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Desenvolvimento e aprendizagem: da
infância à idade adulta
Reitor: Benedito Guimarães Aguiar Neto
Esmeralda Rizzo
PROFESSORAS
7.856 KB ; PDF.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-67981-23-9
CDD 370.1523
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É interessante pensar que, na condição de docentes deste curso, foi unânime a
percepção de um questionamento dos alunos: por que estudar psicologia em um curso de
pedagogia? Muito do que a ciência propõe sobre processos de desenvolvimento humano
e aprendizagem decorre de estudos provenientes da Psicologia, os quais são aplicados
à educação.
Coll, Marchesi e Palácios (2004) apontam o estado atual da Psicologia da Educação; diz
que ela está fortemente marcada por três fatores: primeiro, a reconsideração das funções
e das finalidades da educação em geral, além da revisão crítica da velha aspiração de
construir uma teoria e uma prática educacionais sobre bases científicas; segundo, o
surgimento de novos conceitos e enfoques teóricos em psicologia do desenvolvimento,
em psicologia da aprendizagem e, particularmente, em psicologia da educação e do
ensino; terceiro, a mudança das relações adotadas entre psicologia e educação e as
contribuições e os aportes da primeira em relação à segunda.
Para ficar mais claro, a equipe docente responsável pela composição deste Guia de Estudos
optou pela elaboração de cinco unidades teóricas acerca do Tema Desenvolvimento e
Aprendizagem: da infância à idade adulta.
Nesta unidade, são apresentados os conceitos teóricos que contribuíram para a com-
preensão do desenvolvimento humano e para as relações existentes com a aprendizagem.
O objetivo é problematizar, debater e ilustrar as correntes teóricas da Psicologia que
influenciaram os processos de condução de comportamentos e aprendizagens na escola.
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Unidade 3 – Desenvolvimento humano e aprendizagem: contribuições de Jean Piaget
Nesta unidade, serão apresentados conceitos acerca da obra de Vygotsky e suas rela-
ções com a área educacional. A unidade tem o objetivo de apontar a prospecção de sua
obra por meio da definição de conceitos básicos, como a mediação, a cultura, a Zona
de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e a linguagem. Nesse sentido, é importante pensar
sobre a evolução das funções psicológicas elementares para as funções psicológicas
superiores, destacando-se o pensamento e a linguagem como as principais ferramentas
humanas.
Nesta unidade, são apresentados conceitos teóricos propostos por Henri Wallon sobre
o desenvolvimento humano e a aprendizagem. É interessante constatar que apesar
de pouco presente na área educacional no Brasil, esse teórico conseguiu observar e
aproveitar muitos conceitos contemporâneos sobre a integração do indivíduo (pessoa)
e o seu processo de desenvolvimento de maneira geral, inclusive no aspecto cognitivo.
Resumidamente, para Wallon, a personalidade e a inteligência são instâncias psíquicas
indissociáveis e é assim que o indivíduo consegue interagir operacional e evolutivamente
na natureza.
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Recentemente, tivemos em pauta um assunto que gerou debate em vários setores
da sociedade: a Lei nº 13.010, também chamada Lei da Palmada (BRASIL, 2014).
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UNIDADE 1
Nesta unidade, viajaremos pelo tempo e pelas regiões na medida em que teorias e
pensamentos nos são apresentados. Por meio de leituras, vídeos e filmes, estabeleceremos
o contexto que embala a cosmovisão dos autores, filósofos, pensadores e educadores
que orientam a prática educacional ainda nos dias atuais.
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UNIDADE 1
Objetivos de aprendizagem
Objetivos conceituais
• Conhecer as diferentes teorias do conhecimento dentro de um universo de teorias do
conhecimento e de desenvolvimento humano existentes.
• Identificar as visões de homem e de mundo nas teorias de conhecimento e de
desenvolvimento humano apresentadas.
• Atentar-se ao mundo que nos cerca, sendo capaz de acreditar que a postura
pedagógica adotada e desenvolvida pode influenciar o modo de vida dos alunos e da
sociedade, vislumbrando a possibilidade de transformação.
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UNIDADE 1
Assista ao vídeo “The Potter” (2008). Tome nota de suas considerações, buscando
responder às provocações feitas anteriormente.
Sugerimos, ao longo dessa unidade, que você tome notas de suas considerações e de
suas reflexões para compreender o desenvolvimento e o percurso dos processos de
construção do conhecimento e do desenvolvimento humano.
É nesse contexto que destacamos um dos textos que compõem os diálogos socráticos,
registrados por Platão, “Uma questão de época: a virtude é coisa que se ensina?”. O
diálogo apresenta como personagens principais Sócrates e Mênon e, apesar de Ânito,
que hospeda Mênon em Atenas, estar presente na conversa, provavelmente, possui um
ginásio ou uma ágora como espaço.
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
Conhecimento objetivo
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
(1902-1994)
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
Conhecimento subjetivo
Sigmund Freud não deve ser considerado apenas o pai da psicanálise, mas,
sobretudo, o fundador de um modelo muito particular e inédito de produzir
ciência e conhecimento. Ele reinventou o que se sabia sobre a alma humana,
a (psique), quebrando os paradigmas de toda a tradição do pensamento
ocidental, a partir de uma obra em que o pensamento racional, consciente
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UNIDADE 1
e cartesiano perdeu seu lugar exclusivo e seguro. Estudos sobre a vida inconsciente,
realizados ao longo de sua vasta obra, tornaram-se referência para a ciência e filosofia
contemporâneas. A influência de Freud no pensamento ocidental não é apenas
incontestável, ela amplia seu alcance ao influenciar e dialogar com as mais variadas
áreas do saber, como a filosofia, as artes, a literatura, a teoria política e as neurociências
(FREUD, 2011).
A cura pela palavra, pensada por Freud na dimensão de tornar consciente o inconsciente,
propõe-se como uma fala do sujeito endereçada à escuta de um outro (o psicanalista).
Freud deixa claro que seus fundamentos, e suas expectativas em contribuir com a ciência
que desenvolveu, são pautados em um modelo subjetivo de conhecimento. Contudo,
para considerá-los, faz-se necessário um certo distanciamento que permita uma análise
passível de julgamento.
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UNIDADE 1
Em sua própria tipologia, um introvertido intuitivo, Jung não estava interessado nos
aspectos práticos do viver no mundo. Seu foco foi sobre individuação por meio de ciência
do inconsciente. Jung fundou uma escola de psicoterapia e psicologia, a qual denominou
psicologia analítica.
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UNIDADE 1
Leia abaixo o trecho que introduz os estudos de Carl Jung e pense nas escolhas que
definem o que se aprende na escola. Quais aspectos são preponderantes nessas
escolhas de conteúdos? Aspectos subjetivos ou objetivos? Existe uma preocupação com
ambos os aspectos de modo a valorizar os dois processos presentes no desenvolvimento
humano? Não se esqueça de tomar notas sobre o que considera relevante a respeito dos
questionamentos levantados.
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UNIDADE 1
“Ao meditarmos sobre o processo da vida humana, vemos que a sorte de uns está mais
condicionada pelas coisas de seu interesse objetivo, ao passo que a de outros está mais
dependente do próprio íntimo, do sujeito. Ora, como todos propendemos, até um certo
ponto, mais para um lado do que para o outro, é natural que, em cada caso, a nossa
tendência seja para interpretar tudo de acordo com nosso próprio tipo” (JUNG, 1981, p.
27, apud SAIANI, 2004, p. 19).
Conhecimento tácito
Segundo Polanyi, “A crença principal que embasa uma sociedade livre é a de que o homem
é ao mesmo tempo receptivo à razão e suscetível aos clamores de sua consciência”.
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UNIDADE 1
A defesa pela ciência pura – ciência pela ciência, como busca pela verdade – recebeu de
Polanyi uma enorme relevância. Ele defendia ser mantida, enquanto muitos defendiam a
necessidade de sua manutenção em uma época que a ciência só era válida se tivesse uma
utilidade social clara ou até imediata. Ele afirmava que a essência da ciência está no amor
ao conhecimento. Contudo, essa visão batia de frente com o marxismo de seu tempo, o
qual tratava da ciência apenas como um instrumento para o bem-estar material, que seria
antes utilizado pela burguesia de acordo com interesses de classe. Ele não aceitava essa
imagem da ciência e lutou para desvincular a atividade científica criativa de uma visão
determinista do mundo. Polanyi, entretanto, apoiou-se em seu extenso conhecimento
científico e amplo interesse em múltiplas áreas de investigação do conhecimento humano
para investir em uma proposição filosófica de compreensão de mundo que tem no
conhecimento seu pilar (SAIANI, 2004). Tais ideias, segundo Prosch (apud SAIANI, 2004,
p. 50), consistiam em:
A palavra “tácito”, do latim tacitus, significa “não expresso por palavras”. Logo, a
melhor forma de transmiti-lo é por meio da convivência, da troca de experiências,
das interações que fazemos com o grupo dos quais participamos, utilizando a
comunicação oral e contato direto com as pessoas. Fonte: Mendes, 2005.
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
Por meio do corpo, percebemos e conhecemos tacitamente, por isso nosso corpo é a única
coisa que não experimentamos como algo externo a nós. Se consideramos a transformação
de uma ferramenta (ou de outro elemento mediador de nossa experiência no mundo) em
uma extensão sensorial de nosso corpo e passarmos a esperar a apreensão de outras
entidades a partir dela, ela poderá ser interiorizada, incorporada. A interiorização, tomada
como integração de particularidades, é um meio de fazer com que certas coisas funcionem
como termo proximal do conhecimento prático, de modo que, ao invés de observá-las em
si mesmas, possamos percebê-las na entidade abrangente que constituem (LAGE, 2010).
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UNIDADE 1
Síntese
Após o percurso feito nesta unidade, é importante que você revise suas anotações,
discussões e compreensões sobre o que é conhecer e como se aprende. Pudemos conhecer
alguns autores e suas formas de pensar o conhecimento. Agora, sistematizaremos tudo o
que você conseguiu apreender:
2. A partir dos estudos realizados, como você descreve o que vivemos no sistema
educacional hoje? Você consegue, a partir de suas observações e vivências como
aluno, identificar o tipo de visão de mundo preponderante hoje?
Organizar essas ideias será muito útil para compreender o que significa conhecimento e
quais são suas influências na educação.
Aplicando os conceitos
Escreva, também, como esse texto revela a posição que um educador deve ter para
favorecer a aprendizagem. Que visão de conhecimento e de homem esse texto pressupõe?
E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que
quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos;
porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição.
E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova
doutrina é essa de que falas?
Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos, pois, saber o que vem a
ser isto
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
Referências
BRASIL. Lei nº 13.010. Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem
educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante,
e altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27
jun. 2014. Seção 1, p. 2. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L13010.htm>. Acesso em: 1 dez. 2016.
BACON, F. Nova Atlântida. Tradução e notas José Aluysio Reis de Andrade. 3. ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1984.
BURNET, J. Mênon/Platão. Tradução Maura Iglésias. Rio de Janeiro: PUC; Loyola, 2001.
FREUD, S. O futuro de uma ilusão. Tradução Renato Zwick; revisão técnica e prefácio
Renata Udler Cromberg; ensaio bibliográfico Paulo Endo e Edson Sousa. Porto Alegre:
L&PM, 2011.
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UNIDADE 1
LESSA, R. Freud e a Guerra de 1914. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, 3 abr. 2014. Disponível
em: <http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/820/n/>. Acesso em: 11 out. 2016.
MENDES, A. Conhecimento tático e explícito. iMasters, 30 set. 2005. Disponível em: <http://
imasters.com.br/artigo/3599/gerencia-de-ti/conhecimento-tacito-e-explicito>. Acesso em:
2 dez. 2016.
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UNIDADE 1
THE POTTER. Direção e produção: Josh Burton, 2012. Disponível em: <https://vimeo.
com/2676617>. Acesso em: 11 out. 2016.
VIENNA, IN THE LATE 1920S AND EARLY 1930S, WIEN. [S.l.]: Stefan Weingäetner, 2013.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OHG4xz95F28>. Acesso em 11 out.
2016.
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UNIDADE 2
Finalizamos esta breve apresentação informando que você encontrará a seguir informações
iniciais acerca do desenvolvimento e da aprendizagem humana que convidarão você
a refletir sobre suas futuras práticas pedagógicas. Na sequência, estudaremos as três
principais correntes teóricas, a saber: o ambientalismo, o inatismo e o interacionismo, as
quais servirão de aporte para suas observações no estágio supervisionado.
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
Objetivos de aprendizagem
Objetivos conceituais
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UNIDADE 2
Caros alunos, na introdução desta unidade, vimos três das principais teorias do
desenvolvimento humano: a ambientalista, a inatista e a interacionista, as quais também
são conhecidas como Teorias da Aprendizagem Humana.
Reflita: Você já parou para pensar de que maneira o ser humano se desenvolve e aprende?
Ainda, o que é necessário para que a aprendizagem torne uma pessoa atuante no mundo?
No espaço a seguir, registre seu conhecimento atual sobre as formas de desenvolvimento
e aprendizagem humana, ou seja, o que você acha necessário ao homem para que ele
seja atuante (operacional) no mundo?
A seguir, propomos uma exposição que descortinará alguns dos principais conceitos
sobre o desenvolvimento e a aprendizagem humana; especificamente, o período da
infância e de suas relações com os aspectos cognitivos associados à aprendizagem.
Nesse contexto, convidamos você a conhecer algumas das maneiras pelas quais as
crianças se desenvolvem e aprendem. Esta apresentação destaca autores renomados da
Psicologia que estudaram a infância e a aprendizagem e, de maneira compromissada e
competente, desenvolveram abordagens teóricas que contribuíram para diversas áreas
de conhecimento, inclusive para a Pedagogia. São eles: Jean William Fritz Piaget (1869-
1980), Lev Semënovič Vygotsky (1896-1934) e Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962).
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UNIDADE 2
Neste momento, é importante sinalizar que os objetivos específicos desta unidade são
extensos, principalmente se considerarmos os conhecimentos individuais que você já
traz para este curso. No entanto, vale destacar que alguns desses objetivos pretendem
conduzir a conhecimentos os quais permitirão a compreensão do desenvolvimento e da
aprendizagem humana.
CURIOSIDADE 1
Nem sempre tivemos um período determinado para a infância. Durante muitos séculos, as
crianças foram consideradas “mini adultas”. Para saber mais sobre esse assunto, leia a
obra História das crianças no Brasil (PRIORE, 1999).
Veja as imagens a seguir e compare-as. Na sequência, elabore um texto crítico com suas
observações. O que mudou? Como era a infância das crianças na época imperial quando
comparada à das crianças de hoje?
Fonte: istockphoto.com
Fonte: istockphoto.com
CURIOSIDADE 2
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UNIDADE 2
Sendo assim, pense que, desde a mais tenra idade, estamos munidos de condições:
biológicas para desenvolver (físico), captar e processar informações ambientais;
psicológicas para interagir e internalizar elementos do mundo externo, visando uma
compreensão organizada e adequada para nosso bem estar psíquico e nossa convivência
social; sociais, pois, por natureza, o ser humano é gregário, ou seja, vive em grupos
(PAPALIA, 2013).
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UNIDADE 2
1) Desenvolvimento:
O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos
processos sistemáticos de mudanças e estabilidade que ocorre nas pessoas.
Os cientistas do desenvolvimento (ou desenvolvimentais) indivíduos empenhados
no estudo profissional do desenvolvimento humano – observam os aspectos
em que as pessoas se transformam desde a concepção até a maturidade,
bem como as características que permanecem razoavelmente estáveis.
(PAPALIA, 2013, p. 36-37)
2) Aprendizagem:
A aprendizagem é definida como uma mudança relativamente permanente no
comportamento ou no potencial comportamental como resultado da prática ou da
experiência [...] a aprendizagem consiste em uma mudança no comportamento
ou no potencial comportamental, ela pode gerar mudanças imediatas no
comportamento [...] ou pode consistir em mudanças que ocorrem muito depois,
mas são resultados de experiências. Aprender pode até mesmo consistir em
mudanças que poderiam potencialmente ser iniciadas, mas nunca o foram
porque a oportunidade nunca apareceu [...]. Observe que a aprendizagem é
relativamente permanente [...]. (HUFFMAN, 2003, p. 197-198)
Tendo em vista que o egresso deste curso pode acompanhar o desenvolvimento infantil
desde a criança na creche, destaca-se a importância dos sentidos humanos para a
aprendizagem infantil. Considerando as distinções da aprendizagem humana e animal,
inclusive apresentadas nos vídeos sobre aprendizagem, é preciso ter clareza que
uma condição tão complexa não está condicionada a um único fator, mas a vários, e a
aprendizagem por meio das sensações humanas e dos aspectos psicomotores podem ser
usados por profissionais da educação.
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UNIDADE 2
Assim sendo, os órgãos dos sentidos humanos (visão, audição, tato, paladar
e olfato) funcionam como portas de entradas de informações sensoriais para
o recebimento de estímulos e informações ambientais desde o início do ciclo
vital. É por meio das sensações que essas informações serão processadas
em percepções e traduzidas em conteúdos significativos no cérebro humano.
A esse processo se dá o nome de sensopercepção.
Os Cinco
Sentidos
Agora, façamos uma pausa necessária! Apesar da ampla gama teórica que
destaca os processos sensoperceptivos, é notável que seria muito pobre e
reducionista analisar processos de aprendizagem tão complexos a partir de
apenas uma premissa teórica.
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UNIDADE 2
Enfim, o ciclo vital humano carece da interação de muitos fatores para que haja efetivamente
uma evolução tanto no desenvolvimento quanto na aprendizagem. Vale destacar que os
aspectos cognitivos ganham muita atenção da ciência, principalmente a partir da década
de 1960. Com isso, o cérebro e as formas de processamento de informações cerebrais,
já destacadas anteriormente, passaram a habitar o cenário docente com a pretensão
de agregar novas formas de intervenções e práticas pedagógicas, tendo como objetivo
uma aprendizagem direcionada, eficiente e significativa. Toda essa evolução contribui,
inclusive, para que possamos pensar sobre a competência humana de pensamento
autônomo, crítico e reflexivo a partir da interação de ambientes de aprendizagens virtuais.
Sendo assim, podemos acrescentar como ponto de análise o homem imerso na sociedade
tecnológica e que tem a seu favor: a informação, a comunicação e a interatividade. Então,
questionamos: Você tem ideia de como a tecnologia pode influenciar o aprendizado das
novas gerações? Assista ao vídeo “Bebê pensa que revista é um iPad” (2011); em seguida,
registre sua opinião sobre tecnologia e aprendizagem em cursos a distância no espaço
a seguir.
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UNIDADE 2
1. O AMBIENTALISMO
Fonte: Bitgarden
Com a pretensão de que você consiga entender melhor como essa corrente teórica subsidia
práticas pedagógicas em sala de aula, vale lembrar que o behaviorismo influenciou, e
influencia até os dias atuais, muitas das condutas e práticas docentes na sala de aula.
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UNIDADE 2
Essa corrente teórica é conhecida na área educacional com outros nomes, portanto, preste
atenção às terminologias tecnicista e mecanicistas de ensino! Considerando a vasta
amplitude dessa corrente teórica que se imbrica com o sistema histórico da educação
brasileira, recomenda-se o aprofundamento no tema por meio da leitura do artigo
“Behaviorismo Radical na Sala de Aula Contemporânea” (FRANÇA, 2012).
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UNIDADE 2
2. O INATISMO
Fonte: Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons
Neste sentido, pode-se considerar que o ser humano se desenvolve porque nasce
programado geneticamente para isso. Quanto a aprendizagem, esta corrente teórica
descarta a importância do ambiente e o indivíduo aprende porque já nasce com
competências inatas para isso.
Com vistas a isso, nascemos programados para ações como o choro, a sucção, o
engatinhar, o andar e o falar. Essa ideia garante ao sujeito autonomia no curso de seu
desenvolvimento e, de certa forma, concentra toda a responsabilidade da aprendizagem
sobre o educando, minimizando o papel das práticas pedagógicas e a função da escola
e do professor.
Fonte: istockphoto.com
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UNIDADE 2
Vamos pensar? Será mesmo que a dicotomia inata vs. adquirida poderia
definir as condições humanas de desenvolvimento e aprendizagem?
Se você tivesse que escolher entre a corrente teórica inatista e a
ambientalista, qual escolheria? Por quê? Justifique sua resposta.
3. O INTERACIONISMO
Fonte: Marxists.org – Lev Vygotsky
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UNIDADE 2
Os principais defensores das ideias interacionistas são Piaget, Vygotsky e Wallon que
ganharão destaque nas próximas unidades deste Guia de Estudos por sua contribuição
na área educacional.
Síntese
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UNIDADE 2
Aplicando os conceitos
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UNIDADE 2
Referências
BEBÊ PENSA QUE REVISTA É UM IPAD. Minas Gerais: Gazeta Setelagoana, 2011.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Govj6R-USBM>. Acesso em: 21 out.
2015.
CHAUI, M. O ser humano é um ser social. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
CONSENZA, R. M.; FUENTES, D.; MALLOY-DINIZ, L. A evolução das ideias sobre a relação
entre cérebro, comportamento e cognição. In: FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: Teoria
e Prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 15-19.
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. M. R. Psicologia na educação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
HUFFMAN, K.; VERNOY, M.; VERNOY, J. Psicologia. São Paulo: Atlas, 2003.
PAPALIA, D. E.; FELDMAN, E. D.; MONTOREL G. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2013.
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UNIDADE 2
Bibliografia básica
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
Assim, sob sua perspectiva teórica, o desenvolvimento não se explica pela reprodução de
cópias internalizadas da realidade externa, mas sim pela produção de estruturas lógicas
que possibilitam ao indivíduo atuar sobre o mundo de formas cada vez mais complexas.
O conhecimento é uma construção, não uma reprodução, daí o termo construtivismo para
denominar sua posição teórica.
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
Objetivos de aprendizagem
Objetivos conceituais
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UNIDADE 3
Para iniciarmos, relembre o tempo em que você estava na escola e relate suas memórias.
Redija um texto contando o que lembra sobre as aprendizagens que vivenciou na
Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para ajudar, propomos
algumas questões:
Essas questões ajudarão a resgatar suas lembranças. Não precisam ser respondidas
literalmente.
Fonte: istockphoto.com
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
Piaget, biólogo de formação, inicia suas pesquisas por volta de 1920, pois queria
compreender como passamos a conhecer o que conhecemos. Assim, recorre à
Psicologia e estrutura seus estudos com base na gênese do conhecimento e constrói a
Teoria Psicogenética. Seu interesse era compreender a lógica e as transformações do
pensamento infantil.
Neste vídeo, você verá a biografia de Jean Piaget e a explanação de sua teoria pelo
professor Yves de La Taille. Este explica a teoria piagetiana de forma bastante didática. Os
exemplos nos ajudarão a entender os estágios de desenvolvimento e os saltos qualitativos
que ocorrem em cada etapa do desenvolvimento infantil, comparativamente à etapa
anterior.
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UNIDADE 3
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UNIDADE 3
Perante uma nova situação de aprendizagem em seu cotidiano, por exemplo, como
aprender uma língua estrangeira ou aprender a mexer em um aparelho eletrônico, como
você age? Que recursos utiliza para essa nova aprendizagem?
Fonte: istockphoto.com
Em grupos de quatro alunos, discuta sobre essas questões e elabore uma síntese de ideias.
Depois, relacione com os conceitos piagetianos de equilibração, assimilação e adaptação.
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UNIDADE 3
Como vimos, a teoria piagetiana nos revela a construção crescente para aprendizagens
mais complexas, descrevendo essa evolução em fases e/ou estágios. O próximo passo é
compreender os estágios de desenvolvimento cognitivo:
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UNIDADE 3
• dos reflexos: como o próprio nome sugere, são as ações reflexas como sugar,
agarrar etc;
• das organizações, percepções e hábitos: quando os reflexos da etapa anterior se
organizam em novas condutas adquiridas pela experiência;
• inteligência sensório-motora propriamente dita. (GAMEZ, 2010, p. 46)
Vale destacar que o que marca a passagem do estágio sensório-motor para o estágio
pré-operatório é a construção de esquemas mentais cada vez mais complexos, ou
seja, a possibilidade de representação que preparam e dão origem ao aparecimento
da função simbólica, ou seja, “a capacidade de representar eventos futuros, de libertar-
se, portanto, do universo restrito do aqui-e-agora. O aparecimento da função simbólica
altera drasticamente a forma como a criança lida com o meio e anuncia uma nova etapa”
(DAVIS; OLIVEIRA, 2010, p. 48).
Fonte: istockphoto.com
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UNIDADE 3
Pois bem, segundo Piaget, nesta etapa o pensamento infantil constrói a função simbólica,
a representação que modifica as condutas práticas do estágio sensório-motor anterior, ou
seja, a criança ganha a possibilidade de representação mental, adquire a capacidade de
pensar sobre fatos e objetos que não estão presentes no ambiente imediato, e assim vence
os limites do aqui e agora. Essa nova capacidade pode ser evidenciada nas brincadeiras
de faz de conta, na representação de papéis. Aqui, cabe destacar uma das características
deste estágio muito presente no desenvolvimento infantil que é o animismo, ou seja, a
criança, dá vida aos objetos inanimados em suas brincadeiras.
Você já parou para observar como a cultura influencia os diferentes gêneros (masculino
e feminino) em suas brincadeiras? E como cada um exerce um papel no ato do brincar?
Por exemplo, a menina embala a boneca para dormir, ou seja, dá vida à boneca (objeto
inanimado). O menino desloca o carrinho e atribui som como se ele estivesse um motor
funcionando, por exemplo, o som Brum!! Brum!! Assim, fica fácil de compreender o conceito
de animismo e o plano simbólico do pensamento infantil de crianças de 2 a 7 anos.
Fonte: istockphoto.com
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UNIDADE 3
pensamento infantil
deste estágio em
relação aos conceitos
de egocentrismo,
centralização,
animismo e realismo
nominal, acesse a
Biblioteca Virtual
Universitária 3.0
Pearson e leia o
fragmento da obra
Pontos de psicologia
do desenvolvimento
(BARROS, 2008, p.
104-107).
60
UNIDADE 3
A criança do estágio pré-operatório ficará na dúvida, poderá dizer que não sabe ou então
mencionar qualquer número. A criança que cognitivamente opera com a reversibilidade
do pensamento, característica do estágio operatório-concreto, com certeza entenderá que
se para ir de minha casa até o sítio percorri 30 quilômetros, portanto, para voltar, deverei
percorrer os mesmos 30 quilômetros ou mesmo compreender a reversibilidade diante de
uma operação de adição e subtração, se 7 + 2 = 9, portanto, 9 – 2 = 7 ou 9 – 7 = 2.
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UNIDADE 3
Por meio dos vídeos a seguir, você encontrará as famosas provas piagetianas
nas quais o autor tenta demonstrar a fase do desenvolvimento infantil e as
características do pensamento expressas pelas respostas das crianças.
Acesse a Biblioteca
Virtual Universitária
Fonte: Revista Nova Escola
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UNIDADE 3
No vídeo “D-11 – Desenvolvimento cognitivo” (2011), você encontrará crianças diante das
provas piagetianas. Verifique a forma como elas respondem às solicitações do pesquisador.
Por meio dos argumentos apresentados, acreditamos ter despertado em você o desejo de
observar como o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem. Sugerimos que pesquise
sobre as provas piagetianas.
Para finalizar, utilizamos um trecho de Gamez (2010, p. 55) para entendermos que na
teoria piagetiana:
63
UNIDADE 3
Síntese
Pois bem, foi possível perceber como a teoria piagetiana provocou uma revolução
nas escolas e na atuação dos professores? A partir da compreensão dessa teoria
sobre o desenvolvimento, não podemos ignorar as diferenças e as possibilidades de
desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Assim, estes conhecimentos devem ser
considerados para o planejamento e para as práticas pedagógicas.
Desenvolvimento cognitivo
Desenvolvimento da inteligência
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UNIDADE 3
Aplicando os conceitos
Nesta unidade, foram apresentados conceitos da teoria piagetiana. Você pôde compreender,
por meio de vídeos e textos, esses conceitos e refletir sobre o desenvolvimento infantil e a
aprendizagem. Propomos, então, três tarefas:
Atividade
• Rita é professora do 2º ano do Ensino Fundamental e ela precisa planejar uma atividade
com o conceito de adição para a sua turma.
Descreva a atividade passo a passo. Destaque os pontos que ela deverá levar em
consideração de acordo com a teoria piagetiana, justificando-os teoricamente.
65
UNIDADE 3
Referências
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. M. R. Psicologia na educação. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
FERNANDES, E. Esquemas de ação de Piaget. Nova Escola, São Paulo, jan./fev. 2011.
Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/esque
mas-acao-piaget-sujeito-epistemico-jean-617999.shtml?page=0>. Acesso em: 1 out. 2015.
JEAN PIAGET. Roteiro e apresentação: Yves de La Taille. Brasil: Atta Mídia e Educação,
2006. (Coleção Grandes Educadores) 57 min. 1 DVD. Disponível em: <http://www.attamidia.
com.br/produtos.php?/prd/149/grandes-educadores/>. Acesso em: 21 dez. 2015.
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UNIDADE 4
Aqui, vale acrescentar que a obra desse pensador foi influenciada pelo contexto histórico-
cultural da União Soviética, que ainda se encontrava em situação de isolamento político-
econômico durante o período Stalinista. Essas circunstâncias permitiram que o autor se
aproximasse das ideias de Marx e Engels. Além disso, Vygotsky contou com pensadores
como Luria e Leontiev para a elaboração de uma rica produção intelectual e científica que
ganhou prospecção apenas em 1962, nos Estados Unidos, por meio da tradução da obra
Pensamento e Linguagem (1993). Posteriormente, sua produção foi traduzida também
para o espanhol e vastamente divulgada por todo o ocidente.
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UNIDADE 4
Assim, ancorado no materialismo dialético de Marx e Engels, sua obra visa quebrar as
ideias mecanicistas de desenvolvimento humano e ressalta, a partir de uma perspectiva
explicativa, que o homem é um sujeito que interage com o meio ambiente (interacionista).
Dessa forma, o indivíduo possui um desenvolvimento dinâmico e contínuo, ou seja, é por
meio da interação com o ambiente que o homem desenvolverá a própria consciência a
partir das influências sociais (consciência social).
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UNIDADE 4
De maneira rica para a pedagogia e para a área educacional, o autor também cunhou os
termos Nível de Desenvolvimento Real (as funções mentais já fazem parte do repertório
cognitivo do sujeito sendo uma aprendizagem já adquirida), Nível de Desenvolvimento
Potencial (as funções mentais que ainda não amadureceram, mas que estão em processo
de maturação, ou seja, aquilo que o sujeito consegue realizar com a ajuda de um adulto
ou de um par mais experiente). Entre os dois níveis de desenvolvimento (real e potencial),
encontra-se a Zona de Desenvolvimento Proximal que é a distância da aprendizagem entre
o nível de desenvolvimento real e potencial. Então, “a Zona de Desenvolvimento Proximal
refere-se, assim, ao caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções
que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas,
estabelecidas no seu Nível de Desenvolvimento Real” (OLIVEIRA, 1997, p. 60).
Por fim, o conceito de Mediação pode ser compreendido como todas as formas de interação
entre o sujeito e o meio externo, ou seja, é a utilização de elementos intermediários em
sua relação com o mundo. Vygotsky distingue a mediação realizada por instrumento, por
exemplo, quando nos utilizamos de uma caneta para escrever, e por signos que são a
representação mental de um elemento mediador, por exemplo, a palavra cadeira é um
signo que representa o objeto cadeira.
É importante destacar que Vygotsky possui renome na área educacional, uma vez que suas
propostas são amplamente aceitas pela comunidade acadêmica, porque revela a aceitação
do educando dentro da própria realidade, ou seja, contextualizando e considerando
variáveis importantes, tais como: aspectos inatos, estrutura familiar e sua rede social
estendida, desenvolvimento psicológico, capital cultural, realidade socioeconômica etc.
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UNIDADE 4
Objetivos de aprendizagem
Objetivos conceituais
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UNIDADE 4
Explorando os conceitos
Estudaremos agora as proposições de Lev Vygotsky. Para isso, é importante que conheça
uma história clássica para os estudiosos desse pensador, o “Conto das Meninas Lobo”
(LEYMOND, 1965 apud ARRUDA ARANHA; PIRES MARTINS, 2003).
Pare e pense!
Você conhecia esse conto? O que achou dele? Do seu ponto de vista, por que Amala
e Kamala apresentavam comportamentos semelhantes aos de lobos (animais)?
Além disso, você concorda que os elementos biológicos não foram suficientes para
o desenvolvimento e a aprendizagem humana? A partir de sua compreensão, quais
variáveis fizeram falta para o desenvolvimento das meninas lobas?
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UNIDADE 4
Fonte: 3.bp.blogspot.com
Para complementar
este contato inicial
com a obra de
Vygotsky, assista ao
vídeo “Lev Vygotsky
Coleção Grandes
Educadores”,
elaborado pela
ATTA Editora, que
é apresentado
pela pesquisadora
brasileira Marta Kohl.
Fonte: 1.bp.blogspot.com
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UNIDADE 4
Explorando os conceitos
Não há como deixar de apontar que Vygotsky produziu um vasto e rico material intelectual,
com características próprias, marcado por efervescências de ideias que contaram
com dados e informações de distintas áreas do conhecimento, tornando sua produção
peculiar e de grande utilidade nas áreas humanas do saber. Ele opôs-se veementemente
ao enquadramento descritivo quantitativo (diagnóstico) do indivíduo, valorizando o
enfoque qualitativo para a compreensão do desenvolvimento das funções intelectuais, da
consciência e da atuação do indivíduo na natureza.
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
Fonte: istockphoto.com
Dessa forma, vale observar que, já naquela época, o autor apresentou a ideia
de que o cérebro humano é mutável, dinâmico, e vastamente adaptável,
susceptível às mudanças e transformações em interações recíprocas com o
ambiente.
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UNIDADE 4
Vamos refletir!
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
Sendo assim, as funções psicológicas possuem um suporte biológico, pois são produto de
atividades cerebrais que evoluem de funções psicológicas inferiores do desenvolvimento
infantil para funções psicológicas superiores, forma mais complexa do pensamento dos
adultos. Isso permite compreender que o desenvolvimento psicológico é um processo
tipicamente humano, particularmente por causa das transformações das Funções
Psicológicas Inferiores em Superiores, fortemente amparadas nos modos históricos e
culturais para a constituição do psiquismo de um ser humano real, distinto das demais
espécies animais.
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UNIDADE 4
Façamos uma pausa importante para resgatar conceitos teóricos tratados nesta
unidade. Registre suas ideias sobre:
1) Funções Psicológicas Inferiores.
2) Funções Psicológicas Superiores.
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UNIDADE 4
Para melhor compreendermos essa relação, apontamos para outro conceito importante
dessa teoria: a internalização. No processo de internalização, ocorre a passagem, a
transição do social para o individual. Assim, a aprendizagem inicialmente interpsíquica
transforma-se em ação intrapsíquica. A interiorização é a reconstrução de um nível
interpsicológico para uma operação intrapsicológica. Para Vygotsky, esse processo vai
além da adaptação; é uma apropriação que assinala a reconstrução de conceitos e
comportamentos desenvolvidos historicamente. Ao longo de seu desenvolvimento, toda
função aparece duas vezes: no nível social e, mais tarde, no nível individual; primeiro
entre pessoas (interpsicológica), e, posteriormente, no interior da própria criança
(intrapsicológica). Assim, as funções psicológicas possuem a sua origem a partir das
relações entre seres humanos.
Reflita: você já havia pensado sobre essas questões? Ou seja, sobre como nossa
capacidade de pensamento e de utilização da linguagem nos diferencia das demais
espécies animais?
O NDR é definido como aquilo que o aprendiz já possui internalizado em seu repertório
de conhecimento, ou seja, aquilo que ele já sabe, é determinado pelas competências e
capacidades do indivíduo para resolver situações problemáticas de maneira independente.
Já o NDP caracteriza-se como as possibilidades de realização de tarefas e ações com a
ajuda e a colaboração de alguém mais experiente.
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UNIDADE 4
Esse conceito revela a característica prospectiva da teoria vygotskyniana, pois não basta
compreender os conhecimentos e as capacidades que já estão estabilizados, ou seja, o
que as crianças ou adultos realizam sem o suporte de outros adultos ou crianças mais
experientes em relação a uma dada situação. Vygotsky aponta que é na interação que
criamos espaço para a organização de novas competências.
Antes dessa teoria, nossos olhos se voltavam apenas para o que a criança já era capaz
de realizar sozinha. Veja, por exemplo, o papel da avaliação. Ao voltarmos os nossos
olhos para a compreensão da aprendizagem, evidenciando o caráter retrospectivo e o
conhecimento já adquirido pelas crianças, o caráter prospectivo da teoria de Vygotsky
aponta a escola como palco privilegiado de novas aprendizagens. É na escola que os
conhecimentos sistematizados, construídos ao longo da história pela humanidade,
ganham intencionalidade. Essa aprendizagem não ocorre de forma espontânea como
os conhecimentos do cotidiano; ela necessita de organização de estratégias próprias,
diferentemente dos conhecimentos informais. A construção do conhecimento em sala de
aula é um processo social e compartilhado entre todos.
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UNIDADE 4
Conforme pode ser observado na figura anterior, para Vygotsky, uma completa compreensão
do desenvolvimento humano implica em considerar dois níveis de desenvolvimento: o real
e o potencial, sendo que, entre os dois níveis, há uma zona de desenvolvimento proximal/
dinâmica – espaço de atuação/mediação docente.
Outro conceito importante na obra de Vygotsky é a mediação. O autor destaca que “[...]
na ausência do outro, o homem não se constrói homem, portanto aponta que somos
geneticamente sociais [...]”.
Assim, o papel do meio social de maneira geral – família, escola, educadores, comunidade
estendida etc. – configura-se palco de construções de aprendizagens e desenvolvimento
humano. Vale apontar que é a aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento. A escola,
então, é caracterizada como espaço privilegiado de relação e inserção cultural dos sujeitos
humanos.
Para Vygotsky, o conceito de mediação é fundamental, pois revela que nosso contato
com o mundo não é direto, mas mediado pela cultura na qual estamos inseridos. Quando
nascemos, estamos em estado de total indiferença com o meio. Essa indiferença revela-
se como a forma que nos apresentamos misturados com as pessoas e os objetos. O
processo de diferenciação é gradual e depende de nossa relação com o ambiente,
portanto, a cultura é a grande responsável (enquanto mediadora) para os processos de
aprendizagem e desenvolvimento humano.
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UNIDADE 4
Retomando, é a partir das interações com o meio cultural que desenvolvemos as funções
psicológicas inferiores e superiores, constituindo-se e apropriando-se do universo humano.
A mediação apresenta-se como mecanismo de significação do mundo, das pessoas,
dos objetos, dos sentimentos. Essa mediação pode ser realizada por instrumentos ou
signos. Os instrumentos são as ferramentas culturalmente produzidas que ampliam
as possibilidades de interação do homem. Nos relacionamos com o mundo usando
instrumentos intermediários, como uma faca para descascar uma fruta.
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
• Além disso, vale apontar que a mediação possibilita evolução no Nível de Desenvol-
vimento Real (aquilo que o aprendiz já possui em seu repertório de aprendizagem);
Nível de Desenvolvimento Potencial (aquilo que se encontra na instância psíquica
do aprendiz, mas ainda não compõe seu repertório de aprendizagem) e Zona de
Desenvolvimento Proximal (ou seja, o que a criança realiza com o auxílio dos mais
experientes).
Aplicando os conceitos
Depois de refletir sobre como construímos a nossa condição humana a partir de determinado
contexto sócio histórico, sugerimos a organização de uma síntese das ideias presentes na
teoria de Vygotsky.
Atividade
• Descreva a cena.
• Exponha a forma como os alunos estavam organizados no espaço físico da sala de
aula.
• Explique como a professora conduziu a atividade.
• Como foi realizada a correção?
• Atente-se para as interações que ocorrerem durante a cena, seja entre as crianças,
seja entre professores e crianças.
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UNIDADE 4
Referências
OLIVEIRA, M. K.; REGO, T. C. Vygotsky e as complexas relações entre cognição e afeto. In:
ARANTES, V. A. (Org.). Afetividade na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo:
Summus, 2003. p. 13-35. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=GlGJjoD
Vt1EC&lpg=PP1&hl=pt-BR&pg=PA14#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 19 dez. 2015.
REVISTA VIVER MENTE & CÉREBRO. Coleção Memória da Pedagogia: Liev Seminovich
Vygotsky, n. 2. Editor Manoel da Costa Pinto; [colaboradores Adriana Lia Frizzman...et
al]. – Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Segmento-Duetto, 2005. p. 1-37. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/>. Acesso em 21 dez. 2015.
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UNIDADE 4
Bibliografia complementar
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UNIDADE 5
Assim como Piaget, Wallon ampara a sua teoria na perspectiva psicogenética a fim de
auxiliar a compreensão do desenvolvimento e da aprendizagem humana. No entanto,
as propostas dele acerca das fases do desenvolvimento infantil não são percebidas
como impassíveis de retrocessos. Pelo contrário, o autor acredita que no curso do
desenvolvimento, adquirimos, perdemos e readquirimos habilidades, ressignificando e
interiorizando conhecimentos já adquiridos, assim como novos conhecimentos.
Em sua obra, ele destaca a afetividade e o movimento como molas propulsoras para
o desenvolvimento da inteligência e consequentemente da aprendizagem infantil.
O professor da Educação Infantil que atua com crianças da primeira infância poderá
perceber o desabrochar dos aspectos psicomotores e a aprendizagem da criança, que
em um processo contínuo, evidenciará a ligação entre essas duas instâncias.
Lembre-se de que além disso, a afetividade proposta por Wallon em nada se aproxima da
afetividade conhecida por nós como o acolhimento, beijos, abraços, afagos etc., mas sim
uma compreensão da necessidade do outro para o desenvolvimento do indivíduo.
Compreender e fazer uso da teoria de Wallon significa cuidado, zelo e atenção aos
processos de desenvolvimento e aprendizagem de seus alunos, evitando o distanciamento
deles e preservando uma relação de respeito necessária para a relação professor-aluno.
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UNIDADE 5
Objetivos de aprendizagem
Objetivos conceituais
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UNIDADE 5
Explorando os conceitos
Wallon atendeu crianças com deficiência e combatentes de guerra nas duas grandes
guerras, acreditando em suas potencialidades para a aprendizagem e recuperação
de traumas. Academicamente, atuou na condição de professor chefe de cadeira em
renomadas universidades, como a l’Université de Sorbonne.
Sua obra é fascinante, pois o leitor pode realizar uma viagem em um texto simples, mas
extremamente completo, que apresenta uma relação materialista dialética do ser. Para
Wallon, não existem verdades absolutas, mas condições de novas direções, reconstruções
e ressignificações, principalmente na aprendizagem.
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UNIDADE 5
Com o propósito de expandir seu conhecimento sobre este autor, vale destacar suas
principais obras:
Observe que Wallon aponta o desenvolvimento humano como um processo pelo qual o
indivíduo é transferido de uma completa imersão social, na qual ele não se diferencia do
meio, para um estado no qual ele pode efetivamente distinguir-se do meio, avançando em
seu processo de individuação e internalização de conteúdos sociais para a formação de
processos interpsíquicos e intrapsíquicos.
Aqui, é importante entender que a partir desta ótica de desenvolvimento humano, Wallon
concebeu quatro campos funcionais para a aprendizagem:
4) Formação do eu (Pessoa).
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UNIDADE 5
Este campo funcional possui importância singular no campo cognitivo infantil e é marcado
por duas funções específicas:
4) FORMAÇÃO DO EU – PESSOA
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UNIDADE 5
APROPRIANDO-SE DE CONCEITOS
Agora, com o objetivo de compreender melhor a proposta de Wallon, propomos uma breve
reflexão sobre os campos funcionais apresentados. Neste sentido, pedimos que você redija
um texto de quatro páginas (uma para cada campo funcional), no qual discorrerá sobre o
que compreendeu de cada um dos campos funcionais apresentados, exemplificando de
que maneira entende o conceito teórico no cotidiano docente do professor. Assim, deixamos
algumas dicas a fim de guiar o seu pensamento para a solidificação da aprendizagem.
Pense nos campos funcionais e em suas conexões com a rotina escolar de alunos da
Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental:
Façamos uma pausa importante para destacar que, nas proposições teóricas de Wallon,
a afetividade não se refere ao acolhimento maternal, toque, afagos, beijos e abraços do
professor ao aluno e vice-versa; é uma percepção, observação e compreensão do professor
nos processos de aprendizagem de seus alunos, com vistas a instigá-los, provocá-los e
despertar desejo e motivação para a aprendizagem.
4) Pessoa: de que forma você acha que a escola contribui para a formação da
personalidade da criança? Justifique a sua resposta.
Observe a imagem a seguir. Reflita sobre o papel do professor, tendo como referência a
teoria de Wallon. De que maneira você acredita que a ilustração contribui para o processo
de aprendizagem?
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UNIDADE 5
Fonte: istockphoto.com
Estágios de desenvolvimento
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UNIDADE 5
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UNIDADE 5
Você já observou que podemos aprender por imitações? Pesquise e relate uma
aprendizagem não humana que utiliza esse processo de imitação. Qual é a diferença
desse movimento para o movimento cognitivo humano?
Pense nas brincadeiras realizadas pelas crianças com os brinquedos, por exemplo, blocos
de montar.
Por exemplo, nesta etapa, é facilmente observável que a criança protesta veemen-temente
contra as ordens dos adultos e também os questiona utilizando “por quês” com frequência.
Por exemplo, aqui é facilmente observado que a criança consegue manter a atenção
sustentada por mais tempo se comparada com crianças menores. É válido apontar que,
nesta faixa etária, as crianças já estão inseridas nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
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UNIDADE 5
Síntese
Finalizamos esta unidade explicitando que Wallon é um autor que pode ser
bastante estudado por profissionais da área educacional, principalmente
porque ele utiliza como base os aspectos da afetividade, os quais funcionam
como alicerceres para o progresso de todos os outros campos funcionais do
desenvolvimento humano.
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UNIDADE 5
Aplicando os conceitos
Nesta unidade, apresentamos a teoria de Henri Wallon, por meio de vídeos e textos. Você
teve a possibilidade de compreender essa teoria e refletir sobre como o desenvolvimento
infantil e a aprendizagem ocorrem, a partir da ótica do autor. Portanto, propomos uma
tarefa para consolidação de seu conhecimento.
Atividade
Por meio do material apresentado, foi possível conhecer melhor os pressupostos teóricos
de Wallon e refletir sobre a prática pedagógica. Agora, convidamos você a explicar o
estágio do Personalismo relacionando-o com uma situação corriqueira que pode ocorrer
na escola, na qual os alunos apresentem as características desta fase.
Bom trabalho!
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UNIDADE 5
Referências
FERRARI, M. Henri Wallon, o educador integral. Nova Escola, São Paulo, jul. 2008.
Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/educador-integral-423298.
shtml>. Acesso em: 19 jul. 2015.
VOCÊ FAZ O QUE REALMENTE AMA? SOMOS A GERAÇÃO Y. Produção: BOX1824. Somos
Geração Y, 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dhmZrZSwTPs>.
Acesso em: 21 dez. 2015.
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