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Metodologia da
Educação Corporativa
Módulo
2 Aprendizagem de adultos
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Conteudista/s
Eneides Batista Soares de Araújo (conteudista, 2019)
Enap, 2019
2. Pedagogia...................................................................................... 6
3. Andragogia.................................................................................... 7
3.1. Pedagogia tradicional versus andragogia.........................................................9
3.2. A prática educativa na andragogia.................................................................11
3.3. A motivação e a experiência no contexto da aprendizagem de adultos........11
3.4. O papel do professor na educação de adultos...............................................12
4. Heutagogia.................................................................................. 12
4.1. A heutagogia e sua influência nos métodos de ensino..................................13
7. Encerramento.............................................................................. 22
Aprendizagem de adultos
<https://cdn.evg.gov.br/cursos/271_EVG/videos/modulo01video05.mp4 >
O que é pedagogia?
h,
Destaque,h
O vocábulo "Pedagogia" vem do grego antigo, paidagogós, inicialmente
composto por paidos (criança) e gogía (conduzir ou acompanhar). Quando se
instituiu a palavra pedagogia, ela fazia referência ao escravo que levava os
meninos à escola.
No senso comum, a pedagogia é tida como a arte de ensinar crianças, como o modo de ensinar
e, ainda, como uma metodologia, o modo de fazer e ensinar a matéria. Isso acontece porque
a pedagogia foi, por muito tempo, o único curso de graduação que especificamente formava
professores, valendo-se de uma metodologia voltada à educação de crianças e centrada no
professor.
Essa mesma metodologia era utilizada para a educação de jovens e adultos. Os professores
assumiam total responsabilidade por tomar decisões sobre o que seria aprendido, como e
quando aconteceria, uma vez que o aluno era considerado imaturo para se preparar para a vida
e tomar decisões acertadas.
Trata-se de uma metodologia de via de mão única que perdurou por muito tempo e que, ainda
hoje, deixa seus traços nos processos de ensino-aprendizagem nos diversos campos da educação
- formal e corporativa - conforme vimos no Módulo 1.
3. Andragogia
O que é andragogia?
O termo andragogia (do grego andros - adulto - e ago-gus - guiar, conduzir, educar) tem largo
alcance no pensamento de John Dewey, que afirma que "[a] fonte de maior valor na educação
do adulto é a experiência do aprendiz".
Segundo Knowles:
Modelo pedagógico
Modelo andragógico
tradicional
Os adultos são portadores de
experiências que os distinguem das
A experiência do aluno
crianças e dos jovens. Em numerosas
é considerada de pouca
Papel da experiência situações de formação, são os próprios
utilidade. O que é importante
adultos, com a sua experiência, que
é a experiência do professor.
constituem o recurso mais rico para
as suas próprias aprendizagens.
A disposição para aprender
aquilo que o professor ensina Os adultos estão dispostos a iniciar
tem, como fundamento, um processo de aprendizagem desde
critérios e objetivos internos que compreendam a sua utilidade
Vontade de aprender
à lógica escolar, ou seja, para melhor enfrentar e resolver
a finalidade é obter êxito problemas reais da sua vida pessoal
e progredir em termos e profissional.
escolares.
A aprendizagem é encarada
como um processo de Nos adultos, a aprendizagem é
conhecimento sobre um orientada para a resolução de
Orientação da
determinado tema. Isso problemas e tarefas da sua vida
aprendizagem
significa que domina a lógica quotidiana (o que desaconselha uma
centrada nos conteúdos e não lógica centrada nos conteúdos).
nos problemas.
A motivação para
Os adultos são sensíveis a estímulos
a aprendizagem é
da natureza externa (notas), mas
fundamentalmente resultado
são os fatores de ordem interna que
Motivação de estímulos externos
os motivam para a aprendizagem
ao sujeito, por exemplo:
(satisfação, autoestima, qualidade de
classificações escolares e
vida etc.).
apreciações do professor.
Para trabalhar a aprendizagem de adultos, na educação formal ou não, Moscovici (1997) defende
que é preciso considerar que o ser maduro não se constitui em um ser acabado, completo e definido.
Isso porque o adulto busca, continuamente, desenvolver seu processo de aperfeiçoamento, o
qual é caracterizado por etapas de maturidade que se agregam e se aglutinam ao longo de sua
vida.
Os adultos são motivados a aprender à medida que experimentam que suas necessidades e
interesses serão satisfeitos. Por isso, esses são os pontos que devem ser considerados quando da
Você verá, no quadro abaixo, um comparativo com as principais diferenças entre os pressupostos
da Pedagogia Tradicional e da Andragogia.
Elementos na prática
Critérios de
Pedagogia Andragogia
Aprendizagem
Informal, colaborativo
Clima Formal e autoritário.
e de respeito.
Planejamento Do professor. Compartilhado.
Diagnóstico de Realizado por alunos e
Feitos pelo professor.
necessidades professor – mútuo.
Formulação de Negociado entre
Feito pelo professor.
objetivos professor e alunos.
Conteúdos sequenciais Sequência conforme a
Design
definidos pelo professor. prontidão dos alunos.
De transmissão
Atividades Vivenciais e de experiência.
e repetição.
Avaliação Do professor. Conjunta.
• Experimentação.
• Resolução de problemas.
Pergunta
Como são as diferenças individuais e a motivação para aprender na andragogia?
Resposta
As diferenças individuais em termos de estrutura de motivação e perspectiva, de
pré-requisitos e habilidades, de tipos e estilos de aprendizagem são de extrema
importância, porque ajudam no planejamento de cursos que são adaptados a
cada público, o que aumenta a eficiência no ensino dos adultos.
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O professor passa a ser uma pessoa com o recurso de conteúdos e processos, mas seu papel é o
de ajudar a abrir canais de comunicação entre os alunos e de mediar a construção do saber no
ambiente de aprendizagem.
Dica
Para tanto, deve planejar suas ações valendo-se de metodologias mais ativas,
estratégias e recursos que sejam suficientes para facilitar a participação dos
alunos, de forma que essa participação seja mais interativa, agregadora e
colaborativa, valorizando as diferentes experiências e “vivências de mundo”,
resultando em uma aprendizagem cognitiva e reflexiva.
4. Heutagogia
O que é Heutagogia?
O termo heutagogia vem de heuta - auto, próprio - e ago-gus - guiar, conduzir, educar.
Stewart Hase (2003) considera que a andragogia trouxe bons resultados para o processo da
aprendizagem de adultos, mas desenvolveu, no início do século XXI, o conceito da heutagogia
que, segundo ele, é um refinamento e não uma substituição da andragogia. O foco principal desse
conceito é a educação autodirigida ou autodeterminada. O ensino-aprendizagem não é tratado
como o foco principal, assim como na andragogia. O que se foca realmente é a aprendizagem e
os caminhos trilhados para aprender e que possibilitam o desenvolvimento individual.
Hase e Kenyon (2000) consideram que a andragogia e a heutagogia evidenciam uma abordagem
educacional que privilegia a aprendizagem por meio de experiências compartilhadas, reconstrução
de conhecimento e negociação de sentidos e saberes, envolvendo a tomada de consciência.
Pergunta
Como o adulto aprende?
Resposta
O homem aprende por meio de todo o seu sistema (os sentidos, a mente...). A
criança memoriza e depois compreende; já o adulto compreende ou experimenta
para, então, memorizar.
Os adultos devem querer Os adultos devem ter forte motivação que os leve a adquirir
aprender novos conhecimentos e/ou habilidades; o desejo de aprender
pode ser despertado, porém nunca imposto. A sua atitude
também é alvo de treinamento.
Os adultos aprendem fazendo Quanto mais treino, exercício na aprendizagem, mais facilmente
se aprende.
Os adultos aprendem Os problemas apresentados em sala de aula devem ter certa
resolvendo problemas ligados ligação com as experiências dos adultos. As aulas devem
à realidade ser contextualizadas, os exemplos de exercícios devem ser
baseados em sua vivência diária profissional e social.
Os adultos aprendem melhor A formalidade da sala de aula inibe e cerceia a aprendizagem.
em ambiente informal É importante manter a informalidade do ambiente para que
instrutor e aluno/treinando possam trocar informações e
construir, juntos, um melhor ambiente para a aprendizagem. A
disposição física da sala de aula deve ser adequada ao objetivo
da instrução voltada aos adultos. Exemplos: disposição circular
das cadeiras; disposição em U ou V.
Uma variedade de métodos A escolha dos métodos e das técnicas deve levar em
deve ser utilizada em consideração a personalidade dos adultos, suas experiências,
capacitação de adultos, os objetivos andragógicos e o conteúdo dos temas a serem
valorizando sua experiência e ministrados.
maturidade O educador deve estar atento às respostas (feedback) dos
aprendentes em relação aos métodos e às técnicas utilizados,
os quais devem ser abandonados, substituídos ou reorientados,
conforme as necessidades observadas.
Os adultos querem orientação É importante para o adulto conhecer o seu próprio progresso.
e não notas É recomendável o uso de conceitos, auto e heteroavaliação,
grupo-análise e feedback.
Os adultos e a participação O equilíbrio no processo de ensino participativo/criativo
advirá do senso democrático do relacionamento entre
professor e aluno, na manutenção de um ambiente propício à
aprendizagem contextualizada e colaborativa.
Não há, portanto, lugar para o professor que, do alto de sua cátedra, professa verdades a serem
retidas e aceitas pelos alunos. O professor, hoje, é muito mais um coadjuvante no processo de
ensino e aprendizagem, sendo o aluno ou o aprendiz o sujeito do seu aprender.
• Processo dinâmico
Não é um processo de absorção passiva; sua característica mais importante é a
atividade daquele que aprende. É evidente que não se trata apenas de atividade
externa, física, mas, também, de atividade interna e mental, pois a aprendizagem
é um processo total e global do indivíduo, em seus aspectos físico, intelectual,
emocional e social.
• Processo contínuo
Desde o início da vida, na idade escolar, na adolescência, na idade adulta e até em
idade mais avançada, a aprendizagem se faz presente.
• Processo pessoal
Ninguém pode aprender no lugar do outro.
• Processo gradativo
Cada nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência anterior, sem idas
e vindas, mas em uma série gradativa e ascendente.
• Processo cumulativo
A aprendizagem resulta de atividade anterior, ou seja, da experiência individual;
ninguém aprende se não por si só e em si mesmo, ou seja, pela automodificação.
Dessa forma, a experiência atual aproveita-se das experiências anteriores.
A função do professor de hoje, em pleno século XXI, inserido numa sociedade do conhecimento,
é muito mais a de proporcionar um bom ambiente de aprendizagem, sem extremo grau de
formalidade, em que todos os aprendentes possam se manifestar, opinar, exercer criticamente
seu papel social e, ao mesmo tempo, manter sua individualidade e, frente aos quatro pilares da
educação de Jacques Delors (2003), possam vivenciar uma aprendizagem cognitiva/reflexiva,
que seja significativa para a sua inserção social e profissional.
Para tanto, o professor passa a ter um importante papel de mediar a aprendizagem a partir
de conteúdos contextualizados e diversificados, valendo-se de diferentes metodologias, que
possibilitem a aprendizagem ativa. O professor não será o fornecedor do conhecimento, mas
Pergunta
Por que isso pode ocorrer?
Resposta
Porque a pessoa que se sente pressionada a encaminhar seu processo pessoal
no sentido de atender expectativas de outros e não de satisfazer a si mesma, de
se empolgar, de se empenhar na ampliação dos seus saberes e conhecimentos.
Então, fica-nos evidente que cada pessoa tem uma forma própria para ensinar e aprender. Dentre
essas formas pode-se destacar a teoria VAC (Visual, Auditivo e Cinestésico), descrita a seguir.
• Estilo auditivo
Algumas pessoas, no espaço da aprendizagem, se sentem mais confortáveis ouvindo
uma informação. As pessoas que detêm esse estilo são capazes de se lembrar do
que ouvem e têm preferência por instruções orais, que são absorvidas com mais
facilidade. Aprendem mais em situações que podem ouvir e falar. Na condução do
• Estilo visual
As pessoas com estilo visual têm maior facilidade para aprender lendo a informação.
Os leitores visuais são capazes de se lembrar do que veem e preferem as instruções
escritas. Costumam escrever as tarefas anotadas, pois o ato de escrever e ver as
tarefas no papel aumenta as chances de não as esquecer.
• Estilo sinestésico
As pessoas com estilo sinestésico aprendem tocando ou manipulando objetos. Elas
se envolvem por inteiro com o processo de aprendizagem, principalmente suas
emoções, e isso faz com que sua memória ganhe força total.
A aprendizagem tem maior significado para essas pessoas quando podem agir,
manipular e testar o conteúdo ministrado. Assim, dificilmente o que aprenderam
será esquecido. Por isso, o professor deve oferecer aos alunos oportunidades para:
9 Fazerem atividades de movimento.
9 Construírem modelos.
9 Seguirem instruções para fazer alguma coisa.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-
sistema-nervoso/imagens/sistema-nervoso-27.jpg
Diferentes pessoas, diferentes tipos de inteligência. Esse também é um aspecto a ser levado em
conta quando se fala em processos de ensino-aprendizagem.
Assim como nosso cérebro tem áreas específicas para cada função, nossa inteligência se
desenvolve mais amplamente para um ou outro tipo de atividade, embora se saiba, hoje, que
algumas funções podem ser transferidas para áreas diversas das originais (é o que acontece, por
exemplo, em decorrência de danos causados por doenças ou lesões acidentais etc.). Conforme
visto na ilustração acima, observa-se a localização das áreas/funções em um cérebro sadio e que
não sofreu qualquer dano.
Estudos demonstram que, de maneira geral, as pessoas utilizam os hemisférios cerebrais para
funções destacadas:
Assim, como o funcionamento cerebral tem funções específicas, temos diferentes formas de
inteligências. Essa classificação não representa valor em si, o que quer dizer que diferentes
inteligências não têm mais valor que outras, mas que há predominância de uma ou outra. Dessa
forma, é interessante considerá-las nos processos de construção do conhecimento, buscando
desenvolver as várias inteligências em cada pessoa, mas, ao mesmo tempo, utilizando técnicas
e ferramentas mais apropriadas para a aprendizagem por indivíduos com um ou outro tipo de
inteligência mais desenvolvido.
A motivação consiste em determinadas ações que levam as pessoas a alcançar seus objetivos.
O que é motivação?
Alguns autores conceituam a motivação como um processo de ação em que o sujeito envida
esforços para conseguir ou fazer algo. Bateman e Snell (1998) consideram que a motivação se
refere às forças que dirigem e sustentam os esforços das pessoas em determinada direção.
Para Motta (1995, p. 89), "motivação é a energia oriunda do conjunto de aspirações, desejos,
valores, desafios e sensibilidades individuais, manifestas através de objetivos e tarefas específicas".
Podemos inferir que um dos aspectos essenciais para estimular a motivação é compreender que
ela é individual. Dizemos que motivação é intrínseca.
Que a motivação nasce no interior de cada um. Os motivos que nos movem à ação (motiva+ação)
são individuais e só cada pessoa pode motivar a si mesma.
Campos (1978) entende que o professor deve estudar a questão da motivação humana e o que
ela representa no processo cognitivo do aluno. Para o autor, em uma sociedade democrática, e
aqui incluímos, a sociedade do conhecimento, em pleno século XXI, os conteúdos e os métodos
educacionais devem respeitar os motivos individuais e o meio em que vive o aluno, ou seja, o
seu contexto de vida.
A velocidade das inovações tecnológicas e a sua influência no mundo do saber têm exigido, cada
vez mais, grandes esforços dos profissionais da área de educação, em uma reflexão sobre novas
alternativas em termos de ações pedagógicas que contribuam para o êxito do aluno no processo
de aprendizagem.
Cabe ao educador identificar meios para potencializar, em cada um, o alcance da melhor
expressão de suas competências.
7. Encerramento
Encerramento do Módulo 2
Você conheceu, neste módulo, um pouco mais sobre os conceitos da Pedagogia, da Andragogia
e da Heutagogia, focados em uma educação motivadora, inovadora e criativa. Conheceu as
habilidades necessárias ao instrutor que trabalha com a educação de adultos. Analisamos as
Agora, reflita:
"A educação é do tamanho da vida! Não há começo. Não há fim. Só há travessia. E, se quisermos
descobrir a verdade da educação, ela terá de ser descoberta no meio da travessia." (RODRIGUES,
2002, p. 56)
A ideia desta citação é refletir sobre as diversas formas de aprendizagem que nos deparamos nos
momentos de troca de ensino.
- Como os seus avós aprenderam? Como seus pais aprenderam? Como você aprendeu na sua vida
acadêmica? Como os jovens de hoje aprendem? Para você, quais são as melhores maneiras de
se aprender? No seu caso, em especial, como ocorre a aprendizagem? Como ocorre a motivação
para aprender?
Não deixe de fazer o questionário avaliativo do Módulo 2. Ele ajudará a fixar o conteúdo estudado,
além de ser importante para a composição final de sua nota.