior,
e da atenção foi avaliado por meio dos seguintes mostraram-se os mais rebaixados no WISC-IV.
testes: 1. Subtestes Códigos, Procurar Símbolos, Os resultados dos testes que avaliaram o do-
Cancelamento, Semelhanças, Aritmética, Sequên- mínio da linguagem mostraram prejuízos impor-
cia de Números e Letras, Conceitos Figurativos, tantes quando comparados ao desempenho de
Raciocínio Matricial, Raciocínio com Palavras crianças da mesma faixa etária e ao desempenho
e Compreensão, do WISC-IV13. 2. Trail Making do próprio sujeito em outros domínios. Mateus
Test26, versões A e B, utilizado para avaliar a aten- obteve resultados especialmente rebaixados no
ção sustentada, atenção concentrada e flexibili- teste de compreensão verbal através de estímu-
dade cognitiva. 3. Para avaliar as capacidades de los de formas, tamanhos e cores (deficitário), no
atenção concentrada, atenção dividida e atenção subteste Vocabulário (limítrofe) e Informações
alternada, utilizaram-se testes de cancelamento (deficitário) do WISC-IV, na Prova de Escrita
da Bateria Psicológica de Atenção, BPA27. 4. O sob Ditado21 (muito baixo) e no TDE18 de leitura
acesso ao aspecto léxico-semântico da lingua- e escrita (deficitário).
gem foi investigado com a utilização do teste de A análise qualitativa dos testes mostrou que
Fluência Verbal Nominal, FAS19, no qual o sujeito Mateus apresentou desempenho equivalente ao
foi instruído a falar o maior número de palavras nível alfabético no CONFIAS23, mostrando difi-
iniciando com as letras F, A e S no período de um culdades na avaliação e na produção de rimas,
minuto e do teste de Fluência Verbal Categóri- assim como dificuldades nos subitens “exclusão
ca – Animais28, em que o mesmo deveria citar o de fonemas” e “segmentação de fonemas”. Na
maior número de animais que pudesse lembrar no leitura silenciosa da Avaliação da Compreen-
mesmo período. A Escala Benczic de Transtorno são Leitora de Textos Expositivos22, Mateus

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Tabela 1 - Avaliação quantitativa do desempenho nos testes


Testes R. Bruto Z-Sc. Percentil Classificação
Funções Intelectuais
ICV 80 -1.3 9 Média Inferior
IOP 79 -1.4 8 Limítrofe
IMO 97 -0.2 42 Média
IVP 103 0.2 58 Média
QI Total 85 -1 16 Média Inferior
Linguagem
Boston 33 -0.75 24 Média Inferior
Token 127 <0.5 Deficitária
TDE escrita 14 -3.86 0.1 Deficitária
TDE leitura 57 -3.77 0.1 Deficitária
Vocabulário WISC-IV 19 9 Limítrofe
Comp. WISC-IV 18 37 Média
Ditado de Palavras 54 Muito baixa
Rep.Pal./Pseud. Pal. 7 Média
Hab. Viso-Espac. E Construtivas
Fig. Rey (Cópia) 26 -1.5 7 Limítrofe
Cubos WISC-IV 18 16 Média Inferior
Comp. Fig. WISC-IV 16 9 Limítrofe
Hooper 17.5 -2.6 0.5 Deficitária
Habilidades Acadêmicas
TDE Total 89 -3.77 <0.1 Deficitária
TDE Aritmética 17 -1.79 4 Limítrofe
Memória
Dígitos Total WISC-IV 13 37 Média
Dígitos Dir. WISC-IV 6 24 Média Inferior
Dígitos Inv. WISC-IV 7 63 Média
Fig. Rey Evocação 13.5 -1.71 Limítrofe
RAVLT Total 37 1.37 90 Méd. Superior
B1 2 -2.46 0.8 Deficitária
A5 11 2 98 Superior
A6 11 1.70 96 Superior
Reconhecimento 12 0.71 76 Méd. Superior
Informação WISC-IV 9 2 Deficitária
Vocabulário WISC-IV 19 9 Limítrofe
Funções Executivas e Atenção
Códigos WISC-IV 42 50 Média
Proc. Símb. WISC-IV 22 63 Média
Trail Making A 44” -0.55 31 Média
Trail Making B 116” -0.87 21 Média Inferior
BPA AC: 65 1.06 84 Méd. Superior
AD: 73 1.4 92 Superior
AA: 93 2.9 99 Superior
FAS 15 -1.07 16 Média Inferior
Categórica (Animais) 14 0.83 79 Méd. Superior
Semelhanças WISC-IV 5 5 Limítrofe
Aritmética WISC-IV 20 37 Média
Núm. e Let. WISC-IV 16 50 Média
Conc. Figur. WISC-IV 14 37 Média
Rac. Mat. WISC-IV 8 2 Deficitária
Canc. WISC-IV 68 37 Média
Comp. WISC-IV 18 37 Média

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apresentou comportamentos de apoio articu­ no Hooper19 e limítrofe em completar figuras


latório, mostrando importantes sinais de impa- do WISC-IV, testes que avaliaram a percepção
ciência ao final da leitura. Nesta modalidade de visual e o reconhecimento visual de detalhes
leitura, o número médio de palavras lidas por essenciais em diferentes objetos. Na cópia da
minuto foi 73,4, índice abaixo do esperado para Figura de Rey, seu desempenho esteve na faixa
crianças de sua idade, cuja média é 93,3, sendo, limítrofe.
portanto, 21,4% abaixo da média. Os testes que avaliaram aspectos psicoafeti-
A leitura oral foi realizada com dificuldade, vos demonstraram traços de insegurança, fraco
sem pontuações, com omissão de artigos e sem- controle do ego e necessidade de apoio. Mateus
pre no mesmo tom, indicando falhas de prosódia. também mostrou baixo nível de energia para
A via predominante utilizada foi a lexical, ainda atividades intelectuais, busca de recompensa e
que, diante de palavras muito extensas ou des- sucesso rápido, sentimento de incapacidade e
conhecidas, a via fonológica também tenha sido falta de confiança em si.
utilizada. O número médio de palavras lidas por De uma maneira ampla, o domínio da memó-
minuto nesta modalidade foi 66,7, muito abaixo ria mostrou-se preservado. O Índice de Memória
do esperado para crianças da mesma idade, cuja Operacional do WISC-IV esteve dentro da média,
média é 113,3, ou seja, 58,87% abaixo da média porém, a avaliação da memória operacional fono-
das crianças de sua faixa etária. lógica no teste CONFIAS23 mostrou desempenho
Quanto à compreensão da leitura, o reconto rebaixado em consciência fonológica e consciên-
da história ocorreu de forma encadeada, mas cia fonêmica. A memória de longo prazo semân-
bas­tante resumida. Algumas informações que tica, que envolve habilidades de adquirir, reter e
foram omitidas no reconto espontâneo puderam recuperar conhecimentos factuais aprendidos na
ser resgatadas a partir das perguntas realizadas escola e no ambiente em que vive, obteve desem-
pela examinadora, mas outras foram perdidas. penho deficitário, como no subteste Informações
Finalmente, a análise qualitativa da Prova de do WISC-IV. Por outro lado, os testes que avalia-
Escrita sob Ditado21 e TDE18 escrita, de acordo ram a memória de longo prazo episódica verbal e
com a classificação de Zorzi31 dos erros ortográ­ a memória visual apresentaram desempenho mé-
ficos mais encontrados nos transtornos de apren- dio superior, com exceção da evocação da Figura
dizagem, mostrou que Mateus fez erros ortográ- de Rey15, que apresentou desempenho limítrofe.
ficos em vários domínios: substituiu letras em No domínio das funções executivas, Mateus
razão de possibilidades múltiplas, apresentou mostrou bom desempenho nos testes avaliados
uma tendência a escrever as palavras do modo que apresentavam pouca exigência de esforço
como são pronunciadas, fez trocas envolvendo mental. Todavia, nos testes que demandavam ra­
substituições entre letras que representam fo- ciocínio lógico mais complexo, como Torre de
nemas surdos sonoros, fez acréscimo de letras Hanoi30, Semelhanças, Raciocínio Matricial e
e confusão entre letras parecidas. Raciocínio com Palavras do WISC-IV, apresentou
Além da linguagem, também os domínios das desempenho bastante rebaixado.
habilidades viso-espaciais/construtivas e das ha­
bilidades acadêmicas mostraram desempenhos DISCUSSÃO
bastante rebaixados. Dentre as habilidades aca- O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil neu­
dêmicas no TDE, além de desempenho deficitário ropsicológico de uma criança com diagnóstico
em leitura e escrita, o sujeito apresentou desem- prévio de DD associada a DPAC e compará-lo aos
penho limítrofe em Aritmética. No WISC-IV, o perfis cognitivos de dislexia do desenvolvimento
índice de Organização Perceptual mostrou-se descritos na literatura. Com esta análise, buscou-se
o mais rebaixado, com classificação limítrofe. trazer contribuições para o entendimento de uma
O sujeito ainda obteve desempenho deficitário das múltiplas formas de apresentação da DD com

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comorbidade e, assim, ampliar a compreensão so- como de outros testes que investigaram este
bre este transtorno e contribuir para a construção domínio, divergem dos perfis de DD descritos na
de diagnósticos diferenciais. literatura. Para Hulme e Snowling1, seria plau-
A investigação a respeito dos perfis cogniti- sível supor que problemas na percepção visual
vos da DD na literatura revelou uma heteroge- contribuem para as dificuldades na leitura, mas
neidade de perfis, uma vez que este transtorno as tentativas de estabelecer esta associação até o
é complexo e apresenta déficits em diferentes presente momento tiveram muito pouco sucesso.
funções cognitivas32. Entretanto, alguns estudos Em um estudo sobre as características neu-
apresentam características comuns nos perfis ropsicológicas de crianças brasileiras com DD,
de indivíduos com DD1,12,13,20,21,33-36, que também Cruz-Rodriguez et al.12 não encontraram dife-
puderam ser observadas nesta avaliação. renças nas habilidades viso-construtivas entre
Desta forma, a associação entre DD e déficits o grupo de DD e o grupo controle. É possível
na consciência fonológica1,12,20,33 foi corroborada que as dificuldades no processamento visual na
por este estudo, tendo o sujeito demonstrado dislexia sejam marcadores de anomalias neuro-
dificuldades com a produção de rimas, exclusão lógicas, mas não estariam implicadas de forma
e segmentação de fonemas34,35, assim como pro- causal nas dificuldades de leitura37.
blemas com a escrita de palavras irregulares e O domínio da atenção na avaliação de Mateus
de pseudopalavras1. mostrou-se preservado. De acordo com os resul-
tados da Escala Benczic de Transtorno de Déficit
Estes resultados também corroboram dados
de Atenção/Hiperatividade, Versão Professores29,
da literatura que descrevem déficits na memó­ria
o sujeito em estudo não apresenta sintomas de
de trabalho fonológica na DD, como no estudo do
TDAH. Entretanto, em tarefas que exigiram um
perfil neuropsicológico de crianças francesas
maior esforço mental, planejamento e raciocínio
com DD a partir do WISC-IV11 e no estudo do
lógico, Mateus apresentou baixo desempenho.
perfil neuropsicológico com crianças brasileiras
Entende-se esta dificuldade como decorrência
com DD14. Além disso, o desempenho deficitário
de déficits nas funções executivas superiores
em testes que avaliaram a memória de longo
que demandam planejamento, alternância de
prazo semântica é congruente com o quadro
foco, flexibilidade cognitiva, raciocínio lógico e
de­ficitário do desempenho escolar do sujeito,
diferenciação do essencial/supérfluo.
corroborando os resultados do estudo brasileiro12 Em concordância com estes achados, um es-
acima citado. tudo de Goldstein & Green38 também encontrou
O número médio de palavras lidas por minuto dificuldades nas funções executivas relativas
mostrou-se muito abaixo do esperado para a faixa à habilidade de utilizar pistas externas para
etária e a leitura foi acompanhada de muitos orientar o comportamento, automonitoramento
erros de pontuação, problemas com a fluência e mudança de foco no perfil cognitivo de indi-
e omissão de artigos, dificuldades também des- víduos com dislexia. Além disso, a observação
critas como características do perfil cognitivo clínica do comportamento de Mateus durante as
de crianças com DD1,20. O resultado do subteste sessões de avaliação constatou bastante resistên-
vocabulário, informação e aritmética rebaixados cia nos momentos em que o sujeito se deparava
confirma a descrição do perfil de crianças com com tarefas que exigiriam maior esforço mental.
DD no Manual Técnico do WISC-IV10. Além Nestas situações, o sujeito em estudo mostrava
disso, o IVP em nível médio confirmou dados de pouco empenho e frequentemente solicitava
duas pesquisas10,11 que sugerem que a velocida- “dicas”, argumentando que sua mãe e professora
de de processamento normal pode estar presente sempre o ajudavam.
nos quadros de DD. Entretanto, nos momentos em que a avalia­
As dificuldades viso-perceptivas evidencia- dora insistia para que Mateus realizasse as ta-
das pelo sujeito, tanto pelo IOP na faixa limítrofe refas de forma independente e se empenhasse

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mais, os resultados mostraram-se mais positivos. Aos 5 anos de idade, este problema foi par-
É possível que esta atitude de pouco compro- cialmente resolvido por intermédio de cirurgia
metimento com tarefas cognitivas desafiadoras e tratamentos fonoaudiológicos. Consequente-
refletindo falhas em funções executivas de autor- mente, Mateus seguiu apresentando dificulda-
regulação e inibição de respostas tenha contri- des na esfera da linguagem, no processo de es-
buído para o agravamento de suas dificuldades colarização que se iniciava e em sua autoestima.
acadêmicas. Por outro lado, estas observações Por estas razões, a literatura enfatiza a neces-
estão em consonância com a avaliação psicoafe­ sidade de estimulação precoce das habilidades
tiva que indicou traços de insegurança, fraco au­ditivas das crianças com déficits no proces-
controle do ego, necessidade de apoio, e busca de samento auditivo no momento do nascimento.
recompensa e sucesso rápido.
Desta forma, tais crianças aumentam as chances
Por sua vez, o perfil cognitivo de Mateus tam­
de que tais déficits possam ser recuperados na
bém apresentou discordâncias com algumas
infância tardia3.
características apontadas na literatura, como por
O perfil cognitivo de Mateus mostrou concor­
exemplo, o IMO do WISC-IV10,11 não se mostrou
rebaixado em relação aos demais. Além disso, dâncias e divergências dos perfis cognitivos de
entre os Índices das funções cognitivas avaliadas DD descritos na literatura. Em concordância,
pelo WISC-IV, o Índice de Organização Percep- os resultados dos testes mostraram: 1. Déficit
tual foi o mais rebaixado (Percentil 8), sendo que no processamento fonológico. 2. Rendimento
é normalmente descrito na literatura como den- acadêmico com níveis rebaixados. 3. Disfunções
tro da faixa média10,11. Finalmente, outros testes exe­cutivas de planejamento, automonitoramento
que avaliaram as habilidades viso-espaciais e e raciocínio abstrato. 4. Dificuldades na forma-
construtivas, como o Hooper, completar figuras ção, articulação e compreensão de conceitos
do WISC-IV e a cópia da Figura de Rey, também ver­bais. 5. Erros ortográficos característicos e
mostraram baixo desempenho, contrariando a pro­blemas específicos na leitura. 6. Dificuldades
maioria dos estudos sobre perfis cognitivos na DD na memória de trabalho fonológica e na memória
até o presente momento. semântica 7. Memória episódica preservada. Por
outro lado, divergindo de outros perfis descritos
CONCLUSÃO na literatura, este estudo mostrou: 1. Índice de
A DD é um Transtorno Específico da Apren- Memória Operacional no WISC-IV dentro da
dizagem em que diferentes déficits cognitivos faixa média. 2. Índice de Organização Perceptual
podem estar associados em múltiplas combi­ rebaixado, na faixa limítrofe. 3. Comprometi-
na­ções, resultando em diferentes perfis. Neste mento das habilidades viso-construtivas.
transtorno, outras competências, além das lin- É possível que a realização de duas sessões
guísticas, parecem estar implicadas. Consequen-
de avaliação em um mesmo encontro, ainda que
temente, um sistema diagnóstico que se limite à
intercaladas por um período de descanso, tenha
investigação de sintomas linguísticos não seria
afetado o desempenho do sujeito nos testes, o
suficiente para a compreensão das dificuldades
que se configura como uma das limitações deste
características deste transtorno39.
Os problemas auditivos crônicos de Mateus estudo. Além disso, por se tratar de um estudo de
de­correntes de acúmulo de líquido no ouvido caso único, seus resultados não podem ser gene-
desde o seu nascimento parecem ter afetado a ralizados. Novos estudos apresentando casos de
acui­dade auditiva nos anos iniciais do desenvol­ DD associada a outros distúrbios do desenvolvi-
vimento de suas redes neurais e provocado atra- mento, assim como estudos quantitativos sobre
so no desenvolvimento global de sua linguagem. os múltiplos perfis cognitivos que se manifestam
É provável, portanto, que este fato tenha pre- na DD, devem ser realizados para que a perspec-
judicado o desenvolvimento do processamento tiva atual sobre este transtorno seja aprofundada
auditivo central e da consciência fonológica. e diagnósticos precoces possam ser efetivados.

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Criança com dislexia do desenvolvimento e distúrbio do processamento auditivo central

SUMMARY
Cognitive Profile of a Child with Prior Diagnosis of
Developmental Dyslexia Associated with
Central Auditory Processing Disorder: Case Study

Objective: This study had the purpose to do a comparative analysis


of the cognitive profile of a child with prior diagnosis of Developmental
Dyslexia (DD) associated with Central Auditory Processing Disorder,
with the DD’s profiles described in the literature. Methods: The cognitive
domains of language, memory, academic abilities, perceptual abilities,
attention, speed processing and executive functions were investigated
through a battery of neuropsychological tests. Additionally, a literature
review about the cognitive profiles of DD was conducted. Results: The
results showed low Perceptual Reasoning Index in the WISC-IV. The
domains of language, academic abilities and perceptual organization were
limited comparing to other children at the same age and to the results of
the patient in the domains of attention, memory and non-complex executive
functions. Conclusion: In accordance with the DD profiles investigated
in the literature, the patient’s cognitive profile showed: 1. Phonological
deficits. 2. Poor school achievement. 3. Executive dysfunctions related to
planning, self-monitoring and abstract reasoning. 4. Problems in forming,
articulating and understanding verbal concepts. 5. Characteristic reading
and misspelling errors. 6. Deficits in the phonological working memory
and semantic memory. 7. Episodic memory preserved. Differing from the
profiles depicted in the literature, this study showed: 1. Working Memory
Index in WISC-IV in normal levels. 2. Lowered Perceptual Reasoning Index.
3. Deficits in visual-perceptual skills.

KEYWORDS: Dyslexia. Auditory Processing Disorder. Cognitive Profile.


Case Studies.

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Trabalho realizado na Universidade Presbiteriana Ma­ Artigo recebido: 10/2/2018


ckenzie, São Paulo, SP, Brasil. Aprovado: 27/2/2018

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