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Neuropsicologia do

Desenvolvimento
O que é Neuropsicologia do
Desenvolvimento?

• O estudo da neuropsicologia do desenvolvimento


constitui-se um amplo campo de pesquisa clínica e
teórica que visa à compreensão das relações entre o
cérebro e o desenvolvimento infantil, bem como das
interações recíprocas da psicologia infantil e sua
organização neurobiológica.
Neuropsicologia Infantil
Desenvolvimento infantil:
• Físico;
• Neurológico;
• Comportamental;
• Emocional;
• Ontogenético.
Aspectos Preliminares
• Nos últimos anos, houve um grande avanço no
conhecimento da relação entre o cérebro e as
funções mentais, impulsionados pelo avanço das
técnicas de neuroimagem e do refinamento da
avaliação neuropsicológica.

• Detecção de mudanças metabólicas cerebrais


(RNMf), mudanças do fluxo sanguíneo cerebral (PET)
e na delimitação de quais regiões são ativadas com
diferentes tarefas cognitivas e mesmo da flutuação
da atividade elétrica cerebral (SPECT).
Ressonância Nuclear Magnética Funcional Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET)
(RNMf)

Tomografia por Emissão de Fóton Único


(SPECT)
Aspectos Preliminares
Os conhecimentos da neuropsicologia do
desenvolvimento infantil ainda aliam-se às
avaliações qualitativas:

• Entrevistas;
• Baterias;
• Testes neuropsicológicos;
• Questionários;
• Trabalho multiprofissional (médico, psicólogo,
fonoaudiólogo, etc.).
Perspectiva Maturacional
• Insere-se em uma perspectiva evolutiva
maturacional, na qual a expressão clínica de lesões e
disfunções difere de acordo com as fases do
crescimento neuronal, mielinização e maturação
sequencial das várias regiões cerebrais.

• Os determinantes de disfunção neuropsicológica na


infância sofrem influência de fatores genéticos e
estruturais, especificidade das áreas cerebrais
envolvidas com o comportamento, a extensão das
disfunções, fatores de neuroplasticidade e os
relacionados ao paradigma da especialização
hemisférica.
Perspectiva Ontogenética
• Nesse contexto, o desenvolvimento e a estrutura
das atividades mentais não permanece
inalterável, a execução das tarefas irá depender
das conexões constantes e em evolução, bem
como da atividade conjunta das diversas
unidades cerebrais.

• Exemplos: Piaget e Luria.


Perspectiva Ontogenética

Jean Piaget (1896-1980) Alexander Luria (1902-1977)


Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
• Recém-nascido: as estruturas cerebrais do
sistema nervoso central mais envolvidas nos
padrões de comportamento não estão localizadas
nos hemisférios cerebrais, mas nas estruturas
subcorticais.

• Comportamentos reflexos: reflexo de Moro, de


sucção, preensões e marcha reflexa.
Reflexo de Moro

Preensões plantar e palmar

Marcha reflexa

Sucção
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso

A partir do 3º mês de vida:


• Coordenação dos movimentos
mão-boca, mão-objeto;
• Preensão voluntária;
• Intencionalidade do gesto;
• Maior integração entre
aquilo que a criança ouve e
vê.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
A partir do 6º mês de vida:
• Desenvolvimento das áreas motoras corticais,
com ênfase nas áreas relacionadas à preensão
manual e ao equilíbrio estático, maior integração
associativa entre os estímulos visuais, auditivos e
somestésicos.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
A partir do 2º ano de vida:
• O desenvolvimento da fala começa a organizar as
sequências motoras, mas só a partir dos 4 anos,
com a maturação da região pré-frontal, a criança
é capaz de programar as atividades com maior
precisão.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
A partir do 3º ano de vida:
• A criança pode imitar movimentos das
mãos do observado (abrir e fechar),
mas ainda não é capaz de realizar tais
movimentos de maneira alternada ou
simultânea;
• Pode reproduzir canções;
• Coordenação audiomotora inexistente;
• A percepção visual começa a mostrar
melhor desempenho;
• Capacidade de reprodução de um traço
ou um círculo.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
A partir do 4º ano de vida:
• Diferencia formas geométricas abstratas, mas os
erros com ângulos podem persistir até o 7º ano;
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso

A partir do 6º, 7º ano de


vida:
• Maior desenvolvimento das
noções de lateralidade;
• Orientação direita e esquerda;
• Reprodução de movimentos
alternados e simultâneos.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
A partir do 10º ano de vida:
• Observa-se um predomínio das funções
simbólicas sobre as funções motoras, e o
pensamento abstrato torna-se independente de
uma referência física ou concreta da experiência.
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso

1º mês Tronco cerebral Engramas reflexos

6º mês Engramas sensório-motor


Córtex primário

2 anos Pensamento representativo


Córtex associativo

7 anos Pensamento operacional

Córtex associativo inespecífico


11 anos Pensamento formal
Piaget e o Desenvolvimento do
Sistema Nervoso
Desenvolvimento Pré-natal
• O desenvolvimento fetal também
é essencial, uma vez que muitos
distúrbios neste período podem
desorganizar a sequência de
crescimento e maturação, desde
a 4ª semana de vida fetal até o
nascimento.

• Algumas infecções congênitas e


displasias ou distúrbios de
migração neuronal podem afetar
essa sequência de eventos.
Desenvolvimento Pré-natal
1. Em torno da 4ª semana de vida
fetal, há a formação do tubo
neural e medula;
2. Diencéfalo, a partir do qual
surgem as regiões talâmicas e
límbicas: mesencéfalo e
rombencéfalo, que inclui a
ponte e o cerebelo.
3. O telencéfalo cresce
rapidamente e surgem os lobos
frontal, temporal, parietal e
occipital.

• Os hemisférios cerebrais são


relativamente pequenos até o
7º mês de vida fetal,
aproximadamente.
Desenvolvimento Pré-natal
• Desenvolvimento neuronal:
1. A geração da célula (fase de proliferação celular) e a
diferenciação celular (fase da diferenciação celular).
2. A migração das células do seu sítio de nascimento
(posição germinativa), no qual começam a se diferenciar,
à sua posição final (fase da migração celular).
3. A agregação da célula com suas específicas regiões
cerebrais.
4. O crescimento de axônios e dendritos.
5. A formação das conexões sinápticas.
6. A eliminação das células, axônios e dendritos, um
processo contínuo que se expande até a vida adulta
(morte celular programada ou apoptose).
Desenvolvimento Pré-natal

Tipos de neurônios, de acordo


com o número de ramificações
Desenvolvimento Pré-natal
• Outras evidências que surgem da neurobiologia
têm demonstrado que algumas áreas do cérebro
da criança, diferentemente do adulto,
apresentam uma população de neurônios que
pode exceder de 15 a 50% a do adulto, e estes
neurônios, muitas vezes, são perdidos pelo
processo de morte celular programada
(apoptose), sinapses que não são ativadas
funcionalmente.
Características da Mielinização
• No lactente, o trato responsável pela modulação
dos movimentos voluntários ainda não está
totalmente mielinizado e a sua maior eficiência
se dá a partir do 7º mês de vida.

• Diferenças sexuais na cronologia da mielinização:


• meninas – precocidade em áreas relacionadas à
linguagem;
• meninos – ciclo maturacional do hemisfério
direito pode ser mais prolongado.
Características da Mielinização
Lateralidade
• A noção de lateralidade, ou assimetria funcional da
linguagem e outras funções cognitivas, iniciou-se a
partir dos estudos de Broca.
• “Os dois cérebros não podem ser meras duplicatas,
se a lesão ocorrida em apenas um deles pode deixar
um homem mudo” (Jackson, 1868).
• A assimetria de funções procedeu das observações
do comportamento de indivíduos com lesões
cerebrais.
• Cada hemisfério utiliza diferentes estratégias de
processamento, seja em base verbal-analítica (como
a linguagem) ou vísuo-espacial (por meio de
“imagens”).
Lateralidade

Hemisfério esquerdo: Hemisfério direito:


•Expressão, análise e •Predominantemente
compreensão da não-linguístico;
linguagem; •Orientação espacial;
•Percepção de material •Imagem corporal;
linguístico, raciocínio •Relações vísuo-espaciais;
abstrato e analítico; •Mediação da expressão
•Distinção de sons. emocional.
Lateralidade
• Em relação ao desenvolvimento da especialização
hemisférica, observou-se que a lateralidade de
função no cérebro se desenvolve com o tempo e
parece ser totalmente estabelecido na adolescência.

• Alguns estudos de crianças com lesões ocorridas no


hemisfério esquerdo ou direito antes de dois anos
de idade não provocavam atraso na fala em cerca de
metade das crianças, enquanto que lesões no
hemisfério esquerdo ocorrendo entre o início da fala
e a idade de 20 anos associa-se a distúrbios de
linguagem.
Plasticidade
• Alguns dados apontam que o cérebro possui uma
espantosa capacidade de se reorganizar diante de
uma lesão em regiões específicas.
• Há consenso na literatura de que o cérebro em
desenvolvimento é plástico: durante o
desenvolvimento do cérebro é possível haver uma
reorganização de padrões e sistemas de conexões,
em vias que o cérebro maduro não pode.
• O cérebro em desenvolvimento é menos vulnerável
aos efeitos da lesão.
Plasticidade
• A capacidade de organização declina com a
maturação: há uma perda na flexibilidade e na
capacidade de o sistema se reorganizar.

• Exemplo: os sistemas neurais que medeiam a


linguagem têm um prognóstico para a sua
recuperação de declínio por intermédio da
infância com um limite aproximadamente aos 12
anos de idade.
Plasticidade
• Importante: a plasticidade não é sempre um
mecanismo positivo, e o termo plasticidade nem
sempre deve ser entendido como adaptativo, no
sentido de que facilita a adaptação da criança, ao
problema da lesão.

• Condições anormais como no esforço do aumento


das conexões sinápticas ou de reorganização
neuronal para adaptação, podem envolver a
formação de circuitos que são reverberantes.
Plasticidade: Síndromes de Desconexão
e Hiperconexão
• Podem conviver com um padrão

Isaac Newton
(1643-1727)
deficitário global com habilidades
cognitivas superiores, isto é, o
comportamento hábil ou até mesmo
genial pode conviver com a
deficiência cognitiva.

• Cita-se, nestas situações, alguns

Albert Einstein
desempenhos musicais, pictóricos,

(1879-1955)
de habilidades manuais e espaciais,
em algumas crianças autistas.
Plasticidade: Síndromes de Desconexão
e Hiperconexão
• A desconexão tem sido fundamentada como teoria
explicativa para as alterações de comportamento ou
de linguagem em crianças com descargas epilépticas
mesmo sem crises clínicas.

• Nas chamadas afasias de Landau-Klefner, acredita-


se que essas descargas ocorrem num período crítico
do desenvolvimento da linguagem e as regiões
relacionadas aos paroxismos podem estar
desconectadas das várias áreas cerebrais, dando um
perfil de dissociação entre a fala compreensiva e os
componentes expressivos da linguagem.
Fatores Ambientais e Culturais no
Desenvolvimento Neuropsicológico
• Emoção: a interação cérebro-
comportamento pode ser
completamente alterada,
dependendo das experiências
iniciais emocionais ou de
“socialização” da criança.
Fatores Ambientais e Culturais no
Desenvolvimento Neuropsicológico
• Cultura: comportamento
aprendido e os traços que são
atributáveis às experiências
sociabilizadas de um
particular sistema ou
instituição de uma sociedade.

• Descreve aquilo que pode ser


aprendido e em qual idade tal
comportamento ou
conhecimento pode ser
processado.
Fatores Ambientais e Culturais no
Desenvolvimento Neuropsicológico
• Nível socioeconômico:
escolaridade, condições
nutricionais, quantidade e
qualidade de estimulação,
cuidados médicos, riscos
perinatais, ocupação, estilos
de interação familiar e
social, condições de
habitação.

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