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AULA 3

NEUROCIÊNCIA DAS EMOÇÕES

Profª Adiele M. S. Corso


CONVERSA INICIAL

A partir do momento da concepção até o nascimento, o cérebro é a


primeira estrutura a ser formada. Devido à sua alta complexidade, é também a
última a se completar no processo de desenvolvimento.
De forma anatômica, ele já está formado a partir da 9ª semana
gestacional, onde o embrião passa a se chamar de feto. No entanto, de forma
maturacional, ou seja, de estar maduro e com todas as suas estruturas
funcionando adequadamente, finaliza seu desenvolvimento na vida adulta.
Durante este processo de transformação cerebral ocorre a fase mais
significativa da aprendizagem, pois é a etapa em que o indivíduo se encontra na
escola, em seu momento de vida acadêmico.
Entender essas transformações é fundamental para quem trabalha na
esfera da educação, pois quanto mais o ensino for voltado para as necessidades
de cada momento de vida do aluno, maior será a capacidade de reter e aplicar
novas informações em seu meio social, familiar e cultural.
A partir desse pressuposto, é possível tornar viável a criação e a
aplicação de novas metodologias e abordagens de ensino.
No campo das neurociências, é importante entender o funcionamento
cerebral, operando em rede com as emoções provocadas no aprendiz, levando o
educador e o educando a um processo de análise contínua, promovendo a
reflexão do conhecimento, formulação x reformulação de conteúdo.
Uma das principais dificuldades para quem trabalha com a educação é a
falta dessas disciplinas no currículo acadêmico, sendo ainda predomínio da área
médica e/ou saúde. Diante de tal defasagem, o objetivo desta aula é explicar
como o aprendizado no cérebro evolui da impulsividade ao planejamento, quais
as funções cerebrais envolvidas e a importância desse conhecimento na esfera
educacional. Assim, pretende-se aliar os conhecimentos das neurociências na
educação, bem como da importância das emoções e estabelecimento de metas
e objetivos, dentro de uma rede única, dinâmica e interligada.

CONTEXTUALIZANDO

A partir da 9ª semana de gestação, período em que o embrião em


desenvolvimento entra na fase fetal, pode-se dizer que o cérebro se encontra
formado. No entanto, o fato de estar pronto poderia ser o mesmo que estar

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maduro a ponto de compreender e decodificar todas as informações recebidas
do meio ambiente? Caso não esteja, como se dá este processo de maturação?
Conforme Lent (2008):

O sistema nervoso surge muito cedo no embrião, como uma placa de


células ectodérmicas que proliferam e se transformam em um tubo
cilíndrico. Este cresce, se contorce e se transforma em uma estrutura
composta de vesículas que são as precursoras das grandes regiões do
sistema nervoso.

O sistema nervoso origina-se do folheto embrionário ectoderme, o qual vai


ficando mais espesso e dá origem à placa neural, que, por sua vez, vai também
se tornando espessa e forma a goteira neural, cujos lábios se fundem e formam
o tubo neural, na altura da terceira semana de gestação. Nesta fase do
desenvolvimento, as células então presentes são precursores neurais e
continuam a se proliferar sem parar. Quando o tubo neural encontra os lábios da
goteira neural, originam a crista neural.
O fechamento do tubo neural pode ser comparado a um zíper que se
fecha do centro para as extremidades. O tubo neural dará origem ao sistema
nervoso central e a crista neural, ao sistema nervoso periférico (responsável por
toda a inervação do corpo). Após os seis meses de gestação, o encéfalo cresce
em volume e vai se diferenciando cada vez mais. Ao nascer, bem como nos
primeiros de vida da criança, o comportamento predominante é o motor, que, no
entanto, ainda não é capaz de planejar ou desenvolver uma meta ou estratégia,
pois esta região no cérebro ainda não se encontra madura.
Compreender como se dá este processo é primordial para quem trabalha
no campo educacional, pois em cada momento do desenvolvimento humano o
cérebro aprende de formas distintas e peculiares.

TEMA 1 – DA IMPULSIVIDADE AO PLANEJAMENTO

O sistema nervoso é o mais complexo e


diferenciado do organismo, sendo o primeiro a se
diferenciar embriologicamente e o último a
completar o seu desenvolvimento. (Cordeiro, 1996)

Nos primeiros anos de vida, a criança aprende através do córtex pré-


motor. Ou seja, tudo se dá pelo motor, envolvendo os 5 sentidos, como colocar
na boca, cheirar, apalpar, ver, ouvir, num ato predominantemente motor. Nesse
momento, o cérebro não se encontra maduro para frear seus atos motores,
oriundos da impulsividade. Aqui, a criança irá experimentar, através dos
sentidos, para assim dar início ao processo do aprendizado.
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Como então se dá a construção do saber nas diferentes etapas do
desenvolvimento infantil?
Sensação (até os 2 anos)

Percepção (até por volta dos 5 anos; está ligada ao afeto; como ela
entende; não é lógico)

Formação de imagem (a partir dos 6 anos, no sentido de fazer imagens
mentais, representa o mundo; antes era pensamento concreto)

Simbolização (início na adolescência, no que se refere a conceitos
universais e a respeito de tudo)
Um exemplo seria apresentar pela primeira vez a uma criança pequena
um cubo de gelo. Inicialmente, através de seus órgãos sensoriais, ela criará uma
sensação a respeito do novo estímulo. Em seguida, formará um conceito sobre
ele, que é a percepção. Logo encaminhará em seu esquema de memória de
curto prazo, formando uma imagem do estímulo e conceito que acabou de
adquirir. Mais tarde, quando suas funções executivas estão mais maduras,
tentará ter um conceito mais universalizado sobre a percepção, aplicando-o em
vários contextos.
Didaticamente, também pode ser entendido da seguinte maneira:
Até os 2 anos: emocional, ou seja, nos 2 primeiros anos, o cérebro
constrói as conexões entre os neurônios que ajudarão a construir e determinar a
estabilidade emocional do futuro do adulto. Isso quer dizer que a criança que
sofre agressividade, hostilidade ou estresse nesta fase terá maiores chances de
desenvolver distúrbios emocionais ou problemas de aprendizagem. Início da
mielinização (que aumenta a velocidade de propagação do impulso nervoso).
Entre 2-4 anos: nesta fase, a comunicação entre os dois hemisférios
cerebrais (direito e esquerdo) é aberta, através de uma espécie de ponte que
liga o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo, denominada de corpo caloso.

Saiba mais

Entre os 2-4 anos também ocorre um fenômeno denominado de poda


neuronal, ou seja, ocorre uma poda dos prolongamentos e vias neuronais que
não foram utilizados e um fortalecimento dos que foram adequadamente

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ativados. Esta fase reflete a importância da estimulação adequada da criança
para o seu pleno desenvolvimento cognitivo.
Aos 4 anos: desenvolvem-se as áreas temporais relacionadas à memória
de longo prazo, áreas parietais importantes para o cálculo e lógica, e áreas
occipitais e do cerebelo ligadas à coordenação visomotora.
Entre os 5-7 anos: aperfeiçoamento do diálogo entre os dois hemisférios
cerebrais e suas diferentes funções, surgindo assim as primeiras estratégias de
memória e uma melhor integração entre passado e presente. Abrem-se novos
caminhos entre os lobos parietais e temporais permitindo desenvolvimento
dramático da leitura e do vocabulário.
Aos 6 anos: a dopamina (neurotransmissor) atinge níveis de adulto no
córtex pré-frontal, viabilizando maior atenção e foco.
Aos 7 anos: ocorre um maior controle dos impulsos, autonomia,
responsabilidade e capacidade de planejamento. Nessa fase, a criança
consegue focar melhor sua atenção.
Entre 8-10 anos: ocorre a maturação do lobo pré-frontal, dando início às
funções executivas (maior autocontrole, senso de organização e pensamento
mais voltado para o abstrato). A criança aprende melhor através de estratégias
de reforço positivo.
Entre 11-13 anos: começa a manipular melhor ideias abstratas, o que
permite o aprendizado através de reforços negativos (a criança aprende através
dos erros).
Entre 14-18 anos: melhora o pensamento abstrato e a memória
operacional (memória de trabalho). Nessa fase, as abstrações são a respeito de
ideias e ideais, seu papel no mundo, a discussão de teorias a respeito de
conhecimentos e ciências etc. A memória de trabalho é lapidada, preparando o
indivíduo para atuar em sua futura profissão.

TEMA 2 – FUNÇÕES EXECUTIVAS E TOMADAS DE DECISÕES

As funções executivas estão ligadas à utilização de recursos pessoais para se


alcançar algum objetivo, tornando possível a resolução de tarefas e problemas
relacionados a comportamentos auto-organizados e voluntários.
Essas funções estão relacionadas à capacidade para desenvolver e
manter uma estratégia apropriada de solução de problemas por meio de
condições de estímulos mutáveis a fim de atingir uma meta futura. Requerem

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planejamento estratégico, exploração organizada, utilizando feedback ambientar
para mudar contextos cognitivos, direcionando o comportamento para alcançar
um objetivo e modulando a responsividade impulsiva.
Conforme Luria e Shallice (1982, citados por Temple, 1997),

a função executiva requer capacidade para desenvolver a manter uma


estratégia apropriada de solução de problema por meio de condições
de estímulo mutáveis a fim de atingir uma meta futura.

Segundo Lesak (2004),

as funções executivas consistem em capacidades que, em diferentes


situações, possibilitam uma pessoa a empenhar-se com sucesso em
comportamentos independentes, com objetivos definidos e que lhe
tragam autossatisfação.

Existem vários sinônimos para as funções executivas: funções frontais,


funções de supervisão, funções de controle, sistema supervisor, funções
psicológicas superiores etc. Além disso, uma variedade de funções e processos
podem ser incluídos nesta categoria, tais como resolução de problemas,
inferência, organização estratégica, inibição seletiva do comportamento, decisão,
seleção, controle e verificação da execução de uma dada ação, flexibilidade
cognitiva, memória operacional, entre outras.
As funções executivas estão ligadas ao lobo frontal no cérebro, sendo
estruturas altamente complexas e estão a serviço de uma variedade mais ampla
de funções cognitivas. Essas funções são as últimas a amadurecer no ser
humano, começando por volta dos 6 anos de idade na criança, e seu completo
amadurecimento se dá na adolescência.

TEMA 3 – A IMPORTÂNCIA DE LÚRIA NAS NEUROCIÊNCIAS DAS EMOÇÕES

Alexander Luria, neurofisiologista da Universidade de Moscou, deu continuidade


aos trabalhos de Pavlov através de novas descobertas sobre a anatomia e
neurofisiologia cerebral. Ele identificou três sistemas ou unidades funcionais
ligadas às funções executivas.
A primeira unidade funcional estaria ligada às funções básicas do ser
humano, utilizada, dentre outras coisas, para regular o sono e a vigília. É
considerada como o cérebro desperto, pronto para pensar, para trabalhar. Está
situada no tronco cerebral, formação reticular e mesencéfalo.
A segunda unidade funcional englobaria funções como pensamento,
memória e linguagem, sendo utilizada para armazenar as informações

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recebidas. É o cérebro informado, local onde chegam as informações do meio.
Está situada nos lobos parietal, occipital e temporal.
A terceira unidade funcional, também chamada de metacognição, seria
para fazer a ligação com os dados já armazenados e dar uma nova
interpretação, bem como programar, regular e verificar a atividade mental. É o
cérebro humanizado, as funções que nos diferenciam dos outros animais. Está
situada nos lobos frontais.

1ª unidade: 2ª unidade: 3ª unidade:


cérebro cérebro cérebro
desperto informado humanizado

A figura acima representa as 3 unidades interagindo entre si. Os três


sistemas acima trabalham de forma integrada, permitindo ao cérebro
desempenhar adequadamente suas funções com o próprio organismo e também
com o meio externo.
Luria é considerado um dos pais da neuropsicologia. Para ele, o funcionamento
cerebral depende da integração das unidades funcionais. Luria (1981) vê o lobo
frontal como o ramo executivo da inteligência humana. O comportamento
inteligente seria o produto de um interjogo dinâmico dos três blocos do cérebro
com a ativação, regulação e planejamento do ato consciente, que é uma tarefa
do lobo frontal.

TEMA 4 – DIVISÃO DO LOBO FRONTAL E LIGAÇÃO COM A APRENDIZAGEM

O lobo frontal é dividido em: córtex pré-central, córtex pré-motor e córtex pré-
frontal, os quais estão descritos no quadro a seguir:

Quadro 1 – Funções e desordens relacionadas aos lobos frontais

ÁREAS CÓRTEX PRÉ- CÓRTEX PRÉ- CÓRTEX PRÉ-


CEREBRAIS: CENTRAL MOTOR FRONTAL
(córtex motor (inclui área (inclui órbito-
primário) motora frontal e
suplementar e dorsolateral)
área de Broca)
FUNÇÕES: Mediação de Integração de Planejamento e

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movimentos, atos motores e análise das
movimentação sequências consequências de
voluntária aprendidas ações futuras
SÍNDROMES: Síndrome motora Síndrome pré- Síndrome frontal
rolândica motora
PREJUÍZOS - redução da - habilidades - funções
POR LESÕES: força e dos motoras; cognitivas;
movimentos; - movimentos - afeto, humor;
- paralisia de descontínuos ou - comportamento
partes do corpo incoordenados; social;
correspondentes; - interrupção da - alterações de
- diminuição da integração de personalidade e
habilidade para comportamentos conduta;
contrair motores de atos - movimento.
músculos. complexos.
Fonte: Adaptado de Andrade (2004).

De acordo com o Quadro 1, a região mais relacionada às funções


executivas seria o córtex pré-frontal, uma região que se comunica com todo o
encéfalo, participando da integração com o meio interno, através do sistema
límbico, bem como com o meio externo, através das áreas sensitivas de
associação, controle de redes neuronais e síntese entre as dimensões
sentimento e razão na produção do comportamento.
O córtex pré-frontal divide-se em três áreas:
 Lateral: sistema operacional flexível e dinâmico, representa informações
e prolonga-as por períodos maiores de tempo, através da interação com a
informação perceptual, comportamento desejado e conhecimento de
longo prazo. Suas principais funções são a seleção e amplificação de
representações necessárias à tarefa e habilidade para ignorar distrações
potenciais.
 Cingulado anterior: atua como um sistema acessório que monitora a
operação do córtex pré-frontal lateral, enquanto domínio de muitos
sistemas funcionais. É parte do sistema límbico, auxiliando na modulação
da resposta autônoma em situações de medo ou dor; também contribui
em tarefas de atenção dividida.

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 Órbito-frontal: também chamado de ventromediana, está ligada ao
comportamento com função social, dependendo diretamente da
capacidade de empatia e de se colocar no lugar do outro para mudar ou
adaptar suas opiniões, conceitos ou formas de comportamento.

Saiba mais

O caso de Phineas Gage, considerado um dos marcos da


neuropsicologia, que teve uma lesão na parte frontal por um acidente com uma
barra de ferro, é um exemplo de lesão na região órbito-frontal.

As principais funções executivas incluem:


Controle inibitório: capacidade em parar o próprio comportamento
quando apropriado ou necessário.
Flexibilidade: habilidade que torna possível alternar pontos de vista,
posicionamentos ou formas de encarar situações.
Controle emocional: capacidade de modular as reações emocionais.
Iniciação/volição: ligada à capacidade de dar um início a uma atividade
planejada anteriormente, ligada ao tempo para iniciá-la.
Memória de trabalho: função de memória de curto prazo, relacionada à
fatos recentes.
Planejamento e condução: ligado ao planejamento de metas para gerar
um plano de ação;
Automonitoramento: relacionada à habilidade de acompanhar a
realização da ação, julgá-la pela comparação com o anteriormente planejado e
com objetivos finais.
Organização do espaço e dos materiais: relacionado à habilidade de se
organizar dentro do espaço, bem como dos materiais que se utilizam dentro
deste espaço.
A partir do conhecimento das funções executivas, quais são suas
principais características e como são representadas, torna-se possível um
melhor planejamento sobre o processo da aquisição de ensino e melhor
conhecimento das habilidades de cada aluno, bem como das possíveis razões
que poderiam dificultar o ensino.

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TEMA 5 – RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E A CAPACIDADE DE
PLANEJAMENTO

De forma geral, o sistema límbico é responsável pelas emoções e a parte


pré-frontal do lobo frontal, responsável pelas funções executivas, é quem
analisa, interpreta, ordena e dá sentido às emoções, através da capacidade de
planejamento e tomada de decisões. Isso mostra o quanto ambos estão
interligados e são interdependentes, formando uma rede de alta complexidade.
O Sistema límbico se desenvolve bem antes das funções executivas. O
exemplo seria o quanto uma criança, quanto menor sua idade cronológica,
externaliza facilmente suas emoções, sem uma interpretação, análise ou freio.
Caso ela esteja desconfortável, pode chorar facilmente, gritar, mostrar a todos o
quanto está alegre, ou, em momentos de ira, morder ou bater etc. A
interpretação do outro ou juízo social e moral ainda não estão desenvolvidos, por
isso é tão fácil para ela parecer autêntica e fiel às suas emoções sem se
preocupar com a interpretação alheia.
A atenção está ligada às funções executivas. Um de seus subtipos, a
atenção sustentada, ligada ao estado de alerta e vigilância, faz ligação direta
com algumas estruturas do sistema límbico como amígdala, hipotálamo e tronco
cerebral.
Para que os demais tipos de atenção possam ser ativados, além de um
bom funcionamento das funções executivas, necessita das emoções. Aí aparece
a importância de o aluno estar motivado ao aprendizado, que perceba a
importância deste para a sua vida, o que deve ser reforçado não somente na
escola, mas também no âmbito familiar e social.
O quadro a seguir mostra os subtipos de atenção.

Quadro 2 – Subtipos de atenção

Subtipos de atenção: Conceito:


Atenção concentrada Capacidade de direcionar o foco da
atenção para um determinado
estímulo ou grupo de estímulos
Atenção sustentada Estado de alerta ou vigilância
Atenção seletiva Selecionar o estímulo ou grupo de
estímulos a que se deve permanecer

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atento
Atenção alternada Capacidade de alternar o foco da
atenção, voluntariamente, entre vários
estímulos

O conhecimento dos tipos de atenção envolvidas, bem como a função de


cada uma, permite trabalhar especificamente o tipo de atenção afetada, no caso
de déficit de atenção, permitindo maior e melhor alcance no ensino.
Outra parte das funções executivas que depende do sistema límbico é a
memória de trabalho. Conforme Cohen (1997), Baddeley e Hitch propuseram,
em 1974, o modelo de memória operacional que compreenderia e substituiria o
conceito de memória de curto prazo. Segundo eles, a memória operacional
implica um sistema para a manutenção temporária e manipulação de informação
durante o desempenho de uma série de tarefas cognitivas, como compreensão,
aprendizagem e raciocínio. Assim, considera-se que a memória operacional é
responsável pelo armazenamento de curto prazo e pela manipulação on-line da
informação necessária para as funções cognitivas superiores, como
planejamento, linguagem e solução de problemas. Dentro do sistema límbico,
estruturas como o hipocampo têm relação direta com a memória.
O córtex pré-frontal realiza o controle executivo que governa as
manipulações necessárias à codificação e recuperação da informação, que
constituem a memória de longo prazo. Para que lembranças há tempo
armazenadas possam via à tona, é necessário realizar ligação com as emoções
que a lembrança remota causou. Assim, o córtex pré-frontal e o sistema límbico
realizam conexões entre si e o indivíduo é capaz de se recordar de fatos
ocorridos há longos períodos (não somente as lembranças, mas os sentimentos
associados).

FINALIZANDO

O processo da aprendizagem já é iniciado a partir do momento do


nascimento. Nessa fase, os neurônios, que são as células do cérebro, começam
a se interligar entre si.
Todavia, mesmo estando pronto a nível anatômico, isso não significa que
ele esteja pronto no sentido maturacional, no sentido de estar maduro para
receber e decodificar todas as informações recebidas e transformá-las em um
novo aprendizado.
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Nos anos iniciais, o indivíduo desenvolve primeiramente a capacidade
psicomotora, através do controle motor, utilizando seus cinco sentidos para
aprender. No entanto, como a área do cérebro responsável pelo controle de
impulsos e capacidade de planejamento ainda não está madura, a impulsividade
acaba sendo a forma dominante. Neste momento de vida, iniciar frases com a
palavra não acaba tendo pouco resultado na vida da criança, como “Não mexa
aí!”, “Não bata no amigo!”, “Não pegue o brinquedo do amigo!”, pois a área do
cérebro responsável pela reflexão e planejamento encontra-se imatura. A
criança ainda não é capaz de compreender as consequências de seu
comportamento no outro, e a repetição de padrões inadequados pode ser uma
constante.
A partir da segunda infância, esta capacidade de planejar, analisar,
pensar mais sobre algo antes de agir começa a amadurecer, permitindo a
aquisição dos conteúdos acadêmicos formais, envolvendo a alfabetização,
compreensão e interpretação de textos, raciocínio matemático e resolução de
problemas e desafios aritméticos.
Em todas essas fases, o desenvolvimento da habilidade de planejar e
refletir vem acompanhado de emoções. Ambas habilidades operam em conjunto,
uma dependendo da outra, e juntas trabalham em rede. De acordo com o pai da
neuropsicologia, Alexander Luria, que desenvolveu o conceito de unidades
funcionais para explicar o papel das emoções no cérebro durante o processo de
ensino e aprendizagem, seriam as três unidades operando em conjunto,
interdependentes e interligadas, formando uma espécie de concerto entre si. A
primeira unidade funcional deixaria o cérebro pronto, acordado, desperto para o
aprendizado, a segunda permitiria a aquisição de um novo conceito ou
aprendizado e a terceira iria analisar esta nova informação com os
conhecimentos que já possui e formar um novo conceito a partir daí.
Entender o ser humano dentro desta magnitude e rede complexa é o
principal desafio do educador da atualidade.

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