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Aprendizagem
Aprendizagem Humana no Século XXI:
Uma Compreensão Abrangente
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Aprendizagem Humana no Século
XXI: Uma Compreensão Abrangente
• Introdução;
• Definição de Aprendizagem;
• Panorama Histórico das Diferentes Abordagens Teóricas
da Aprendizagem;
• A Relação entre Aprendizagem e o Desenvolvimento Humano;
• Processos Básicos e Dimensões da Aprendizagem;
• Tipos de Aprendizagem;
• Condições Internas e Externas de Aprendizagem.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar um panorama geral de diferentes concepções, teorias e modelos sobre aprendi-
zagem desenvolvidos ao longo da história;
• Introduzir uma compreensão contemporânea abrangente sobre a aprendizagem e suas
implicações educacionais.
UNIDADE Aprendizagem Humana no Século XXI:
Uma Compreensão Abrangente
Introdução
O que é aprendizagem? O que você aprendeu para chegar até aqui? Como nós apren-
demos? Como sabemos que alguém aprendeu algo? Por que algumas pessoas apren-
dem melhor e mais rapidamente do que outras? Onde ficam armazenadas as nossas
aprendizagens? O cérebro aprende ou o corpo todo aprende? Há maneiras de aprender
melhor? Quais são os fatores que determinam o que aprendemos? Há limites para a
aprendizagem? Existem coisas que não conseguimos aprender? Por que criar diferentes
teorias sobre a aprendizagem? Por que eu deveria aprender sobre aprendizagem?
Essas são só algumas das inúmeras perguntas que você poderia estar se fazendo
ao começar esse curso de Teorias da Aprendizagem. Tipicamente, nós não pen-
samos muito sobre a aprendizagem e sua importância, mas o fato é que, pensando
sobre ou não, viver é aprender e estamos aprendendo o tempo todo e em diversas
situações. Estudar cientificamente a aprendizagem, portanto, nos permite entender
melhor como ela ocorre, o que facilita ou dificulta esse processo e como melhorar,
inclusive, a nossa própria aprendizagem. O interesse pelo estudo científico da apren-
dizagem não é novo, segundo Bigge (1977, p. 3) “O homem não só quis aprender
como também, frequentemente, sua curiosidade o impeliu a tentar aprender como se
aprende”, e assim surgiram as diferentes teorias sobre a aprendizagem.
Quando pensamos em aprendizagem, logo pensamos na escola, mas aprender
é muito mais amplo do que as aprendizagens que ocorrem no ambiente escolar.
Nem sempre nós nos lembramos disso, ainda que aprendamos a todo momento e
em todos os espaços possíveis. Não há nada que você saiba hoje que não tenha sido
aprendido em algum momento. E continuamos aprendendo sempre. Nós aprende-
mos o nome de pessoas novas, aprendemos novos caminhos, aprendemos novos
fatos, aprendemos novos sabores, aprendemos que antes havíamos aprendido algo
errado e que agora teremos que aprender de novo. A aprendizagem, portanto, não
está apenas na escola, ela está em todos os lugares, desde que nascemos até morrer-
mos, tudo o que faremos envolve sempre algum tipo de aprendizagem.
Nas últimas décadas, o tema da aprendizagem se tornou fundamental, não apenas
para os profissionais e estudantes de áreas como a Psicologia, Pedagogia e Educação,
como também em contextos políticos e econômicos. Esse interesse não é ao acaso,
na realidade o que se observou, nas últimas décadas, foi um crescente reconheci-
mento e a valorização da Educação como um importante meio de transformação
individual e social. A Educação é, por exemplo, um dos componentes utilizados
pela ONU para estimar o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e classificar os
países como desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Países desen-
volvidos têm melhores índices educacionais que, por sua vez, estão associados ao
bem-estar, ao desenvolvimento econômico e à qualidade de vida.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” – Nelson
Mandela. O que você pensa que Mandela quis dizer com essa frase? Você concorda com ela?
Como o estudo científico da aprendizagem pode ser importante para mudar o mundo?
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Por outro lado, outro fator importante para o crescente reconhecimento da impor-
tância dos estudos sobre a aprendizagem vem dos avanços das pesquisas científicas,
sobretudo, oriundas das chamadas Ciências Cognitivas. Essas pesquisas promove-
ram avanços significativos em nossa compreensão sobre os mecanismos envolvidos
nos processos de aprendizagem e de ensino ampliando os debates e lançando luz
sobre a importância de que a Educação seja cada vez mais baseada em evidências
científicas, superando-se ações baseadas em crenças ou ideologias (ILLERIS, 2013;
THOMAS, PRING, 2007). Esses fatores, aliados com as mudanças trazidas com os
contínuos avanços tecnológicos, culminam na necessidade de constantes revisões
das teorias de aprendizagem, na busca por uma compreensão mais abrangente e
atualizada sobre como aprendemos no século XXI.
Neste curso, nós iremos discutir a aprendizagem em uma visão abrangente e con-
temporânea. Considerando-se a importância e contribuições das teorias clássicas,
mas contextualizando-as em seu período histórico e reconhecendo as novas contri-
buições das teorias contemporâneas. Nesse sentido, daremos foco para as principais
contribuições das Ciências Cognitivas. Optamos também por discutir nessa discipli-
na apenas a aprendizagem humana, embora exista vasta produção cientifica sobre a
aprendizagem animal, em especial no campo da Etologia.
Para saber mais sobre aprendizagem animal leia o livro de John Alcock, Comportamento
Animal: Uma Abordagem Evolutiva. Porto Alegre: Artmed, 2011.
Definição de Aprendizagem
Tradicionalmente, podemos pensar em aprendizagem como o processo de aqui-
sição de conhecimentos e habilidades. Contudo, atualmente, entendemos a apren-
dizagem como um conceito muito mais amplo, que inclui, além das dimensões cog-
nitiva e comportamental, também as dimensões emocional, motivacional e social
(DUMARD, 2015). Nesse sentido, a aprendizagem assume a natureza de desenvol-
vimento de competências, isto é, a capacidade de lidar com os diferentes desafios,
existentes e futuros, na vida profissional e em muitos outros campos de atuação
(ILLERIS, 2013). Assim, é muito difícil obter uma visão geral unitária da atual com-
preensão sobre o tema da aprendizagem, ainda assim, podemos dizer que ela se
caracteriza, antes de tudo pela complexidade.
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Uma Compreensão Abrangente
BASE
Biologia
Psicologia
Ciência Social
Ciência Cognitiva
CONDIÇÕES
CONDIÇÕES
APRENDIZAGEM EXTERNAS
INTERNAS
Disposições Estruturas Espaço de
Idade Tipos de Aprendizagem aprendizagem
Situação subjetiva Obstáculos Sociedade
Situação objetiva
APLICAÇÃO
Pedagogia/Educação
Políticas de
aprendizagem
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trazidas pela aprendizagem, e que dependem das experiências, com as mudanças que
ocorrem devido ao envelhecimento ou maturação como veremos mais adiante.
Como afirma Lefrançois (2019), aprendizagem pode ser entendida como toda
mudança relativamente permanente no potencial de comportamento, que resulta da
experiência, mas não é causada por cansaço, maturação, drogas, lesões ou doenças.
A aprendizagem é aquilo que acontece no organismo (humano ou não) como resultado
da experiência, dos eventos internos ou externos que estimulam novas formas de
pensar ou agir. Do ponto de vista comportamental, podemos saber que uma apren-
dizagem aconteceu quando ocorre uma mudança duradoura no comportamento (ex.
saber ler e escrever).
Mudança no
Aprendizagem: toda as
comportamento: mudanças
Experiência: As situações ou mudanças relativamente
observáveis ou potencialmente
eventos internos ou externos permanentes organismo que
observáveis após a experiência
a que estimulam a aprendizagem resultam da experiência e
e que oferecem evidência
não de outros fatores
de que a aprendizagem ocorreu
Figura 2
Fonte: Adaptado de LEFRANÇOIS, 2019, p. 5
Definir aprendizagem, portanto, não é simples, mas ao longo das próximas uni-
dades iremos gradativamente revisitar e complementar essa definição, adicionando
novos elementos, com novas proposições teóricas e evidências. O importante nesse
momento é entendermos que a aprendizagem trata de um fenômeno complexo, mas
que, de modo geral, indica sempre uma mudança duradoura de comportamentos,
habilidades e atitudes em função das experiências. Como resultado da aprendizagem,
em nível neurobiológico, observam-se mudanças nas sinapses, e, em nível psicos-
social, observam-se mudanças de comportamentos.
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Uma Compreensão Abrangente
No século XXI, temos observado cada vez mais uma compreensão abrangente
da aprendizagem. Por abrangente entendemos uma visão que considere os princí-
pios universais como proposto pelas macroteorias e as especificidades das diferen-
tes aprendizagens como estudado pelas microteorias. Essa visão mais abrangente
busca incorporar as evidências encontradas pelos diferentes teóricos e olhar para a
complexidade do fenômeno da aprendizagem em situações diversas. Reconhece-se
que aprender envolve mais do que apenas aspectos cognitivos e comportamentais,
mas também os aspectos emocionais, motivacionais e sociais/culturais. Essa é a vi-
são defendida pela Ciência Cognitiva e a que adotaremos neste curso.
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Linguística
Educação Neurociência
Inteligência Filosofia
artificial
Antropologia Psicologia
Figura 3
Como você já deve ter percebido até aqui, a aprendizagem é uma questão muito
complexa, envolve muitos fatores e diversas áreas do conhecimento têm produzido
subsídios para entendermos o que é e como ocorre a aprendizagem. Essa é a principal
razão para que o nome dessa disciplina esteja no plural e não no singular: Teorias
da Aprendizagem. Uma teoria científica é um conjunto de afirmações relacionadas
e que tem como função principal resumir e explicar as observações feitas por cien-
tistas ou pesquisadores (LEFRANÇOIS, 2016, p. 7). Ao longo da história, diversos
pensadores e pesquisadores olharam de diferentes maneiras para o fenômeno da
aprendizagem e criaram suas hipóteses e teorias.
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Uma Compreensão Abrangente
chocolate, mas nem sempre de estudar, então se dermos um chocolate para ela toda
vez que ela estudar, ela poderá ficar mais motivada a continuar estudando.
Assim, como já discutimos antes, não existe apenas uma única definição de
aprendizagem utilizada como conceito unitário. Pelo contrário, ao longo da história,
observamos o desenvolvimento de um grande número de teorias mais ou menos
singulares ou sobrepostas. Algumas dessas teorias são mais vigorosas, estudadas há
muitas décadas e já apresentam evidências bastante sólidas, elas são chamadas de
teorias clássicas da aprendizagem. Outras teorias são mais recentes, ainda estão
em pleno desenvolvimento e se fundamentam nas teorias clássicas e em novas evi-
dências, vamos denominar a essas de teorias contemporâneas da aprendizagem.
As teorias de Piaget, Vygotsky e Skinner, por exemplo, talvez sejam as mais conhe-
cidas teorias da Psicologia e amplamente utilizadas por educadores. Elas inclusive são
muitas vezes a base das teorias que denominamos aqui de contemporâneas. O que
as torna clássicas é realmente a sua importância e solidez, uma vez que muitas
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de suas hipóteses continuam ainda vigorosas, com muitas décadas de evidências
acumuladas. O fato dessas teorias serem amplamente conhecidas também faz com
que elas sejam amplamente mal compreendidas. Há muitos erros, generalizações
e misconceptions sobre esses teóricos e suas teorias.
Você Sabia
Misconception é um termo em inglês que traduzido literalmente significa equívoco, mas
essa expressão é normalmente utilizada em inglês para se referir a um entendimento equi-
vocado sobre um fato ou evidência científica. Assim, algumas pessoas leem apenas parte
da obra de um autor e derivam ideias que não foram necessariamente trazidas por esse
pesquisador.
À guisa de exemplificação, Jean Piaget, por exemplo, em sua teoria postula que o
desenvolvimento precede a aprendizagem, ou seja, as crianças precisam desenvolver
certas formas de pensar para compreender certos fenômenos. Contudo, algumas
pessoas interpretam erroneamente que, então, não se deve ensinar algumas coisas
para crianças pequenas, porque elas ainda não estão “aptas” a aprender. Na reali-
dade, isso é uma transposição de uma teoria da aprendizagem para uma teoria do
ensino feita de modo muito equivocado. Veremos melhor essas nuances ao longo
dessa e das próximas unidades.
O fato de as crianças ainda não terem desenvolvido certas formas de pensar, não
as limita totalmente, e elas podem sim potencialmente aprender desde que o con-
teúdo que se quer ensinar seja adaptado a sua compreensão, assim como também
propuseram teóricos como Vygotsky e Bruner. Outra misconception muito comum
é a de que os teóricos behavioristas como Skinner pensam na aprendizagem de um
modo muito mecanicista e sem considerar toda a subjetividade dos aprendizes ou a
importância da cultura, veremos mais adiante que se trata também de outra má-inter-
pretação. Um equívoco muito comum, independentemente da teoria, é acreditar que
a aprendizagem ocorra como um processo uniforme para todos os indivíduos, sem
reconhecer que na verdade há muita variação em função de diversos fatores como
as características individuais, o que será aprendido e as condições de aprendizagem.
O fato é que as teorias são sempre explicações possíveis sobre a realidade, por-
tanto, são fragmentadas e não são verdades absolutas e imutáveis, elas podem sim
serem equivocadas ou ficar ultrapassadas. Como conjuntos de explicações teóricas
sobre a realidade, elas precisam ser constantemente colocadas à prova. Faz parte do
método científico criar hipóteses sobre o mundo, isto é, respostas provisórias e, em
seguida, criar condições de testar essas hipóteses de modo objetivo e que possa ser
replicado por outras pessoas. Uma vez que se testa uma hipótese, pode-se encontrar
evidências em favor ou contrárias. Se as evidências forem a favor, avança-se um
pouco mais e se testa novas hipóteses, se forem contrárias, rejeitam-se as hipóteses
iniciais e criam-se novas hipóteses. Assim, o trabalho de um cientista nunca acaba,
pois sempre é necessário se pensar em novas respostas para explicar os fenômenos
que se apresentam. As teorias são vivas e continuam a evoluir. O que se pensava há
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100 anos sobre a aprendizagem, deve ser atualizado sempre em função de novos
conhecimentos, fatos, contextos e tecnologias.
Hoje, você está aprendendo via uma disciplina online, nosso contato principal
de professor-aluno está se dando via esse texto e algumas aulas em vídeo. Nossa
interação é diferente da que nossos pais, avós e bisavós vivenciaram quando estuda-
ram. Por certo tempo, houve até mesmo ensino a distância via cartas, hoje as pes-
soas recebem cada vez menos cartas, mas passaram a receber centenas de e-mails
que antes nem existiam. As salas de aula estão se transformando, e, como nós,
especialistas em aprendizagem, podemos pensar na aprendizagem nesses diferentes
contextos? Como podemos compreender as melhores formas de se aprender um
determinado conteúdo? Será que todo mundo aprende igual? Será que aprendemos
melhor que nossos antepassados? Será que aprendemos pior?
Essas respostas ainda estão porvir, mas espero que desde já esse seja o começo
de uma revolução de aprendizagens para você. Que você possa refletir sobre as dife-
rentes formas e possibilidades de aprender. Nunca esquecendo de que quem aprende,
aprende sempre alguma coisa. Não aprendemos de forma indeterminada e no vazio.
Assim, precisamos entender as particularidades da aprendizagem de diferentes con-
teúdos e em diferentes contextos. Aprender uma habilidade é diferente de aprender
um conhecimento, um fato etc. Aprender matemática, por exemplo, é diferente de
aprender a dirigir. Contudo, usamos sempre o mesmo corpo, o mesmo cérebro,
a mesma cognição para aprender e, por isso, é possível estudar cientificamente a
aprendizagem e encontrar princípios comuns a todas as aprendizagens.
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desenvolvimento e aprendizagem. Esses termos são comumente utilizados pelas
pessoas há muito tempo, sem que elas de fato pensem nos aspectos teóricos ou
conceituais que os cientistas atribuem a eles. Quando essas palavras são utilizadas
por psicólogos, elas ganham uma definição específica que as tornam não mais ape-
nas palavras, mas sim conceitos ou construtos teóricos. Nesse sentido, ouvimos as
palavras aprendizagem e desenvolvimento ao longo de toda nossa vida e podemos
ter várias ideias sobre elas, que são anteriores às definições conceituais que iremos
adotar nessa disciplina. Assim, é importante partirmos de definições iniciais e delimi-
tarmos o que entendemos por aprendizagem e desenvolvimento nesse curso.
Distinguir esses dois conceitos não é tarefa fácil, existem muitos debates e discor-
dâncias. Skinner, por exemplo, não utiliza a noção de desenvolvimento, antes, utiliza
apenas o conceito de aprendizagem em sua teoria, entendendo esta como as mudanças
duradouras que são consequências das respostas dadas pelo sujeito aos estímulos
fornecidos pelo ambiente externo. Para Skinner, tudo aquilo que somos e sabemos
é fruto da aprendizagem. Para Piaget, o desenvolvimento é fundamental, e é porque
nos desenvolvemos que podemos aprender, ou seja, ele enfatiza mais o crescimento
de nossas potencialidades que são frutos da nossa biologia e os processos mentais
de construção e assimilação desse conhecimento. Vygotsky, por sua vez, propôs que
desenvolvimento e aprendizagem são importantes, mas, ao contrário de Piaget, ele
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afirmava que não é preciso esperar que ocorra o desenvolvimento para que se possa
aprender, pois quando se aprende se avança no desenvolvimento.
Como você pode ver, não se trata apenas do uso de termos diferentes, mas tam-
bém de posições epistemológicas e explicações distintas. Em síntese, quando fala-
mos em desenvolvimento, estamos pensando mais nas mudanças que ocorrem ao
longo do tempo, sejam elas físicas, motoras, cognitivas, emocionais ou da personali-
dade de uma pessoa. Enquanto quando falamos de aprendizagem, estamos falando
de um processo de aquisição que permite a ocorrência de mudanças duradoras na
nossa vida como fruto da nossa interação com o meio físico e social.
A distinção que você deve fazer, portanto, é a de que as pessoas que estudam e
teorizam sobre o desenvolvimento estão pensando sobre o modo como as pessoas
crescem e mudam quando elas vão envelhecendo, já aprendizagem é um desses
mecanismos de mudança. Podemos estudar o desenvolvimento físico, motor, social,
linguístico, cognitivo, moral e afetivo. Os mecanismos envolvidos no desenvolvimento
podem ser diferentes. Um mecanismo é o crescimento, que é o processo físico de
desenvolvimento, mais especificamente o processo de ficarmos cada vez maiores
fisicamente. Por outro lado, temos a maturação, que é um processo de desenvolvi-
mento físico, intelectual ou emocional, mais influenciado pela genética. Por exemplo,
quando envelhecemos, nossa estrutura óssea cresce e se modifica e a maturação
sexual permite que os órgãos sexuais se tornem aptos para a reprodução.
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teorias de aprendizagem social ou behavioristas acabam enfatizando mais o processo
externo, por vezes ignorando ou minimizando a importância do processo interno.
Uma visão que reúne as duas visões é proposta por Illeris (2013) que, ao inte-
grar esses dois processos, aponta para a importância também de três dimensões
da aprendizagem. A dimensão do conteúdo, que diz respeito àquilo que deve ser
aprendido, como conhecimentos ou habilidades, valores, atitudes, métodos, estra-
tégias etc. A dimensão do incentivo, que diz respeito à energia mental necessária
para o processo de aprendizagem, envolvendo os sentimentos, emoções e motiva-
ção para aprender. E por último, a dimensão da interação, que propicia os im-
pulsos que dão início aos processos de aprendizagem, podendo ocorrer na forma
de percepção, transmissão, experiência, imitação, atividade, participação. Essa é a
dimensão que propicia a integração pessoal em comunidades e na sociedade. Assim,
a aprendizagem começa com o corpo e ocorre por intermédio do cérebro, que tam-
bém faz parte do corpo, e apenas gradualmente o lado mental é separado como uma
área ou função específica, mas nunca totalmente independente e sempre inserida
em um meio físico e social.
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Uma Compreensão Abrangente
Para saber mais sobre a história da humanidade e todas as aprendizagens e conquistas que
tivemos e nos caracterizam como humanos leia o livro de Harari, Y. N. Sapiens: Uma Breve
História da Humanidade. São Paulo: L&PM, Edição, 2015.
Tipos de Aprendizagem
Aprender não é apenas arquivar conhecimentos em nossos cérebros como se es-
ses fossem uma biblioteca antiga repleta de livros dispostos em estantes enfileiradas.
Na realidade, esse conhecimento é distribuído em várias redes neurais formadas
pelas múltiplas conexões entre neurônios e que possibilitam a criação do que os
psicólogos cognitivos chamam de esquemas mentais. Esses esquemas são o resul-
tado da aprendizagem, são um modelo mental, que é o resultado do processamento
cognitivo daquilo que foi aprendido e que nos possibilitará recuperar informações e
usá-las no momento apropriado (EYSENCK, KEANE, 2017; ILLERIS, 2013).
Outros tipos de aprendizagens são descritos por teóricos como o psicólogo norte-
-americano David Ausubel (1918-2008), por exemplo, que diferenciou entre a apren-
dizagem mecânica e a aprendizagem significativa. Uma aprendizagem é mecânica
quando ela acontece apenas por memorização, repetição e não tem um significado
real para aquele que está aprendendo. Por oposição, a aprendizagem significativa é
aquela em que o aprendiz relaciona o que está aprendendo com conhecimentos pré-
vios que já possuía e assim encontra sentido e significado nessa aprendizagem que,
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portanto, torna-se importante e duradora. Obviamente que o objetivo da educação
deveria ser criar situações para a aprendizagem significativa, mas isso nem sempre é
o que acontece na maioria de nossas escolas.
Isso não significa que a memorização não seja importante, mas que existem
diferentes tipos de aprendizagem para diferentes conteúdos. Aprender um número
de telefone é basicamente uma questão de aprendizagem mecânica, enquanto aprender
sobre aprendizagem deveria ser algo prazeroso e significativo, uma vez que você irá
utilizar esse conhecimento por muito tempo.
Esses não são os únicos tipos de aprendizagem e nem as únicas formas possíveis
de defini-los. Algumas vezes teóricos diferentes podem oferecer classificações distin-
tas para um mesmo tipo de aprendizagem já previamente estudado. Veremos mais
tipos de aprendizagens ao longo deste curso quando introduzirmos as teorias nas
próximas unidades.
Condições Internas e
Externas de Aprendizagem
Caminhando para a conclusão desta Unidade é importante apresentar uma breve
revisão e síntese focando em aspectos importantes sobre a aprendizagem.
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Uma Compreensão Abrangente
Uma criança que ainda não sabe ler passa, todos os dias, por várias coisas escritas
ao seu redor, como placas, letreiros, jornais, anúncios etc. E ela nem percebe que
elas estão ali ou que têm quaisquer significados. Contudo, uma vez que ela aprende
que as letras representam sons e a escrita, portanto, tem uma função de armazenar
e transmitir mensagens, essa mesma criança muda seu comportamento e passa a
se interessar e tentar ler tudo aquilo que ela encontra. Algumas vezes notamos essa
súbita diferença entre o não saber algo e o de repente compreender após uma apren-
dizagem, e podemos chamar a isso de insight.
As mudanças da aprendizagem nem sempre são tão óbvias como saber o nome
ou não de um dromedário. Algumas vezes elas são sutis, são mudanças de disposição
como quando adquirimos um hábito ou quando a criança passa a notar as palavras
escritas. Essas aprendizagens têm a ver com o que denominamos de motivação para
aprender (DUMARD, 2015). Estar motivado é estar interessado, disposto a conhe-
cer algo novo. Por algum tempo, valorizou-se mais os processos cognitivos do que
os volitivos e afetivos, mas hoje sabemos que a motivação, assim como o afeto, é
fundamental para aprender, e que ela pode ser tanto intrínseca quanto extrínseca.
Assim, os pais podem, por exemplo, tentar incentivar com presentes, brinquedos
ou até mesmo dinheiro. Os professores, por sua vez, podem tentar incentivar com
elogios, boas notas e até mesmo punições, como impedindo que a criança participe
do recreio, das aulas de educação física ou de algum jogo. Contudo, nenhum desses
casos será tão efetivo ou recomendável quanto estimular a criança a desenvolver
a própria motivação intrínseca pela aprendizagem. Como você pode imaginar até
aqui, quando a motivação é externa ela quase sempre será efêmera, fugaz e menos
efetiva do que a motivação interna. Pais e professores devem buscar auxiliar as
crianças a desenvolver a motivação intrínseca pela aprendizagem. A curiosidade está
ligada a motivação interna, quando estamos curiosos queremos aprender por vontade
própria. Como especialistas em aprendizagem, precisamos estimular o aprender a
gostar de aprender, querer aprender mais pelo fato de saber o novo e não por um
presente, recompensa ou mesmo punição.
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Assim, a aprendizagem depende sempre de condições internas e externas para
que ocorra. Internamente, podemos pensar na motivação e nos conhecimentos pré-
vios que facilitam ou dificultam a aprendizagem. Externamente, podemos pensar em
diversos fatores como as condições de ensino, as desigualdades socioeconômicas
e também a própria motivação. Em situações ideais é muito fácil aprender, mas o
mundo não é feito de situações ideais, e sim de situações reais e possíveis. Sempre
existirão diversos obstáculos para a aprendizagem e como um especialista em apren-
dizagem você deve buscar sempre entender quais são os fatores que estão influen-
ciando naquela situação específica. Quais são os fatores que explicam o porquê dessa
aprendizagem estar ou não ocorrendo?
Esses fatores podem ser muito diversos, podem ser relacionados, por exemplo,
ao tipo de conteúdo a ser aprendido. Algumas coisas são mais difíceis do que outras,
por exemplo, aprender a apontar o lápis é muito mais fácil do que aprender a fazer
desenhos ultrarrealistas. Nesse caso, é preciso delimitar os conhecimentos neces-
sários para se aprender, o que é o objetivo final, e criar condições, dividindo os
conteúdos em etapas mais simples. É para isso que existem os currículos e planos
de ensino nas escolas. Seria muito difícil ensinar como construir foguetes em uma
aula, mas é possível dividir em vários anos e várias disciplinas e assim ao final de
4 ou 5 anos você se tornaria hábil em construir foguetes ou pelo menos a entender
como pode continuar a aprender sobre isso. A mesma coisa em uma situação mais
simples como ensinar a ler. Ensinar a ler com fluência e compreensão um livro como
“Dom Casmurro”, de Machado de Assis, é impossível em uma só aula no 1º ano do
Ensino Fundamental. Mas podemos ensinar as crianças primeiro quais são as letras
do alfabeto, quais são os fonemas que elas representam, depois como dividir palavras
faladas em fonemas e usar letras para escrevê-las. Até que se ensina às crianças a
cada vez mais desenvolverem fluência e compreensão de leitura e elas possam ler
com prazer e autonomia um clássico como Dom Casmurro.
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Uma Compreensão Abrangente
Essa é uma discussão muito profícua e que ganhará cada vez mais corpo e con-
sistência a medida em que avançarmos neste curso. Espero que você tenha cada
vez mais motivação intrínseca para que continue a devorar cada unidade e busque
sempre mais informações. Este curso foi planejado para que você tenha todas os estí-
mulos e condições apropriadas para a sua aprendizagem e para aprender a aprender,
isto é, ter o controle intencional sobre suas formas de aprendizagem, podendo assim
aprender mais e de forma melhor. Nas próximas unidades, veremos como diferentes
teorias da aprendizagem contribuem para isso, lançando luz em diferentes pontos e
fatores importantes. Também veremos como particularidades da aprendizagem em
diferentes contextos. Por hora, desejo a você uma aprendizagem muito eficiente e
prazerosa. Até a próxima unidade!
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação
ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo:
Edições Loyola, 2006.
Caçadores de neuromitos
EKUNI, R.; ZEGGIO, L.; BUENO, O. F. A. (eds.) Caçadores de neuromitos. O que
você sabe sobre o seu cérebro é verdade? São Paulo: Mennon, 2015.
Vídeos
Traga a revolução da aprendizagem!
ROBINSON K., Sir. Traga a revolução da aprendizagem! (2010) TED Talks.
https://bit.ly/321uOYC
Leitura
Motivação intrínseca e extrínseca: diferenças no sexo e na idade
PANSERA, S. M. et al. Motivação intrínseca e extrínseca: diferenças no sexo e na
idade. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 20, n. 2, p. 313-320, Ago. 2016.
https://bit.ly/2F8bv6E
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Uma Compreensão Abrangente
Referências
BIGGE, M. L. Teorias da aprendizagem para professores. São Paulo: Editora
pedagógica e universitária, 1977.
THOMAS, G.; PRING, R.. Educação baseada em evidências: a utilização dos acha-
dos científicos para a qualificação da prática pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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