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Desenvolvimento e Funcionamento Cerebral em Transtornos
Psiquiátricos
Daniel Bartholomeu
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cerebral, que serão abordados separadamente. Considerando o
Neurodesenvolvimento, sabe se que metade dos adultos que apresentam
algum tipo de Transtorno Mental (TM) ao longo da vida, apresentaram os
primeiros sinais da doença já na infância. Estudos com avaliações feitas a
partir dos 11 anos de idade indicaram que, das pessoas adultas que
desenvolveram algum TM, 73% já haviam recebido algum diagnóstico antes
dos 18 anos, enquanto 57% antes dos 15 anos.
É interessante destacar que existem quadros e sinais clínicos
prodrômicos e precoces que sinalizam possibilidades de transtornos mentais
como alterações cognitivas anteriores ao quadro clínico. Alterações cognitivas
na esquizofrenia podem ocorrer até 10 anos antes do primeiro episódio
psicótico (PEP) e do uso de medicação, já nos transtornos de ansiedade
existem alterações neuroendócrinas que favorecem maior sensibilidade
precocemente. Ainda em quadros de pânico pode se mencionar uma condição
herdada que é o arco barorreflexo sinoaórtico que preconiza a incorrência de
síncope vasovagal e é comum em pessoas cujos pais já apresentaram
ansiedade e pânico. Isso remete a discussão dos atributos genéticos e sua
associação com os transtornos psiquiátricos.
Genética e Ambiente
A identificação de um gene ou genes como fator etiológico de processo
mental problemático sempre figurou na psiquiatria biológica e seus resultados
sempre foram um tanto controversos, pois apesar de se identificar associações
entre genes e doenças, não se pode confirmar com exatidão se estas
alterações se mantém em todos os casos, dificultando a identificação de
marcadores genéticos diretos para os transtornos mentais.
Associado a isto, sabe-se que a epigenética apresenta um papel
fundamental com base na ligação entre alterações do ambiente e da expressão
genética que produz diferentes fenótipos dos transtornos. Essa soma se
configura como produtora de fatores de risco para o desenvolvimento de
transtornos mentais e aumenta a vulnerabilidade a doença ou mesmo pode
favorecer uma maior resiliência à estas patologias de alguma forma.
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De fato, e biologicamente, epigenética é a alteração na expressão de um
gene (modificação de seus efeitos pela sua ativação, com base na produção de
proteínas a partir de informações específicas contidas em cada segmento do
DNA) alterando os efeitos metabólicos dos organismos e formação de
fenótipos. A ativação de um gene ocorre no decorrer do desenvolvimento na
diferenciação celular que ocorre no processo embrionário e assumem
características específicas em cada tecido e órgão do corpo. Assim, o ambiente
e a estimulação agem permitindo ou impedindo a expressão do gene que
regulam a intensidade da expressão. Estes fatores são desde nutricionais e
químicos como dieta materna na gravidez, contaminação por vírus e
substâncias tóxicas ou relacionais como cuidados maternos e exposição ao
estresse precocemente na vida.
Assim, o ambiente desenvolve ou inibe o que se herda e tem o papel de
“esculturar” o encéfalo e provocar transformações cerebrais. Um dos exemplos
e do estudo feito com crianças que sofrem maus tratos e que possuem
polimorfismo funcional do gene que codifica a enzima monamino-oxidase A
(MAO-A) - associado a uma menor atividade enzimática que vai degradar,
neste caso, a serotonina - têm maior chance de desenvolver transtorno de
conduta, personalidade antissocial e crimes violentos na idade adulta. Noutro
estudo do mesmo grupo em (2003) demonstrou que indivíduos com um
polimorfismo na região promotora do gene para o transportador da serotonina,
quando também expostos a estressores precoces, apresentam maiores taxas
de sintomas depressivos, diagnóstico de depressão e suicidalidade.
Neurodesenvolvimento
No nascimento, temos mais neurônios, o bebê estabelece bilhões de
conexões, estas que podem ou não ser utilizadas, até o momento em que
ocorre a Poda neuronal, movimento que elimina conexões menos usadas. Ao
mesmo tempo ocorre o reforço que produz redes de comunicação neuronal e
produz reorganização cerebral.
Assim, há picos de desenvolvimento em que as conexões e as podas
ocorrem com mais intensidade bem como a mielinização que aumenta a
conexão e troca de informações entre os neurônios. Os períodos de aquisições
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de habilidades são alguns destes picos, nos quais as alterações têm um papel
importante na epigenética e ativação de elementos do transtorno mental. Por
exemplo, aos 2 anos a criança amplia seu vocabulário (mielinização das
regiões do cérebro relacionadas a linguagem). Há ainda um período de
amadurecimento sensório-motor que dará a base para o amadurecimento das
funções executivas – capacidade de planejar, autocontrole, abstração. Outros
marcos do desenvolvimento podem ser momentos de altas taxas de aquisição
de habilidades como dos 3 aos 7 anos que ocorre o desenvolvimento da
Linguagem, dos 6 aos 8 anos a vivência em grupo; dos 9 aos 11
desenvolvimento de memória, atenção, resolução de problemas,
desenvolvimento social. Se corretamente estimulado nos PICOS, as conexões
são mais fáceis de se estabelecer e a durabilidade também é mais robusta.
Assim, a etiologia das doenças mentais é um Continuum que vai desde fatores
de risco, que segue para sinais menos intensos e ainda insuficientes para um
diagnóstico em TM, até chegar num estado de sintomas graves, que
configuram o quadro clássico da doença.
Sobre fatores de risco (FR), é importante saber que temos 4 níveis
• Individual (gestação, genética, baixa cognição, temperamento, pouca
habilidade social);
• Familiar (maus tratos, mortes, perdas, conflitos, pouca rotina, disciplina,
mais hábitos);
• Escolar (fracasso escolar, bullying, exposição a traumas);
• Comunitário (violência, condições de moradia, falta de recursos).
Ainda, é importante saber que isolados, esses fatores não possuem poder
determinante e cada pessoa reage diferentemente a fatores de risco ambiental
(ex: perda de um ente querido). Ainda, alguns fatores podem ser modificáveis
(começar atividade física, iniciar um programa de estimulação cognitiva,
envolver a família no processo).
No que se refere à Neuroplasticidade, sabe-se por exemplo que a ativação da
micróglia é fundamental para a neuroplasticidade. Ela ocorre já no período pré-natal e
permanece até o final da adolescência. Isso contribui para a organização das redes
neurais, principalmente pela intensidade de poda neural. Porém, na vida adulta,
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essa ativação desencadearia respostas imunológicas anormais e sistêmicas
que também impactariam e modificariam as circuitarias cerebrais existentes.
Resultados são recaídas psicóticas e alterações macroscópicas do cérebro
(ventrículo aumentado, reduções no volume de massa cinzenta, volume do
cérebro inteiro e anisotropia da substância branca). Essa condição sistêmica
deixa o encéfalo susceptível à neurodegeneração, via excitotoxicidade e a
apoptose.
Ao mesmo tempo, em uma pesquisa “realizada com roedores, mostrou
que o aumento dos cuidados maternos na primeira semana de vida - no caso,
amamentar, lamber e carregar o filhote - produziu alterações na metilação do
DNA no hipocampo dos descendentes. Essas alterações resultaram em
respostas diferenciadas ao estresse e se mostraram estáveis ao longo do
desenvolvimento, influenciando os padrões comportamentais exibidos
posteriormente. Desse modo, haveria uma associação entre a quantidade e a
qualidade dos cuidados maternos ofertados nos momentos iniciais da vida, o
desenvolvimento neuronal e as tendências de resposta a eventos estressores
na vida adulta...”
Disto se deriva que o estresse moderado tende a gerar resiliência,
enquanto o estresse severo pode desencadear mecanismos de vulnerabilidade
maior para transtornos mentais. Por fim, resta enfatizar que na Psiquiatria, o
raciocínio de remediação (estimulação) e não de perda. Não se reabilita em
psiquiatria mas promove-se melhora das conexões cerebrais, preservando-se
assim, as funções em longo prazo.
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