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Competências
e Habilidades:
Considerações Iniciais
Normando José do Nascimento Junior
Aprendizagem,
Competências e Habilidades:
Considerações Iniciais
Objetivos da Aprendizagem
• compreender os fundamentos e os conceitos principais da aprendizagem hu-
mana e como eles se aplicam na vida cotidiana, baseando-se em estudos da
psicologia, pedagogia e neurociências;
• diferenciar os conceitos de habilidade e competência e entender como eles
se conectam, bem como sua importância no contexto atual;
• entender o conceito de situação de aprendizagem e descobrir como promo-
ver a aprendizagem de forma eficaz por meio da construção de situações de
aprendizagem significativas;
• conhecer a discussão sobre competências na pedagogia e como os estudos
na área da educação contribuem para o desenvolvimento de competências
e habilidades;
• Perceber a relação entre aprendizagem e experiências educativas, sendo ca-
paz de entender sua importância na atuação profissional do coach e em ou-
tras profissões para além da docência.
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Fundamentos de Aprendizagem
Definição
Existe um debate amplo nas mais diversas áreas do conhecimento sobre o que é
aprendizagem. Essas ciências têm, ao longo do tempo, desenvolvido uma série de
teorias para explicá-la, contudo, definir a aprendizagem se torna um desafio porque,
ao fazer isso, acabamos nos ancorando epistemologicamente em uma dessas
teorias. Ou seja, se dizemos, por exemplo, que aprender é ser capaz de responder a
determinada pergunta corretamente, estamos consequentemente limitando todo o
processo de aprender inerente à humanidade a apenas esta concepção.
Por isso, para evitar essa redução, buscamos entender a aprendizagem considerando
os diversos aspectos que a influenciam. Assim, pode-se compreender a aprendizagem
como uma experiência social entre pessoas, que resulta na aquisição de novas
habilidades, competências e conhecimentos, ou na reelaboração dos conhecimentos/
habilidades/competências anteriores, construindo um resultado novo que alicerçará
as práticas posteriores dos indivíduos.
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Figura 1 – Três domínios da taxonomia de BLOOM
Fonte: Fonte: BLOOM, 1956. (Adaptado).
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Piaget dizia que o desenvolvimento precede a aprendizagem, uma vez que se inicia
a partir do nascimento. Então, ele concebeu o que ficou conhecido como os quatro
estágios do desenvolvimento, que vão desde o momento no qual a criança nasce,
quando já apresenta reflexos primitivos como a sucção, até a idade adulta, quando
apresenta ação intencional. O autor enfatiza que não se pode pular estágios, mas
que a passagem por um era pré-requisito para chegar aos estágios seguintes. Seria
o desenvolvimento, tanto biológico quanto psíquico, que possibilitaria aos indivíduos
a aprendizagem.
Apesar das diferentes visões nas teorias de Piaget (2009) e Vygotsky (1988), ambos
nos ajudam a compreender a aprendizagem a partir de um processo que não diz
respeito a uma aplicação estática de conhecimentos: eles entendem a aprendizagem
também de forma integral, na qual biologia, experiência social e condições psicológicas
não podem se dissociar, noção também defendida por Bloom (1956).
Essa história, além de inspirar muitos contos infantis, possibilitou que os cientistas
voltassem sua atenção para algo muito importante no processo de aprender: a
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interação social. Após exames que mostraram que Victor não tinha nenhuma
deficiência ou anomalia cerebral, a conclusão foi que seu comportamento decorria da
falta de interação com humanos ao longo dos primeiros anos de seu desenvolvimento,
e que talvez nunca tenha visto alguém andar ou falar até o momento em que foi
encontrado.
Já discutimos a forma com que os indivíduos aprendem a andar e falar, por exemplo.
Porém, a maneira que os indivíduos aprendem conteúdos formais, como os da escola
ou universidade, não é diferente. Ao entrar em contato com outros indivíduos, a
aprendizagem é impulsionada. Entretanto, nas instituições de ensino, esse processo
espontâneo de aprender que ocorre ao se relacionar com outrem vem junto com
técnicas e caminhos para potencializar a aprendizagem.
Sabemos que no processo de aprendizagem precisa haver algo além de duas ou mais
pessoas juntas: é necessário também algo que as conecte. Este algo são os signos
e instrumentos, aos quais Vygotsky (1988) atribui o papel de mediar a aprendizagem
humana. Enquanto os instrumentos nos ajudam a nos relacionar com o campo
material da vida, como um martelo nos ajudando a transformar madeira em mesa, os
signos nos auxiliam a relacionarmo-nos com a realidade psíquica, permitindo também
a comunicação com o outro. Essa mediação não possibilita apenas a aprendizagem,
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mas também toda a vida em sociedade que se constrói a partir dela, fazendo-se
essencial para a prática educativa.
Podemos concluir aqui, a partir do que foi apresentado, que é impossível tratar a
aprendizagem como uma relação de depósito, visto que os conteúdos não são como
objetos e a cognição humana não é como uma caixa que se abre e se insere coisas.
Somos seres de relação e aprendemos por meio dela, nos utilizando de instrumentos
e signos para tal.
Os Sujeitos da Aprendizagem
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cada um desses sujeitos.
Curiosidade
Em 1979, a banda de rock americana Pink Floyd lançou a música
Another Brick In The Wall, uma crítica ao modelo educacional
tradicional. Até hoje, ela é uma referência na música e na educação.
Assista ao videoclipe e preste atenção na letra da música para
refletir sobre o assunto.
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Psicologia Comportamental: Contribuições para a Aprendizagem
Agora, vamos nos aprofundar em algumas teorias que buscam explicar como se dá,
passo a passo, o processo de aprender. Voltando ao caso do menino de Aveyron:
é perceptível que o isolamento comprometeu a aprendizagem do garoto, ao passo
que nós, inseridos no contexto social, aprendemos uma série de condutas que se
tornam automáticas em nosso dia a dia. Será que o contato com outras pessoas
simplesmente insere comportamentos em nós? Compreenderemos como nosso
comportamento é moldado partindo da perspectiva comportamentalista, também
chamada de behaviorismo.
Imagine agora a seguinte situação: uma criança vai ao shopping com seus pais e vê
um quiosque de sorvete (a criança teve um estímulo sensorial). Sua reação ao que
viu é chorar exigindo dos pais um sorvete (a criança deu uma resposta ao estímulo).
Seus pais, por sua vez, dão o sorvete ao filho (sua resposta teve uma consequência).
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Figura 2 – Exemplo de condicionamento operante.
Fonte: RIZZON, [s.d.]. Acesso em: 22/07/2020. (Adaptado).
Depois disso, é provável que, da próxima vez que a criança vir um quiosque de
sorvete ou algo que queira, ela se comporte da mesma forma, já que percebeu que
seu comportamento anterior teve um bom retorno por parte de seu meio, posto que
alcançou seu objetivo. Essa modulação de comportamento, quando constante, faz
com que o indivíduo responda da forma para a qual foi condicionado quase que
automaticamente, sem que haja um planejamento prévio. Isso significa que a criança
do exemplo não utilizaria espontaneamente o diálogo como recurso, mas manteria a
atitude de gritar, pois essa foi a estratégia que seu meio ensinou ser eficaz.
Entretanto, é importante lembrar que o ser humano não é uma máquina, e por isso,
apesar de ter seu comportamento modulado e alterado por suas experiências, não
pode ser adestrado ou mecanizado para responder da mesma forma todas as vezes.
Essa perspectiva de aprendizagem trazida por Skinner traz contribuições relevantes
quando ressalta que aprender é sempre um processo de troca entre sujeito e meio,
por ação e reação, enfatizando a experiência.
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Novas Experiências de Aprendizagem
Assim, um ponto de reflexão importante nessa temática é que cada vez mais,
por meio da tecnologia, os processos de aprendizagem se potencializam, e o que
conhecemos como experiência educativa parece não dar conta dessas potências e
transformações. O modelo de escola que conhecemos é pensado para as demandas
da época da Revolução Industrial: alto índice de alunos não alfabetizados, pouca
informação circulando. A escola precisava de uma produção rápida de profissionais
em massa, de forma que o trabalhador estivesse apto a transitar em diversos ramos
da produção.
Veja na figura 3 que à medida que se permite uma maior democratização tanto na
oferta quanto no consumo de informação, a cauda tende a alongar-se.
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Figura 3 – Aumento da cauda longa - Democratização das ferramentas de distribuição.
Fonte: ANDERSON, 2006, p. 55. (Adaptado).
Apesar de a tecnologia ter potencializado e facilitado nosso acesso aos mais diversos
tópicos, ela não necessariamente faz o mesmo com a aprendizagem. Ficou claro
para nós que a quantidade de informações disponíveis na atualidade é tão abundante
que a maioria das pessoas não precisa mais da escola para garantir, por exemplo, o
acesso a conteúdos sobre a história do Brasil. A pergunta é: se a informação está
em todo lugar, que valor a escola e as instituições de aprendizagem ainda têm para
oferecer? A resposta é: o valor da troca.
Mas essa abundância de informação tem alertado e lembrado que o papel do educador
não é depositar ou transferir conhecimento. Pinheiro e Batista (2018) nos lembram
que, segundo o psicólogo Carl Rogers, o educador deve atuar como um facilitador da
aprendizagem. Seu papel n ão é sobrepor seu saber ou seus valores aos do educando,
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mas incentivar a curiosidade e a autonomia, não transmitindo o conhecimento, mas
criando as condições apropriadas para a aprendizagem.
Curiosidade
Você sabia que em apenas uma edição semanal do The New York
Times existe mais informação do que um homem comum poderia
conhecer durante toda a sua vida na Inglaterra do século XVII? O site
Observatório da Imprensa, em 2014, apresentou este exemplo para
mostrar como vivemos em uma sociedade da hipercomunicação.
O professor deve promover aquilo que apenas acervos de informação como a internet
não podem oferecer: motivação, colaboração e curiosidade, entre outros.
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deve estar centrada em ensinar fatos, mas principalmente em ensinar a aprender. E
isto serve para escolas, cursos on-line ou presenciais, mentorias e qualquer estrutura
institucional de aprendizagem.
A Vista de um Ponto
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sujeito, estamos evocando o sentido gramatical da palavra, ou seja, nos referindo
ao responsável pela ação da oração, não nos limitando a uma esfera individual. Uma
instituição também pode ser um sujeito e quando dizemos que a seleção brasileira é
cinco vezes campeã do mundo, por exemplo, estamos falando de um sujeito que não
é um indivíduo, e sim uma instituição.
Essa ideia é bem explorada por Fleury e Fleury (2001, p. 183), que dizem que existem
três instâncias de compreensão da ideia de competência: “o nível da pessoa (a
competência do indivíduo), das organizações (as core competences) e dos países
(sistemas educacionais e formação de competências)”. Esse texto é uma referência
no tema deste conteúdo, e em breve voltaremos a ele. Por enquanto, cabe entender
que é impossível falar de competência/habilidade sem que se refira a um sujeito, seja
ele um indivíduo, objeto ou instituição.
Ainda utilizando a gramática como ponto de partida, pode-se dizer que existem
algumas palavras que demandam um complemento. Como estamos falando de
competências e habilidades como característica de um sujeito, o termo gramatical
que utilizamos para explicar os termos que servem para completar o sentido dos
adjetivos é o de complemento nominal.
Curiosidade
O Dicionário Online de Português define competência como a
“capacidade decorrente de profundo conhecimento que alguém tem
sobre um assunto”. Percebam que, nesta definição, conseguimos
ver tanto a presença do sujeito (alguém) como a ação na qual o
sujeito é competente (sobre um assunto).
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em si mesma, não existe. Não há um coeficiente capaz de medir a competência geral
de alguém, tornando essa pessoa essencialmente competente. Ao contrário, avalia-se
a competência de alguém a partir da atividade que se propõe a fazer. Ninguém, então,
é competente em si: é sempre competente em algo.
Na definição de Vasco Moretto, citado por Cascardo (2020), “as competências são
um conjunto de habilidades harmonicamente desenvolvidas e que caracterizam por
exemplo uma função/profissão específica: ser arquiteto, médico ou professor de
química”. Apesar de não ser a única compreensão que utilizaremos aqui, Moretto
chama a atenção para a dimensão específica da competência, na qual há um
desenvolvimento amplo em um grupo de saberes e práticas, o que não implica em
saber tanto quanto sobre outros assuntos.
“As habilidades estão associadas ao saber fazer: ação física ou mental que
indica a capacidade adquirida. Assim, identificar variáveis, compreender
fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema,
sintetizar, julgar, correlacionar e manipular são exemplos de habilidades.
[...] As habilidades devem ser desenvolvidas na busca das competências”
(apud CASCARDO, 2020).
Dessa forma, pode-se notar que a habilidade é parte de algo maior, que é a competência.
Isso porque apenas a habilidade não garante que alguém seja competente em um
assunto, é preciso também que esta esteja aliada a conhecimentos e atitudes para
se tornar efetiva (FLEURY; FLEURY, 2001). Por exemplo, quando alguém busca uma
carreira como desenhista, músico ou ator, é comum que se pense que a habilidade
de exercer essas atividades será suficiente. Sem dúvidas ela é imprescindível, mas se
esse sujeito não se instrui sobre o assunto, não procura técnicas de aperfeiçoamento
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no que faz nem tem uma postura atenta e sensível diante do mundo para desenvolver
a criatividade, sua habilidade não será suficiente.
Em síntese, é possível ter habilidades sem ser competente, mas todo aquele que é
competente desenvolve suas habilidades.
Neste conteúdo, nos deteremos a estudar competências com o objetivo de defini- las,
mas em breve falaremos sobre competências e habilidades para um profissional do
século XXI. Para isto, Fleury e Fleury (2001) nos apresentam a Figura 4, que contém a
ideia de competência como um valor tanto para o indivíduo como para a organização:
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Figura 4 – Competências como uma fonte de valor para o indivíduo e para a organização
Fonte: FLEURY; FLEURY, 2001, p. 188. (Adaptado).
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É importante dizer que nessa busca por bons colaboradores, nem sempre as
organizações estiveram focadas no que conhecemos hoje por competências. Por
muito tempo, o foco esteve em características unicamente pragmáticas e específicas,
como saber digitar rapidamente ou operar uma máquina. Essa postura gerou muito
prejuízo às grandes instituições, pelo gasto de tempo e por precisar investir em muitos
profissionais, uma vez que cada um tinha condições de realizar poucas atividades
apenas.
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capacidades que não geram valor ao indivíduo tendem a ser aplicadas com baixo
engajamento e de forma mecanizada, sem que haja espaço para a construção de
novas soluções para a organização. O trabalhador se sente limitado e a empresa
perde grandes oportunidades.
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Apesar da discussão sobre as competências ter se iniciado nas organizações, ao
longo do tempo ela começa a adentrar também o campo da educação. Isso porque
começa-se a pensar que a escola, como uma instituição formal de ensino pela qual
grande parte da população passa, seria uma boa forma de ensinar competências que
o mercado de trabalho demanda.
Pense sobre isto: é mais fácil ensinar os alunos desde cedo sobre as competências
que eles precisarão quando adentrarem o mercado de trabalho ou esperar que estes
entrem nas empresas, para então serem treinados para atuar de forma competente?
Acredito que a conclusão é que a primeira opção é mais viável tanto do ponto de vista
econômico quanto educativo.
Afinal, qual o problema dessa lógica? A competência precisa agregar valor pessoal e
social, não é mesmo? O modelo escolar de desenvolvimento de competências iniciou-
se sendo fortemente influenciado pelo modelo de produção industrial; isso significa
que o ensino se dava de forma padronizada, mecânica e repetitiva. Esse padrão, do
ponto de vista da confecção de produtos em uma indústria, por exemplo, funciona
perfeitamente, mas conforme explicou-se, a escola precisa ser pensada de forma
que dê autonomia, desafie o aluno e que produza sempre uma aprendizagem nova e
significativa.
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apoiamos na ideia de Rubem Alves de que aprendizagem “é aquilo que fica depois
que o esquecimento faz o seu trabalho” (2011, p. 57). Isto é, aquilo que fica na
memória, mesmo depois de muito tempo. Assim, a situação de aprendizagem é um
contexto que propicia ao aluno muito mais do que um armazenamento temporário de
informações, mas de fato uma aprendizagem que carregará para a vida.
Também cabe aos educadores a busca por evitar que outras variáveis possam
comprometer a aprendizagem. Desde a postura de superioridade do educador em
relação aos seus ouvintes até mesmo situações de violência no espaço educativo, é
preciso atenção para que elementos como esses não passem despercebidos e afetem
o trabalho. Isso não significa que não haverá intercorrências em uma boa situação
de aprendizagem, pelo contrário, uma situação propícia para a aprendizagem e o
desenvolvimento é aquela em que se diagnostica, se ouve e se intervém sobre os
problemas sem que a aprendizagemseja comprometida. O bom profissional deve
saber transformar tensões em oportunidades junto aos seus educandos.
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De forma pragmática, em qualquer situação onde haja um sujeito, um objetivo de
aprendizagem e alguém para guiá-lo neste processo, é necessário responder as cinco
questões presentes na Figura 5:
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garantir uma experiência educacional efetiva. A seguir, compreenderemos um pouco
como a discussão do desenvolvimento de habilidades e competências deixa de ser
um tema apenas da gestão de pessoas e alcança os estudos da pedagogia e das
ciências da educação. Estejamos cientes que essa temática não mudou de lugar, ao
contrário, se ampliou, de forma que deve ser também responsabilidade de todos os
que lidam com o indivíduo como aprendiz.
Aprendendo Competências
Durante muito tempo, o que se entendia por inteligência estava atrelado ao conceito
de QI, de uma inteligência genérica e única, capaz de ser medida por meio de testes
padronizados. Consequentemente, as práticas pedagógicas realizadas decorriam
desse pensamento, de forma que alunos eram categorizados como aptos e inaptos
e havia pouca responsabilização das instituições no frequente fracasso dos alunos,
sempre atribuindo a culpa à suposta falta de inteligência dos indivíduos. Já na década
de 1980, algumas teorias como a de Gardner (1994) e Goleman (2011), colocaram em
xeque esse entendimento. O que chamávamos de inteligência – o modelo linguístico
e lógico-matemático escolar – é apenas parte de uma série de competências diversas,
as quais cada pessoa tem em maior ou menor grau.
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Figura 6 – Caráter múltiplo das inteligências proposto por Gardner
Fonte: SMOLE, 1999, p. 15. (Adaptado).
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idade ou com treinamento ou experiência. Ela é um atributo ou faculdade
inata do indivíduo.
Apesar dos avanços e das enormes contribuições dessa teoria para a educação, a
nós interessa pensar que este autor, ao colocar as emoções, as relações com outros
sujeitos, a relação do sujeito com o corpo, entre outras, como modalidades de
inteligência, cria um novo campo teórico-prático: se são inteligências que podem ser
aprendidas, então também podem ser ensinadas.
Cria-se, desde então, uma nova esfera de pesquisa e atuação profissional no campo
da pedagogia que parte desses conceitos, buscando não apenas mensurar o que o
estudante sabe ou não, mas ajudando- o a desenvolver competências diversas de
maneira integral, posto que a inteligência não é tida mais como coeficiente imutável
que destina o sujeito ao sucesso ou ao fracasso. Agora os profissionais passam a se
dedicar a construir estratégias para lidar com aqueles alunos que antes eram vistos
como problemáticos por conta de seu suposto “baixo QI”.
Araújo (2004) diz ainda que na pedagogia baseada em competências, há um olhar para
a “nova realidade da sociedade capitalista pós-fordista e tem a pretensão de responder
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às exigências desta nova realidade e de estabelecer novas práticas formativas e,
com isso, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e de homens
plenamente desenvolvidos” (p. 499). O campo se configura, então, a partir de uma
crítica ao modelo de escola que falamos anteriormente, muito focado na reprodução
de informações e memorização de conceitos. Em uma pedagogia das competências,
importa mais desenvolver as capacidades dos sujeitos (CARVALHO, 2012). Ao longo
dessa disciplina, abordaremos vários caminhos, métodos e estratégias para uma
atuação que leve isso em consideração.
Um outro fator digno de destaque é de que grande parte das publicações feitas na
literatura brasileira sobre “pedagogia das competências” parte de uma vertente
intitulada de pedagogia crítica, que se baseia na perspectiva teórica do materialismo
histórico-dialético. Assim, é comum encontrar uma série de artigos que apresentem
críticas tanto ao campo quanto ao conceito de competências, associado à manutenção
do serviço da subjetividade humana ao capitalismo.
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Essas críticas servem para pensarmos em uma atuação que não leve em consideração
apenas os ideais capitalistas, mas que sirvam principalmente aos sujeitos. Atuar com
o desenvolvimento de competências deve servir ao propósito de promover sujeitos
autônomos, por meio de uma educação emancipatória e significativa.
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Conclusão
Nesse conteúdo, aprendemos sobre a aprendizagem, ressaltando o papel das
habilidades e das competências. Compreendemos que a aprendizagem é uma
experiência social entre pessoas, que resulta na aquisição de novas habilidades,
competências e conhecimentos, ou na reelaboração dos conhecimentos/
competências anteriores, construindo um resultado novo que alicerçará as práticas
posteriores dos indivíduos. Entendemos que a aprendizagem não é só um fenômeno
escolar baseado na inteligência, mas que ele ocorre a partir de todos os domínios
do sujeito – incluindo os domínios cognitivo, afetivo e psicomotor – e tem como
principal vetor a interação e a experiência social.
Vimos que, nessa interação, a ação do sujeito gera consequências por parte do meio ao
reforçar ou punir comportamentos, o que resulta na aprendizagem. Ele denomina essa
modulação do comportamento de condicionamento operante. Também entendemos
que o nosso cérebro é um sistema pronto para aprender. Ele se organiza mediante
múltiplos sistemas funcionais e, graças à sua plasticidade, pode se transformar. Ele
se adapta a novos conteúdos e habilidades aprendidos e até mesmo se modifica
para reverter ou diminuir o comprometimento gerado por lesões cerebrais.
Observamos que não aprendemos apenas conteúdos, mas também como agir no
mundo e que melhorar esse agir desenvolvendo competências e habilidades. Essas
competências são aptidões que formamos no decorrer da vida por meio dos nossos
conhecimentos, habilidades e atitudes que agregam valor tanto para o indivíduo
quanto para as organizações às quais nos vinculamos. Já as habilidades, que são
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parte das competências, são aquelas coisas que sabemos fazer. Referem-se a ser
hábil em uma atividade – seja física ou mental – e devem ser desenvolvidas junto a
outros componentes das competências (conhecimentos e atitudes) para se tornarem
mais relevantes.
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Referências
ALVES, R . A pedagogia dos caracóis. Campinas: Verus, 2011.
ANOTHER Brick In The Wall. Música de Pink Floyd. Londres: Harvest Records; Nova
Iorque: Columbia, 1979. (6min. 22s.), son., color.
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FONTE, S. S. D. Formação no e para o trabalho. Educação Profissional e Tecnológica
em Revista, V itória, v. 2, n. 2, pp. 6 -19, 2018.
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PEREIRA, T. M. A; GALUCH, M. T. B. O garoto selvagem: a importância das relações
sociais e da educação no processo de desenvolvimento humano. Perspectiva,
Florianópolis, v. 30, n. 2, pp. 553-571, 2012.
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