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e-book

POR QUE ESCOLAS


INOVADORAS
DESENVOLVEM
COMPETÊNCIAS
SOCIOEMOCIONAIS
introdução
No campo de futebol, no dia a Nesse contexto, a ONU
dia da empresa e nos (Organização das Nações Unidas)
relacionamentos pessoais é aponta que mais de 300 milhões
comum escutarmos de pessoas sofrem de depressão
comentários como “é falta de no mundo inteiro. E a doença já é
inteligência emocional” em apontada como a mais
referência a algum caso mal- incapacitante em nível mundial,
sucedido. Educadores, CEO’s resultado em uma perda média de
e outras diversas pessoas 1 trilhão de dólares. Paralelamente,
estão enfrentando rotinas pesquisas como Conselho de
cada vez mais desafiantes, Classe, da Fundação Lemann,
cujo equilíbrio emocional é apontam que a falta de
mais solicitado do que nunca. acompanhamento psicológico e
indisciplina dos alunos é um dos
fatores mais urgentes a serem
tratados nas escolas atualmente.

QUAL É O EFEITO DESSE CENÁRIO SOBRE O


SISTEMA EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO?

Neste e-book, explicaremos o que são competências socioemocionais e por que


as escolas caracterizadas como inovadoras as desenvolvem no seu cotidiano.
sumário

O que são as competências socioemocionais? p. 1

A educação do século XXI e a relação com inteligência


emocional p. 7

A BNCC e o estímulo às habilidades socioemocionais p. 9

Como grandes escolas integram competências socio-


emocionais à grade curricular p. 12

Competências socioemocionais e BNCC: como adaptar à


proposta pedagógica p. 19
O que são as competências
01
socioemocionais?

Nos Estados Unidos, o campo que E essas características contemplam


abrange essas competências é o SEL princípios importantes de uma
(social and emotional learning - educação inovadora, como mostra-
aprendizado social e emocional, em remos a seguir. A Comissão Nacio-
português). E pesquisas mostram nal do Instituto Aspen sobre
que as escolas que investem nesse Desenvolvimento Social, Emocional
campo registram melhores e Acadêmico tem acompanhado
resultados acadêmicos. A chamada escolas que desenvolvem habili-
inteligência emocional cobre 5 dades socioemocionais dos alunos,
campos principais: incentivando o protagonismo estu-
autoconhecimento, autocontrole, dantil, e já chegou às seguintes
automotivação, empatia e conclusões sobre esse tema:
habilidades de relacionamento.

A sensibilidade para o desenvolvimento social,


emocional e acadêmico dos alunos deve
O desenvolvimento social, emocional, contemplar todos, tanto os funcionários da
cognitivo, lingüístico e acadêmico está escola quanto, principalmente, as famílias dos
"profundamente interligado" e "todos são estudantes;
centrais para o aprendizado e o sucesso”;

Os educadores precisam de programas de


preparação, desenvolvimento profissional e
Uma variedade de práticas instrucionais pode apoio para liderar esforços de aprendizagem
ajudar a nutrir habilidades socioemocionais, socioemocional e modelar comportamentos e
mas elas devem ser usadas intencionalmente. relacionamentos saudáveis para seus alunos.
E, embora existam muitos programas basea-
dos em pesquisa para a instrução direta da
aprendizagem socioemocional, é preciso
trabalhar mais para aprender a integrá-la à Essas estratégias devem ser adaptadas à
instrução tradicional; região das escolas para que possam atender
às demandas locais de uma comunidade.

1
O experimento do marshmallow e
02 os efeitos das habilidades
socioemocionais

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Stan-


ford na década de 60 traz uma luz para essa questão. O famoso experimen-
to do Marshmallow, feito com crianças, testou o autocontrole de cada uma
delas e o respectivo efeito de tal ação anos depois. A proposta era a
seguinte: era oferecido um marshmallow para cada criança. A que
conseguisse segurar, por 15 minutos, o impulso de comer o doce
ganharia dois marshmallows. Apenas 1/3 das crianças participantes
conseguiram resistir à tentação. Essas crianças foram observadas por
40 anos e a análise trouxe os seguintes resultados: as que não
haviam comido o Marshmallow registraram melhores notas
acadêmicas, mais empatia, mais autorealização e melhores habilidades
de relacionamento. Já as que não resistiram à tentação tiveram mais
incidência no mundo das drogas, notas baixas em exames
acadêmicos, menor número de amigos e menor grau de satisfação
pessoal. Esse estudo serviu para fortalecer ainda mais os estudos e as
discussões acerca do tema “inteligência emocional”.

2
Ansiedade: o impacto sobre o
03
desempenho dos estudantes

Um estudo da OCDE (Organização para Cooperação e Desen-


volvimento Econômico) apontou que 80% dos estudantes brasile-
iros de 15 anos figuram entre os mais ansiosos e inseguros do
mundo, aparecendo à frente até mesmo de nações cuja perfor-
mance é altamente exigida, como Coréia e Hong Kong. E 56% dos
alunos dizem ficar tensos ao estudar. A média dos países avaliados
na pesquisa é de 36%, como mostra o infográfico abaixo.

3 Fonte: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/estudantes-brasileiros-estao-entre-os-mais-ansiosos-do-mundo-21225685
04 O papel dos educadores na
autoconfiança dos alunos
Tendo como referência os dados acima, podemos observar que a
forma como um professor orienta o estudante pode interferir
diretamente sobre seu desempenho. Alunos que se sentem mais
acolhidos em sala de aula relaxam mais e diminuem os índices de
ansiedade. E quando o professor, referência máxima de intelec-
tualidade, acredita no aluno, este também passa a acreditar mais
em si mesmo.

Teoria das inteligências múltiplas: 05


um novo olhar sobre a educação
Na década de 80, o psicólogo e neurologista Howard Gardner reformulou o
conceito de inteligência até então conhecido por meio da sua teoria, que
ficou conhecida como teoria das inteligências múltiplas. Ao se aprofundar e
visualizar a forma como as pessoas aprendiam e as habilidades peculiares
demonstradas por cada uma, Gardner levantou a questão da multiplicidade
de inteligências, fazendo frente ao pensamento dominante de que apenas
quem apresenta avançado raciocínio lógico-matemático pode ser classi-
ficado como inteligente. O cientista trouxe, então, os novos tipos de
inteligência à tona. Os principais dessa teoria revolucionária são:

4
INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA
descreve a pessoa com alta
capacidade comunicativa, capaz
de ser compreendido de forma
rápida, tanto oral quanto
verbalmente; INTELIGÊNCIA
LÓGICO-MATEMÁTICA
descreve a pessoa com desempenho
acima da média em disciplinas como
matemática, muito familiarizada
com o pensamento abstrato;

INTELIGÊNCIA MUSICAL
caracteriza aqueles que têm
facilidade em tocar diversos
instrumentos musicais, além INTELIGÊNCIA VISUAL-ESPACIAL
de apresentar habilidades típica daqueles que pensam em
para identificar sons; imagens, que têm uma visão
espacial muito boa e conseguem
recriar experiências visuais sob
diferentes formas;

INTELIGÊNCIA INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL


CORPORAL-CINESTÉSICA é característica da pessoa com
descreve quem tem excelente muito autoconhecimento,
coordenação motora e controle habilidade do autocontrole e,
sobre o próprio corpo; consequentemente, um alto grau
de inteligência emocional;

INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL
descreve aqueles que são
altamente empáticos, capazes de
compreender o outro, colaborando
para um ambiente acolhedor.
5
06 Múltiplas inteligências e as
habilidades emocionais

E o que a teoria de Howard Gardner tem a ver com as habilidades


emocionais? Se o estudante não tiver autoconhecimento para recon-
hecer seus pontos fortes e aprender a lidar com seus pontos fracos, seu
processo de aprendizado será muito mais árduo. Ele não conseguirá
enx-ergar o erro como um caminho para o aprendizado e desanimará
rapidamente diante da primeira dificuldade. Isso acaba enfraquecendo
sua resiliência, fazendo com que ele tenha menos força não só no
mercado de trabalho, como também nas relações pessoais. A
insegurança, uma das maiores vilãs para a conquista de um objetivo,
poderá se tornar uma característica marcante do estudante,
prejudicando sua capacidade de se lançar aos novos desafios que o
mundo impõe.

6
A educação do século XXI e a relação
07
com inteligência emocional

Os 4 pilares do sistema
educacional estabelecidos pela
• Aprender a conviver, desenvolven-
Comissão Internacional Sobre
do a compreensão do outro e a per-
Educação Para o Século XXI são:
cepção das interdependências –
realizar projetos comuns e prepa-
rar-se para gerenciar conflitos – no
•Aprender a conhecer, combinando respeito pelos valores do pluralismo,
uma cultura geral, suficientemente da compreensão mútua e da paz.
ampla, com a possibilidade de estu-
dar, em profundidade, um número
reduzido de assuntos, ou seja:
aprender a aprender, para benefi- • Aprender a fazer, a fim de adquirir
ciar-se das oportunidades ofereci- não só uma qualificação profission-
das pela educação ao longo da vida. al, mas, de uma maneira mais
abrangente, a competência que
torna a pessoa apta a enfrentar
numerosas situações e a trabalhar
em equipe. Além disso, aprender a
fazer no âmbito das diversas
• Aprender a ser, para desenvolver, da
experiências sociais ou de trabalho,
melhor forma possível, a
oferecidas aos jovens e adoles-
personalidade e estar em condições de
centes, seja espontaneamente na
agir com uma capacidade cada vez
sequência do contexto local ou
maior de autonomia, discernimento e
nacional, seja formalmente, graças
responsabilidade pessoal. Com essa
ao desenvolvimento do ensino
finalidade, a educação deve levar em
alternado com o trabalho.
consideração todas as poten-
cialidades de cada indivíduo, incluindo
memória, raciocínio e sentido estético.

7
A partir do exposto, podemos observar a ligação entre as competências
socioemocionais e um aprendizado efetivo. Para aprender a ser, conviver,
resolver conflitos e outras demais ações é necessário um preparo emocional.
Não há como conviver bem com a diferença sem que haja empatia, muito
menos exercer autonomia para resolução de conflitos sem que haja
autoconfiança. Isso ganha ainda mais força com as demandas da Base
Nacional Comum Curricular, que têm como objetivo garantir que o aluno seja
formado integralmente, a fim de que ele saia da escola preparado para os
desafios do mundo real.

As escolas que atentam à chamada inteligência emocional, conceito que


ganhou força com a teoria de Daniel Goleman, psicólogo e autor do livro
Inteligência Emocional, escapam ao modelo tradicional de ensino. Se antes
era alvo da escola apenas o estímulo à capacidade cognitiva, agora há o
consenso de que, antes de ensinar disciplinas como matemática, é preciso
desenvolver bem as emoções dos alunos. Afinal de contas: razão e emoção
andam juntas, a própria neurociência prova isso. E, assim sendo, todo o
processo de aprendizado é pautado nesse par a fim de que cada um consiga
explorar seus próprios potenciais.

8
08 A BNCC e o estímulo às habilidades
socioemocionais

Tendo como guia dez competências gerais


para guiar o ensino básico no Brasil, a Base
Nacional Curricular Comum (BNCC)
também deu destaque, entre algumas
propostas, às habilidades socioemocionais.

E o que isso significa? Que, assim como o


desenvolvimento cognitivo, as
competências socioemocionais deverão
ser aprendizagens essenciais nas salas de
aulas.

De acordo com a BNCC, é essencial que os


estudantes sejam capazes de:

Respeitar e expressar sentimentos e


emoções, atuando com progressiva
autonomia emocional;

Atuar em grupo e demonstrar interesse


em construir novas relações,
respeitando a diversidade e
solidarizando-se com os outros;

Conhecer e respeitar regras de convívio


social, manifestando respeito pelo outro.

Se as crianças aprendem habilidades socioemocionais, elas vão ter consciência de


quem são, quais são seus pontos fortes, como se desenvolver e trabalhar esses pontos.
O intuito desse tema é engajar os alunos nas salas de aula e com o seu próprio
aprendizado, sabendo que cada um deles tem suas qualidades e capacidade de se
aprimorar.

9
As principais competências que permeiam o aprendizado socioemocional
são autoconsciência, autogerenciamento, consciência social, habilidades de
relacionamento e tomada de decisão responsável. É em torno delas que se
constrói um aprendizado que possa orientar o estudante para toda as áreas da vida.

Veja, a seguir, o que envolve cada uma delas:

Consciência social
Autoconsciência, Saber olhar as coisas em
Identificar emoções, ter perspectiva, desenvolver
percepção afiada, reconhecer empatia, apreciar diversidade
pontos fortes, desenvolver e respeitar os outros;
autoconfiança e autoeficácia;

Habilidades de
relacionamento
Autogerenciamento Saber se comunicar bem,
apresentar engajamento
Aprender a controlar impulsos, social, construir relações e
saber lidar com estresse, ter saber trabalhar em grupo;
disciplina, automotivação,
buscar objetivos, construir
habilidades organizacionais;
Tomada de
decisão responsável
Identificar problemas,
analisar e avaliar situações,
solucionar problemas, refletir, ter
responsabilidade ética.

Com a aplicação dessas habilidades nas escolas, as competências socioemocio-


nais geram impactos positivos em várias esferas da vida de um aluno, de acordo
com um relatório do Global Education Leader’s Program Brasil:

NA APRENDIZAGEM: geram ambiente mais favorável à aprendizagem e


melhores resultados dos alunos nas disciplinas curriculares tradicionais;
NO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL: preparam os estudantes para atuarem de
maneira crítica no mundo, compreendendo as diferenças e tomando decisões
pautadas na ética;
NA PROMOÇÃO DE EQUIDADE: dialogam com as necessidades da sociedade
civil, mobilizam famílias e contemplam seus anseios, suprem carências de
oportunidades e geram impacto nos indicadores sociais;
NA MUDANÇA CULTURAL: transformam o currículo e a escola, estimulam a
atitude cidadã, contribuem para o desenvolvimento de uma cultura de paz.
10
É importante ressaltar que a ideia da BNCC não é
planejar uma aula específica sobre essas competências ou
transformá-las em componente curricular, mas articular a
sua aprendizagem à de outras habilidades relacionadas às
áreas do conhecimento. Muitas dizem respeito ao desen-
volvimento socioemocional que, para acontecer de fato,
deve estar incorporado ao cotidiano escolar, permeando
todas as suas disciplinas e ações. O desafio, portanto, é
complexo, pois impacta não apenas os currículos, mas pro-
cessos de ensino e aprendizagem, gestão, formação de
professores e avaliação.

11
Como grandes escolas integram
09 competências socioemocionais à
grade curricular?

Tendo ciência sobre a importância de desenvolver competências socio-


emocionais na escola, as perguntas mais comuns que surgem são:
“Como trabalhar isso no dia a dia escolar? É preciso algum tipo de
preparo formal?”.

Antes de iniciar um programa voltado para as competências


socioemocionais, é importante que ele contemple cinco habilidades:
autoconhecimento, autogerenciamento, consciência social,
habilidades de relacionamento e capacidade de tomar decisões
responsáveis.

Desde 2009, escolas canadenses introduziram em suas grades


curriculares o desenvolvimento de habilidades socioemocionais nos
alunos. Algumas aulas, por exemplos, são voltadas para desenvolver,
especificamente, a resiliência dos estudantes – a fim de que não
fiquem desmotivados diante das dificuldades com alguma disciplina
escolar.

12
Ao explicar a participação do Canadá na Já na Escola Eleva, aqui no Brasil, há,
Segunda Guerra Mundial, por exemplo, na grade curricular, a aula LIV – Labo-
os professores falam menos sobre as ratório Inteligência de Vida, cujo
datas e mais sobre a resiliência que os objetivo é desenvolver, de maneira
líderes demonstraram durante o difícil lúdica e interativa, as habilidades
período. socioemocionais dos estudantes.
Pensamento crítico, comunicação,
Na Escola Elementar de Mount Desert, autoconhecimento e empatia estão,
nos EUA, alunos e professores se portanto, presentes tanto em sala de
reúnem toda manhã para falar sobre aula como na cultura da escola. Os
sentimentos. Isso cria uma atmosfera de alunos são inseridos em dinâmicas e
confiança e faz com que os estudantes simulações e refletem sobre suas
sejam encorajados e pensar sobre próprias caraterísticas pessoais, a fim
emoções, o que reduz atitudes de desenvolvê-las para atuarem em
impulsivas e agressivas. todas as áreas da vida.

13
Como aproximar os pais da
10
escola a partir desse tema

Há estudos que apontam: filhos que Por isso, escolas que desenvolvem
contam com o incentivo dos pais têm competências socioemocionais dão
rendimento escolar maior. Em atenção a esse ponto. Além de ser
contraste, os pais que criticam os uma excelente forma de aproximar
filhos em demasia desestimulam sua os pais da escola, também garante a
autoconfiança, o que afeta o formação integral do aluno,
processo de aprendizado. equilibrando os papeis da escola e da
família sobre o processo educativo do
Um desses estudos, conduzido pelo estudante.
psicólogo John Gottman, mostrou
que crianças tratadas de forma Workshops, reuniões, e até mesmo
desmerecedora e desrespeitosa cursos são bons caminhos para
pelos pais mostravam mais realizar esse diálogo e essa parceria.
problemas com estudos e amizade, Eventos em que a escola expõe o
além de aumento nos hormônios trabalho pedagógico na escola,
ligados ao estresse. Isso tem até valorizando a produção intelectual do
mesmo uma explicação psicológica: aluno, também são essenciais para
os filhos têm necessidade de reforçar a segurança tanto dos pais
aprovação dos pais, pois eles são quanto dos estudantes, que se
grandes referências em suas vidas. sentem mais autoconfiantes ao
Logo, receber apoio e estímulo protagonizarem um projeto escolar.
emocional é indispensável para fazer
com que o estudante se sinta
autoconfiante.

14
Competências
11 socioemocionais como
caminho para mudar o
Brasil

É importante que a escola assuma esse papel na formação integral


do ser humano. Ela deve que transmitir o conhecimento, mas
também ensinar o estudante a lidar com esse conhecimento, a ser
crítico, e usar o que aprende para resolver problemas na sociedade.
Desenvolver habilidades como colaboração e pensamento crítico,
gerenciamento das próprias emoções, relacionamento com os
outros e o foco para atingir objetivos contribui diretamente para
aumentar o interesse das crianças e dos jovens pela escola e,
consequentemente, reduzir a evasão escolar.

O aprendizado socioemocional é o processo pelo qual crianças e


adultos adquirem e aplicam efetivamente os conhecimentos,
atitudes e habilidades necessárias para entender e gerenciar
emoções, estabelecer e alcançar objetivos positivos, sentir e mostrar
empatia pelos outros, estabelecer e manter relações positivas e
tomar decisões responsáveis. E ele, inclusive, é apontado até mesmo
como mecanismo de combate à desigualdade.

15
.

O Estudo Especial sobre alfabetismo emocional dos alunos, elas se


e competências socioemocionais na posicionam para engajar todas as
população brasileira, realizado pelopartes interessadas na educação e
Instituto Ayrton Senna, evidencia a criar um clima escolar seguro, equi-
ligação entre o plenotativo e envolvente, para que cada
desenvolvimento de competências aluno adquira e aprimore os conhe-
socioemocionais e o grau de cimentos, as habilidades e
realização dos indivíduos adultos. disposições necessárias para o
relacionamento interpessoal e
Nesse sentido, é indispensável dar sucesso na vida.
atenção aos passos para a
secretaria de educação, como Semelhante à leitura, a avaliação e a
estabelecer uma liderança sênior, especialização em habilidades socio-
incentivar a assistência técnica do emocionais envolve um conjunto de
estado, incentivar a certificação de abordagens baseadas em evidên-
professores, honrar as conquistas cias, abrangentes e transversais que
dos estudantes além dos permeiam a escola. Além disso, é
acadêmicos e fomentar estruturas necessário destacar aqui a
de apoio colaborativo para os importância de integrar as habili-
implementadores. Quando as dades socioemocionais com a igual-
escolas se comprometem em dade na educação.
promover a aprendizagem socio-

16
12
O papel das emoções na
equidade educacional

O que é um clima escolar equitativo e


como podemos alcançá-lo?

Em sua fundação, a equidade na educação Mas quando os estudantes têm voz, o


requer um clima escolar seguro e fisica- engajamento autêntico geralmente é o
mente e emocionalmente, no qual os estu- resultado.
dantes são respeitados e incentivados por
adultos que têm altas expectativas. A implementação do ensino das habili-
Essa cultura de realização satura todos os dades socioemocionais sozinha não pode
aspectos da escola, apresentando um resolver as desigualdades sociais que
ambi-ente de aprendizado culturalmente afetam os alunos, mas certamente con-
respon-sivo e que desafia adultos e tribuem para reduzir os efeitos desse
estudantes a terem um forte senso de cenário.
autoeficácia.
É hora de basearmos o desenvolvimento
Além disso, esses climas escolares incenti- dessas competências no objetivo de
vam os alunos e professores a trazer realizar uma mudança social real na forma
debates ponderados, ouvir e aprender com de participação social, cívica e comunitária
as perspectivas dos outros e discordar uns dedicada, informada e perspicaz. As
com os outros (assim como com os adultos) oportunidades são ricas e bem à nossa
sem medo de represálias ou recriminações. frente:
Este processo não é simples: convidar os
alunos a se engajar em questões de justiça
pode ser confuso e repleto de dificuldades.

17
Conscientizar os alunos e os
educadores sobre os seus
Construir uma agência estudantil, além de
próprios preconceitos
exercitar a determinação e a
implícitos;
autodeterminação, reconhecer a injustiça
em contextos atuais e históricos ao construir
climas escolares que valorizem as
habilidades socioemocionais, empatia,
tomada de perspectiva, autorregulação e
Definição de um contexto habilidades para resolver problemas sociais
escolar acolhedor, com foco na e efetivamente tratar da injustiça quando a
inclusão e aceitação de todos encontrarem;
os alunos e suas respectivas
famílias;

Ensinar aos alunos a


exercitar a mentalidade
Usar as habilidades de crescimento;
socioemocionais como
base para práticas
restaurativas;

Apoiar professores na
expansão de suas próprias
Aproveitar o senso inato de mentalidades em relação às
justiça e ativismo dos jovens, capacidades de seus alunos;
capacitando-os a construir
suas capacidades (e nossas!)
para enfrentar as
desigualdades em suas escolas,
comunidades e na sociedade
em geral.

18
Competências socioemocionais e
13 BNCC: como adaptar à proposta
pedagógica

Assim como o processo de aprendiza- conversa, tutorias sobre projetos de


gem, é preciso que o ensino das habili- vida, educação baseada em projetos e
dades socioemocionais seja implemen- atividades de yoga e meditação.
tado em etapas. Por isso, um dos passos Segundo os especialistas, boa parte da
iniciais é começar pela adequação do implementação desse tipo de ensino
currículo e, claro, pela formação dos está em envolver a comunidade, espe-
docentes. Consequentemente, revisar as cialmente os pais.
matrizes de avaliação e fazer uma
adequação do material didático. A BNCC Uma boa forma de engajar os pais é
é um passo muito importante para a convocá-los para conversas sobre a
qualidade da educação do Brasil. Ela filosofia do ensino, explicitando como a
estabelece um grande marco no atuação deles impacta no
desenvolvimento social e ainda orienta a desenvolvimento do aluno. Em 2011, o
composição das propostas pedagógicas. Instituto Mind Group, em parceria com
Agora é o momento de analisar o currí- o INADE (Instituto de Avaliação e
culo da sua instituição e de adequar a Desenvolvimento Educacional),
essas mudanças significativas. O apren- realizou um estudo com alunos do 5º
dizado dessas habilidades na escola ano do Ensino Fundamental de 145
precisa estar integrado às demais disci- escolas, públicas e privadas, que
plinas, a partir de abordagens variadas e trabalham habilidades emocionais,
coerentes. para testar os níveis de proficiência dos
Entre as práticas mais usadas nas esco- alunos em diferentes áreas do
las com foco em desenvolver competên- conhecimento.
cias para o século 21 estão rodas de

19
Como resultado, os alunos melhoraram morar políticas e práticas nessa área.
seus níveis de proficiência em Língua O Instituto também tem parceria com a
Portuguesa, Matemática e Ciências, muito Secretaria de Estado de Educação e
além do esperado para o período. Houve desenvolve um projeto no Colégio Estad-
também uma diminuição signifi-cativa no ual Chico Anysio, referência na aplicação
número de alunos situados no nível do ensino das habilidades socioemocio-
“Abaixo do Básico” e “Básico”, acom- nais. Em entrevista à Estante Mágica, o
panhada de aumento nos níveis diretor Will Costa afirmou que pequenas
“Adequa-do” e “Avançado” nas três áreas ações, como ouvir o aluno, já
do con-hecimento avaliadas. representam formas de desenvolver
Esses estudos são apenas alguns exem- essas competências na escola.
plos do enorme impacto que o desen- Sendo assim, o preparo do educador
volvimento das habilidades socioemocio- para ensinar o tema na sala de aula pode
nais pode ter na aprendizagem e na se basear, primeiramente, na escuta
melhora do rendimento escolar dos ativa: não ficar preso ao conteúdo, saber
alunos. lidar com a individualidade do estudante
Para apoiar educadores e gestores a e praticar a equidade, sabendo lidar com
promoverem a educação integral, o Insti- as habilidades socioemocionais de forma
tuto Ayrton Senna desenvolveu o Instru- intencional.
mento SENNA de mensuração de com- Além disso, explicar a escola, sua estru-
petências socioemocionais nas redes de tura e projetos para os pais é essencial
ensino. para que a educação seja positiva para
Juntamente com o Diálogos Socioemo- todos. É necessário que os pais e
cionais, o Instrumento SENNA compõe responsáveis entendam que a educação
uma proposta integral de monitoramento é sempre renovada e que os métodos se
socioemocional que oferece aos gestores aprimoram com o tempo.
e educadores subsídios para criar e apri-

20
Sugestões de atividades e
14
questionamentos para a sala de aula

As escolas que querem desenvolver o


Além disso, o simples ato de trabalhar em
aprendizado socioemocional, mas se veem
uma determinada lição pode trazer
com pouco tempo para a sala de aula,
desafios sociais, emocionais ou morais aos
podem fazer um inventário social, emocional
alunos. Ao projetar uma aula, os educa-
e moral do que os alunos estão aprendendo
dores também podem fazer perguntas
atualmente. Por exemplo: muitos livros nos
como:
currículos já envolvem:
•A lição envolve conversas desafiadoras
que podem revelar um conflito de valores?
•a vida emocional de uma pessoa;
•Os alunos são estimulados a trabalhar
•um dilema ético;
com um parceiro ou em grupos?
•uma situação que pede compaixão;
•A tarefa é tão exigente que os alunos
•um desafio social;
precisam demonstrar foco e resiliência?
•o uso ético do conhecimento;
•Eles precisam demonstrar autoconfiança
•interações entre grupos;
- por exemplo, durante uma apresentação
oral - ou estabelecer metas de longo prazo
ou fazer escolhas éticas?

21
Ao integrar as competências socioemocionais ao conteúdo do currículo, os
educadores não estão apenas dando aos alunos oportunidades de praticar suas
habilidades socioemocionais, mas também mostrando a eles como essas habili-
dades são integrantes de nossas vidas diárias. Desta forma, pensar em atividades e
propostas pedagógicas que foquem no desenvolvimento das competências emocio-
nais é essencial. Pesquisar as inovações tecnológicas e educativas que estão em
debate, como a gamificação, é o pontapé para entender como é possível incorporar
o tema de forma simples e dinâmica à grade curricular da escola. Projetos de vida,
jogos educativos e propostas literárias são outras boas formas pedagógicas de
incluir o ensino das competências exigidas pela BNCC. S

São maneiras de ver como os alunos correspondem aos novos ensinos,


como os pais veem os novos métodos e como a escola organiza todo o processo.
Entender como cada aluno se manifesta e saber oferecer o melhor caminho ou
meio para isso é saber realizar da melhor forma o papel de educador. Como a
própria BNCC prega em suas competências, a educação brasileira deve focar cada
vez mais em transformar o aluno em o protagonista do seu próprio aprendizado
para que ele explore suas potencialidades e valores, tornando-se um cidadão
empático e colaborativo. Afinal, como afirmou Marthin Luther King: “Inteligência
mais caráter é o objetivo da verdadeira educação”.

22
Quero participar da Estante Mágica

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