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INCLUSÃO ESCOLAR E O PEI

CAPÍTULO 10:
INCLUSÃO ESCOLAR E O PEI

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INCLUSÃO ESCOLAR E O PEI

Já compreendemos que conhecer a criança que estará em


sala de aula é muito importante e tão importante quanto isto é es-
tabelecer vínculo com a equipe de especialistas que a acompanha,
assim como com sua família – ficou muito claro que o docente não
pode tomar esta tarefa para si somente.
Se ela já possui uma vida escolar, obter um relatório tam-
bém é primordial, pois assim as metas serão estabelecidas com
mais clareza.
Devemos traçar um ponto de partida e um possível ponto
de chegada.
Assim como planejamos o ano escolar de uma criança típica,
precisamos elaborar o plano escolar de uma criança de inclusão.
O ideal não é estabelecer metas anuais, mas mensais, ou no má-
ximo bimestrais/trimestrais, de acordo com a divisão da institui-
ção escolar.
Essas metas devem ser compartilhadas com a família, regis-
tradas e discutidas também com os profissionais que acompanham
o aluno. Por isso, é muito importante fazermos uso do PEI – Plano
de Ensino Individualizado. A neuropsicopedagoga Valéria Assun-
ção (2019) discorre sobre o assunto:

“ Observamos nos dias de hoje uma grande


dificuldade dos professores em lidar com alunos
que tenham necessidades educacionais diferen-
ciadas. É importante ressaltar que quando me
refiro a alunos com necessidades educacionais
diferenciadas não exclusivamente estou tratando
de crianças com algum tipo de deficiência, mas
incluo nessas necessidades uma criança que te-
nha dificuldade de aprendizagem ou até mesmo

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transtorno de aprendizagem (TDAH, dislexia,


entre outros), ou seja, devemos observar cada
criança em sua individualidade e como cada uma
delas aprende, afinal, todas aprendem só que
de maneiras diferentes e essas particularidades
quem pode e deve observar é o professor em sala
de aula.

Isto posto, torna-se primordial o uso do PEI (Plano Edu-
cacional Individualizado). O PEI é uma ferramenta desconhe-
cida por muitos professores, embora seja de extrema relevância
em sala de aula. Alguns docentes, por estarem envolvidos em sua
prática diária e com uma enorme demanda burocrática, acabam
por não dar a devida atenção a esse plano. Contudo, o mais grave
é a própria instituição de ensino não abordar o assunto e nem ao
menos direcionar os docentes ou formá-los nesse sentido.
Num mundo ideal, talvez o mais correto seria cada estudante
possuir um plano individualizado, afinal aprendemos de maneiras
distintas apesar de o ambiente escolar insistir em nos tratar como
um grupo homogêneo, sem particularidades.
Mas como elaboramos o PEI?
É necessário dizer que, antes de elaborar o PEI, o professor
precisa avaliar, observar e, até mesmo, realizar testes com o alu-
no, com o objetivo de identificar as potencialidades, habilidades
e conteúdos prévios que o aluno domina. Essa observação servirá
também para identificar suas dificuldades, pontos a serem melho-
rados e conteúdos que ainda não domina. A partir do momento em
que o professor tiver esses dados, ele poderá elaborar o PEI, diz
Assunção (2019).

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No PEI, colocaremos as metas para o aluno. Segundo a li-


teratura e pesquisas científicas, ele deve ser reavaliado periodica-
mente – pode ser a cada bimestre, mas o ideal seria mensalmente.
Além das metas, também colocaremos nesse documento a
maneira específica que usaremos para o aluno assimilar os conte-
údos, quais conteúdos vamos trabalhar e estratégias a serem utili-
zadas. Segue um exemplo:

Conteúdo Aplicado Estratégia utilizada para o aluno


Matemática Matemática
• Material dourado para compreensão e resolução de
• Divisão
exercícios posteriormente.

Assunção ainda ressalta:

“ É importante citar que no PEI podemos colo-


car também metas de socialização para esse alu-
no, principalmente se ele estiver dentro do Espec-
tro Autista (TEA). Exemplo: ao chegar na sala de
aula, o aluno deve cumprimentar seus amigos e a
professora com um bom dia, todos os dias, para


criar uma rotina de socialização.

Ao final do período estipulado, é importante avaliar os re-


sultados e, caso não sejam satisfatórios, aplicar novas estratégias.
Várias considerações surgem ao se pensar os objetivos para o
programa acadêmico. Alunos com TEA colocam professores diante
de alguns desafios incomuns. É importante que os objetivos espe-
cificados para os estudantes no Plano Educacional Individualizado
(PEI) e no ambiente da sala de aula sejam adequados e possam

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ser desenvolvidos. Essas metas também devem ser inseridas de


modo realista no contexto mais amplo do currículo (VOLKMAR;
WIESNER, 2019).
Os autores continuam:

A definição do que é adequado irá variar de maneira


considerável de criança para criança. Algumas vezes, o
programa regular, frequentemente com alguma modi-
ficação, pode atender às necessidades do aluno. Outras
vezes, um ambiente menor de ensino será mais útil. Con-
forme observamos, os perfis dos pontos fortes e fracos
relativos podem e irão variar de modo considerável de
uma criança para outra; assim, não existe uma aborda-
gem simples que sirva para todas (TSATSANIS, 2004).
Embora os perfis cognitivos possam ajudar ao pensarmos
sobre as estratégias de ensino e os objetivos mais adequa-
dos, outras questões – por exemplo, problemas de com-
portamento, dificuldades sociais, problemas sensoriais e
dificuldades com transições e mudança – também preci-
sam ser consideradas. As dificuldades de atenção e orga-
nização, combinadas com falta de atenção social, impõem
outros problemas. Quando são dadas medicações para
ajudar com os problemas associados, os efeitos colaterais
podem complicar o ensino. A idade do aluno também pode
ser relevante; por exemplo, atividades ou materiais que
são apropriados para crianças muito mais novas podem
atrair o interesse do indivíduo com TEA, mas há risco de
que as crianças com desenvolvimento típico reajam de
forma negativa.
Em geral, os objetivos visados incluirão competências
de interação social e ampliação da comunicação, além de

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objetivos acadêmicos mais tradicionais. Estimular outras


habilidades, como competências para períodos de lazer e
adaptativos, também é importante (2019).

É importante que os pais não só tenham acesso a esse docu-


mento, para que possam auxiliar em casa durante todo o processo
da criança, mas que também possam ajudar em sua elaboração,
bem como os profissionais terapeutas que atuam com a criança.
“O PEI é uma ferramenta e tanto para o professor e para
a equipe pedagógica, pois norteia os processos de aprendiza-
gem, traz maior segurança na prática diária, evita ansiedade e,
mais do que tudo isso, o PEI proporciona que o aluno seja visto
de forma integral, individualizada e humanizada”, ressalta Valé-
ria Assunção.
Áreas a considerar para abordar no PEI para crian-
ças em idade escolar (VOLKMAR; WIESNER, 2019):
Competências sociais e dificuldades sociais

● Métodos para o ensino de competências sociais


● Compreensão das pistas sociais e das emoções
● Resposta social adequada, iniciação
● Ensino explícito referente à solução de problemas sociais
● Ensino de rotinas sociais

Aumento do autoconhecimento e autodefesa

● Aumento da consciência de sentimentos e emoções


● Uso de estratégias adequadas para ansiedade e situa-
ções problemáticas
● Ensino da autodefesa e estratégias para buscar assistência

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● Aprendizagem sobre quando pedir ajuda – por exemplo,


até mesmo o aprendizado de um gestual para “ajuda” pode
reduzir substancialmente problemas de comportamento

Competências de comunicação e linguagem

● Uso da comunicação aumentativa, quando apropriado


● Aumento gradual na complexidade da comunicação fala-
da e escrita
● Compreensão da linguagem social: pistas não ver-
bais, prosódia, volume da voz
● Competências conversacionais e pragmáticas
● Iniciar e terminar uma conversa
● Responder às pistas
● Aprender a linguagem figurativa e não literal

Competências organizacionais

● Organizadores visuais e por escrito, como horários, listas,


códigos por cores
● Trabalhar de forma independente por períodos mais longos
● Manejo de materiais e tarefas (incluindo a autocorreção)
● Uso do teclado (quando indicado) e recursos
do computador
● Uso do computador e recursos on-line para auxiliar
na organização

Problemas comportamentais e sensoriais

● Abordar problemas de comportamento específicos ou


problemas sensoriais
● Aumentar a flexibilidade e a habilidade para lidar com
as transições

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● Uso de recursos da terapia ocupacional (TO) para abor-


dar os problemas sensoriais

Há diversas formas de apoiar a aprendizagem que sempre


devem estar adequadas às necessidades individuais de cada aluno.
Elas podem variar de recursos organizacionais simples (horários
por escrito ou até visuais) até procedimentos muito mais so-
fisticados tecnologicamente (computadores, assistentes pes-
soais digitais, programas de conversão de texto para voz
etc.). Para alguns estudantes, há uma genuína atração pela tec-
nologia computacional – ela é previsível, governada por regras e a
carga de informações pode ser adaptada para o aluno, combinan-
do informações auditivas e visuais de formas muito interessantes
(VOLKMAR; WIESNER, 2019).
Ter um norte e seguir orientações pode nos ajudar muito,
mas é claro que sabemos que os desafios ainda existirão. Vale lem-
brar, no entanto, que esses desafios não são tão diferentes daque-
les encontrados em uma criança típica que não possui laudo algum
e que apresenta dificuldades em aprender da maneira tradicional.
Por isso, é necessário nos reinventarmos como professores para
ajudar todas as crianças a alcançarem seus objetivos.
É fato que aqueles que se comunicam verbalmente encon-
tram mais facilidade no processo ensino-aprendizagem, mas será
que eles dizem o que realmente sentem? Será que estamos ouvindo
a todos? É sempre importante refletir.

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 EXERCÍCIOS PROPOSTOS - UNIDADE 5

1) Sobre a educação inclusiva nas escolas, assinale a alternativa correta:

(a) Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino edu-


cacional a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando
a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas po-
tencialidades e necessidades.
(b) A escola somente poderá ser considerada inclusiva quando es-
tiver direcionada para tratar os alunos de forma indiferente em
todos os aspectos.
(c) A escola é aquela que garante a preferência no ensino educa-
cional aos alunos destaque, tratando todos de forma genérica
sem haver necessidade de tratamento diferenciado em nenhum
aspecto.
(d) Em toda escola inclusiva, o aluno está sujeito a segregação, de
modo a garantir a sua caminhada no processo de aprendizagem
e de construção das competências necessárias para o exercício
pleno da cidadania.
(e) Todas as alternativas estão corretas.

2) A Educação Inclusiva não deve ser confundida com Educação Especial,


apesar de a segunda estar incluída na primeira. Em outras palavras, Edu-
cação Inclusiva é a forma de:

(a) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de todos.


(b) Incluir jovens e adultos no ensino médio.
(c) Promover a aprendizagem de crianças somente na educação
infantil.
(d) Incluir crianças no ensino fundamental.
(e) Nenhuma das alternativas.

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 5
3) O conceito de educação inclusiva surgiu em 1994, com a Declaração de
Salamanca. A ideia da educação inclusiva consiste em as crianças com
necessidades educativas especiais serem incluídas em:

(a) quaisquer escolas de ensino regular.


(b) apenas institutos de atendimentos especiais.
(c) escolas específicas para crianças com deficiências.
(d) quaisquer unidades de atendimento para educação especial.
(e) quaisquer escolas de educação especial.

4) São objetivos da Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva


da Educação Inclusiva, exceto:

(a) Atendimento educacional especializado.


(b) Participação da família e da comunidade.
(c) Articulação intersetorial na implementação das políticas
públicas.
(d) Segregação social.
(e) Todas as alternativas estão corretas.

5) O trabalho de elaboração de um plano de ação pedagógica, realizado


pelos professores de Carlo, evidenciado pelas estratégias apresentadas,
resultou na identificação de pistas de exploração que integravam várias
disciplinas, exceto:

(a) Análise do espaço da sala de aula, considerando-se a presença


do aluno com necessidades educativas especiais (Educação Téc-
nica e Educação Científica).
(b) A nossa casa, casa de todos – referência às barreiras arquitetôni-
cas (Educação Técnica).
(c) Projeto de um parque público.
(d) Estudo do corpo humano.
(e) Todas as alternativas estão corretas.

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 5
6) Na elaboração do plano educacional de uma criança de inclusão, é cor-
reto afirmar que o ideal é:

(a) É estabelecer metas anuais e aprovar ou reprovar a criança de


acordo com os resultados.
(b) É estabelecer metas semestrais.
(c) Não é estabelecer metas anuais, mas mensais ou no máximo
bimestrais/trimestrais de acordo com a divisão da instituição
escolar.
(d) Não é estabelecer metas e, no decorrer do processo, ir avaliando
a criança.
(e) Nenhuma das alternativas está correta.

7) Sobre o Plano Educacional Individualizado podemos afirmar:

(a) Antes de elaborar o PEI, o professor precisa fazer uma avaliação


do aluno e observá-lo.
(b) É importante que os objetivos especificados para os estudantes
no Plano Educacional Individualizado (PEI) e no ambiente da
sala de aula sejam adequados e possam ser desenvolvidos.
(c) É importante citar que no PEI podemos colocar também metas
de socialização para os alunos.
(d) As metas devem ser inseridas de modo realista no contexto mais
amplo do currículo.
(e) Todas as afirmações estão corretas.

8) Competências sociais e dificuldades sociais são áreas que devem ser


abordadas no PEI para crianças em idade escolar, segundo Volkmar e
Wiesner. Nesta área, o professor pode desenvolver, exceto:

(a) Compreensão das pistas sociais e das emoções.


(b) Resposta social adequada, iniciação.
(c) Ensino explícito referente à solução de problemas sociais.
(d) Ensino de rotinas sociais.
(e) Competências conversacionais e pragmáticas.

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 5
9) Competência de comunicação e linguagem é uma das áreas que deve
ser abordada no PEI para crianças em idade escolar, segundo Volkmar e
Wiesner. Nesta área, o professor pode desenvolver, exceto:

(a) Problemas de comportamento específicos ou problemas


sensoriais.
(b) Aumento gradual na complexidade da comunicação falada e
escrita.
(c) Compreensão da linguagem social: pistas não verbais, prosódia,
volume da voz.
(d) Competências conversacionais e pragmáticas.
(e) Iniciar e terminar uma conversa.

10) Considere as afirmações a seguir:


I) É importante citar que no PEI podemos colocar também metas de
socialização.
II) Ao final do período estipulado, é importante avaliar os resultados e, caso
não sejam satisfatórios, aplicar nova estratégias.
III) É importante que os pais não só tenham acesso a esse documento, para
que possam auxiliar em casa durante todo o processo da criança, mas que
também possam ajudar na elaboração do PEI;
São verdadeiras as proposições:
(a) I e II apenas.
(b) I, II e III.
(c) III apenas.
(d) I apenas.
(e) II apenas.

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