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Intrøclu çfñlø
respeito das
contribuições mais signifi-
Àz E1050 mz
cativas em Filosofia da
Ciência. Nele são aborda- cløz (Liê em
das as seguintes tendên-
cias: o neopositivismo, a E” edição re1/ismlflz
dialética marxista, o
funcionalismo, o estrutu-
ralisn^o, o pragmatismo,
alénf da relação entre
ideologia e ciência, tal
confo é analisada por
Feyerabend, Ricoeur,
Foucault e Habermas. A
l
Autora, Inês Lacerda l
Araújo, é doutora em l
Estudos Linguisticos,
ex-professora de Filosofia
da Universidade Federal
do Paraná e professora da
Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. l
A abordagem neopositivista
da ciência
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O Círculo de Viena
29 "
lNTR(Í)D'UÇAO A Fll_OSšOF-IA DA ClEi\i CIA IN iaciâaba z-\a»\u_io
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Para ele, o mundo constava de todos os fatos que efetivamente de esclarecer os fundamentos ou de ser um pensar acerca do mundo
ocorriam e que por isso podiam ser ditos por proposições. Estas histórico e real dos homens. Interessa sobretudo aos neopositivistas
seriam consideradas verdadeiras ou falsas conforme retratassem a análise lógica da linguagem artificial, já que a linguagem natural se
(configurassem) ou não tais fatos. A linguagem era construída presta a equívocos, é enganosa e arbitrária.
para falar acerca do mundo. Nesse sentido, as tautologias e as E bem verdade que hoje não podemos deixar de reconhecer
A
contradições, que não dependem dos fatos, têm sua verdade li- que a ciência se constrói em grande parte através de uma linguagem
gada unicamente à forma lógica das proposições, enquanto que padrão. Por sua vez, os avanços na linguagem lógica percorrem o
as verdades matemáticas são calçadas em regras linguísticas que caminho do pensamento formal, sem que a reflexão e as posturas fi-
exprimem símbolos. A filosofia, por sua vez, não consegue se re- losóficas diversas fiquem por isso desqualificadas e isoladas no limbo
duzir a proposições acerca de fatos do mundo. Nenhum destes 4¬U'à_`b4%
do irracional ou do místico.
1
setores, lógica e filosofia, realiza a chamada representação; só i
Para os empiristas contemporâneos, todo e qualquer conheci-
lri: i
quando a linguagem representa fatos do mundo ê que se reveste mento que não tenha base empírica, que não seja de algum modo tes-
de significação. O significado de uma proposição e seu conteúdo z
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l
tável pelo confronto com os fatos, como ocorre com o conhecimento
empírico, isto ê, a possibilidade de verificar se aquilo que nela se l
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das ciências naturais, não é de forma alguma conhecimento Afirmam
afirma diz respeito a fatos que ocorreram ou não. que a objetividade conseguida através de validação das aífirmações
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O criterio empírico de significado e o não sentido da meta- por critérios universalmente válidos e por enunciados que possam
física - expostos por Wittgenstein no Tractatas e mais tarde por ele P ser submetidos a testes de verificação garante que se trata de conhe-
mesmo abandonados - marcaram profundamente os adeptos do em- .K
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cimento e não de simples especulação metafísica.
pirismo lógico.
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A filosofia e a ciência
A exigência empírica B
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A linguagem empírica
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INTRODUÇÃO A FILOSOFIA A `
DA Cllf`.N(,lA. inss iaeisaiva Aiiaujo
mas epistemológicos, já que a metafísica é desprovida de sentido em- As entidades poderão ser introduzidas por meio de, por exem-
pírico, e, portanto, desprovida de qualquer sentido, como veremos. plo, um predicado como o que introduz a entidade azul: azul é uma
A tarefa da epistemologia, segundo Carnap, e a de justificar propriedade e a entidade será um valor das variáveis introduzidas (m,
como um conhecimento e um conhecimento autêntico. Afirma que n, p...). Teremos assim caderno azul, lapis azul, casa azul. Com este pro-
esta questão pode ser decidida se tomarmos como referência um sis- cedimento, Carnap procura evitar as questoes externas, isto e, questoes
tema linguístico que represente a questão da existência no interior acerca da realidade ou existência do sistema de entidades. A tese da
do sistema da entidade. Arguir sobre a existência do próprio sistema realidade ou irrealidade do mundo reduz-se a pseudoenunciados.
(questão externa) e tarefa dos filósofos que podem dar respostas realistas
ou idealistas; ja a questão de
reconhecer algo como coisa ou evento real, significa ter sucesso O critério do significado
ein incorpora-la ao sistema das coisas, em uma posição espaço-
temporal particular, de tal forma que ela se acomode às outras
coisas reconhecidas como reais, segundo as regras do sistema de Para Carnap,
referênciai.
o significado lo termo meaning, ora é traduzido por significado, ora
No interior do sistema dos números, por exemplo, basta que por sentido; preferimos adotar a primeira expressão como mais
adequada] de um enunciado reside no fato de que ele expressa um
introduzamos certas expressões com regras apropriadas, tais como
estado de coisas. Se um enunciado (ostensivo) não expressa um
os numerais, as propriedades (primo, impar), as relações (maior que), estado de coisas, então não tem nenhum significado; só aparen-
variaveis (m, n), quantificadores (para todo x), e teremos realizado va- temente é um enunciado. Se o enunciado expressa um estado de
rias operações matemáticas, sem que tenhamos de nos ocupar com coisas, então é significativo para todos os eventos; e verdadeiro se
a realidade ou não dos números. A questão de saber se o número é este estado de coisas existe, falso se ele não existe. Podemos saber
que um enunciado é significativo mesmo antes de saber se ele e
real, ou não, não pode ser cientificamente formulada.
verdadeiro ou falso5.
Os juízos sobre o mundo externo são redutíveis a proposições
que, combinadas por conectivos (ou, se, entao, por exemplo), formam as
sentenças. Não podemos afirmar com sentido: l-la um gato no telhado. O significado de um enunciado cujos conceitos são conheci-
Só tem sentido o enunciado ou sentença que o afirmar por meio de dos provem desses conceitos. Se o conceito não é conhecido, de-
vemos poder indicar as condiçoes empíricas que fazem corn que o
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uma regra, como a regra que serve para formular sentenças existen-
ciais: Existe um p tal que tem tais e tais propriedades e pode ser localizado por enunciado possa ser dito verdadeiro ou falso. O conceito Jupiter, por
tais e tais coordenadas espaço-temporais. Afirma Carnap que “a aceitação exemplo, pode ser introduzido pela estipulação do enunciado Jupiter
de um novo tipo de entidades é representada na linguagem pela in- esbrafueja no lugar L e no tempo T. Será verdadeiro se nestas coordena-
trodução de um sistema de referência a novas formas de expressões a das pudermos observar um trovão; se não, será falso. Em ciência,
e necessario poder indicar as condiçoes de testabilidade, isto é, a
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imãs i..r\c:i1;ai.iA.-xitauio
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possibilidade de confirmar ou refutar pela experiência ou observa- fora de sua subjetividade (realismo) e o outro negue a possibilidade
ção. O conteúdo fatual dos enunciados advém da possibilidade de de conhecer algo que não seja a sua própria subjetividade (idealismo).
fornecermos condições empíricas que fundamentam o enunciado Há acordo quando ambos falam a linguagem empírica que caracteri-
ou sua negação. “Se um enunciado é testável, então ele sempre tem za a forma, altura, formacão geológica etc. do acidente geográfico em
conteúdo fatual Se é impossível, não somente em um momento questão. Portanto, conclui Carnap, as teses filosóficas do realismo e
mas em princípio, encontrar uma experiência que o fundamente, do idealismo não possuem significado, não sendo possível decidir se
um enunciado não tem conteúdo fatual”ó, e não podemos decidir se são verdadeiras ou falsas, pois carecem de conteúdo fatual.
ele é verdadeiro ou falso. Não há uma experiência que fundamente
o enunciado Eu tenho horror a uma certa cor iøerrnellia; ele não é um
enunciado científico, pois nao é testável.
Enunciados para os quais não se encontram, no momento,
A testabilidade
condiçoes empíricas de teste, sao considerados como dotados de sig-
nificado, porém nao verdadeiros, havendo a suposição de que, no
futuro, venham a ser considerados como verdadeiros ou falsos.
já o pseudoenunciado, que não passa de um amontoado de Na obra Testabilidade e significado, Carnap atenua a exigência
sons, é aquele para o qual não se consegue encontrar condições em- de verificabilidade. A possibilidade de verificação completa é substi-
píricas de verificação, aquele para o qual não se pode indicar que tuída pela possibilidade de teste ou de confirmação.
experiências o confirmam ou o refutam. As duas questões da teoria do conhecimento - a do significado
e a da verificação da verdade ou falsidade de um enunciado - estão
interligadas na perspectiva do empirismo, pois para sabermos se um
A crítica ci metafísica enunciado tem significado, é necessário poder determinar sua verda-
de ou falsidade. E o inverso também vale: só podemos determinar a
verdade ou a falsidade de um enunciado se ele tiver significado.
Porém, a verificação cabal e definitiva de um enunciado em-
A metafísica se reduz a meras palavras sem significado, que, às pírico sintético é impossível, pois sempre podemos encontrar uma
vezes, estão de acordo com a sintaxe (Deus existe ou Deus nao existe), condição empírica que refute o enunciado até então aceito como ver-
porém seus termos não são verifiçáveis nem lógica e nem empírica- dadeiro. Desde que haja um método de teste, o enunciado é testável.
mente; outras vezes, a própria sintaxe é ferida (o nada nadifica, o ab- Aléin disso, ele é confirmável se se produz em condições apropriadas
soluto é determinavel). A metafísica sequer possui sentenças, pois não (lógico-empíricas) para confirma-lo.
dispõe de um critério para elabora-las significativamente. Se uma lei se refere a coordenadas espaço-temporais infinitas
Problemas filosóficos, como o problema da realidade ou da 1
idealidade do mundo exterior, são pseudoproblemas. Dois geógrafos todas as possibilidades verifiçacionais. l\/las podemos encontrar con-
podem e devem chegar a conclusões semelhantes quando descrevem dições de teste para os enunciados que deduzirmos dessas leis. Con-
um acidente geográfico, ainda que um afirme que o mundo existe
fiamos na lei cujos testes çorroborarem em grande medida o que o
enunciado legal afirma.
O fisicalismo
Quando Carnap escreveu esse ensaio, já conhecia as críti-
cas de Popper a indução, contidas na Lógica da investigação científica
(1935). Carnap começou então a referir-se a graus de confirmação b A tese do fisicalismo radical professada por Carnap, no início, foi
que, se bem que apoiados em observações feitas até o momento, ^ astante atçnuada. Dizia essa tcsc que todo termo da linguagem da ci-
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dependiam, para sua aceitação ou rejeição, de um componente con- encia- inc uindo-se alem da linguagem da física, aquelas sublinguagens
vencional (decidimos aceitar ou não) e de um componente objetivo que sao usadas na biologia, na psicologia, na ciência social - é redutí-
(as observações já realizadas). Se dissermos: l-la uma folha branca sobre vel aos termos da física”. A linguagem científica havia sido reduzida a
a mesa, observamos, fazemos experiências físicas ou químicas para predicados observáveis como condição única para teste de enunciados.
saber se é papel, inferimos dele enunciados que predizem acerca de A partirde 1937, preferia a tese de confirmabilidade, como vimos. A
observações futuras. Obtemos um alto grau de confirmação apenas tese do fisicalismo caminhava par a par com a rege da Ciência unificada
pelos elementos empíricos. Como teoricamente é possível negar o D e fendia
d - a adoçao
~ de uma linguagem
. . , _ em que cada asserçao
unitaria ~ '
enunciado, o componente decisional também aparecerá. . aciencia pudesse ser enunciada, garantindo a compreensão intersub-
A confirmação e a testabilidade repousam sobre condições jetiva. Todos deveriam poder compreender os enunciados do mesmo
lógicas ou empíricas, ou ambas. Muitas vezes, apenas com auxílio mo d o e todo e qualquer fato ou situaçao
- ~ deveria
- poder ser enunciado
.
de regras lógicas é possível decidir acerca da confirmabilidade. Na em uma linguagem empírica e fisicalista. Nessa linguagem, 05 çgnçeitgs
linguagem sistemática da lógica, há conceitos analíticos que compo- nao precisariam ser exclusivamente quantitativos porém permaneceria Y
rão enunciados dotados de valor de verdade com base nas regras do a exigencia de que todos os termos pudessem ser relacionados a coisas,
sistema de linguagem adotado. Outras vezes, a verdade ou falsidade suas propriedades e interligações entre elas.
pode ser determinada pela referência a fatos exteriores ã linguagem - A critica ao fisicalismo decorre da dificuldade para traduzir
são os enunciados sintéticos. Pela relação lógica dos predicados com em termos observacionais enunciados como: No dia 28 de março ha
os enunciados podemos determinar sua analiticidade e, portanto, se uma escrivaninha marrom em minha biblioteca. O número de enuncia
são contraditórios e consequentemente inconsistentes.
dos de alguém sentado, olhando, gesticulando etc., nunca bastaria.
No caso de teste empírico, o procedimento apontado por Car-
Alemçdo mais, e impossível traduzir, em termos puramente observa-
nap é o de podermos realizar observações para testar um predicado
cionais, enunciados que tratam de energia, quanta, neutrino e vários
como vermelho, longo, frio etc. O predicado pode ser observável por"
outros conceitos da física.
uns e não por outros, em determinadas circunstâncias. Por isso, Car-
I .O criterio da confirmabilidade atenua bastante a exigência
nap prefere o termo realizável. Para decidir se um predicado como
empírico-fisicalista. Porém, Carnap continua
. a insistir que , para ha,
temperatura de 50°C de um ponto espaço-temporal qualquer é reali-
ver confirmabilidade, todos os termos, inclusive os disposicionais,
zável, são necessárias condições para produzir ou reproduzir naquele
ponto aquela temperatura. COUÊ10 fmãih 50ÍWU€l› Cl€V€1"fl P0d€r ser reduzidos a predicados observáveis,
]á a confirmabilidade não depende de circunstâncias que ocor- eg o por ai, confirmaveis. No caso mencionado no parágrafo acima,
ram realmente, basta que elas sejam possíveis. Se podemos observar o os çíonceitâs fisicos que sao não observáveis, se o físico conhecer
que o lápis que seguramos é preto, não podemos confirmar positiva- as c~on içoes
" e uso dos termos e o fizer - -
com base em observaçoes,
mente meu lapis ê vermelho. Mas o enunciado é confirmável porque entao os termos serao confirmáveis.
podemos indicar observaçoes para tal proposito.
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A crítica ã indução
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ralizações de enunciados particulares. Assim, costumamos entender Ci P'fl0TÍ› como propusera Kant, e nem acredita que haja um princípio
1 proballpilidade
dfš C ' ' Piz .a embasa-lo,
› como quer Reichenbach,
. “pois
H se se
e explicar o procedimento científico. -:-
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c eve
g a t ri. qcir um certo grau de probabilidade
› - . ‹
aos enunciados base-
Popper, entretanto, contesta que este procedimento seja justi-
acosiia in erencii
^ ';'indutiva,
' entao
.~ dever-se-a justificar
-‹ este procedi-. 'll
-Toi
H , _ I
13 POPPER, K. /l /ógicau., Op. Cir., p. . POWER K-/1/vgwa... Op. zzzâ, p. 12.
Í
a argumentação para tentar chegar “a algo como a objetividade”l5. A Pelo metodo da falseaçao, devemos dispor de enunciados em»
ciência usa tanto a experiência como a razão. piricos singulares, os chamados enunciados basicos que estäo em
Para encontrar esses criterios, Popper diz que foi guiado por conexão com a experiência e que são objetivos, isto e, testãveis por
juízos de valor, por tomadas de decisão. Com isso, pretende afastarfse qualquer um do mesmo modo (intersubjetivamente testãveij. Os
do dogmatismo neopositivista que impõe a neutralidade tanto para procedimentos de teste devem incluir a possibilidade de repetir os
o contexto da descoberta como para o contexto da justificação. Para experimentos e de reproduzizlos. O aspecto subjetivo de aceitação,
Popper, essa imposição só vale para o contexto da justificação. rejeição etc., só é relevante psicologicamente. Não tem nenhuma sus-
Por aí, vemos que a metafísica não pode ser simplesmente des» tentação epistemológica.
qualificada como um não conhecimento, pois especulações metafísi- O teste de falseação de hipóteses e teorias baseiazse, portanto,
cas, como a do atomismo, até mesmo ajudaram a ciência - o que não na testabilidade dos enunciados básicos e objetivos, aqueles que se
significa abandonar o projeto de definição conceptual da ciência que pode testar intersubjetivamente. Desta forma, o edifício da ciência
apontara os limites do conhecimento científico. não esta nunca acabado: e sempre possível falsear as conclusões que
O sistema teóricoempírico da ciência, ao contrário de outros tiramos do seu corpo teórico, do contrário não teremos ciência. Para
sistemas teóricos que possam haver, deve estruturar um mundo pos» falsear o enunciado geral todo cobre conduz eletricidade, devemos rees»
sível, suscetível de ser experimentado. Sabemos se trata ou não de crevê~lo: não lia cobre que não conduza eletricidade e deduzir .rw enuncia-
um sistema que retrata o nosso mundo da experiência, se pudermos do bãsico liá um x tal que é cobre e que tem tais e tais propriedades., Por ser
submetêzlo a testes e se ele resistir aos testes. enunciado básico acerca das propriedades de um metal, ê suscetível
Para Carnap, o enunciado só tera significado se for verificavel de teste. Como até o momento não se encontrou cobre que deixas-
pela indução empírica. ja Popper questiona a validade da indução no se de ser bom condutor, o enunciado geral resistiu às tentativas de
teste de teorias, pois para ele “as teorias nunca são [...] empiricamente falseamento e, por conseguinte, sera mantido, provisoriamente. No
verificaveism, mas devem poder ser sempre ƒalseaoeis por testes que exemplo do enunciado geral todos os cisnes sao brancos, o procedimen~
tentam nega~las, em vez de argumentos para provazlas, sustentalas, to e semelhante: o enunciado básico acerca de cisnes brancos foi re-
positivamente. “Deve ser possível refutar pela experiência um siste~ futado, pois encontrou~se na Australia exemplares de cisnes negros.
ma científico empírico”, enfatiza ele”. C Assim, todo enunciado que puder ser criticado, revisto, refutado, é
São os enunciados singulares que falseiam os enunciados uni» científico. A validação conclusiva de uma teoria é um mito; o jogo da
versais. Eles servem para tentar atingir de todos os modos possíveis a ciência, diz Popper, não tem fim.
teoria a ser testada, para ver se aquela teoria e a que melhor exjplica Os criterios metodológicos funcionam como as regras de um
determinado problema. jogo que são boas enquanto se mostrarem fecundas. Por isso, sera
As leis científicas são confiáveis não porque generalizam ai par» tarefa da ciência propor e lançar teorias que são os esquemas sim-
tir de um número suficientemente grande de casos confirmató›rios, bólicos pelos quais o cientista se esforça em racionalizar e explicar o
mas porque são suscetíveis de serem refutadas por um único enun» mundo de modo cada vez mais ƒino, detalhista. `.
ciado que tenta nega~las. A falseabilidade ao mesmo tempo em que torna as teorias mais
instáveis, torna~as mais confiáveis. a certeza final e algo que não
podemos exigir da ciência, afirma Popper.
1% POPPER, K. /1 sociedade aberta e seus inimigos. Tradução de: Pablo R. Mari»
conda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 175. (Os pensadores).
POPPER, K. /1 [ogzca..., Op. cat., p. 14.
Íbzd., p. 15.
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inri-ioi.>t,1<¿:Ão À isfiiosoria iria t:iiÉi\ic.:i.»\ | mtas i-.-\i;i¿iiit›.»\ AR/W_I<W
sensoriais imediatas.
Tanto que podemos dizer: nao lia livro algum sobre a mesa, e o sen- A tese da falseabilidade fornece o criterio para a demarcação .-.-
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tido do termo livro e compreendido mesmo na ausência do objeto. científica e indica que as teorias científicas são essencialmente pro-
já para Carnap, mesmo os enunciados basicos se referem ao visórias.
dado empírico, ein última análise. O dado descreve a experiência ime- Quando os enunciados basicos não contradizem a teoria, isto
diata dos sentidos. As sentenças protocolares são o fundamento do e, quando os enunciados básicos que servem para falsear a teoria
edifício da ciência. Popper, ao contrário, acredita que a observação não a derrubam, não sendo incompatíveis com ela, temos uma teoria
conduz ao conhecimento do fato, mas esta consciência psicológica corroborada. Os enunciados basicos, que são os falsificadores, não
não leva ao estabelecimento da verdade de nenhum enunciado. precisam ser ein número muito alto: interessa muito mais o grau de
Em epistemologia, a única questão pertinente ê a de como tes- severidade dos testes a que se submeteu uma hipótese. Uma teoria e i ëflíi-:-
tamos os enunciados atraves daquilo que podemos deduzir deles, isto tanto mais corroborável quanto mais ela for testável.
e, devemos 13 oder testa-los atraves de técnicas ex P erimentais, cu`os
1
r~4%|f_i¡7^I-K:i* A
;z-l_._._¬,.
19 POPPER, K. A [(ígz'ca..., Oj). cit., p. 68.
W POPPER, K. /1 [ógica..., Op. fit., p. 47. 3° Íbid., p. 69.
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ii×iTiioi>uçÃo À i-*ii.-osori.-i na ciišu cia
objetividade científica torna inevitável que todo enunciado cien- O empirismo supõe uma recusa da essência, quer dizer, evita
tifico permaneça provisório para sempre”. recorrer às ' - .
asacham
SignifiaÊÍÍÊÍlÊSrÍÍ@fÊÍOÍÍÍiÍÂÍÃͬ.iÍ“Ê
que Os HQO . ç ç a“Íi““a
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ciencias. Alguns
Em ciência, a interrogação feita a natureza nao cessa: surgem _ positivistas, ao delimitarem entre enunciados com
problemas novos cujas respostas se renovam enquanto problemas. significado (os verificaveis ou testáveis) e os enunciados sem significa-
510 (impossível sua verificação, como no caso da metafísica e mesmo
.CÊH;;;;1r'iii(1)n;Ialilia|S).,
não deixaram de assumir uma postura filosó-
21 POPPER, K. A [o'gz'ca..., Op. cit., p. 120. V pirismo e uma questao de fundamento, essencial
32 Íbid., p. 121. 6, portanto, não se presta a teste empírico.
25 Ibzzi., P. 125.
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T7 ______í_-
A postura filosófica representada pela defesa dos princípios vável, tratandozse de uma entidade abstrata“' funciona
r '1p¢n15
f t ê C Orno
nome. E verdade que Carnap reconheceu que esse nominalismó c QS,
do empirismo iinplica que, quando adotamos uma atitude filosófica
barrava nos conceitos teóricos e operacionais da física porém acredi
em relação à validade e á certeza do conhecimento, estamos lidando
tava que, por serem construtos teóricos, úteis e funcionais, mais çgdo
com a noção de princípios, que, como dissemos acima, não podemos
ou mais tarde poderiam se tornar verdadeiramente conceitos acerca
verificar experimentalmente, empiricainente. Em outras palavras, a
postura filosófica de que parte Carnap, por exemplo, ainda que ele a de algo, isto ê, sobre objetos da realidade empírica, devido ao avanco
desconheça ou porque a ignore, revela que todo ponto de partida ê da ciência e das tecnicas de observação. f
Ao propor critérios empiristas estritos, a maioria dos neopositi-
igualmente tomada de partido.
A liinitação da ciência ao fenómeno em detrimento da essên~ vistas não estava levando em consideração que grande parte da ciência -
inclusive e especialmente a ciência considerada por eles como modelo a
cia, pode, as vezes, prejudicar o cientista, principalmente no conz
texto da descoberta, no qual o lançamento de hipóteses criativas e
física - ê provida de cálculos teóricos e acaba por fornecer explicações do
mundo fisico com doses maciças de suposições, conceitos gerais e hipó,
fecundas implica que se recorra á essência.
Ao longo da história da filosofia, iremos topar com contra~ teses de trabalho que estão a léguas de distância dos dados empíricos.
Obtemos a coerência e a consistência antes pelo esforco na
posições críticas ao empirismo: postular que a realidade exterior ê
elaboração de modelos e teorias. Desses, exigimos que se aproximem
aquilo que ela ê independentemente de alguém que a conheça, im»
plica na visão ingênua de que a realidade empírica fala por si, de de uma imagem do cosmo que permita explicar problemas suscitados
que os objetos possam ser captados diretamente naquilo que eles pelas teorias aceitas, quando estas não dão conta de novos fatos. A no»
são através das impressões sensoriais e perceptivas. No fundo, a tese vidade fatual depende sempre da insuficiência da explicação vigente.
do empirismo vem calcada numa metafísica e numa metafísica bas»
tante pobre: a crença no dado puro dos sentidos. Ora, se aquilo que
aparece, ou seja, o dado, o fenômeno, fosse aquilo que a coisa ê (sua
essência, portanto) toda ciência seria desnecessária. Se não houver
necessidade de procurar por detrás do fenómeno o que o explica., A objetividade
se não generalizarmos e não buscarmos o universal, a ciência ficará
sendo mera descrição. Mas o que dela exigimos e a explicação do
fenômeno; e esta não está pura e simplesmente aderida a ele. Há que
Se a coerência e a consistência da ciência não dependem di»
buscá~la, supõ‹la, e as vezes, inventá~la.
retamente dos dados, mas do confronto de teorias para ver qual ê
Popper aproxima-se mais de um empirismo crítico ao eviden»
ciar a importância da teoria na elaboração do fato científico. Porem., Íušíšfëítëuâuiäílâaqíldíiilçfiçiliriltzgeírlfdproblemas fatuaiS (problemas fa»
como toda teoria só permanecerá válida se for falseável e, como além
disso, para falsear ê necessário buscar um enunciado básico, empírii» 3 algllma
. teoria) , ondcê e c omo f'ica
1 Oa objetividade
po-I e.St.ar€m da
em ciencia?
(fintfaposlçao
O que
co, em última análise também Popper capitula frente aos princípios garantirá que não se trata de uma construção idealista da razão ou
mesmo de uma construção surrealista da imaginação?
do empirismo.
_ Devemos observar principalmente que não e regra metodol.ó~
Como o mundo contêm fatos individuais, o que conhecemos
são fatos individuais, dizia \X/ittgenstein no Tmctatus, e com ele Car»
nap concordata. O conceito geral só existe a título de nome ou de mem « . I iamcntc a prova empiricozexperimental. O que
Or caracteriza epistemologicamente a ciencia hoje ê o embate
convenção para falar acerca de objetos. O conceito não sendo obser-
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iNTRoi>UçÃo A ia=ii-osoi*ia iva <§:iÊi×iciA iivfis iatífiaiiia Aaaujo
de teorias. No confronto entre teorias, esperamos que haja uma que se a ciência se envolver com valores, com as questões de fins com. L,
explique melhor certas dúvidas e problemas e da qual possamos de» propósitos eticos oii politicos, ela será invadida por elementos estra-
duzir explicações cada vez mais completas para os fenômenos. nhos e perturbadores da pesquisa cientifica, raciocinam eles.
Em segundo lugar, a ciência se relaciona com a prática históri» No capítulo Ciência e Biologia, detalharemos as implicações
ca. Como o que colhemos da ciência são seus resultados, por vezes, do postulado da neutralidade. Se a prática científica faz avancar a
o criterio pragmático opera conjuntamente com o criterio da obje» tecnologia e esta faz avançar a ciência, a ciência, por sua vez,,não
I
tividade. O papel da ciência e do cientista está mais do que nunca consegue e nem deve permanecer isolada desse movimento social. l'
ligado aos resultados tecnológicos que impulsionam todo o processo Porem, sabemos que a ciência, quando praticada para e por fins ide»
produtivo. A ciência e tanto uma questão de meios (o conhecimento ológicos, acaba por se perder em incoerências, contradições e, por
científico e tanto mais válido quanto mais se aproxima de um ideal vezes, apresenta resultados que ferem o mais comezinho senso de rea»
de objetividade - a pura objetividade sendo impossivel) quanto uma lidade. (Recordemos de como o stalinismo ou o nazismo se serviram
questão de fins (como veremos no capítulo 7, quase sempre a pesqui» da ciência ou dos experimentos que realizaram em seu nome.)
sa e direcionada tendo em vista fins práticos). Esse impasse não existia para os neopositivistas, para quem a
Afirmamos com frequência que o confronto dos enunciados ciência e um conjunto de enunciados que explicam objetivamente
com os fatos seria a única garantia de objetividade; a linguagem não os fatos da realidade empírica; aliás, para Carnap, trata»se de um
poderia extrapolar o mundo sensível. Porem, este preceito epistemo» conjunto de enunciados que obedecem a regras linguísticas, a uma
lógico tem se revelado bem distante da prática científica, onde tanto sintaxe adequada. Portanto, mais por uma questão de forma lógica
se constroem condições artificiais para o teste experimental e, neste do que de conteúdo, seu metodo e um só: as ciências naturais e as
caso, a garantia de objetividade e menos empírica e mais lógica, como ciências sociais ou humanas devem seguir parâmetros metodológicos
temos por suficiente o criterio da intersubjetividade. A comunidade comuns. Se a ciência humana quiser receber o título de científica, as
científica deve poder reproduzir os procedimentos experimentais im» regras metodológicas e os princípios epistemológicos terão que ser os
plicados na teoria proposta ou na hipótese sugerida; a crítica mútua mesmos que os das ciências naturais. ›
e a introdução de conceitos por definição garantem igualmente a Porem, se a discussão acerca da cientificidade das ciências hu»
intersubjetividade ou, se quisermos, a objetividade científica enten» manas se resolvesse unicamente pela recorrência a empiricidade, à.
dida agora com restrições acima propostas. possibilidade de verificação, á unicidade metodológica, á linguagem
fatual, ao não envolvimento com valores e ideologias, grande parte
da pesquisa na psicologia, na sociologia, na antropologia e na histó»
ria se tornaria inviável.
Os problemas que as ciências humanas encontram para se es»
tatuir como ciência não se resolvem pelos criterios arrolados pelos
A defesa da neutralidade
neopositivistas para caracterizar inclusive as ciências humanas, isto e,
empiricidade e testabilidade. Nos capítulos seguintes, esta problema»
tica será enfocada diversainente pelas atuais filosofias da ciência.
O problema da objetividade desemboca no problema do en» Há ainda entre os neopositivistas uma confiança iluminista na
volvimento da ciência com valores que os neopositivistas caracteri» razão e em seu progresso. O mais grave e que o progresso caracteriza
zam como absolutamente indevido. A necessidade da neutralidade ëlpenas a atividade científica. Ele e contínuo e depende da capacida»
da ciência face aos valores está ligada ao postulado da objetividade: de de avaliar as teorias pela verificação empírica. Ora, postular o pro»
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gresso de uma razão positivista, calcada apenas no modelo científico, A postura cientiƒicista
implica em desconhecer que a ciência está enraizada na história real
dos homens e que daquela forma a razão cai no ardil do empirismo»
formalismo.
A verificabilidade empírica e a formalização fazem parte do
processo inetodológico da ciência, de modo geral. Mas, alem de não
representarem o todo da ciência, o afastamento dessas regras e o uso
de outras mostra que as fronteiras da ciência são mais fluidas e que
A exigência da unicidade metodológica o metodo não e ditatorial. A ciência se relaciona com os demais sa»
beres e práticas, como a filosofia, a arte, a religião, o senso comum,
a magia, a política, os governos, os interesses.
E preciso questionar se o conhecimento científico e incon»
Essa exigência conduz a um iinpasse: exclui do âmbito da ci»
dicionado socialmente ou se não será um requisito social que este
ência várias teorias da sociologia, da psicologia, da história, pois que
conhecimento seja considerado como independente e descondicio»
não podem ser testadas empiricamente e as vezes sequer falseadas;
nado em relação a sua origem.
valendo os criterios de cientificidade do empirisino lógico, as ciên»
Alem do mais, Carnap, como observa Adorno, continua a tra»
cias humanas não seriam, na verdade, ciências. Se esses criterios não
dição do positivismo subjetivo que vem de Hume e passa por Match
valem, que criterios epistemológicos garantirão a cientificidade das
e Schlick, devido ã sua “interpretação sensualista dos enunciados
ciências humanas? Ou será esta uma exigência desnecessária e ate
protocolares”24, quer dizer, ligados á experiência imediata dos senti»
mesmo ideológica? Teremos espaço reservado para essa discussão nos
dos, de modo que a sua pretensa objetividade descamba para uma
próximos capítulos.
subjetividade. E verdade que a influência do primeiro Wittgenstein
Apesar da tendência atenuante de Popper e de Hans Albert
está presente ao mostrar que os enunciados protocolares nãojadvêm
(Albert mostra a impossibilidade de se fundamentar um conheci»
do sentido, mas da própria linguagem. Mas para o mesmo Wittgens»
mento, pois este fundamento requer outro fundamento; alem disto,
tein, a questão da tarefa da filosofia de tornar claras as proposições
critica a exigência do empirismo em colocar despoticamente of im»
depende da consciência subjetiva. A razão dos neopositivistas, se»
perativo dos fatos. Infelizmente a influência sua e a de Popper são
gundo Adorno, se instrumentaliza ao reduzir»se aos metodos e não
menos sentidas entre os praticantes e adeptos do empirismo lógico.),
realizar a crítica da ciência e dos metodos; ao descurar “a coisa e
continuam de pe as afirmações de neutralidade, objetividade estrita,
seu interesse inibe considerações que afetam tanto o procedimento
linguagem lógica e formalismo. O postulado da unidade do metodo
científico como seu objeto”25, para ficar com o dado alcançado pelas
científico decorre de uma necessidade de principio entre os carnapia»
formas puras do pensamento. Disso resulta o cientiƒicismo, quer dizer,
nos: a existência de uma delimitação bastante nítida entre a ciência
a extrapolação do conhecimento científico como o único legítimo,
e os outros saberes que são relegados a um segundo plano por não
possuírem uma preciosidade exclusiva da ciência - seu metodo de
DOÍS que o único capaz de obter verdade fática.
Ei
teste. Ora, a crítica a indução de Popper e a variedade metodológica
encontrável e, de certa forma, desejável nas ciências humanas bastam
para abalar o postulado da unicidade metodológica.
2* ADORNO, T. P05z`tz`w'smo na socio/ogia zzlemzã. Tradução de: Wolfgarg Leo
Maar. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 512. (Os pensadores).
2* íàzaá, p. 219.
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