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CURSO MARCO LEGAL DA

PRIMEIRA INFÂNCIA

Trilha de Liderança – Unidade II


Aula 1: Andragogia ‒ Contribuições no processo
ensino-aprendizagem para o trabalho com adultos

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Presidente
Ministro Luiz Fux

Corregedora Nacional de Justiça


Ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura

Conselheiros
Luiz Fernando Tomasi Keppen
Mário Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro
Tânia Regina Silva Reckziegel
Flávia Moreira Guimarães Pessoa
Sidney Pessoa Madruga
Ivana Farina Navarrete Pena
André Luis Guimarães Godinho
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho

Secretário-Geral
Valter Shuenquener de Araujo

Secretário Especial de Programas,


Pesquisas e Gestão Estratégica
Marcus Livio Gomes

Diretor-Geral
Johaness Eck

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Secretária de Comunicação Social


Juliana Neiva
Projeto gráfico
Marcela Nunes
Revisão
Carmem Menezes

COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E
ORGANIZAÇÃO DO CURSO

Centro de Formação e Aperfeiçoamento de


Servidores do Poder Judiciário (CEAJUD)
Diogo Albuquerque Ferreira
Rodrigo Pereira da Silva
Horley Leitão Monteiro
Coordenadores pedagógicos
Fábio Lopes Fernandes Ramos
Ivânia Ghesti
Paulo Roberto Fadigas

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Aula 1 ‒ Andragogia ‒ Contribuições no processo
ensino-aprendizagem para o trabalho com adultos1

Introdução

Até o momento, houve a oportunidade de aprender sobre o Marco Legal da Primeira


Infância em toda a sua abrangência e entender o valor e a importância dos primeiros anos de
vida na construção do cidadão e da sociedade. A divulgação da lei e suas implicações são de
extremo valor para que as ações sejam efetivas e, assim, espera-se que muitos multiplicadores
de conhecimento nasçam dessa iniciativa. Esse módulo aborda informações importantes para
formação desses multiplicadores, que serão instrumentos de ação para uma mudança social.
Entender os processos de ensino-aprendizagem é importante para que o conhecimento seja
compartilhado com eficiência e o objetivo de ensino seja atingido.
Ao final desta unidade, espera-se que o aluno tenha habilidade para formular um
planejamento de ensino e se tornar um multiplicador do conhecimento construído na extensão
do curso. Para isso, faz-se necessário:

■ Entender a forma de aprendizagem do adulto;

■ Saber aplicar os princípios da andragogia;

■ Conhecer as abordagens teóricas do ensino-aprendizagem;

■ Saber sobre as metodologias de ensino; e

■ Possuir competências para montar um plano de ensino.

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Elaborado por Janaína Rocha de Souza Leal, pedagoga.

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Você sabe o que é Andragogia?

A andragogia, sucintamente falando, é o nome dado ao ensino para adultos, que se


difere da pedagogia em alguns pontos, mas que, de comum acordo, tem como objetivo
desenvolver a aprendizagem do aluno. O adulto já atingiu a maturidade cognitiva,
diferentemente da criança, que ainda está em construção, e essa maturidade permite
capacidade de elaboração de pensamentos mais complexos. Além disso, o adulto traz consigo
bagagem de conhecimentos prévios, que favorece a troca de saberes, tornando o professor um
sujeito que aprende e ensina de forma simultânea. O professor passa a ser um facilitador do
processo ensino-aprendizagem do educando e um aprendiz no que diz respeito à troca de
experiência, e essa relação transforma o conhecimento em uma ação recíproca e dialógica.
O aluno adulto é protagonista do próprio aprendizado e busca desafios e soluções de
problemas que farão diferença em sua vida. Assim, o currículo deve ser estabelecido em função
das necessidades do estudante, que são independentes e autodirecionados, sendo exibido de
maneira significativa e com aplicação na vida. O material precisa ser apresentado em um
"ambiente adulto" e que considere as experiências antecedentes que ele traz na bagagem. Para
isso, é primordial a identificação do público. Ter consciência de para quem se fala dita a
linguagem a ser usada e a forma em que esse material deve ser apresentado.
O material em questão será transmitido para profissionais experientes com a rotina
infantil e seus desenvolvimentos diários. Essa vivência não deve ser desconsiderada, mas, sim,
enriquecer o treinamento do grupo e ampliar os conhecimentos do profissional para uma
melhor prática de trabalho.
O adulto que busca aprimorar seus saberes de forma autônoma é um aluno que cobra
dos professores postura mais inovadora e exige seus direitos. Essas características devem
impulsionar o multiplicador a sair da zona de conforto, levando-o a aprimoramento e melhoria
de sua performance.
Um dos fatores fundamentais para a aprendizagem diz respeito à motivação, à força
motriz do aluno nessa busca de saber, e esses fatores podem ser necessidades externas
(extrínsecos) ou fatores internos (intrínsecos). Os fatores intrínsecos são os principais fatores de
motivação. Compreender o motivo do saber ou entender o porquê de fazer o que está sendo
proposto é base para o curso favorável da aprendizagem, portanto é necessário promover a
conscientização motivacional durante o curso.
É importante que o aluno tenha liberdade de aprender do seu próprio modo, que o
curso o conduza, mas deixe uma margem de liberdade para expansão da sua autogestão de
ensino. O currículo deve ser elaborado com base em experiências e resoluções de problemas
que permitam visualização da prática do objeto de estudo, permitindo, assim, a implementação
do conteúdo na atuação do profissional.

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"Na educação convencional, os alunos se adaptam ao currículo oferecido, mas,
na educação de adultos, os alunos ajudam a elaborar os currículos [...]. Em
condições democráticas, a autoridade pertence ao grupo" (GESSNER, 1956, citado
em KNOWLES; HOLTON; SWANSON, 2011, p.52).

REFLEXÃO:
Como aluno do CNJ, consegue enxergar como,
durante o curso, esse conceito de Andragogia foi
utilizado?

Considera que a forma abordada foi prática e levou


você a uma consciência da aplicação dos
conhecimentos?

Saiba mais:
Malcolm Knowles, pesquisador que ficou conhecido como pai da andragogia, é o
responsável por grande parte dos estudos e publicações do ensino ao adulto e publicou
o livro The modern practice of adult education, que tinha o subtítulo Pedagogy vs Andragogy e,
posteriormente, na segunda edição, foi alterado para From pedagogy to andragogy. Para maior
aprofundamento nas didáticas de ensino aos adultos, fica, como sugestão de leitura do autor, o
livro Fluxo Andragógico de Knowles. Por meio de seus estudos, Knowles apresenta seis princípios
fundamentais da andragogia, sendo eles: necessidade, autonomia, experiências prévias,
interatividade, orientação para aprendizagem e, por último, a reflexão ou a motivação.
Abordaremos cada um desses princípios na próxima seção.
Como multiplicador é muito importante que você visualize situações da infância em que as
práticas da Lei estejam sendo aplicadas na vida das crianças. Leia, a seguir, o relato de Knowles
(pai da andragogia). Observe com o olhar de multiplicador como foi a aplicação desses direitos
no trecho a seguir.
[...] nos envolvíamos em discussões sérias sobre todos os
tipos de temas, tais como o sentido da vida, o bem e o mal,
religião, política, sucesso, felicidade e tudo que uma criança
era curiosa em saber. Eu me lembro claramente que eu me
senti mais como um companheiro do que inferior ou mais
novo a ele. Após nossas conversas, o meu pai costumava
perguntar a minha opinião sobre o assunto, o que me fazia
sentir que ele respeitava o meu raciocínio. (Malcolm Knowles
falando sobre as conversas com o seu pai)

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Aplicando princípios andragógicos ao treinamento

A inquietação gera movimento, e essa é uma das principais formas de fazer que o
adulto vá atrás de conhecimento. Para isso, algumas indagações são fatores de motivação nessa
busca pelo saber. Os princípios fundamentais da andragogia abordam esses fatores
motivacionais que favorecem a aprendizagem do aluno adulto.

■ Necessidade

A primeira tarefa do multiplicador na transmissão do conhecimento sobre o Marco Legal


da Primeira Infância é conscientizar o aluno do porquê ou para quê ele deve se empenhar em
aprender sobre essa temática. Quando o adulto se conscientiza da necessidade de saber sobre
qualquer coisa, ele se empenha, aplica força e dedicação nesse processo. Como despertar essa
consciência? Como gerar essa inquietação? A confrontação do estado atual é uma das formas
mais eficazes de gerar reflexões, e a indagação funciona como um estímulo de pensamento: o
que ganho com este aprendizado? Por que preciso aprender isso? Quais serão as consequências
da falta desse entendimento na minha vida e na vida das crianças com quem atuo? Outras ações
para se cumprir esse objetivo podem ser: dinâmicas, textos reflexivos, vídeos motivacionais,
resgate de memórias da primeira infância e impacto das situações vivenciadas, positivas ou
negativas, na vida adulta. Essas trocas evidenciam a importância do saber que será proposto.

■ Autonomia

O adulto, por ter necessidade de autorresponsabilidade, sente-se resistente


quando colocado diante da imposição alheia. “Isso quer dizer que o aluno adulto quer ser
tratado como adulto, com conhecimentos, experiência, necessidades e vontades. Quando
isso não acontece, o aluno adulto pode criar uma certa barreira com aquele professor”
(ANDRADE, 2015, p. 11). Portanto, o estudo deve ser autônomo e autodirigido, dando
ao aluno liberdade para autogestão do aprendizado. Esse movimento no ensino eleva a
autoestima do aprendiz e amplia sua motivação, favorecendo a aplicação das leis e
políticas públicas abordadas no treinamento.

REFLEXÃO:
O ensino a distância, modalidade do curso que você está realizando, promove convicção de que
Knowles estava correto em suas colocações. Reflita: Como você se sente tendo a liberdade de
acessar os conteúdos de acordo com a própria gestão de tempo? Qual sentimento é gerado ao
final do curso EAD em que você se aprofundou para além das propostas colocadas?

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■ Experiências prévias

É incontestável que o aluno adulto carrega ampla bagagem de experiências prévias e


conceitos predeterminados e que olha para cada novo conhecimento pela ótica da própria
história. Esse fator tanto é algo que acrescenta, agrega conhecimento e amplia as trocas no
processo de ensino-aprendizagem, quanto também pode se tornar um desafio, que acontece
quando o aluno carrega preconceitos e pressuposições que dificultam a abertura à aquisição do
que é novo.
O grupo adulto quase sempre é um grupo de saberes heterogêneos, de formações
distintas, de histórias diversas em suas singularidades, o que exige do mediador maior
individualização de estratégias. Cada aluno vê o novo conhecimento baseado na sua história de
vida. Ao receber uma nova informação, ela só será armazenada após ser confirmada pela
experiência pessoal. É como se, de forma inconsciente, fosse necessária uma autorização para
que o novo conteúdo apresentado seja transformado em aprendizado e armazenado, e só assim
passe a fazer parte do saber do indivíduo. Esse processo é explicado pela teoria de assimilação
e acomodação apresentada por Piaget. Mas, se existe uma resistência do aprendiz, essa nova
informação recebida é, então, refutada e descartada, não agregando e não provocando
alteração de sua consciência e saberes.

CURIOSIDADE:
Piaget define a assimilação como “uma integração a estruturas prévias, que podem
permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem
descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente
acomodando-se à nova situação”. (PIAGET, 1996, p. 13)

A importância dessa receptividade ao que está sendo proposto é a principal razão para
que o multiplicador faça dele um ensino significativo para o estudante. Dessa forma, a história
e o contexto de vida do aprendiz devem ser levados em consideração na elaboração do
conteúdo, na linguagem utilizada no material didático e nas abordagens linguísticas.

■ Interatividade

Para um ensino significativo, a interação entre o conteúdo e o aluno deve ser


preservada e estimulada, e essa ação gera prontidão para aprendizagem, que é o objetivo do
treinamento. Os princípios da necessidade, autonomia e experiências prévias se reúnem no
princípio da interatividade, provocando a vontade de aprender. O modelo de ensino deve ser
relacionado à vida e buscar trazer sentido à atuação prática do conteúdo. Dessa maneira, o
multiplicador precisa conceder exemplos, casos reais ou fictícios, que promovam esse olhar da
aplicação do conhecimento.

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■ Orientação para aprendizagem

Os assuntos apresentados devem ser sempre contextualizados, não somente na


introdução, mas durante toda a trajetória do curso. Resoluções de problemas e abordagens que
sejam visualizadas na atuação da vida devem ser constantemente anexadas ao conteúdo
teórico. Não basta decorar os tópicos do Marco Legal: é preciso provocar mudança de
procedimento após a aquisição do novo conteúdo. Uma das formas de se garantir a visão prática
dos conteúdos é por meio do estudo de caso das situações vividas pelos próprios participantes
do treinamento.

Depois de estudar os conteúdos dos módulos anteriores, conseguiu perceber alguma


necessidade de mudança de comportamento em relação às crianças que rodeiam você?
Consegue identificar dois pontos de mudança perceptíveis nos seus próprios comportamentos?

■ A reflexão ou motivação

A motivação é a resposta dada ao porquê interno de cada um. O que move você? Esses
fatores podem ser extrínsecos, como salário, promoções, recompensas ou punições, ou
intrínsecos, fatores internos que levam ao movimento de mudança pessoal. A motivação
intrínseca é particular e, por isso, um fator singular. Para maior eficácia no processo de ensino-
aprendizagem, buscar a reflexão e a conscientização da motivação de cada aluno é essencial,
pois é ela que gera satisfação, aumento da autoestima, prazer e maior qualidade de vida.

Você já se perguntou o que move você? Quais são os fatores pessoais que fazem você
buscar esse conhecimento?

IMPORTANTE
Para buscar um novo conhecimento, precisamos ter clareza do porquê.
Ter autonomia para aprender.
Entender a aplicação prática do conhecimento.
Conseguir conectar o novo saber com nossa história de vida.
Querer aprender de forma voluntária.
Solucionar problemáticas a partir da aprendizagem.
Estar motivado a aprender.

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Papel dos multiplicadores: função e competências necessárias para
atuações bem-sucedidas

O multiplicador é o profissional responsável por ampliar o alcance de informação e


colaborar com a equipe na implementação de mudanças. Normalmente, trata-se de um
profissional com tempo maior de experiência na área e que seja engajado e disposto a aprender.
Quase sempre, esse profissional é uma referência nesse ambiente, carrega uma gama de
conhecimento acima da média e é procurado pelos demais profissionais para resolução de
problemas.
Mesmo hoje, diante da facilidade de informação disponível em ampla escala virtual, o
multiplicador é de extrema importância, pois ele é a pessoa responsável por fazer que as
informações relevantes sejam passadas de forma clara, simples, objetiva e que se faça
compreendida por toda equipe da instituição em questão.
Para que o multiplicador tenha efetividade no repasse de informações, é necessário
ter algumas habilidades:

■ Boa capacidade de comunicação verbal e não verbal.

■ Profundo conhecimento do assunto a ser multiplicado.

■ Consciência dos princípios andragógicos.

■ Reconhecimento do público e de suas características para melhor abordagem.

■ Clareza do objetivo do treinamento.

■ Organização dos conteúdos de forma estratégica.

■ Estratégias de feedbacks para saber se está sendo compreendido.

■ Trabalho com alternativas criativas de didáticas.

Como multiplicador, você deverá identificar profissionais que tenham as habilidades


descritas para repassar as informações adquiridas e transmitir a eles seus conhecimentos sobre
didática de ensino. Você já aprendeu sobre a andragogia, e agora vamos aprofundar um pouco
o processo de ensino-aprendizagem, para que tenha ferramentas e seja capaz de construir seu
próprio treinamento. Vamos lá?

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Conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) no processo ensino-
aprendizagem

Todo processo de capacitação tem como objetivo desenvolver a competência do


aluno. Define-se competência como a capacidade de fazer alguma coisa. Essa capacidade ou
competência é fundamentada por três pilares dentro do processo de ensino-aprendizagem,
conhecido como CHA: Conhecimento, Habilidade e Atitude.

A competência é uma capacidade ligada a determinada ação, quase sempre com o fim
de resolver algum problema ou gerar determinado resultado na execução de tarefas. Por isso,
para o desenvolvimento de competências, é importante que o treinamento seja realizado com
o foco em resoluções de problemas reais e que façam parte da rotina do aprendiz.
Ao elaborar um treinamento, tenha bastante atenção e foco no desenvolvimento de
competência do participante, não se esqueça: conhecimento, habilidade e atitude precisam
permear esse resultado desejado.

CONHECIMENTO + HABILIDADE + ATITUDE = COMPETÊNCIA


Imagine que uma pessoa resolva tocar violão. Então, ela vai precisar de:

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■ Conhecimento: violão e as técnicas de notas musicais.

■ Habilidade: coordenação motora e aptidão para o manuseio do violão.

■ Atitude: pegar o instrumento e treinar.

■ Como resultado, ela terá a competência de tocar o instrumento.

Saiba mais:
O CEAJUD possui um Guia de Implementação da gestão por competências no Poder Judiciário. Acesse
o link abaixo para conhecer esse documento e saber mais.

https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2012/01/6df487e745d2ed907c5ea433b6ebee96.pdf

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