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A NEUROPSICOLOGIA DO AUTISMO

Fernanda Alves Puchetti


Adriana Piva

Introdução

O presente trabalho tem o intuito apresentar os principais prejuízos do


transtorno do espectro do autista, como ele impacta no neurodesenvolvimento, e
quais são as principais estruturas cerebrais atingidas.
Atualmente, no DSM- 5 o transtorno do espectro autista passou a integrar
os transtornos do neurodesenvolvimento, tem início no período do
desenvolvimento, em geral antes da criança ingressar na escola.
O autismo afeta cerca de 70 milhões de pessoas no mundo, apresenta
risco de recorrência familiar, com causas múltiplas, e requer um olhar
interdisciplinar para o diagnóstico e tratamento.
As manifestações que caracterizam seu contexto sintomático são
comportamentais e qualitativas, relacionadas à dificuldade na interação social,
comunicação, padrões de comportamento repetitivos, estereotipados e déficits
nos processos cognitivos.
A neuropsicologia tem um papel fundamental pois auxilia no processo de
diagnóstico e um dos objetivos é analisar as funções executivas, ou seja, a
capacidade de desenvolvimento e planejamento de estratégias para alcançar
objetivos. Ela serve para avaliar lesões e disfunções cerebrais nos mais variados
casos. Existem algumas escalas de diagnóstico e rastreio do TEA adaptadas
para população brasileira que auxiliam na detecção.

Desenvolvimento
Segundo Siqueira et al (2016) o cérebro de uma pessoa autista
apresenta falha de comunicação entre os neurônios, dificultando o
processamento de informações. As principais alterações são: no corpo caloso,
que é responsável por facilitar a comunicação entre os dois hemisférios do
cérebro, a amígdala, responsável pelo comportamento social e emocional e o
cerebelo, que está envolvido com as atividades motoras, como o equilíbrio e a
coordenação. O cérebro também apresenta prejuízo em dois principais
neurotransmissores: a serotonina (faz com que os neurônios passem sinais entre
si, uma de suas funções é equilibrar o humor) e o glutamato (é um
neurotransmissor excitatório do SNC, atua no desenvolvimento neural, na
plasticidade sináptica, no aprendizado e na memória).
De acordo com Moraes (2014) as crianças com autismo, apresentam um
volume maior do hipocampo direito. O hipocampo é uma estrutura alinhada a
formação da memória responsável por armazenar e formatar as memórias de
longo prazo. Já no corpo mamilar que está relacionado ao hipotálamo, sua
principal função é regular os reflexos alimentares, lesões nesta região é
relacionada com a perda de capacidade de navegação espacial. Sugere-se que
em autistas a hipoativação dessa região seja relacionada ao prejuízo da
capacidade de aprendizagem espacial.
No córtex entorrinal é ligado a numerosas fibras da região cortical que se
conectam com o restante do córtex cerebral, esta ligada ao processamento de
informação advinda dos aspectos sensoriais e motores. Alterações no volume e
desenvolvimento dessa região têm sido associadas ao autismo. A amígdala é
uma estrutura complexa adjacente do hipocampo, envolvida no processamento
do medo e emoções, ela coordena respostas fisiológicas com base nas
informações cognitivas. Nas crianças autistas a amígdala inicialmente cresce
mais rápido se tornando maior do que das outras crianças da mesma idade,
entretanto vai reduzindo ao longo do tempo até a idade adulta, se tornando
menor do que os outros sem essa condição. O subículo é a menor parte da
formação do hipocampo e localiza-se entre o córtex entorrinal e o hipocampo.
Esta região está associada com a epilepsia e também memória de trabalho,
atuando na regulação do sistema de dopamina, anomalias na sua formulação
têm sido associadas ao autismo.
O giro do cíngulo, faz uma comunicação entre o sistema límbico e o
córtex, está ligada ao ativamento de memórias e aprendizagem. A hipoativação
foi encontrada em crianças autistas, anomalias nessa região afetam a conduta
emocional e interação social. O córtex pré-frontal é importante para diversas
áreas, é uma parte crítica do sistema executivo que se refere a capacidade de
planejamento, julgamento, personalidade, emoções e controle adequado de
comportamentos sociais. Os padrões de maturação do córtex pré-frontal em
autistas é mais lento, o que é consistente com o desempenho cognitivo dos
mesmos.
De acordo com Fernandes et al (2006 apud Siqueira et al 2016) estudos
apontam que alguns autistas podem desenvolver altamente habilidade de
memória fotográfica, isto é explicado a partir de um híper- desenvolvimento de
determinantes áreas do cérebro em detrimento a outras como as regiões ligadas
a linguagem e comunicação.
Segundo Muszkat (2014) as funções executivas são um conjunto de
processos cognitivos que permitem ao indivíduo engajar-se com propósito em
atividades socialmente relevantes, como: tomar decisões e monitorar o próprio
comportamento para atingir metas estabelcidades. No autista encontra-se um
comprometimento na região do lobo frontal, que é a região responsável pelas
funções executiva. As dificuldades executivas encontradas no TEA diz respeito a
inflexibilidade cognitiva, perseveração, dificuldade em gerar novos tópicos
durante a brincadeira faz de conta, dificuldade no relacionamento interpessoal e
foco no detalhe em detrimento de um todo.
As pessoas com TEA apresentam dificuldade no processamento da
informação, tendendo a focar em detalhes particulares, sendo assim não juntam
todas as partes das informações para montar um conteúdo total. Essa dificuldade
gera alterações no processamento de informações perceptivas, visuoespaciais e
semântico-verbais, provocando comportamento repetitivo e restritivo. Entretanto,
essa mesma caracteristica pode explicar a facilidade para lidar com temas
especificos.
O diagnóstico do TEA deve ser composto por anamnese, observação,
avaliação direta do comportamento, avaliação neuropsicologica, avaliação
multidisciplinar e exames complementares. Os principais aspectos a serem
observados são as caracteristicas que compõe o diagnóstico, baixo contato
visual, falta de coordenar o olhar da mão com o objeto, preferência por
determinados brinquedos, diferença na qualidade do brincar, preferência por
parte dos objetos, dificuldade de imitações, na percepção quando o outro está
triste, nervoso, feliz, podem se responder de forma hiperresponsivas a sons,
luz, restrinções alimentar, ou hiporesponsiva tolerância a dor, analisar esses
aspectos ajuda na entrevista neuropsicologia. Pessoas com TEA apresentam
alterações prosódia, como entonação monótona e robotizada (ritmo e
qualidade da voz), expressando-se dificuldade para identificar padrões de
entonação emocionais referente a alegria, tristeza, raiva.

Outro aspecto importante em um avaliação neuropsicologica são as


escalas e os testes psicologicos, que auxiliam no diagnótisco. Sendo eles: o
teste de classificação de cartas de Wisconsin (WCST) há evidências de que
pessoas com TEA apresentam muitas perseverações no teste, o que
expressaria pensamentos rígidos e dificuldade para avaliar novas estratégias
diante de mudanças. Nas escalas Weschler, individuos com TEA apresentam
baixo desempenho nos subtestes das escalas associados à linguagem
(abstração verbal e sequenciamento), mas têm escores médios nos de
habilidades visuoconstrutuvas e memória.
No teste torre de Londres, evidenciam problemas de funcionamento
executivo, pois demanda planejamento, flexibilidade e organização,
expressando especialmente a impulsividade e rigidez. Baixo desempenhos no
testes Rey (RAVLT) e Stroop evidenciam falhas de controle inibitório.
Por fim,algumas das prinipais escalas de diagnóticos e instrumentos
usados no transtorno do espectro do autismo:
Diagnóstico e rastreio: Autism diagnostic interview (A DI-R). Autism diagnostic
observation Schedule (ADOS). Children autism rating scale (CARS). Autism
screenning questionnaire (ASQ). Checklist of autism in toddlers (CHAT).
Modified checklist for autism in toodlers (M-CHAT). Autism behavior checklist
(ABC).
Habilidades sociais: Escala de habilidades adaptativas VINELAND. Inventários
de habilidades sociais (IHS). Subteste compreensão das escalas Wechsler.
Teoria da mente: Provas de falsas crenças (Sally-Ann). Subteste de
compreensão de metáforas – Bateria Montreal de avaliação da comunicação.
Reconhecimento de emoções: Reconhecimento de Emoções (NEPSY-II).
Subteste posódia emocional da bateria (MAC). Teste de conhecimento emocional.
Coerência central: Cópia de memória de figuras de Rey e testes de
reconhecimento de figuras fragmentada.
Funções executivas: Teste Sroop. Teste de fluência verbal. Teste de classificação
de cartas de Wisconsin.

Conclusão
Com este estudo é possível verificar que a neuropsicologia desenvolve um papel
importante no processo diagnóstico. Ela orienta e auxilia os profissionais através
de testes padronizados a descobrir áreas do cérebro prejudicadas. Entretanto, a
neuropsicologia não se limita apenas na aplicação de testes, ela tem etapas que
auxiliam no desenvolvimento do processo, sendo elas a anamnese, testagem,
observação clínica, laudo e devolutiva. O seu olhar para o sujeito é de forma
integral, considerando a sua individualidade, meio que está inserido, cultura e
suas peculiaridades, para assim contribuir no diagnóstico do sujeito.
No caso do TEA a neuropscologia contribui na identificação do diagnóstico, se for
identificado precocemente maiores são as chances de desenolver as habilidades
dessa criança de forma mais rápida. A reabilitação neuropsicologica tem como
foco restaurar habilidade que foram perdidas, ou que não foram adquiridas, como
no caso do TEA essas habilidades não foram adquirida e necessita de um
tratamento, intervenção adequada para serem desenvolvidas, as áreas cerebrais
prejudicadas mostram o que é preciso ser estimuladas, e na neuropsicologia
orienta essa processo mostrando cada área afetada, os seus comprometimentos
e como desenvolver, para assim possibilitar uma qualidade de vida para o sujeito.
Referências Bibliográficas

MORAES, T. P. B. Autismo: Entre a alta sistematização e a baixa


empatia. Um estudo sobre a hipótese de hipermasculinização no cérebro no
espectro autista. Revista Pilquen. Sección Psicopedagogía. Año XVI. nº 11, 2014.

MUSZKAT, M.; ARARIPE, B. L.; ANDRADE, N. C.; MUÑOZ, P. de O. L.;


MELLO, C. B. de. Neuropsicologia do Autismo. In: FUENTES, D.; MALLOY-
DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P. de; CONSENZA, R. M. (orgs.).
Neuropsicologia: teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 177-185.

SIQUEIRA, Carolina Carvalho et al. 221 O CÉREBRO AUTISTA: A


BIOLOGIA DA MENTE E SUA IMPLICAÇÃO NO COMPROMETIMENTO
SOCIAL. Revista Transformar, v. 8, n. 8, p. 221-237,201

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