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WBA0034_V1.

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Teorias da Aprendizagem
Teorias da Aprendizagem
Autora: Camila Beltrão Medina
Leitora Crítica: Nelma Maria Felix Capi Villaça de Souza Barros
Como citar este documento: MEDINA, Camila Beltrão. Teorias da Aprendizagem. Valinhos: 2014.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Concepções que Alicerçam o Aprender 05
Assista a suas aulas 20
Unidade 2: Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de
31
Jean Piaget
Assista a suas aulas 52
Unidade 3: Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar 64
Assista a suas aulas 95
Unidade 4: Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre o
107
Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
Assista a suas aulas 128
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Apresentação da Disciplina

Você, como aluno de especialização em Psicopedagogia, deve possuir a informação de que


tal área é entendida como um campo interdisciplinar, visto que se constitui pelos saberes
presentes na neurociência, na psicologia, na pedagogia, entre outros. Essencialmente, são
trabalhadas questões referentes à aprendizagem, ou seja, aos processos psíquicos que levam
ao aprender ou ao não aprender.
Por isso, uma disciplina que trate sobre teorias de aprendizagem se faz tão importante, sendo
que seu principal objetivo consiste em conduzir o educando a um passeio que fundamente suas
concepções sobre o aprender.
Qualquer um responde diretamente a questões do tipo: o que você aprendeu hoje na escola
ou, com uma determinada leitura ou, ainda, acessando a internet? As pessoas sabem, sem
dificuldades, aplicar as palavras aprender/aprendizagem em conversas cotidianas. No entanto,
o conceito de aprendizagem não é tão simples e, por isso, a ciência o entende como um
processo a ser investigado.
A disciplina Teorias da Aprendizagem (TA), que aqui se inicia, buscará apresentar concepções
elucidadas por pensadores sobre a maneira como o homem internaliza as informações postas
no mundo em que está inserido, ou seja, como as pessoas aprendem.
Muitas são as teorias da aprendizagem que interferem na compreensão sobre os processos
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de aprender, sendo que as principais referências são didaticamente organizadas em dois
grandes grupos: as teorias do condicionamento e as teorias cognitivas, respectivamente
fundamentadas por John B. Watson e B. F. Skinner, e Jean Piaget, Lev Vigotski e Henri Wallon.
Cada um desses autores atribui à aprendizagem um conceito distinto e coerente com seu
pensamento. Esses conceitos, bem como os pressupostos teóricos defendidos por cada um
desses pensadores, serão o objetivo central das discussões desta disciplina.
Espero que você aproveite a disciplina e que ela fortaleça seu processo de formação.

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Unidade 1
Concepções que Alicerçam o Aprender

Objetivos

Apresentar que toda ação pedagógica planejada é influenciada por uma cultura educativa,
alicerçada por teorias do conhecimento. Entre elas, teorias sobre o desenvolvimento
psicológico e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, objetiva-se
promover oportunidades para que você:
»» Domine princípios teórico-metodológicos das áreas de conhecimento que se constituam
objeto de prática psicopedagógica.
»» Compreenda o processo de construção do conhecimento no indivíduo inserido no seu
contexto social e cultural.
»» Relacione conceitos de diferentes teorias psicológicas quando aplicadas à educação.
»» Conheça diferentes teorias da aprendizagem.
»» Internalize o conceito de aprendizagem para as diferentes teorias da aprendizagem.
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Introdução

Os seres humanos são produto de


tudo aquilo que vivem, experimentam,
Para saber mais
descobrem e aprendem. Deste modo, O século XVII é marcado por duas correntes
deve-se atribuir ao aprender um sentido da filosofia que investigam os processos
mais amplo do que aquilo que se cognitivos e elucidam teorias sobre o aprender.
apropria a partir das aulas escolares. O São elas: o empirismo e o racionalismo. Para
homem aprende a andar, a falar, a fazer os empiristas, o conhecimento está no mundo
birra, a seduzir a pessoa desejada, a e será internalizado pelo homem; e para os
conviver socialmente, a ler, a escrever. A racionalistas, o conhecimento está na mente
aprendizagem está diretamente associada do homem e será externalizado ao mundo pelo
a um processo mental/cognitivo de homem. (BECKER, F. Educação e Construção do
captação de informações presentes no Conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001).
mundo natural e social em que se está
inserido.
Por toda a história da humanidade foi
Você sabia que esse processo já era atribuída aos pais a responsabilidade
investigado pelos filósofos gregos? E que de educar/ensinar os filhos. Nos grupos
filósofos do século XVII tomam o aprender humanos reduzidos e nas sociedades
como seu objeto central de estudo? primitivas, o aprender pautava-se pela
6/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender
observação e convívio com os integrantes devem ser transmitidos aos mais jovens.
mais velhos da comunidade. Nesse Ao longo da história, diferentes formas
sentido, o processo de aprendizagem dos de especializar/profissionalizar a
produtos sociais, ou melhor, daquilo que se aprendizagem foram testadas. Entre elas
considerava essencial para a sobrevivência é possível citar o tutor, o preceptor, a
e manutenção do grupo, acontecia academia, as escolas religiosas, as aulas
de forma direta e em decorrência da mútuas, as escolas laicas, o professor. Em
socialização dos indivíduos. todos esses processos de socialização dos
No entanto, com o desenvolvimento da conhecimentos, a aprendizagem centrava-
humanidade e por consequência das se como o grande objetivo. Deste modo,
sociedades se tornarem mais complexas, pode-se dizer que o aprender transformou-
o processo de aprendizagem direto das se em preocupação de muitos pensadores
gerações mais jovens passa a ser ineficaz. e idealizadores de um sistema de ensino
Tal fenômeno leva o homem a vislumbrar formal e a escola, laica, organizada
formas alternativas de socialização dos relacionando série e idade cronológica
saberes. Saberes, considerados como do aluno, em que a aula será presidida
fundamentais para a sobrevivência e por um professor, foi o lugar eleito como
manutenção do grupo, portanto, que ideal para a efetivação desse processo.
7/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender
Viabilizar o aprender fica sendo a função ensinados, são os valores e regras morais
primeira dessa escola, postulando que da sociedade, são os avanços da ciência
aprender significa promover a socialização sobre o funcionamento dos processos
dos saberes produzidos pela humanidade cognitivos, são as teorias da psicologia que
para as gerações mais jovens, bem influenciam diretamente o como ensinar, e
como a adequação das novas gerações à com elas as teorias das pedagogias.
sociedade.
No entanto, vale destacar que a sociedade Para saber mais
se transforma e com ela os elementos a
Mudanças na educação coligam-se a um novo
serem transmitidos/ensinados nas escolas.
modo de vida da sociedade e têm um grande
A função da escola sempre permanece
poder de “moldar” aqueles que mudarão as
a mesma: atender as necessidades
coisas e, consequentemente, o mundo. Leia
sociais de formação de seus membros
mais: PÉREZ GÓMEZ, A. I. As funções sociais da
mais jovens, que em um futuro próximo,
escola: da reprodução à reconstrução crítica do
estarão atuando para a manutenção da
conhecimento e da experiência. In: SACRISTÀN,
ordem, da sobrevivência e da existência
J. G.; PÉREZ GÓMEZ, A. I. Compreender e
do grupo. O que modifica é a concepção
Transformar o Ensino. Porto Alegre: Artmed,
sobre o aprender, são os elementos a serem
2000. p. 13-26.
8/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender
Deste modo, todas as reformas na sociológicos, psicológicos ou ainda
educação escolar são consequências de humanistas. No entanto, todas resultam da
acalorados debates que representam relação do homem (ser que aprende) com o
diferentes fenômenos educativos. ambiente (objeto que será apreendido).
Fenômenos que envolvem diversas Os profissionais da educação são produto
dimensões. Entre elas é possível citar: de todas as transformações educacionais
humana, técnica, cognitiva, emocional, e sua prática pressupõe a união das
sociopolítica e cultural. Vale pontuar que diversas Teorias da Aprendizagem, muitas
as reformas educacionais não se tratam vezes de forma inconsciente, individual e
da simples união das referidas dimensões,
intransferível.
mas sim da aceitação das várias
implicações e relações entre elas. Cada
1. Teorias da Aprendizagem
uma dessas dimensões ganha destaque
em Teorias da Aprendizagem diferentes. Leia a história a seguir e reflita sobre
Assim, toda e qualquer tendência como ocorre o processo de aquisição do
pedagógica, desdobramento de uma teoria conhecimento:
da aprendizagem, ora inclina-se para
aspectos biológicos, ora para aspectos

9/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


“Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente
numerosos, descobriram-se em 1920 duas crianças, Amala e Kamala,
vivendo no meio de uma família (?) de lobos. A primeira tinha um ano e
meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade,
viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era
exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos


para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos
longos e rápidos.

Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua


ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para
a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas,
passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativas e
ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca
choravam ou riam.

10/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se
(?) lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco
antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinquenta palavras.
Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez
por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que
cuidaram dela, bem como às outras com as quais conviveu.

Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e


depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar
ordens simples.”
LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-14.

A história descreve um fato que alguns estudiosos consideram verídico e permite ajudar a
entender em que medida as características humanas dependem do convívio social. Amala e
Kamala, as meninas-loba da Índia, por terem sido privadas do contato com outras pessoas,
não conseguiram apresentar comportamentos tipicamente humanos, como a comunicação
por meio da fala, não foram ensinadas a usar determinados utensílios, não desenvolveram
processos de pensamento lógico.

11/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


Assim, a aprendizagem é entendida como
Para saber mais a integração entre o estímulo e a resposta,
Leia: DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. de. Psicologia na
variáveis ambientais que interagem com
educação. São Paulo: Cortez, 1990. p 16-17. o sujeito. A partir do momento em que a
aprendizagem foi concluída, estímulo e
resposta estão unidos de tal modo que
Será que todo o comportamento das o aparecimento do estímulo evoca a
meninas era uma cópia decorrente de resposta.
seu processo de socialização, que se deu
com a alcateia? Dependendo da corrente No caso de Kamala e Amala, os estímulos
teórica a que se pertence, uma avaliação oferecidos em sua educação primeira
diferente será feita sobre o processo de estavam diretamente relacionados
aprendizagem de Kamala e Amala. Para os com o modo de vida selvagem,
adeptos das teorias do condicionamento, levando as meninas a responderem
a aprendizagem é definida por suas com comportamentos típicos de lobo.
consequências comportamentais e, Caçavam suas refeições, comiam sem
portanto, enfatizam as condições o uso de talheres, tinham hábitos
ambientais como responsáveis pelo noturnos. Essas respostas faziam com
aprender. que elas pertencessem ao grupo e com
12/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender
isso, mantiveram-se vivas. Diante de novos estímulos, as meninas, com muitas dificuldades,
tentaram emitir novas respostas. As dificuldades existiam porque o processo agora não era
o de educar, mas o de reeducar. Para isso, era necessário retirar a resposta anteriormente
internalizada, oferecer novo estímulo, incentivando uma nova resposta. Se a nova
resposta desejada fosse dada, seria fundamental reforçá-la. Buscou-se implantar um novo
comportamento, um comportamento até então desconhecido por elas.
É possível afirmar que, para os seguidores das teorias do condicionamento, aprender significa
mudança de comportamento, ou seja, toda vez que um comportamento é instalado em
decorrência de estímulos e elementos reforçadores, há aprendizagem.
Já para os seguidores das teorias cognitivistas, a aprendizagem é entendida como um processo
de relação do sujeito com o mundo externo, no entanto, ela só se efetiva diante da organização
interna do conhecimento (organização cognitiva). Nesse sentido, é possível afirmar que a
aprendizagem é um elemento derivado da comunicação com o mundo e se acumula sob a
forma de riqueza de conteúdos cognitivos. É o processo de organização de informações e
integração daquilo que foi apreendido pela estrutura cognitiva. Não há um fim. O homem
adquire um número crescente de novas ações decorrentes do processo de internalização para
inserir-se e participar de seu meio.

13/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


O Quadro 1.1 demarca as diferenças entre essas duas teorias:
Quadro 1.1 — Diferenças entre as teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas.

Teorias do Condicionamento Teorias Cognitivas


Aprendem-se hábitos, ou seja, aprende-
Aprende-se a relação entre as ideias, ou seja,
se a associar um estímulo a uma
Aprendizagem conceitos.
resposta.
Aprende-se praticando. Aprende-se abstraindo a experiência.
Ocorre pelo sequenciamento de
respostas, ou seja, uma resposta é, na
realidade, um conjunto de respostas.
Ocorre pelos processos cerebrais centrais, tais
Manutenção do Este conjunto de respostas, reforçadas
como atenção e memória, que são integradores do
comportamento de modo bem-sucedido, prepara a etapa
comportamento.
seguinte e mantém a “teia” de respostas
até que o objetivo do comportamento
seja atingido.
Evocam-se hábitos passados, Além da experiência anterior, o sujeito vale-se da
Ação do
semelhantes à nova situação. compreensão interna de relações essenciais do caso
comportamento
Experiência anterior que determina a em questão. É um processo lógico.
humano
solução do novo problema.

14/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


Para saber mais
John B. Watson é considerado o pai do Behaviorismo porque, além de colocar o comportamento
humano como objeto da psicologia, inaugurou e estabeleceu um método de investigação
desse comportamento. Seu primeiro artigo, publicado em 1913, traz o título: Psicologia: como
os behavioristas a veem. Tal artigo apresenta o comportamento como objeto observável e
mensurável, cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos. No
entanto, o nome mais conhecido dessa teoria da aprendizagem, sem dúvida, é o de Burros F. Skinner.
O próprio Skinner cunhou o nome de sua teoria de Behaviorismo radical, pois buscava designar uma
filosofia da ciência do comportamento por meio da análise experimental do comportamento. A base
da corrente skinneriana está na formulação do comportamento operante. Leia: CUNHA, M. V. da.
Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

15/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


Indicação para Filmes
Sociedade dos Poetas Mortos. Direção Peter Weir (EUA, 1989).
É um filme sobre processo educacional em uma escola conservadora dos anos 1950, nos Estados Unidos,
em que um professor rompe com a visão tradicional de ensino.

O Enigma de Kasper Hauser. Direção Werner Herzog (Alemanha Ocidental, 1974).


O filme narra a história de Kasper Hauser, um jovem que vivia acorrentado em um porão, alimentado por
um homem misterioso. Sem muitas explicações, o misterioso homem retira Kasper do porão e o deixa em
uma cidade próxima a Nuremberg. Inicia, então, o processo de socialização e de aprendizagem desse rapaz.
Ele aprende facilmente música, tricô e jardinagem, mas é um fracasso em compreender as convenções da
época, principalmente as ligadas à sociedade, ciência e religião.

16/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


?
Questão
para
reflexão
As Teorias da Aprendizagem nascem de Teorias do
Conhecimento, assim, a raiz do que se faz na escola está no
mundo das ideias. Está na filosofia e em seus desdobramentos.
Você sabe como se dá essa passagem? Como uma Teoria do
Conhecimento se desdobra em Teoria Pedagógica?
Após sua reflexão, busque a resposta no texto: BECKER, F.
Modelos Pedagógicos e Modelos Epistemológicos. Educação
e Realidade, Porto Alegre, RS, v. 19, n. 1, p. 89-96, 1999.
Disponível em <http://www.marcelo.sabbatini.com/wp-
content/uploads/downloads/becker-epistemologias.
pdf>. Acesso em 2 fev. 2013.

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Considerações Finais

»» O homem é produto do meio natural e social em que está inserido.


»» Com o desenvolvimento da humanidade, a sociedade elege a escola como
o locus ideal para a transmissão dos saberes produzidos pelos homens no
decorrer de sua história.
»» As Teorias da Aprendizagem são alicerçadas por Teorias do Conhecimento.
»» Pensadores buscam entender o modo como o homem internaliza as
informações do mundo, ou seja, aprende.
»» Os teóricos da educação se apropriam das Teorias do Conhecimento e buscam
as traduzir em Teorias da Aprendizagem. Se o homem pensa e aprende
utilizando determinados esquemas mentais, a escola deve estimular e
trabalhar considerando esses esquemas mentais.
»» Existe um número elevado de teorias de aprendizagem, no entanto, estas
teorias podem ser reunidas em duas categorias: teorias do condicionamento e
teorias cognitivistas.
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Referências

BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.


BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo:
Saraiva, 2002.
CUNHA, Marcus Vinícius da. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1990. p 16-17 .
LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-
14.
MAHONEY, Abigail Alvarenga (org). Psicologia & Educação: revendo contribuições. São Paulo:
EDUC, 2000.
PÉREZ GÓMEZ, Ángel I. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica
do conhecimento e da experiência. In: SACRISTÀN, J. G.; PÉREZ GÓMEZ, Á. I. Compreender e
Transformar o Ensino. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 13-26.

19/144 Unidade 1 • Concepções que Alicerçam o Aprender


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Teorias do Conhecimento e a Aula 1 - Tema: Da Filosofia à Psicologia – Bloco


Psicopedagogia – Bloco I II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
d1dd7e561ab30311de33f7354c0d5239>. 1d/88e8568fa882f31a230ad23e18b34abe>.

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Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Abordagem Educacional Funda- Aula 1 - Tema: Psicologia Comportamental


da no Racionalismo – Bloco III e Visões do Ensinar, do Aprender e do não
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Aprender – Bloco IV
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
27f14a9d1c037cb71548a7a7b1a8e558>. pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
19db77775a6b8aa565cdf44c6602fd13>.

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Questão 1
1. Analise a tabela elaborada por Fernando Becker e responda a questão:
Epistemologia Pedagogia
Teoria Modelo Modelo Teoria
Empirismo S O A P Diretiva
Apriorismo S O A P Não diretiva
Construtivismo S O A P Relacional

A tabela elaborada por Fernando Becker estabelece uma comparação en-


tre modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. De acordo com as
afirmações do autor, o que isso significa?
a) Que as ciências da educação propõem um modelo de ação docente idêntico ao que é
idealizado pela filosofia.
b) Que as ciências da educação, por se apropriarem das teorias de diversas ciências
específicas, como Filosofia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, História, não conseguem
estabelecer um modelo pedagógico sem lançar mão de modelos epistemológicos.

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Questão 1

c) Que todo modelo pedagógico tem um modelo epistemológico que o fundamenta. Isso
pode ser verificado quando se analisa que a mesma relação apresentada entre sujeito e objeto,
sob o ponto de vista epistemológico, pode ser comparável à relação aluno e professor.
d) Que a pedagogia relacional descarta todos os outros modelos.
e) O empirismo é o modelo epistemológico mais antigo e, por isso, está ultrapassado,
devendo ser substituído pelo modelo relacional.

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Questão 2
2. A professora de Joãozinho disse na aula que a baleia é um mamífero.
Então Joãozinho disse: “Mas, professora, mamífero é vaca, gato, cachor-
ro, esses bichos que quando são filhotes mamam. A baleia vive dentro
d’água, tem nadadeiras, é um peixe grande”. A maioria dos colegas con-
cordou com Joãozinho, até que a professora passou um filme em que
apareciam filhotes de baleias sendo amamentadas. Joãozinho começou
a perceber que morar fora d’água não define os mamíferos, e que ter
rabo de peixe, nadadeiras e morar na água não são características ape-
nas dos peixes.

A aprendizagem de Joãozinho aconteceu, segundo a teoria piagetiana,


pelo processo de:

a) Anulação do conhecimento que possuía e substituição deste por conteúdos novos e


diferentes.
b) Associação de novos conteúdos aos que já faziam parte da sua estrutura cognitiva.

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Questão 2

c) Comparação entre informações e reforço do conhecimento anterior.


d) Desequilíbrio, por conflito cognitivo, e acomodação do novo conhecimento ao anterior.
e) Reforço positivo do comportamento por parte da professora, dos colegas e da família.

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Questão 3
3. Quais são os dois grupos em que se pode dividir as teorias da
aprendizagem?
a) Teorias do condicionamento e teorias cognitivas.
b) Teorias comportamentais e teorias piagetianas.
c) Teoria tradicional e teoria progressista.
d) Empirismo e racionalismo.
e) N.D.A.

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Questão 4
4. Quem é o fundador do Behaviorismo?

a) Jean Piaget.
b) Lev Vigotski.
c) Henri Wallon.
d) John Watson.
e) Burros F. Skinner.

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Questão 5
5. Como o homem é estudado pelos behavioristas?

a) Como o centro do processo de ensino e aprendizagem e, por isso, devem ser respeitados
todos os seus desejos e pensamentos.
b) Como um ser que responde a estímulos emitindo respostas que, ao serem reforçadas,
trazem por consequência a implantação de comportamentos.
c) Como um ser que, abstraindo suas experiências, as conduz aos processos cerebrais
centrais e as integra a comportamentos.
d) Como sujeitos que aprendem.
e) Como sujeitos que reagem a percepções e sensações, ou seja, processos psicológicos que
envolvem ilusão de ótica, desde que o estímulo físico seja percebido como uma forma diferente
da realidade.

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Gabarito

1. Resposta: C. estão postas no mundo material e


social. Essas informações são, portanto,
O que se pretende mostrar é que toda assimiladas e conduzidas à mente. Quando
teoria pedagógica alicerça-se em internalizadas, tais informações são
teorias do conhecimento. O processo acomodadas e automaticamente a pessoa
de estabelecimento da cultura escolar, se equilibra. Esse estado de equilíbrio
das regras do ensinar e aprender, da dura até o momento em que se depara
organização da escola, do processo de com novos estímulos ou informações.
avaliação, está intimamente ligado a um Assim, a problematização e o desequilíbrio
fundamento teórico. Tal fundamento impulsionam a aprendizagem do sujeito.
reside por vezes no campo da psicologia,
outras no campo da sociologia, ou ainda da 3. Resposta: A.
biologia, filosofia.
As teorias da aprendizagem apresentadas
2. Resposta: D. nesta aula se dividem em Teorias do
Condicionamento (ou teoria Behaviorista)
Segundo Piaget, o homem capta pela e Teorias Cognitivas (ou proposta
percepção sensorial informações que construtivista de ensino).

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Gabarito
4. Resposta: D. produto de um processo evolutivo no qual
essencialmente as mudanças acidentais
O fundador do behaviorismo foi John no dote genético foram diferencialmente
Watson. Sua teoria ficou conhecida como selecionadas por características acidentais
behaviorismo metodológico. A seguir, do ambiente.
Pavlov e Skinner desenvolveram teorias
inseridas nessa mesma corrente, com
ampliações teóricas.

5. Resposta: B.

Os behavioristas entendem que o homem


é uma consequência das influências ou
forças existentes no meio ambiente. O
homem organiza seus comportamentos
e suas ações de acordo com os estímulos
recebidos. Neste sentido, o homem para
os behavioristas é considerado como o

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Unidade 2
Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget

Objetivos
Apresentar a Epistemologia Genética de Jean Piaget e suas implicações no campo educativo, identificando
os principais conceitos presentes na abordagem piagetiana acerca do desenvolvimento psicológico da
inteligência, bem como a compreensão do método clínico piagetiano como técnica de avaliação psicológica
da inteligência.
Para tanto, busca-se que você desenvolva habilidades de:
»» Identificar, em situações-problema (casos clínicos e escolares), os principais indicadores piagetianos do
pensamento infantil nos diferentes períodos do desenvolvimento cognitivo e moral.
»» Elaborar procedimentos de intervenção psicológica em situações-problema (casos clínicos e escolares)
a partir dos indicadores propostos pela teoria piagetiana nos diferentes períodos do desenvolvimento
cognitivo e moral.
»» Descrever os procedimentos metodológicos de investigação da inteligência estudados por Piaget
(abordagem psicogenética) e relacionar com procedimentos de pesquisa e intervenção em uma abordagem
psicométrica em Psicologia.
»» Analisar as estruturas do pensamento infantil, em uma perspectiva piagetiana, por meio do estudo das
provas operatórias, do grafismo infantil, dos dilemas morais e dos jogos infantis.
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Introdução

Você verá aqui a apresentação de aspectos presentes na categoria nomeada por teorias
cognitivistas (sinalizada na aula passada), ou seja, teorias que consideram que a aprendizagem
está diretamente relacionada com a cognição/com o pensamento. Em outras palavras, teorias
que acreditam que a aprendizagem ocorre por meio do desenvolvimento da inteligência,
portanto, da resolução de problemas.
Um dos teóricos de maior relevância nesse campo de pesquisa foi Jean Piaget, biólogo suíço,
nascido em 1896 e falecido em 1980. Piaget dedicou sua vida a tentar desvendar os processos
cognitivos do homem, ou seja, entender como se dá o desenvolvimento da inteligência e, por
consequência, da aprendizagem. Apesar da aprendizagem não ser seu foco central, muito
contribuiu para a compreensão e efetivação desse processo.
O seu estudo a partir desse momento será sobre o pensamento e as influências de Jean Piaget
na educação.

1. Piaget: Contribuições da Epistemologia Genética para a Educação

Cunha (2003) afirma que:

32/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
“um dos grandes temas da epistemologia é saber como se passa de um
estado de menor conhecimento para um estado de maior conhecimento,
de um conhecimento de menor valor para um conhecimento de maior
valor.” (p.68).
Esta questão que seduz todos os que se envolvem nessa área também seduziu o jovem Piaget,
que buscava compreender prioritariamente o Sujeito Epistêmico, ou seja, o homem que pensa e
aprende, que tem uma inteligência que se desenvolve, e não o Sujeito Psicológico.
Afirma-se que alguns conhecimentos são obtidos por meio do contato direto do sujeito com
o dado empírico. Por exemplo, quando se indica que “está chovendo no jardim”, esta é uma
afirmação derivada da experiência de ter ido até o jardim e verificado por meio dos sentidos
o fato. Segundo Cunha (2003), esse conhecimento é nomeado de posteriori, já que nasce de
constatações empíricas.
No entanto, quando se faz alusão a que “a reta é o menor caminho entre dois pontos”,
externaliza-se uma ideia a priori, ou seja, esta afirmação é uma verdade anteriormente
constatada e verificada. Uma verdade que reside no campo da geometria.

33/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
As ideias a priori, além da geometria, concentram-se nas linguagens matemáticas e na lógica,
são gerais, universais, necessárias, não se modificam de acordo com a subjetividade de quem as
formule, nem conforme as condições do ambiente que cerca o fenômeno empírico. Para Cunha
(2003),

conhecimentos desse tipo são tidos como válidos justamente por serem
aplicáveis a quaisquer objetos, por serem normativos, por terem valor de
regra para o pensamento (p.70).
Exatamente, investigar a passagem de um tipo de conhecimento empírico para o racional
foi o que despertou o interesse de Piaget. Investigar como a mente humana transita de um
estado em que a afirmação só é possível mediante a manipulação do concreto, para um estado
em que os enunciados estão além disso. Para responder a suas questões, Piaget desvincula-
se da filosofia e adentra na experimentação científica, tornando-se um pesquisador do
desenvolvimento cognitivo da criança.

34/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
2. Processo de Equilibração atividade interna do indivíduo. A atividade
intelectual não pode ser separada do
Durante todo o seu percurso intelectual, funcionamento total do organismo. Assim,
Jean Piaget procurou explicações que o funcionamento intelectual é uma forma
pudessem esclarecer as mudanças especial da atividade biológica humana
ontogenéticas (mudanças no indivíduo) no herdada, que contribui para a interação
funcionamento cognitivo, do nascimento à do homem com o ambiente, levando à
adolescência, assim como dos mecanismos construção de um conjunto de significados.
responsáveis por essas transformações.
A interação deste indivíduo com o
Para Piaget, a formação das operações ambiente permitirá a organização desses
cognitivas está subordinada a um processo significados em estruturas cognitivas.
geral, que ele denomina de equilibração. Durante a vida, serão vários os modos
Sem deixar de reconhecer o papel da de organização dos significados,
experiência com os estímulos externos, marcando, assim, diferentes estágios do
Piaget procura determinar a existência desenvolvimento.
de uma organização própria do indivíduo
Para entender o processo de organização
em sua experiência sensível, organização
e adaptação intelectual, como visto por
que submete os estímulos do meio à
Piaget, quatro conceitos básicos precisam
35/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
ser dominados: esquema, assimilação, acomodação e equilibração.

2.1 Esquema

Piaget entendeu a mente como dotada de estruturas do mesmo modo que o corpo. Assim,
se o corpo tem um estômago, uma estrutura que permite ingerir e digerir, a mente tem uma
estrutura que permite ao homem reagir a estímulos e guardá-los na memória. Esta estrutura
cognitiva é nomeada de esquema. Nesse sentido,

Esquemas (Schemata – plural de schema) são estruturas mentais ou


cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e
organizam o meio. Como estruturas, os esquemas, são os correlatos
mentais dos mecanismos biológicos de adaptação. (WADSWORTH, 2001,
p.16).
Os esquemas podem ser entendidos simplesmente como conceitos ou categorias que vão se
formando e/ou se modificando na mente, à medida que o homem interage com informações
novas e as internaliza; à medida que o homem busca adaptar-se ao novo momento do
36/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
conhecimento.

2.2 Assimilação

A assimilação é o processo de captação da informação presente no mundo natural e social.


É possível dizer que corresponde ao instante em que o sujeito olha, escuta ou sente algo e
imediatamente o conduz à mente para verificação nos esquemas anteriormente determinados.
A mente irá analisar se o dado é novo ou se já foi internalizado em outra situação. Desse modo,

Assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um


novo dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de
comportamento já existentes. (WADSWORTH, 2001, p.19)
A assimilação ocorre continuamente e concomitante a diferentes estímulos. Uma pessoa não
processa um estímulo por vez. O ser humano está continuamente processando um grande
número de estímulos. A assimilação não resulta em mudança nos esquemas, mas ela afeta o
crescimento deles, tornando-se parte do processo de adaptação.

37/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
2.3 Acomodação acomodação da experiência e, com o
passar do tempo, elas se tornam cada vez
A acomodação se dá no exato instante mais próximas da realidade.
em que o estímulo atinge o esquema,
modificando os já internalizados ou 2.4 Equilibração
instituindo um novo. Quando o homem
acomoda um estímulo, significa que O processo de assimilação e equilibração
aprendeu algo. Não necessariamente algo são essenciais para o crescimento e
cientificamente considerado verdadeiro, desenvolvimento cognitivo. Quando ele se
mas algo que para ele, naquele momento, encerra, nem que por um instante, se dá a
basta, ou seja, equilibra. Isso resulta em equilibração. Buscar o equilíbrio cognitivo é
uma mudança na estrutura cognitiva o que faz o sujeito se desenvolver. O sujeito
(esquema) ou no seu desenvolvimento. equilibra-se quando cognitivamente se
Sob essa ótica, evidencia-se que a dá por satisfeito em relação à resolução
inteligência/esquemas são construídos. de uma questão. Wadsworth (2001) indica
Como construções, os esquemas não são que o conceito piagetiano de equilibração
cópias exatas da realidade. Suas formas está diretamente associado com os termos
são determinadas pela assimilação e equilíbrio e desequilíbrio, sendo que:

38/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
Equilíbrio é um estado de balanço entre assimilação e acomodação.
Desequilíbrio é um estado de não balanço entre assimilação e
acomodação. Equilibração é processo de passagem do desequilíbrio para
o equilíbrio. Este é um processo autorregulador cujos instrumentos são
assimilação e acomodação. (p. 22).
A mente só buscará o equilíbrio se estiver em desequilíbrio, portanto, o conflito cognitivo é o
que move o desenvolvimento e, por consequência, a aprendizagem. Assim, ao buscar soluções
para os problemas do dia a dia, os indivíduos ajustam-se ao seu ambiente promovendo o
desenvolvimento da inteligência e a aprendizagem. Esse desenvolvimento passa por etapas
de acordo com a complexidade das estruturas mentais. A criança pequena, por ter menos
esquemas, ou esquemas mais simples, organiza as ideias de uma maneira mais simples do que
a pessoa que tem esquemas mais complexos internalizados.
Da mesma forma deve proceder a escola, no sentido de desenvolver os processos de
pensamento do aluno e melhorar sua capacidade para resolver problemas. O homem é um ser
que tem como uma das características da espécie a vontade e, mais que isso, a necessidade de
aprender, portanto, ao dar respostas prontas ou apenas exercitar a memorização, a escola não
39/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
promove no educando o desenvolvimento em operatório concreto e operatório
do pensamento/da inteligência. Esse aluno formal.
passa a conceber a escola como um espaço Segundo Piaget, cada período é
desestimulante. A vontade de aprender caracterizado por aquilo que de melhor
morre. o indivíduo consegue fazer nessas faixas
etárias. Todos os indivíduos passam por
3. Os Estágios de todas essas fases ou períodos, nessa
Desenvolvimento Piagetianos sequência, porém o início e o término
de cada uma delas dependem das
Jean Piaget divide os períodos do
características biológicas do indivíduo e de
desenvolvimento humano de acordo com
fatores educacio­nais e sociais. Portanto, a
o aparecimento de novas qualidades
divisão nessas faixas etárias é uma referên­
do pensamento, o que, por sua vez,
cia e não uma norma rígida.
interfere no desenvolvimento global do
sujeito. Para ele são três os estágios de
3.1 — Período Sensório-Motor
desenvolvimento da inteligência: sensório-
(O a 2 anos)
motor, pré-operatório e o operatório,
sendo que o estágio operatório se divide Um período que compreende a idade
40/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
de zero a dois anos e em que a criança as percepções e os movimentos. Neste
conquista, por meio da percepção e dos momento, a criança pensa por meio do
movimentos, todo o universo que a cerca. que percebe sensorialmente e pelos seus
Nos primeiros dias de vida, o movimentos.
comportamento do bebê é reflexo. Esse Na perspectiva piagetiana, o
comportamento reflexo vai se tornando funcionamento da assimilação e
comportamento aprendido, quando, da acomodação é evidente logo ao
pelo reflexo, mensagens são enviadas à nascimento. Muitos dos conhecimentos
mente formando os primeiros esquemas: construídos durante os dois primeiros anos
esquemas reflexos. Desse modo, os reflexos de vida são conhecimentos físicos, ou seja,
são os primeiros instrumentos humanos conhecimentos sobre as características
na construção de sua inteligência, que se físicas dos objetos que cercam o indivíduo.
inicia na mais tenra idade. Esse conhecimento é fruto do processo de
Esses reflexos, transformados em assimilação e acomodação, sendo que a
comportamentos aprendidos, promovem assimilação se dá, muitas vezes, por meio
o uso de um tipo de inteligência, da manipulação de um objeto.
nomeada por Piaget de inteligência práti­ O desenvolvimento físico intenso na
ca ou sensório-motora, que envolve criança dessa idade permite que a
41/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
manipulação seja cada vez mais refinada, participativa. Sua integração no ambiente
permitindo a aceleração da construção de dá-se, também, pela imitação das regras.
esquemas mentais.
Em relação ao desenvolvimento afetivo, 3.2 — Período Pré-Operatório
a criança dessa fase realiza diferenciação (2 a 7 anos)
progressiva entre o seu eu e o mundo
Do ponto de vista qualitativo, o
exterior. Se no início o mundo era
pensamento da criança pré-operatória
uma continuação do próprio corpo, os
representa um avanço sobre o
progressos da inteligência levam-na a
pensamento da criança sensório-motora.
situar-se como um elemento entre outros
O pensamento pré-operacional não é
no mundo. Desse modo, o bebê passa
mais um pensamento preso aos eventos
das emoções primárias para uma escolha
perceptivos e motores. Agora ele pode
afetiva de objetos, quando já manifesta
chegar ao nível de representação e às
preferências por brinquedos, pessoas.
sequências de comportamento, em vez
No curto espaço de tempo desse período, de serem apenas executados no plano
a criança evolui de uma atitude passiva das situações físicas. Podem ser também
em relação ao ambiente e pessoas de mentalmente elaborados. Mesmo assim,
seu mundo para uma atitude ativa e
42/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
a percepção ainda domina o raciocínio. intelectual, afetivo e social da criança.
Quando conflitos entre a percepção e o Com a linguagem, o desenvolvimento do
pensamento emergem, a criança opta por pensamento se acelera. No início do seu
dar respostas utilizando como suporte a desenvolvimento, o pensamento exclui
percepção. toda a objetividade, a criança transforma o
Uma característica típica desse real em função dos seus desejos e fantasias
pensamento é o egocentrismo, ou seja, (jogo simbólico). Posteriormente, utiliza a
incapacidade de entender o ponto de vista objetividade como referencial para explicar
do outro. A criança acredita que todos o mundo real, a sua própria atividade, seu
pensam como ela e que todos pensam as eu e suas leis morais. No final do período,
mesmas coisas que ela. Como resultado, o pensamento passa a procurar a razão
a criança nunca questiona seus próprios causal e finalista de tudo (é a fase dos
pensamentos porque esses são sempre famosos “porquês”).
lógicos e corretos. No campo afetivo, sentimentos
A aquisição da linguagem pode ser interindividuais surgem. Um dos mais
considerada um dos aspectos mais relevantes é o respeito pelos indivíduos
relevantes desse período, isso porque que a criança julga superiores a ela, por
irá acarretar modificações nos aspectos exemplo, pais e professores. Amor e temor
43/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
se misturam. Seus sentimentos morais entre o pensamento pré-operacional e o
refletem esta relação com os adultos sig­ pensamento formal. Durante esse estágio
nificativos — a moral da obediência, em a criança atinge o uso das operações
que o critério de bem e do mal é a vontade totalmente lógicas pela primeira vez. O
dos adultos. Com relação às regras, mesmo pensamento deixa de ser dominado pela
nas brincadeiras, acredita serem imutáveis percepção e a criança torna-se capaz
e determinadas externa­mente. Mais tarde, de resolver problemas que existem ou
adquire uma noção mais elaborada da existiram em sua experiência.
regra, entendo-a como necessária para O egocentrismo intelec­tual e social é
organizar a atividade mas ainda assim não superado exatamente pelo início da
a discute. construção lógica, isto é, a capacidade
da criança de estabelecer relações que
permitam a coordenação de pontos de
3.3 Período Operacional Con-
vista diferentes. No plano afetivo, isso
creto (7 – 12 anos) significa que ela será capaz de cooperar
com os outros, de traba­lhar em grupo
O estágio das operações concretas pode
e, ao mesmo tempo, de ter autonomia
ser considerado um período de transição
pessoal. No decorrer desse período,
44/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
pode ser observado um paralelismo correspondência com o objeto
entre o desenvolvimento cognitivo e o concreto).
desenvolvimento afetivo.
3.4 — Período das Operações
Outra característica desse período é que a
criança consegue exercer suas habilidades Formais (11 ou 12 anos em
e capacidades a partir de objetos reais/ diante)
con­cretos. Em nível de pensamento, a
Neste período, ocorre a passagem do
criança consegue:
pensamento concreto para o pensamento
• Estabelecer corretamente as relações formal/abstrato. O ado­lescente realiza as
de causa e efeito e de meio e fim. operações no plano das ideias, sem ne­
• Sequenciar ideias ou eventos. cessitar de manipulação ou referências
concretas, como no período anterior.
• Trabalhar com ideias sob dois pontos É capaz de lidar com conceitos como
de vista, simultaneamente. liberdade, justiça. O ado­lescente domina,
• Formar o conceito de número progressivamente, a capacidade de
(no início do período, sua noção abstrair e generalizar, cria teorias sobre o
de nú­mero está vinculada a uma mundo, principalmente sobre aspectos que

45/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
gostaria de reformular. Isso é possível graças à capacidade de re­flexão espontânea que, cada
vez mais descolada do real, é capaz de tirar conclusões de puras hipóteses.

4. Autonomia deve ser Construída

Em sua obra O juízo moral na criança (1932), Piaget apresenta que, do mesmo modo que a
inteligência é construída, a moralidade também o é. Para ele, é por meio da construção
da autonomia moral que a criança vai desenvolvendo-se afetivamente. A afetividade em
Piaget está intrinsecamente relacionada com o desenvolvimento da moralidade.
Para ele, a construção da moral passa por três períodos:

46/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
Anomia Heteronomia Autonomia
Compreender e lidar
Regras são advindas com regras. Essa
de uma fonte externa passagem seria
(em um primeiro marcada pela conquista
momento, o adulto da cooperação entre os
Ausência de regras.
e, posteriormente, os sujeitos, em detrimento
próprios pares, em da coação. Ao invés do
geral, crianças com respeito unilateral, a
mais idade). autonomia pressupõe
respeito mútuo.

Para Piaget, só será possível ter crianças verdadeiramente autônomas se nesse percurso, que
parte da anomia, for possível diminuir o poder do adulto. É preciso que a criança, em suas
tarefas cotidianas, não sofra punição pelo que o adulto considerou erro, nem recompensa pelo
que considerou acerto.
É fundamental que as regras sejam estabelecidas em parceria, adulto e criança, e que sejam
rigorosamente cumpridas. O adulto precisa lançar mão de sanções, oportunizando escolhas
à criança e deixando bem claro que cada escolha tem uma consequência. O erro deve ser

47/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
sancionado.
Tal proposição traz implicações diretas para o campo educacional, solicitando que a relação
professor-aluno se paute na busca pelo respeito mútuo, pela cooperação e pela solidariedade.
As implicações sociais deste processo são amplas, tendo em vista que se trata de uma
educação para a democracia. Por outro lado, um processo educativo cujas relações estão
pautadas na coerção pode ensinar gerações a se submeterem a regimes totalitários.

48/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
Considerações Finais

»» Piaget, teórico suíço que voltou-se para o estudo do Sujeito Epistêmico.


»» Apresenta que a inteligência é construída a partir da assimilação e
acomodação de dados presentes no mundo natural e social do sujeito.
»» A inteligência se desenvolve ao passar pelo processo de equilibração.
»» O desenvolvimento da inteligência submete-se a quatro estágios:
sensório motor, pré-operatório, operatório concreto, operatório formal.

49/144
Referências

BECKER, Fernando. O que é construtivismo? Revista de Educação AEC, Brasília, v. 21, n. 83, p. 7-15,
abr./jun. 1992. Ensino e construção do conhecimento. Disponível em: <www.crmariocovas.
sp.gov.br/pdf/ideias_20_p087-093_c.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2013.

CUNHA, Marcus Vinícius da. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
GOULART, I. B. Piaget: Experiências básicas para utilização pelo professor. 25. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2009.
MACEDO, Lino de. Ensaios Construtivistas. 6ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
MAHONEY, Abigail Alvarenga (org). Psicologia & Educação: revendo contribuições. São Paulo:
EDUC, 2000.
PIAGET, Jean. O Juízo Moral na Criança. 3.eEd. São Paulo: Summus, 1994.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio
Lima Silva. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
PIAGET, J; INHELDER, B. A Psicologia da Criança. 3ª. Ed. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo:
Difel, 2003.

50/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
Referências

PIAGET, Jean. A Formação do símbolo na criança. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos e
Científicos Editora, 2010.
RAPPAPORT, Clara Regina. Teorias do Desenvolvimento. Vol. 1 São Paulo: EPU, 1981.
WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da criança na teoria de Piaget. Tradução: Esméria
Rovai. 5ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

51/144 Unidade 2 • Teorias da Aprendizagem: Abordagem Cognitiva – A Teoria Epistemológica de Jean Piaget
Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Abordagem Cognitiva: A Teoria Aula 2 - Tema: Níveis de Desenvolvimento


Epistemológica de Jean Piaget – Bloco I Intelectual e a Atividade Lúdica – Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
6faf3adadecf7d0f1fc29920ff730139>. b1e2f39abdcc4467b8ef8a19e6856f05>.

52/144
Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Eixo Teórico Interação – Bloco III Aula 2 - Tema: Piaget e a Psicopedagogia –
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Bloco IV
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
c745abdcb9b712fa1785e4dc96e7aad7>. pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
1d/22e79ce8cf3bbbe0471a787b19e42822>.

53/144
Questão 1
1. Carlos é estudante de psicopedagogia e também trabalha com
transporte escolar, prestando serviço para uma Escola de Educação
Infantil. Depois de estudar a teoria de Piaget, entendeu a situação
embaraçosa que viveu em certa ocasião. Contou que certa vez assumiu
um novo trajeto para fazer, pegou as instruções e seguiu entregando as
crianças em suas respectivas casas. Quando já tinha terminado o percurso,
percebeu que ainda faltavam duas crianças para ser entregues. Então
surpreso, mas com cuidado para não assustar as crianças, perguntou para
uma delas:- Onde você mora? A criança prontamente respondeu:- Na
minha casa! Esperançoso dirigiu-se a outra criança: E você? Eu moro do
lado da casa dele...

De acordo com o relato é possível afirmar que as crianças transportadas


por Carlos são:

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Questão 1

Assinale a alternativa correta:


a) Crianças pré-operacionais e apresentaram um pensamento egocêntrico.
b) Crianças operacionais concretas e apresentaram um pensamento descentrado.
c) Crianças pré-operacionais e apresentaram um pensamento finalista.
d) Crianças operacionais e apresentaram um pensamento egocêntrico.
e) Crianças que exploram e compreendem o mundo através dos esquemas sensoriais e
motores.

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Questão 2
2. A adaptação do indivíduo ao meio (ou seja, o desenvolvimento da
inteligência) ocorre, segundo Piaget, por meio da assimilação e da
acomodação.É possível afirmar, conforme sua teoria, que a assimilação:

a) Acontece quando surge a necessidade de um esquema modificar-se em função da


situação ou de um problema novo.
b) Representa uma tentativa de integração dos elementos experienciados aos esquemas
previamente existentes.
c) Acontece quando um esquema não é suficiente para responder a uma situação vivenciada
ou resolver um problema.
d) Existe quando qualquer coisa, fora de nós ou em nós (no organismo físico ou mental) se
modificou, tratando-se, então, de um reajustamento da conduta em função desta mudança.
e) Acontece quando a pressão das coisas ou situações redunda numa modificação do
esquema de ação no que se refere a elas, levando a um novo equilíbrio.

56/144
Questão 3
3. De acordo com as características apresentadas a seguir, é possível com-
preender a criança e seu comportamento em cada um dos estágios pro-
postos por Piaget. Leia com atenção cada uma das afirmações e responda
a questão:

I. Leonardo afirma: tenho certeza que com minhas ideias serei eleito e o mais votado
para Presidente de meu país. E acredito que, com o passar do tempo, após executar to-
dos os meus planos, com certeza haverá no futuro, uma estátua minha, numa das prin-
cipais praças da capital de meu país.
II. Paulo tem um irmão. Se perguntar a ele se tem um irmão, ele afirma que sim: meu
irmão é o João. Se lhe perguntar se João tem irmão, Paulo negará ou dirá: “não sei”.
III. Se Ana tem uma série de varetas com tamanhos diferentes (em escala) e for solicita-
da a colocar suas varetas em ordem do menor para o maior, ela o fará com tranquilida-
de e segurança.

IV. Cláudia costuma puxar seu “paninho” para perto, pois sua boneca sempre está em
cima dele. Desta forma, pode pegar a boneca e brincar com ela.

57/144
Considerando as situações descritas, identifique os estágios de desenvolvi-
mento respectivamente:

a) Estágio Pensamento Formal; Estágio Pré-Operatório; Estágio Operatório Concreto; Estágio


Sensório Motor.
b) Estágio Pensamento Formal; Estágio Pré-Operatório; Estágio Sensório Motor; Estágio
Operatório Concreto.
c) Estágio Pré-Operatório; Estágio Pensamento Formal; Estágio Operatório Concreto; Estágio
Sensório Motor.
d) Estágio Pré-Operatório; Estágio Pensamento Formal; Estágio Sensório Motor; Estágio
Operatório Concreto.
e) Estágio Operatório Concreto; Estágio Sensório Motor; Estágio Pré-Operatório; Estágio
Pensamento Formal.

58/144
Questão 4
4. Abaixo segue a conversa de duas crianças sobre uma informação cien-
tífica, provavelmente, apreendida na escola e a concepção infantil de uma
provável consequência se a ação científica fosse diferente. Segundo a pe-
dagogia piagetiana a conversa entre elas representa...

CRIANÇA A: “Parece incrível! A terra gira, gira...e nós, parados em cima, nem percebemos.”
CRIANÇA B: “Ainda bem, porque, se as pessoas percebessem que a terra gira...os carrosséis
iriam à falência.”

a) O estágio de desenvolvimento nomeado por sensório-motor, visto que a criança apreende


as informações do mundo natural e social por meio da percepção sensorial e do movimento.
b) Que o conhecimento são saberes produzidos pela humanidade como verdade absoluta e
veiculado no ambiente formal, nomeado por escola.
c) Que o processo educacional nada transforma se não estiver associado a um processo de
construção de informações que depende, exclusivamente, das condições emocionais, físicas,
sociais, neurológicas, psicossociais, psiconeurológicas e relacionais.

59/144
Questão 4

d) Que cada indivíduo apresenta uma inteligência mais desenvolvida que a outra. No caso da
criança B é a inteligência espacial no caso da criança A é a inteligência lógico matemática.
e) O processo de equilibração, momento em que após assimilação das informações do
mundo natural e social por meio da percepção sensorial e da organização de tais informações
na mente, o homem acomoda tais informações e se sente satisfeito considerando-a uma
verdade, mesmo que momentânea.

60/144
Questão 5
5. A brincadeira sensória motora visa ao aprimoramento dos esquemas e,
simultaneamente, constitui situações que propiciam a colocação de certas
questões, que acabam por conduzir a criança a refletir cada vez mais sobre
o que fazer. De acordo com a teoria de Piaget, são exemplos de brincadeira
sensória motora:

I. Amarelinha, rolar a bola.


II. Amassar papel, massa de modelar.
III. Decifrar mímica, dramatizar história.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas II e III.
61/144
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: E.

As crianças transportadas por Carlos são A fala das crianças não explicita nenhum
crianças pré-operacionais e apresentaram estágio de desenvolvimento proposto por
um pensamento egocêntrico. Piaget, mas sim o processo de aquisição
do conhecimento. Segundo o autor, o
2. Resposta: B. homem capta pela percepção sensorial
informações que estão postas no mundo
A assimilação representa uma tentativa de material e social. Essas informações
integração dos elementos experienciados são, portanto assimiladas e conduzidas
aos esquemas previamente existentes. a mente. Quando internalizadas tais
informações, são acomodadas e
3. Resposta: A. automaticamente a pessoa equilibra-
se. Esse estado de equilíbrio dura até
Tal alternativa está correta, pois representa o momento que depara-se com novos
as características dos estágios de estímulos ou informações. Deste modo, a
desenvolvimento piagetianos. problematização e o desequilíbrio é que
impulsionam a aprendizagem do sujeito.

62/144
Gabarito
5. Resposta: D.

I e II estão corretas (Amarelinha e rolar a bola; Amassar papel e massa de modelar), pois indicam
jogos de exercício (repetição circular) próprios do estágio sensório motor e que continuam
nos estágios seguintes. III está incorreto (Decifrar mímica e dramatizar histórias), são jogos
simbólicos (pré-operatório).

63/144
Unidade 3
Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar

Objetivos
Compreender os fundamentos teóricos e os principais conceitos presentes na teoria vigotskiana acerca do
desenvolvimento psicológico e da aprendizagem, ressaltando as implicações dos aspectos sociais e afetivos
no desenvolvimento cognitivo.
Tais competências gerais pressupõem habilidades para:

»» Identificar a concepção epistemológica e psicológica (sociointeracionismo e construtivismo) na teoria


do desenvolvimento infantil de Vigotski.
»» Identificar em situações-problema (casos clínicos e escolares) as principais características cognitivas
e afetivas da criança nos diferentes níveis do desenvolvimento infantil segundo Vigotski.
»» Descrever e interpretar os principais conceitos teóricos (pensamento e linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem) estabelecendo relações entre contextos e processos psicológicos.
»» Utilizar o conhecimento científico necessário à atuação profissional em um contexto clínico e
psicossocial.

64/144
Introdução

Lev Semenovich Vigotski (ou Vygotsky) como o elemento propulsor desse


nasceu em 17 de novembro de 1896 em desenvolvimento e colocou o homem no
uma cidade da antiga União Soviética. Uma centro do processo de aprendizagem.
região que participava e tinha impregnado Vigotski, junto de Luria e Leontiev,
em sua cultura aspectos referentes ao objetivou a estruturação de uma
pensamento marxista que, nitidamente, nova psicologia que fosse a síntese da
influenciou a teoria vigotskiana. Psicologia como Ciência Natural (explica
Vigotski morreu muito jovem, aos 37 os processos sensoriais e reflexos tomando
anos, mas deixou um legado. Publicou o homem basicamente como corpo)
aproximadamente 200 trabalhos e da Psicologia como Ciência Mental
científicos, cujos temas vão desde (descreve as propriedades dos processos
neuropsicologia até crítica literária, psicológicos superiores tomando o homem
passando por deficiência, linguagem, como mente). A nova Psicologia entende
psicologia, educação e questões teóricas o homem enquanto corpo e mente,
e metodológicas relacionadas às ciências enquanto ser biológico e social, enquanto
humanas. Vigotski deixou um novo membro da espécie humana e participante
olhar sobre o desenvolvimento humano, de um processo histórico.
destacando as relações interpessoais Desse modo, define que as funções
65/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos de atividades cerebrais. Além
disso, aponta que o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais, as quais
se desenvolvem em um processo histórico, e que a relação homem-mundo é uma relação
mediada por sistemas simbólicos. É nesse sentido que o homem transforma-se de biológico em
sócio histórico por meio da apreensão da cultura.

Para saber mais


Vigotski recebeu a maior parte de sua educação formal em casa, por meio de tutores particulares.
Apenas com 15 anos iniciou a escola. Uma escola privada, na qual frequentou os dois últimos anos
do curso secundário. Fez faculdade de Direito, mas cursou disciplinas de História e Filosofia. Estas
disciplinas despertaram seu interesse para a área do pensamento e desenvolvimento e que o levou a
aprofundar seus estudos em psicologia, filosofia e literatura.

1. Mediação Simbólica

O conceito de mediação simbólica é apresentado por Vigotski contrapondo a ideia defendida


pela psicologia comportamental (destacada na primeira aula dessa disciplina). Para o autor,
a mediação é um processo em que um elemento intermediário é disponibilizado, levando
a relação a deixar de ser direta para ser indireta. Oliveira (1997) exemplifica a questão da
66/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
seguinte maneira:

Quando um indivíduo aproxima sua mão da chama de uma vela e a retira


rapidamente ao sentir dor, está estabelecida uma relação direta entre o
calor da chama e a retirada da mão. Se, no entanto, o indivíduo retira a
mão quando apenas sentir o calor e lembra-se da dor sentida em outra
ocasião, a relação entre a chama da vela e a retirada da mão está mediada
pela lembrança da experiência anterior. Se, em outro caso, o indivíduo
retirar a mão quando alguém lhe disser que pode se queimar, a relação
estará mediada pela intervenção dessa outra pessoa.” (p. 26).
Vale destacar que, para Vigotski, esse elemento intermediário pode ser um instrumento ou
um signo. O instrumento é um recurso concreto criado pelo homem por meio de sua relação
com a natureza. Como exemplo, é possível citar o machado, instrumento criado pelo homem
pré-histórico, com pedra e madeira, utilizado como ferramenta para cortar. O uso de tal
instrumento facilita a vida daqueles homens, visto ser mais eficiente que o corte com a mão
humana. Tal conhecimento é socializado e o machado vai sendo aprimorado, passando a
constituir um aspecto da cultura humana. O machado passa a ser instrumento mediador na
67/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
relação do indivíduo com o mundo. Assim, homem trabalha criando instrumentos
ao transformar a natureza, o homem (elementos mediadores). Ao criar
cria instrumentos que o ajudarão em instrumentos (elementos mediadores)
suas tarefas cotidianas, isso é trabalho o homem se relaciona socialmente. Ao
(para Marx), isso é formação/constituição relacionar-se socialmente o homem se
de cultura e de história. Ao trabalhar, o desenvolve.
homem desenvolve a atividade coletiva e, É possível, portanto, considerar que:
portanto, as relações sociais.
• O mundo da produção da vida
Firma-se aqui a influência do pensamento
material condiciona a vida social,
marxista. Segundo Newton Duarte (2000),
política e espiritual do homem.
“na perspectiva marxista, o trabalho é
a atividade fundamental com base na • O homem é um ser histórico, que se
qual vai sendo constituída a realidade constrói por meio de suas relações
social.” (p. 113) Somente pelo trabalho, com o mundo natural e social.
configuração da essência humana, é • O processo de trabalho
possível verificar a constituição da história (transformação da natureza)
humana. destaca-se na relação homem/
Assim, ao transformar a natureza, o mundo.
68/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
• A sociedade humana é uma totalidade em constante transformação.
• Tal transformação não se dá de forma linear e positivista, mas por meio de um sistema
dinâmico e contraditório, que precisa ser compreendido como processo histórico.
Com os signos o processo é bem semelhante, no entanto, não há algo concreto, mas sim
um elemento que representa ou expressa outros objetos, eventos, situações. Os signos são
“instrumentos” da ação psíquica, tornando-a mais sofisticada e menos impulsiva. Segundo
Oliveira (1997),

na sua forma mais elementar o signo é uma marca externa, que auxilia o
homem em tarefas que exigem memória e atenção. Assim, por exemplo,
a utilização de varetas ou pedras para registro e controle da contagem de
cabeças de gado ou a separação de sacos de cereais em pilhas diferentes
que identificam seus proprietários são formas de recorrer a signos que
ampliam a capacidade do homem em sua ação no mundo. (p. 30).
Muitos são os signos que são usados no dia a dia. Fazer uma marca na mão para não esquecer
de passar na padaria, fazer um diagrama para orientar a construção de um objeto, fazer mapas.
69/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
Para Vigotski, o homem transforma essas por meio do desenvolvimento do trabalho
marcas externas em processos internos coletivo, passam a ser compartilhados
que servirão de elementos mediadores pelo conjunto dos membros do grupo
da mente. Ocorre aí um processo de social, permitindo a comunicação entre
internalização dos signos, que unidos os indivíduos e o aprimoramento das
na mente formam um sistema simbólico interações sociais.
que organiza os símbolos em estruturas A linguagem é o sistema de símbolos
complexas, articuladas entre si. Tanto o básico de todos os grupos humanos.
processo de internalização como o de A linguagem passa a ser um elemento
construção de sistemas são essenciais mediador essencial, se não determinante,
para o desenvolvimento dos processos nas relações do homem com o meio, visto
mentais superiores (desenvolvimento da que é através de relações interpessoais
inteligência). concretas, nas quais a linguagem é o
Parece correto afirmar que, do mesmo fator constantemente presente, que
modo que os instrumentos são criados o indivíduo conseguirá interiorizar as
pelo homem no trabalho e socializados formas culturalmente estabelecidas
ao grupo e para o grupo, constituindo a que compreendam aspectos de seu
essência das relações sociais, os signos, funcionamento psicológico.
70/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
Para Vigotski, a origem das funções 2. Pensamento e Linguagem
psicológicas superiores deve ser buscada
nas relações sociais que utilizam Para Vigotski, as funções psíquicas
instrumentos e signos como elementos humanas, como a linguagem oral, o
mediadores. Nesse sentido, pode-se pensamento, a memória, o controle da
aludir que o funcionamento psicológico própria conduta, a linguagem escrita, o
do indivíduo parte do social e da sua cálculo, antes de se tornarem internas
condição de sujeito histórico. Para Vigotski, ao indivíduo, precisam ser vivenciadas
o desenvolvimento humano é um processo nas relações entre as pessoas. Não
de internalização, ou seja, ocorre de fora se desenvolvem espontaneamente,
para dentro (diferente de Piaget, que não existem no indivíduo como uma
acredita que o desenvolvimento se dá pelo potencialidade, mas são experimentadas
processo de externalização, de dentro inicialmente sob forma de atividade
para fora), do meio social e das interações interpsíquica (entre pessoas) antes
sociais para a mente. de assumirem a forma de atividade
intrapsíquica (dentro da pessoa).
Neste sentido, considera-se que o
desenvolvimento intelectual do indivíduo

71/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


só pode ser compreendido a partir da cada grupo cultural.
análise social em que este está imerso. • Microgênese: relativo à história de
Segundo Oliveira (1997), é preciso evitar cada indivíduo e suas experiências
o equívoco das interpretações que singulares.
consideram que Vigotski acabou por cair Para Vigotski, “esses planos se intercruzam
em um determinismo cultural, sendo e interagem gerando uma configuração
os fatores socioculturais responsáveis que é única para cada indivíduo”
por moldar e determinar os aspectos (OLIVEIRA, 1992, p. 68). Assim, o processo
constituintes do indivíduo. Para Oliveira de internalização, tal como afirmado
(1997), Vigotski claramente distanciou-se acima, não se trataria de uma simples
desta ideia ao apresentar os quatro planos transferência do conteúdo exterior para o
genéticos: interior, mas de um processo que envolve a
• Filogênese: relativo à história da transformação ativa do próprio sujeito.
espécie. Um dos focos do trabalho de Vigotski foi
• Ontogênese: relativo à história do a busca pela compreensão das origens
indivíduo, do nascimento à morte. sociais da linguagem e do pensamento,
elementos mediadores de processos
• Sociogênese: relativo à história de
72/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
mentais superiores, organizados em Linguagem, de 1989, Vigotski apresenta
sistema simbólico. Para o autor, a os resultados da investigação, apontando
linguagem é um sistema simbólico que:
básico de todos os seres humanos e
• Assim como no reino animal, nos
serve, essencialmente, a duas funções:
seres humanos a linguagem e
intercâmbio social (comunicação) e
pensamento têm origens diferentes.
pensamento generalizante (ordenar o real
agrupando todos os elementos em uma • Somente por volta dos dois anos
mesma classe). Nesse instante, Vigotski e meio que as trajetórias do
associa o desenvolvimento do pensamento pensamento e da linguagem se
com o desenvolvimento da linguagem, no cruzam.
entanto, afirma, a partir de investigações • Antes disso, o pensamento não
empíricas com primatas superiores, que é verbal e a linguagem não é
o pensamento e a linguagem, ainda intelectual. Há, portanto, uma fase
que pareçam idênticos, são processos pré-linguística no desenvolvimento
independentes e apresentam curvas de do pensamento e uma fase pré-
desenvolvimento independentes. intelectual no desenvolvimento da
No capítulo IV da obra Pensamento e fala.
73/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
• Na fase pré-linguística do trabalho. Para Vigotski, o agir coletivo teria
pensamento, o modo de levado os seres humanos a sofisticar o
funcionamento intelectual é sistema comunicativo. Já no que concerne
independente da linguagem. É um ao desenvolvimento ontogenético, a
tipo de inteligência prática. relação entre pensamento e linguagem
• A fase pré-intelectual da linguagem teria como motivador a inserção da criança
é marcada pela utilização de uma em um grupo cultural e, com isso, a
linguagem própria, que não tem interação com membros mais maduros da
função de signo. cultura.

• A partir do momento em que as No instante em que as trajetórias do


trajetórias do pensamento e da pensamento e da linguagem se cruzam,
linguagem se cruzam, o pensamento a palavra passa a ter a função de signo e
torna-se verbal e a linguagem a representar coisas, sentimentos, ideias
intelectual. que são comuns a um determinado grupo
cultural. Desse modo, parece correto
No desenvolvimento filogenético, a
afirmar que o significado de uma palavra
vinculação entre pensamento e linguagem
representa a união entre o pensamento e a
teria sido impulsionada por meio do
linguagem, a união entre as duas funções
74/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
básicas do sistema simbólico nomeado por linguagem: o intercâmbio social e o pensamento
generalizante. Para Vigotski, os significados permitem a mediação entre sujeito e mundo. Este
processo envolve necessariamente generalização. Os significados são construídos ao longo da
evolução histórica e, portanto, não são imutáveis. Apesar das transformações, a compreensão
entre os sujeitos será possível a partir da interação e estará relacionada ao contexto em que se
inserem os sujeitos da interlocução.
Nesse sentido, Vigotski distingue entre o significado da palavra propriamente dito e o
sentido dessa. Conforme Oliveira (1997), o significado, apesar de passar por um processo de
desenvolvimento da palavra, contém um núcleo estável, que permitirá a compreensão de todos
os falantes, já o sentido refere-se ao significado que cada indivíduo imprime à palavra. Desse
modo,

75/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


A palavra carro, por exemplo, tem o significado objetivo de veículo de
quatro rodas, movido a combustível, utilizado para transporte de pessoas.
O sentido da palavra carro, entretanto, variará conforme a pessoa que a
utiliza e o contexto em que é aplicada. Para o motorista de táxi significa
um instrumento de trabalho; para o adolescente que gosta de dirigir pode
significar forma de lazer; para um pedestre que já foi atropelado o carro
tem um sentido ameaçador, que lembra uma situação desagradável.
(OLIVEIRA, 1997, p. 50).

Este processo de desenvolvimento do significado da palavra é similar ao que acontece com a


criança no processo de aquisição da linguagem. No início uma palavra significa várias coisas,
até que significará apenas um elemento e, mais que isso, passará a significar um conceito.
Para Vigotski, a generalização e a abstração só se dão pela linguagem. O uso da linguagem
deriva-se do processo de internalização que exige a relação entre questões intrapsíquicas e
interpsíquicas. Nesse sentido, ao adquirir a linguagem a criança, em um primeiro momento,
relaciona-se de modo intrapsíquico com tal aspecto. Sai de um discurso interno que é um

76/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


diálogo pessoal consigo, no campo 3. Zona de Desenvolvimento
cognitivo, para uma fala egocêntrica que Proximal: Relação entre Desen-
ainda não tem a função de comunicação. volvimento e Aprendizagem
É um diálogo só, quando a criança fala
alto consigo mesma. São momentos Vigotski propõe uma psicologia
de externalização do pensamento, genética e busca compreender a origem
primeiramente residente no interior da e o desenvolvimento dos processos
mente e constituído como discurso interno, psicológicos ao longo da história da
e seguidamente expresso pela linguagem espécie humana e da história individual.
oral, sem intenção comunicativa. Só então Não se deteve em nomear fases de
a criança passa a unir esses elementos e desenvolvimento ou associá-lo à
fala, desejando ser entendida, aquilo que maturação orgânica do indivíduo. Para ele,
internamente está em seu pensamento. o aprendizado influencia, ou mais que isso,
determina o desenvolvimento do sujeito.
Isso porque, ao avaliar o desenvolvimento
infantil, percebeu que as crianças sempre
utilizavam aquilo que eram capazes de
fazer de forma independente, ou seja, sem

77/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


a ajuda do outro.
Vigotski chamou de zona de desenvolvimento real, uma vez que expressa o nível de
desenvolvimento psíquico já alcançado pela criança. No entanto, percebeu a existência de
outro indicador que precisa ser necessariamente considerado ao lado do desenvolvimento real
já conquistado pela criança. Esse outro indicador foi chamado de zona de desenvolvimento
potencial e representa aquilo que a criança ainda não é capaz de fazer sozinha, mas já é capaz
de fazer com a colaboração de um sujeito mais experiente.
Segundo Suely Amaral Mello (2004), Vigotski alude que

Ao fazer com a ajuda de um parceiro mais experiente aquilo que ainda


não é capaz de fazer sozinha, a criança se prepara para, em breve, realizar
a atividade por si mesma. Dessa forma, só há aprendizagem quando o
ensino incidir na zona de desenvolvimento próximo. (p. 143, 144).
Por isso, define que a aprendizagem só se efetiva no intervalo entre a zona de desenvolvimento
real e a zona de desenvolvimento potencial. A esse intervalo Vigotski deu o nome de zona de
desenvolvimento proximal. Segundo palavras do próprio teórico, a zona de desenvolvimento
78/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
próxima:

É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma


determinar através da resolução independente de problemas, e o nível
de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes. (VIGOTSKI, 1998, p. 112).
Por essas questões, parece correto afirmar que para Vigotski o bom ensino é aquele que garante
a aprendizagem e impulsiona o desenvolvimento. Nesse sentido, o bom ensino acontece num
processo colaborativo entre o educador e a criança. O educador deverá perceber o nível de
desenvolvimento em que a criança se encontra e disponibilizar elementos mediadores que
conduzam a criança de uma zona potencial a uma zona real de desenvolvimento. O educador
não deve fazer para e nem pela criança, mas deve intervir, provocando avanços que, de forma
espontânea, talvez não ocorressem.

79/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


4. Piaget e Vigotski: Pontos e é preciso também reconhecer as
Contrapontos singularidades do contexto em que cada
um se inseriu e o fato de que possuíram
A partir do que foi visto até o momento focos diferenciados de investigação.
sobre as contribuições do trabalho de Jean Piaget vive em um ambiente liberal,
Piaget e de Lev Vigotski, qual relação você mergulhado em princípios capitalistas.
estabelece entre um e outro? Tem como formação básica a biologia,
ciência positivista e como primeiros
Esta questão foi tratada por uma série de
trabalhos a investigação sobre pardais
trabalhos que se dispuseram a discutir as
albinos. Essa raiz na ciência empírica
diferenças entre os autores, o que muitas
conduz o pesquisador a criar um método
vezes acabou por causar reducionismos.
clínico de investigação sobre a mente
Com efeito, são notáveis as abordagens
do homem em um momento em que a
que, ao invés de se dedicarem a ensinar as
ciência psicológica vivia uma crise de seus
contribuições de Piaget e Vigotski, acabam
fundamentos metodológicos. Ponto que
muito mais por enfatizar a oposição entre
Vigotski alude como positivo ao analisar a
um e outro.
obra de Piaget (tal colocação é publicada
Assim, embora seja possível considerar que no prefácio do texto a Linguagem e
Piaget e Vigotski possuem divergências,
80/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
o Pensamento da Criança de Piaget, afirmar que o psicólogo russo distancia-se
traduzida para o russo). No entanto, é de Piaget, já que para este a aprendizagem
nesse mesmo texto que o teórico russo subordina-se ao desenvolvimento. Isto é,
aponta questões contrárias aos ideais a aprendizagem ocorrerá de acordo com
piagetianos. Vale destacar que Vigotski o processo de maturação do indivíduo.
vive em um sistema político, econômico e Conforme o indivíduo se desenvolve e
social completamente diferente de Piaget. passa pelas etapas sensório-motoras,
O movimento socialista, as ideias marxistas pré-operatórias, operatórias concretas e
(principalmente em relação à ideia de operatórias formais, ele vai aprendendo.
trabalho e de homem como ser histórico Outro ponto divergente reside no conceito
e social) estão presentes nas linhas de sua de egocentrismo. Tal como já referido
teoria. anteriormente, essa questão chegou a
Como abordado anteriormente, a ser discutida por Vigotski quando esse
aprendizagem para Vigotski, precede o apresenta a relação entre pensamento e
desenvolvimento e esses são processos linguagem, e afirma que o pensamento
que se influenciam mutuamente, de modo egocêntrico aproxima a criança de seu
que quanto maior a aprendizagem, maior o desenvolvimento. Já Piaget, segundo
desenvolvimento. Nesse sentido, pode-se Duarte (2000),
81/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
Ressalta justamente aqueles aspectos que limitam a lógica infantil, tendo
como consequência limitações quanto à objetividade do pensamento.
Todas as características do pensamento infantil como, por exemplo,
seu sincretismo, seriam, para Piaget, decorrentes do pensamento
egocêntrico. (p.221).

Nesse sentido, parece correto afirmar que o do individual para o social; seu caminho
autor suíço alude a que os conhecimentos é inverso. A criança nasce num mundo
são espontaneamente construídos pela social e, desde bebê, pelo contato com os
criança de acordo com o estágio de membros desse grupo, vai formando sua
desenvolvimento em que se encontra. A concepção sobre seu espaço e as relações
visão egocêntrica que as crianças mantêm existentes nesse espaço. Assim, enquanto
sobre o mundo vai progressivamente Piaget refere-se a um processo que vai
modificando-se no caminho do de dentro para fora, Vigotski afirma que
pensamento adulto, tornando-se o caminho se dá de fora para dentro. Isto
socializada e objetiva. Para o teórico russo, é, enquanto o segundo considera que o
a construção do conhecimento não ocorre discurso interno é resultado dos processos
82/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar
de socialização, para o primeiro, a fala egocêntrica refere-se à “transição entre estados
mentais individuais não verbais, de um lado, e o discurso socializado e o pensamento lógico de
outro” (OLIVEIRA, 1995 p. 53).

Filmografia
DVD Coleção Grandes Educadores – Lev Vygotsky, com apresentação de Marta Kohl de Oliveira (ATTA
mídia e educação — Editora Paulus http://www.paulus.com.br/loja/dvd-grandes-educadores-lev-
vygotsky_p_2618.html).

83/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


?
Questão
para
reflexão
Visando investigar a formação do pensamento simbólico infantil, Vigotski
cria o Jogo das Cores Proibidas. Tal jogo tem como objetivo:
»» Verificar a habilidade da criança na utilização de instrumentos
e signos culturais como auxiliares na lembrança (memória) de
instruções em situações de jogos.
»» Observar a existência e a frequência da fala egocêntrica usada pela
criança na tentativa de dirigir e organizar suas ações.
»» Observar como a capacidade das crianças de memorizar instruções,
oferecidas em três situações de jogo, vai se construindo no decorrer
de seu desenvolvimento físico e intelectual.
Propomos que vocês apliquem o jogo das cores com quatro crianças com
as idades de 5, 6, 7, 8 anos, nível socioeconômico semelhante, que não

84/144
?
Questão
para
reflexão

apresentem problemas de aprendizagem e que compreendam as regras do jogo e conheçam as cores do


jogo. Após a aplicação desse jogo, será possível refletir sobre pontos centrais da teoria vigotskiana.
Seguem as regras:

1. Material e Método
• Material: oito cartões nas cores azul, vermelho, verde, amarelo, alaranjado, marrom, branco, preto;
roteiro com as perguntas.
• Regras do Jogo: o jogo consiste em pedir à criança que responda a um conjunto de questões relativas
a cores, seguindo dois tipos de instruções: não mencionar duas cores estabelecidas no início como
proibidas; não repetir cores que já tenham sido mencionadas no decorrer da tarefa. Vence o jogo
quem obedecer rigorosamente as duas regras acima: responder as 18 questões sem falar as cores
proibidas e sem repetir as cores já faladas. A criança deve ser orientada a responder “eu não posso falar
essa cor” para as situações em que ela seja proibida ou repetida. As três tarefas devem ser aplicadas
individualmente numa única vez.

85/144
?
Questão
reflexão

• Etapas do Jogo:

Tarefa 1 — Jogo sem cartões auxiliares e sem ajuda dos pesquisadores.


Responder a um total de 18 questões sem repetir cores e nem falar as duas cores proibidas.
Tarefa 2 — Jogo com cartões auxiliares e sem ajuda dos pesquisadores.
As regras são as mesmas da tarefa 1; no entanto, fornecer à criança oito cartões coloridos que
podem ser utilizados da forma que desejar. Sinalizar para a criança que os cartões podem ajudá-la a
ganhar o jogo.
Tarefa 3 — Jogo com cartões auxiliares e com ajuda dos pesquisadores.

Os pesquisadores sugerem o uso dos cartões com o objetivo de ganhar o jogo e mostram à criança, por
exemplo, como virar o cartão da cor correspondente na medida em que cada uma é mencionada. Entre uma
questão e outra, são feitas outras questões para não “cansar” a criança.

86/144
?
Questão
reflexão

2. Análise dos Resultados


• Análise dos erros: erro A (falar as cores proibidas), erro B (falar cores repetidas); C (resposta certa); D
(outros – especificar no relatório).
• Construir Gráficos e Tabelas com os resultados.

3. Roteiro das Perguntas

Tarefa 1 – sem cartões e sem ajuda.


Primeira regra: cores proibidas – amarelo e verde.
Segunda regra: não repetir as cores.

1. Qual é a cor deste brinquedo? (azul) 5. Qual é a cor do sol?


2. Qual é a cor do sangue? 6. Qual é a cor das folhas das árvores?
3. Qual é a cor deste lápis? (amarelo) 7. Qual é a cor da banana?
4. Qual é a cor da terra? 8. Qual é a cor da maçã?

87/144
?
Questão
reflexão

9. Qual é a cor desta bolsa (marrom)? 15. Qual é a cor desta bexiga? (verde)?
10. Qual é a cor da grama? 16. Qual é a cor desta caneta? (preta)
11. Qual é a cor deste lápis? (verde)? 17. Qual é a cor do leite?
12. Qual é a cor da Coca-Cola? 18. Qual é a cor do céu?
13. Qual é a cor deste lenço? (branco) 19. Você acha que ganhou ou perdeu? O que
14. Qual é a cor da laranja ou da Fanta Laranja? não podia falar? O que mais?

Tarefa 2 – com cartões e sem ajuda.


Primeira regra: cores proibidas – azul e vermelho.
Segunda regra: não repetir as cores.

1. Qual é a cor desta bexiga? (azul) 6. Qual é a cor desta folha de papel?
2. Qual é a cor deste brinquedo? (verde) 7. Qual é a cor do café?
3. Qual é a cor do algodão? 8. Qual é a cor desta caixa? (vermelha)
4. Qual é a cor do tronco das árvores? 9. Qual é a cor deste lápis? (preto)
5. Qual é a cor do morango? 10. Qual é a cor da casca da maçã?
88/144
?
Questão
reflexão

11. Qual é a cor deste lápis? (azul) 16. Qual é a cor da laranja ou da Fanta Laranja?
12. Qual é a cor deste brinquedo? (alaranjado) 17. Qual é a cor deste brinquedo? (amarelo)
13. Qual é a cor da grama? 18. Qual é a cor do cabelo da Xuxa?
14. Qual é a cor da terra? 19. Você acha que ganhou ou perdeu? O que
15. Qual é a cor da piscina? não podia falar? O que mais?

Tarefa 3 – com cartões e com ajuda.


Primeira regra: cores proibidas – marrom e alaranjado
Segunda regra: não repetir as cores

1. Qual é a cor da melancia por dentro? 7. Qual é a cor desta bolsa? (marrom)
2. Qual é a cor deste lenço? (branco) 8. Qual é a cor das nuvens?
3. Qual é a cor desta pasta? (vermelha) 9. Qual é a cor deste brinquedo? (verde)
4. Qual é a cor deste lápis? (laranja) 10. Qual é a cor deste outro brinquedo?
5. Qual é a cor desta borracha? (azul) (alaranjado)
6. Qual é a cor do abacate? 11. Qual é a cor do ouro?
89/144
?
Questão
reflexão

12. Qual é a cor do céu? 17. Qual é a cor da laranja e da mexerica?


13. Qual é a cor deste brinquedo? (marrom) 18. Qual é a cor do chocolate?
14. Qual é a cor da terra? 19. Você acha que ganhou ou perdeu? O que
15. Qual é a cor do urubu? podia falar? O que mais?
16. Qual é a cor deste brinquedo? (amarelo)

4. Perguntas a serem respondidas no final da aplicação do jogo:

• Como se apresenta o desempenho da criança nas tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são
oferecidas?
• Como se apresenta o desempenho da criança nas tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são
oferecidas em que ela pode utilizar recursos externos consistindo em cartões coloridos?
• Como se apresenta o desempenho da criança nas tarefas envolvendo memória de instruções que lhe são
oferecidas em que ela pode utilizar recursos externos, consistindo em cartões coloridos, e contar com a
ajuda do adulto?

90/144
?
Questão
reflexão

• Há variação do desempenho da criança, quando comparada consigo mesma nas três diferentes
condições estudadas?
• Que estratégias verbais e não verbais a criança utiliza durante a execução das tarefas propostas nas
condições estudadas?
• Como se dá a interação com o adulto na condição em que a criança pode contar com sua ajuda? Em qual
faixa etária essa atuação é mais eficiente?

91/144
Considerações Finais

»» Vigotski foi um dos maiores pensadores do Século XX, nasceu e viveu na


antiga União Soviética.
»» O pensamento marxista influenciou diretamente sua concepção sobre o
desenvolvimento do homem.
»» Aprendizagem e desenvolvimento são processos articulados e se
influenciam mutuamente.
»» Os fatores socioculturais influenciam o processo de aprendizagem e
desenvolvimento.
»» A mediação de sujeitos mais experientes exerce papel de relevo no
processo de aprendizagem.

92/144
Referências

COLL, C. S.; PALACIOS, J; MARCHESI, Á. Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da


Educação. 2ª. Ed. (vol. 2). Porto Alegre: Artmed, 2004.
DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-
modernas da teoria vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.
FERRARI, Marcio. Lev Vygotsky, o teórico do ensino como processo social. Disponível em: <http://
revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/lev-vygotsky-teorico-423354.shtml?utm_
source=redesabril_fvc&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_novaescola>.
Acesso em: 4 abr. 2013.
LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon. Teorias
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v16n1/4389.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2013.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4ª Ed. São


Paulo: Scipione, 1997.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. (Trad. José Cipolla Neto; Luís Silveira Menna

93/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


Referências

Barreto; Solange Castro Afeche). São Paulo: Martins Fontes, 2007.


VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. (Trad. Paul Bezerra). São Paulo:
Martins Fontes, 2001.

94/144 Unidade 3 • Vigotski: Aproximando Ideais Teóricos do Ensino Escolar


Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Aproximando Ideais Aula 3 - Tema: Papel da Atividade da


Teóricos do Ensino Escolar – Bloco I Criança no Desenvolvimento – Bloco II
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348dbdc2e0872455219ed9b356ba9a0d>. a4bce62798da43f304584f5f67ef2714>.

95/144
Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Internalização da Cultura Aula 3 - Tema: Sociointeracionismo e


Como Fator do Desenvolvimento – Bloco III Processos de Aprendizagem – Bloco IV
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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d9bdae9d820538d49f5c9eff9497dd46>. c4ae764542173af921e1c77e13361e5b>.

96/144
Questão 1
1. Analisando a afirmação do exercício, escolha a resposta correta para se
produzir concepções sobre o processo de mediação simbólica.

“A Filogênese diz respeito à história de uma espécie animal. Todas as espécies animais
têm uma história própria e essa história da espécie define limites e possibilidades de
funcionamento psicológico. Então, têm coisas que somos capazes de fazer e outras que não
somos capazes de fazer.”

Assinale a alternativa correta:

a) O mecanismo geral de funcionamento psicológico refere-se a um estímulo que produz


uma resposta. Logo, as respostas produzidas pela mediação simbólica são respostas diretas a
estímulos, que reconhecemos por conta dos constituintes filogenéticos.
b) A mediação simbólica se dá pelo fato de que o homem possui, como constituinte
filogenética, estruturas já formadas e que possibilitam a autoprodução da simbolização.
c) No homem, a mediação simbólica ocorre por um processo de inibição do impulso direto
para reagir, caracterizando a necessidade de apropriação dos significados sociais para esse
processo do pensamento.
97/144
Questão 1

d) A relação do homem com o mundo é uma relação direta, portanto as funções psíquicas
superiores já estão formadas com o nascimento e referem-se ao desenvolvimento filogenético.
e) A mediação simbólica é um processo puramente intelectual e produzido pelo pensamento,
por isso não está vinculada a instrumentos e signos.

98/144
Questão 2
2. Para Vigotski as transformações ocorridas ao longo do desenvolvimento
cognitivo têm como fundamento a interação social. A natureza sócio his-
tórica da perspectiva de Vigotski aparece também na análise feita por ele
acerca do desenvolvimento da linguagem e de sua relação com o pensa-
mento. A respeito da linguagem, podemos afirmar que:

a) É usada inicialmente como meio de comunicação, tornando-se uma função mental


interna por sua conversão em fala interior.
b) É sempre racional, tendo como função primeira à organização do pensamento e da ação.
c) É tão-somente um meio de comunicação social.
d) Seu aparecimento é posterior ao desenvolvimento do pensamento.
e) Seu desenvolvimento precede e prepara o desenvolvimento do pensamento.

99/144
Questão 3
3. Para Vigotski (1930; 1990), toda emoção se manifesta em imagens
concordantes com ela, de tal forma que as reações corpóreas, impressões,
ideias e imagens constituem um todo que se unifica na emoção. Nesta
perspectiva, os sentimentos tendem a dominar outras dimensões da vida
e “qualificar” o mundo de acordo com nosso estado de ânimo, porque, se
estamos alegres, corpo, pensamentos, impressões e imagens constituem
um “mundo alegre”.

A partir do excerto acima, pode-se afirmar, a respeito da afetividade em Vigotski, que:

I. A dimensão das emoções é socialmente determinada e a qualidade e a intensidade


delas são semelhantes no universo de conceitos e práticas sociais e universais existentes.
II. Cada ideia contém uma atitude afetiva, que vai das necessidades e impulsos de uma
pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a
partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade.
III. O significado complexo de cada emoção é resultado do papel que as emoções
desempenham em toda a gama de valores culturais, relações sociais e circunstâncias
econômicas dos povos.
100/144
Questão 3
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

101/144
Questão 4
4. Sobre desenvolvimento humano, o que é certo afirmar ser pensamento
de Vigotski?

a) Todo ser humano passa por estágios ao se desenvolver. Cada estágio é determinado por
semelhanças na forma dos sujeitos organizarem as ideias e perceberem o mundo.
b) O desenvolvimento do sujeito pode ser desvendado por meio da descrição e exploração
das mudanças psicológicas que as crianças sofrem no decorrer do tempo e como estas
mudanças podem ser compreendidas.
c) O desenvolvimento é a ciência do comportamento infantil, que visa descrever os
comportamentos típicos de cada faixa etária e organizar extensas escalas que servem de guia
para professores e psicólogos.
d) A aquisição da linguagem é um marco importante para o desenvolvimento do homem,
porém não definitivo.
e) As atividades psicológicas mais sofisticadas são frutos de um processo de
desenvolvimento que envolve a interação do organismo individual com o meio físico e social
em que vive.

102/144
Questão 5
5. O conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, de Vigotski, traz
consequências relevantes para a escolarização, permitindo afirmar que o
bom ensino:

a) Antecipa-se ao desenvolvimento e o professor tem um papel primordial no auxílio à


criança.
b) Fixa-se posterior ao desenvolvimento e o professor só deve agir quando solicitado pela
criança.
c) É simultâneo ao desenvolvimento e o professor só auxilia a criança a partir de situações-
problema.
d) Fixa-se posterior ao desenvolvimento e o auxílio do professor está condicionado a bons
resultados em testes de desenvolvimento.
e) Antecipa-se ao desenvolvimento e o professor deve atuar quando solicitado pela criança.

103/144
Gabarito
1. Resposta: B. separadamente até que, por volta dos 2
anos de idade, se cruzam. A linguagem
O enxerto exposto na questão explica é usada como comunicação com o meio
o conceito de filogênese, apresentado e torna-se, com a interação com o meio,
também por Vigotski. Para o autor, também internalizada, permitindo
experiências vivenciadas pela espécie posteriormente a organização do
influenciam a aprendizagem e o pensamento e da ação.
desenvolvimento do sujeito. Visto que
nenhuma relação do homem com o mundo 3. Resposta: C.
é direta, mas sim mediada; a mediação
simbólica se dá pelo fato de que o homem Para Vigotski, a criança é um ser social
possui, como constituinte filogenético, e essa relação com o grupo promove
estruturas já formadas e que possibilitam a e contribui com a aprendizagem e o
autoprodução da simbolização. desenvolvimento, bem como para a
construção de valores. Esses valores são
2. Resposta: A. determinações sociais e emanam questões
afetivas. Nesse sentido, a construção
Pensamento e linguagem se desenvolvem da afetividade perpassa pelos valores

104/144
Gabarito
sociais considerados aceitos e corretos. o autor, o desenvolvimento da linguagem
Por exemplo, nosso povo manifesta é definitivo para o desenvolvimento do
corporalmente (abraçando, beijando) o homem.
carinho pelo outro. Outros grupos sociais
não admitem esse tipo de manifestação. 5. Resposta: A.

4. Resposta: E. Para Vigotski, a criança é um ser social


e essa relação com o grupo promove
Para Vigotski, a criança é um ser social e contribui com a aprendizagem e
e essa relação com o grupo promove o desenvolvimento. Deste modo, o
e contribui com a aprendizagem e o desenvolvimento se dá entre a zona de
desenvolvimento. Deste modo, é o fato desenvolvimento real, estado em que
de interagir com o outro que conduz à a criança é capaz de sozinha resolver
aprendizagem e, por consequência, ao a situação problema, e a zona de
desenvolvimento. Vigotski não divide o desenvolvimento potencial, estado em
desenvolvimento do homem em estágios, que a criança ainda não consegue resolver
mas o explica por meio do conceito de a situação problema sozinha, no entanto,
zona de desenvolvimento proximal. Para com a ajuda de alguém mais experiente,

105/144
Gabarito

é capaz de fazer. Esse intervalo entre


zona de desenvolvimento real e a zona de
desenvolvimento potencial é nomeado
por Vigotski de zona de desenvolvimento
proximal. Para o autor, a criança primeiro
aprende saberes que estão no mundo e
em sua cultura para depois se desenvolver,
e isso relaciona-se com o conceito de
zona de desenvolvimento proximal.
Por isso, o bom ensino se antecipa ao
desenvolvimento e o professor tem um
papel primordial no auxílio à criança.

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Unidade 4
Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre o Desenvolvimento e
sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender

Objetivos
Compreender os fundamentos teóricos e os principais conceitos presentes na teoria walloniana acerca do
desenvolvimento psicológico e da aprendizagem, ressaltando as implicações dos aspectos sociais e afetivos
no desenvolvimento cognitivo.
Tais competências gerais pressupõem habilidades para:
»» Identificar a concepção epistemológica e psicológica na teoria do desenvolvimento infantil de Wallon.
»» Identificar em situações-problema (casos clínicos e escolares) as principais características cognitivas
e afetivas da criança nos diferentes níveis do desenvolvimento infantil segundo Wallon.
»» Descrever e interpretar os principais conceitos teóricos (psicogênese da pessoa completa;
desenvolvimento e aprendizagem) estabelecendo relações entre contextos e processos psicológicos.
»» Utilizar o conhecimento científico necessário à atuação profissional em um contexto clínico e
psicossocial.
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Introdução

Wallon foi um dos pensadores do século XX que mais se aproximou da escola, além de ser um
dos primeiros a atribuir à escola a função da formação integral (intelectual, afetiva e social)
das crianças. No início do século XX essa era uma ideia revolucionária e inovadora, visto que a
escola concentrava-se na formação intelectual/cognitiva do aluno. Em sua teoria pedagógica,
Wallon diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro,
vai além da memorização e erudição na construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a considerar as emoções dentro da sala de aula, e não só o corpo do
aluno. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo
todo: afetividade, movimento, inteligência e formação do eu. Militante apaixonado, dizia que
reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir, ou seja, é a própria negação do ensino.

1. Conhecendo o Autor: Vida e Obra

Henri Wallon nasceu na França, em 1879, e faleceu em 1º de dezembro de 1962. Estudou


Filosofia, Medicina e Psicologia, tendo suas reflexões sempre se aproximado do campo da
Educação.
Wallon viveu em um momento histórico marcado pelas tensões das duas Guerras Mundiais.
Segundo Mahoney (2006), ele participou da Primeira Guerra como médico, “o que lhe
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
proporcionou a oportunidade de, ao tratar no qual analisou 214 casos de crianças
dos feridos, observar lesões orgânicas e entre 2 e 15 anos internadas em serviços
seus reflexos sobre os processos psíquicos” psiquiátricos.
(p. 10). Posteriormente, interessou-se pelo
Na Segunda Guerra, participou da desenvolvimento da criança, centrando-
resistência francesa contra os alemães, se no estudo das origens biológicas da
razão pela qual foi perseguido pela consciência. Nesse sentido, desenvolveu
Gestapo, tendo sido obrigado a viver na uma teoria do desenvolvimento, que será
clandestinidade. Nesse período, Wallon abordada a seguir.
reconheceu cada vez mais a necessidade Vale ressaltar ainda, de acordo com
de a escola auxiliar no processo de Mahoney e Almeida (2005), que, embora
reconstrução da democratização, Wallon não fosse educador, ele participou
divulgando valores como justiça e ativamente da reformulação de uma
solidariedade (MAHONEY, 2006). proposta educacional na França, no final
Wallon dedicou-se primeiro à da Segunda Guerra. Vislumbrando a
psicopatologia, o que se verifica em sua articulação entre psicologia e educação,
tese de doutorado, transformada no livro Wallon colaborou em um projeto que
denominado L’enfant turbulent (1925), teve duração de três anos (1945-1947),
Unidade 4 • Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
composto por 20 membros nomeados uma educação que valorize o trabalho
pelo Ministério da Educação da França. intelectual a uma parcela da sociedade
A princípio, o presidente do projeto foi – a mais favorecida economicamente – e
Paul Langevin, tendo Wallon assumido uma educação que valorize o trabalho
a presidência do projeto após seu manual à parcela mais desfavorecida
falecimento, razão pela qual o projeto ficou economicamente.
denominado Projeto Langevin-Wallon. Orientação: referia-se à necessidade de
Os quatro princípios que nortearam o orientação escolar e profissional.
projeto foram, de acordo com Mahoney e Cultura geral: embora considerasse a
Almeida (2005): necessidade da profissionalização e da
Justiça: reivindicava o direito de todas as especialização, ressaltava a importância da
crianças terem acesso à educação. oferta de uma cultura geral que permitisse
Dignidade igual de todas as ocupações: aos sujeitos a compreensão dos problemas
referia-se à necessidade de a educação sociais.
evitar o privilégio do trabalho intelectual Seu interesse pela educação esteve
em detrimento do trabalho manual, presente na viagem que fez ao Brasil,
tampouco deve dedicar-se a ofertar em 1935. Alguns dos mais importantes
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
trabalhos de Wallon foram divulgados no epistemológico contemporâneo, em
Brasil, embora com repercussão limitada virtude do status particular que conferiram
num círculo restrito de intelectuais. Nas à psicologia. Deve-se lembrar que, por um
palavras do sociólogo Gilberto Freire, lado, a Segunda Guerra Mundial dificultou
que foi o anfitrião de Wallon no Rio de – quando não interrompeu – os contatos
Janeiro, passaram “o dia todo correndo com cientistas europeus, não apenas
escolas e o morro da Mangueira”. Wallon no campo da psicologia, e, por outro,
ficou fascinado pelo país, que visitou a influência cultural norte-americana
entre as duas grandes guerras, referindo- acentuou-se no Brasil desde aquela época.
se sempre com entusiasmo e carinho às Nas universidades brasileiras, a pesquisa
pessoas que aqui encontrou. Porém, a sua e o ensino em psicologia foram então
obra não recebeu, nos meios científicos e profundamente marcados pelas teorias e
educacionais brasileiros, a acolhida que modelos importados dos Estados Unidos.
merecia, tendo-se em conta a importância O respeito e valorização da obra walloniana
das contribuições do autor para a criação só ocorreu décadas depois. Após o final da
da psicologia científica, bem como a ditadura militar, quando o país reorganizou
riqueza, a fecundidade e o lugar que a ordem social, econômica, política e, por
seus trabalhos ocupam no movimento consequência, educacional, Wallon se
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
tornou autor referência, principalmente a compreensão do psiquismo humano.
em se tratando de Educação Infantil. Critica a psicologia da introspecção que
Seu pensamento influencia diretamente concebe o psiquismo como entidade
a constituição do Referencial Curricular incondicionada, independente do
Nacional, sugestões curriculares e mundo material, bem como a psicologia
metodológicas, publicadas em 1998 e mecanicista que defende uma visão
elaboradas pelo Governo Federal para organicista. Para ele, o objeto da ação
a Educação Infantil. Hoje, Wallon é um mental vem do exterior e não do interior.
dos grandes nomes da psicologia que Desse modo, é possível afirmar que
incorporam o pensamento educacional Wallon criticou a lógica mecânica e linear
brasileiro. predominante na concepção sobre as
relações entre a afetividade, a cognição
2. Psicogênese da Pessoa Com- e os aspectos motores. Em substituição,
pleta defende o materialismo dialético como
única forma de compreender a realidade,
Wallon dialoga com as principais correntes
pois busca a compreensão dos fenômenos
da filosofia ocidental, no entanto, opõe-se
a partir dos vários conjuntos dos quais
às concepções reducionistas que limitam
participa e admite a contradição como
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
elemento do sujeito e do objeto. Assim, inaugura uma psicologia dialética e adota como
método o materialismo dialético, reinventando um olhar menos fragmentado e dicotômico
sobre afetividade, cognição e movimento, considerando que estão articulados entre si.
Ademais, considerou que o vínculo entre eles não se dá ao acaso, mas sofre influências
socioculturais. Como atenta Mahoney (2006):

Estas dimensões são vinculadas entre si, e suas interações em constante


movimento, a cada configuração resultante temos uma totalidade
responsável pelos comportamentos daquela pessoa, naquele momento,
naquelas circunstâncias. (p. 12).

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
Em suas pesquisas propõe a
interlocução entre

Orgânico

Indivíduo Meio

Social

É nesse sentido que sua teoria foi designada como a psicologia da pessoa completa, focando
no estudo integral do desenvolvimento humano. Para o autor, é por meio de conjuntos
funcionais que se pode explicar o psiquismo. Todos os elementos que constituem o conjunto
funcional estão intimamente conectados, sendo que:

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
• O conjunto afetivo: refere-se
à manifestação das emoções, A Psicogênese da
sentimentos e paixões. Pessoa Completa
• O conjunto cognitivo: permite a ESTUDO INTEGRAL DO
aquisição do conhecimento. Segundo DESENVOLVIMENTO

Mahoney e Almeida (2005), é o


Cognição
conjunto cognitivo que permite rever
Afetividade
o passado, analisar o presente e Motor

projetar o futuro. Formação do EU

• O conjunto motor: garante o


equilíbrio corporal.
Wallon propõe colocar a própria criança
• A pessoa (formação do eu): refere-se
como ponto de partida da investigação
à integração entre todos os conjuntos
do seu comportamento e do seu
funcionais.
desenvolvimento. A criança não deve
A princípio, os conjuntos funcionais atuam ser olhada como um adulto que não está
de forma sincrética e, no decorrer do pronto. No entanto, deve-se entender
desenvolvimento, vão se diferenciando. que a explicação de um fenômeno exige
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
que o pesquisador se afaste do plano em que ele se dá, já que um fato não pode conter a
própria causa. Estuda a criança, mas ao mesmo tempo afasta-se dela para entendê-la. Busca
na antropologia fundamentos para explicar o desenvolvimento humano, mas destaca não
ser correto apenas comparar o desenvolvimento infantil com o desenvolvimento do homem
primitivo.

2.1 Estágios de Desenvolvimento

Tendo em vista os fatores sociais e orgânicos, Wallon acreditava que o desenvolvimento se dava
por meio de cinco estágios, a saber:

Unidade 4 • Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre


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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
Estágiosde
Estágios de Desenvolvimento
Desenvolvimento

Wallon elabora uma sequência de


Wallon elabora uma sequência de
estágios de desenvolvimento
estágios de desenvolvimento

Impulsivo Emocional Sensório-Motor e Personalismo Categorial Puberdade e


Impulsivo Emocional Sensório-Motor e Personalismo Categorial Puberdade e
(0 - 1 ano) Projetivo (3 - 6 anos) (6 - 11 anos) Adolescência
(0 - 1 ano) Projetivo (3 - 6 anos) (6 - 11 anos) Adolescência
(1 - 3 anos) (11 anos em diante)
(1 - 3 anos) (11 anos em diante)

Você verá, de modo mais detalhado, cada um deles.

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
2.1.1 Estágio Impulsivo-Emo- 2.1.2 Estágio Sensório-Motor e
cional Projetivo

Ao nascer, a criança ainda não tem No segundo estágio, o desenvolvimento


aparatos refinados para viabilizar sua dos aspectos motores, tal como aprender
interação com o mundo em que está a segurar, manipular objetos, sentar,
inserida. Assim, utiliza-se do que lhe andar, dão subsídios para que a exploração
vale, ou seja, seu comportamento do mundo seja mais refinada. São
emocional (choros, risos) e do movimento. tijolinhos lentamente sendo empilhados
Manifestando emoções e movimentando- e constituindo o desenvolvimento global
se, inicia a exploração do mundo. Tal do indivíduo. Além do refinamento do
exploração vai sendo internalizada e lhe movimento, a criança passa a projetar
fornece mais recursos para ampliar seu o outro em suas ações. É o início da
repertório sobre o mundo em que vive. imitação. Ao imitar, a criança processa
cognitivamente comportamentos,
falas, regras sociais, padrões sociais que
observa e vive. Isso faz com que aprenda
a ser social. Esse estado é refinado no
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
estágio seguinte, com a ampliação de seu vai formando sua personalidade, seu modo
desenvolvimento cognitivo. de ser e pensar.

2.1.3 Estágio do Personalismo 2.1.4 Estágio Categorial

Destaca-se a construção da subjetividade, A construção do próprio eu se dá por meio


marcada pelas tensões entre a afirmação da conquista do pensamento abstrato.
do eu e o outro, isto é, ao mesmo tempo Entra em evidência a cognição e a criança
em que se busca a oposição ao outro aprende a seriar, classificar, agrupar
(expulsão do outro), há também a imitação e, com isso, a categorizar. Impulsiona
dele (assimilação do outro). Como atenta o desenvolvimento do pensamento
Silva (2007), “é preciso se opor ao outro organizado e lógico.
para afirmar a si” (p. 153).
Essa oposição, os tradicionais “nãos”, 2.1.5 Estágio da Puberdade e
servem para a criança entender que é um Adolescência
ser separado da mãe, do pai. Que é um ser
Torna-se cada vez mais notável a conquista
único, com desejos e vontades próprias. Ela
do pensamento abstrato e o domínio de
nega para ela, para entender-se, com isso
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
categorias cognitivas. Tal estágio é marcado pelo questionamento e confronto do adolescente
frente ao mundo. Há tensão entre o sentimento de dependência em relação ao outro e a
busca pela autonomia. Consoante Silva (2007), as crises, na psicologia walloniana, não são
necessariamente negativas, mas fundamentais para a formação da personalidade. A negação
agora não é para se reconhecer como um ser independente do pai ou da mãe, mas, sim, para se
mostrar um ser independente/autônomo.

3. A Relevância da Cultura e as Relações entre Afetividade e Cognição


De acordo com Heloysa Dantas (1992), para Wallon o ser humano é organicamente social.
Isso significa que o psicólogo francês atribuiu importante papel à cultura, considerando-a
como fator que interfere no desenvolvimento. Ao se referir aos estágios do desenvolvimento,
portanto, ele não se refere a um processo que obedece apenas aos fatores orgânicos. Daí a
necessidade de evitar equívocos, ao tratar a proposta de Wallon como organicista. Sobre essa
questão, Henri Wallon (2007) afirma que:

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
A influência que pode exercer a sociedade pressupõe no indivíduo
o acúmulo de atitudes claramente diferenciadas e formadas como
manifestação própria da espécie. Assim, pois, na criança, contrapõem-se
e complementam-se mutuamente os fatores de origem biológica e social.
(p.35).
A interação com o meio, portanto, pode alterar os rumos do desenvolvimento orgânico.
De acordo com Izabel Galvão (2003), para Wallon a emoção é o primeiro recurso de
interação com o outro, por isso, “podemos dizer que ela também está na origem da atividade
representativa, logo, da vida intelectual” (p.74).
Wallon compreende que é a reflexão mental que tem o poder de controlar as emoções. Para ele,
a consciência é inicialmente difusa, uma vez que o sujeito não sabe identificar a si próprio nem
a realidade exterior. Nesse sentido, a personalidade é fragmentada, e a “consciência de si” é
também “consciência do outro”. É a conquista da linguagem que permitirá a oposição ao outro
e o fortalecimento de uma identidade mais estável (GALVÃO, 2003).
Esclarecendo conceitos que permeiam a obra de Wallon e a forma como este aborda a
Unidade 4 • Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre
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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
interação entre o conjunto cognitivo e o afetivo, destacaremos os conceitos de afetividade,
emoção, sentimento e paixão. Veja cada um deles:
• Afetividade: refere-se à capacidade de o ser humano ser afetado pelo mundo que o
rodeia. O processo evolutivo da afetividade percorre o seguinte trajeto: desenvolvimento
da emoção, do sentimento e da paixão. Conforme Dér (2004), o primeiro componente a se
diferenciar é a emoção, que assume o comando do desenvolvimento logo nos primeiros
meses de vida, posteriormente diferenciam-se os sentimentos e, logo a seguir, a paixão
(p. 61).
• Emoção: aparece desde o nascimento e tem poder contagioso. É expressa, por exemplo,
por meio do riso, choro, soluço. De modo geral, é a forma de resposta imediata que não
envolve reflexão (MAHONEY; ALMEIDA, 2005).
• Sentimento: coloca obstáculos às emoções, impedindo que estas se manifestem de
modo espontâneo.
• Paixão: implica um controle ainda mais acentuado da emoção, tentando silenciá-la.
Ao colocar em evidência os fatores afetivos que permeiam o desenvolvimento, os quais
foram ao longo da história considerados como um aspecto pouco relevante, Wallon traz

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
contribuições importantes para o campo
educacional. Conforme destacam Mahoney
e Almeida (2005), é preciso ter em vista
que tanto alunos como professores são
sujeitos que precisam ser compreendidos
para além do cognitivo e que se afetam
mutuamente. Desprezando os aspectos
afetivos que compõem a relação professor-
aluno, certamente aparecerá a apatia, o
descompromisso e a falta de motivação de
ambos os agentes educativos.

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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
?
Questão
para
reflexão
A partir do exposto nesta aula, quais as contribuições que
você reconhece, na obra de Henri Wallon, para o campo da
Educação?
Quais as implicações da concepção integrada de ser humano
do autor, cuja compreensão é que os conjuntos afetivos,
cognitivos e motores são indissociáveis?
É possível afirmar que a escola é um espaço em que os
aspectos cognitivos são trabalhados de maneira isolada
dos fatores afetivos, culturais e orgânicos? Quais as
consequências de um processo educativo que se pauta numa
visão fragmentada do ser humano, exaltando o cognitivo em
detrimento dos demais aspectos?
Para ajudar sua reflexão, leia o texto anexo: Psicologia e
Educação.
124/144
Considerações Finais

»» Henri Wallon foi médico francês que dedicou sua vida a questões
referentes ao desenvolvimento psíquico do homem.
»» Sua psicologia foi nomeada de psicogênese da pessoa completa, por
entender que o homem articula quatro dimensões: afetiva, motora,
cognitiva e formação do eu.
»» Apresenta que em cada momento do desenvolvimento humano uma
dessas dimensões está em evidência, no entanto, nunca desaparecem,
constituindo o homem completo.
»» Os estágios de desenvolvimento são cinco: impulsivo emocional,
sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial e puberdade e
adolescência.

125/144
Referências

DANTAS, H. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon. In: LA
TAYLLE, Y; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em
discussão. São Paulo: Summus, 1992. p. 35-45.
DER, L. C. S. A constituição da pessoa: dimensão afetiva. In: MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. A
constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2004, p. 61-77.
GALVÃO, I. Expressividade e emoções segundo a perspectiva de Wallon. In: ARANTES, V. A.
(Org.). Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003. p. 71-88.
GALVÃO, I. Henri Wallon. Concepção dialética do desenvolvimento infantil. 15ª. Ed. São Paulo:
Vozes, 2002.
LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon. Teorias
psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. Afetividade e o processo de ensino-aprendizagem:
as contribuições de Henri Wallon. Psicologia da educação, São Paulo, n. 20, jun. 2005.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
69752005000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 4 abr. 2013.

Unidade 4 • Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre


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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
Referências

MAHONEY, A. A. Introdução. In: ALMEIDA, L. R.; MAHONEY, A. A (Orgs.). Henri Wallon: psicologia e
educação. São Paulo: Loyola, 2006.
SILVA, D. L. Do gesto ao símbolo: a teoria de Henri Wallon sobre a formação simbólica. Educ.
rev., Curitiba, n. 30, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0104-40602007000200010>. Acesso em: 4 abr. 2013.

WALLON, H. (1941) A evolução psicológica da criança. (Trad. Claudia Berliner) São Paulo: Martins
Fontes, 2007.

Unidade 4 • Henri Wallon: Psicogênese da Pessoa Completa — um Novo Olhar sobre


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o Desenvolvimento e sua Importância para o Processo de Ensinar e Aprender
Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Henri Wallon: Psicogênese Aula 4 - Tema: Noção de Pessoa: Os


Da Pessoa Completa – Bloco I Conjuntos Funcionais – Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/44ac1bc9a0208ae18b585692bd13ccc0>. cbbf2b9b082b298565dc2522d4527d4f>.

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Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Teoria da Emoção de Wallon: As Aula 4 - Tema: Desenvolvimento e Educação


Relações Afeto – Cognição – Corpo no em Wallon – Bloco IV
Processo de Desenvolvimento – Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
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129/144
Questão 1
1. De acordo com a perspectiva construtivista, o desenvolvimento cogniti-
vo da criança está ligado à interação social e aos afetos, desde o nascimen-
to até a vida adulta.

Considerando a afirmação acima, pode-se concluir que:

a) A pobreza cognitiva eleva dificuldades de interação social e impede a construção de


esquemas afetivos.
b) O desenvolvimento cognitivo segue junto com o desenvolvimento social e afetivo, em
relações de correspondência ou alternância.
c) A qualidade cognitiva é consequência do tipo de interação social e das emoções, que não
afetam retroativamente.
d) A qualidade do desenvolvimento cognitivo na infância será transformada na idade adulta,
nada restando no adulto do que foi adquirido na infância.
e) O desenvolvimento cognitivo na idade adulta faz com que o indivíduo fique impermeável à
interferência do mundo social e das emoções.

130/144
Questão 2
2. Leia a passagem a seguir e indique quais alternativas relacionam-se
com a passagem e são verdadeiras.
“Separar o homem da sociedade, opor, como é frequente, o indivíduo à sociedade, é
descorticalizar seu cérebro... A sociedade é para o homem uma necessidade, uma rea-
lidade orgânica. Não que ela já esteja organizada no seu organismo... A ação se faz no
sentido inverso. É da sociedade que o indivíduo recebe suas determinações; elas são
para ele um complemento necessário; ele tende para a vida social como para seu es-
tado de equilíbrio.” (WALLON, 1949, p. 8).

Afirmações

I. A relação estreita que une a criança ao seu meio (sociedade) tornou-se uma das
ideias centrais de Wallon.
II. Para Wallon é impossível pensar a criança fora da sociedade.
Wallon organiza o desenvolvimento em cinco estágios.
III. Educar exige conhecer a criança concreta, nas suas condições de existência, da
natureza das relações que ela estabelece com o seu meio, da influência dos diversos
grupos aos quais ela tem acesso.

131/144
Questão 2

Alternativas
a) Afirmações I, II e III relacionam-se com a passagem e são verdadeiras.
b) Afirmações I, III e IV relacionam-se com a passagem e são verdadeiras.
c) Afirmações II, III e IV relacionam-se com a passagem e são verdadeiras.
d) Afirmações I, II e IV relacionam-se com a passagem e são verdadeiras.
e) Todas as afirmações relacionam-se com a passagem e são verdadeiras.

132/144
Questão 3
3. A teoria de Wallon ficou conhecida por
____________________________ pois, entende o homem com um ser
constituído por dimensões que se completam, se entrelaçam, são inter-
dependentes.

a) “psicogênese da pessoa completa”.


b) “sociointeracionismo”.
c) “cognitivismo”.
d) “interacionismo”.
e) “pensamento e linguagem”.

133/144
Questão 4
4. Wallon indica quatro dimensões presentes no homem e que deter-
minam seu desenvolvimento. São elas: o motor, o afetivo, o cognitivo, a
pessoa. Relacione as dimensões com suas respectivas características.
Dimensões Características
I Motor A Tem origem nas sensibilidades internas de interocepção e de propriocepção.
Nasce de uma movimentação global do corpo para atividades cada vez mais
II Afetivo B
específicas, mais controladas, mais ajustadas às diferentes situações do meio.
A presença do outro garantirá não só a sobrevivência física, mas também
III Cognitivo C a sobrevivência cultural pela apreensão de valores, instrumentos, técnicas,
crenças, ideias e afetos predominantes da cultura.
Organiza as informações provenientes de seu meio e de seu organismo, as quais
Pessoa (formação do
IV D inicialmente se apresentam de forma nebulosa, global, confusa, sem distinção
eu)
das relações que as unem (sincretismo).

a) I e A; II e B; III e C; IV e D. d) I e B; II e D; III e A, IV e C.
b) I e D; II e C; III e B; IV e A. e) I e C; II e B; III e D; IV e C.
c) I e B; II e A; III e D; IV e C.

134/144
Questão 5
5. Leia o fragmento a seguir e responda a questão:
“Era uma vez um vento muito forte que “destruil” muitas casas, prédios e até torres e carros,
lojas, disse que até deu um furacão. E o vento não acabava, foi um dia de vento, furacão e até
tempestade “xovia” gigante. Naquele dia Deus até “deseu” na terra. Fim”.
Nome: Daniel – 8 anos.
SIQUEIRA, Ana Maria de Paula. Investigando o Pensamento da Criança de 8 anos – contribuição
de Henri Wallon, 2000: 3. Disponível em: <http://23reuniao.anped.org.br/textos/2014p.PDF>.
Acesso em: 4 abr. 2013.

Daniel está no período Categorial e de acordo com Wallon, é incorreto


afirmar que:

a) Para Daniel, na formação dos pares, a ação do vento vai mudando sua intensidade, de
acordo com a situação pensada. ...“o vento não acabava foi um dia de vento furacão e até
tempestade xovia gigante...”.
b) Parece que todos os pares: vento/ furacão, furacão /tempestade, tempestade/ chuva,
acabaram reunidos como se na verdade fossem resultado de um único efeito do vento.
135/144
Questão 5

c) Para Daniel, o tempo, o espaço, o lugar, a causa, o objeto e a qualidade separam-se para
que o pensamento e os seus conhecimentos sejam confrontados com a experiência, isto é, as
inadequações vão emergindo e assim ele pode definir o movimento do vento.
d) Vento como destruição é da vivência de Daniel, assim como a tradição que lhe diz sobre a
existência de Deus, que desce a Terra para livrar as pessoas. Providencialismo e artificialismo
juntam-se para unir o céu e a terra.
e) Para Wallon, a criança não consegue imaginar um tempo diferente daquele em que vive,
daí a aparente incoerência entre a ação e o resultado, em diferentes tempos.

136/144
Gabarito
1. Resposta: B. entanto, as alternativas I, II e IV, além de
indicarem questões sobre o pensamento
Segundo Wallon, o desenvolvimento teórico walloniano, relacionam-se com o
humano se dá pela interferência texto citado.
de quatro dimensões: Movimento,
Afetividade, Cognição e Formação do 3. Resposta: A.
Eu (interação social). Tais dimensões
alternam-se de acordo com o nível de A teoria de Wallon ficou conhecida como
desenvolvimento em que a pessoa se psicogênese da pessoa completa, pois o
encontra. Nesse sentido, pode-se afirmar autor entende que o homem se desenvolve
que desenvolvimento cognitivo segue por completo passando por cinco estágios
junto com o desenvolvimento social e de desenvolvimento (impulsivo emocional,
afetivo, em relações de correspondência ou sensório motor e projetivo, personalismo,
alternância. categorial, puberdade e adolescência).
Sobre cada um desses estágios, dimensões
2. Resposta: D. (movimento, cognição, afetividade e
formação do eu) agem diretamente em
Mesmo a alternativa III estando correta, prol do desenvolvimento. Portanto, não
ela não se relaciona com o texto citado. No é possível estudar o desenvolvimento
137/144
Gabarito
fragmentando o indivíduo em partes, mas seu meio e de seu organismo, as quais
sim concebendo-o como um todo. inicialmente se apresentam de forma
nebulosa, global, confusa, sem distinção
4. Resposta: C. das relações que as unem (sincretismo),
e a dimensão formação do eu entende
Wallon, ao apresentar as dimensões que a presença do outro garantirá não
que determinam o desenvolvimento do só a sobrevivência física, mas também a
homem, explica-as. A resposta C está sobrevivência cultural pela apreensão de
correta porque condiz a dimensão com valores, instrumentos, técnicas, crenças,
sua explicação. Desse modo, a dimensão ideias e afetos predominantes da cultura.
motora nasce de uma movimentação
global do corpo para atividades cada vez 5. Resposta: C.
mais específicas, mais controladas, mais
ajustadas às diferentes situações do meio. Segundo Wallon, a criança de oito anos
A dimensão afetividade tem origem nas está no estágio de desenvolvimento
sensibilidades internas de interocepção e categorial. Uma das características desse
de propriocepção; a dimensão cognitiva estágio consiste em organizar as ideias em
organiza as informações provenientes de categorias para compreendê-las.

138/144
ANEXO

NASCIMENTO, Maria Letícia B. P. A criança concreta, completa e contextualizada: a Psicologia


de Henri Wallon. In: Kester Carrara (org). Introdução a Psicologia da Educação: seis abordagens.
São Paulo: Avercamp, 2004. p. 47-69.
11.6 PSICOLOGIA E EDUCAÇAO
Wallon manifestou-se em relação à educação, tendo elaborado textos específicos e um projeto
de reforma do ensino, o “Projeto Langevin-Wallon”, de 1947. Foi o criador da cadeira de
Psicologia e Educação da Infância no College de France, permanecendo como professor dessa
disciplina entre 1937 e 1941 e entre 1944 e 1949.
Analisou os sistemas pedagógicos propostos em seu tempo, reconhecendo o valor de suas
contribuições, mas, ao mesmo tempo, evidenciando seu alcance social limitado, principalmente
por não terem conseguido superar a contradição entre indivíduo e sociedade, ora privilegiando
um, ora outro. Se os conflitos entre ambos são inevitáveis, pela ordem dos seus interesses, e
necessários, pois se opõem, é na sua confluência que se coloca a prática educacional. Para
Wallon, a integração entre a formação da pessoa e sua inserção na coletividade asseguraria a
relação da educação (WEREBE, 1986).

139/144
ANEXO

Destacou e publicou um artigo sobre o trabalho de Decroly (1871-1932), esse entendia a


necessidade de respeitar a criança como uma pessoa completa, e de Makarenko (1888-1939),
cuja pedagogia implicava na isenção de cada um na coletividade. Coerente com a posição
marxista que advogava, via na educação um caráter político-social fundamental.
Segundo Wallon, o projeto de sociedade define o projeto de educação. Para ele, formar
sujeitos históricos, autônomos, capazes de construir sua sociedade, implicava em associar
essa meta aos métodos pedagógicos, não sem se apoiar em princípios científicos relativos ao
conhecimento da criança e do meio onde se desenvolve.
O Projeto Langevin-Wallon é o retrato de seus ideais de homem, sociedade e educação.
Chamado a assumir esse projeto de reformulação do sistema educacional francês, após a morte
de Paul Langevin, em 1946, Wallon pôde expressar sua opção por uma sociedade caracterizada
pela democracia e pela justiça social. Para isso, o projeto previa transformações na estrutura e
no funcionamento do sistema escolar, oferecendo também sugestões sobre métodos de ensino.
A teoria psicogenética de Wallon revela-se de grande importância para a educação. Em
primeiro lugar, porque compreende a criança completa, o que implica a necessidade de

140/144
ANEXO

uma prática pedagógica que dê conta dos aspectos intelectual, afetivo e motor integrados,
sem privilegiar o cognitivo, fazendo com que a escola deixe de ser um espaço meramente
instrucional para tornar-se um lugar de desenvolvimento pessoal. Esse desenvolvimento
responde ao plano biológico em interação com o plano social: a criança concreta tem história,
faz parte de um grupo social, traz consigo elementos da cultura em que está inserida. Além
disso, a criança contextualizada apresenta características específicas em seu desenvolvimento.
O modelo escolar tradicional tem como objetivo disciplinar, homogeneizar. As atividades
propostas pouco significam para o processo de desenvolvimento e aprendizagem de qualquer
criança, para sua constituição como pessoa. Além disso, por se repetirem indefinidamente
para qualquer grupo, revelam o caráter universal e a-histórico com o qual foram elaboradas,
desconsiderando o contexto e a singularidade de cada criança. Em outras palavras, nelas
predomina uma visão adultocêntrica da infância. Entretanto, diz Wallon: “A criança só
sabe viver a sua infância. Conhecê-Ia pertence ao adulto. Mas o que vai prevalecer nesse
conhecimento: o ponto de vista do adulto ou o da criança?” (WALLON, 1998, p. 27).
Uma proposta que considere a teoria de Wallon privilegiará a observação atenta das crianças,
de tal modo que seja possível reconhecer as mudanças de objetivos de sua conduta, em
141/144
ANEXO

diferentes idades e situações. No contexto de sua psicologia, uma prática pedagógica


adequada será aquela que promova relações entre a criança e o meio humano e físico,
incluindo aí o conhecimento, reconhecendo que se modificam reciprocamente. O meio é
o campo da atividade da criança, ao mesmo tempo em que dele retira recursos para sua
ação. Cada etapa do desenvolvimento define um tipo particular de relação com o meio. Se,
ao nascer, a criança volta-se para o meio humano, por meio dele voltar-se-á para o mundo
físico, adquirindo recursos cada vez mais elaborados para interagir com a cultura em que está
inserida.
A teoria de Wallon, marcada pela visão de que a configuração social é a primeira instância do
ser humano e que é num processo de interação social que se constitui o “eu”, num processo
gradual e contínuo, revela-se de grande atualidade se colocada em interlocução com textos
contemporâneos, produzidos em estudos da Sociologia da Infância, área que constitui
importante marco para compreender a criança como sujeito que estabelece relações sociais
concretas, afetando e sendo afetado pelas interações com os adultos e com seus pares,
desencadeadas nos espaços escolares e domésticos.
Nos grandes centros urbanos, a rotina cultural experimentada, apropriada e reinventada pela
142/144
ANEXO

criança apresenta aspectos dos contextos escolares e domésticos, estruturais e funcionalmente


diferentes, onde são estabelecidas as relações socioculturais. As experiências vividas com
seus pares, fora de casa, em creches e escolas, vão constituir outras referências para elas.
Serão os diferentes adultos, mas, principalmente, as várias crianças, com as quais vão conviver
cotidianamente, ao longo de muitas horas, que vão oferecer elementos para a constituição
de uma singularidade. O processo de humanização se concretiza nos meios e nos grupos que
a criança frequenta. Segundo Wallon, “o meio é um complemento indispensável ao ser vivo”
(1986, p. 168).
Entrar em contato com a obra de Wallon, ainda que a complexidade de seus textos o mantenha
como um autor “alternativo”, pouco divulgado e pouco compreendido, significa descobrir
outras possibilidades de reflexão sobre seus textos, novas leituras sobre o desenvolvimento
infantil e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia.

143/144

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