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TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO: EPIDEMIOLOGIA

UNIDADE 2:
TRANSTORNO DO ESPECTRO
DO AUTISMO – DIAGNÓSTICO
E ESTUDO DE CASO

Caro(a) Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta segunda unidade, aprofundar-nos-emos nas caracterís-
ticas e nos estudos atuais do Espectro do Autismo que permitem
diagnósticos mais precisos. Usaremos como material base o artigo
elaborado pelo departamento científico da Sociedade Brasileira de
Pediatria (2019). Também veremos um estudo de caso em que o
diagnóstico precoce foi crucial para o desenvolvimento da criança.

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Conteúdos da Unidade
Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assi-
nalando os assuntos à medida que for estudando.

9 Diagnóstico: características que devem ser observadas;


9 Estudo de caso: importância do diagnóstico precoce.

Bons estudos!!!
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DIAGNÓSTICO

CAPÍTULO 3:
DIAGNÓSTICO

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DIAGNÓSTICO

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um trans-


torno do desenvolvimento neurológico, cujas características são:
dificuldades de comunicação e de interação social e presença de
comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos. Esses
sintomas configuram o núcleo do transtorno, mas a gravidade com
que se apresentam é variável. Trata-se de um transtorno pervasivo
e permanente, sem cura, mesmo que a intervenção precoce seja
capaz de alterar o prognóstico e suavizar os sintomas. Além disso, é
importante enfatizar que o impacto econômico na família e no país
também será alterado pela intervenção precoce intensiva e basea-
da em evidência (SBP, 2019).

“ O TEA tem origem nos primeiros anos de


vida, porém esta trajetória inicial não é uniforme.
Em algumas crianças, os sintomas são aparentes
logo após o nascimento. Na maioria dos casos, no
entanto, os sintomas do TEA só são consistente-
mente identificados entre os 12 e 24 meses de ida-
de. Por exemplo, aos 6 meses de idade, Ozonoff e
colaboradores não encontraram diferenças entre
bebês que mais tarde receberam o diagnóstico de
TEA e aqueles que continuaram a desenvolver-
-se tipicamente no que diz respeito à frequência
de comportamentos sociais e comunicativos pró-
prios dessa idade (sorriso social, vocalizações di-


rigidas e olhar para o rosto de outras pessoas)

(SBP, 2019)

Por outro lado, diferenças na frequência desses compor-


tamentos eram claramente perceptíveis aos 12 e/ou 18 meses de

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idade. Existe evidência de que, a partir dos 12 meses de idade, as


crianças que mais tarde recebem o diagnóstico de TEA distin-
guem-se claramente daquelas que continuam a se desenvolver ti-
picamente em relação à frequência de gestos comunicativos, como
apontar e dar resposta ao nome. Outros sinais já aparentes aos 12
meses de idade incluem o manuseio atípico de objetos (enfileirar
ou girar os brinquedos) e/ou sua exploração visual. Não obs-
tante essa evidência, o diagnóstico do TEA ocorre, em média, aos
4 ou 5 anos de idade. É uma triste realidade, afinal, como dito, a
intervenção precoce pode trazer ganhos significativos no funciona-
mento cognitivo e adaptativo da criança autista. Alguns estudiosos
acreditam que uma intervenção intensa (com equipe capacita-
da) e precoce tem o potencial de evitar a manifestação completa
do TEA, por coincidir com um período do desenvolvimento em
que o cérebro é altamente plástico e maleável.

Plasticidade cerebral é a capacidade adaptativa do


Sistema Nervoso Central para modificar sua organização
e estrutura. Grosso modo, seria a habilidade do cérebro se
adaptar a novas situações e aprender ou reaprender com
elas. Múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente
tornam-se possíveis.

Não é surpreendente, portanto, que a busca por sinais pre-


coces do autismo continua sendo uma área de intensa investiga-
ção científica.
Alguns marcadores potencialmente importantes no primei-
ro ano de vida incluem anormalidades no controle motor, atraso
no desenvolvimento motor, sensibilidade diminuída a recom-
pensas sociais, afeto negativo e dificuldade no controle da aten-
ção (SBP, 2019). Para o professor neuropediatra José Salomão

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DIAGNÓSTICO

Schwartzman, quanto maior a sensibilidade do especialista para


identificar o transtorno em um bebê de quatro meses – idade em
que já é possível notar algumas características – melhor será para
a criança que terá potencial para viver melhor em sociedade. No
entanto, anos atrás era normal que os médicos pedissem aos pais
para retornarem quando a criança estivesse com 4 ou 5 anos, pois
poderiam diagnosticá-la com precisão. Não podemos afirmar que
isso não acontece hoje em dia. É necessária muita experiência e
estudo, por isso a intensa investigação.
Segundo o Departamento Científico de Pediatria do Desen-
volvimento e Comportamento (2019), estes são alguns sinais su-
gestivos de TEA no primeiro ano de vida:

9 Perda de habilidades já adquiridas, como balbucio ou ges-


to dêitico de alcançar, contato ocular ou sorriso social;
9 Não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente;
9 Não apresentar sorriso social;
9 Baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado;
9 Baixa atenção à face humana (preferência por objetos);
9 Não seguir objetos e pessoas próximos em movimento;
9 Apresentar pouca ou nenhuma vocalização;
9 Não aceitar o toque;
9 Não responder ao nome;
9 Imitação pobre;
9 Baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem
como restrito engajamento social (pouca iniciativa e baixa
disponibilidade de resposta);
9 Interesses não usuais, como fixação em estímulos
sensório-viso-motores;
9 Incômodo incomum com sons altos;

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9 Distúrbio de sono moderado ou grave;


9 Irritabilidade no colo e pouca responsividade no momen-
to da amamentação.

A avaliação formal do Desenvolvimento Neuropsicomotor é


fundamental, indispensável e faz parte da consulta pediátrica.
Como apontamos, acima foram listados os indicativos dos
primeiros meses de vida. Contudo, é importante ressaltar que dos
12 aos 18 meses seguramente esses indicativos serão mais facil-
mente diagnosticados, pois uma criança nessa faixa etária que não
atende quando é chamada pelo nome (e ela ouve), que não apon-
ta para compartilhar atenção – por exemplo: “olha o cachorro!”,
“olha a bola!” – são sinais de que se deve ter atenção (ainda que
não seja autismo). Uma criança que prefere o berço ao colo da
mãe, que organiza carrinhos ao invés de brincar com eles, apresen-
ta movimentos repetitivos exageradamente, tem excesso de apego
à rotina e seletividade exagerada na alimentação deve ser observa-
da com atenção.

“ Estima-se que em torno de 30% dos casos


apresentam deficiência intelectual. O TEA é tam-
bém frequentemente associado a outros transtor-
nos psiquiátricos (transtorno do déficit de aten-
ção e hiperatividade, depressão e ansiedade) e a
outras condições médicas (epilepsia, transtornos


genéticos)

(SBP, 2019)

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Dificuldades motoras são também relativamente comuns en-


tre indivíduos com TEA, embora sua presença não seja necessária
para o diagnóstico.
Ao detectarmos um atraso no desenvolvimento da criança,
a estimulação precoce dever ser considerada como regra. Não se
pode perder este período inicial, pois ele é propício para a recepção
de estímulos e consequente aquisição de habilidades.
O DSM-V classifica a Síndrome de Asperger dentro do TEA.
Os pacientes com Síndrome de Asperger apresentam diagnóstico
mais tardio, pois, em geral, não apresentam atraso de linguagem
verbal e possuem a cognição preservada. O comprometimento da
linguagem pode ser verificado através de um discurso de mesma
entonação, empobrecido na linguagem não verbal e no entendi-
mento da linguagem de sentido figurado (SPB, 2019).
Assim que uma criança apresenta comprovados atrasos ou
desvios no desenvolvimento neuropsicomotor, ela deve ser enca-
minhada para avaliação e acompanhamento com médico especiali-
zado em desenvolvimento neuropsicomotor, com avaliação formal
para TEA, e com o Psiquiatra Infantil ou o Neuropediatra.
Há dois problemas que os pais costumam enfrentar: um é o
fator econômico, uma vez que o estado ainda não possui infraes-
trutura para apoiar essas crianças; e o outro é encontrar especia-
listas na área, pois muitos médicos não têm interesse ou possuem
pouco conhecimento sobre o autismo.

“ O diagnóstico tardio e a consequente inter-


venção atrasada em crianças com TEA causam
prejuízos no seu desenvolvimento global. Este
aspecto tardio de diagnóstico tem sido associa-
do diretamente com baixa renda familiar, etnia,

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pouco estímulo, pouca observação sobre o desen-


volvimento das crianças por parte dos pais, pro-


fissionais da saúde, educadores e cuidadores

(SBP, 2019)

O departamento de pediatria alerta:

“ O ditado popular de “vamos aguardar o tem-


po da criança” deve respeitar os limites pré-de-
finidos da idade máxima de aquisição de cada
marco, de acordo com as escalas validadas para
o acompanhamento do desenvolvimento neurop-
sicomotor. Além de que, para um diagnóstico
adequado, deve-se ter uma equipe multidiscipli-
nar experiente e informações coletadas por todos
que fazem parte da rotina e convívio da criança,
principalmente os familiares, os cuidadores e os


professores na escola

(SBP, 2019)

Apesar de, até alguns anos atrás, existirem profissionais que


nunca haviam visto ou analisado crianças autistas, os estudos so-
bre o transtorno do espectro têm avançado nos últimos anos e,
com a propagação do conhecimento, é quase impossível que hoje
encontremos médicos como aqueles de antigamente. Ainda que
não sejam especialistas ou não tenham tanto interesse em se apro-
fundar no assunto, sabem do que se trata.

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Fonoaudiólogos, pedagogos e pais também estão mais cons-


cientes e atentos. Só não podemos cair na armadilha do diagnós-
tico precipitado. Muitos incorrem neste erro, de forma que é cada
vez mais comum profissionais não aptos a diagnosticar assustarem
famílias e conduzirem casos por um caminho incorreto e prejudi-
cial para a criança, apesar de cômodo para aqueles que não querem
despender esforços.

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