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TEA - AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

UNIDADE 4:
TEA – CARACTERÍSTICAS
COGNITIVAS

Caro(a) Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta unidade, abordaremos os aspectos cognitivos. O Trans-
torno do Espectro Autista (TEA) apresenta alguns sintomas ca-
racterísticos aqui já estudados, como: dificuldade de interação,
comprometimento na linguagem, entre outros. Não obstante,
uma característica do autismo que interfere de forma determi-
nante é o aspecto cognitivo.
O aspecto cognitivo é de extrema importância para o ser huma-
no, pois é por meio dele que somos capazes de realizar as funções
executivas – habilidades cognitivas necessárias para controlar nos-
sos pensamentos, emoções e ações. Esse será o foco desta unidade.

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Conteúdos da Unidade
Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assi-
nalando os assuntos à medida que for estudando.

9 Os aspectos cognitivos na criança autista;


9 Desenvolvimento cognitivo da criança com TEA.

Bons estudos!!!
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OS ASPECTOS COGNITIVOS NA CRIANÇA AUTISTA

CAPÍTULO 7:
OS ASPECTOS COGNITIVOS
NA CRIANÇA AUTISTA

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OS ASPECTOS COGNITIVOS NA CRIANÇA AUTISTA

Antes de nos debruçarmos nos aspectos cognitivos da crian-


ça autista, é importante relembrarmos o que é cognição.
Cognição, segundo o neurologista infantil Dr. Clay Brites, é o
“processo de aquisição do conhecimento o qual é realizado através
de habilidades imprescindíveis para a autonomia de uma pessoa,
a saber: raciocínio, memória, linguagem, associação, percepção,
atenção, memória, juízo e imaginação. Em outras palavras, a
cognição é a maneira que o cérebro age a partir das informações
captadas pelos sentidos do corpo”.
O desenvolvimento cognitivo infantil é fundamental para
oferecer à criança uma vida saudável e autônoma. Exemplo disso
seria uma criança no ambiente escolar dependendo exclusivamen-
te do auxílio dos educadores e colaboradores para executar peque-
nas tarefas. É claro que esperamos que ela tenha ajuda; no entanto,
ela deve saber conduzir com sucesso algumas situações, por exem-
plo: brincar, integrar-se ao grupo, responder aos comandos etc.
A cognição figura como parte do nosso sistema cerebral. Ela
define a forma como apreendemos, armazenamos e aplicamos co-
nhecimentos. É à cognição que nos referimos, por exemplo, quan-
do abordamos memória ou capacidade de atenção.
Esse termo também reflete nossa capacidade de resolução
de problemas, o uso das linguagens e o raciocínio lógico-mate-
mático. Como o nome indica, o desenvolvimento cognitivo con-
siste no modo como nossa cognição evolui durante a vida (Dis-
ponível em: https://www.happycodeschool.com/blog/
desenvolvimento-cognitivo/).
O cérebro dos bebês é bem mais ativo que o dos adultos. Forma
milhões de ligações nos primeiros anos de vida e desenvolve as ha-
bilidades necessárias para que todo o seu organismo esteja em fun-
cionamento perfeito. No caso da cognição, não existe uma evolução

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padrão que ocorre em todas as crianças — cada um de nós tem pe-


culiaridades. Entretanto, alguns processos são comuns em deter-
minadas idades, tornando possível estimular o desenvolvimento
de maneira fácil e assertiva (Disponível em: https://www.ha-
ppycodeschool.com/blog/desenvolvimento-cognitivo/)
Muitos autores propuseram etapas para o desenvol-
vimento cognitivo: Vigotski, Piaget e Wallon são alguns deles.
De acordo com esses autores, é preciso compreender a ação do su-
jeito no processo de construção do conhecimento. Apesar das di-
ferenças entre suas teorias, todos procuravam compreender como
a aprendizagem ocorria no que se refere às estruturas mentais do
sujeito e o que é preciso fazer para aprender.
Jean Piaget (1896-1980) concentra sua explicação nas fases
de desenvolvimento cognitivo da criança. Para ele, esse processo
ocorre por meio de uma série de estágios nos quais é construída a
estrutura cognitiva, sendo que cada estágio é sempre mais comple-
xo e abrangente que o anterior. Por esta razão, a teoria piagetiana
considera a inteligência como resultado de uma adaptação bioló-
gica, em que o organismo procura o equilíbrio entre assimilação e
acomodação para organizar o pensamento. Assim, quanto maior o
equilíbrio alcançado mais capaz o sujeito será.
Henry Wallon (1879-1962) entende o desenvolvimento cog-
nitivo como um processo social e interacionista, sendo a linguagem
e o entorno social aspectos fundamentais para esse processo. Da
mesma maneira que Piaget, Wallon estruturou o desenvolvimento
em etapas, mas abrangendo o sujeito integralmente e levando em
consideração aspectos: biológico, afetivo, social e intelectual. En-
tão, para ele, o desenvolvimento ocorreria por meio de uma cons-
trução progressiva em que predominam ora aspectos afetivos, ora

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cognitivos resultantes das relações entre o ser e o meio, que se afe-


tam mutuamente.
Lev Vygotsky (1896-1934) entendeu que o desenvolvimen-
to do indivíduo e a aquisição de conhecimentos são resultantes da
interação do sujeito com o meio, fruto de um processo sócio-his-
tórico construído coletivamente e mediado pela cultura. Para ele,
por meio das interações estabelecidas com o meio externo ao longo
da vida ocorrem processos internos de desenvolvimento. Através
dessas trocas e interações, o cérebro se torna capaz de criar novos
conhecimentos decorrentes do contato com outras experiências,
potencializando o aprendiz a elaborar seus conhecimentos sobre
os objetos num processo sempre mediado pelo outro.
Nas palavras de Lucila Pereira:

“ a principal contribuição das teorias cogniti-


vas é permitir um maior nível de compreensão
sobre como as pessoas aprendem, partindo do
princípio de que essa aprendizagem é resultado
da construção de um esquema de representações
mentais que se dá a partir da participação ativa
do sujeito e que resulta, em linhas gerais, no pro-
cessamento de informações que serão internali-


zadas e transformadas em conhecimento.

Como argumenta o instituto Neurosaber, “é muito importan-


te que se propicie à criança a devida oportunidade de desenvolver
todos os requisitos importantes para sua cognição, prevenindo
fatores médicos e ambientais que venham a alterar a estrutura ou
o funcionamento cerebral. O desenvolvimento cognitivo depende
do envolvimento de várias outras funções e da boa desenvoltura
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de outras funções que o alicerçam, como a linguagem, a coorde-


nação motora e suporte afetivo-emocional. Viver em um ambiente
saudável tanto do ponto de vista biológico quanto afetivo é muito
importante. Também é primordial disponibilizar materiais e es-
paços para fazer com que a criança se aproprie de estímulos que
proporcionem avanços cognitivos. Além disso, observar como a
criança reage e como ela vem adquirindo, ou não, habilidades ao
ser estimulada permite avaliar suas competências e, ao mesmo
tempo, a possibilidade de ter algum transtorno que vem impedin-
do seu pleno desenvolvimento”.
Aponta-se ainda que a leitura e a escrita, por exemplo, são
competências que começam a ser formadas no cérebro desde muito
cedo ao serem estimulados pré-requisitos cognitivos primordiais,
como a espacialidade e a consciência fonológica. Durante a infân-
cia, esses pré-requisitos precisam ser observados e promovidos, de
forma que sua maturação deve atingir o que se espera para a idade
da criança antes do início da alfabetização.
É perceptível que as pessoas que fazem parte do cotidiano da
criança contribuem muito para o seu desenvolvimento cognitivo.
O período escolar, por exemplo, tem grande relevância nesse
processo. Se estudarmos mais atentamente a teoria de Vygotsky,
descobriremos a Zona de Desenvolvimento Proximal que, resumi-
damente, é um ponto em potencial de aprendizagem da criança.
Ou seja, é algo que inicialmente o infante não consegue realizar,
mas que, com a mediação de um adulto (outras pessoas com-
petentes), ele será capaz de executar.
Fica evidente que a mediação e o suporte correto podem
conduzir os pequenos para outro nível de conhecimento, tendo
como ponto crucial os estímulos corretos para que isso ocorra. As

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interações são ricas fontes de aprendizagem e o meio contribui


fundamentalmente para isso.
No entanto, a grande questão que pretendemos responder é
como funciona o desenvolvimento cognitivo de uma criança diag-
nosticada com o Transtorno do Espectro Autista.
Algumas crianças com TEA apresentam outras morbida-
des como o TDAH ou DI (Deficiência Intelectual). No caso
desta última, devemos ressaltar que os avanços não ocorrerão da
mesma forma.
Volkmar e Wiener (2019) explicam um pouco mais sobre
essas questões:

“muitas crianças com autismo têm deficiência intelec-


tual (QI abaixo de 70). No passado, isso era válido para
a maioria dos casos, mas, felizmente, com o diagnóstico
mais precoce e intervenções mais efetivas, esse número
baixou de tal forma que, hoje, é provável que apenas uma
minoria dos casos se enquadre nessa categoria. No en-
tanto, o padrão de desempenho no autismo costuma ser
diferente daquele observado no retardo mental sem autis-
mo, frequentemente com escores muito discrepantes em
várias partes do teste de QI – por exemplo, pontos fortes
em habilidades não verbais, mas grande debilidade em
tarefas verbais ou mais relacionadas à sociabilidade”.

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