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Este livro objetiva


fornecer a professores,
estudantes e pesquisa-
dores em geral uma
reflexão atualizada a
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Intrøclu çfñlø
respeito das
contribuições mais signifi-
Àz E1050 mz
cativas em Filosofia da
Ciência. Nele são aborda- cløz (Liê em
das as seguintes tendên-
cias: o neopositivismo, a E” edição re1/ismlflz
dialética marxista, o
funcionalismo, o estrutu-
ralisn^o, o pragmatismo,
alénf da relação entre
ideologia e ciência, tal
confo é analisada por
Feyerabend, Ricoeur,
Foucault e Habermas. A
l
Autora, Inês Lacerda l
Araújo, é doutora em l
Estudos Linguisticos,
ex-professora de Filosofia
da Universidade Federal
do Paraná e professora da
Pontifícia Universidade
Católica do Paraná. l
A abordagem neopositivista
da ciência

l l
fiivr

íítm

O Círculo de Viena

Nas décadas de 20 e 30, diversos filósofos da ciência se re uz

niram com o proposito de analisar, fundamentar e classificar as ciên-


cias. O resultado dessas reuniões foi o trabalho intitulado Ciência
unificada. . '
Esse grupo foi denominado de Círculo de Viena; seu fundador
foi M. Schlick (1882-1936). Destacaram-se pensadores como Carnap
(1891-1970), l-lans Hahn, Otto Neurath, Herbert Feigl, Kurt Godel,
Karl Menger.
lniciaram a publicacao da revista Erkenntnis e, já na década de
..-

30, as monografias reunidas por Neurath na Ciência aniƒicada foram


publicadas; mais tarde, apareceu o projeto de Carnap de uma Enciclo-
pédia da Ciência Unificada. Porém, nesta época, o grupo se dispersou.
Schlick foi assassinado, Carnap, l\/lenger e Godel foram para os Es-
tados Unidos devido à perseguição nazista. Mas as ideias do Circulo
começaram a receber boa acolhida e o empirismo logico da escola
se difundiu entre as escolas contemporâneas afins com as noções de
logicismo e empiricidade.
O empirismo lógico sofreu a marcante influência de Wit-
tgenstein (1889-1951), com sua obra Tractatas logico-philosophicas.

29 "
lNTR(Í)D'UÇAO A Fll_OSšOF-IA DA ClEi\i CIA IN iaciâaba z-\a»\u_io
l

Para ele, o mundo constava de todos os fatos que efetivamente de esclarecer os fundamentos ou de ser um pensar acerca do mundo
ocorriam e que por isso podiam ser ditos por proposições. Estas histórico e real dos homens. Interessa sobretudo aos neopositivistas
seriam consideradas verdadeiras ou falsas conforme retratassem a análise lógica da linguagem artificial, já que a linguagem natural se
(configurassem) ou não tais fatos. A linguagem era construída presta a equívocos, é enganosa e arbitrária.
para falar acerca do mundo. Nesse sentido, as tautologias e as E bem verdade que hoje não podemos deixar de reconhecer
A

contradições, que não dependem dos fatos, têm sua verdade li- que a ciência se constrói em grande parte através de uma linguagem
gada unicamente à forma lógica das proposições, enquanto que padrão. Por sua vez, os avanços na linguagem lógica percorrem o
as verdades matemáticas são calçadas em regras linguísticas que caminho do pensamento formal, sem que a reflexão e as posturas fi-
exprimem símbolos. A filosofia, por sua vez, não consegue se re- losóficas diversas fiquem por isso desqualificadas e isoladas no limbo
duzir a proposições acerca de fatos do mundo. Nenhum destes 4¬U'à_`b4%
do irracional ou do místico.
1
setores, lógica e filosofia, realiza a chamada representação; só i
Para os empiristas contemporâneos, todo e qualquer conheci-
lri: i

quando a linguagem representa fatos do mundo ê que se reveste mento que não tenha base empírica, que não seja de algum modo tes-
de significação. O significado de uma proposição e seu conteúdo z
i

l
tável pelo confronto com os fatos, como ocorre com o conhecimento
empírico, isto ê, a possibilidade de verificar se aquilo que nela se l
of
das ciências naturais, não é de forma alguma conhecimento Afirmam
afirma diz respeito a fatos que ocorreram ou não. que a objetividade conseguida através de validação das aífirmações
il
O criterio empírico de significado e o não sentido da meta- por critérios universalmente válidos e por enunciados que possam
física - expostos por Wittgenstein no Tractatas e mais tarde por ele P ser submetidos a testes de verificação garante que se trata de conhe-
mesmo abandonados - marcaram profundamente os adeptos do em- .K
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cimento e não de simples especulação metafísica.
pirismo lógico.

P
A filosofia e a ciência
A exigência empírica B

N.) \
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`z As ciências foram progredindo e se tornando independentes


O empirismo atual se caracteriza por preconizar que todo co- da Filosofia. Cada vez mais setores da realidade passaram a ser objeto
nhecimento deve ter por base uma linguagem empirista relativa aos de investigação científica e cada vez menos objeto de especulação fi-
fatos observáveis e uma linguagem lógica e/ou matemática. As estru- losofica. Tanto as matemáticas como as ciências naturais progridem.
turas do mundo não podem ser conhecidas através do puro uso a prio- Também as ciências humanas e históricas aprofundam e ampliam
ri da razão; a metafísica, ao inves de estar no ápice do conhecimento, I seus conhecimentos, conforme constataram os neopositivistasl. já a
como ocorre na perspectiva filosófica tradicional, quando indaga a J
metafisica e a filosofia dos valores não progridem, pois nelas o nú-
respeito das causas e princípios primeiros, passa a ser considerada mero de propostas conflitantes e grande - o desacordo e a rivalidade
como desprovida de sentido por faltar-lhe consistência empírica.
A filosofia não desaparece, porém deve limitar-se à ocupacão l de posições são frequentes.

com questões lógicas e epistemológicas, isto ê, ela está na dependên- E


1 Vide: STEGMÚLLER, W. A filosofia contemporânea. São Paulo: Universidade
cia dos conhecimentos científicos, não servindo mais aos propósitos i
à
I de São Paulo, 1977. P. 278-280.

AO 41
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O empirismo lógico explica esta situação contrastante pela ca-


pacidade que têm exclusivamente as ciências de exercer algum tipo de
controle sobre seus juízos e proposições. As ciências da lógica contro-
A delimitação científica
lam logicamente seus enunciados, por meio de regras e cálculos que
obedecem a criterios praticados universalmente, de forma a permitir para Carnap
a aceitação ou a rejeição de proposições pelo puro raciocínio lógico.
As ciências naturais, por seu turno, fazem controle empírico de seus
enunciados. Sem o controle experimental não se aceita uma teoria.
Esta deve permitir a previsão da ocorrência de certos fenômenos, do
contrário, a teoria precisa ser revista ou abandonada.
Ora, nem o teste lógico e nem o teste empírico se prestam para
o controle das afirmações filosóficas. Na verdade, os enunciados fi-
losóficos não passam de pseudoproposições e os conceitos filosófi-
cos (substância, alma, principio do ser etc.) não cumprem nenhuma
condição observavel, não sendo por isso suscetíveis de caracterização
empírica, de acordo com o neopositivismo.

A linguagem empírica

Schlick acaba com a exigência de redução da ciência ao dado


imediato dos sentidos, pois do contrário, observa ele, seria impossí-
vel a prática científica que, justamente, é baseada em leis. O conceito
científico deve ser exato e preciso; além disso, deve poder subsumir
sob si objetos. A partir de definições, devemos poder decidir se pro-
posições descrevem adequadamente ou não tais objetos.
Segundo Carnap, a linguagem de cunho material de Schlick
deveria ser substituída por uma linguagem formal e nela só se falaria
de enunciados e de sentenças e seus significados, de nexos definitó-
rios”entre expressões e de relações de dedutibilidade entre sentenças
etc. A tradução numa linguagem formal evita os erros e imprecisões
da linguagem natural, bem como reduz a questão filosófica a proble-

j 2 sTEGMUi.LER, W. op. az., p. zss.

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`
INTRODUÇÃO A FILOSOFIA A `
DA Cllf`.N(,lA. inss iaeisaiva Aiiaujo

mas epistemológicos, já que a metafísica é desprovida de sentido em- As entidades poderão ser introduzidas por meio de, por exem-
pírico, e, portanto, desprovida de qualquer sentido, como veremos. plo, um predicado como o que introduz a entidade azul: azul é uma
A tarefa da epistemologia, segundo Carnap, e a de justificar propriedade e a entidade será um valor das variáveis introduzidas (m,
como um conhecimento e um conhecimento autêntico. Afirma que n, p...). Teremos assim caderno azul, lapis azul, casa azul. Com este pro-
esta questão pode ser decidida se tomarmos como referência um sis- cedimento, Carnap procura evitar as questoes externas, isto e, questoes
tema linguístico que represente a questão da existência no interior acerca da realidade ou existência do sistema de entidades. A tese da
do sistema da entidade. Arguir sobre a existência do próprio sistema realidade ou irrealidade do mundo reduz-se a pseudoenunciados.
(questão externa) e tarefa dos filósofos que podem dar respostas realistas
ou idealistas; ja a questão de

reconhecer algo como coisa ou evento real, significa ter sucesso O critério do significado
ein incorpora-la ao sistema das coisas, em uma posição espaço-
temporal particular, de tal forma que ela se acomode às outras
coisas reconhecidas como reais, segundo as regras do sistema de Para Carnap,
referênciai.
o significado lo termo meaning, ora é traduzido por significado, ora
No interior do sistema dos números, por exemplo, basta que por sentido; preferimos adotar a primeira expressão como mais
adequada] de um enunciado reside no fato de que ele expressa um
introduzamos certas expressões com regras apropriadas, tais como
estado de coisas. Se um enunciado (ostensivo) não expressa um
os numerais, as propriedades (primo, impar), as relações (maior que), estado de coisas, então não tem nenhum significado; só aparen-
variaveis (m, n), quantificadores (para todo x), e teremos realizado va- temente é um enunciado. Se o enunciado expressa um estado de
rias operações matemáticas, sem que tenhamos de nos ocupar com coisas, então é significativo para todos os eventos; e verdadeiro se
a realidade ou não dos números. A questão de saber se o número é este estado de coisas existe, falso se ele não existe. Podemos saber
que um enunciado é significativo mesmo antes de saber se ele e
real, ou não, não pode ser cientificamente formulada.
verdadeiro ou falso5.
Os juízos sobre o mundo externo são redutíveis a proposições
que, combinadas por conectivos (ou, se, entao, por exemplo), formam as
sentenças. Não podemos afirmar com sentido: l-la um gato no telhado. O significado de um enunciado cujos conceitos são conheci-
Só tem sentido o enunciado ou sentença que o afirmar por meio de dos provem desses conceitos. Se o conceito não é conhecido, de-
vemos poder indicar as condiçoes empíricas que fazem corn que o
.V

uma regra, como a regra que serve para formular sentenças existen-
ciais: Existe um p tal que tem tais e tais propriedades e pode ser localizado por enunciado possa ser dito verdadeiro ou falso. O conceito Jupiter, por
tais e tais coordenadas espaço-temporais. Afirma Carnap que “a aceitação exemplo, pode ser introduzido pela estipulação do enunciado Jupiter
de um novo tipo de entidades é representada na linguagem pela in- esbrafueja no lugar L e no tempo T. Será verdadeiro se nestas coordena-
trodução de um sistema de referência a novas formas de expressões a das pudermos observar um trovão; se não, será falso. Em ciência,
e necessario poder indicar as condiçoes de testabilidade, isto é, a
_-

serem usadas segundo um novo conjunto de regras”.

3 CARNAP, R. Empirismo, semântica e ontologia. Tradução de: Pablo R. Mari-


conda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 121. (Os pensadores). 5 CARNAP, R. Pseualoproblemas nafilosofia. Tradução de: Pablo R. Mariconda.
4 Ía'. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 156-157. (Os pensadores). I
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imãs i..r\c:i1;ai.iA.-xitauio
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lNTROl`)'l,_i(çI.AO A l*`ll._.OSOiilA DA (.ÍlENClA

possibilidade de confirmar ou refutar pela experiência ou observa- fora de sua subjetividade (realismo) e o outro negue a possibilidade
ção. O conteúdo fatual dos enunciados advém da possibilidade de de conhecer algo que não seja a sua própria subjetividade (idealismo).
fornecermos condições empíricas que fundamentam o enunciado Há acordo quando ambos falam a linguagem empírica que caracteri-
ou sua negação. “Se um enunciado é testável, então ele sempre tem za a forma, altura, formacão geológica etc. do acidente geográfico em
conteúdo fatual Se é impossível, não somente em um momento questão. Portanto, conclui Carnap, as teses filosóficas do realismo e
mas em princípio, encontrar uma experiência que o fundamente, do idealismo não possuem significado, não sendo possível decidir se
um enunciado não tem conteúdo fatual”ó, e não podemos decidir se são verdadeiras ou falsas, pois carecem de conteúdo fatual.
ele é verdadeiro ou falso. Não há uma experiência que fundamente
o enunciado Eu tenho horror a uma certa cor iøerrnellia; ele não é um
enunciado científico, pois nao é testável.
Enunciados para os quais não se encontram, no momento,
A testabilidade
condiçoes empíricas de teste, sao considerados como dotados de sig-
nificado, porém nao verdadeiros, havendo a suposição de que, no
futuro, venham a ser considerados como verdadeiros ou falsos.
já o pseudoenunciado, que não passa de um amontoado de Na obra Testabilidade e significado, Carnap atenua a exigência
sons, é aquele para o qual não se consegue encontrar condições em- de verificabilidade. A possibilidade de verificação completa é substi-
píricas de verificação, aquele para o qual não se pode indicar que tuída pela possibilidade de teste ou de confirmação.
experiências o confirmam ou o refutam. As duas questões da teoria do conhecimento - a do significado
e a da verificação da verdade ou falsidade de um enunciado - estão
interligadas na perspectiva do empirismo, pois para sabermos se um
A crítica ci metafísica enunciado tem significado, é necessário poder determinar sua verda-
de ou falsidade. E o inverso também vale: só podemos determinar a
verdade ou a falsidade de um enunciado se ele tiver significado.
Porém, a verificação cabal e definitiva de um enunciado em-
A metafísica se reduz a meras palavras sem significado, que, às pírico sintético é impossível, pois sempre podemos encontrar uma
vezes, estão de acordo com a sintaxe (Deus existe ou Deus nao existe), condição empírica que refute o enunciado até então aceito como ver-
porém seus termos não são verifiçáveis nem lógica e nem empírica- dadeiro. Desde que haja um método de teste, o enunciado é testável.
mente; outras vezes, a própria sintaxe é ferida (o nada nadifica, o ab- Aléin disso, ele é confirmável se se produz em condições apropriadas
soluto é determinavel). A metafísica sequer possui sentenças, pois não (lógico-empíricas) para confirma-lo.
dispõe de um critério para elabora-las significativamente. Se uma lei se refere a coordenadas espaço-temporais infinitas
Problemas filosóficos, como o problema da realidade ou da 1

não podemos verifica-la, pois nossas observações jamais esgotarão


*Q

idealidade do mundo exterior, são pseudoproblemas. Dois geógrafos todas as possibilidades verifiçacionais. l\/las podemos encontrar con-
podem e devem chegar a conclusões semelhantes quando descrevem dições de teste para os enunciados que deduzirmos dessas leis. Con-
um acidente geográfico, ainda que um afirme que o mundo existe
fiamos na lei cujos testes çorroborarem em grande medida o que o
enunciado legal afirma.

6 CARNAP, R. Pseudoprofz/emasu., Op. cit., p. 158.


ii×iTRoiiix,:.›so A 1-¬ii-osoi¬¬i_i\ lia c;:iiÊNi::i.›i iu i-Acei<i.>A .aiiaiijirô

O fisicalismo
Quando Carnap escreveu esse ensaio, já conhecia as críti-
cas de Popper a indução, contidas na Lógica da investigação científica
(1935). Carnap começou então a referir-se a graus de confirmação b A tese do fisicalismo radical professada por Carnap, no início, foi
que, se bem que apoiados em observações feitas até o momento, ^ astante atçnuada. Dizia essa tcsc que todo termo da linguagem da ci-
_) 1 ‹ ' ' x A_` 3 (C _ _

dependiam, para sua aceitação ou rejeição, de um componente con- encia- inc uindo-se alem da linguagem da física, aquelas sublinguagens
vencional (decidimos aceitar ou não) e de um componente objetivo que sao usadas na biologia, na psicologia, na ciência social - é redutí-
(as observações já realizadas). Se dissermos: l-la uma folha branca sobre vel aos termos da física”. A linguagem científica havia sido reduzida a
a mesa, observamos, fazemos experiências físicas ou químicas para predicados observáveis como condição única para teste de enunciados.
saber se é papel, inferimos dele enunciados que predizem acerca de A partirde 1937, preferia a tese de confirmabilidade, como vimos. A
observações futuras. Obtemos um alto grau de confirmação apenas tese do fisicalismo caminhava par a par com a rege da Ciência unificada
pelos elementos empíricos. Como teoricamente é possível negar o D e fendia
d - a adoçao
~ de uma linguagem
. . , _ em que cada asserçao
unitaria ~ '
enunciado, o componente decisional também aparecerá. . aciencia pudesse ser enunciada, garantindo a compreensão intersub-
A confirmação e a testabilidade repousam sobre condições jetiva. Todos deveriam poder compreender os enunciados do mesmo
lógicas ou empíricas, ou ambas. Muitas vezes, apenas com auxílio mo d o e todo e qualquer fato ou situaçao
- ~ deveria
- poder ser enunciado
.
de regras lógicas é possível decidir acerca da confirmabilidade. Na em uma linguagem empírica e fisicalista. Nessa linguagem, 05 çgnçeitgs
linguagem sistemática da lógica, há conceitos analíticos que compo- nao precisariam ser exclusivamente quantitativos porém permaneceria Y
rão enunciados dotados de valor de verdade com base nas regras do a exigencia de que todos os termos pudessem ser relacionados a coisas,
sistema de linguagem adotado. Outras vezes, a verdade ou falsidade suas propriedades e interligações entre elas.
pode ser determinada pela referência a fatos exteriores ã linguagem - A critica ao fisicalismo decorre da dificuldade para traduzir
são os enunciados sintéticos. Pela relação lógica dos predicados com em termos observacionais enunciados como: No dia 28 de março ha
os enunciados podemos determinar sua analiticidade e, portanto, se uma escrivaninha marrom em minha biblioteca. O número de enuncia
são contraditórios e consequentemente inconsistentes.
dos de alguém sentado, olhando, gesticulando etc., nunca bastaria.
No caso de teste empírico, o procedimento apontado por Car-
Alemçdo mais, e impossível traduzir, em termos puramente observa-
nap é o de podermos realizar observações para testar um predicado
cionais, enunciados que tratam de energia, quanta, neutrino e vários
como vermelho, longo, frio etc. O predicado pode ser observável por"
outros conceitos da física.
uns e não por outros, em determinadas circunstâncias. Por isso, Car-
I .O criterio da confirmabilidade atenua bastante a exigência
nap prefere o termo realizável. Para decidir se um predicado como
empírico-fisicalista. Porém, Carnap continua
. a insistir que , para ha,
temperatura de 50°C de um ponto espaço-temporal qualquer é reali-
ver confirmabilidade, todos os termos, inclusive os disposicionais,
zável, são necessárias condições para produzir ou reproduzir naquele
ponto aquela temperatura. COUÊ10 fmãih 50ÍWU€l› Cl€V€1"fl P0d€r ser reduzidos a predicados observáveis,
]á a confirmabilidade não depende de circunstâncias que ocor- eg o por ai, confirmaveis. No caso mencionado no parágrafo acima,
ram realmente, basta que elas sejam possíveis. Se podemos observar o os çíonceitâs fisicos que sao não observáveis, se o físico conhecer
que o lápis que seguramos é preto, não podemos confirmar positiva- as c~on içoes
" e uso dos termos e o fizer - -
com base em observaçoes,
mente meu lapis ê vermelho. Mas o enunciado é confirmável porque entao os termos serao confirmáveis.
podemos indicar observaçoes para tal proposito.

f CARNAP, R. Yestabílióíade e szgrzzficado. Tradução d.e: Pablo R. Mariconda.


Sao Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 194. (Os pensadores).

48 49
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Portanto, um enunciado terá significado - e Carnap alarga o


sentido empirista de significado - “se soubermos como usá-lo ao falar
acerca dos fatos empíricos reais ou possíveis”8, isto é, se puder verífícá- A delimitação científica T
lo, confirma-lo ou testá-lo. Desse modo, todos os enunciados da ciên-
cia devem ser sintéticos, devem ter relação com observações possíveis.
para Popper
A demarcação entre ciência e não ciência, mesmo quando» tra-
tamos da físíca teórica, se dá pelo critério empírico de significado.
Carnap evita a exigência empirista mais forte que adotara nos seus
primeiros escritos, de verificabilidade completa para os termos teó-
ricos, mas a distinção entre um termo observacíonal, como miassa
e um termo teórico como campo eletromagnêtico, não é apenas de
grau. E possível um critério de demarcação no interior da linguagem
teórica, entre enunciados cientificamente significativos e os nao sig-
nificativos, por relações de dedutibilidade da própria teoria. A ate-
nuação da exigência de verificabilidade empírica completa deveu-se,
em grande parte, às ideias inovadoras de Popper.

Os critérios adotados por Popper (1902-1994) para delimitar


entre a ciência e as demais zonas do saber e do conhecimento são
bastante originais e polêmicos, além de se afastarem da tradição em-
pirista â qual ainda pertence Carnap. ~

A crítica ã indução

Enquanto que para Carnap as proposições da metafísica são


pseudoproposições, pois não vêm expressas numa linguagem empíri-
ca, sendo, portanto, desprovidas de significado, uma vez que não se
pode verifícá-las, para Popper, o critério de verificabilidade não basta
para distinguir entre a ciência (que teria significado) e a filosofia (que
sería desprovida de significado), como entendia Carnap.
Em A lógica da investigação cientifica (1935), Popper propõe
uma análise crítica do método de investigação científica nas ciências
8 CARNAP, R. 'Íestabz'[z'a(aa'e..., Op. cit., p. 197. empíricas. Nelas, as hipóteses e teorias seriam construídas e testadas

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Popper não crê que a sustentação do princípio de indução seja


experimentalmente. Tal procedíinento é índutivo, resultado de gene- IIF

ralizações de enunciados particulares. Assim, costumamos entender Ci P'fl0TÍ› como propusera Kant, e nem acredita que haja um princípio
1 proballpilidade
dfš C ' ' Piz .a embasa-lo,
› como quer Reichenbach,
. “pois
H se se
e explicar o procedimento científico. -:-
_._ _

c eve
g a t ri. qcir um certo grau de probabilidade
› - . ‹
aos enunciados base-
Popper, entretanto, contesta que este procedimento seja justi-
acosiia in erencii
^ ';'indutiva,
' entao
.~ dever-se-a justificar
-‹ este procedi-. 'll
-Toi

fícador e confiável, já que “qualquer conclusão obtida desta maneira


mento invocando um novo princípio de índucãom' que requer por Ilji
pode sempre acabar sendo falsa: não ;:_nporta quantas instâncias de › 3 3

5Uê V€Z› um novo princípio igualmente justificável. ,ll


cisnes brancos possamos ter observado, isto não justifica a conclusão
i Psicologicamente, é possível confiar em resultados futuros por
de que todos os cisnes são brancos”. Seus argumentos estão calçados
repetiçoes frequentes do fenômeno passado, como observou Hume
em Hume (1711-1776). O número de vezes de um acontecimento (o
íplrem, probabilidade psicológica é coisa bem diferente da probabi-
sol levantar-se todas as manhãs, por exemplo) aumenta a probabili-
dade, mas não assegura a sua necessidade. 1 adfi 108191 €› Segundo Popper, não podemos formular um conceito
de probabilidade de hipóteses que signifique avaliar lógica ou meto-
O problema da indução consiste em estabelecer a verdade de
dologícamente sua verdade ou falsidade. Reichenbach estendeu sem
conclusões gerais baseadas em um número determinado - ainda que
mais considerações a probabilidade de um evento como o de 1/6 de
grande - de observações particulares. Popper afirma que não há um
que caía uma das seis faces de um dado ã dos enunciados e destes â
princípio de indução a embasar afirmações universais que possa ser sus-
probabilidade de hipóteses. Mas para testar a probabilidade de uma
tentado logicamente. Se ele fosse somente um princípio lógico, não se-
hipótese será preciso considerar o número de vezes que os enuncia-
ria princípio de indução, pois suas inferências teriam que ser lógicas, isto
dos síngulares confirmam ou contradizem a hipótese Uma hipótese
é, dedutivas. Se não for um princípio analítico-dedutivo, tal princípio
seria prcpvável conforme a frequência da verdade dos enunciados que
terá que ser sintético. Mas para sustentá-lo síntetícamente, terá que ser
concor P am com clã ou conforme o numero f de testes que a susten-
um enunciado universal, cuja verdade é estabelecida pela experiência.
tam. 0f€.m›' - ›
Sfigun o Popper, como as hipóteses ~ sao
nao ~ sequencias
.. .
Para justificar este princípio de indução, é preciso outro, e caímos no
de enunciados e estes não têm a forma universal sendo enunciados
regresso ao infinito”. Desse modo, se sustentamos enquanto verdade
básico s, sua classe e' infinita,
' ' ' 3 ~ Para testar 3
bem como sua negação.
a priori, então não é indutívo, mas dedutivo; se é verdade a posteriori,
probabilidade da hipótese todo cisne e' branco, os enunciados do tipo
precisará sempre de uma indução que fundamente a primeira. gl
este cisne e' branco teriam que se multiplicar Ao passo que um enun
O princípio de indução teria que ser tratado como um enun-
cíado como não há um cisne não branco, é um falgeadgr f¡n¡tO_ Da
ciado não falseável, pois ele deve servir para a inferência das teo-
possibilidade de encontrar um único cisne não branco resulta a falsi-
rias. Mas como as teorias se renovam, o princípio de indução seria
dade di hipótese. Os falseadores são em numero finito.
constantemente falseavel: “Seria necessário, portanto, introduzir um
princípio de indução que não se supusesse ser falseável. lsto equi- \ ssim, a probabilidade de uma hipótese não pode ser reduzida
21 probabilidade dos eventos. Logicamente, a probabilidade das hípóre-
valeria a noção errônea de um enunciado sintético que é válido a
ses não e' verificavel
' ' ' " enunciados
(porque sao ' -
singulares) .
e nem falseavel
priori, isto é, um enunciado irrefutável acerca da realidade”, o que
(porque nao exclui nada). Não é possível interpretar o grau de validade
soa completamente absurdo.
de umšhàpótese em relação aos conceitos de verdadeiro e falso.
emarcaçao cientifica se fará, portanto, pela dedução.
9 POPPER, K. A lógica da investigação eientzfiea. Tradução de: Pablo R. Mari-
conda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 3. (Os pensadores).
10
I/vid p 45 _
12 POPPER K A [Ó lcd O gzz*
H1iu.,p.ioi. › - g p. "..p.5.
ii×i”i`i1<f> itt>uti;Ão À iiirosoinx na tj:iiÊi×it):iA lNE§› I__AClz{R DA ARAU,l(')

A dedução Q critério da ƒalseabilídade

Q problema da demarcação científica resumc~se a critérios que


ãernâitamcarâícterizali; a ciência enquanto tal, isto ê, enquanto distinta
Criar, propor, construir teorias e o mesmo que se preocupar
os emais sa veres. ratazse da uestão d ¬ ' ' f '^ '
com a questão psicológica do surgimento das ideias, questão esta lo-
blematica epistemológica sobre êflespecificfdaälendtâscdfilíêífrgêlniacâdií
gicamente impossível de ser abordada. ]a o questionamento lógico tífico, seu valor e alcance e de como se distingue dos demais Saberes
de um enunciado, o problema de sua justificação e testabilidade, é
. ç .Çarnap aponta como criterio de demarcação científica a veri-
questão pertinente para a epistemologia. Testar uma teoria consiste
ficabilidade, seguindo a tendência empirista, do neopositivismo. Só
em: 1) comparar suas conclusões para avaliar sua consistência; Z) in»
são científicos os enunciados redutíveis aos enunciados basicos da
vestigar sua forma lógica para ver se se trata de uma teoria empírica experiência. ]a no seculo XIX, Augusto Comte reduzira a ciência a
ou cientifica, ou se e tautológica; 3) compará~la com outras teorias, conceitos cujos significados dizem respeito a impressões, Sengacõês e
determinandollie seu alcance, seu grau de inovação; 4) avalia-la pela
percepções. A base dessas argumentações era a lógica indutiva: Para
aplicação empírica de suas conclusões. Carnap, açmetafísica consta de pseudoproposições desprovidas de
Através da dedução de predições a partir de enunciados aceiz
qualquer significado empírico, como ja vimos; não podendo enquan.
tos por uma teoria, podemos testar na pratica essa teoria (essa pratica to tal serem testadas, são vazias.
tanto pode ser os experimentos propriamente científicos quanto as
ç Q criterio de significado proposto no Tractatas, por Wittgensz
aplicações tecnológicas). Comparamos os enunciados que não de»
Íífilfi (SÓ têm significado aqueles enunciados que descrevem ima»
correm da teoria vigente e aqueles que essa teoria contradiz com os gens da realidade, aqueles que representam o que de fato Qegrfe no
resultados experimentais. Se daí tiramos conclusões que corroboram
fm«,1UdO), si Inadequado, afirma Popper, para demarcar a ciência. Há
os enunciados, a teoria e aceita. Caso contrario, isto e, com con- inumeros enunciados da física que não podem ser reduzidos à ex,
clusões falseadas, a teoria, da qual os resultados foram deduzidos, periencia e que, no entanto, são científicos. Metodologicamente o
também foi falseada. problema da demarcação entre ciência/não ciência vem tomando
A verificação positiva e sempre provisória,
outro rumo. Sua i ^ ' * - .
ciência são considlšríiäbtšídíaisdeíšsíiêšsa meddldd qge als ffonfelras da
pois decisões negativas subseqüentes sempre podem destruí‹la. Na
rar em suas hipóteses nocões tradici llpo Ên O mc uslve lncorpof
medida em que a teoria resiste a testes detalhados e severos e em
que não e superada por outra... podemos dizer que [...] é corrobora Ao contrario de Carnap Po (êliíúialšlente êstrímhas H S1.
da pela experiência passada”. tafisicam, mas encontrar acordo oupšonveao Êe pmpocí deírmtm8 me'
ciência e a metafísica. Para isto é reciso Idçao para e lmlltar entre 8
ciência seja um conjunto de enuifciad êscartar El noção de CIL-IÊ a
ou que Seja um Cor Td os com o carimbo verdadeiros,
po so i o e total de verdades reais. A verdade
Científica re presenta um esforço em que se conjugam
- s e
a cooperaçao

H , _ I
13 POPPER, K. /l /ógicau., Op. Cir., p. . POWER K-/1/vgwa... Op. zzzâ, p. 12.
Í

ii×i'taoiíitir,:.Ào À i¬tii..osoifiA na t;iEN<..:iA ii×ii;s iAtí:ri3aiia Atiuiifijo

a argumentação para tentar chegar “a algo como a objetividade”l5. A Pelo metodo da falseaçao, devemos dispor de enunciados em»
ciência usa tanto a experiência como a razão. piricos singulares, os chamados enunciados basicos que estäo em
Para encontrar esses criterios, Popper diz que foi guiado por conexão com a experiência e que são objetivos, isto e, testãveis por
juízos de valor, por tomadas de decisão. Com isso, pretende afastarfse qualquer um do mesmo modo (intersubjetivamente testãveij. Os
do dogmatismo neopositivista que impõe a neutralidade tanto para procedimentos de teste devem incluir a possibilidade de repetir os
o contexto da descoberta como para o contexto da justificação. Para experimentos e de reproduzizlos. O aspecto subjetivo de aceitação,
Popper, essa imposição só vale para o contexto da justificação. rejeição etc., só é relevante psicologicamente. Não tem nenhuma sus-
Por aí, vemos que a metafísica não pode ser simplesmente des» tentação epistemológica.
qualificada como um não conhecimento, pois especulações metafísi- O teste de falseação de hipóteses e teorias baseiazse, portanto,
cas, como a do atomismo, até mesmo ajudaram a ciência - o que não na testabilidade dos enunciados básicos e objetivos, aqueles que se
significa abandonar o projeto de definição conceptual da ciência que pode testar intersubjetivamente. Desta forma, o edifício da ciência
apontara os limites do conhecimento científico. não esta nunca acabado: e sempre possível falsear as conclusões que
O sistema teóricoempírico da ciência, ao contrário de outros tiramos do seu corpo teórico, do contrário não teremos ciência. Para
sistemas teóricos que possam haver, deve estruturar um mundo pos» falsear o enunciado geral todo cobre conduz eletricidade, devemos rees»
sível, suscetível de ser experimentado. Sabemos se trata ou não de crevê~lo: não lia cobre que não conduza eletricidade e deduzir .rw enuncia-
um sistema que retrata o nosso mundo da experiência, se pudermos do bãsico liá um x tal que é cobre e que tem tais e tais propriedades., Por ser
submetêzlo a testes e se ele resistir aos testes. enunciado básico acerca das propriedades de um metal, ê suscetível
Para Carnap, o enunciado só tera significado se for verificavel de teste. Como até o momento não se encontrou cobre que deixas-
pela indução empírica. ja Popper questiona a validade da indução no se de ser bom condutor, o enunciado geral resistiu às tentativas de
teste de teorias, pois para ele “as teorias nunca são [...] empiricamente falseamento e, por conseguinte, sera mantido, provisoriamente. No
verificaveism, mas devem poder ser sempre ƒalseaoeis por testes que exemplo do enunciado geral todos os cisnes sao brancos, o procedimen~
tentam nega~las, em vez de argumentos para provazlas, sustentalas, to e semelhante: o enunciado básico acerca de cisnes brancos foi re-
positivamente. “Deve ser possível refutar pela experiência um siste~ futado, pois encontrou~se na Australia exemplares de cisnes negros.
ma científico empírico”, enfatiza ele”. C Assim, todo enunciado que puder ser criticado, revisto, refutado, é
São os enunciados singulares que falseiam os enunciados uni» científico. A validação conclusiva de uma teoria é um mito; o jogo da
versais. Eles servem para tentar atingir de todos os modos possíveis a ciência, diz Popper, não tem fim.
teoria a ser testada, para ver se aquela teoria e a que melhor exjplica Os criterios metodológicos funcionam como as regras de um
determinado problema. jogo que são boas enquanto se mostrarem fecundas. Por isso, sera
As leis científicas são confiáveis não porque generalizam ai par» tarefa da ciência propor e lançar teorias que são os esquemas sim-
tir de um número suficientemente grande de casos confirmató›rios, bólicos pelos quais o cientista se esforça em racionalizar e explicar o
mas porque são suscetíveis de serem refutadas por um único enun» mundo de modo cada vez mais ƒino, detalhista. `.

ciado que tenta nega~las. A falseabilidade ao mesmo tempo em que torna as teorias mais
instáveis, torna~as mais confiáveis. a certeza final e algo que não
podemos exigir da ciência, afirma Popper.
1% POPPER, K. /1 sociedade aberta e seus inimigos. Tradução de: Pablo R. Mari»
conda. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 175. (Os pensadores).
POPPER, K. /1 [ogzca..., Op. cat., p. 14.
Íbzd., p. 15.

-__ í
inri-ioi.>t,1<¿:Ão À isfiiosoria iria t:iiÉi\ic.:i.»\ | mtas i-.-\i;i¿iiit›.»\ AR/W_I<W

O teste das teorias resultados sejam intersubjetivamente validados. Sem os enunciados


basicos, uma teoria nao pode ser falseada. Os enunciados não de-
vem, porem, vir soltos e nem serem apenas esporãdicos. Deve haver
entre eles concatenações e regras estabelecidas convencionalmente
Como para o convencionalista o edificio teórico e construído
por decisão do cientista durante o teste das teorias.
por decisões e convenções arbitrãrias, ele dificilmente encara a crise
Popper entende que a ciência não inicia pela experiência pura
e a renovação das teorias, pois não pode aceitar que as teorias sejam
imediata, mas por colocações de problemas teóricos. Só em relação a
nem verificaveis e nem falseãveis. Sempre que houver observações que
eles e que se aceita ou não enunciados basicos acerca da experiência:
contradigam a teoria, esta pode ser salva atraves de arranjos locais.
“As conexões entre nossas varias experiências são explicãveis com
Basta que evitemos esta estrategia metodológica do conven-
base nas teorias que estamos ocupados em testar"19. O que significa
cionalismo para que uma teoria seja falseavel, o que lhe permitirá
que a questão levantada pela teoria e que orienta e da sentido ã expe-
explicar, prever, fazer avançar o conhecimento. A introdução de uma
riência. Atraves de calculos, Le Verrier deduziu que fosse um planeta
nova hipótese para construir um novo sistema deve ser articulada
o responsável pelas variações na órbita de Urano. O experimento se
com a possibilidade que ela teria de realizar “um avanço real de nos-
deu em seguida com Oall, que observou Netuno, em 1846.
so conhecimento do mundo”18.
Para Popper, a teoria aceita é aquela
Popper critica o empirismo ingênuo dos positivistas que acre-
ditam que os enunciados empíricos da ciência têm como fonte dire-
que melhor se mantém na competição com as outras [...] Esta teo-
ta a experiência sensível; nos enunciados há termos universais e eles
ria será aquela que não somente tenha resistido até aqui aos mais
próprios têm o caráter de uma teoria entendida no sentido de uma - severos testes, mas aquela que é também testável da maneira mais
hipótese não redutivel a pura experiência que, justamente, e fixa e rigorosa. Uma teoria e uma ferramenta que testamos, aplicando-a,
imediata. Mesmo quando afirmamos: o livro azul esta sobre a mesa, e que julgamos se é ou não apropriada através dos resultados de
temos terinos que denotam regularidades e não meras impressões suas aplicações”.

sensoriais imediatas.
Tanto que podemos dizer: nao lia livro algum sobre a mesa, e o sen- A tese da falseabilidade fornece o criterio para a demarcação .-.-

__I"41___

tido do termo livro e compreendido mesmo na ausência do objeto. científica e indica que as teorias científicas são essencialmente pro-
já para Carnap, mesmo os enunciados basicos se referem ao visórias.
dado empírico, ein última análise. O dado descreve a experiência ime- Quando os enunciados basicos não contradizem a teoria, isto
diata dos sentidos. As sentenças protocolares são o fundamento do e, quando os enunciados básicos que servem para falsear a teoria
edifício da ciência. Popper, ao contrário, acredita que a observação não a derrubam, não sendo incompatíveis com ela, temos uma teoria
conduz ao conhecimento do fato, mas esta consciência psicológica corroborada. Os enunciados basicos, que são os falsificadores, não
não leva ao estabelecimento da verdade de nenhum enunciado. precisam ser ein número muito alto: interessa muito mais o grau de
Em epistemologia, a única questão pertinente ê a de como tes- severidade dos testes a que se submeteu uma hipótese. Uma teoria e i ëflíi-:-

tamos os enunciados atraves daquilo que podemos deduzir deles, isto tanto mais corroborável quanto mais ela for testável.
e, devemos 13 oder testa-los atraves de técnicas ex P erimentais, cu`os
1

r~4%|f_i¡7^I-K:i* A
;z-l_._._¬,.
19 POPPER, K. A [(ígz'ca..., Oj). cit., p. 68.
W POPPER, K. /1 [ógica..., Op. fit., p. 47. 3° Íbid., p. 69.

L
¬-ff
ii×iTiioi>uçÃo À i-*ii.-osori.-i na ciišu cia

Uma teoria corroborada não é, entretanto, uma teoria verda-


deira. Popper prefere reservar verdade e falsidade para a relação lógica
entre enunciados, independentemente das ocorrências empíricas. Discussao crítica
rx

Um enunciado só é tido como corroborado em relação a um sistema


de enunciados básicos aceitos até determinado momento.
E assim caminha a ciência: uma teoria corroborada é superada
por outra mais universal, mais abrangente, que além de ser mais testável,
contém a anterior. Acima desta teoria podem se encontrar ideias, teorias
ainda mais universais, para as quais, no entanto, não ha ainda condições
de testabilidade e que, por isso, pertencem a um sistema metaĒsico, como
se expressa Popper”. Só adquirirão “status científico quando a apresen-
tarmos numa forma falseavel; em outras palavras, somente quando se
tornar possível decidir empiricamente entre ela e alguma teoria rival”22.
A ciência não é conhecimento no sentido de epistemé, ela não
atinge a verdade. Mas representa, isto sim, um esforço para fazer
progredir o conhecimento e aproximar-se da verdade. Não sabemos,
podemos apenas conjeturar. Lançamos ideias, propomos antecipações
Apesar de haver diferenças sensíveis entre Carnap e Popper, as
que não procuramos defender, mas mostrar um modo de destruí-las
observações e confrontos que ora faremos serão dirigidos à escola de
através da lógica, da matematica, da técnica. Tal como Kuhn, Popper
äniiâiodo geral, à qual, em última análise, Popper pertence, com as
não acredita numa acumulação progressiva de conhecimentos cujas
e\‹i as ressalvas que devem ser feitas em seu proveito.
verdades se somam, pois as teorias novas se contrapõem as antigas.
Uma reedição da dialética? Não, apenas a proposta de que sem ideias
audazes suscetíveis de serem submetidas a refutação não ha ciência. 114

Para Popper, a ciência nasce de ideias, o experimento testa-a


guiado por ideias, e a teoria é uma ideia testada. A postura empírica

O velho ideal cientifico da epistemê - do conhecimento absoluta-


mente certo, demonstravel - provou ser um ídolo. A exigência da FAIM»-7-I*

objetividade científica torna inevitável que todo enunciado cien- O empirismo supõe uma recusa da essência, quer dizer, evita
tifico permaneça provisório para sempre”. recorrer às ' - .
asacham
SignifiaÊÍÍÊÍlÊSrÍÍ@fÊÍOÍÍÍiÍÂÍÃͬ.iÍ“Ê
que Os HQO . ç ç a“Íi““a
. .ecun ““Í“
o nas ““§"°`"“aS
ciencias. Alguns
Em ciência, a interrogação feita a natureza nao cessa: surgem _ positivistas, ao delimitarem entre enunciados com
problemas novos cujas respostas se renovam enquanto problemas. significado (os verificaveis ou testáveis) e os enunciados sem significa-
510 (impossível sua verificação, como no caso da metafísica e mesmo
.CÊH;;;;1r'iii(1)n;Ialilia|S).,
não deixaram de assumir uma postura filosó-
21 POPPER, K. A [o'gz'ca..., Op. cit., p. 120. V pirismo e uma questao de fundamento, essencial
32 Íbid., p. 121. 6, portanto, não se presta a teste empírico.
25 Ibzzi., P. 125.

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iNTa<ii.iuc:Ão.z\ i‹"ii,osoHA i1»\rí:ii1;i\¢r.:i.a | ¡N¡;«¬, 1 ,i\¿;¡szR¡,,.\ AR,._\U,(,

A postura filosófica representada pela defesa dos princípios vável, tratandozse de uma entidade abstrata“' funciona
r '1p¢n15
f t ê C Orno
nome. E verdade que Carnap reconheceu que esse nominalismó c QS,
do empirismo iinplica que, quando adotamos uma atitude filosófica
barrava nos conceitos teóricos e operacionais da física porém acredi
em relação à validade e á certeza do conhecimento, estamos lidando
tava que, por serem construtos teóricos, úteis e funcionais, mais çgdo
com a noção de princípios, que, como dissemos acima, não podemos
ou mais tarde poderiam se tornar verdadeiramente conceitos acerca
verificar experimentalmente, empiricainente. Em outras palavras, a
postura filosófica de que parte Carnap, por exemplo, ainda que ele a de algo, isto ê, sobre objetos da realidade empírica, devido ao avanco
desconheça ou porque a ignore, revela que todo ponto de partida ê da ciência e das tecnicas de observação. f
Ao propor critérios empiristas estritos, a maioria dos neopositi-
igualmente tomada de partido.
A liinitação da ciência ao fenómeno em detrimento da essên~ vistas não estava levando em consideração que grande parte da ciência -
inclusive e especialmente a ciência considerada por eles como modelo a
cia, pode, as vezes, prejudicar o cientista, principalmente no conz
texto da descoberta, no qual o lançamento de hipóteses criativas e
física - ê provida de cálculos teóricos e acaba por fornecer explicações do
mundo fisico com doses maciças de suposições, conceitos gerais e hipó,
fecundas implica que se recorra á essência.
Ao longo da história da filosofia, iremos topar com contra~ teses de trabalho que estão a léguas de distância dos dados empíricos.
Obtemos a coerência e a consistência antes pelo esforco na
posições críticas ao empirismo: postular que a realidade exterior ê
elaboração de modelos e teorias. Desses, exigimos que se aproximem
aquilo que ela ê independentemente de alguém que a conheça, im»
plica na visão ingênua de que a realidade empírica fala por si, de de uma imagem do cosmo que permita explicar problemas suscitados
que os objetos possam ser captados diretamente naquilo que eles pelas teorias aceitas, quando estas não dão conta de novos fatos. A no»
são através das impressões sensoriais e perceptivas. No fundo, a tese vidade fatual depende sempre da insuficiência da explicação vigente.
do empirismo vem calcada numa metafísica e numa metafísica bas»
tante pobre: a crença no dado puro dos sentidos. Ora, se aquilo que
aparece, ou seja, o dado, o fenômeno, fosse aquilo que a coisa ê (sua
essência, portanto) toda ciência seria desnecessária. Se não houver
necessidade de procurar por detrás do fenómeno o que o explica., A objetividade
se não generalizarmos e não buscarmos o universal, a ciência ficará
sendo mera descrição. Mas o que dela exigimos e a explicação do
fenômeno; e esta não está pura e simplesmente aderida a ele. Há que
Se a coerência e a consistência da ciência não dependem di»
buscá~la, supõ‹la, e as vezes, inventá~la.
retamente dos dados, mas do confronto de teorias para ver qual ê
Popper aproxima-se mais de um empirismo crítico ao eviden»
ciar a importância da teoria na elaboração do fato científico. Porem., Íušíšfëítëuâuiäílâaqíldíiilçfiçiliriltzgeírlfdproblemas fatuaiS (problemas fa»
como toda teoria só permanecerá válida se for falseável e, como além
disso, para falsear ê necessário buscar um enunciado básico, empírii» 3 algllma
. teoria) , ondcê e c omo f'ica
1 Oa objetividade
po-I e.St.ar€m da
em ciencia?
(fintfaposlçao
O que
co, em última análise também Popper capitula frente aos princípios garantirá que não se trata de uma construção idealista da razão ou
mesmo de uma construção surrealista da imaginação?
do empirismo.
_ Devemos observar principalmente que não e regra metodol.ó~
Como o mundo contêm fatos individuais, o que conhecemos
são fatos individuais, dizia \X/ittgenstein no Tmctatus, e com ele Car»
nap concordata. O conceito geral só existe a título de nome ou de mem « . I iamcntc a prova empiricozexperimental. O que
Or caracteriza epistemologicamente a ciencia hoje ê o embate
convenção para falar acerca de objetos. O conceito não sendo obser-
“F7
iNTRoi>UçÃo A ia=ii-osoi*ia iva <§:iÊi×iciA iivfis iatífiaiiia Aaaujo

de teorias. No confronto entre teorias, esperamos que haja uma que se a ciência se envolver com valores, com as questões de fins com. L,

explique melhor certas dúvidas e problemas e da qual possamos de» propósitos eticos oii politicos, ela será invadida por elementos estra-
duzir explicações cada vez mais completas para os fenômenos. nhos e perturbadores da pesquisa cientifica, raciocinam eles.
Em segundo lugar, a ciência se relaciona com a prática históri» No capítulo Ciência e Biologia, detalharemos as implicações
ca. Como o que colhemos da ciência são seus resultados, por vezes, do postulado da neutralidade. Se a prática científica faz avancar a
o criterio pragmático opera conjuntamente com o criterio da obje» tecnologia e esta faz avançar a ciência, a ciência, por sua vez,,não
I

tividade. O papel da ciência e do cientista está mais do que nunca consegue e nem deve permanecer isolada desse movimento social. l'

ligado aos resultados tecnológicos que impulsionam todo o processo Porem, sabemos que a ciência, quando praticada para e por fins ide»
produtivo. A ciência e tanto uma questão de meios (o conhecimento ológicos, acaba por se perder em incoerências, contradições e, por
científico e tanto mais válido quanto mais se aproxima de um ideal vezes, apresenta resultados que ferem o mais comezinho senso de rea»
de objetividade - a pura objetividade sendo impossivel) quanto uma lidade. (Recordemos de como o stalinismo ou o nazismo se serviram
questão de fins (como veremos no capítulo 7, quase sempre a pesqui» da ciência ou dos experimentos que realizaram em seu nome.)
sa e direcionada tendo em vista fins práticos). Esse impasse não existia para os neopositivistas, para quem a
Afirmamos com frequência que o confronto dos enunciados ciência e um conjunto de enunciados que explicam objetivamente
com os fatos seria a única garantia de objetividade; a linguagem não os fatos da realidade empírica; aliás, para Carnap, trata»se de um
poderia extrapolar o mundo sensível. Porem, este preceito epistemo» conjunto de enunciados que obedecem a regras linguísticas, a uma
lógico tem se revelado bem distante da prática científica, onde tanto sintaxe adequada. Portanto, mais por uma questão de forma lógica
se constroem condições artificiais para o teste experimental e, neste do que de conteúdo, seu metodo e um só: as ciências naturais e as
caso, a garantia de objetividade e menos empírica e mais lógica, como ciências sociais ou humanas devem seguir parâmetros metodológicos
temos por suficiente o criterio da intersubjetividade. A comunidade comuns. Se a ciência humana quiser receber o título de científica, as
científica deve poder reproduzir os procedimentos experimentais im» regras metodológicas e os princípios epistemológicos terão que ser os
plicados na teoria proposta ou na hipótese sugerida; a crítica mútua mesmos que os das ciências naturais. ›
e a introdução de conceitos por definição garantem igualmente a Porem, se a discussão acerca da cientificidade das ciências hu»
intersubjetividade ou, se quisermos, a objetividade científica enten» manas se resolvesse unicamente pela recorrência a empiricidade, à.
dida agora com restrições acima propostas. possibilidade de verificação, á unicidade metodológica, á linguagem
fatual, ao não envolvimento com valores e ideologias, grande parte
da pesquisa na psicologia, na sociologia, na antropologia e na histó»
ria se tornaria inviável.
Os problemas que as ciências humanas encontram para se es»
tatuir como ciência não se resolvem pelos criterios arrolados pelos
A defesa da neutralidade
neopositivistas para caracterizar inclusive as ciências humanas, isto e,
empiricidade e testabilidade. Nos capítulos seguintes, esta problema»
tica será enfocada diversainente pelas atuais filosofias da ciência.
O problema da objetividade desemboca no problema do en» Há ainda entre os neopositivistas uma confiança iluminista na
volvimento da ciência com valores que os neopositivistas caracteri» razão e em seu progresso. O mais grave e que o progresso caracteriza
zam como absolutamente indevido. A necessidade da neutralidade ëlpenas a atividade científica. Ele e contínuo e depende da capacida»
da ciência face aos valores está ligada ao postulado da objetividade: de de avaliar as teorias pela verificação empírica. Ora, postular o pro»
.... . A A

li\7TROli)Ll(,IAO A Fll,(.)SOl-fl.-¿\ DA (fill-1N(_IlA lN ES LACERDA A RAÚJO

gresso de uma razão positivista, calcada apenas no modelo científico, A postura cientiƒicista
implica em desconhecer que a ciência está enraizada na história real
dos homens e que daquela forma a razão cai no ardil do empirismo»
formalismo.
A verificabilidade empírica e a formalização fazem parte do
processo inetodológico da ciência, de modo geral. Mas, alem de não
representarem o todo da ciência, o afastamento dessas regras e o uso
de outras mostra que as fronteiras da ciência são mais fluidas e que
A exigência da unicidade metodológica o metodo não e ditatorial. A ciência se relaciona com os demais sa»
beres e práticas, como a filosofia, a arte, a religião, o senso comum,
a magia, a política, os governos, os interesses.
E preciso questionar se o conhecimento científico e incon»
Essa exigência conduz a um iinpasse: exclui do âmbito da ci»
dicionado socialmente ou se não será um requisito social que este
ência várias teorias da sociologia, da psicologia, da história, pois que
conhecimento seja considerado como independente e descondicio»
não podem ser testadas empiricamente e as vezes sequer falseadas;
nado em relação a sua origem.
valendo os criterios de cientificidade do empirisino lógico, as ciên»
Alem do mais, Carnap, como observa Adorno, continua a tra»
cias humanas não seriam, na verdade, ciências. Se esses criterios não
dição do positivismo subjetivo que vem de Hume e passa por Match
valem, que criterios epistemológicos garantirão a cientificidade das
e Schlick, devido ã sua “interpretação sensualista dos enunciados
ciências humanas? Ou será esta uma exigência desnecessária e ate
protocolares”24, quer dizer, ligados á experiência imediata dos senti»
mesmo ideológica? Teremos espaço reservado para essa discussão nos
dos, de modo que a sua pretensa objetividade descamba para uma
próximos capítulos.
subjetividade. E verdade que a influência do primeiro Wittgenstein
Apesar da tendência atenuante de Popper e de Hans Albert
está presente ao mostrar que os enunciados protocolares nãojadvêm
(Albert mostra a impossibilidade de se fundamentar um conheci»
do sentido, mas da própria linguagem. Mas para o mesmo Wittgens»
mento, pois este fundamento requer outro fundamento; alem disto,
tein, a questão da tarefa da filosofia de tornar claras as proposições
critica a exigência do empirismo em colocar despoticamente of im»
depende da consciência subjetiva. A razão dos neopositivistas, se»
perativo dos fatos. Infelizmente a influência sua e a de Popper são
gundo Adorno, se instrumentaliza ao reduzir»se aos metodos e não
menos sentidas entre os praticantes e adeptos do empirismo lógico.),
realizar a crítica da ciência e dos metodos; ao descurar “a coisa e
continuam de pe as afirmações de neutralidade, objetividade estrita,
seu interesse inibe considerações que afetam tanto o procedimento
linguagem lógica e formalismo. O postulado da unidade do metodo
científico como seu objeto”25, para ficar com o dado alcançado pelas
científico decorre de uma necessidade de principio entre os carnapia»
formas puras do pensamento. Disso resulta o cientiƒicismo, quer dizer,
nos: a existência de uma delimitação bastante nítida entre a ciência
a extrapolação do conhecimento científico como o único legítimo,
e os outros saberes que são relegados a um segundo plano por não
possuírem uma preciosidade exclusiva da ciência - seu metodo de
DOÍS que o único capaz de obter verdade fática.
Ei
teste. Ora, a crítica a indução de Popper e a variedade metodológica
encontrável e, de certa forma, desejável nas ciências humanas bastam
para abalar o postulado da unicidade metodológica.
2* ADORNO, T. P05z`tz`w'smo na socio/ogia zzlemzã. Tradução de: Wolfgarg Leo
Maar. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 512. (Os pensadores).
2* íàzaá, p. 219.

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