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Uma Crítica Popperiana ao Raciocínio Sociológico de

Jean-Claude Passeron
[A Popperian Analisys of Jean-Claude Passeron’s Sociological Reaso-
ning]

Sergio Tarbes*

Resumo: No livro O Raciocínio Sociológico: o espaço não popperiano


do raciocínio natural, o sociólogo francês Jean-Claude Passeron afirma
que a utilização estrutural de linguagem natural nas ciências sociais
cria o que denomina “raciocínio sociológico”, um método baseado
no raciocínio natural onde não seriam possíveis a “demarcação” e
“falseabilidade” de Popper e os “paradigmas” e a “ciência normal” de
Kuhn. O presente artigo se propõe a analisar os fundamentos empí-
ricos da afirmação de Passeron por meio de um método inspirado nas
ideias de Karl Popper, consistente, no caso, na apresentação de exem-
plos empíricos que a contradigam. Os resultados permitem concluir
que se existem dificuldades nas ciências sociais para a realização de
experimentos e para a consolidação de paradigmas, tais dificuldades
não podem ser atribuídas à utilização da linguagem natural.
Palavras-chave: Passeron, raciocínio sociológico, ciências sociais,
Popper, Kuhn.

Abstract: In the book Le raisonnement sociologique: L’espace non-


poppérien du raisonnement naturel, the French sociologist Jean-Claude
Passeron argues that the structural use of natural language in the so-
cial sciences creates what he calls "sociological reasoning," a method
based on natural reasoning where Popper’s "demarcation" and "falsi-
fiability" and Kuhn’s "paradigms" and "normal science" would not be
possible. This article analyzes the empirical foundations of Passeron’s
assertion by means of a method inspired by the ideas of Karl Popper,
consisting, in this case, in the presentation of empirical examples that
contradict it. The results allow us to conclude that if there are difficul-
ties in the social sciences to perform experiments and to consolidate
paradigms, such difficulties cannot be attributed to the use of natural
language.
Keywords: Passeron, sociological reasoning, social sciences, Popper,
Kuhn.

Introdução natural, de Jean-Claude Passeron,


é, antes de tudo, um libelo em de-
O livro O Raciocínio Sociológico – o fesa do valor epistemológico das
espaço não-popperiano do raciocínio

* Mestre em Filosofia pela Universidade de Brasília. E-mail: sebrat01@gmail.com.

Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.6, n.2, dez. 2018, p. 131-151 131
ISSN: 2317-9570

DOI: https://doi.org/10.26512/rfmc.v6i2.22106
SERGIO TARBES

ciências sociais. Mas a obra tam- cias naturais que utilizam exten-
bém é uma teoria sobre as possi- samente linguagens artificiais2 , e
bilidades epistemológicas e meto- que o objeto das ciências sociais
dológicas das ciências sociais, em insere-se sempre em um contexto
especial as que o autor denomina histórico, delimitado no tempo e
“históricas” e “gerais”: a sociolo- no espaço, que jamais se repete
gia, a antropologia e a própria his- com todas suas características e
tória. variáveis em outro local ou outro
Desenvolvendo a defesa, Passe- momento, em tudo diferente do
ron afirma que as ciências sociais objeto das ciências naturais. Es-
já são realizadas na única forma sas duas características – lingua-
em que podem ser realizadas1 , gem natural e contexto histórico
que quaisquer avanços teóricos ou – combinam-se para criar o que
tecnológicos não alterarão a essên- Passeron denomina de “raciocínio
cia de sua abordagem atual, e que sociológico” ou “raciocínio natu-
as características de que se reves- ral”: uma forma de explicar a re-
tem as ciências sociais já são fi- alidade histórica e social que se
nais, e não parte de um processo utiliza de conceitos contextuali-
evolutivo que pode vir a alterar zados, metáforas e comparações
seus métodos e seu alcance. metodologicamente controladas,
Desenvolvendo a teoria, o au- e vulnerabilidade empírica fun-
tor expõe sua visão sobre as ca- dada em observações amplas e
racterísticas essenciais das ciên- sistematizadas, mas válidas ape-
cias sociais, em virtude das quais nas em determinados contextos
é possível identificar suas dife- espaço-temporais.
renças frente às ciências naturais Com isso Passeron afirma exis-
e estabelecer seu método especí- tir nas ciências sociais um espaço
fico. Passeron afirma que as ciên- não-popperiano, ou seja, uma área
cias sociais utilizam a linguagem do conhecimento humano onde os
natural, diferentemente das ciên- pontos centrais da filosofia das ci-

1 Em relação ao aspecto que interessa ao presente artigo, essa única forma diz respeito à utilização privilegiada
de linguagens naturais nas ciências sociais.
2 Ainda que seja questionável a utilização das expressões “língua artificial” ou “linguagem artificial”, em refe-
rência aos sistemas formais, ou sistemas simbólicos, como a matemática, a geometria e a lógica, elas foram mantidas
por duas razões principais: primeiro, porque são as expressões utilizadas por Passeron no texto sob análise (vide
PASSERON, 1995, p. 470), e, segundo, porque estabelecem uma dicotomia, bastante interessante para os objetivos
do presente trabalho, com as expressões “língua natural” e “linguagem natural”, também utilizadas por Passe-
ron. As línguas ou linguagens naturais seriam aquelas utilizadas pelo ser humano em sua comunicação usual com
outros seres humanos e por meio da qual são eles capazes de realizar descrições sobre o mundo que os cerca e
narrativas sobre as experiências vividas ou observadas. Essa explicação sucinta é suficiente para que o leitor possa
compreender a argumentação apresentada no presente artigo.

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ências de Karl Popper – mas ao M. Ferreira “(...) desde os anos


final, e por outras razões, também 90 vem crescendo o número de
de Thomas Kuhn3 – não teriam autores que, talvez descontentes
aplicação. Nesse sentido, não se com os resultados do interpretive
aplicariam às ciências sociais a turn, voltaram a defender a pos-
“demarcação” e a “falseabilidade” sibilidade do unitarismo metodo-
de Popper4 e os “paradigmas” e a lógico”, o que “implica recusar a
“ciência normal” de Kuhn5 , ideias suposta especificidade epistemo-
essas que ambos os filósofos afir- lógica do objeto das ciências soci-
maram ser aplicáveis a todas as ais” (FERREIRA, 2008: 19).
ciências6 . O presente artigo insere-se
Caso Passeron esteja certo, a so- nesse debate, qual seja, em ter-
ciologia já teria atingido sua ma- mos amplos, sobre as especifici-
turidade com uma abordagem es- dades dos métodos a serem utili-
pecífica das ciências sociais his- zados nas ciências sociais em re-
tóricas – consistente no “raciocí- lação àqueles utilizáveis nas ciên-
nio natural” ou ”raciocínio socio- cias naturais, e, em termos espe-
lógico” -, o que afastaria em defi- cíficos, sobre a validade das refe-
nitivo a hipótese de unicidade do ridas afirmações e Popper e Kuhn
método científico e posicionaria o para as ciências sociais.
âmbito de validade das ideias de Estabelecida a oposição especí-
Popper e Kuhn apenas nas ciên- fica entre as ideias de Passeron e
cias naturais. as de Popper e Kuhn, este trabalho
Não se pode afirmar que a posi- se propõe a analisar um dos pila-
ção defendida pelo autor francês – res da tese de Passeron. Extrai-se
por ele construída ao longo da dé- do texto de Passeron que o “ra-
cada de 1980 -, tenha prevalecido. ciocínio sociológico” é moldado a
Conforme apontado por Roberto partir de duas características prin-

3 O debate entre Karl Popper e Thomas Kuhn é amplo, não cabendo aqui revisitá-lo. As razões pelas quais as
teses de Passeron se opõem a ambos será esclarecida ao longo do presente artigo.
4 O próprio Popper parece concordar com essa afirmação de Passeron, uma vez que propôs dois métodos espe-
cíficos para as ciências sociais, a análise situacional e a engenharia social de ação gradual, bastante diferentes do
método por ele proposto para as ciências naturais, decorrente da demarcação. Não obstante, as razões popperi-
anas para tanto são bem diferentes daquelas apresentadas por Passeron. O presente artigo analisa um conjunto
específico de razões apresentado por Passeron.
5 Kuhn também parece concordar com essa afirmação de Passeron, mas a razão para tanto advém de uma discor-
dância entre ambos: Kuhn acreditava que as ciências sociais não tinham se desenvolvido integralmente, e apenas
por essa razão não tinham ainda atingido o estágio paradigmático e de ciência normal. Como já afirmado na nota
anterior, o presente artigo analisa um conjunto específico de razões apresentado por Passeron.
6 Exemplos dessas afirmações podem ser encontrados em POPPER, 2007, p. 35 (“denomino problema de de-
marcação o problema de estabelecer um critério que nos habilite a distinguir entre as ciências empíricas, de uma
parte, e a Matemática e a Lógica, bem como os sistemas ‘metafísicos’, de outra”) e KUHN, 2009, p. 31 (“a aquisição
de um paradigma (...) é um sinal de maturidade de qualquer campo científico”).

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cipais. A primeira, a de necessa- teorias científicas. Por outro lado,


riamente ser construído em lin- e ao construir suas proposições,
guagem natural. A segunda, a de Passeron aparentemente atraves-
necessariamente referir-se a obje- sou a tênue fronteira entre asser-
tos inseridos em contextos deli- ções metafísicas e asserções empí-
mitados espacial e temporalmente ricas. Se isso é verdade, como se
(históricos). A argumentação aqui tentará demonstrar mais adiante,
desenvolvida restringe-se a anali- suas proposições passam a ser em-
sar o primeiro desses aspectos, em piricamente criticáveis.
especial algumas das consequên- Em outras palavras, e como será
cias que Passeron afirma advirem detalhadamente descrito a seguir,
da utilização da linguagem natu- é a forma lógica sob a qual fo-
ral nas ciências sociais. ram redigidas grande parte das
proposições apresentadas por Pas-
seron que permite que o método
Sobre a possibilidade de crítica
de refutação empírica aqui utili-
das proposições de Passeron por
zado, inspirado nas ideias de Pop-
meio da refutação empírica
per, seja a elas aplicável. Assim,
Uma vez que Passeron pretendeu o que torna possível criticar em-
excluir Popper e Kuhn do jogo das piricamente as proposições apre-
ciências sociais, nada mais justo sentadas por Passeron, não reside
que se utilize os argumentos de no entendimento de serem “cien-
pelo menos um deles para tentar tíficas” ou de o autor tê-las cons-
fazer com que ambos retornem. truído com essa intenção, e tam-
Para tanto, a opção metodológica bém não depende dos conceitos de
de análise e crítica das teses de teoria científica ou de explicação
Passeron, relativas às consequên- científica construídos por Popper,
cias da utilização da linguagem mas sim do fato de serem logica e
natural pelas ciências sociais, será empiricamente refutáveis.
inspirada nas ideias popperianas O método de refutação empí-
de refutação empírica, conforme rica popperiano pode ser logi-
sucintamente descrito adiante. camente descrito (ou encontra-se
A construção do autor francês é logicamente fundamentado) por
filosófica - um exercício crítico a meio do modus tollens da seguinte
ser examinado e criticado e não a forma (POPPER, 2007, p. 80):
ser refutado -, e, portanto, talvez - se uma conclusão “p” é
não seja de todo correto utilizar, dedutível do sistema de
a título de instrumento de crítica, enunciados (proposições)
um método criado para teste de “t”,
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- e se “p” revela-se falsa, cias pode ser extraída da combi-


nação de subproposições das Pro-
- então “t” será necessari-
posições 1, já referida, e 2: “Não
amente falso.
existe e não pode existir lingua-
Para avançar em nossa aná- gem protocolar unificada da des-
lise crítica sobre as proposições crição empírica do mundo histó-
de Passeron torna-se necessário, rico” (PASSERON, 1995, p. 405),
então, deduzir consequências de quais sejam, a proposição 2.4: “A
suas proposições. Pela restrição sociologia, assim como a histó-
estabelecida ao escopo do pre- ria ou a antropologia, em seus
sente trabalho, devem ser ana- enunciados finais, só se pode falar
lisadas consequências relaciona- em língua natural” (PASSERON,
das exclusivamente à utilização de 1995, p. 422), a proposição 1.2.1:
linguagem natural pelas ciências “Um alto grau de consenso reali-
sociais. zado num grupo de especialistas
A primeira dessas consequên- e relacionado a um alto grau de
cias pode ser extraída diretamente estabilização de uma linguagem
da Proposição 1: “As ciências em- de descrição do mundo define um
píricas são linguagens de descri- ‘paradigma’ científico” (PASSE-
ção do mundo que devem produ- RON, 1995, p. 403) e a proposi-
zir um tipo particular de conhe- ção 2.1: “A sociologia não toma e
cimento com as provas empíricas nem pode tomar a forma de um
que a estrutura lógica dessas lin- saber cumulativo, isso é, um sa-
guagens torna possíveis e necessá- ber cujos conhecimentos acumu-
rias” (PASSERON, 1995, p. 400). lados fossem organizados por um
Se, conforme afirma Passeron, “as paradigma teórico” (PASSERON,
ciências empíricas são linguagens 1995, p. 407). Assim, se cada ci-
de descrição do mundo” e se essas ência tem sua linguagem especí-
linguagens produzem “um tipo fica (já referida proposição 1), se
particular de conhecimento” ad- a linguagem específica da sociolo-
vindo “da estrutura lógica des- gia é a linguagem natural (propo-
sas linguagens”, o que determi- sição 2.4), se apenas um “alto grau
naria, inclusive, as provas empíri- de consenso realizado num grupo
cas possíveis em seu âmbito, en- de especialistas”, consenso esse
tão é porque cada ciência tem suas dependente de “um alto grau de
provas empíricas, sua linguagem e estabilização de uma linguagem”,
seu tipo de conhecimento específicos torna possível a definição de um
(primeira consequência). paradigma científico (proposição
A segunda dessas consequên- 1.2.1), e se a “sociologia não (...)

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pode tomar a forma de um saber uma dada ciência são determina-


cumulativo” organizado “por um dos pela linguagem nela utilizada
paradigma teórico” (proposição e respectiva estrutura lógica (pro-
2.1), então é porque a linguagem posição 1), se “a sociologia (...) só
natural, sempre “instável”, impede se pode falar em língua natural”
a estabilização da linguagem cien- (proposição 2.4), se “a pertinência
tífica e, consequentemente, a consti- empírica dos enunciados socioló-
tuição de “paradigmas”, a realização gicos” só pode ser realizada por
de ciência normal e a acumulação de meio de “observação (...) jamais
conhecimentos científicos (segunda da experimentação” (proposição
consequência). 2.2), e se “a prova empírica de
A terceira e última consequên- uma proposição teórica(...) em so-
cia pode ser extraída da combina- ciologia” não pode “revestir-se da
ção das Proposições 1, já referida, forma lógica da ‘refutação’ (‘fal-
e 3: “A prova empírica de uma sificação’) no sentido popperiano”
proposição teórica jamais pode em (proposição 3), então é porque a
sociologia revestir-se da forma ló- utilização de linguagem natural em
gica da ‘refutação’ (‘falsificação’) uma dada ciência impede a realiza-
no sentido popperiano” (PASSE- ção de observação e de experimen-
RON, 1195, p. 426) com subpro- tos falseadores no sentido popperi-
posições da proposição 2, quais ano (terceira consequência).
sejam a já referida proposição 2.4 Esclarecido como se dá a refu-
e a proposição 2.2: “A vulnerabi- tação empírica em sua estrutura
lidade e, portanto, a pertinência lógica e a forma como foram de-
empíricas dos enunciados socioló- duzidas da teoria de Passeron as
gicos não podem ser definidos a três consequências que são aqui
não ser numa situação de levanta- submetidas à crítica, resta escla-
mento parcial da informação so- recer como essas consequências
bre o mundo que é o da observa- serão efetivamente submetidas ao
ção histórica – jamais a da experi- confronto empírico7 .
mentação” (PASSERON, 1995, p. Quase todas as proposições de
409). Assim, se os tipos de prova Passeron expressam impossibili-
empírica a serem utilizados em dades existenciais, uma vez que

7 Por confronto empírico quer-se aqui dizer a busca de uma ocorrência no mundo real declarada impossível
pela consequência decorrente das proposições de Passeron. Caso encontrada essa ocorrência, então terá ocorrido a
refutação. O método lógico-empírico aqui utilizado funda-se, como já salientado, nas ideias de Popper, cujos as-
pectos essenciais estão aqui sendo observados: a dedução de consequências a partir de um sistema de proposições;
a possibilidade de descrição prévia, em abstrato, de uma ou mais ocorrências que refutem essas consequências;
a observação ou verificação, em concreto, da ocorrência refutadora prevista em abstrato; e a possibilidade de a
observação dessa ocorrência ser reproduzível.

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construídas com expressões como e vice-versa (POPPER, 2009, p.


“jamais” (proposição 1.1, 2.2, 3, 72). Com efeito, é fácil perceber
3.1.1), “nenhum” ou “nenhuma” que expressões do tipo “não toma
(proposição 1.1.1, 3.1), “não existe nem pode tomar”, extraída da re-
e não pode existir” (proposição ferida proposição 2.1, expressam
2), “não toma nem pode tomar” um enunciado universal. O enun-
(proposição 2.1), “não podem” e ciado “todos os cisnes são bran-
“não pode” (proposição 2.2, 2.2.1, cos” pode ser escrito sob a forma
2.2.2), “só pode” – no sentido de “um cisne não toma e não pode to-
“não pode ser diferente de” (pro- mar uma cor diferente de branco”.
posição 2.2.3, 2.4), “não passível Popper explica que ambos os
de” (proposição 2.3), ou “devem tipos de enunciado, estritamente
ser sempre” – no sentido de “não universais e negativas de estrita-
podem deixar de ser” (proposi- mente existenciais, “precisamente
ção 2.4.1) (PASSERON, 1995, pp. por agirem” no sentido da “não
400 a 461). Pode-se afirmar, por- existência de certas coisas ou es-
tanto, que as proposições de Pas- tados de coisas, proscrevendo ou
seron são construídas sob a forma proibindo, por assim dizer, es-
de negativas de enunciados es- sas coisas ou estados de coisas”,
tritamente existenciais, na forma tornam-se logicamente refutáveis
genérica “não há e não haverá por um enunciado existencial sin-
...”. A já referida proposição 2.1, gular (POPPER, 2009, p. 72). Em-
por exemplo, pode ser escrita na piricamente, a proibição de que
forma “não há e não haverá saber existam cisnes de cores diferentes
acumulativo na sociologia organi- de branco pode ser falseada pela
zado por um paradigma teórico”. simples apresentação de um cisne
Analisando logicamente os de qualquer outra cor, apresenta-
enunciados universais, Popper ha- ção essa que pode ser expressa sob
via concluído que são equivalen- a forma de enunciados existenci-
tes a negações de enunciados es- ais singulares, como, por exemplo,
tritamente existenciais, ou seja, “eis aqui um cisne negro”8 .
que a todo enunciado univer- Assim como as proposições, as
sal corresponde uma negativa de consequências delas deduzidas
enunciado estritamente existen- também são negativas de enun-
cial de sentido lógico equivalente, ciados estritamente existenciais,

8 O método de refutação empírica aqui utilizado não requer a realização de experimentos dirigidos por pro-
posições que se pretenda refutar. Observações dirigidas pelas proposições que se pretende refutar detém igual
valor, tanto lógico quanto empírico. Isso é totalmente compatível com as ideias de Popper que inspiram a forma de
análise aqui utilizada.

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de onde decorre que para refu- história, segundo ele consequên-


tar uma consequência se faz ne- cias necessárias da utilização de
cessário contrapor um enunciado linguagem natural9 , e nesse con-
existencial singular. Desse modo, texto dicotômico desenvolve sua
no intuito de testar a pertinên- argumentação.
cia empírica das consequências Objetivando apreciar a perti-
das proposições de Passeron, que nência empírica da afirmação do
proíbem determinadas ocorrên- autor francês faz-se necessário es-
cias, serão apresentados exemplos capar desse posicionamento di-
que demonstrem já terem efeti- cotômico estremado, que cria um
vamente ocorrido consequências viés tendente a retirar do campo
que as proposições afirmam serem de análise todas as demais ciên-
impossíveis. cias, e apresentar e analisar exem-
plos de outras ciências, que não as
duas referidas, como, por exem-
Sobre a utilização de linguagens plo, a biologia (como ciência natu-
nas diversas ciências ral) e a economia (como ciência so-
cial) analisadas a seguir, e a psico-
Passeron afirma que cada ciência logia cognitiva (como ciência hu-
tem uma linguagem que lhe é ca- mana), analisada mais adiante em
racterística, da qual decorrem ne- outra seção deste artigo.
cessariamente o tipo de conheci- Com relação às Ciências Bio-
mento produzido naquela ciência lógicas é possível observar que
e o tipo de prova empírica nela as áreas de conhecimento que
utilizado, ou seja, que cada ciên- tenham relação com a físico-
cia tem sua linguagem, seu tipo de química, o metabolismo e a gené-
conhecimento e suas provas empí- tica detenham avançado grau de
ricas específicas. utilização de linguagens artificiais
Ao longo de todo o seu texto, na construção do conhecimento a
o autor atribui às ciências natu- elas relacionado. Por outro lado,
rais características muito específi- o conhecimento relacionado, por
cas das ciências formais e da física, exemplo, à patologia e à fisiolo-
segundo ele consequências neces- gia, conforme será visto mais adi-
sárias da utilização de linguagens ante, encontra-se quase que total-
artificiais, e atribui às ciências so- mente construído em linguagem
ciais características específicas da

9 Vide nota de rodapé nº 2, retro.


10 As afirmações contidas no parágrafo podem ser constatadas, por exemplo, em ROBBINS & COTRAN, 2005, e
BERNE et al., 2004.

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natural10 . Essas afirmações são artificiais nas ciências humanas.


válidas para descrições de expli- Entre essas, a Economia é pro-
cações a respeito de constituição vavelmente aquela que atingiu
e funcionamento dos seres vivos maior grau de formalização. São
tanto em zoologia, quanto em bo- famosas na Microeconomia as cur-
tânica, quanto em medicina. vas que demonstram a análise grá-
Um aspecto interessante a ser fica das correlações entre diver-
suscitado refere-se ao fato de a sos conceitos, como por exem-
Ecologia utilizar a linguagem na- plo, as curvas de oferta e de-
tural e linguagens artificiais (es- manda e as respectivas regras para
tatísticas e grafismos geométri- o deslocamento dessas curvas, ou
cos) na descrição dos mais va- para de elasticidade-preço da de-
riados meio-ambientes - que di- manda, ou para demonstrar con-
zem respeito ao mundo natural e ceitos como o de receita margi-
que, apesar disso, dizem respeito nal (FRANK, 2012, pp. 82/82,
a contextos espaciais diferencia- 103 a 105, 243/244, respectiva-
dos –, demonstrando a extrema mente). Não obstante, toda essa
flexibilidade existente na utiliza- análise pode ser também reali-
ção das linguagens pelos cientis- zada de forma algébrica, eviden-
tas. ciando de forma ainda mais clara
O exemplo mais contundente proporções e relações quantitati-
da utilização da linguagem natu- vas (FRANK, 2012, pp. 93 e
ral nas ciências naturais talvez es- 94). Apesar de essas relações se-
teja na Teoria da Evolução – te- rem mais utilizadas em Microeco-
oria estruturante de toda a bi- nomia, esse tipo de formalização
ologia contemporânea, que tem e a utilização de gráficos para de-
ramificações e consequências em monstrar correlações também são
praticamente todas as suas subá- largamente utilizados em Macroe-
reas -, que foi integralmente cons- conomia, como, por exemplo, cur-
truída em linguagem natural, con- vas de demanda por mão de obra
forme pode ser facilmente obser- em relação a preços de produtos
vado no exame do livro Da Origem (FRANK, 2012, pp. 488 e 489).
das Espécies, de Charles Darwin O melhor exemplo de utiliza-
(DARWIN, 2006). ção estrutural de linguagens arti-
Dados esses exemplos de utili- ficiais nas ciências humanas tal-
zação de linguagem natural nas vez seja encontrado na Econome-
ciências naturais, cabe dar exem- tria. As várias definições possíveis
plo de utilização intensiva, e até dessa área do conhecimento re-
mesmo estrutural, de linguagens metem à necessidade de “dar su-

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porte empírico aos modelos cons- termina o tipo de conhecimento a


truídos pela economia matemá- ser produzido e o tipo de prova a
tica”, ou de analisar quantitativa- ser utilizada em uma dada ciên-
mente “os fenômenos econômicos cia, as duas seções seguintes apre-
concretos, baseada no desenvolvi- sentam exemplos de que é possí-
mento simultâneo de teoria e ob- vel a constituição de paradigmas,
servação, relacionadas por méto- a realização de ciência normal e
dos de inferência adequados”, de o acúmulo de conhecimento cien-
forma que a “econometria pode tífico com a utilização exclusiva
ser definida como a ciência social de linguagem natural e de que é
na qual as ferramentas da teoria possível, utilizando-se exclusiva-
econômica, matemática e inferên- mente a linguagem natural, cons-
cia estatística são aplicadas à aná- truir experimentos diretos ou bus-
lise dos fenômenos econômicos” car observações diretas que obje-
(GUJARATI, 2000, Introdução, p. tivem promover o já referido con-
XXVI). fronto empírico.
É possível observar, a partir
desses exemplos, que as ciências
Sobre a possibilidade de consoli-
não são linguagens específicas de
dação de paradigmas em lingua-
descrição do mundo, como afir-
gem natural
mou Passeron em sua já referida
Proposição 1, ou seja, que cada Conforme já apontado, Passeron
ciência tenha sua linguagem es- afirma que a linguagem natural,
pecífica ou característica. Modo sempre “instável”, impede a esta-
contrário, os exemplos examina- bilização da linguagem científica
dos indicam que as ciências são e, consequentemente, a constitui-
descrições do mundo realizadas ção de “paradigmas”, a realização
nas diversas linguagens disponí- de ciência normal e a acumulação
veis, artificiais e natural, que são de conhecimentos científicos.
utilizadas aparentemente a partir Demonstra-se aqui, com pelo
das necessidades dos cientistas, da menos dois exemplos extraídos da
disponibilidade de ferramentas e biologia (o segundo deles da me-
da compatibilidade entre lingua- dicina, aqui considerada como su-
gem e o objeto específico de es- bárea da biologia), que a utiliza-
tudo, entre outros possíveis aspec- ção de linguagem natural não im-
tos. pede a consolidação de paradig-
Com relação à afirmação no mas.
sentido de que a predominância Em seu livro, A Origem das
de uma ou outra linguagem de- Espécies, Darwin não utilizou
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linguagens artificiais (DARWIN, áreas de conhecimento correlatas,


2006, pp. 453 a 760). Toda como a genética. De qualquer
a teoria foi construída, demons- forma, parece não haver dúvidas
trada e fundamentada exclusiva- de que o paradigma criado por
mente em linguagem natural, e Darwin teve influência direta, ou
transformou-se no que talvez seja mesmo orientou, boa parte da ci-
o exemplo de paradigma científico ência normal realizada no campo
contemporâneo de maior estabili- da biologia e, com isso, propiciou
dade e mais ampla aceitação. um enorme acúmulo de conheci-
Darwin apoiou sua teoria em mento, a maior parte do qual pro-
três pilares empíricos, quais se- duzido em linguagem natural.
jam (a) observações por ele rea- Concluindo o raciocínio, sobre
lizadas sobre a variedade de ani- a Teoria da Evolução pode-se afir-
mais domésticos provocada inten- mar duas coisas: primeiro, que
cionalmente pelos criadores por nos dias atuais não mais existem
meio da seleção artificial de ca- cientistas, especialmente biólogos,
racterísticas desejáveis (DARWIN, que questionem seu status cientí-
2006, cap. I, pp. 453 a 476), fico11 ; e, segundo, que não exis-
(b) observações por ele realizadas tem dúvidas no sentido de que a
sobre a variedade de animais sel- Teoria da Evolução tornou-se um
vagens, especialmente em sua fa- paradigma científico em sentido
mosa viagem às Ilhas Galápagos a kuhniano (e é isso o que aqui se
bordo do Beagle, que ele atribuiu discute até esse ponto).
à seleção natural (DARWIN, 2006, Especificamente sobre a possi-
caps. II a VIII, pp. 477 a 626), e bilidade de realização de expe-
(c) observações sobre os registros rimentos ou observações em lin-
geológicos de fósseis (DARWIN, guagem natural, que atendam o
2006, caps. IX e X, pp. 627 a critério popperiano de falseabili-
669). A base empírica observaci- dade, é de se reconhecer que expe-
onal coletada por Darwin foi sufi- rimentos engenhosamente cons-
cientemente forte para dar susten- truídos, tanto em laboratórios –
tação a sua teoria, a qual foi ob- como o de Richard Lenski, e ou-
jeto de reforços posteriores, quer tros, acompanhando 45 mil gera-
seja por novas observações e pes- ções de bactéria Escherichia coli,
quisas, quer seja pela evolução de ao longo de 20 anos, e sua evo-

11 Vide, por exemplo, DENNETT, 1995, pp. 18-21


12 Os resultados dos experimentos de Lenski et al estão descritos em DAWKINS, 2009, pp. 114-130, e foram ori-
ginalmente publicados em Procedings of the National Academy of Science, nº 91, 1994, pp. 6808-14, apud DAWKINS,

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lução frente a contingências am- BINS & COTRAN, 2005, p. 4);


bientais intencionalmente provo- e a Fisiologia, enquanto descri-
cadas12 – como no próprio am- ção “da função dos organismos,
biente natural (ou ambiente na- nos vários estágios da organiza-
tural restrito) – como os de John ção, do nível subcelular ao orga-
Endler com peixes Poecilia reticu- nismo intacto” (BERNE, 2004, p.
lata e sua evolução frente a con- xiii); encontram-se quase que to-
tingências naturais (predadores e talmente construídas em lingua-
alterações ambientais)13 , sucinta- gem natural, o que pode ser ob-
mente descritos adiante - vem sis- servado a partir de manuais utili-
tematicamente corroborando con- zados no ensino nas universidades
sequências dedutíveis da Teoria de medicina a respeito da fisiolo-
da Evolução. Com relação a ob- gia e patologias humanas15 . Ainda
servações falseadoras, o próprio que, em termos de Fisiologia, a
Popper referiu-se ao “melanismo elucidação dos mecanismos ho-
industrial”14 por meio do qual meostáticos requeira um aprofun-
pode-se observar a seleção natu- damento em bioquímica, e, por-
ral ocorrendo “sob nossos olhos” tanto, a utilização parcial de lin-
(POPPER, 1995, p. 242). guagens artificiais, isso não inva-
Outras áreas da biologia tam- lida a afirmação de extensa utili-
bém podem ser consideradas pa- zação da linguagem natural nesse
radigmas kuhnianos. Em medi- campo de conhecimento.
cina, a Patologia, enquanto “es- Tais exemplos atendem aos re-
tudo das alterações estruturais e quisitos necessários para serem ti-
funcionais que ocorrem nas cé- dos como “paradigmas” kuhnia-
lulas, tecidos e órgãos decorren- nos, quais sejam, (a) constituírem
tes de doenças”, ao tempo em um corpo de conhecimento cientí-
que “tenta explicar os motivos fico coerente, (b) que goze da acei-
dos sinais e sintomas que os pa- tação da maior parte da comuni-
cientes manifestam”, fornecendo dade científica, não sendo exigida
“uma base racional para a aborda- a unanimidade, (c) que oriente a
gem clínica e o tratamento” (ROB- pesquisa posterior, estabelecendo

2009, p. 417.
13 Os experimentos de Endler estão descritos em DAWKINS, 2009: 130-136, e foram originalmente publicados
nas revistas Evolution, nº 34, 1980, pp. 76-91 e Environmental Biology of Fishes, nº 9, 1983, e no livro A Natural
Selection in the Wild, Princeton, Princeton University Press, 1986, apud DAWKINS, 2009, pp. 415-416.
14 Popper refere-se aqui às famosas observações no sentido de que mariposas cor-de-fuligem estariam sendo na-
turalmente selecionadas, por gozarem de proteção contra predadores fornecida por mimetismo, em áreas urbanas
atingidas pela fuligem industrial.
15 Por exemplo em ROBBINS & COTRAN, 2005, e BERNE et al., 2004.

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o “quebra-cabeças” a ser resol- a possibilidade de idealizar, re-


vido, e permitindo assim a ocor- alizar e descrever experimentos,
rência da “ciência normal”, e (d) e posteriormente registrar e pu-
que, com isso, possibilite o acú- blicar seus resultados, exclusiva-
mulo de conhecimento científico mente em linguagem natural, e
e o progresso da ciência (KUHN, que isso já é realizado em diver-
2009, Capítulos 1, 2 e 3, e Posfá- sas ciências. Ainda que Passeron
cio: 221 a 227). indique a existência de outros fa-
A existência desses exemplos, tores que, aliados à utilização de
entre outros, leva-nos à conclu- linguagem natural, possam impe-
são de que a utilização exclusiva dir ou dificultar a experimentação
de linguagem natural na constru- direta nas ciências sociais, o que
ção de um corpo de conhecimen- é aqui analisado é a afirmação de
tos científicos não impede o sur- que o elemento “linguagem na-
gimento de paradigmas, a reali- tural”, isoladamente, é suficiente
zação de ciência normal e o acú- para a produção de tal resultado.
mulo de conhecimento científico, Tomemos como primeiro exem-
em sentido kuhniano, contrari- plo o artigo Julgamento sob in-
ando o afirmado por Passeron em certeza: heurísticas e vieses16 ,
suas já referidas proposições. de autoria de Kahneman e Amos
Tversky, ganhadores do prêmio
Nobel de Economia de 2012 pelo
Sobre a possibilidade de realiza-
desenvolvimento de teorias de de-
ção de experimentos em lingua-
cisão. Logo ao início do referido
gem natural
artigo os autores apontam que
“muitas decisões estão baseadas
Conforme apontado, Passeron
em crenças relativas à probabi-
afirma que a vulnerabilidade em-
lidade de eventos incertos, tais
pírica de uma ciência que utiliza
como o resultado de uma eleição,
linguagem natural só pode basear-
a culpa de um réu ou a futura co-
se em observações, enquetes, in-
tação do dólar”, e estabelecem o
vestigações, etc. e nunca em expe-
problema a ser tratado no artigo:
rimentos intencionalmente reali-
“o que determina essas crenças?”.
zados.
Suscintamente respondem logo a
A contestação empírica de tal
seguir, “as pessoas se apoiam em
afirmação exige que sejam apon-
um número limitado de princí-
tados exemplos que demonstrem

16 Artigo originalmente publicado na revista Science, vol. 185, 1974, integralmente incluído em KAHNEMAN,
2012, pp. 524 a 539

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pios heurísticos que reduzem as experimento direto realizado por


tarefas complexas de avaliar pro- eles ou por terceiros. Descrever
babilidades e predizer valores a todos os experimentos fugiria ao
operações mais simples de juízo. escopo do presente trabalho, as-
De um modo geral essas heurís- sim, e como exemplo, tomaremos
ticas são bastante úteis, mas às um dos experimentos descritos
vezes levam a erros graves e sis- pelos autores em relação ao viés
temáticos”. No corpo do artigo os (b) insensibilidade ao tamanho
autores descrevem “três heurísti- amostral, o qual envolveu a apre-
cas que são empregadas para ava- sentação a 95 alunos de gradua-
liar probabilidades e prever va- ção da seguinte questão (KAHNE-
lores”, descrições por meio das MAN, 2012, pp. 526 e 527):
quais “os vieses aos quais essas Uma determinada cidade
heurísticas conduzem são enume- é atendida por dois hos-
rados e as implicações aplicadas pitais. No maior, cerca
e teóricas dessas observações são de 45 bebês nascem todo
discutidas” (KAHNEMAN, 2012, dia, e no hospital menor
pp. 524 e 525). nascem cerca de 15 bebês
As três heurísticas analisadas por dia. Como você sabe,
pelos autores são por eles denomi- cerca de 50% dos bebês
nadas “representatividade”, “dis- são meninos. Entretanto,
ponibilidade” e “ajuste e ancora- a porcentagem exata va-
gem”, cujos respectivos vieses são ria no dia a dia. Às ve-
analisados a partir de um ou mais zes pode ser mais elevada
experimentos diretos. Relativa- que 50%, às vezes menos.
mente à primeira heurística, vez Pelo período de um ano os
que não nos interessa aqui anali- dois hospitais registraram
sar todas elas, os autores analisam os dias em que mais do
os vieses descritos como (a) a in- que 60% dos bebês eram
sensibilidade das pessoas à pro- meninos. Qual hospital
babilidade à priori de resultados, você acha que registrou
(b) a insensibilidade ao tamanho mais dias desses?
amostral, (c) concepções errôneas
O hospital maior. (21)
de possibilidades, (d) insensibili-
dade à previsibilidade, (e) ilusão O hospital menor. (21)
de validade e (f) concepções errô- Mais ou menos iguais (ou
neas de regressão. Para cada um seja, dentro de 5% um do
desses pontos analisados os au- outro) (53)
tores descrevem pelo menos um Considerando que os valores
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entre parênteses são o número de tros cientistas e por outras ins-


alunos que escolheram cada res- tituições utilizando-se de outros
posta, os autores apontam que “a grupos amostrais. É fácil obser-
maioria dos participantes julgou var que a “teoria” dos autores –
a probabilidade de obter mais do os seres humanos se apoiam em
que 60% como sendo a mesma um número limitado de heurísti-
para o hospital pequeno e o cas para reduzir tarefas complexas
grande” a despeito de a teoria da de juízo a tarefas mais simples - e
amostragem exigir “que o número seu componente específico – algu-
esperado de dias em que mais mas noções fundamentais de es-
de 60% dos bebês são meninos é tatística, entre elas as decorrentes
muito maior no pequeno hospi- do tamanho da amostragem, não
tal do que no maior, pois uma fazem parte do repertório intui-
grande amostra tem menor proba- tivo das pessoas –, são empirica-
bilidade de se afastar de 50%”, a mente confrontáveis por esse e por
partir do que concluem que “essa outros experimentos diretos facil-
noção fundamental de estatística mente imagináveis.
evidentemente não faz parte do Poder-se-ia alegar que, nesse
repertório intuitivo das pessoas” exemplo, a consequência a ser em-
(KAHNEMAN, 2012, p. 527). piricamente refutada não decorre
Esse experimento, assim como de um enunciado estritamente
todos os demais descritos no refe- universal, mas sim de um enun-
rido artigo, foi integralmente ide- ciado numericamente universal,
alizado, realizado (com exceção uma vez que o conjunto dos se-
de operações estatísticas elemen- res humanos seria finito, limitado
tares) e descrito, e posteriormente a determinado espaço, e contá-
teve seus resultados registrados e vel em determinado momento do
publicados, integralmente em lin- tempo. Quanto a isso pode-se
guagem natural. Trata-se, sem afirmar que a teoria exposta pelos
qualquer dúvida, de um expe- autores no artigo, conforme des-
rimento direto, e não de uma crita no parágrafo imediatamente
mera observação sistemática, o anterior, tem nítida pretensão de
qual pode ser reproduzido em ser universal, no sentido de ser
qualquer parte do mundo por ou- aplicável a todos os seres huma-

17 É o próprio Popper quem afirma que “a questão de saber se as leis da ciência são estritamente ou numeri-
camente universais não pode ser resolvida através da argumentação. Trata-se dessas questões que só podem ser
resolvidas por acordo ou convenção”. Sua preferência deve-se apenas a ele considerar “útil e frutífero encarar as
leis naturais como enunciados sintéticos e estritamente universais”, tendo em vista aspectos metodológicos - em
POPPER, 2009, cap. 13. Universalidade Estrita e Numérica, pp. 66.

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nos, ainda que a totalidade dos cos médicos, análises ju-


seres humanos seja uma univer- diciais, serviços de inteli-
salidade numérica17 e que algu- gência e espionagem, filo-
mas pessoas, em razão de treina- sofia, finanças, estatísticas
mento profissional ou experiên- e estratégia militar. 18
cia de vida, estejam preparadas
Como segundo exemplo, agora
para substituir determinadas heu-
na área de biologia, o já referido
rísticas por conhecimento real e,
experimento de John Endler a res-
em consequência, evitar determi-
peito dos efeitos da seleção na-
nados vieses. Nesse sentido, Kah-
tural sobre peixes popularmente
nemam aponta que por meio do
conhecidos como “guppy“, inici-
conjunto de experimentos foram
almente publicado por meio do
documentados “erros sistemáticos
artigo Natural Selection on Color
na opinião das pessoas normais”
Patterns in Poecilia reticulata (EN-
e que ele e Tversky localizaram
DLER, 1980), mostra-se como ex-
“esses erros no projeto do meca-
celente exemplo de experimento
nismo cognitivo” (KAHNEMAN,
construído em linguagem natu-
2012, p. 16), mecanismo cognitivo
ral com o objetivo de testar con-
esse pertencente a todos os seres
sequências pré-estabelecidas de
humanos.
uma teoria também construída in-
Sobre a qualidade científica e
tegralmente em linguagem natu-
impacto do artigo, o próprio autor
ral, a Teoria da Evolução por meio
(KAHNEMAN, 2012, p. 16) acen-
de Seleção Natural.
tua que ele “continua sendo um
Os machos da espécie de peixe
dos trabalhos em ciência social
selecionada por Endler apresen-
mais amplamente citados (mais de
tam fortes e variados padrões de
trezentos artigos acadêmicos fize-
cores, e, apesar disso, foi sistema-
ram referência a ele em 2010)” e
ticamente observado que nos rios
que:
onde não havia predadores as co-
(...) estudiosos de ou- res dos machos eram intensas e
tras disciplinas acharam- onde havia predadores fortes as
no útil, e as ideias de cores dos machos tendiam a se es-
heurísticas e vieses tem maecer e se tornarem mais pró-
sido utilizadas proveitosa- ximas em padrão e tonalidade do
mente em inúmeros cam- cascalho existente no fundo. A
pos, incluindo diagnósti- explicação causal dada pela Teo-

18 Como exemplos de utilização das pesquisas de Kahneman em microeconomia veja FRANK, 2012, Capítulo I,
“Três Armadilhas de Decisões Importantes”, pp. 8 a 15.

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ria, e em consequência sua previ- grupo diferenciado pelo tipo de


são, é a de que em um ambiente material no fundo receberam pre-
com predação os machos menos dadores fortes, dois receberam
vistosos, que se confundam me- predadores fracos e um não re-
lhor com o cascalho do fundo, tem cebeu qualquer tipo de predador.
maior probabilidade de sobrevi- Passados cinco e quatorze meses
vência e, portanto, de reprodução, todos os tanques foram recense-
fazendo com que a característica ados e os resultados apontaram
“cores menos vistosas” seja trans- que:
mitida predominantemente às no-
a) nos quatro tanques com pre-
vas gerações; já em um ambiente
dadores fortes o número de
sem predadores, a preferência das
manchas coloridas nos ma-
fêmeas pelos machos mais colori-
chos despencou e a intensi-
dos, fenômeno observado em vá-
dade das cores reduziu-se, já
rias espécies, levaria a uma sele-
sendo evidente no 5º mês e
ção para reprodução a partir desse
ainda mais no 14º mês;
critério, fazendo com que a ca-
racterística “cores mais vistosas” b) nos outros seis tanques, sem
seja predominantemente transmi- predadores ou com predado-
tida às novas gerações. res fracos, o número de man-
Endler concebeu o experimento chas continuou a aumentar até
de forma a confrontar os dois cri- estacionar em um platô, de-
térios de seleção natural e a tes- monstrando que, como preda-
tar integralmente as previsões teó- dores fracos não impõem uma
ricas. Dividiu dez populações de redução significativa no nú-
peixes em tanques que simulavam mero de machos, a preferên-
o rio de onde haviam sido retira- cia das fêmeas por “cores mais
dos. Em cinco tanques preparou vistosas” teve maior influên-
o fundo com cascalho fino e ou- cia na transmissão dessa ca-
tros cinco com cascalho grosso. As racterística às novas gerações;
populações habitaram esses tan- c) nos tanques com predadores,
ques por seis meses sem a pre- fortes ou fracos, o cascalho
sença de predadores, período após grosso do fundo promoveu
o qual foi observado que o número manchas maiores enquanto o
de manchas coloridas nos machos cascalho fino favoreceu man-
havia aumentado explosivamente, chas menores, indicando que,
exatamente conforme a teoria ha- mesmo no caso da predação
via previsto. fraca, o mimetismo protegeu
A seguir, dois tanques em cada os animais que se confundis-
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sem melhor com o fundo do Passeron.


rio, permitindo-lhes que, so-
brevivendo em maior número,
Conclusões
transmitissem suas caracterís-
ticas às novas gerações; Conforme visto, foram deduzidas
d) nos tanques sem predadores três consequências das proposi-
o cascalho grosso promoveu ções de Passeron, as quais foram
o aparecimento de manchas analisadas a partir de um procedi-
menores e o cascalho fino de mento simplificado (apresentação
manchas maiores, indicando de exemplos contrários) inspirado
que não apenas as cores, mas no método de confronto empírico
também o contraste das mes- proposto por Karl Popper.
mas contra o fundo, ou seja, a A análise da primeira con-
visibilidade dos padrões colo- sequência demonstrou, por meio
ridos, favorecia a seleção para dos exemplos apresentados, que
reprodução pela preferência não existe uma correlação neces-
das fêmeas. sária entre ciência e linguagem
específica. No campo das ciên-
Dawkins relata que, não satis- cias naturais, domínio inconteste
feito com os resultados, Endler re- das linguagens artificiais segundo
petiu o experimento isolando se- Passeron, encontramos as Ciên-
tores de um riacho em que era cias Biológicas que, apesar de
possível reproduzir as três situa- apoiarem-se na física e na quí-
ções retro descritas em condições mica e de utilizarem extensiva-
naturais, e repetiu as medições de mente métodos quantitativos em
início e de evolução das popula- suas pesquisas, apresenta exten-
ções, obtendo os mesmos resulta- sas áreas em que o conhecimento
dos (DAWKINS, 2009, pp. 135 e é construído estrutural e essen-
136). As duas séries de experi- cialmente em linguagem natural.
mentos confirmaram todas as pre- No campo das ciências sociais, do-
visões teóricas. mínio também incontestável da
Examinados esses dois exem- linguagem natural segundo Pas-
plos de experimentos, ambos seron, a economia aparece como
construídos em linguagem na- uma ciência que se apoia cada vez
tural e destinados a testar con- mais na matemática e na estatís-
sequências dedutíveis de teorias tica, as quais tem uso predomi-
também construídas em lingua- nante e estrutural na econometria.
gem natural, a conclusão é nova- Restou afastada, assim, a pro-
mente contrária às afirmações de posição de Passeron, que afirma
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que as ciências têm, ou utilizam, sequência foi realizada por meio


linguagens que lhes são típicas, as de dois exemplos de experimen-
quais determinam seu tipo par- tos, um realizado na área de psi-
ticular de conhecimento e o tipo cologia cognitiva, outro na área de
de prova empírica de que se vale- biologia evolutiva, que demons-
rão. Em verdade, os exemplos de- tram que a construção de expe-
monstram ampla utilização de lin- rimentos diretos e clássicos, bem
guagens naturais e artificiais pelos como o registro e publicação de
cientistas, talvez de acordo apenas seus resultados, em áreas do co-
com as necessidades de sua pes- nhecimento constituídas predo-
quisa, de seu experimento, de sua minantemente também em lin-
demonstração. guagem natural, é plenamente
A análise da segunda con- possível.
sequência, especialmente por Assim, restaram também afas-
meio do exemplo da Teoria da tadas as proposições de Passeron
Evolução por meio da Seleção Na- que afirmavam que a utilização
tural, de Darwin, demonstrou que estrutural de linguagem natural
a constituição de paradigmas e a por determinada ciência impede a
realização de ciência normal, em realização de experimentos dire-
sentido kuhniano, com o conse- tos em linguagem natural, restrin-
quente acúmulo de conhecimento, gindo a tipologia da prova empí-
exclusivamente em linguagem na- rica a serem nela utilizadas à ob-
tural é totalmente possível. Os servação sistemática.
exemplos de outras áreas da bi- Pode-se concluir, portanto, que
ologia examinados apenas refor- a afirmação de Passeron, no sen-
çaram tal demonstração. tido de que a utilização de lingua-
Foram assim afastadas as pro- gem natural nas ciências sociais
posições de Passeron que afirma- cria um espaço no qual a demar-
vam que a utilização de lingua- cação e a refutação de uma teoria
gem natural – por suas ambigui- por experimentos ou observações
dades e polissemias, por sua in- empíricas, afirmados por Popper,
dexação a um contexto espaço- e os paradigmas e a ciência nor-
temporal sempre alterável, por mal, afirmados por Kuhn, não te-
sua baixa precisão quantitativa, riam lugar, não há de ser aceita.
etc - torna impossível acumular As análises aqui procedidas não
conhecimento em torno de um pa- afirmam que o critério de de-
radigma científico com ela estru- marcação de Popper ou o para-
turalmente construído. digma e a ciência normal de Kuhn
A análise da terceira con- são possíveis nas ciências sociais.

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Essa análise implicaria um escopo mesmo possíveis nas ciências soci-


extremamente amplo e estranho ais. A título de exemplo, apesar de
ao presente trabalho. Afirma-se sempre ter afirmado a unicidade
aqui, apenas, que a utilização de do método científico, o próprio
linguagem natural, por si só, não Popper, reconheceu importantes
excluí a possibilidade de as ideias diferenças entre as ciências na-
de Popper e Kuhn serem válidas turais e as ciências sociais, como,
também para as ciências sociais. por exemplo, entre as possibilida-
No debate sobre a unicidade do des de realização de experimentos
método científico, portanto, o pre- diretos (POPPER, 1980, caps. 24
sente artigo contribui apenas no e 25), ou de aplicação de méto-
sentido de deixar tal possibilidade dos quantitativos (POPPER, 1980,
em aberto, afastando as restrições p. 111), ou, ainda, ao conceber a
construídas por Passeron, relacio- análise situacional como método
nadas à utilização de linguagens típico das ciências sociais (POP-
específicas pelas ciências, que fo- PER, 1980, pp. 110 e 111 e 116 e
ram aqui analisadas. 117).
Os fatos de um paradigma não Entretanto, sejam quais forem
ter ainda surgido na sociologia ou as eventuais razões para que a de-
de experimentos falseadores não marcação popperiana e o para-
serem extensamente utilizados ou digma kuhniano não sejam even-
aceitos nesse campo do conheci- tualmente possíveis nas ciências
mento, também não significam, sociais, se assim um dia se de-
por óbvio, que não são possíveis: monstrar, as conclusões do pre-
o que não foi ainda realizado ou sente artigo são no sentido de que
não ocorreu talvez ainda venha a a utilização estrutural da lingua-
ser ou ocorrer. gem natural nas ciências sociais
Por outro lado, paradigmas e não se incluirá entre elas.
experimentos talvez não sejam

Referências

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