Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
t
TET
PEDAG DGIA DO ATRO HUCITEC
aA36u20JAM301300129VMU
BEATRIZ CABRAL
TEATRO EM TRANSITO
A PEDAGOGIA DAS INTERAÇÕES
NO ESPAÇO DA CIDADE
HUCITEC EDITORA
São Paulo, 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL
UNIVERSIDADEFEDERAL DE
DDE
C
autorais,
ODireitos
Beatriz Angela
Vieira Cabral. SISBI/UFU
de
por
de publicação reservados
Direitos 1000426963
Hucitec Editora Ltda.
23
Rua Gulnar,
05726-050 São Paulo,
Tel./Fax:
Brasil1
efetuado.
Depósito Legal
editorial
Coordenação
MARIANA NADA
Assistente editorial
MARIANGELA GIANNELLA
Circulaçãão
SOLANGE ELSTER
CDD 792
ISBN 792.01
978-85-64806-43-6
Indices
1.Teatro para Catálogo Sistemático
792
2.
Pedagogia do teatro 792.01
SUMÁRIO
-ANDRÉ
Apresentação
CARREIRA
9
Introdução 11
Capitulo 1
O espaço da cidade-lugares, história, olhares 14
Deslocamentos: do lugar e da história
O sentido da experiência imersão, percepção, memória
Memóriae Percepção-implicações
metodológcas
. 16
21
25
Mobilidade da significação e articulação dediferenças 31
Teatro como Cultura e Teatro como 37
Pedagogia
Capitulo 2
Teatro em Trânsito-aidentidadeda diferença. 45
História: um Projeto deIntercâmbio em Teatro 48
Edições e
do Tránsito redirecionamentos do olhar. 52
Formas de Interaçãoe Formas Interativas 58
Santo Antônio 64
Nova Trento 73
Bombinhas. 80
Ribeirão 80
Farametros Estéticos e Artísticosaspectos convergentes 92
7
Capitulo
3
O Lugar praticado 95
como Pesquisa
A Pratica 1eatral 96
teatro em busca
do espaço da cidade
O 103
Entre oetèmero e o processual 106
Entre a arte, a ética
ea estética
115
As subjetividades em cena e a voz do coletivo 122
A guisa de Considerações Finais 125
Para uma estética do dissenso euma política do etcétera 125
Referencias 130
Anexo. 135
APRESENTACÃO
sempre estão alicerçadas no diálogo com seus alunos. Os dados que o livro
traz mostram
queforam inimeros aqueles estudantes de graduação que pu-
deram intervir nas encenações desempenhando diversas fungöes nos proces-
sOs criativos. Este livro é uma ressonáncia desse modo de trabalhar. As
pági
nas que
seguem podem ser vistas como um mapa que sugere caminhos para a
experimentação de práticas que compreendem ofazer teatral comoformação
de comunidades criativas.
Como afirma a a própria ideia de um teatro em trânsito re-
autora,
mete tanto ao formato de uma
proposta cénica, como ao caráter processual
que tem como eixo a observação das alteridades. Trata-se de um jogo de en-
impulsionado pela exploração dos espaços da cidade. Umjogo que nasce
COntros
do desejo de se buscara
ressignificação dos lugares", de tal modo que sepode
a proposta considera a linguagem cénica um instrumento de
perceber que
na concreta do habitar, ain-
ntervenção cultural fundamentada experiéncia
aa que momentamente, os da cidade.
segmentos
9
dos "trànsitos"-alim
além de
A diversidade departicpantes dantese
estudantes
professores
estão também
tem a cafpacidade
de
deixa clar
colocar em relaco
rador do
dramaturgia. Isso pode ser facilmente relacionado
com principi0
rânsito, ou seja, com a ideia de se mobilizar uma
o g
releitura dos
do
espaço, a partir da introdução de uma cena
5entidos
falas
que definem a memória.
que reconfigura s
ES5a
proposta estimula a
da
experimentação das possibilidades dos epa
gos cidade como território da arte.
Também sugere aexplorafao ucn
055OC1a1se culturais,
biente
pois compreende que o teatro podefazer pareado am-
urbano, não
apenas através de uma aos tran-
seuntes,mas como apresentaçao oferecida
cerimónia
habitante em um jog0
que dá noo0s que compromete seus
significadosao habitar.
-ANDRÉ CARREIRA
10
TEATRO EM TRÂNSITO
A PEDAGOGIA DAS INTERAÇÕES
NO ESPAÇO DA CIDADE
O no espaço da cidade é aqui focalizado a partir do
teatro
periências mostrou que seu impacto nos participantes foi causado pela
forma pela qual o tema foi abordado e o material introduzido: a transfor-
de ver; a inte-
maçao do espaço cotidiano que possibilitou novas formas
raçao entre alunos de teatroe moradores locais
de faixas etárias distintas;
nas cenas e durante o percurs0
personagens inesperados encontrados
OS
a ressonäncia do contexto teatral com os contextos histórico e social
dos
espectadores, narrando
o fato histórico que deu origem à cena que en-
contrariam a
seguirea
historia do local em quecla estavaambientada. O
dos Cinco grupos de espectadores pelo espaco
caminhar e o cruzamento
sentido de cerimónia ao evento 0 tre vir dos
da cidade agregou um
13
1
O ESPAÇO DA CIDADE
LUGARES, HISTORIA, OLHARES
atores,espaço e texto. Em o
segundo lugar, eles assumem que sentidode
uma pode ser alcançado pela ideia de uma ação através da
experiência
interação entre condições sociais e fisicasimediatas.
O sentido de experiência, nesta concepção, implica elementos de
ambientação cênica-as opções de uso do espaço, a iluminação, oSOIly
objetos de cena e figurino que juntos criam o pano de fundo part a
Os
ara
interação dos atores. Isto representa um espaço fisico e ressonante p
criaruma atmostera na qual o texto não é apenas visto ouvido, e
ou
t
principalmente vivido, quer a cena seja sobre o ambiente retratad
uma experiência acentuada por ele, Este sentido de experien
sODre
lu-
evidentemente intensificado de acordo com o potencial simbolco dos
gares selecionados e as situações
exploradas. prin-
Aqui será focalizado um fazer teatral que se aproxima destes p
às
pOs,mas que ao associar a escolha do lugar à história dalocalidade
14
memórias de seus moradores, procura apontar para o que não foi dito, o
que ficou nas entrelinhas, ou se refugiou nas anedotas populares. Esta
associaçaão torna-se bastante significativa em locais onde os netose bis-
netos dos desbravadores e fundadores das localidades ainda vivem.
O contexto multicultural é hoje evidente não só nas cidades e gran-
des centros, mas também nos bairros (número crescente de imigrantes), nas
escolas e nas universidades (estudantes de outros estados e origens étnicas
distintas). A multicultura se traduz em
múltiplas formas visuais e aponta
para uma forma mosaica e não o
linear de ler mundo. E possível dizer que
do
É esta possibilidade
banal, que ele possa
ler
ler a cena o
cena e o lugar signifia
atrAvés deoutras
dos além
perspectivas.
O sentido
o grupo,
do lugar passa, as8Il,
se aproxima
A ser apropriado pelo ue
dele
e atinVa o conceito de lugar pratisado t sado
dele e por
fez
descrever a Cidade como um lug
Michel de Certeau para e apropriado
pelas ruas criam textos constrOCm seu
e
caminhando
pelas pessoas,
que
e estes Subverterma lógicaea justificativa
eug
próprios significados, 117)
oficiais que
Ihes sao atribuidos (Certeau, 1984, p.
nificados
da história e do lugar
Deslocamentos:
permanente.
A noção de é aqui associada ao entendimento de
lugar praticado
Clifford Geertz (1997), de que as histórias dramatizadas não sãoapena5
retlexos de uma sensibilidade analogicamente apresentada;clas sãoagen
tes
manutenção de tal sensibilidade. Seguindo0
positivos na criação e
associa
a verdades universais, recebidas e aceitas acriticamente,
paço e o lugar; como ambos sao afetados pelo sentido do tempo. Ele su-
a segurança, e o espaço a liberdade: nós es-
gere queo lugar representa
tamos ligados ao primeiro, mas sonhamos com o segundo. A experiência
do espaço e do lugar, para luan, sao todas as formas pelas quais uma
pessoa conhece
e constrói a realidade.
Manuel Castells (2000), ao refletir sobre a cidade como lugar de
moldam o mundo hoje: a glo-
transformação, aponta duas tendências que
balizaçãoeaidentidade-a sociedade em rede traz a flexibilidade, mas
também a instabilidade do trabalho em uma virtualidade real. As identi-
dades coletivas (de comunidades locais) desafiam a globalzação e o cos
cultural. Esse jogo entre
mopolitismo em função de uma singularidade
identidadee flexibilidade permite que um antigo bairro ou uma peque-
na cidade ainda possa ser percebido como um lugar de transtormação,
onde unma rede é criada entre as ocupações presentes e passadas, cons-
truindo uma nova cultura a
partir da história.
A retlexão sobre Os aspectos pontuados pelos autores citados aci-
ma permite identificar questões norteadoras para a condução de um tra-
balho de teatro no espaço da cidade:
1. Uma vez que a percepção do espaço ficcional é reordenada pelo
deslocamento de sua perspectiva, o processo de criação explicita percep
19
(2009), que
tem em
comum a
Duvignaud identificação e
de solenidade, a presença de atores ou
de um espaço indivíduo
elimitação
E possível dizer
que as experiências de processos interativos eco
operativos de montagem se incluem num sentido amplo de arte
tettt
cujo objetivo é a ênfase no sentido social do teatro
enquanto um aro
capressao em grupo.Referem-se, assim, a uma prática cultural queoper
na ironteira entre a arte teatral e a O
intervenção cultural. acesso atorms
20
de expressáo populares permite os participantes reconhecerem,
reforçarem e desenvolverem seu lugar dentro de uma experiência
Compartilhada,
jetivos
a realização dc cxperiências.quc.causcm e
impacto, social estético,
em seus participantes, Assim, qualquer encenação teatral que envolva
um grupo heterogênco de participantes na criação e ressignificação da
história e do lugar em que vivem, requer seja considerado o próprio sen
tidodeexperiência-a0 nível do indivíduo e docoletivVo
Em corrente, cxperiência, cnquanto ato ou cfeito
linguagem de
Cxperimentar, significa vivenciar ou sofrer algo, tal como uma alegria
ou
uma do. Mas ter cxperiència também a uma habilidade ad-
se retere
quer seja uma ópera, uma pintura ou uma encenação, para ser apreciado
necessita ser experienciado; esta compreensão, segundo Peter Abbs
(1987) aproxima-se da raiz etimológica da palavra grega aia@netuKi, que
se refere a "coisas
percebidas através dos sentidos". A
relação dinámica
entre
apreensão e sentimentos, diz Abbs, exige um modo ativo decon
templação (p.53).
Entre os filósofos que se debruçaram sobre a experiència estética
no campo do ensino da arte, David Best (1985, 1992), ressaltou,
particu
larmente, os riscos, frequentes nos objetivos
de projetos e seu planejamento,
21
SISBI/UFU
1000426963
a
emOCIonal da experiëncia cognitiva: o
os
de separar experiëncia sentimen-
a razao, enfatiza Best em seus escrito
tos sempre respondem
ritos, uma vez
estão abertos as razoes dadas para ver esentis
que em princípio
A experiencia estética é, portanto ds
balho em diferentes perspectivas.
seu dialogo parece ocorrer em diferentes niveic
lógica em sua natureza,
e observado, entre afeto e cognição, entre suieito ob-
entre observador
as razoes dadas para se perceber ou sentir
ieto. Esse diálogo responde
mente, a ponto
de transformar seus habitos. Para ambos, experidn a in
como uma experiencia de estranhamento que exige um
estética aparece
e de readaptaçao. Mas,segundo Gianni Vatti
trabalho de recomposição
mo (1989, p. 71), "tal trabalho não visa atingir uma recomposição total
ao contrário, a experiencia estetica
e dirigida para mantervivo o desloca-
mento. . .] tanto Heidegger quanto para Benjamin, o estado de
para
deslocamento é constitutivo e não provisório.
Em teatro, o sentido de experiência viva e o ambiente de imersão
incluem a de uma ambientação que estabeleça um pano de
construção
fundo para a interação dos atores e um espaço físico e ressoante para críar
um universo no qual o texto nao e somente visto ou ouVido, mas Sim expe-
rienciado, quer cena seja sobre o ambiente retratado ou
a experiênciauma
ambientais. Isto é intensificado seoslugares
ressaltada
pelas condições e
situações selecionados tiverem uma rica significação simbólica. termos
Em
ficionais, implicaria o queJanet Murray (1997, p. 139)descreve comosendo
pelos papéis virtuais em ambientes convincentes: "asexpe-
a
força adquirida
TICncias dramaticamente mais satisfatóriassão aquelas que encorajam O pau
ticipante a aplicar/relacionar pensamento do mundo real ao papel virtual
A significância simbólica
de um lugar e sua potencial teatralidade
nao depende de formas
representativas de eventos passados, masdc
gCnsesentimentos direcionados ao próprio lugar. ruptura dasformas A
familiares de olhar
para um lugar geralmente os pressup
derruba
CnvolvidoS nas formas de
percebe-lo, Nessas circunstâncias é possiv
Ver
tanto um teatro sobre um in-
ambiente ou uma experiëncia te
Tensiticada
por condições ambientais, sem o risco dejulganct morais,
discursos
que o conceito de
24
didáticos ou
laudatórios.
Richard Schechner
(1972), ao discutiro teatro ambienty
teatralidade implica a
ressignificação cdos
i
dianos da vida a fim de estabelecer uma nova relação comomundo. Este
ele diz, quando se reconhece que isto tem av
procedimento e pOSsivel,
com a construção de uma realidade de ficção -quertransformando o
em espaço ficcional, ou modificando o espaço teatral a
espaço cotidiano
fim de aproximá-lo do espaço ficcional.
Nesta direção, as noções de experiência, interação cénica entre ato-
res e moradores deslocamentos, ressignificação, teatralidade, e,em
locais,
dos atores e do
público.
opiniões divergentes
ao de
O
sentido de experiência, ao ser associado fluxo interações
passado ao presente.
E no passado que nos situamos de chofre p
de um estado virtual, quepOuco a pouco, atraves de uma série mos
denlanes
de consciência diferentes, vamos conduzindo ate o termo que ele set
ma-
terializa na percepção atual.
29
aidia e a fofoca do dia. As razoes para a promoção de anedotac 1
rias pessoais, acrescenta 1gnatieir, sao culturais, políticas histó-
se
e
economicas, e se relacionam com padrões também
emergentes deglobalizacãoe
alização e
Corporativismo.
Entretanto, se a mídia emprega histôrias para reduzir esnas.10
e cultural, isto nao enfraquece o valor da
análise política narrativan
texto educacional. E necessário refletir em dois åmbitos:
primeiro, sea
histórias são usadas de uma certa forma na mídia, é possivel que
uncio-
de "histo
2,3 Mantive aqui a discriminacão da ortografia anterior
estabelecer maior clareza a distinção entre story e history.
30
Mobilidade da significação e articulação de diferenças
interpretação?
O espaço para a voz social e expressiva de cada participante na
tagem em andamento. Em
ambosos casos ela inclui o que não está escri-
to, o disfarçado, implícito, não estudado; assim, comporta duasideias: ad-
espaço intermediário. Ele não pode ser idêntico porque cada texto tem
uma parte não escrita (ou não falada), os vazios do texto, os quais preci
sam ser preenchidos pelo leitor. Os vazios permitem diferentes leituras
do trabalho, as quais não são compatíveis e requerem um enquadramen-
to a fim de serem associados. Porém, ter um enquadramento no signitica
Identificar seu
significado. Assim como o autor seleciona partes da reali-
dade para incluir em seu texto, o leitor seleciona partes do texto para
focalizar em sua interpretação.
33
DE UBERLANDIA
UNIVERSIDADEFEDERAL
RIRUQTECA
Em Teatro e na Literatura .
a função do leitor tem sido
filosóticas e metodos, e vista con investigada
NAr diferentes escolas como
o desenvolvimento
de qualquer processo artistico umafundamental
vez que é
para
critica e potenciais mudancas.
éaa
base para a apreciação
tem a ver com um
Em geral, o foco no leitor deslocamento das
em c a0reconhecimento darela
a autorreriexao
humanas direço
väncia do contexto.
Em particular, ele representa um caminho seoiro
individuais e pessoais em Pra
focalizar as interpretações trabalhosdegrupo,
comoserá visto à frente.
No entanto,
a reprodução
fato real reproduzi-lo mimeticamente.
e tenta
significante-figuraçao.
O
significante,
ou seja, a denotaçao, ao elação
setransfor-
totalmente sua funcão
mar em figuração não suspende original;, há uma
e ou
OScilação entre denotação figuraçao, entre acomodação assimilace acão
(se formos considerar
esse movimentopela perspectiva dePiaget)
Essa oscilação ou movimento de idae vinda na comunicacão é hi
coexistencia do mutuamenteexclusivo.
sica para o jogo e permite a
isso ou aquilo?
O Jogo da Cena é o jogo da atuaçao; focaliza a interação doator
com a
linguagem do texto
(entonação, inflexão, tempo, ritmo, etc.), com o
texto no espaço (dirigindo o olhar para suapresenga cenica), com espec- o
tador (este, ao olhar a cena, identifica e seleciona os signos visuais e
bais que lhe dão significação, interferindo dessta forma na
cena). Em pro-
cessos de montagem o jogo permite explorar e visualizar a personiticação,
a
observação da diversidade e a quebra de consenso deforma organizada
ecrítica. Se a tensão introduzida pelo contexto da ficção gera aenerga
para o processo de investigação, a inclusão dojogo permite odistanciamen
necessario para
que os particpantes percebam a relevaänciado matci
to
37
das pessoas e Suas
in fauenciarão
ue
o comportamento expectativas.
cultu-
A
in
nao explicito, mobiliza co
um processo pedagogico sonhos e
ra como imagi-
maIs for inconsciente
nação, e
é tanto mais eficaz quanto
Educação e Cultura,
vistos pelo
Entretanto, ângulo deum e
cepção do mundo
e regulam sua prática social.
A ação cultural e pedagógica, ao se propor a investigar que está o
por trás da história e ao inserir possíveis deslocamentosdo olhar repre-
a propor a
diagnóstico seria poss
possível
investigaçãocoletiva
A prática centrada em novas
vas formasde
de cultural como
formas deespet
petáculo.
espeta
na noçao
poder textual,
conceito
prática
pedagógicacoloca ênfase da
38 introduzido por Robert Scholes, no
por Robert
Scholes,
pedagogia radical (borderpedagORY). Segundo Scholes, a prática de focali-
zar a textualidade em vez do texto, considerando-o em termos históricos e
temporais, permite que o aluno le1a o texto, sobre o texto e contra o texto.
Ler o texto signitica identiticar os códigos culturais
que estruturamo tra-
balho do autor. Mas,para sua percepção crítica,é importante
que os alu-
nos tenham a oportunidadede recontar a história, sumarizá-la e
expan-
di-la. A interpretação, segundo Scholes, o texto através das
implica ler
diversas interpretações que representam um segundo comentário sobre
este texto. A tarefa
pedagogica está em ajudar o aluno a analisar textos
dentro de uma rede de relações com outros textos e práticas institucio-
nais. Isto levará o aluno a quebrar os códigos culturais do texto através
da afirmaçao de seu
próprio poder textual e a analisar o texto em termos
de suas ausencias, levando-o a desenvolver uma posição tora das suposi-
ções contidas no texto original (1985, in Giroux, 1991,p. 28).
Outros dois aspectos são acrescentados por Giroux, como centra1s
àuma pedagogia radical deresistência.Em primeiro lugar, o reconhecimento
de que a produção de significados está atada ao investimento emocional
e à produção de prazer. E necessário, portanto, incorporar à pedagogia a
compreensão teórica decomo a produção do significado e do prazer estão
interlgadas, e revelam quemo
aluno e, como ele ve a si proprio, e como
ele
projeta
seu futuro. Em segundo lugar, a produção do desejo decorre
de como o aluno medeia, relaciona, resiste e cria formas culturais e formas
39
não como ensai0, mas como preenchimento do
reneticão,
vazio do
como ele é preenchido, determinado por
na maneira por espaço
signos e
nor meio dos quais o ator desempenha um papel que desem máscaras
que o gerou.
Retomando Giroux, eu que a a atenção a uma pedagogia de
diria
6 Minha
ev este visualização deste teatro de repe épo Oca
em que es-
capítulo, aconteceu petição, visceral, à
na swa7.
40 experiência de assistir o lack
filc
A mobilidade da significação ea articulação de diferenças, em uma
perspectiva de teatro como culturae pedagogia, requer assim a contrapo-
de discursos que possam problematizar as posições subjetivas dos
sição
de uma experiência comum.
participantes
Esta contraposiçao, como contramemória reconhece o caráter com-
aberto e indeterminado da tradição democrática. A
posto, heterogêne0,
é articular suas diferenças como múltiplas e demo-
questão pedagógica
cráticas.Para Foucault, counter-memory é prática que
a transforma a his-
produzidas.
forma de investigar parâmetros estéticos e artísticos para um
Uma
processo de criação em teatro seria associá-los
com os espaços abertos
para a e, na sequencia, articular formas singulares de expres-
experiéncia
são e discurso no espaço e tempo da cena.
O contexto multicultural associado a um projeto centrado na in-
43
envolvem gestos, cantos
Ou sons, COres ou luzes, vOzes,etodos
44
2
TEATRO EM TRANSITO
A IDENTIDADE DA DIFERENÇA
47
Em que medida a associação entre texto e jogo, representação e
performance, permite visualizare explorar apersonificação, a diversidade
e a quebra de consenso?
Se no drama a tensão do contexto da ficção gera a energia para a
investigação cênica, 0jogo permite o distanciamento para perceber a rele-
vancia do material investigado0.
A tensão inicial é deslocada para o processo de criação.
48
Cada pesquisador realzou um trabalho intensivo de quatro sema-
nas em seu pais, o qual contou com a observação participante do colega
icifante. No intervalo entre as missões de intercâambio as parcerias de-
am continuidade à pesquisa em parceria, escrevendo artigos e comuni-
em conferencias e
congressos. Em 1999 foi pu-
cacões para apresentaçao
Ensino do teatroexperiéncias
blicado o livro interculturais (Cabral,
realizados nos anos do projeto.
1999) sobre os trabalhos primeiros dois
trabalho
O
em
parceria funcionou
em
diferentes níveis. Primeira-
açoese cênicas
opções aressaltar e enfatizar "o local" eo "par-
passaram
ticular independente
de terem sido planejadas ou pensadas priori. a
Minha parceria com John Somers se concentrou, nos dois primeiros
anos, no drama enquanto método de ensino, e articulou história, frag-
mentos de texto e composição de estímulos. Nos dois últimos anos incor-
de espetáculos e trabalhos com
porou elementos do drama à montagem
teatro em espaços da cidade. Cada pesquisador partiu
do referencial e
houve uma identificaço de
objetivos específicos de sua pesquisa-não
objetivos ou métodos de trabalho (abordagens).
Sua 1dentificação
e análise.Nos processos teatrais desenvolvidos como ati-
do visitante foi a de observa-
vidade-toco do intercâmbio participação
a
uOr estudantes e grupo de pesquisa
distanciado, e posterior retorno aos
49
sobre sua percepço do evento, com énfase nos momentos de estranha-
mento cultural.
da comunidade; ambas
eram ambi1entes atracntes
para turistas; ambas
observavam as "modernizaçöes de suas casas, ca pressão por projetos
de desenvolvimento urbano e arquitetônico,geralmente inadequados para
as criançase os moradores antgos que gostariam de
permanecer
munidade. Esta percepção dos moradores em relação ao seu espaço e
condições de vida foi ressaltada nas entrevistas, e expressa na criação das
cenas e na interação entre atores e espectadores.
O
Payhembury Millenium Play foi realizado na locali-
espetáculo
dade de Payhembury, próxima a Exeter/Devonshire, em julho de 2000,
e Santo António de Lishoa na Virada do Milénio, no bairro de Santo An-
6 A mudança na do grupo de
do local
constituição
da realização do trabalho e do fato de pesquisa decorreu da mudança
que os tránsitos da Santo Antônio e
Ribeirão da Ilha ocorreram em
Florianópolis, com a participação de alunos,
sores e técnicos da Udesc profes-
e da UFSC, e os trânsitos de Nova
Trento e Bombinhas
(cidades do interior do
estado) contaram com a
participação dos alunos do Curso
Magister (Udesc) e apoio de escolas de ensino
e das secretarias de fundamental (professores e alunos)
Cultura e Educação das
cidades.
7 Em alguns locais encontramos respectivas
mática."
A identificação de lugares em vez de espaços teve a ver com a dis-
às significações individuais
tinção antropológica entre lugar, associado
e/ou históricas, e a area fisica disponível.
espaço,
Ao
propor lugar como
emocional dos
ponto de partida, pretendeu-se intensificar o engajamento
com a apropriaçao
participantes (moradores tradicionais e recém-chegados)
por-se "ao
ma para
que acontecera a seguir
a criação de rituais.
,
interna da situação passa a sobre-
ção para o que está por trás da cena histórica e levam o espectador a
perceber as possibilidades daquilo que não ocorreu.
O papel
do grupo de pesquisa foi o de identificar e articular as
diferenças culturais, histórias devidaelinguagens, tornando-as explíci-
tas. Isso só foi possível através da inclusão de rituais e
cerimônias. Exem-
plificando:
1. em uma cena
compra de votos na eleição de 1947, os
sobre a
eleitores, acocorados no pátio em frente do local de
votação, aguardavam
a melhor oferta." Quando os cabos eleitorais sondavam suas
necessida-
des, um por vez descrevia sua prioridade com base nas histórias colhidas
através das entrevistas com
aqueles que participaram daquela eleição. A
das necessidades ocorria quando os cabos eleitoraisdo
amplaçao partido
oposto faziam a mesma proposta. A
caracterização dos personagens eo
texto seguiam um ritual conhecido
pela plateia, mesmo que de forma in
direta, através das memórias dos moradores
idosos, usualmente narr
em épocas de eleição. A conclusão da cena
apresenta um eleitor bëbado,
que ao declarar seu voto e ser
ameaçado de prisão, circula entre os espe
57
às especificidades dos sujeitos participantes, inclui vozes ue
particulares
revelam respostas fisicas, emocionais e eventual
podem ser distoantes,
em um coletivo. O caráter de
mente verbais, dos individuos presentes
de que aquelas falas e posturas
ritual está na indicação (ou suposiçao)
de grupos de mo-
refletem o pensamento (e manifestações/expressões)
radores locais,reiterados
com frequência.
O usual impacto desse procedimento nos participantes (atore
58
entre o roteiro (e/ou pré-texto) e o
lugar onde ocorreu acena
ceia este o mesmo em o
que eventO OCOrreu no ou
passado, outro espaco
1urbano ambientado cenicamente para revisitar sua história.
A identificação de convençoes,
estrategias, jogos teatrais,e proce-
dimentos, potencialmente interatvos, que facilitam trabalhos de curta
du-
racão e a interaçao entre atores e nao atores, no contexto do campo de
pedagogia do teatro, vem crescendo em decorrência da ampliação da car-
ga horária de estágio dos Cursos de Teatro, erradicação da
separação en-
tre os fazeres do ator, diretor e do professor no campo da formação em
no Ceart/Udesc, e de
1o Faço esta afirmação a partir do ensino do teatro
e
as quais tenho
mantido interações,
em universidades com de sua
Cvaoes realizados não tenho evidências
no GT Pedagogia do teatro da Abrace; no contexto do ensino funda-
Dtes nem comprovação de sua atualização
81cralização,
mental hoje, 2010.
59
A delimitação do espaço e a ambientação cênica através de re-
ursos tais como tochas, lamparinas, mascaras, estandartese bastöes, etc.,
representaram formas interativas de incluir os espectadores no espaço cê-
nico e/ou na ação, quer individualmente ou como membro de um coro ou
deum coletvo.
60
foi levantar aspectos
da h1stória não oficial deses
pré-tex
pré-texto o do uso não convencional lugares, res-
através
ignificar
sign
espaço
moradores do
deles,promover in- a
entre os originários localeos
teração recém-chegados.
T Im
Outro Lado da História em Nova
Trento"-a realizacão de
sm fránsito em NovaTrento foi solicitação dos alunos do Curso Magister
daUdesc, cursando a disciplina leatro-Educação l',por mim minis-
O programa da disciplina foi redirecionado
para integrar nos
rrada. osaluno
do curso participantes voluntários da Escola de Educacão Básica
com
Francisco Mazzola (que sediou o curso) erepresentantes desegmentos
centro da cidade.
O
Curso Magister funcionava às sextas no período no-
sábados pela manh e àtarde, oquefacilitou aintegração.
turno e
O foco para a construção das cenas foram questões culturais da
e sua ressonancia com os momentos atuais hábitos e pre-
imigração
nos dias atuais; as relações entre osdescenden-
conceitos que persistem
usada pelos
terminologia ainda
tes de italianos e os "brasileiros
italianos para se referir aos caboclos (descendentes do
descendentes de
e
cruzamento de portugueses com índios africanos).
Teatro em de Bombinhas
Tránsito na História um onibus
e
da Secretaria de Cultura de Bombinhas umaturmade
com uma equipe o espetáculo de
de segundo fretado para levá-los a assistir
grau,
alunos
lrento, foi a
origem do convite, pela Prefeitura deBombinhas,para
Nova durante seis
o Curso para aquela cidade,
que deslocássemos Magister
A
edição do tránsito. Prefeitura
finan-
uma
Smanas,a fim de lá realizar trinta alunos e osinterna locomoçao
Ouacomodação e alimentação para
da Licenciatura2
reproduziu o programae
disciplinas
CursodoMagister
Centro deArtes, da Universidade
do Estado de Santa Catar
de
enicas Trento (Centro-Oeste),
estado) e Nova
um com vestibular
Laguna do
a
(sul
fim de promover a formação de professores
de teatro para
a Secreta
entre
afe cada cidade,
do estado. A iniciatíva foi realizada através
de convênio do Cur-
Os alunos
ri
M ao
do Estado de Santa Catarina e a Universidade.
61
A motivação para o convite, e posteriormente para nossa investiga-
ção, foi ressaltar aspectos da memória histórica específica do municipio,
uma vez que este havia se emancipado recentemente. Além disso, cha-
maríamos a atenção para sua mudança acelerada devido ao desenvolvi-
mento turistico crescente, população flutuante (vida da cidade em função
da temporada de vero), e carência de registros históricos.
62
Trabalho de dramaturgia pelo grupo de pesquisa
criação de
mento e/ou roteiro, assoc1ando
lugares-história-memóias. Em alauns
caso
foram aproximados momentos históricos distintos, para ampliar sua
sionificação e ressonancia com acontecimentos contemporâneos.
Identificação de possiveis rituais e
cerimõnias a serem criados
ada cena de modo a alternar papéis coletivos com
espaço para as
vozes individuais (que permitissem incluir na cena diferentes leituras da
situação
em foco).
Procedimentos deTrabalho
Argumento e/ou roteiro, após definidos pelo grupo de pesquisa,
passaram a ser investigados em termos de abordagens estética e artística
pelos estagiários e voluntários que assumiriam a direção de ator de cada
cena,ou personagens-chave para "segurar sua construção. Os persona-
gens-chave assumiriam as funções de protagonistas, cedendo o lugar para
Cena a cena
Ponto d'Agua
CURTUME-O
TN
início do século
Antonio de Lisboa, foi durante o final do século XIXe
AAa única fonte de água pública, não salobra, localizada no centro da
reguesia. Como o ponto de trabalho das lavadeiras, atiVI
tal, tornou-se
dade acompanhada por muitas fofocas. A cena criada para representar
cste locale atividade foi ambientada em torno de 1880, a fim de incor-
porar berpa, Vig Pereira
personagem histórica do padre José Feliciano
a
atividades em
d4 cOmunidade durante 53 anos e conhecido por suas
medicina popular, sendo famosas suas garrafadas e benzeduras.
na dé-
Oito grandes tanques, construídos pela prefeitura
cada de
ena. usualnmen
c760, no antigo curtume, para organizar encontro o
65
tumultuado das lavadeiras, o cenário para a cena em queelas disputa
tam
os tanques em meio a fotocas, anedotas e cantorias. A insatisfação c
ere re-
de uma delas, por náão ter conseguido o tanque
clamações almejado,viraa
motivo de chacota das demais. Uma das colegas sugerequea origem do
mau humor deve-se, na realidade, ao baixo desempenho sexual do mari
do da colega insatisfeita. A
acusação abre espaço para a introdução de
histórias sobre as garrafadas do cônego Serpa. O
elenco incluiu
uma la-
vadeira ainda ativa, seus filhos pecquenos e crianças da vIZinhança.
O
O Sentido de Cerimônia. sentido de cerimónia foi dado,inicial-
mente, pela entrada das lavadeiras com suas cestas deroupa, pela cantoria
que (historicamente) acompanhava a atividade;, em outro momento, pela
verbais (discussão sobre espaço e distribuicão
interrupção de seus confrontos
do horário de uso) a fim de apresentar o ir e vir das crianças aoredordas
mães, da roupa nos tanques, acompanhado dos murmúrios
o som dasbatidas
e/ou resmungosdas lavadeiras, como se estivessem falando consigo mesmas
O
O Sentido de Ritual. contar das histórias da comunidade, pelas
lavadeiras, mostrando fisica e verbalmente suas altercações e disputas co-
BOSEEganonnSBS0SASDSFILOANBLD
66
T
Reaistro Histórico. LD. Pedro lecomitiva aportaram em Santo Anto-
nio em 21 de outubro de 1845,a bordo dovapor
Imperatriz, como
parte
de visita Aposcerimónia na lgreja Matriz, onde foi entoado
protocolar.
o
hino "Te-DeumLaudamus,foram as honrarias às
entregues autoridades
da freguesia. O padre Lourenço Kodrigues de Andrade foi
vigário de
Santo Antonio de 1797 a 1821,onde exerceu importante liderança polí-
sobretudo contra o Alvará Régio de 1785,de D. Maria
tica,
I, a Louca,
que mandou extinguir os teares no Brasil,para que na colônia não se fabri-
cassem tecidos que viessem a competir com preços dos fabricados em Portu-
gal.
O vigário passou ento a se vestir com roupas feitas nos teares de Santo
A
Antonio, assim se apresentando à corte. junção destes dois momentos
históricosvisou salientar as contradições da relação colônia-corte em perío-
dos históricos anteriores, e sua possível analogia com outras épocas e locais.
68
Reaistro Histórico. O da produção de
registro
farinha em Santo
nio deLisboa em 1797aponta para 20.000
alqueires demandioca,
essa que cOmegou a cair a
produção partir de 1835, com os efeitos da
chamada farinba deguerra, por ser em grande parte enviada às
tropas da
coroa no Rio Grande do Sul. A fabricaço da farinha era
acompanhada
de muitos momentOsde recreaçao, por exemplo,"as farinhadas", feitas sno
inverno quando a mandioca ainda estava bem consistente. Várias
pessoas
o forneiro, o cevador, o
na farinhada,
trabalhavam prensador, eos raspa-
dores de mandioca. Quanto maior o número de ajudantes, mais rápiddo
terminava o serão. Na raspagem da mandioca pessoas detodas asidades
contavam casos, cantavam quadrinhas e faziam desafios.
e não pagava.
governo, que comprava a produção para alimentar as tropas
sociacão recém-fundada.
Entre as histórias populares associadas à igreja há a deque es- o
paço situado entre a cscada que leva aos sinos, e o cemitério aos fundos,
incluindo-se aí uma das entradas laterais da igreja, era um
local conhec
do pelos cncontros furtivos que lá aconteciam, devido à proteção que este
lugar oferecia contra os olhares dos passantes.
71
SISBI/UFU
1000426963
INTENDENCIA-A Compra de Votos
A
cleição de 1947,
com candidatos doPSD e
Registro Histórico.
UDN, ficou na memória does que dela participaram a
devido um incidente
da proibição da venda debebidas
com um embriagado (apesar
eleitor
72
tentando convencè-los de que há problemas mais
recita, o
sérios que dele
na condução dopleito.
gOs, os candidatos
e passear. A cleição de 1947 ficou na memória dos
moradores antigos da comunidade, pelas emoçóes que causou, Entrevis-
tas com vários eleitores da época permitiu reconstruir a atmosfera do lo-
NOVA TRENTO
73
provenientes de cidades próximas a Nova Trento; não havia alunos resi-
dentes em Nova Trentoeles pernoitavam na cidade de sexta-feir
As Cenas
74
A Cena. A cena mostra um
grupo de bugreiros ao redor da foguei-
ra planejando
um massacre, e na sequencia um acampamento dos Xo-
11eno. c O ataque enquanto
os índios dormiam, apósum ritual dedanças
Os colonos matam homens e mulheres e levam as crianças
cantorias.
ENGENHO-OBrasileiro
75
Mundial muitas familiae
Registro Histórico.
Na Segunda Guerra
de imigrantes, tiveram os filhos convocados
do Vale do Itajaí, descendentes
no trabalho familiar e era preciso substi
Estes tinham papel importante
dos caboclos
"brasileiros,expressao designativa
tuí-los por empregados
16
Begistro
ffistórco, Sos an0s
1939,soldadosda força revolucio-
A Caninho da cADRal da cntão província deSanta Cata-
aheia uetulista,
por astropas,
$acqueada,
77
NUM PONTO DE TAXT-OAndarilho
Yrrrrrrrrrrrmrrr
Registro Histórico. O
tema "andarilho" foi investigado por meio de
entrevistas intormais com taxistas locais, e substancialmente
complemen
tado com nosso contato com um andarilho que ocasionalmentefaz "seu
ponto nas proximidades da praça central de Nova Trento. pesquisa seA
deu, assim, pela nossa interação com os frequentadores da praça, notur
nos e diurnos, pois não encontramos nenhum
registro histórico sobre o
assunto. Nosso interesse pelo tema decorreu do contato com um
anda-
rilho, ba1ano, que nos devida e as referen
surpreendeu pela sua história
C1as que fez a suas andanças. ,
A Cena. A cena se passa no Ponto de Táxi ao lado da
e da Prefeitura,
igreja mati
local
privilegiado para observar o trânsito de forasteno
turistas a andarilhos. O foco da cena é a relação entre da co
pessoas
munidade e um andarilho as
reações de repúdio e preconceito Ppor
parte de alguns, de curiosidade e
apoio por parte de outros, e as autu
tudes
e reações do andarilho.
78
O Sentido de
Cerimónia. Um grupo depessoas esperam por táxis
(seus adeptos
Kegistro Histórico. A briga de galo é uma atividade
em vários lugares do mundo,
*Siaeram um esporte) que se destacou
uc, Cmbora proibida, ainda continua mantendo a tradção, degeraçao
mas na década de
geração. No Brasil a briga de galo é hoje proibida,
um evento corriqueiro, podendo ser encontrado em qualquer
C
o de quintal. Ainda podemos encontrar simpatizantes dojogo,
das regras originais e do seu ritual,que discutem
CO
as questoes
ores
eticas
subjacentes a tal prática.
79
em relação à briga de galo é aqui f
A Cena. A controvérsia os membros de uma familia: filhoeo mãe
ali-
entre
zada através do confronto
do galo, considerado membro como
lutam pela "aposentadoria
que com as habilidades do "camneäo
e o enriquecer
pai, que pretende
familia,
sao apresentados ao publico, lutatem a
Os dois galos que se enfrentarao cena terminacom A
pela policia."
início e é imediatamente interrompida
a ser realzado após a última apresentação,
a chamada para um fórum
BOMBINHAS
da comunidade.
au
significativos
e
20 O grupo que realizou esta cena incluía o filho de um criadordegalo
briga,da cidade de Itajaí, e outro, filho de um criador local, dono da lanch de
onde os estudantes faziam lanche. Três meses antes deste espetáculo uma bTg
galo
fora
interrompida em Nova Trento, e seus realizadores presos. grupo O aes
tudantes a a adesão do fizera as
que montou cena conseguiu policial que prhav
para participar da cena, interrompendo a luta na mesma etapa em que
que
a
interrompido originalmente.Isso foi executado na realização das cinco cenas
constituíram o rodízio do trânsito.
80
As Cenas
1527-JAJEROJY
um na areia, conver-
Cena.Três mulheres, sentadas em
barco
A
vinte
dos índios. Na
scquência,
SODre a história do lugar e a captura
a musica
as de sete a oito anos de idade, cantam e dançam Jajerojy,
uma terra ideal.A
ea esperança de encontrar
d sobre os sonhos entre as árvores
ao fundo de
aparecimento
On1a e interrompida pelo de Sebastião Caboto.
As crianças
O/ Doneco gigante,
caricatura
da cena.
8Ttam e se dispersam pelos vários cantos
81
O Sentido de Cerimônia. A composiça0 cenica, as quatro mulbo
NT
F
que Ihes roga uma praga em forma de profecia sobre os tempos ruins
falta de
que irão chegar: problemas de saneamento, escassez da pesca,
terra, dificuldade de sobrevivência. A cena passa para 1960-um grupo
de mulheres açorianas, em lamentos, pede a uma benzedeira que asaju
de a enfrentar a profecia de Lúcifer, interrompendo o aparecimento de
seus sintomas. A cena acontece em um velho barracão para barcos, na
praia, um tipo de construção em extinção.
82
conchas), seus apelos a
das c
Cxterna proteçao divina, se
ce
Ania teatral. Cerimöniaeitual se mesclanmconstituem como
uma nesta cena, mas
laneiamento foram pensados de acordo com
para suas característi-
distintas.
cas básicas
enhos
nos engen
de poderpresentes de seu pro-
As relações violência
Registro Histórico. através da
de farinha de mandioca são apresentadas dad
e no tratamento
com sua família
CLario nas interacões 83
escravos.
A Cena. O dia a dia das mulheres da casa do engenho, ossonhos
de capoeira pelos jovens escravos, observados
das adolescentes, o jogo
das treliças de madeira da
las meninas da casa grande atraves varan-
a desmedida do
da. Em contrapartida, opressão capofamiglia.
O Sentido de Ritual. A
roda de capoeira, observada à distância
1910-ONTEMEHOJE
Registro Histórico. A
beleza natural de Bombinhas, hoje destino
turistico bastante procurado, trouxe transformações urbanas rápidas para
o local. A alta valorização dos espaços próximos às praias, vertentes d
84
retirada dos moradores tradicionaisque ven-
hociras, provocoua
gua
e para ssubir o nivel de vida e tentar suprir
erras para as necessida-
suas terras
deram
todos os filhos.
des de
inclui um fragmento de
O Sentido de Cerimônia.A primeira cena
uma cerimõnia para comemorar uma boa safTa.
vOTE
sENAMAR
85
Registro
de
Histórico.
Antes
Porto Belo,
da emancpação Bombinhaseraa um hai
um bairrO
e seus moradores pagavam impostos altoe dada
.
do municipio e reclamavam que o dinheiro não revertioa na
de balneario,
sua condição
do meio anmbiente. A Situação gerou grand
de preservação espaçoe
forma
dos em prol de suaemancinaci
e participação pescadores
mobilização
é in-
O Sentidode Cerimônia.A imagem da luta pela emancipação
centro da cena e outros que
troduzida pelos barcos à beira da praia (os do
ficaram à beira d'água) e um grupo de pescadores, seguidos por criançase
areia da praia, com cartazes sobre o plebici-
mulheres, se aproximando pela
to e cantando "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré.
RIBEIRÃO
As Cenas
1830-TRA TEIM
XIX
e
Construídas de onde
partiam para o mar. Diz a história que no
século
KIX foi
criado um regulamento visando
impeder a construção de
barcos
un
ir que
rn
projeto. A história também aponta para a dificuldade em conse-
este
regulamento seja cumprido.
87
uma baleeira sem existir de uma
A Cena.
Ouem vê de
E possível
fora (no caso,
construir
MA
Registro Histórico. Ribeiräão foi um dos primeiros assentamentoOS
açorianos em Florianópolis. Amplas extensões de
terra foram distribui
88
central para aqueles que para ca vieram a fim de pre-
laspelo
das o
owoverno centra
governo espanhola. Com os colonizadores chegaram seus escra-
metade do século AX indicam que o procon-
Venira ictrOs da primeira
l
vOs. Registroe racial
social
e.
em Ribeirão manifestava-se também na separação
e uso dos1negrros.
ceito uso dos brancos praias para
praias para
entre
Os participantes
desta cena decidiram deslocar sentido o
A Cena.
e
de uma relaçao entre bDrancos negros para uma relação
"escravidão" ques-
os que detëm poder e Os destituidos destepoder. Procuraram
o
a
nao seriamos tOdosescravos. Nesse sentido, cena
entre
tionar
de
até que
desenvolveu
lizada por
ponto
em torno da organizaçao deumaluta de libertação
uma dança africana, cantada em "afrikaner lingua
em diversos países
, simbo-
atualmente
cantoem "atrikaner
foi
e brancos,participaram dacena.
guesas-adultos e crianças, negros
ea inclusão gra-
O Sentido de Cerimônia. A apresentaçãodadança
de contraternização.
servista uma cerimônia
dual dos espectadores pode
de uma adolescente
O Sentido de Ritual. A cena mostrao ritual
namorado
a festa e sonhando com seu pretendido
preparando-se para
falando sozinha, em voz alta).
89
Dados da cleição de 1947,usadosem Santo
Registro Histórico.
foram também usadoOS aqui, por insistência dos atoro
António de Lisboa,
devotos a situação reiterada,historicamen
que consideraram "a compra
Bombinhas).
90
960-SAPUCADIQUÉ
mia são muito comuns, pois os casaisaçorianos têm muitos filhos.A cena
desta
baseada em história real, e ambientada na casa quefoi o pivó
os
história,hoje em ruinas.
uma
Numa casa do Ribeirão daIlha, em 1960,
acontece
ACena.
de casamento. Entre sombras de um passado em ruinas,cenas do
Ctdiano e bolinhos em folha de bananeira, surge aquestao: vende-se
da-
o
20 2 casa? A festa parou., 2música acabou e barraco começou.
pucadique
as falas dos padr
foi a do casamento,
Sentido de Cerimónia
nhos, cumprimentos, os bolinhos em folha debananeira
local para
do "mané"(caipira)
21 Sapucadique" é a fonética
pressão
sabes por causa 91
dequër
O Sentido de Ritual esteve em parte embutido na cerimá
marcacão
a
-
intervenção do
professor/diretor
na identificação de subtextos e
cabe ao diretor a edição do trabalho, uma vez que uma pro-
é a base da metodologia
de interação, tal como descrito aqui,
aDalho proposta por Viola Spolin.
Embora outros autoresdeaprcsc
forma que
aabordagens
805 teatrais,
e detalhou sua pesquisa
semelhantes, Sp investigou
aDrangesse como
detalhese implicações únicas. sido considerado
aquilo que tem
que tem S cunhada
1Ctura em
Pupelprodutivo do leitor,
processo aponta para aquilo
no sentido de "leitura como construção",
expressão
de ticga
dos textos
T.
10dorov (1980), como uma
peculiaridade 93
Assim, ao investigar e visualizar a diferença em cenaao
projeto tea-
em trànsito partiu de fragmentos históricos que foram
tro
modificados e
lugares que foram resSignificadoS por componentes linguísticos
ee sonoros
a linguaea fala, acrescidos do gesto, como variaçoes contínuas.
A hie.
is-
tória e o lugar deixaram de ser representados, e o outro lado da
histór
com suas possíveis agendas ocultas, foi apresentado. A história,
identidade da
dife-
renca ao estar centrada na apresentaçao das
singularidades sociais eev.ex-
pressivas, evitou a priorização de um conflito,pois este, tal como
o
habitus
ao ser introduzido, já chega normatizado, codificado e
institucionalizado.
O movimento da repetição to1 portanto caracterizado pelo movimento da
interpretação.
94