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Livro 6 - Andragogia e Heutagogia

Site: Ambiente Virtual de Aprendizagem do Ifes


Educação de Jovens e Adultos e Teorias de Aprendizagem para a Educação Profissional e Tecnológica
Curso:
(envio material UAB)
Livro: Livro 6 - Andragogia e Heutagogia
Impresso
Acesso Materiais UAB
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Data: sexta, 26 Mar 2021, 23:35
Sumário
1 Introdução

2 O que é Andragogia?

3 O que é Heutagogia?

4 Referências
1 Introdução
A educação é concebida como uma aprendizagem global, sem limites de idade, que surge da
necessidade de acompanhar as transformações rápidas que estão acontecendo no mundo, tanto nos
aspectos econômicos, quanto políticos, sociais e culturais. Neste panorama, é importante que
educadores possuam conhecimento sobre as características biológicas, psicológicas e sociais
específicas de cada faixa-etária e consequentemente na aprendizagem. Esta distinção entre a
aprendizagem de crianças, adultos e idosos foi dividida em três grandes categorias (Castro, 1998;
Miller 2004):

a) Pedagogia: é a ciência de ensino da criança ou de outros que tenham a habilidade cognitiva


compatível a de uma criança;

b) Andragogia: é o princípio de ensino específico para aprendizes adultos;

c) Gerontogogia: é a utilização de uma didática que proporciona a aprendizagem entre adultos idosos
através da exploração dos potenciais presentes nesta faixa-etária.

Podemos acrescentar aqui ainda aos estudos de Castro (1998) e Miller (2004) a Heutagogia, que se
refere aos processos mais autônomos do aluno, em que ele é protagonista dos processos.

Na educação profissional e tecnológica, portanto, damos destaques a duas vertentes neste livro, a
Andragogia (educação de adultos) e a Heutagogia (autoaprendizagem).
2 O que é Andragogia?
Quando se fala em Educação Profissional, é importante retomar princípios do ensino que se destina à
boa parte de seu público: jovens que estão se profissionalizando e adultos que podem ter saído da
escola há muito tempo (temos mais de 80 milhões de brasileiros nesta situação). Uma corrente vem
há décadas se dedicando a pensar estas questões: a andragogia.

Andragogia é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender, segundo a definição cunhada na década de 1970 por
Malcolm Knowles. O termo remete para o conceito de educação voltada para o adulto, em contraposição à
pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós, criança).
O termo surgiu pela primeira vez em 1833, na obra do pedagogo alemão Alexander Kapp "Platon's
Erziehungslehre", traduzida para o português como "Ideias Educacionais de Platão". Alexander Kapp é citado como
criador da andragogia, mas foi Malcolm Shepherd Knowles quem espalhou o conceito de andragogia criado por
Kapp; e por isso é considerado importante referência da andragogia.
Para educadores como Pierre Furter (1973), a andragogia é um conceito amplo de educação do ser humano, em
qualquer idade. A UNESCO, por sua vez, já utilizou o termo para referir-se à educação continuada.

Fonte: Pch.vector/Freepik

“Andragogia é a arte de causar o entendimento.” - Franklin Wave

Ciência que estuda as melhores práticas para orientar adultos a aprender. É preciso considerar que a
experiência é a fonte mais rica para a aprendizagem de adultos. Estes são motivados a aprender
conforme vivenciam necessidades e interesses que a aprendizagem satisfará em sua vida. O modelo
andragógico baseia-se nos seguintes princípios.

1. Necessidade de saber: adultos precisam saber por que precisam aprender algo e qual o ganho
terão no processo;

2. Autoconceito do aprendiz: adultos são responsáveis por suas decisões e por sua vida. Portanto,
querem ser vistos e tratados pelos outros como capazes de se autodirigir;

3. Papel das experiências: para o adulto, suas experiências são a base de seu aprendizado. As
técnicas que aproveitam essa amplitude de diferenças individuais serão mais eficazes;

4. Prontidão para aprender: o adulto fica disposto a aprender quando a ocasião exige algum tipo de
aprendizagem relacionado a situações reais de seu dia a dia;
5. Orientação para aprendizagem: o adulto aprende melhor quando os conceitos apresentados estão
contextualizados para alguma aplicação e utilidade;

6. Motivação: adultos são mais motivados a aprender por valores intrínsecos: autoestima, qualidade
de vida, desenvolvimento. *

Utilizam-se neste modelo características presentes nos adultos, como o autodirecionamento, para
aprimorar o processo de ensino e aprendizagem. Ou seja, os adultos escolhem para onde, o quê e
para quê querem aprender, por meio de decisões em relação a sua aprendizagem (Bellan, 2005).

Algumas características dos adultos podem influenciar na educação (Bellan 2005; Cavacalti, 1999):

- A aprendizagem é direcionada para os seus interesses;

- Aplicação da aprendizagem é imediata;

- A motivação interna é mais intensa por aprender, ou seja, está na sua própria vontade de
crescimento;

- Adultos preferem aprender para resolver problemas;

- No processo de aprendizagem, a experiência do adulto é primordial como base.

Focaliza-se mais o processo do que o conteúdo que está sendo trabalhado, já que existe, por parte
dos alunos adultos, a consciência de suas competências e habilidades no aprender. Algumas técnicas
podem auxiliar didaticamente a aprendizagem dos adultos, como trabalhos em grupo, seminários,
estudo de caso, dramatizações, autoavaliação e outras que estimulem a interação e debate em sala de
aula (Bellan 2005; Cavacalti 1999).

O professor neste processo é o facilitador, ou seja, um agente de mudanças que apresenta


informações por meio de práticas pedagógicas e cria ambientes adequados que propiciem o
aprimoramento do conhecimento.

Na educação profissional, os adultos são o público permanente, desde os cursos de formação inicial
até a formação continuada ao longo de toda a vida profissional. A educação profissional que não
considerar tais características desse público terá seus processos educativos comprometidos.

* Do título da sessão até o surgimento do símbolo, contribuições de Olivier Allain - Paulo Wollinger - Ana Beatriz Bahia Spínola Bittencourt.
3 O que é Heutagogia?
Um conceito educacional vem surgindo no século XXI, como prolongamento da Andragogia, chamado
de Heutagogia, literalmente um processo de aprendizagem autoguiado (Heuta - auto + agogos -
condução), a partir da constatação de que muitos processos de aprendizagem passam por
autoaprendizagem e por compartilhamento de conhecimento, por meio de um processo, portanto, em
que o aprendiz está muito mais ativo na condução da sua aprendizagem, nas escolhas dos caminhos
que vai trilhar etc. A Heutagogia caracteriza, então, uma busca pelo respeito dos tempos e ritmos dos
estudantes, da promoção da sua autonomia, reflexão e autoavaliação.

Como observa Batista (2008, p. 32): a heutagogia é o método pelo qual o aluno fixa “o quê e como
aprender”. Ele é o responsável pela aprendizagem, sendo um modelo alinhado às inovações
tecnológicas de e-learning. É um estudo dirigido, uma autoaprendizagem feita por experiências
práticas, e que, uma vez num ambiente seguro, quanto mais se erra, mais se aprende. Por meio da
tecnologia, os alunos podem, além de definir “o como”, também “quando e onde aprender”.

Fonte: Kreatikar/Pixabay

Com os avanços das tecnologias educacionais, de compartilhamento de conhecimentos e da Educação


a Distância, esta abordagem se torna importante para pensar formas de promover autonomia e
autodirecionamento por parte de um trabalhador (Blaschke, 2012) que precisará sempre aprender
coisas novas e se desenvolver ao longo da vida (de forma mais intensa em áreas em que as mudanças
tecnológicas são aceleradas).

Segundo Costa (2019): "Na abordagem da heutagogia, o docente precisa oferecer a possibilidade de
desenvolvimento ao discente, e não apenas desenvolver habilidades em conhecimento e disciplina,
assim, oferece de forma flexível os recursos. Nessa abordagem leva-se em consideração as
experiências pessoais dos discentes e o protagonista de sua aprendizagem."*

Necessitamos aprender a aprender (metacognição).

Convidamos você a fazer a leitura do texto: “Metacognição: Um Apoio ao Processo de Aprendizagem”


de Célia Ribeiro.
Aprender também a adotar uma postura de plasticidade, ou seja, de adaptar-se às situações que
compõem o ambiente cultural em que está inserido naquele momento, não se esquecendo dos
objetivos que se pretende alcançar (Maissiat, 2017). O profissional que pratica o ‘aprender a aprender’
“sabe tirar lições da experiência. Ele sabe transformar sua ação em experiência e não se contenta em
fazer e agir. Faz da sua prática profissional uma oportunidade de criação de saber” (LE BOTERF, 2003,
p. 77).

Mas como aprender a aprender? Você já se perguntou como aprende?

É preciso se conhecer, reconhecer as habilidades e destrezas que possui, procurar investigar, neste
momento de autorreflexão, o que mais lhe chama a atenção, qual é o ambiente favorável para os
estudos, que tipo de conteúdo com mais ou menos facilidade. E, enquanto professores, temos que
proporcionar estes momentos de autodescoberta aos alunos.
*Do título da seção até o surgimento do símbolo, contribuições de Olivier Allain - Paulo Wollinger - Ana Beatriz Bahia Spínola Bittencourt.
4 Referências
BATISTA, M. L. F. da S. Design Instrucional: uma abordagem do design gráfico para o desenvolvimento
de ferramentas de suporte à EAD. Dissertação (Mestrado em Design) – FAAC – UNESP – Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
Campus Bauru, 2008.

BELLAN, Zezina Soares. Andragogia em ação. São Paulo: Socep, 2005.

BLASCHKE, L. M. Heutagogy and lifelong learning: A review of heutagogical practice and self-
determined learning. The International Review of Research in Open and Distance Learning, v. 13, n.1, p.
56-71, 2012.

CASTRO, O. P. (Org.) Velhice que idade é esta? Uma construção psicossocial do envelhecimento. Porto
Alegre, Síntese, 1988.

CASTRO, O. P. O processo grupal, a subjetividade e a ressignificação da velhice. In:

CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque. Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos. Revista de Clínica


Cirúrgica da Paraíba, n. 6, ano 4, jul., 1999.

COSTA, G. de A. Percurso metodológico para a construção de trilhas de aprendizagem: uma proposta em


instituição pública catarinense. Dissertação de Mestrado. Mestrado Profissional em Educação
Profissional e Tecnológica, Instituto Federal de Santa Catarina, 2019-2021. (No prelo).

FURTER, Pierre. Educação de adultos e educação extra-escolar nas perspectivas da Educação


Permanente. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, MEC/INEP, n. 9 131, jul./set. 1973, p. 410
- 422.

LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo competências dos profissionais. 3. ed. rev. ampl. Porto Alegre:
Artmed, 2003.

MAISSIAT, J. Formação continuada de professores e tecnologias digitais em educação a distância.


Curitiba: Intersaberes, 2017.

MILLER, C.. Nursing for Wellness in Older Adults. In: Miller, C (editor). Client Teaching. 5th ed. New
York: Lippincott Willinas & Wilkins, 2004.

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