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O que é AUTISMO ou 

TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA?
A partir do último Manual de Saúde Mental – DSM-5, que é um guia de classificação
diagnóstica, o Autismo e todos os distúrbios, incluindo o transtorno autista, transtorno
desintegrativo da infância, transtorno generalizado do desenvolvimento não-especificado
(PDD-NOS) e Síndrome de Asperger, fundiram-se em um único diagnóstico
chamado Transtornos do Espectro Autista – TEA.
O TEA é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento
do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam
pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos. Embora todas as
pessoas com TEA partilhem essas dificuldades, o seu estado irá afetá-las com intensidades
diferentes. Assim, essas diferenças podem existir desde o nascimento e serem óbvias para
todos; ou podem ser mais sutis e tornarem-se mais visíveis ao longo do desenvolvimento.
O TEA pode ser associado com deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora
e de atenção e, às vezes, as pessoas com autismo têm problemas de saúde física, tais
como sono e distúrbios gastrointestinais e podem apresentar outras condições como
síndrome de deficit de atenção e hiperatividade, dislexia ou dispraxia. Na adolescência
podem desenvolver ansiedade e depressão.
Algumas pessoas com TEA podem ter dificuldades de aprendizagem em diversos estágios
da vida, desde estudar na escola, até aprender atividades da vida diária, como, por
exemplo, tomar banho ou preparar a própria refeição. Algumas poderão levar uma vida
relativamente “normal”, enquanto outras poderão precisar de apoio especializado ao longo
de toda a vida.
O autismo é uma condição permanente, a criança nasce com autismo e torna-se um adulto
com autismo.
Assim como qualquer ser humano, cada pessoa com autismo é única e todas podem
aprender.
As pessoas com autismo podem ter alguma forma de sensibilidade sensorial. Isto pode
ocorrer em um ou em mais dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar – que
podem ser mais ou menos intensificados. Por exemplo, uma pessoa com autismo pode
achar determinados sons de fundo, que outras pessoas ignorariam, insuportavelmente
barulhentos. Isto pode causar ansiedade ou mesmo dor física.
Alguns indivíduos que são sub sensíveis podem não sentir dor ou temperaturas extremas.
Algumas podem balançar rodar ou agitar as mãos para criar sensação, ou para ajudar com
o balanço e postura ou para lidar com o stress ou ainda, para demonstrar alegria.
As pessoas com sensibilidade sensorial podem ter mais dificuldade no conhecimento
adequado de seu próprio corpo. Consciência corporal é a forma como o corpo se comunica
consigo mesmo ou com o meio. Um bom desenvolvimento do esquema corporal pressupõe
uma boa evolução da motricidade, das percepções espaciais e temporais, e da afetividade.

As pessoas com Transtornos do Espectro Autista podem se destacar em


habilidades visuais, música, arte e matemática

 A maioria das pessoas com autismo é boa em aprender visualmente;


 Algumas pessoas com autismo são muito atentas aos detalhes e à exatidão;
 Geralmente possuem capacidade de memória muito acima da média;
 É provável que as informações, rotinas ou processos uma vez aprendidos, sejam
retidos;
 Algumas pessoas conseguem concentrar-se na sua área de interesse especifico
durante muito tempo e podem optar por estudar ou trabalhar em áreas afins;
 A paixão pela rotina pode ser fator favorável na execução de um trabalho;
 Indivíduos com autismo são funcionários leais e de confiança;

http://autismo.institutopensi.org.br/informe-se/sobre-o-autismo/o-que-e-autismo/

DIAGNÓSTICO DO AUTISMO

Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) já começam a demonstrar sinais nos


primeiros meses de vida: elas não mantêm contato visual efetivo e não olham quando você
chama. A partir dos 12 meses, por exemplo, elas também não apontam com o dedinho. No
primeiro ano de vida, demonstram mais interesse nos objetos do que nas pessoas e,
quando os pais fazem brincadeiras de esconder, sorrir, podem não demonstrar muita
reação.
O diagnóstico do autismo é clínico, feito através de observação direta do comportamento e
de uma entrevista com os pais ou responsáveis. Os sintomas costumam estar presentes
antes dos 3 anos de idade, sendo possível fazer o diagnóstico por volta dos 18 meses de
idade.
Os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) referem-se a um grupo de transtornos
caracterizados por um espectro compartilhado de prejuízos qualitativos na interação social,
associados a comportamentos repetitivos e interesses restritos pronunciados (Brentani et al,
2013). Os TEAs apresentam uma ampla gama de severidade e prejuízos, sendo
frequentemente a causa de deficiência grave, representando um grande problema de saúde
pública. Há uma grande heterogeneidade na apresentação fenotípica do TEA, tanto com
relação à configuração e severidade dos sintomas comportamentais (Geschwind, 2009).
A atual dificuldade de identificação de subgrupos de TEA que poderiam direcionar
tratamentos e viabilizar melhores prognósticos, dificultam progressos no desenvolvimento de
novas abordagens de tratamento destes pacientes.
A nova edição do DSM trouxe uma nova estrutura de sintomas, e a tríade de sintomas que
modela déficits de comunicação separadamente de prejuízos sociais do DSM-IV, que foi
substituído por um modelo de dois domínios composto por um domínio relativo a déficit de
comunicação social e um segundo relativo a comportamentos/interesses restritos e
repetitivos. Além disso, o critério de atraso ou ausência total de desenvolvimento de
linguagem expressiva foi eliminado do DSM-5, uma vez que pesquisas mostraram que esta
característica não é universal, nem específica de indivíduos com TEA.
A seguir os critérios diagnósticos do DSM-V, cuja versão original pode ser acessada aqui.
DSM-V : Transtorno do Espectro do Autismo
Deve preencher os critérios 1, 2 e 3 abaixo:

1. Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas


interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes:
2. Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação
social;
b. Falta de reciprocidade social;
c. Incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade apropriados
para o estágio de desenvolvimento.
3. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades,
manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo:
4. Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou comportamentos sensoriais
incomuns;
b. Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento;
c. Interesses restritos, fixos e intensos.
5. Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se
manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas
capacidades.

Justificativas:

1. Novo nome para a categoria, Transtorno do Espectro do Autismo, que inclui


transtorno autístico (autismo), transtorno de Asperger, transtorno desintegrativo da
infância, e transtorno global ou invasivo do desenvolvimento sem outra
especificação.

A diferenciação entre Transtorno do Espectro do Autismo, desenvolvimento típico/normal e


de outros transtornos “fora do espectro” é feita com segurança e com validade. No entanto,
as distinções entre os transtornos têm se mostrado inconsistentes com o passar do tempo.
Variáveis dependentes do ambiente, e frequentemente associadas à gravidade, nível de
linguagem ou inteligência, parecem contribuir mais do que as características do transtorno.
Como o autismo é definido por um conjunto comum de sintomas, estamos admitindo que ele
seja melhor representado por uma única categoria diagnóstica, adaptável conforme
apresentação clínica individual, que permite incluir especificidades clínicas como, por
exemplo, transtornos genéticos conhecidos, epilepsia, deficiência intelectual e outros. Um
transtorno na forma de espectro único, reflete melhor o estágio de conhecimento sobre a
patologia e sua apresentação clínica.

1. Três domínios se tornam dois:

1) Deficiências sociais e de comunicação;


2) Interesses restritos, fixos e intensos e comportamentos repetitivos.
Déficits na comunicação e comportamentos sociais são inseparáveis, e avaliados mais
acuradamente quando observados como um único conjunto de sintomas com
especificidades contextuais e ambientais.
Atrasos de linguagem não são características exclusivas dos transtornos do espectro do
autismo e nem universais dentro dele. Podem ser definidos, mais apropriadamente, como
fatores que influenciam nos sintomas clínicos de TEA, e não como critérios do diagnóstico
do autismo para esses transtornos.
Exigir que ambos os critérios sejam completamente preenchidos, melhora a
especificidade diagnóstico do autismo sem prejudicar sua sensibilidade.
Fornecer exemplos a serem incluídos em subdomínios, para uma série de idades
cronológicas e níveis de linguagem, aumenta a sensibilidade ao longo dos níveis de
gravidade, de leve ao mais grave, e ao mesmo tempo mantém a especificidade que temos
quando usamos apenas dois domínios.
A decisão foi baseada em revisão de literatura, consultas a especialistas e discussões de
grupos de trabalho. Foi confirmada pelos resultados de análises secundárias dos dados
feitas pelo CPEA e pelo STAART, Universidade de Michigan, e pelas bases de dados da
Simons Simplex Collection.
Muitos critérios sociais e de comunicação foram unidos e simplificados para esclarecer os
requerimentos do diagnóstico do autismo.
No DSM IV, critérios múltiplos avaliam o mesmo sintoma e por isso trazem peso excessivo
ao ato de diagnosticar.
Unir os domínios social e de comunicação, requer uma nova abordagem dos critérios.
Foram conduzidas análises sobre os sintomas sociais e de comunicação para estabelecer
os conjuntos mais sensíveis e específicos de sintomas, bem como os de descrições de
critérios para uma série de idades e níveis de linguagem.
Exigir duas manifestações de sintomas para comportamento repetitivos e interesses fixos e
focados, melhora a especificidade dos critérios, sem perdas significativas na sensibilidade. A
necessidade de fontes múltiplas de informação, incluindo observação clínica especializada e
relatos de pais, cuidadores e professores, é ressaltada pela necessidade de atendermos
uma proporção mais alta de critérios.
A presença, via observação clínica e relatos do(s) cuidador(es), de uma história de
interesses fixos, rotinas ou rituais e comportamentos repetitivos, aumenta
consideravelmente a estabilidade do diagnóstico do autismo do espectro do autismo ao
longo do tempo,  e reforça a diferenciação entre TEA e os outros transtornos.
A reorganização dos subdomínios, aumenta a clareza e continua a fornecer sensibilidade
adequada, ao mesmo tempo que melhora a especificidade necessária através de exemplos
de diferentes faixas de idade e níveis de linguagem.
Comportamentos sensoriais incomuns, são explicitamente incluídos dentro de um
subdomínio de comportamentos motores e verbais estereotipados, aumentando a
especificação daqueles diferentes que podem ser codificados dentro desse domínio, com
exemplos particularmente relevantes para crianças mais novas.

1. O Transtorno do Espectro do Autismo é um transtorno do desenvolvimento


neurológico, e deve estar presente desde o nascimento ou começo da infância, mas
pode não ser detectado antes, por conta das demandas sociais mínimas na mais
tenra infância, e do intenso apoio dos pais ou cuidadores nos primeiros anos de vida.

O DSM-5 também reconhece que indivíduos afetados variam com relação a sintomas não
específicos do TEA, tais como habilidade cognitiva, habilidade de linguagem expressiva,
padrões de início, e comorbidades psicopatológicas. Estas distinções podem proporcionar
meios alternativos para identificação de subtipos dentro do TEA.
Assim, visando aumentar a especificidade do diagnóstico de TEA, o DSM-5 identifica tanto
os sintomas diagnósticos principais como características não específicas do TEA que variam
dentro desta população.
Apesar dos avanços genéticos em relação ao TEA, as bases genéticas associadas aos
fenótipos ainda permanecem desconhecidas devido à grande heterogeneidade genética e
fenotípica da doença, pois o TEA não é visto como uma doença atrelada a um único gene,
mas sim uma doença complexa resultado de variações genéticas simultâneas em múltiplos
genes (Iyengar and Elston 2007) junto com uma complexa interação genética, epigenética e
fatores ambientais (Persico and Bourgeron 2006, Eapen 2011).
Como há uma enorme variabilidade em termos de comportamento (gravidade dos
sintomas), cognição e mecanismos biológicos, construindo-se a idéia de que o TEA é um
grupo heterogêneo, com etiologias distintas, eles de beneficiam de avaliação individualizada
para propor a melhor composição de acompanhamento para o caso.
Aproximadamente 60-70% têm algum nível de deficiência intelectual, enquanto que os
indivíduos com autismo leve, apresentam faixa normal de inteligência e cerca de 10 % dos
indivíduos com autismo têm excelentes habilidades intelectuais para a sua idade (Brentani,
et al. 2013).
http://autismo.institutopensi.org.br/informe-se/sobre-o-autismo/diagnosticos-do-autismo/

http://entendendoautismo.com.br/artigo/o-que-e-autismo-ou-transtorno-do-espectro-autista-tea/

http://famesp.com.br/novosite/wp-
content/uploads/2014/tcc/famesp_erika_de_souza_nogueira_parte1.pdf

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_pessoa_autismo.pdf

PAIS E ESCOLA NA INCLUSÃO DO


AUTISMO: UMA UNIÃO POSSÍVEL?
 

Falaremos hoje de um tema muito importante para a vida de


crianças e adolescentes com TEA. As evidências científicas, na
condução de indivíduos com autismo, orientam duas coisas muito
importantes:

1. Nenhum método de intervenção em autismo é eficaz se não


tiver plena participação contínua dos pais, das escolas e
das equipes que lidam com essas pessoas.
2. As intervenções para crianças com autismo devem ser
sempre voltadas de forma individualizada. Por exemplo, se
houver o estabelecimento de um currículo em uma escola, o
estudante autista deve estar no centro desse conjunto de
métodos que visam a uma educação satisfatória e que
contribua com a intervenção do pequeno.

Um estudo publicado na revista científica ‘Fronteiras’ mostra que


as abordagens que contavam com a participação dos pais e da
escola são completamente eficazes no desenvolvimento do aluno
autista.
É importante dizer que para tudo isso acontecer, pais e escolas
devem andar sempre juntos no mesmo caminho.

Adaptação escolar
O primeiro ponto para uma experiência escolar proveitosa ao
aluno autista é a adaptação escolar. Levar uma criança ou
adolescente com autismo para a escola não é fácil. Esse local é
onde o aluno em questão lidará com situações que ela não
encontra em casa (problemas de linguagem, fobias, submeter-se
a algumas regras, etc.), como algumas hipersensibilidades,
contato com outros vários colegas, etc.

O papel da família na adaptação


Quem pode ajudá-los nesses desafios são os pais. A presença
da família é imprescindível. Além disso, as escolas que abrem
essa possibilidade contam muito para o desenvolvimento das
crianças.
Processo de adaptação
O processo de adaptação pede que os pais estudem
profundamente os problemas que afetam as crianças, como os
comportamentos mais difíceis, os maiores déficits de
desenvolvimentos; quais as restrições que a escola tem com o
autista, entre outros.
Outro ponto importante é levar a criança aos poucos para que ela
possa se ambientar com o local. Observe a reação de seu filho,
tente perceber o que ele não gosta.
Professor de apoio
Percebemos que várias escolas se negam em contar com o
professor de apoio especializado. Isso é um problema, pois os
alunos precisam dessa presença. Esse profissional tem total
conhecimento acerca das necessidades pedagógicas do aluno
autista. É importante que as instituições de ensino contratem
esses educadores, que são de extrema importância.
Material adaptado
O material adaptado depende de cada criança, ou seja, do que
ela já sabe; e a partir das dificuldades que ela tem, o professor
deve trabalhar esses pontos e estabelecer algumas metas que
visem ao aprendizado do aluno.
É sempre importante lembrar o professor de apoio faz parte de
uma equipe variada que cuidará da criança, que conta também
outros profissionais como fonoaudiólogos, psicomotricistas, entre
outros.
Suporte das equipes multidisciplinares
Isso é muito importante, pois as intervenções estruturadas feitas
dentro do ambiente do consultório, assim como aquelas
realizadas dentro da escola e do seio familiar, proporcionam uma
intervenção muito eficaz à criança. É imprescindível que a escola
saiba o que está sendo feito para, até mesmo, avaliar o que pode
melhorar para o pequeno.
A escola precisa saber ouvir a família e fazer algumas
readequações estruturais como forma de integrar a criança e o
adolescente ao ambiente. A conduta médica exerce um papel
interessante, porque o profissional deve ter a consciência de que
a família e a escola devem andar juntas.
A orientação básica de adaptação e abordagem escolar em
crianças com autismo exige o trabalho interdisciplinar: o apoio da
família, escolas e outros profissionais.
http://entendendoautismo.com.br/artigo/pais-e-escola-na-
inclusao-do-autismo-uma-uniao-possivel/

A busca da jornalista Janine Saponara por uma escola ao seu filho,


André, 16, não foi das mais fáceis. Tudo esbarrava na questão da
aceitação do garoto autista que, até os 11 anos de idade, estudou em
uma escola privada tradicional de São Paulo. “Já vinha sendo notificada
do seu comportamento diferente nas atividades e depois que tive
certeza do diagnóstico de autismo, ouvi da instituição que eles não
estavam prontos para incluí-lo”, relembra a mãe.

Saiba + Confira 5 filmes sobre autismo e educação

Em meio à procura, Janine esbarrou em outras negativas, mas insistiu


para que o garoto fosse aceito em uma instituição de ensino regular. Foi
o que aconteceu na Escola da Vila, que teve como estratégia de inclusão
não contar aos professoressobre o autismo do estudante recém
chegado. “De início, rejeitei a ideia, porque contar sobre o autismo me
deixaria mais tranquila. Até que em uma reunião, me explicaram que
quando você rotula, as pessoas não vão espontaneamente ajudar a
romper as barreiras; ao passo que, quando não se sabe, há curiosidade
para essa conquista”.

Legislação
O ingresso de uma criança autista em escola regular é um direito
garantido por lei, como aponta o capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), que trata sobre a Educação Especial. A
redação diz que ela deve visar a efetiva integração do estudante à vida
em sociedade. Além da LDB, a Constituição Federal, a Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência, Estatuto da Criança e do
Adolescente e o Plano Viver sem Limites (Decreto 7.612/11) também
asseguram o acesso à escola regular.

O acesso, portanto, é apenas uma das etapas na visão do presidente


da Associação Brasileira para Ação dos Direitos das Pessoas com
Autismo (Abraça), Alexandre Mapurunga. “A inclusão começa com a
chegada desse aluno à escola, mas é preciso também garantir sua
permanência e aprendizagem”, avalia. O especialista reforça que as
instituições não podem negar a matrícula desses alunos nem exigir
qualquer tipo de laudo médico.
É preciso capacitar

Para Maria Teresa Mantoan, professora da Universidade de Campinas


(Unicamp)especialista em inclusão, o cenário educacional brasileiro atual
tem como mote principal o acesso, permanência e sucesso de toda
criança na escola regular. A educadora afirma que a situação se
concretiza como desafio, posto que a escola atual não é feita para todos.

“Até agora, os sistemas de ensino têm lidado com a questão por meio de
medidas facilitadoras, como cuidadores, professoras de reforço e salas
de aceleração, que não resolvem, muito menos atendem o desafio da
inclusão. Pois qualificar uma escola para receber todas as crianças
implica medidas de outra natureza, que visam reestruturar o ensino e
suas práticas usuais e excludentes. Na inclusão, não é a criança que se
adapta à escola, mas a escola que para recebê-la deve se transformar”,
aponta.

Como muitas vezes as equipes gestoras não estão preparadas para


desenvolver um plano pedagógico com as crianças autistas, é comum
que elas sejam acompanhadas por um orientador terapêutico o que, na
visão da coordenadora da ONG Autismo e Realidade, Joana Portolese, é
um erro. “Não se deve promover a substituição. Quando se entende que
um profissional desse é necessário na escola, o trabalho deve ser
complementar, sem que isso diminua a responsabilidade do professor”,
avalia. Para Joana, não há ganhos ao individualizar a criança autista
porque nem se considera como ela se desenvolve diante de um grupo.

Por isso, mais do que a aprendizagem em si, é preciso se ater à


qualidade de ensino oferecida. “É necessário um plano de ensino que
respeite a capacidade de cada aluno e que proponha atividades
diversificadas para todos e considere o conhecimento que cada aluno
traz para a escola”, sugere Maria Teresa. A educadora aponta que é
fundamental se afastar de modelos de avaliação escolar “que se baseiam
em respostas pré-definidas ou que vinculam o saber às boas notas”,
critica.
Acesse materiais de apoio para a escola, da ONG Autismo e Realidade.

No caso do autista, o que está em jogo são as habilidades. “É nelas que


se deve investir” para, assim, desenvolver as inabilidades, afirma Joana
Portolese.  Isso reafirma a necessidade de não se esperar um
comportamento dado, ao que a maioria dos indivíduos do espectro
autista não corresponde.

Quando a inclusão acontece

Exemplo disso é o estudante André, que pode demonstrar suas


habilidades. Enquanto as crianças realizam anotações comuns, ele faz
fluxogramas sobre o conteúdo escolar, o que vem sendo utilizado por
seus colegas, que tiram fotocópia do material para estudar para provas.

Se no início, a escola havia resolvido não contar sobre o autismo do


menino, na 6ª série o próprio estudante, em uma apresentação,
socializou com os colegas que ele tinha a síndrome de Asperger (uma
das variações do autismo) e suas características, aproximando-o dos
demais estudantes. Segundo a professora Maria Teresa, “ter síndrome
de Aspenger não define quem é o estudante como pessoa, já que o
estudante é muito mais do que essa síndrome”, destaca.

O respeito foi construído em inúmeros outros episódios, como quando


André decidiu realizar uma atividade debaixo da carteira escolar. Em vez
de puni-lo, a educadora resolveu socializar para toda a turma o modo
diferente como o aluno aprendia e, nesse dia, todos os alunos
estudaram debaixo da mesa.

Para Janine, que vive a escola de perto com o filho, é preciso sempre
explorar a variedade, interpretando o novo como positivo. Ela mesmo
costumava propôr alternativas às escolas que não trabalhavam a
inclusão. “Na outra escola, na hora do futebol, me diziam que o André se
escondia debaixo do banco do vestiário. Até que eu mostrei aos
professores que ele poderia ajudar na estratégia do jogo, em vez de
jogar. Ele pegava uma caneta e pensava como o time iria fazer o gol”.

Incluir é possível

O educador Severino da Silva, mais conhecido como Billy, viveu rica


experiência com uma aluna autista no Centro Integrado de Educação de
Jovens e Adultos (Cieja), no bairro de Campo Limpo, zona sul de São
Paulo. “O desafio foi ainda maior porque ela já estava na fase adulta e
sabemos que a relação se estabelece mais facilmente na infância”,
reconhece. Nem por isso o educador desistiu do processo de
aprendizagem que se construiu em cinco anos.

Billy conta que o processo teve como base a aceitação, o respeito e


também esclarecimentos sobre a condição de ser autista. “Não dá para
se pensar em inclusão se a questão em pauta não for discutida de
maneira natural em nossas vidas”, afirma.

Por essa razão, a educadora da Escola da Vila, Maria da Paz Castro


acredita ser importante observar o aluno autista também fora do
contexto escolar.”A criança autista deve ocupar e fazer uso dos espaços
públicos, assim como todos os cidadãos”, afirma a educadora. Para ela, o
processo de desenvolvimento desse  indivíduo será  alavancado todas as
vezes que ele estiver em situações legítimas de convívio”, avalia.

Essas oportunidades e necessidades são subsídios para a escola


trabalhar seu plano de escolaridade, já que a instituição, na visão da
educadora, “ é, por excelência um espaço de relação, de construção de
autonomia, de resolução de problemas e de aprendizagem”. Para Billy, o
processo pedagógico  deve promover a autonomia, “exatamente como
fazemos com os alunos que não têm deficiência”, defende.

Para além da relação professor aluno, as estratégias inclusivas devem


acionar a comunidade escolar e os familiares dos estudantes. “É
importante garantir momentos para que todos discutam a questão e
possam pensar de forma conjunta ações concretas para que a inclusão
aconteça”, recomenda o educador.

Café Terapêutico

O Cieja Campo Limpo desenvolve o projeto Café Terapêutico que reúne


pais, alunos e comunidade na discussão de uma sociedade inclusiva.
Este ano, a iniciativa completa seis anos e trará como tema: “A inclusão
se faz com mãos. Nossas mãos. Mãos que fazem a diferença”.
Instituições especializadas x Escolas regulares

Os embates referentes à inclusão, no entanto, não impedem os


especialistas de reconhecer uma  melhora no cenário. “É a partir da
presença dessas crianças na escola que esses sistemas educacionais vão
se mobilizar para entender em que sentido precisam se aperfeiçoar”,
reconhece Maria Teresa Mantoan. Os gargalos educacionais podem ser
ponto de partida de debates que induzam políticas públicas.

Em 2010, por exemplo, a questão da inclusão de estudantes com


deficiência na escola regular estava na agenda da Conferência  Nacional
de Educação (Conae-2010). Seu documento final trazia a escola como
espaço fundamental na valorização da diversidade e garantia de
cidadania. O objetivo era fazer com que o documento final da
conferência servisse de base para a redação do Plano Nacional de
Educação (PNE), mas, de acordo com a professora Maria Thereza, não
foi bem isso que ocorreu.

Se na Conae a discussão tinha como foco a  universalização da


educação regular a todos os estudantes com deficiência, quando o PNE
chegou na Câmara, a redação abriu espaço para que a educação dessas
crianças seja oferecida em organizações especializadas. “Eles querem
voltar para trás, querem neutralizar o desafio da inclusão fazendo voltar
a escola especial, quando todo mundo sabe que a diferenciação pela
deficiência é crime [de discriminação]. O salto qualitativo necessário
para a inclusão é um ensino desafiador da capacidade de cada aluno e
que reconhece a diferença de cada um”.

http://educacaointegral.org.br/reportagens/autismo-escola-os-desafios-
necessidade-da-inclusao/

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