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Neurociência e Transtorno do Espectro Autista
Deborah Kerches
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A formação do Sistema Nervoso Central é extremamente complexa e
envolve fatores genéticos e ambientais que já interagem no ambiente
intrauterino. Estes fatores ambientais no ambiente intraútero envolvem questões
placentárias, nutricionais, substâncias químicas que circulam dentro do útero,
infecções, inflamações, distúrbios endocrinológicos, traumas, estresse, que
afetam a gestação e irão interagir diretamente com os genes podendo favorecer
o desenvolvimento de condições ou transtornos do neurodesenvolvimento,
assim como malformações.
A interação entre genes e ambiente se inicia desde a concepção podendo
interferir em todas as fases do desenvolvimento do Sistema Nervoso Central e
ao longo da vida.
Temos bilhões de neurônios no cérebro que possuem o mesmo código
genético (DNA). Os neurônios são diferenciados para suas diversas funções (por
exemplo, visão, audição, tato, comportamento etc.) por meio da epigênese que
é o processo molecular e celular que governa a função dos genes. Esses
processos incluem metilação do DNA, mudanças na estrutura da cromatina, RNA
não codificador e edição do RNA.
Estímulos transmitidos ao cérebro pelos circuitos sensoriais através de
experiências vivenciadas nos períodos pré e pós-natal e também nos demais
estágios da vida, fazem alterações epigenéticas na função neuronal e circuitos
neurobiológicos influenciando o desenvolvimento em todas as áreas.
Exemplo: Gêmeos idênticos têm o mesmo DNA em seus neurônios
(genótipo), mas não terão as mesmas experiências, o que resultará em
diferenças na forma como esses genes irão se expressar (epigenética),
influenciando em vários aspectos. Se houver carência nutricional em 1 deles,
isso pode acarretar até mesmo em diferenças quanto a estatura final. As
experiências vivenciadas irão ter impacto no comportamento, no quoeficiente
intelectual (QI) e em qualquer outra área afim.
A epigenética tem sua contribuição no desenvolvimento de condições
como Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A herança genética, os cuidados e experiências vividas nos primeiros
anos de vida têm efeitos importantes sobre a aprendizagem, cognição, saúde
física e mental por todo o ciclo da vida.
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Na concepção recebemos um material genético do pai e outro material
genético da mãe (o zigoto é formado por 23 cromossomos do pai e 23
cromossomos da mãe), cada um com seu perfil genético, inclusive de
predisposições a erros e anomalias cromossômicas, por exemplo. Além desse
perfil de variantes genéticas herdadas que recebemos, pode ocorrer também
alterações no nosso material genético que não são herdadas se apresentando
como “mutação de novo”, pequenas deleções (microdeleções) por “erros”
durante o processo, entre outros.
Ao longo do crescimento embrionário alguns genes são ativados e outros
desativados.
O uso de ácido fólico é um suplemento amplamente recomendado nos
três primeiros meses de gestação, pois tem seu papel de importância na
formação do tubo neural (neurulação) que é a arquitetura mais inicial do sistema
nervoso (que dará origem ao cérebro que começa a ser formado logo após a
concepção).
Após a neurulação (formação do tubo neural) se dá início a proliferação e
diferenciação neuronal e glial que começa entre a quarta e sexta semanas de
vida embrionária e persiste na fase migratória (em que estas células migram para
áreas específicas) com maior pico entre 2-4 meses gestacionais.
Os mecanismos da proliferação celular são extremamente complexos,
mas sugerem o contato célula a célula assim como um equilíbrio entre o sistema
excitatório (mediado por glutamina/glutamato) e do sistema inibitório (mediado
pelo GABA – ácido gamaaminobutírico).
A multiplicação/proliferação veloz das células nervosas e das suas
conexões, faz surgir uma complexa rede de comunicação que comanda o corpo
todo. Esta conectividade que já começa intraútero dá funções às mais diferentes
áreas do cérebro.
No Transtorno do Espectro Autista, estas ligações, conexões entre áreas
importantes cerebrais, se encontram em grande parte alteradas. Para
entendermos melhor, é como se o cérebro fosse um computador e, tais
conexões, o sistema operacional.
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Por volta da 8ª - 16ª semana de gestação, com a proliferação acelerada e
migração para as áreas específicas, começa a ocorrer de maneira mais intensa
a apoptose celular ou poda neuronal, em que há eliminação de conexões e/ou
células nervosas que não estão sendo utilizadas ou que proliferaram de maneira
inadequada ou migraram para locais inapropriados (esta morte celular
programada ocorre em torno de 30-50%).
Após a migração, os neuroblastos, glioblastos irão se diferenciar em
neurônios e células da glia e organizar-se em camadas das regiões cortical e
sub cortical, em um período que envolve o 6º mês de gestação até vários anos
após o nascimento.
Existem diversos tipos de neurônios e todos eles se comunicam por meio
de filamentos chamados axônios, que são cobertos por uma camada de gordura
e proteína chamada mielina. É como se fossem fios que necessitam de um
revestimento para transmitir impulsos elétricos, através de substâncias
chamadas neurotransmissores.
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Em um cérebro de uma pessoa com autismo os neurônios, colunas e
minicolunas de neurônios ficam dispostos de maneira desorganizada, muitas
vezes em excesso, em localizações diferentes, de acordo com as áreas mais
afetadas e correlacionadas com a sintomatologia do autismo, assim como suas
conexões. A diversidade da sintomatologia do espectro do autismo pode ser
explicada, entre outros aspectos, através desses desarranjos e alterações da
conectividade nas mais diversas áreas cerebrais como de linguagem,
sensoperceptivas, motoras, de percepção visual, entre outras. Na pessoa com
autismo severo, nível 3, estas alterações são muito significativas e difusas.
Um grupo de neurônios importantes no entendimento do espectro do
autismo são os neurônios espelho que são neurônios que estão distribuídos por
partes essenciais do cérebro como córtex pré-motor, centros de linguagem,
empatia e dor. Estes neurônios são capazes de simular ou imitar uma ação que
estamos vendo, mentalmente, assim, podemos repetir a mesma ação de
maneira reflexa como o bocejar, ou então, este comportamento fica armazenado
na memória.
Os neurônios espelho estão relacionados como desenvolvimento de
habilidades como imitação, aquisição da linguagem, comunicação e cognição
social, empatia, interpretação de ações nas relações sociais possibilitando que
nos coloquemos no lugar dos outros, predizer o comportamento das pessoas,
interpretar o que elas estão fazendo e se antecipar para os comportamentos dela
(Teoria da mente) e outras habilidades e sua disfunção parece estar envolvida
com a gênese do autismo.
Habilidades sociais são comportamentos aprendidos em contato com o
meio e que procuram adaptar o indivíduo a seu ambiente. Assim, acredita-se que
haja relação entre o funcionamento dos neurônios espelhos e o aprendizado de
habilidades sociais. Os neurônios espelho permitem que as pessoas executem
atividades sem necessariamente pensar nelas, apenas acessando o seu banco
de memória, como se fosse um banco de dados.
Além dos neurônios, no Sistema Nervoso Central, temos as células da glia
que se encontram mais numerosas que os neurônios. Dentre as suas funções
destacam-se a produção da bainha de mielina (“encapa” os neurônios do
Sistema Nervoso Central) pelos oligodendrócitos, a sustentação e nutrição dos
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neurônios pelos astrócitos, além de regular a concentração de diversas
substâncias do sistema neuronal, tendo assim, potencial para interferir nas
funções cerebrais de um cérebro autista. Dessa forma, os astrócitos são
responsáveis pela nutrição dos neurônios facilitando formação de
conexões/sinapses de melhor qualidade e eficiência além de auxiliar os
oligodendrócitos a organizar a bainha de mielina. Os astrócitos têm sido
amplamente estudados em relação ao seu papel para compreender os
mecanismos neurobiológicos do espectro do autismo.
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Com relação aos neurotransmissores, em relação à dopamina, em um
cérebro de uma pessoa com autismo, haveria baixas conexões com regiões do
cérebro que liberam dopamina em resposta a recompensas. Em relação à
serotonina, a síntese alterada e elevações dos níveis de serotonina nas
plaquetas costuma ser um achado consistente em pessoas que se encontram
no espectro do autismo. Níveis persistentemente elevados de serotonina
poderiam acarretar em um déficit na eliminação de sinapses em cérebros de
pessoas com autismo e contribuir para um aumento no número de minicolunas
corticais e assim, contribuindo para um desarranjo desta arquitetura e
funcionamento.
Um desequilíbrio entre os sistemas excitatório e inibitório também estão
relacionados aos mecanismos neurobiológicos do autismo. Dessa forma, o
cérebro no autismo se apresenta naturalmente mais hiperexcitado, porque há
um aumento na função excitatória mediada pelo sistema excitatório relacionado
com glutamina e glutamato enquanto há uma imaturidade do sistema inibitório
gabaérgico. É um cérebro que parece estar sempre em alerta, vígil, o que pode
levar à distúrbios de sono, humor, comportamentos inapropriados. Quando
compreendemos esse mecanismo, podemos entender que a agitação, alteração
de humor de pessoas com autismo, todo o comportamento em “exagero”
frequentemente observado, estaria relacionado com essa hiperexcitação
cerebral associado em grande parte das vezes, a alterações no processamento
sensorial. As ações repetitivas, estereotipadas, se apresentam como uma forma
da pessoa com autismo se regular em momentos de maior hiperexcitabilidade.
Alterações genéticas, hormonais, imunológicas mediadas por linfócitos T,
CD4, citoquinas, interleucinas podem afetar o cérebro estimulando a produzir
mais excitação.
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O período que o cérebro está fazendo mais sinapses é do 7º mês
gestacional até 2 anos de vida, por isso enfatizamos a importância da
intervenção precoce e das janelas de oportunidade, anos em que temos maiores
oportunidades e velocidade de aprendizagem. O tempo que uma criança até 2
anos consegue aprender uma habilidade é muito menor do que ela dispenderia
por volta de 14 anos de vida. Quanto mais mediada por emoção, maior é a
conectividade do aprendizado, dessa forma, o cérebro reconhece, se conecta
com as regiões que estão sendo estimuladas, faz mais conexões e
interconexões cerebrais. Quando mais conexões, maior o repertório. Não
podemos esquecer da importância do enriquecimento do ambiente pois os
aprendizados têm que acontecer e se generalizar em todo o momento da vida e
em qualquer contexto.
Em torno de 20-30% das crianças com Transtorno do Espectro Autista
apresentam circunferência da cabeça maior que o percentil 97 (macrocefalia).
Em grande parte das crianças com TEA, especialmente nos 2 primeiros anos de
vida, o cérebro é maior enquanto o cerebelo menor, em comparação às crianças
neurotípicas, mas não significa que estas crianças se tornarão macrocefálicas.
Durante todo o processo de desenvolvimento cerebral pode haver então
desordens arquiteturais, químicas, funcionais, de conectividade.
O cérebro no autismo apresenta uma arquitetura mais imatura,
desorganizada com excessiva presença de células neuronais que se concentram
de forma desproporcional e anormal em várias áreas cerebrais e um
funcionamento mais hiperexcitado, com conexões alteradas.
Estas alterações se encontram especialmente nas áreas relacionadas à
linguagem, empatia, função executiva, motora e sensorial. A sintomatologia varia
de acordo com as áreas mais afetadas correlacionadas ao transtorno.
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Na grande maioria das pessoas, o hemisfério cerebral “dominante” é o
hemisfério cerebral esquerdo, ou seja, a área da linguagem e do pensamento
lógico estão localizados do lado esquerdo do cérebro. O hemisfério cerebral
direito está relacionado com aspectos de criatividade e pensamento simbólico.
O córtex cerebral é dividido em áreas denominadas lobos cerebrais, cada
uma com funções diferenciadas e especializadas.
• Lobo Frontal
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O córtex motor, localizado no lobo frontal, controla e coordena a
motricidade voluntária, sendo que o córtex motor do hemisfério direito controla o
dimidio (hemicorpo) esquerdo, enquanto que o do hemisfério esquerdo controla
o dimidio direito.
A maturação cerebral, que começa ainda no útero só será concluída por
volta dos 24-25 anos quando o córtex pré-frontal, localizado mais anteriormente
neste lobo e responsável pelo comportamento social e empatia se encontra
totalmente amadurecido.
• Lobo Temporal
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(déficits perceptivo, emocional e cognitivo) observados no espectro do autismo.
Além disso, as regiões associativas temporais estão estreitamente conectadas
aos sistemas sensoriais associativos frontais, parietais e do sistema límbico.
Ainda no lobo temporal, encontramos uma estrutura chamada hipocampo
que se localiza na porção média do lobo temporal e está relacionado ao controle
e gerenciamento da memória. Cada acontecimento que vivemos, sentimos e
experimentamos é filtrado pelo hipocampo, que junto com o hipotálamo permite
que possamos nos lembrar não somente das experiências, mas também daquilo
que sentimos em relação a elas.
A amígdala é uma estrutura localizada profundamente no lobo temporal e
é responsável por dar atribuição de significado/"valor" emocional do que é visto.
Está relacionada ao controle do comportamento primitivo, como controle do
comportamento sexual e social, respostas emocionais mais impulsivas,
comportamentos instintivos relacionados por exemplo a perigo, medo e
ansiedade. Suas conexões produzem uma reação emocional mas também
permitem a inibição de comportamentos devido à sua estreita ligação com o lobo
frontal.
Dentro do sistema límbico, a amígdala associada ao hipocampo, também
dá origem a lembranças emocionais.
O sistema límbico se situa no lobo temporal e sua função está relacionada
com o controle de emoções, processos motivacionais, controle do sistema
nervoso autônomo que é responsável por enviar sinais aos nervos para manter
um estado de alerta (sistema nervoso simpático) ou para inibir esse estado
(sistema nervoso parassimpático), regulação do comportamento alimentar,
controle dos centros de prazer e recompensa e função de aprendizado e
memória. Além do hipocampo e da amígdala, o sistema límbico é formado
basicamente pelo tálamo, hipotálamo, corpos mamilares, área septal, giro do
cíngulo e núcleos habenulares.
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• Lobo Parietal
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• Lobo Occipital
• Ínsula
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• Cerebelo
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Dessa forma, compreendemos a grande variabilidade sintomatológica do
espectro do autismo e suas diferentes nuances encontradas.
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requisitadas, utilizadas e vão reforçando estas conexões e fazendo novas
conexões mais fortes, com significado. Quanto mais experimentamos
determinado estímulo em frequência e intensidade, mais forte estas conexões
também irão se tornando. Isso nos remete à importância das intervenções
especializadas e intensivas no tratamento do espectro do autismo.
Aquelas conexões que não estão sendo muito utilizadas ou que não foram
fortalecidas, serão eliminadas, o que chamamos de poda neuronal. Essa
“limpeza” que acontece no nosso cérebro é importante para ampliar o repertório
de interesses e aprendizados que serão realmente importantes para o
desenvolvimento nas mais diversas áreas.
As podas neuronais mais importantes ocorrem por volta de 1 ano e meio
até 3 anos e na adolescência.
Esta poda neuronal da primeira infância tem papel particular no
Transtorno do Espectro Autista.
Acredita-se que, durante este processo, possa haver falhas importantes.
Essas falhas poderiam levar a um excesso de conexões por uma poda
neuronal ineficiente, o que acarretaria em um cérebro mais desorganizado,
hiperexcitado e também poderiam levar à perdas de habilidades já adquiridas,
caso ocorra eliminação de sinapses/conexões não fortalecidas, mas que
detinham habilidades adquiridas importantes.
Entendemos que, para que nosso cérebro selecione as conexões que
serão fortalecidas ou eliminadas e faça novos circuitos cerebrais, depende do
quanto que seus respectivos aprendizados foram realmente incorporados e com
significado.
Para formar conexões fortes em crianças com Transtorno do Espectro
Autista, devemos lembrar das suas particularidades. Uma criança com autismo
consegue aprender melhor com experiências recheadas de emoções
prazerosas, que a motivem e que tenham significado para ela, além de
necessitar de muita repetição pois seu cérebro é mais imaturo, mais
hiperexcitado e apresenta maior rigidez mental. A dificuldade na compreensão
do outro e do ambiente, além das alterações de processamento sensorial que
distorcem a forma como experimentam o mundo, associado à uma programação
genética com “falhas”, contribui para conexões mais fragilizadas.
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Este é um período que devemos então estar muito atentos e intensificar
as intervenções a fim de fortalecer e fazer novas conexões para aquele
aprendizado que almejamos.
Com relação à perda de habilidades adquiridas que pode acontecer
durante a poda neuronal da primeira infância, ocorre porque alguns
aprendizados podem não terem sido consequentes a uma conexão mais forte.
Dessa forma, o cérebro durante essa “limpeza”, acaba descartando estas
conexões.
O Autismo Regressivo, que acontece em aproximadamente 1/3 dos casos
do espectro do autismo, parece ter relação íntima com essa poda neuronal da
primeira infância.
Esses casos são caracterizados por crianças que apresentam
desenvolvimento motor, da linguagem, cognitivo, social e emocional
aparentemente típicos ou muito próximo ao desenvolvimento típico, mas, por
volta de 15 a 30-36 meses, começam a perder habilidades anteriormente
adquiridas.
Os pais relatam, nestes casos, não terem percebido um desenvolvimento
atípico até então. Relatam que seu filho brincava, se comunicava, já falava
algumas palavras, compreendia instruções simples e, de repente, por volta de
15 a 36 meses de vida, deixou de se comunicar, de falar palavras anteriormente
ditas, de apontar, de fazer tchau, mandar beijos e responder a comandos
simples, de compartilhar atenção e interesses. Que seu filho passou a brincar de
maneira não usual, a fazer ações repetitivas, apresentar por vezes
comportamentos mais irritadiços, inquietos e exploradores ou passou a ficar mais
introspectivo.
No autismo regressivo, por mais que a criança apresente aspectos do
desenvolvimento neuropsicomotor e social muito próximos ao desenvolvimento
típico, na grande maioria das vezes, essa criança já apresentava particularidades
da sintomatologia do espectro do autismo, porém de maneira sutil.
Na adolescência acontece outra poda neuronal mais intensa, porém, esta
poda não está envolvida no desencadeamento de comportamentos do espectro
autista em adolescentes com desenvolvimento típico, tampouco em perdas de
habilidades adquiridas nesta fase.
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Após esta poda da primeira infância ocorre uma superprodução de
neurônios e das suas conexões. Esse crescimento é intenso até
aproximadamente onze anos para as meninas e doze e meio para os meninos.
A partir desta idade, o cérebro novamente inicia uma poda neuronal mais
intensa, fortalecendo neurônios e conexões que estão sendo mais utilizadas e
descartando aquelas que não. Quanto mais usamos algumas conexões,
melhores e mais complexas elas se tornam.
As experiências que vivenciamos durante a adolescência, nossos hábitos
e aprendizados moldam o adulto que seremos.
Muitos pais têm receio desta poda neuronal da adolescência com relação
à possibilidade de esquizofrenia.
Adolescentes com desenvolvimento típico ou não podem ter esquizofrenia
desencadeada neste período, quando associada a uma predisposição genética.
A esquizofrenia parece ter relação com esta poda neuronal uma vez que
conexões cerebrais interrompidas ou em excesso devido à uma poda ineficiente,
têm sido relacionadas a este transtorno.
Um adolescente no espectro do autismo apresenta um desenvolvimento
atípico cerebral, dessa forma, como a esquizofrenia também envolve questões
cerebrais atípicas, se houver uma predisposição genética, parece haver uma
probabilidade maior.
Pais, cuidadores, educadores e profissionais da saúde precisam ficar
atentos quando perceberem atrasos, comportamentos atípicos, perdas de
habilidades antes adquiridas em uma criança. Tão logo observado, deve-se
procurar um especialista e iniciar intervenção especializada mesmo que não haja
um diagnóstico fechado, quer seja para autismo ou para outra condição ou
transtorno do desenvolvimento.
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