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Sumário
Preâmbulo de William A. Tiller
Prefácio
Introdução
Introdução
Preâmbulo
Há cerca de dois séculos, antes que a ciência começasse
simplesmente a focalizar sua atenção no aspecto puramente
físico da natureza, a homeopatia e a alopatia caminhavam juntas
para servir às necessidades de saúde da humanidade. Quando
as ciências físicas começaram a ter sucesso, sua tolerância para
com as idéias que não podiam ser comprovadas pelos mesmos
critérios diminuiu e a homeopatia começou a sentir as pressões
de uma cidadania de segunda classe. A ciência física tornou-se
cada vez mais quantitativa e previsivelmente poderosa, enquanto
a homeopatia começou a perder o apóio dos médicos
praticantes. Apenas um pequeno encrave de médicos persistiu
com confiança na prática da homeopatia até este século, e
atualmente seu número está aumentando, pois as sérias falhas
da medicina alopática tornam-se cada vez mais evidentes para
todos nós.
Pode-se afirmar que a preocupação com a doença e não com a
saúde foi o que separou os caminhos da alopatia e da
homeopatia. O corpo físico revela a materialização óbvia da
doença, enquanto sua relação com os aspectos mais sutis do
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homem não é tão facilmente discriminada. A medicina alopática
convencional trata diretamente dos componentes químicos e
estruturais do corpo físico. Ela pode ser classificada como uma
medicina objetiva, pois trata da natureza num nível espaço-
temporal quadridimensional e, dessa forma, tem tido a mais
evidente prova de laboratório para sustentar suas hipóteses
físicoquímicas. Isso aconteceu porque, atualmente, a habilidade
de percepção fidedigna, tanto dos seres humanos quanto da
instrumentação, opera nesse nível.
A medicina homeopática, por outro lado, trata de forma indireta
da química e da estrutura do corpo físico, ao tratar diretamente
da substância e das energias no nível seguinte, mais sutil. Deve
ser classificada como uma medicina subjetiva, em parte por lidar
com a energia, passível de ser fortemente perturbada pelas
atividades mentais e emocionais dos indivíduos, e, em parte, por
não haver nenhum equipamento de diagnóstico que sirva de
sustentação ao médico homeopata. Espera-se que num futuro
próximo essa situação se transforme.
A transição atual, de preocupação com a saúde e a integridade e
não com a doença, tem realçado a crescente consciência,
perspectiva e importância de uma hierarquia de energias e
influências sutis que determinam o bem-estar humano. Nessa
linha, projetei uma equação de reações com relação aos vários
níveis de energia na natureza que influenciam a humanidade:
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Esta equação exprime o fato de a humanidade abranger seres
multidimensionais, que vivem num universo multidimensional;
conseqüentemente, uma perturbação da cadeia de energia em
qualquer nível causa oscilações de efeito, que ocorrem em
ambos os sentidos da cadeia. A homeostase completa, no nível
físico, também requer homeostase em todos os níveis
subjacentes. Se eles estiverem em desequilíbrio, a homeostase
completa não pode existir no nível físico, e a doença, finalmente,
deve se materializar, de uma forma ou outra.
Se começarmos pelo nível inferior direito, com o Divino, essa
equação mostrará que somos elementos que pertencem
essencialmente ao Espírito, multiplicado no Divino; este Espírito,
a fim de possuir um mecanismo para a experiência, tem a mente
engasta da em si mesmo. A Mente é a construtora e, para ter
uma experiência de aprendizagem, possui encaixadas em si
duas estruturas referenciais, que se interpenetram no universo,
as quais chamaremos "estrutura de espaço/tempo positiva" e
"estrutura de espaço/tempo negativa". Delas brota a substância.
A substância, que associamos aos componentes químicos,
emprega várias formas estruturais, formas que têm função. A
substância física se manifesta na estrutura de espaço/tempo
positiva - ela é elétrica na natureza, possui massa positiva, tem
velocidade menor do que a da luz eletromagnética, dá origem à
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força gravitacional e é a substância prescrita e utilizada pela
medicina alopática. Considera-se como postulado que a
substância etérea manifesta-se na estrutura de espaço/tempo
negativa - é magnética na natureza, possui massa negativa, tem
velocidade maior do que a da luz eletromagnética, dá origem à
força levitacional e é a substância prescrita e utilizada pela
medicina homeopática.
O ser humano comunica-se com seu ambiente através de uma
variedade de cadeias integrantes de percepção e resposta que
funcionam por todo um extenso espectro de relativa integridade.
Quanto maior o grau de integridade das cadeias e mais baixa a
entrada de alimentação para a geração do sinal interno, mais o
indivíduo será sensível às perturbações do meio ambiente.
Quanto mais organizados e coerentes nos tornamos no nível
físico, mais evidente é nossa desorganização, incoerência e
desequilíbrio em níveis mais sutis. À medida que evoluímos e
nos tornamos mais integrados, a coerência se estende aos níveis
mais sutis, proporcionando-lhes uma maior energização; assim,
as funções individuais, no mundo físico, passam a atuar sob
condições de maior fluxo energético. Dessa forma, desequilíbrios
cada vez menores no sistema dispersam o fluxo energético de
maneira significativa, assim que eles são detectados e
diagnosticados como doença.
Essa perspectiva é notavelmente semelhante à situação que se
observa durante o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de
muitas tecnologias. Por exemplo, a indústria de semicondutores,
que envoluiu do transístor para os circuitos integrados, está
agora trabalhando por uma integração em larga escala, onde um
milhão de circuitos serão dispostos numa única chapa de
silicone. A qualidade do material de silicone, que funcionava bem
nas aplicações em circuito nos primeiros tempos, fracassaria
completa mente na atualidade, se fosse testada. Os modernos
circuitos integrados têm ordens de grandeza mais exigentes do
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que os de uma década atrás. A nossa compreensão dos
materiais é mais sofisticada, e nossa habilidade em perceber os
desvios da perfeição é relativamente maior. Dessa forma, um
maior grau de coerência do sistema significa que os desvios da
perfeição são mais catastróficos para o funcionamento do
sistema e aparecem mais prontamente.
No passado, não tínhamos irtstrumentação adequada para
detectar estes níveis sutis de energia, tão relevantes para a
homeopatia. Hoje, estamos apenas começando a desenvolver
uma instrumentação de natureza elétrica para monitorar as
respostas fisiológicas de uma cadeia de pontos da pele. Esses
pontos se correlacionam bem com os desequilíbrios do corpo no
nível físico e no nível seguinte, mais sutil. No laboratório e na
prancheta estão sendo desenvolvidos aparelhos que irão revelar
diretamente a interação da intenção mental e da cura. Dessa
forma, nossa medicina futura prosseguirá em direção ao
desenvolvimento de técnicas e tratamentos que possam utilizar
sucessivamente , energias cada vez mais refinadas. Uma série
maior de aparelhos mostrará o que monitorar ou perturbar em
todos os níveis das chaves.
Uma ciência rigorosa dessas energias sutis está se de-
senvolvendo. Muitas técnicas e procedimentos novos se juntarão
ao equipamento atual e aos métodos da prática dos médicos
homeopatas. Devemos dar lugar a muitas mudanças; tanto no
entendimento quanto na técnica. Devemos ter esperança de que
uma comprovação adequada desses novos procedimentos será
permitida e encorajada pelo atual sistema homeopático e que
não sofrerão preconceito contra o "novo" do mesmo modo como,
em contrapartida, sofreram discriminação, no passado, por parte
do poderoso sistema médico aIopático.
Ehquanto a maré muda em favor da homeopatia, não posso
pensar em nenhum outro líder e professor da matéria mais apto
que George Vithoulkas para conduzi-Ia ao seu papel
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predestinado de liderança no campo dos cuidados com a saúde.
A publicação deste manual, que li com grande prazer, se faz em
tempo; ele nos fornece um conjunto de conceitos científicos e de
observações experimentais para formar um sólido alicerce sobre
o qual construir a ciência da homeopatia. É um novo começo - e
tem um futuro promissor!
WILLIAM A. TILLER
Departamento de Ciências Materiais e Engenharia da
Universidade de Stanford
Prefácio
Este livro nasceu de vinte anos de experiência na aplicação da
homeopatia - vinte anos de verdadeira dedicação, estudo,
observação rigorosa e constante meditação sobre os muitos
problemas desafiadores que a jovem e emergente ciência da
homeopatia apresentou a minha mente indagadora. Desde o
início, pude perceber a existência de muitos pontos perdidos e
resultados confusos em sua teoria e aplicação; inúmeras
ligações desconhecidas sobre as quais eu procurava em vão que
me esclarecessem os mestres da época. No entanto, apesar de
existirem pontos em branco na teoria, os resultados terapêuticos
que a aplicação oferecia eram mais do que miraculosos.
Finalmente, depois de todos esses anos de estudo intenso, de
aplicação e observação, muitos fatores importantes, muitos elos
perdidos, começaram a ser esclarecidos. Com o tempo, toda a
teoria e a prática homeopáticas emergiram como as apresento
neste manual. Resultados importantes como uma definição
completa de saúde, a compreensão do ser humano em seus três
níveis de existência, a importância hierárquica dos sintomas ou
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síndromes e suas interrelações, a compreensão da teoria dos
miasmas em sua verdadeira perspectiva e muitos outros
problemas foram esclarecidos.
Não levei muito tempo para entender que a homeopatia, em
comparação com a medicina ortodoxa, tem - no campo
terapêutico - as mesmas diferenças que a mecânica do quantum
em relação à física newtoniana. Era óbvio que, depois da entrada
da homeopatia no campo terapêutico, o médico fosse capaz de
influir de forma curativa, através do medicamento homeopático,
no campo eletromagnético do paciente. Percebi que, por meio
dos conceitos que a homeopatia tem introduzido na medicina, os
elementos sobre os quais a terapêutica vem há muito operando
foram transferidos do corpo físico para o seu nível
eletromagnético. Com toda a certeza, com a introdução da
homeopatia no campo da terapêutica, está surgindo uma nova
era para a medicina. A verdade dessa declaração audaciosa é
difícil de ser percebida por todos nos tempos atuais; no entanto,
seu significado será totalmente entendido pelas gerações
vindouras.
Existe apenas uma desvantagem com relação à homeopatia; a
de que ela é extremamente difícil de se aprender a manejar.
Recordando minha própria experiência, posso dizer com certeza
que quase nem consigo me lembrar de um dia em minha vida,
em todos esses anos, em que esta ciência realmente divina não
tenha ocupado a melhor parte dos meus pensamentos. Logo
percebi que estava vivendo apenas para a homeopatia. Eu sabia
que esse era o segredo para a eficácia terapêutica e até para a
gratificação pessoal. A homeopatia é uma ciência viva. e
dinâmica, e só pode ser eficaz se se tornar um conhecimento
vivo e vibrante na mente e no coração do homeopata praticante.
Esta exposição da homeopatia é minha pequena contribuição
para que tenham uma aprendizagem mais fácil e mais completa
os estudantes do futuro. Ao preparar esta edição, fui auxiliado
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pelo médico americano Bill Gray (graduado pela Universidade de
Stanford), cuja verdadeira dedicação à causa da homeopatia e
profundidade científica muito me impressionaram. O dr. Gray
permaneceu mais de um ano em nossa escola trabalhando
arduamente. Meu contato com ele deixou-me a forte crença de
que, afinal, este nosso mundo caótico não está destituído de
homens dignos e competentes, prontos a sacrificar o conforto
pessoal por uma boa causa. Estou ciente de que, assim como
ele, outros cientistas pioneiros estão hoje trabalhando para
preparar o sistema médico para uma mudança capital, uma
grande revolução terapêutica.
É absolutamente certo - e todo visionário, homem ou mulher, o
sente - que a medicina hoje está no limiar de uma profunda e
radical mudança e que, em breve, abraçará as novas e únicas
possibilidades que á homeopatia está lhe oferecendo. e certo
também que, atualmente, as pessoas querem, mais do que
qualquer outra coisa, readquirir a saúde perdida. Elas não estão
preocupadas com vagas especulações. Pode-se dizer que, na
atualidade, estão exigindo uma forma de reconquistar seu
equilíbrio psicossomático perdido, a fim de enfrentar os desafios
que a civilização tecnológica lhes tem imposto. Creio firmemente,
pela minha experiência, que a homeopatia pode, de maneira
eficaz, ajudar a humanidade enferma neste empenho e ser um
valoroso trunfo para uma evolução espiritual mais rápida do
gênero humano.
George Vithoulkas
Março de 1979
Parte I
Leis e princípios de cura
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Introdução
À primeira vista, o conteúdo básico deste livro poderá parecer, de
certo modo, ambicioso. A saúde e a doença, especialmente em
relação às questões fundamentais da natureza do homem, são
na verdade controvérsias profundas e sérias, sobre as quais
inúmeros volumes têm sido escritos através dos tempos.
Entretanto, nos tempos modernos foram feitas descobertas que
lançam nova luz sobre os princípios e métodos básicos
envolvidos nessas controvérsias. Este livro é uma tentativa de
elucidar os princípios e métodos relativamente simples
implicados na cura, não apenas para o profissional como
também para o leitor em geral que deseja aprofundar-se mais no
assunto.
Neste livro foi feito um esforço para:
Sumário da introdução
1. Existem leis e princípios de acordo com os quais a doença, ou
uma série de doenças, aparece numa pessoa.
2. Também existem leis e princípios que regem a cura, e todo
terapeuta, não importa o método terapêutico utilizado, deveria
conhecê-Ios e aplicá-Ios.
3. O objetivo principal e final de um ser humano é a felicidade
contínua e incondicional. Todo sistema terapêutico deveria
conduzir uma pessoa ao seu objetivo.
Capítulo 1
O ser humano no meio ambiente
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A primeira e precípua tarefa de um profissional que decidiu
dedicar-se ao estudo e à prática de uma verdadeira ciência
terapêutica é, acima de tudo, restabelecer a saúde de um
indivíduo doente. Por conseguinte, esse profissional deverá,
antes de mais nada, colocar-se as seguintes perguntas:
1. Mental
2. Emocional
3. Físico
Sumário do capítulo 1
1. O ser humano é um todo integrado, que age o tempo todo
através de três níveis distintos: o mental, o emocional e o físico,
sendo o nível mental o mais importante e o físico, o menos
importante.
2. A atividade do organismo pode ser passiva ou ativa. Na
doença as "reações" do mecanismo de defesa aos vários
estímulos são do maior interesse para o homeopata.
3. O ser humano vive desde o momento do nascimento num
meio ambiente dinâmico, que afeta seu organismo durante toda a
vida e de várias maneiras, e que o obriga a se ajustar
continuamente, de modo a manter um equilíbrio dinâmico.
4. Se os estímulos forem mais fortes do que a resistência natural
do organismo, ocorrerá um estado de desequilíbrio com sinais e
sintomas erroneamente rotulados de "doença" .
5. Os resultados dessa luta podem ser vistos principalmente no
nível mental, emocional e físico, dependendo do estado geral de
saúde no momento do estresse.
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Capítulo 2
Os três níveis do ser humano
Há uma hierarquia, prontamente identificável na construção do
ser humano. Essa hierarquia é basicamente caracterizada por
três níveis:
1. Mental/espiritual
2. Emocional/psíquico
3. Físico (incluindo sexo, sono, alimentação e os cinco sentidos)
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O registro preciso é, por ora, preliminar; é necessário muito
trabalho para apurar nossa compreensão dos vários graus. Não
obstante, essa aproximação é clinicamente útil e pode ser
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verifica da e apurada através do estabelecimento de um
detalhado histórico, sempre focalizado no ser como um todo.
Neste capítulo, será feita uma tentativa para descrever os três
graus de forma um tanto detalhada; maiores ilustrações serão
elaboradas de modo bem mais exaustivo à medida que
progredimos na exposição desta obra.
Deve-se considerar cada descrição desta ilustração composta de
um sintoma particular em seu grau de intensidade. No diagrama,
a seqüência de sintomas está registrada, supondo-se que
tenham a mesma seriedade. Num dado indivíduo, naturalmente,
não é esse o caso. Por exemplo, uma irritabilidade do grau (a)
representa menor perigo para a vida do paciente do que uma
depressão do mesmo grau (a). Uma grande irritabilidade do grau
(x) é, naturalmente, mais grave do que uma depressão do grau
(a). Por outro lado, se um paciente progride deste estado para
um estado em que existe a depressão de intensidade (x), en-
quanto a irritabilidade recua para uma intensidade (a), isso quer
dizer que ocorreu um agravamento na saúde do paciente.
Pela combinação de ambos - do nível hierárquico no qual
repousa a perturbação principal, e da intensidade de sintomas - é
possível construir uma idéia rudimentar do centro de gravidade
da moléstia de um paciente. À medida que ambos, tanto o nível
quanto a intensidade dos sintomas, progridem no diagrama (isto
é, mais em direção ao centro do verdadeiro ser da pessoa),
ocorre uma implicação adversa para a saúde da pessoa. À
medida que o centro de gravidade se move para baixo (isto é,
mais perifericamente), ocorre uma melhora da saúde. Esse
conceito será mais amplamente ilustrado nos capítulos
posteriores.
O plano mental
O nível mais alto e mais importante em que o ser humano
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funciona é o mental e espiritual. Como definição geral deste
plano podemos dizer: O plano mental de um indivíduo é aquele
que registra as mudanças de compreensão ou consciência.
Como foi discutido no capítulo anterior, essas mudanças são
indicadas tanto pelos estímulos internos quanto pelos estímulos
externos, mas elas são registradas neste plano da existência. É
no nível mental que um indivíduo pensa, critica, compara,
calcula, classifica, cria, sintetiza, conjectura, visualiza, planeja,
descreve, comunica-se, etc. As perturbações dessas funções,
por sua vez, constituem sintomas de doença mental.
O nível mental é o nível mais crucial para o ser humano. O
conteúdo mental e espiritual de uma pessoa é a verdadeira
essência dessa pessoa. Se os instrumentos internos para a
obtenção de uma consciência mais elevada estiverem
perturbados, a própria idéia central da possibilidade de evolução
da consciência está perdida. Onde, então, está o sentido da
vida?
Uma pessoa pode continuar a viver, ser feliz e útil aos outros e a
si mesma com um corpo aleijado, com a perda dos membros, ou
até com a perda da vista ou da audição. Podem-se citar muitos
exemplos de pessoas saudáveis nesse nível de existência,
embora estivessem em desvantagens em níveis mais periféricos.
Existem músicos cegos, muito conhecidos hoje em dia.
Beethoven compôs algumas de suas mais profundas e
poderosas obras depois de ter perdido a audição. Um dos gênios
mais reverenciados e bem-sucedidos em astrofísica, na
atualidade, está confinado a uma cadeira de rodas, virtualmente
paralisado por uma enfermidade neurológica, incapaz de
pronunciar claramente as palavras; no entanto, desde que está
enfermo, tem contribuído com uma quantidade sem precedentes
de insights em seu campo. Gigantes espirituais como Ramana
Maharishi e Ramakrishna tiveram câncer sem que diminuíssem
sua realidade espiritual ou o impacto sobre seus discípulos.
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Por outro lado, se há uma perturbação no plano mental/espiritual,
a própria existência da pessoa está ameaçada. Isso pode ser
visto em condições como a senilidade, a esquizofrenia e a
imbecilidade. Embora o corpo físico seja o meio através do qual
as faculdades mais elevadas podem se manifestar neste mundo
material, a manutenção de sua saúde não pode tornar-se um fim
em si mesmo. É duvidoso que alguém possa sustentar que as
pessoas vieram a esta vida apenas para comer, ter prazer sexual
e acumular dinheiro e bens materiais. Até mesmo os homens
mais primitivos perceberam um objetivo mais elevado na vida,
que os levou a valorizar a fé (um grau de compreensão) e o
amor; é só retirar esses valores, mesmo das pessoas mais
primitivas, e a vontade de viver se perderá.
Se fosse possível ter uma mente absolutamente saudável,
veríamos as pessoas vivendo continuamente em bem-
aventurança espiritual e revelando todos os dias novas idéias
criativas, expressas de forma bem clara, sempre a serviço dos
outros. Tais pessoas viveriam constantemente na clareza da luz
e nunca na confusão da obscuridade espiritual. Desse estado de
absoluta saúde mental para um estado de total confusão mental,
podemos discernir uma gradação constante de confusão cada
vez maior nos vários subníveis do plano mental.
Há uma hierarquia dentro das funções mentais. Se presumirmos
condições de intensidade igual, podemos perceber que a
perturbação da memória não é tão séria quanto uma perturbação
da habilidade de se concentrar; e esta não é tão séria quanto a
inabilidade para discriminar, que, por sua vez, não é tão séria
quanto uma perturbação na habilidade de pensar.
Entender claramente essas gradações é decisivo para a
determinação do diagnóstico num determinado caso. Se o grau
de confusão mental num paciente submetido a tratamento se
eleva, pode-se deduzir que houve um declínio da saúde, embora
um sintoma físico particular possa ter sido aliviado. Longe de ser
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apenas uma observação acadêmica, a supressão resultante
dessa terapia descuidada pode levar ao colapso da saúde de
todo o gênero humano. Pode-se mostrar que nos tempos antigos
os mecanismos de defesa estavam bem mais capacitados para
resistir às mo léstias e reparar os ferimentos do que hoje.
Atualmente, as visitas aos médicos começam já na primeira
infância; em conseqüência, maiores parcelas de nossas
populações estão expostas, desde a juventude, às terapias de
supressão. Talvez seja essa a razão para o alarmante aumento,
há apenas poucas gerações, das taxas de enfermidade e morta-
lidade por doença crônica. Mesmo o caos espiritual do nosso
mundo moderno pode ser o resultado dessa progressão, criada
pelos contínuos tratamentos de supressão cada vez mais
poderosos. James Tyler Kent, um médico americano, em seus
Lesser writings, resumiu a tragédia desta forma: "Hoje em dia
não se deixa aparecer nenhuma erupção de pele. Tudo o que
aparece na pele é rapidamente suprimido. Se isso acontecer
durante muito tempo, a raça humana desaparecerá da face da
Terra".
Como, então, quando confrontados com um paciente atual,
podemos reconhecer claramente o seu grau de saúde ou doença
no plano mental? Precisamos ter um modo simples e óbvio de
definir as qualidades que descrevem o graú de saúde mental de
um indivíduo. Como em todos os níveis, a saúde não é apenas a
ausência de sintomas que se referem às funções mentais
particulares. É um estado de ser que pode ser descrito como
tendo três qualidades fundamentais, e cada uma das quais é
indispensável para um verdadeiro estado de saúde. Mesmo com
a ausência de qualquer uma delas, a mente pode funcionar
completamente bem em termos apenas das funções, mas pode,
entretanto, estar completamente doente. As três qualidades
indispensáveis, que devem acompanhar as diferentes funções da
mente, são:
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1. Clareza
2. Racionalidade, coerência e seqüência lógica
3. Atividade criativa para o bem dos outros tanto quanto para o
seu próprio bem
O plano emocional
O nível da existência humana, que se segue em importância ao
nível mental, é o emocional. Nele incluímos todos os graus e
nuanças das emoções, desde a mais primitiva até a mais
sublime. Esse nível da existência age como receptor do
mecanismo de defesa dos estímulos emocionais do meio
ambiente, e funciona também como veículo de expressão para
os sentimentos, as ações e as perturbações emocionais que
ocorrem no indivíduo. O que se segue é uma definição do plano
emocional da existência: esse é o nível da existência humana
que registra mudanças nos estados emocionais. O âmbito da
expressão emocional pode variar largamente: amor/ódio;
alegria/tristeza; calma/ansiedade; confiança/raiva;
coragem/medo, etc. Por conseguinte, é esse nível que está bem
próximo do centro da existência diária de cada indivíduo.
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Quanto à qualidade, os sentimentos podem ser definidos como
positivos ou negativos. Os sentimentos positivos tendem a levar
o indivíduo a um estado de felicidade, ao passo que os
sentimentos negativos tendem a levá-Io a um estado de
infelicidade. Quanto mais um indivíduo experimenta sentimentos
negativos, mais doentio se torna nesse nível. Medir o grau da
perturbação emocional de uma pessoa é descobrir o quanto, em
seu estado de vigília, ela está entregue a sentimentos negativos
como apatia, irritabilidade, ansiedade, angústia, depressão,
pansamentos de suicídio, ciúme, ódio, inveja, etc.
As pessoas mais saudáveis e emocionalmente evoluídas
experimentam alguns dos estados mais profundos conhecidos
pela humanidade: experiências místicas, êxtase, amor puro,
devoção religiosa e uma vasta gama de sentimentos sublimes
difíceis de descrever e, em nossa era, limitados apenas a um
pequeno número de indivíduos. Pode-se dizer de uma maneira
geral que os desequilíbrios no plano emocional manifestam-se
como sensibilidade elevada no sentimento de nós mesmos como
seres vulneráveis separados do resto da criação; estados
emocionalmente perturbados tendem a girar em torno de
questões relativas a conforto pessoal, sobrevivência e expressão
pessoal. Por outro lado, os estados emocionais mais evoluídos
tendem a envolver sentimentos da nossa unicidade com toda a
criação: amor, bem-aventurança, devoção, etc. Dessa forma, os
sentimentos positivos num indivíduo sempre tenderão a criar
uma sensação de unidade com o mundo externo; ao contrário, os
sentimentos negativos tenderão a produzir uma sensação de
isolamento e separação do mundo externo.
Do mesmo modo que, no nível mental, uma pessoa pode sofrer
devido a pensamentos negativos, assim também, no nível
emocional, pode ter sentimentos negativos, que criam
perturbação interior e desarmonia no meio ambiente. Os
sentimentos positivos, ao contrário, fortalecem o estado
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emocional interno e criam condições positivas no meio ambiente,
acentuam a comunicação com as pessoas e, por conseguinte,
servem à comunidade. Quando alguém expressa confiança no
outro, esse fato, em si, eleva a ambos e cria um equilíbrio
psíquico maior. Em contrapartida, uma expressão de raiva ou de
desconfiança cria um estado emocional desarmonioso na psique,
concorrendo assim para a deterioração da comunidade. Alguém
com sentimentos de calma interior, alegria, euforia, etc., fornece
a si mesmo e aos outros o melhor alimento emocional possível,
que somente acentua o nível da saúde emocional. Por outro
lado, uma pessoa que vive continuamente em ansiedade, tristeza
ou medo fornece alimento envenenado, que final mente leva à
degeneração da própria saúde e da dos outros..
Como nos outros dois níveis, existe uma hierarquia de
perturbações emocionais que pode ser graduada conforme
atinjam profundamente o indivíduo ou permaneçam relativamente
na periferia. A aproximação comum dessa hierarquia está
registrada na figura 2 (página 52). Trata-se, também, de uma
aproximação grosseira, desenvolvida a partir de experiências
clínicas passadas e que, sem dúvida, serão alteradas e
depuradas por cuidadosos observadores de todo o mundo. Nos
limites do plano emocional com os planos mental e físico, há uma
certa margem de "sobreposições", descritas na figura 3 (página
78). Contudo, dentro da própria hierarquia emocional,
percebemos uma gradação de sintomas que permite determinar
se o progresso de um paciente está evoluindo ou declinando. Por
exemplo, levando em consideração cada sintoma em graús
equivalentes de intensidade, a depressão pode ser considerada
mais limitadora da vida do paciente do que a ansiedade, sendo
esta mais grave do que a irritabilidade.
É conveniente que o profissional compreenda a gradação dos
sintomas para determinar a direção que o progresso do paciente
está seguindo, mas é necessário também um breve roteiro com o
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qual julgar o grau de saúde ou doença de um indivíduo logo na
primeira consulta. No estado mais alto de saúde emocional, o
indivíduo experimenta uma absoluta calma dinâmica combinada
com amor por si mesmo, pelos outros e pelo ambiente. Esse é
um estado de serenidade que está ativamente envolvido com as
pessoas e o ambiente; não é apenas uma falta de sentimento
emocional gerada como proteção contra a vulnerabilidade emo-
cional. Por outro lado, uma pessoa gravemente enferma sofre de
uma séria angústia interna, ou de uma depressão intensa que a
faz perder todo o interesse pela vida, desejando intensamente a
morte. Entre esses extremos, existem amplas variações dos
modos individuais de expressão.
Nos tempos modernos, a perturbação emocional tornou-se um
dos maiores problemas de saúde. Seja por falta de compreensão
das leis da natureza, seja por causa da contínua supressão
"terapêutica" de enfermidades relativamente periféricas que se
recolhem para o centro da existência humana, percebe-se que
muitos dos problemas do mundo atual são provenientes de
emoções desequilibradas, maldirigidas e destrutivas. Os
problemas modernos dos conflitos armados indiscriminados, da
violência aleatória, do terrorismo nas cidades, dos crimes em
massa, da opressão racial e do abuso infantil, são todos
exemplos de estados emocionais maldirigidos, tanto no nível
individual quanto no nível social.
Como foi descrito anteriormente, o ser humano tanto afeta o
ambiente quanto é afetado por ele. No nível emocional, uma das
nossas influências mais importantes é a incapacidade total dos
nossos sistemas educacionais em fornecer um treinamento
emocional para os jovens. Como resultado, nossa parte
emocional permanece subalimentada e caquética, tornando-se
presa fácil das condições de doença. Em toda a história
ocidental, e especialmente na era atual, materialista e
tecnológica, a educação tem se concentrado quase que
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exclusivamente no treinamento atlético (nível físico) e intelectual
(nível mental). Os principais heróis dos jovens são os colegas de
classe bem-sucedidos atlética ou intelectualmente. Os jovens
sensíveis, artistas, músicos ou poetas raramente são glorificados
e encorajados. Na vida moderna, a principal fonte de educação
emocional parece ser a televisão, que envolve o espectador
apenas de forma passiva e enfatiza as persepectivas exageradas
ou fantasiosas da vida.
A educação deveria seguir um procedimento mais natural e
baseado nos estágios conhecidos da maturidade. A ênfase
educativa deveria ser voltada ao desenvolvimento do corpo físico
entre as idades de sete e doze anos; ao nível das emoções,
entre as idades de doze e dezessete anos; ao nível mental, entre
as idades de dezessete e vinte e dois anos. Ao invés disso,
nossa educação é casual e aleatória, regi da freqüentemente por
influências políticas mais do que pelo reconhecimento dos
estágios naturais do desenvolvimento dos estudantes. O
resultado é a criação de graduados desequilibrados e fragilizados
no nível emocional. Embora esteja além do propósito deste livro
delinear recomendações minuciosas para a mudança do sistema
educacional, é, entretanto, importante para o profissional
compreender a profunda influência que a educação inadequada
exerce sobre a saúde emocional do indivíduo.
Entre as idades de doze e dezessete anos, o ser humano
experimenta um despertar natural dos instintos sexuais e
também dos mais elevados sentimentos: apreciação do amor, da
liberdade, da justiça, etc. Por não haver nenhuma educação
programada para mobilizar e desenvolver esses sentimentos,
eles se canalizam para experiências desnorteantes, frustrantes e
freqüentemente humilhantes para os jovens. Tentativas precoces
de expressar e agir de acor do com tais emoções são rotuladas,
tanto pelos professores quanto pelos pais, de "rebeldes",
"sonhadoras", "extremamente idealistas", ou até mesmo
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"irracionais". Expressões emocionais saudáveis são rebaixadas e
criticadas, enquanto se dá ênfase educacional à conformidade,
"normalidade", sucesso e competição com os demais.
Geralmente, o que acontece é que os jovens canalizam todas as
suas experiências emocionais para o sexo e para a gratificação
imediata do prazer, que, em contrapartida, leva muitas vezes a
experiências chamadas ilícitas ou degradantes.
O resultado final é que o jovem passa por experiências
fortemente desconcertantes, que lhe enrijecem as emoções ou,
às vezes, as embotam completamente. A necessidade da
expressão emocional canaliza-se, então, para objetivos
distorcidos. Dessa forma, testemunhamos o aparecimento do
homem de negócios, astuto e competitivo, impiedoso para com
os sentimentos alheios. Pessoas com experiência emocional
inadequada casam-se despreparadas, uma situação que conduz
ao elevado índice atual de divórcios. Os pais, que se defrontam
com a inesperada e grande responsabilidade, de ter filhos,
encaram-nos como objetos ou projeções de seus próprios
objetivos frustrados na vida. Do conjunto desses fatores, resulta
uma sociedade composta por pessoas que têm consciência de
seus sentimentos e são incapazes de lidar com eles de forma
madura, quando se manifestam. Do ponto de vista emocional,
podemos dizer que temos hoje uma sociedade de pessoas que
morrem aos vinte e cinco anos, embora vivam até os setenta e
cinco.
A educação deveria reconhecer a necessidade dos sentimep.tos
idealistas e estéticos que aparecem de modo natural na idade
escolar. Quando o amor, a amizade e o companheirismo, os
sentimentos altruístas e o sacrifício são expressos, deveriam ser
elogiados, encorajados e canalizados para direções maduras, em
vez de ser ignorados ou criticados. As inclinações naturais para a
música, a poesia e a arte deveriam ser especificamente
recompensadas e desenvolvidas sob uma orientação perspicaz.
46
Excursões a lugares de beleza natural deveriam ser constantes.
Mesmo discussões religiosas e espirituais deveriam ser
acessíveis aos éstudantes, e técnicas de meditação de vários
tipos deveriam ser oferecidas aos estudantes que tivessem esse
interesse. Dos doze aos dezessete anos, a educação deveria
enfatizar mais a criatividade que o conformismo, os valores
estéticos mais que os meramente intelectuais e o desen-
volvimento da inspiração mais que a prática.
Se a educação fosse melhorada dessa maneira, o resultado seria
um grande número de pessoas maduras e equilibradas no nível
emocional e, por conseguinte, muito menos. suscetíveis às
doenças nesse nível. O casamento e a vida de família seriam
estáveis e satisfatórios e não estressantes e morbíficos. As
pressões da vida e do ambiente não gravitariam tão facilmente
rumo ao enfraquecimento do mecanismo de defesa do plano
emocional, prevenindo, assim, as modernas epidemias nervosas
de insegurança, violência, ansiedade, medo e depressão.
O plano físico
A medicina tem-se preocupado tradicionalmente com o plano
físico da existência, o organismo humano. Ele tem sido
pesquisado em profundidade pela anatomia, fisiologia, patologia,
bioquímica, biologia molecular, etc. No entanto, a despeito de
toda essa pesquisa, há um fato singular, do qual a maioria dos
médicos parece não se dar conta, ou seja, que o corpo humano,
em sua complexidade, mantém uma hierarquia de importância de
seus órgãos e sistemas. Pode-se apenas conjecturar sobre o
modo pelo qual esse conceito de hierarquia foi ignorado pela
literatura alopática, mas parece que a razão fundamental é que
esse conceito não é necessário para a abordagem alopática no
tratamento da doença. Não obstante, uma compreensão total
dessa perspectiva é absolutamente necessária para o
47
profissional que lida com o paciente como um todo.
Como sempre, ao considerar a gradação dos sistemas do corpo
físico, devemos primeiro reconhecer a natureza experimental da
precisão dos detalhes até que eles sejam confirmados por
observações ulteriores. Os seguintes princípios nos auxiliarão a
elucidar essa hierarquia:
1. Cérebro (1)
2. Coração (1)
3. Glândula pituitária (1)
4. Fígado (2)
5. Pulmões (2)
6. Rins (2)
7. Testículos/ovários (2)
8. Vértebras (28)
9. Músculos (muitos)
Sumário do capítulo 2
Sumário da parte sobre o plano mental
Capítulo 3
O ser humano como uma totalidade integrada
No capítulo 2 tentamos descrever os três níveis de um indivíduo
em termos de importância hierárquica das funções, tanto na
saúde quanto na doença. Neste capítulo, esse conceito será
discutido de forma mais complexa e mais profunda, de modo a
enfatizar a interação dos níveis, enquanto o organismo funciona
58
como uma totalidade. O leitor perspicaz, sem dúvida alguma, já
deve ter levantado algumas questões sobre a interação dos
níveis em seus limites. Por exemplo: é verdade que a perda de
memória (plano mental) representa um estado de saúde inferior
ao da depressão (plano emocional)? Um estado de irritabilidade
é mais grave do que um ferimento no cérebro (plano físico)? E os
pacientes que parecem flutuar de lá para cá, de um nível para
outro? Exemplos como esse representam uma imprecisão na
hierarquia tal como foi apresentada, ou existe sobreposição dos
níveis em seus limites?
Em favor da simplicidade, a hierarquia tem sido pois apresentada
há muito como uma descrição unidimensional, linear (e em duas
dimensões, considerando-se os conceitos de importância das
camadas central e periférica). Na realidade, a relação entre os
níveis é mais complexa. A figura 3 ilustra uma construção
tridimensional, representando os diferentes níveis de um
indivíduo na forma de invólucros coniformes e concêntricos. O
mais central é, naturalmente, o plano mental/espiritual, ao 'passo
que o mais periférico é o físico. Por sua vez, cada um deles pode
ser distribuído em arranjos hierárquicos de invólucros no interior
de cada plano.
No nível físico, esses invólucros poderiam ser até mais
elaborados para representar os sistemas dos órgãos, os próprios
órgãos, os tecidos, a hierarquia dentro das células do tecido e
até as hierarquias dentro das células (ADN e ARN, núcleo,
orgânulos citoplasmáticos e membrana da célula, em ordem de
importância decrescente). Outro detalhe significativo a ser notado
com relação ao diagrama é que cada invólucro começa e termina
em um nível de certa forma mais elevado do que aquele que lhe
é apenas periférico; dessa forma, é evidente que a sobreposição
não é completa. Refletindo, então, vemos que os diagramas
apresentados no capítulo 2 podem ser considerados como
reflexos uni e bidimensionais de uma estrutura que é, na
59
verdade, tridimensional.
61
Para tornar mais claro esse conceito, vamos tomar como
exemplo um caso detalhado (figura 4). Se tivermos um paciente
psicótico que se queixa de muitos e grandes medos e de
depressão suicida, veremos que o centro de gravidade de sua
perturbação está no plano emocional. Ao tomarmos o histórico
do caso, torna-se evidente que existem outros sintomas que
afetam também o nível físico, mas em um grau bem menor. O
paciente é tratado com sucesso, e o estado psicótico diminui
consideravelmente. Depois de seis ou nove meses, no entanto,
desenvolvem-se sintomas neurológicos como diplopia, contração
62
muscular, fraqueza e entorpecimento de certas áreas. Se fosse
possível construir o diagrama com exatidão, veríamos que o
centro de gravidade da perturbação moveu-se em direção à
periferia (em direção ao físico), mas num nível que está logo
abaixo do nível correspondente dos sintomas emocionais
anteriores. Continuando o tratamento, os sintomas neurológicos
cedem, mas o paciente, embora não mais psicótico, torna-se
muito irritável e de difícil convívio; o centro de gravidade moveu-
se novamente para o centro (plano emocional), mas num nível de
correspondência ainda mais baixo, se comparado com a
totalidade dos sintomas iniciais. Com a continuação do
tratamento, a irritabilidade cede, e o paciente desenvolve então
uma disfunção do fígado, de intensidade moderada. Finalmente,
prosseguindo o tratamento, o problema do fígado desaparece e
manifesta-se uma erupção na pele, que permanece alguns
poucos meses e em seguida desaparece. Depois dessa
progressão, o .médico pode ter a certeza de que, se não houver
nenhum choque extremo no sistema ou interferências de terapias
impróprias, o paciente estará curado por um bom tempo.
Neste exemplo, analisado com base nos diagramas
apresentados no capítulo 2, o profissional pode ter ficado
confuso no momento em que a irritabilidade substituiu os
sintomas neurológicos; esse fato pode ser interpretado como
uma degeneração da saúde e levar à adoção de medidas
drásticas para tentar corrigir o problema. Utilizando a dimensão
tridimensional, no entanto, é possível ver que o progresso
sempre esteve numa direção positiva, quando visto com o
conhecimento das correspondências de um nível para outro.
Embora essa construção pareça complexa e exija uma tremenda
quantidade de confirmações pelos médicos do mundo todo, ela
é, contudo, uma imagem útil e deve-se tê-Ia em mente ao avaliar
os diferentes tipos de casos. Tal imagem ajuda o profissional a
classificar o emaranhado de mudanças, aparentemente
63
aleatórias e confusas, com certa confiança em relação ao que
realmente está ocorrendo com o paciente. Nas décadas futuras,
as observações sistemáticas feitas por entrevistadores
cuidadosos tornarão os detalhes dessas correspondências e
hierarquias mais refinados, de forma que os futuros médicos
terão um instrumento preciso para avaliar o progresso clínico, até
mesmo com exatidão maior do que a proporcionada pelos testes
de laboratório - um instrumento derivado apenas dos sintomas
comunicados pelos pacientes.
A moderna fisiologia e a medicina psicossomática documentaram
muito bem o fato de existirem correspondências entre os planos
emocional e físico. Estudos de eletroencefalogramas e de
biofeedback confirmam que a intensa concentração mental, ou a
meditação, aumentam a circulação no cérebro, enquanto
produzem relaxamento da musculatura e abaixam a pressão do
sangue. O estado de medo cria palpitações, secura na boca,
diminuição dos movimentos peristálticos, transpiração nas
palmas das mãos, dilatação das pupilas, etc. Uma emoção
agradável como o amor entre duas pessoas cria a dilatação
periférica dos vasos sanguíneos, rubor, palpitações do coração e
excitação emocional e mental. Todo estímulo, toda emoção e
todo pensamento têm um efeito correspondente, em certo grau,
em todos os níveis do corpo simultânea e instantaneamente.
Clinicamente, as correspondências mais óbvias são as que
relacionam determinados órgãos a estados emocionais
específicos. Todo pensamento e toda emoção possuem um local
correspondente que os "favorece" no corpo físico. Essa área é
afetada, positiva ou negativamente, dependendo da natureza do
pensamento ou da emoção a ela correspondente. Um homem
que passa pelo estresse do rom. pimento de um caso de amor
provavelmente virá a sofrer sintomas cardíacos; uma outra
pessoa, com dificuldades nos negócios, está sujeita a
desenvolver uma úlcera péptica. Pensamentos e emoções
64
negativos retardarão o funcionamento do órgão ou sistema
correspondente, ao passo que, se forem positivos, fortalecerão a
função do órgão correspondente.
Para ilustrar a interação dos níveis correspondentes num
organismo, vamos apresentar alguns poucos exemplos clínicos
que são vistos diariamente por qualquer clínico geral:
2. Uma outra mulher teve eczema durante muitos anos, mas, por
não concordar com tratamentos apenas paliativos, recusou os
ungüentos de cortisona. O eczema persiste, embora sem piorar.
Então, de repente, ela perde o marido em um acidente de
automóvel. Esse choque repentino debilita-a no plano emocional;
o eczema desaparece, mas manifestam-se agora ansiedade,
nervosismo, medos ou delírios. Se forem dados tranqüilizantes
para acalmar os sintomas emocionais desta paciente, e se
acontecer de eles atuarem de forma curativa, então, o eczema
reaparecerá, enquanto os sintomas emocionais cessarão. Se os
tranqüilizantes agirem de forma supressiva, no entanto, pode
ocorrer a deterioração numa dessas duas direções, dependendo
da resistência ou da fraqueza de seu mecanismo de defesa
constitucional. Se ele for relativamente forte, ela provavelmente
desenvolverá uma rinite alérgica ou bronquite asmática (um
retorno ao plano físico, mas num nível mais profundo do que o da
pele). Se não for suficientemente forte para agüentar a influência
supressiva dos tranqüilizantes, seguir-se-á uma deterioração no
nível emocional ou mental mais profundo.
69
3. Uma terceira paciente, sofrendo de eczema há muito tempo, é
tratada com um medicamento homeopático que lhe foi prescrito
levando-se em conta a totalidade dos sintomas. Com isso o
eczema primeiro se move do rosto e dorso para as extremidades
e, finalmente, desaparece por completo. Do que foi dito até aqui,
esta é, obviamente, a direção curativa, e o prognóstico a longo
termo é excelente.
Ectoderma
A pele e seus complementos. (Especificamente: o epitélio da
pele, pêlo, unhas, células epiteliais do suor, glândulas sebáceas
e glândulas mamárias.)
Epitélio do começo e do fim do sistema gastrintestinal.
(Especificamente: epitélio e glândulas dos lábios, faces,
gengivas, parte do fundo da boca e do palato, membranas mucos
as das fossas nasais e dos seios paranasais, bem como epitélio
da parte inferior do canal anal e as partes terminais dos sistemas
genital e urinário.)
Tecidos do sistema nervoso. (Especificamente: todo o sistema
nervoso central, inclusive a retina; o sistema nervoso periférico,
inclusive as células e fibras nervosas simpáticas; a medula das
glândulas supra-renais e as células do invólucro neurilemal; o
epitélio sensório dos órgãos olfativo e auditivo.)
A parte anterior da pituitária.
O cristalino, a camada anterior do epitélio da córnea, os
músculos da íris e a camada externa do tímpano.
Endoderma
Epitélio do trato gastrintestinal, exceto suas partes terminais e o
parênquima das glândulas dele derivadas (fígado, pâncreas,
tireóide, paratireóide e timo).
O epitélio de revestimento da trompa de Eustáquio e da cavidade
do ouvido médio, inclusive a camada interior do tímpano e o
revestimento das células da apófise aérea mastóide.
O revestimento do epitélio da laringe, traquéia, brônquios e
72
alvéolos.
Epitélio da bexiga, da maior parte da uretra feminina e parte da
uretra masculina, mais as glândulas delas derivadas (por
exemplo, a próstata), e a parte inferior da vagina.
Mesoderma
Derivados epiteliais:
Revestimento visceral e parietal das cavidades peritoneal, pleural
e pericardial.
Córtex das supra-renais.
Derivados mesenquimais:
Tecido conjuntivo, cartilagem e osso, inclusive a den tina.
Musculatura visceral e do miocárdio, inclusive vasos
sanguíneos. O endocárdio e endotélio dos vasos
sanguíneos.
Glândulas linfáticas, vasos linfáticos e baço.
Células sanguíneas.
Invólucros do tecido conjuntivo dos músculos, tendões e
terminações nervosas e membranas sinoviais das juntas e das
cavidades bursais.
Sumário do capítulo 3
1. O organismo humano trabalha sempre como uma totalidade,
73
seja representando suas funções normais, seja defendendo-se
dos estímulos morbíficos.
2. Os sinais e sintomas de um estímulo morbífico podem ser
percebidos em um ou mais dentre os três níveis da existência.
3. O organismo conserva sempre a importância hierárquica
desses três níveis e dentro de cada nível. Isso pode ser
representado por um diagrama tridimensional de cones.
4. O mecanismo de defesa cria a melhor defesa possível num
dado momento, tentando sempre limitar os sintomas aos níveis
mais periféricos.
5. Três fatores afetam as mudanças no centro de gravidade da
perturbação: resistência ou fraqueza hereditárias do mecanismo
de defesa, intensidade dos estímulos morbíficos e grau de
interferência dos tratamentos supressivos.
6. O centro de gravidade da perturbação pode mudar para uma
das duas direções seguintes: para cima ou para baixo no interior
de um único plano ou de um plano para outro.
7. Existem caminhos previsíveis com "etapas" intermediárias de
defesa, ao longo das quais os sintomas progridem enquanto a
saúde geral se deteriora. Esses podem ser afetados, em parte,
por afinidades que se originam nas conhecidas camadas
embriológicas do desenvolvimento.
Capítulo 4
A força vital segundo a ciência moderna
Até agora, discutimos extensivamente o mecanismo de defesa e
um pouco da dinâmica de sua ação, mas ainda não o definimos
com precisão. O que é o mecanismo de defesa? Como ele pode
ser percebido? Quais são, precisamente, as qualidades que
definem sua função nas diversas circunstâncias?
Pelos casos discutidos até aqui, pode-se entender prontamente
que o mecanismo de defesa não se limita aos processos físicos
74
tão bem conhecidos pelos fisiólogos: o sistema imunológico, o
sistema reticuloendotelial, o sistema endócrino, os sistemas
nervosos simpático e parassimpático, ou outros mecanismos.
Essas são, na verdade, funções importantes do mecanismo de
defesa no plano físico, mas não são os únicos níveis do seu
funcionamento. Como sabemos, o mecanismo de defesa age
tanto no nível mental quanto no emocional de um modo
altamente sistemático e ordenado. Ele funciona como uma
totalidade, como um todo integrado, sempre defendendo o
organismo da melhor maneira possível a qualquer momento. Sua
função, na medida do possível, é defender as regiões espirituais
mais íntimas e elevadas do organismo contra a progressão da
doença.
Que mecanismo é esse? Esta pergunta intrigou filósofos e
médicos de todas as épocas. Há séculos, o ponto de vista
predominante estava centrado na filosofia do "vitalismo", que
postulava a presença de uma força vital dotada de inteligência e
poder de governar miríades de processos envolvidos tanto na
saúde quanto na doença. Parecia-lhes óbvio que alguma força
animava o corpo humano, pois o organismo humano é mais do
que simplesmente uma soma de seus componentes físicos.
Alguma força ou princípio animador entra no organismo no mo-
mento da concepção, orienta todas as funções da vida e depois
deixa-o quando ocorre a morte. O que se passa no momento da
morte? O organismo está estruturalmente intato, as células estão
funcionando ativamente, as reações químicas ainda continuam;
no entanto, sobrevém uma mudança súbita e o corpo começa a
se decompor! A reflexão sobre esse fato torna o conceito de
"forças vitais" não apenas compreensível, mas atraente.
A idéia de uma força vital tem sido descrita através de toda a
história com notável semelhança por todos os escritores. As
qualidades básicas que lhe são atribuídas são descritas na
seguinte citação, retirada de Ostrander e Schroeder:
75
"A interrogação fundamental de todos os ocidentais que se
depararam com essa energia vital ou psicométrica, durante os
últimos quinhentos anos, é: o que ela faz?
Paracelso, o alquimista e físico renascentista, dizia que essa
energia irradiava-se de uma pessoa para outra e podia agir a
uma certa distância. Ele acreditava que ela podia purificar o
corpo e restituir a saúde, ou podia envenenar o corpo e causar a
doença. O dr. van Helmont, químico e físico flamengo do século
XVII, acreditava que essa energia podia fazer com que uma
pessoa afetasse outra à distância. O famoso químico alemão,
barão von Reichenbach, afirmou que essa energia podia ser
armazenada e que as substâncias podiam ser carregadas com
ela. Desconhecidos de Reichenbach, os praticantes polinésios de
Huna concordavam em que era possível transferir a energia vital
dos seres humanos para os objetos."
Sumário do capítulo 4
1. O mecanismo de defesa, que age em todos os níveis do
organismo, funciona como um todo integrado e defende
sistematicamente as regiões mais íntimas e espirituais da melhor
maneira possível.
2. Os conhecidos mecanismos fisiológico e químico do corpo são
instrumentos do mecanismo de defesa.
3. O organismo humano é mais do que a mera soma de seus
componentes físicos, fato mais evidente nos momentos da
concepção e da morte. Disso se deduz a presença de uma "força
vital" inteligente que anima, guia e equilibra o organismo em
todos os níveis, tanto na saúde quanto na doença.
4. O mecanismo de defesa é esse aspecto da força vital que
responde especificamente no estado de doença.
5. Novos conceitos em física estão começando a se refletir na
ciência biológica, particularmente no estudo dos campos
eletrodinâmicos do corpo humano. Agora, existem instrumentos
que podem medir diretamente o campo eletromagnético do
corpo, e essas medidas são clinicamente úteis no dignóstico do
câncer, das doenças infecciosas e nos níveis de adaptação do
transe hipnótico.
6. A fotografia Kirlian é uma técnica admirável, através da qual o
campo eletromagnético pode ser diretamente visualizado.
Demonstrou-se que este fenômeno também não é apenas um
artifício da natureza. Mudanças características podem ser
percebidas nos estados mentais ou emocionais alterados, tanto
na saúde quanto na doença.
99
7. Apesar dos avanços feitos na pesquisa do campo
bioeletromagnético, a comprovação viva tem ainda um longo
caminho a percorrer, antes de ser considerada como "prova" das
ações da força vital.
8. A lúcida descrição de J. T. Kent da força vital ("substância
simples") caracteriza-a como dotada de uma inteligência
formativa, sujeita a mudanças e que permeia a substância
material sem substituí-Ia, criadora da ordem no corpo e
pertencente ao reino da qualidade mais do que ao da quantidade
(o reino dos graus da fineza), sendo adaptável e construtiva.
Capítulo 5
A força vital na doença
A idéia de que há uma força vital inteligente que anima o
organismo humano, podendo essa força vital ser um campo
similar ou análogo ao campo eletromagnético, abre novas
possibilidades para a terapêutica, passível de conduzir a uma era
da medicina da energia. Compreender as leis e princípios
implícitos nessa idéia pode ser de grande utilidade para os
profissionais e pacientes que por eles são servidos. Neste
capítulo, apresento a hipótese de que a força vital comporta-se
de uma maneira análoga aos campos eletromagnéticos e, talvez,
se conforme aos conceitos padrão da física, pertencendo a esses
campos. Tentarei, pois, descrever as implicações dessa idéia no
contexto terapêutico.
101
O conceito de onda é familiar a todos nós. Na água, uma onda se
caracteriza pelo movimento das moléculas para cima (em direção
a uma crista) e para baixo (em direção a uma depressão). Um
pedaço de papel que esteja flutuando na superfície permanecerá
no mesmo ponto enquanto a onda passa; no entanto, a própria
onda se movimenta. Um seixo atirado num tanque transmite
força à água, o que resulta numa onda que se irradia para o exte-
rior a partir do ponto do impacto. O pedaço de papel, entretanto,
permanece estacionário enquanto a força da onda se irradia por
todo o tanque. Outro exemplo familiar são as ondas sonoras;
elas fazem as moléculas de ar se movimentarem de um lado
para outro em relação umas às outras, propagando, dessa
maneira, a força do som à distância. As ondas eletromagnéticas
transmitem força, também, mas essas podem ser transmitidas
102
mesmo no vácuo e através de grandes distâncias.
A velocidade da propagação de tais ondas se caracteriza pelo
tipo de substância em que se propagam. As ondas sonoras, ao
nível do mar, propagam-se a uma velocidade constante, à
velocidade do som. As ondas eletromagnéticas propagam-se à
velocidade da luz.
Existem três parâmetros básicos que definem uma forma de
onda: a freqüência (comumente medida em ciclos por segundo),
o comprimento de onda (medido em centímetros ou metros) e a
amplitude (medida em unidades de força).
A "freqüência" da vibração é descrita como o número de ondas,
ou "ciclos" ,por unidade de tempo. Dessa maneira, podemos
perceber o grau de vibração de um ciclo/segundo, ou 1 milhão de
ciclos/segundo. Como a velocidade da propagação é constante,
qualquer freqüência possui um "comprimento de onda"
correspondente, que é o comprimento real de cada onda em
particular. Quando os físicos ou técnicos eletrônicos falam de
ondas propagadas, usam indiferentemente os termos
"freqüência" e "comprimento" .
O conceito de freqüências diferentes, ou graus de vibração, é
compreensível para qualquer pessoa que tenha conhecimento de
música. Cada nota tem um diapasão que é a sua freqüência;
quando a freqüência muda, muda o diapasão. Os graus de
vibração oscilam do muito baixo (como o que é visto numa ponte
ressoando para o alto e para baixo durante um terremoto) ao
muito alto (como na luz, raios X, microondas, etc.). O ouvido
humano detecta um certo alcance de freqüências e o olho, um
alcance diferente.
A altura de uma onda é chamada "amplitude". Amplitude é uma
medida de força real contida numa onda. Quanto mais alta a
amplitude, maior a força; quanto menor a amplitude, menos força
existe na onda. Isso pode ser percebido facilmente pela diferença
da força das ondas criada na água ao se atirar um seixo num
103
tanque e ao se atirar uma. pedra grande num tanque. A pedra
transmite maior força à água e a amplitude da onda é,
proporcionalmente, maior. Da mesma forma, se compararmos
duas ondas eletromagnéticas de mesma freqüência, a que tem
maior amplitude contém e transmite mais força.
Inversamente, de duas ondas eletromagnéticas com igual
amplitude, a que tem maior freqüência contém e transmite maior
força. Por essa razão, as microondas são mais poderosas do que
as ondas de rádio de baixa freqüência de mesma amplitude. Por
conseguinte, quando se baixa a freqüência de uma onda (sem
mudar-lhe a amplitude), seu nível de energia diminui; se se
aumentar a freqüência, mais energia será acumulada na onda.
Cada substância tem uma freqüência característica, ou alcance
de freqüência, pela qual ela vibra mais facilmente. Uma
substância homogênea como o cristal, ou um diapasão de metal,
vibrará fortemente em apenas uma frequência, que é chamada a
sua "freqüência de ressonância", e menos fortemente em suas
freqüências harmônicas. Se vibrarmos um diapasão em dó médio
na sala com outro diapasão em dó médio, o segundo começará a
vibrar em ressonância com o primeiro. Se tocarmos um diapasão
em dó alto numa sala com um diapasão em dó médio, o segundo
vibrará a uma amplitude reduzida, mas ainda assim vibrará.
Vemos, então, que as vibrações podem ter efeito a certa
distância e até mesmo em níveis diferentes de vibração, mas o
efeito será harmonioso somente através do princípio da
ressonância (ver figura 6).
Se uma substância é não homogênea, como uma rocha ou um
órgão do corpo humano, então cada um de seus componentes
tenderá a vibrar em sua própria freqüência de ressonância, mas
a atividade resultante do todo não será prontamente reconhecível
aos nossos sentidos. Isso não quer dizer que as vibrações de
fora não estejam tendo nenhum efeito, apenas que o efeito não é
detectável aos nossos sentidos.
104
Agora, considerar a força vital do organismo humano em termos
de vibração eletrodinâmica envolve, obviamente, um grau de
complexidade enorme. A vibração resultante desse organismo
complexo é, sem dúvida, altamente complicada, pois ela muda a
cada momento não apenas em freqüência, mas também na
regularidade da freqüência, bem como em amplitude. É por isso
que o nível da força vital do organismo humano é considerado o
plano dinâmico, que afeta todos os níveis do ser de uma vez e
em graus variados de harmonia e força. É um processo
altamente complexo, fluido, flexível e energético, respondendo e
afetando simultaneamente o ambiente circundante. Apesar dessa
complexidade, no .entanto, existem leis e princípios que
105
governam tanto as influências morbíficas quanto as terapêuticas
desse sistema - leis e princípios são fundados nos conceitos de
ressonância, harmonia, reforço e interferência. Todo o
organismo, e qualquer um de seus componentes, podem ser
fortalecidos ou enfraquecidos,.dependendo do grau de harmonia,
ressonância e força da influência morbífica ou terapêutica a ele
aplicada. Por isso é tão importante para qualquer profissional de
"medicina da energia" compreender com clareza as leis e
princípios fundamentais envolvidos nessas influências.
O mecanismo de defesa
Quando o organismo é exposto a um estímulo, seja ele morbífico
ou benéfico, a primeira coisa que se verifica é uma alteração do
grau de vibração no plano dinâmico. Dentre os muitos estímulos
rotineiros aos quais todos nós estamos expostos
constantemente, o plano dinâmico é o mais capaz de responder
e se ajustar sem nenhum efeito notável nos níveis mental,
emocional ou físico.
Se, no entanto, a força do estímulo for mais forte do que a força
vital, o mecanismo de defesa é chamado a agir para contrapor-se
ao estímulo. Caso contrário, qualquer estímulo poderoso alteraria
o estado de todo o organismo, sem defesa, e a morte se daria
rapidamente. Há um certo limiar em qualquer indivíduo abaixo do
qual o plano dinâmico opera os estímulos sem mudanças visíveis
e acima do qual o mecanismo de defesa gera processos que são
percebidos pelo indivíduo como sintomas em um ou mais níveis.
Antes que os verdadeiros sintomas se desenvolvam, há um
período latente, durante o qual o mecanismo de defesa começa a
se ajustar ao efeito do estímulo. A mudança do plano dinâmico,
naturalmente, é instantânea, mas pode passar por várias
durações de tempo antes que o mecanismo de defesa gere
sintomas que se expressem no nível físico, emocional ou mental.
106
Dependendo das circunstâncias, esse período latente pode ser
de horas, dias, semanas ou até de meses. Numa doença aguda,
o período latente é conhecido como "período de incubação",
pode durar de horas ou dias, no caso de gripes e infecções
bacteriológicas, a várias semanas, no caso de gonorréia, ou até
três meses, no caso da raiva e da hepatite infecciosa.
Menos conhecida é a ocorrência de um período latente numa
doença crônica. Uma pessoa pode suportar um estresse
emocional e desenvolver uma asma, seis meses depois, ou um
câncer, depois de um período ainda mais longo.
A mudança instantânea inicial no nível de vibração também
altera a sensibilidade da pessoa a outras influências nocivas do
mesmo tipo. Por exemplo, se uma pessoa é exposta a um vírus,
seu grau de vibração altera-se imediatamente e ela se torna
imune à invasão de outros vírus do mesmo tipo e virulência; os
sintomas podem não surgir até que o último período latente
tenha passado, mas o organismo está "imune" a outros vírus
semelhantes duran te o período de latência. Esse fenômeno
ocorre porque a freqüência ressonante foi mudada pelo estímulo
inicial, entregando à 8uscetibilidade do organismo apenas novas
influências morbíficas na nova freqüência de ressonância.
Essa mudança de sensibilidade pode ocorrer, naturalmente, não
apenas pela exposição aos vírus e bactérias, mas também
através de choques emocionais, mudanças da temperatura
ambiental ou pela umidade e, especialmente, pelo tratamento
com drogas alopáticas.
A melhor forma de ilustrar esse princípio é apresentar um
exemplo muitb comum na prática de qualquer médico.
Consideremos um paciente que contraiu uma
infecção estafilocócica pulmonar. No momento do ataque da
infecção, o grau de vibração ("a freqüência ressonante")
muda um pouco, ficando o paciente "imune" à invasão de outro
organismo semelhante. O mecanismo de defesa aciona
107
os mecanismos normais da febre, tosse, calafrios,
prostração, etc., e o paciente procura o médico. São feitos
exames de sangue, que revelam uma taxa elevada de glóbulos
brancos, e a presença de anticorpos contra os estafilococos; uma
radiografia acusa uma infecção e o material colhido para cultura
desenvolve a sensibilidade do estafilococo a uma variedade de
antibióticos. Receita-se ao paciente qual quer antibiótico e a
febre baixa prontamente, a energia retorna e melhora a
qualidade do escarro.
Se o mecanismo de defesa desse paciente é forte, ele,
finalmente, restabelece o equilíbrio e corrige às mudanças do
grau de vibração causadas pela bactéria e pelo antibiótico. Se,
por outro lado, o mecanismo de defesa não for suficientemente
forte, o curso dos acontecimentos será outro. O grau de vibração
não retorna ao normal e é alterado até mais profundamente pelo
antibiótico. Dentro de uma semana ou mais, ocorre uma reação
pleural com dor e efusão. Os médicos reconhecem que houve
uma "complicação" e retiram da região pleural um pouco do
fluido, que agora revela uma nova bactéria, o Proteus, sensível a
menos antibióticos ainda do que era o estafilococo. A razão
dessa ocorrência é que a nova freqüência de ressonância do
paciente possibilitou a sensibilidade a um organismo novo e mais
sério.
É então, dado um segundo antibiótico, que altera novamente o
grau de vibração do mecanismo de defesa. Gradualmente, o
paciente sente-se melhor, a dor cede e parece que à
recuperação está em andamento. Ainda assim, nada foi feito
para reforçar, de forma apreciável, o mecanismo de defesa. Pelo
contrário, duas infecções bacterianas e duas séries de
antibióticos o enfraqueceram. Por fim, a efusão volta a aumentar
e descobre-se a presença de um organismo ainda mais sério, o
bacilo piociânico, insensível a todos os antibióticos conhecidos.
Para o médico alopata, a única alternativa que, resta é a
108
drenagem cirúrgica e, talvez, a lobectomia; o caso é então
considerado grave, havendo de qualquer modo perigo de vida.
Casos como esse não são raros; todo médico tem bastante
experiência de casos que progridem exatamente desse modo.
Quando um paciente desse tipo é encaminhado a um
especialista, é comum que se comente a tendência de tal
paciepte para desenvolver "complicações"; e até mesmo os
médicos alopatas falam em termos de enfraquecimento
sistemático. Pela experiência, eles aprenderam a esperar o pior.
Como o problema não é fundamentalmente o de um
microrganismo específico mas, pelo contrário, o do enfra-
quecimento do mecanismo de defesa do paciente, não se pode
esperar que a terapia por antibiótico funcione nesse caso. O
antibiótico é o estímulo mais nocivo que o mecanismo de defesa
deve enfrentar, e o nível vibratório progride de forma inevitável
cada vez mais profundamente. Pelo contrário, deve-se utilizar
uma terapia que fortaleça a freqüência de ressonância de todo o
organismo. Logo que isso ocorra, o mecanismo de defesa poderá
funcionar de forma efetiva, e o progresso terá prosseguimento na
ordem inversa, através dos níveis vibratórios anteriores: as
culturas mostrarão o bacilo piociânico, depois o Proteus e, a
seguir, o estafilococo, antes que o paciente possa ter alta do
hospital, totalmente restabelecido. Essa é a experiência dos
médicos homeopatas, que são sábios o bastante para não
receitarem antibióticos ao simples aparecimento de um novo
micróbio. Ao contrário, eles permitem o fortalecimento do
mecanismo de defesa para que ele mesmo complete seu
processo.
Como foi mencionado, a supressão contínua (por terapias
impróprias) do mecanismo de defesa na maior parte da nossa
população leva ao enfraquecimento progressivo. É por essa
razão que se observa uma crescente incidência de doenças do
coração, distúrbios neurológicos, câncer, psicoses e violência na
109
sociedade; é também pela mesma razão que se verifica um surto
de epidemias microbianas, como a doença do legionário e
outras, insensíveis a todos os antibióticos conhecidos. Isso não é
apenas um caso de mutação bacteriana, mas a conseqüência do
enfraquecimento progressivo do mecanismo de defesa das
pessoas devido a terapias impróprias.
O princípio de ressonância dá ao organismo sensibilidade à
influência basicamente em um único nível e em um determinado
momento. Na figura 7, vemos um diagrama simplificado do
espectro das freqüências ressonantes. Cada nível representa,
por exemplo, sensibilidade num determinado âmbito das
doenças. Se uma pessoa for tratada no nível B, de gonorréia,
receberá antibióticos e sua freqüência ressonante muda; com o
tempo', ela se tornará sensível à doença, digamos, no nível C.
Enquanto experimenta sintomas de alguma doença nesse nível,
ela não terá gonorréia, mesmo que possa estar exposta a ela.
Isso também é verdadeiro para pessoas que sofrem de doenças
crônicas há longo tempo. Se, no entanto, essa pessoa fosse
tratada homeopaticamente, o grau de vibração voltaria a diminuir
na escala e o paciente poderia tornar-se sensível à gonorréia
mais uma vez. O observador superficial pode interpretar essa
sensibilidade renovada à gonorréia como um sinal de
deterioração da saúde, quando, na realidade, ela representa um
progresso!
Dessa forma, uma pessoa pode ser "imune" à doença no nível B
por duas razões: ou ela está muito doente, com um grau de
vibração correspondente aos níveis mais profundos de
ressonância, ou ela está muito saudável, com um grau de
vibração exatamente na parte mais baixa do diagrama.
Esse princípio de sensibilidade também explica um fenômeno
freqüentemente observado pelos médicos cuidadosos. Os
esquizofrênicos raramente têm enfermidades agudas, mesmo
quando expostos a organismos muito virulentos. Quanto mais
110
uma pessoa for psicótica, menos probabilidade terá de adquirir
uma enfermidade aguda. Isso porque a freqüência de
ressonância está num nível mental muito profundo e o
mecanismo de defesa simplesmente não tem força para reagir
nos níveis mais periféricos. Se uma pessoa for apenas
ligeiramente psicótica, é possível que adquira uma infecção
aguda; observou-se que os sintomas psicóticos, então, diminuem
sensivelmente durante a doença aguda, para retornarem logo
depois da recuperação. Embora os médicos alopatas não
tenham conseguido explicar esse fenômeno, ele se tornou,
contudo, base para a terapia da febre, do choque de insulina e,
finalmente, da terapia do eletrochoque. Ademais, é verdade que,
se um paciente psicótico adquirir uma infecção aguda, a infecção
geralmente será séria e, freqüentemente, fatal. Essa observação
é prontamente explicada pelo princípio da ressonância, quando
se percebe que o mecanismo de defesa está enfraquecido. Por
fim, se um paciente psicótico for tratado homeopaticamente com
sucesso, percebe-se um retorno da sensibilidade às
enfermidades agudas; a princípio, elas podem ser muito sérias,
mas, à medida que o tratamento for prosseguindo, a habilidade
para se livrar dessas enfermidades se fortalecerá.
Logo que um estado de doença se estabelece em um nível
particular, a pessoa fica relativamente resistente à doença nos
outros níveis, mas os estímulos no mesmo nível de ressonância
ainda podem produzir mudanças no grau de vibração. Além
disso, esses estímulos podem ser devidos a drogas, choques
emocionais ou influências ambientais, mas os estímulos devem
ressoar com o grau vibratório do organismo a fim de produzir
efeito. Por exemplo, suponhamos um paciente com uma doença
do coração. Se ele receber a notícia de que o filho morreu - um
choque emocional que afeta o nível vibratório correspondente ao
coração -, é provável que desenvolva uma psicose. Enquanto
isso, os sintomas de sua disfunção cardíaca desaparecerão. O
111
mesmo ocorreria se o paciente fosse tratado com uma poderosa
droga para o coração.
112
Pelo contrário, é verdade que um estímulo benéfico contraposto
à correta freqüência ressonante altera o grau de vibração no
sentido de uma melhora. Essa influência benéfica pode ocorrer,
virtualmente, em qualquer tipo de terapia, mas, na maioria das
terapias, ela ocorre acidentalmente, pois os princípios não são
seguidos; por isso a freqüência de ressonância do agente
terapêutico é contraposta à da moléstia. Por exemplo, o
eletrochoque geralmente alivia a depressão psicótica apenas
temporariamente, e, com certeza, tem seus próprios efeitos
prejudiciais sobre a função do sistema nervoso; no entanto, em
raros exemplos, esses casos experimentam alívio permanente.
Isso ocorre porque, por acidente, o grau vibratório do
elettochoque contrapõe-se o bastante à freqüência de res-
sonância da sensibilidade, de forma que o mecanismo de defesa
é fortalecido. Infelizmente, os médicos que cuidam desses casos
não percebem o que aconteceu e, muitas vezes, utilizam drogas
supressivas sempre que uma moléstia correspondente surgir no
plano físico; dessa forma, com muita freqüência induzem a volta
do paciente ao estado psicótico.
Qualquer terapia pode virtualmente produzir respos tas curativas
ocasionais exatamente desse modo acidental. Os psiquiatras ou
grupos de encontro podem produzir poderosos benefícios num
dado momento, quando o paciente estiver receptivo a essas
influências; se ele não for inco modado, o benefício pode ser
muito duradouro. Infelizmente, a tendência dos terapeutas é
continuar tentando uma cura, ao invés de deixá-Io em paz; se
através desse processo ocorrer uma perturbação emocional no
novo nível vibratório, pode haver uma influência morbífica que,
por conseguinte, resultará numa recaída ao estado anterior ou,
quem sabe, a um estado ainda pior. O mesmo vale para os
tratamentos feitos com ervas, pela acupuntura, massagem de
polaridade, etc. Todos podem produzir benefícios quando o
113
estímulo terapêutico se contrapuser ao nível de receptividade do
organismo, e esse benefício pode, então, ser duradouro se o
progresso permitido tiver uma continuidade imperturbável, apesar
do desenvolvimento de novos sintomas em níveis mais
periféricos.
Na homeopatia, temos pelo menos um sistema científico,
baseado em princípios claros, que almejam estimular o
organismo de forma benéfica precisamente dentro da freqüência
ressonante, que, então, permite ao mecanismo de defesa, assim
fortalecido, completar seu trabalho na ordem própria. Como
veremos nos capítulos subseqüentes, supõe-se que cada
prescrição homeopática esteja baseada na totalidade das
expressões do mecanismo de defesa; desse modo, ele é
contraposto à freqüência ressonante. Mesmo assim, é verdade,
até mesmo na homeopatia, que pode ser ministrado um
medicamento incorreto, baseado apenas numa imagem parcial
da sintomatologia do paciente. Essa prescrição também pode
rebaixar o nível vibratório, acarretando uma deterioração da
saúde geral do paciente. Da mesma forma, mesmo um
medicamento homeopático, se for administrado de forma
imprópria, num momento em que o mecanismo de defesa já está
seguindo eficientemente na direção certa, pode interromper o
progresso e retardar a recuperação.
Sumário do capítulo 5
Sumário da parte sobre física
Capítulo 6
A lei fundamental da cura
O plano dinâmico é o plano da presença da vida, o plano no qual
se origina a doença, bem como o mecanismo de defesa. Esse
plano não é um quarto nível separado do organismo. Pelo
contrário, ele permeia todos os níveis, é anterior a eles e com
eles interage. O plano dinâmico tem com o corpo físico
exatamente a mesma relação que os campos eletromagnéticos
têm com a matéria. Esse conceito é ilustrado na figura 8, que é
uma simplificação do esquema apresentado no capítulo 3. A
força vital, ou plano dinâmico, como indicam as setas, interage
intimamente com, os três níveis. Sempre que um organismo re-
cebe um estímulo de um de seus três níveis de recepção, o
efeito inicialmente é respondido pelo campo eletrodinâmico (ou
força vital) e, depois, distribuído aos três níveis, de acordo com a
força do estímulo e o grau de resistência do organismo.
Os modernos conceitos de cibernética demonstram um princípio
fundamental que se aplica tanto ao organismo humano quanto
116
aos outros sistemas: qualquer sistema altamente organizado
reage ao estresse, produzindo sempre a melhor resposta
possível de que é capaz no momento. No ser humano isso
significa que o mecanismo de defesa oferece a melhor resposta
possível ao estímulo morbífico, de acordo com o estado de
saúde do momento e a intensidade do estresse.
Quando ocorre a doença, a primeira perturbação acontece no
campo eletromagnético do corpo, que, então, coloca em ação o
mecanismo de defesa. Esse conceito foi anunciado
definitivamente pela primeira vez como a base da terapêutica de
Samuel Hahnemann, médico alemão que, no século XIX,
descobriu e desenvolveu a ciência da homeopatia. No Aforismo
11 da sua monumental obra-prima, Organon der rationellen
Heilkunde; Hahnemann escreve: "Essa força vital é a única a ser
perturbada primariamente pelas influências dinâmicas de um
agente morbífico que age sobre ela".
117
Para a eficácia de qualquer terapia é óbvio que o médico deve
cooperar com esse processo, sem jamais desviar-se dele. Como
o mecanismo de defesa já está reagindo com a melhor resposta
possível, qualquer desvio na direção de sua atuação terá
118
inevitavelmente um menor grau de eficácia. É por isso que as
terapias baseadas nas teorias intelectuais e na compreensão
parcial da totalidade apenas podem inibir o processo de cura e,
freqüentemente, produzir danos reais ao organismo através da
supressão.
Como a atividade do mecanismo de defesa se origina no plano
dinâmico, a abordagem terapêutica adequada é a que intensifica
e fortalece esse nível, aumentando assim a eficácia do próprio
processo de cura do organismo. De maneira geral, as medidas
terapêuticas podem realizar isso de duas maneiras:
Samuel Hahnemann
Antes de prosseguir, seria útil fazer uma pequena pausa para
examinar a vida de Samuel Hahnemann, o notável gênio que
descobriu, desenvolveu e sistematizou as leis fundamentais da
cura, que estão produzindo mudanças revolucionárias no
pensamento relativo à saúde e à doença. A história de
Hahnemann revela um dos casos mais singulares de
descobertas da história da medicina.
Ao comentar a lei dos semelhantes, Hahnemann foi o primeiro a
admitir que esse conceito fora posto de lado por outros na
história. ocidental, a começar pelo próprio Hipócrates. Apesar
dessas especulações anteriores, no entanto, ninguém antes de
Hahnemann reconheceu a verdadeira importância do conceito,
nem muito menos procedeu à sua sistematização como ciência
terapêutica completa.
Hahnemann nasceu em 1755 numa pequena cidade da
Alemanha e desde cedo demonstrou notáveis habilidades. O pai,
que reconhecia as qualidades do filho, ensinou-lhe desde cedo a
ter disciplina; costumava trancar o jovem Samuel numa sala
onde ele tinha de fazer "exercícios de raciocínio" - exigindo que
ele resolvesse sozinho os problemas, pois "o garoto precisa
aprender a pensar". Hahnemann possuía grande talento para as
línguas e já aos doze anos seu instrutor o fazia ensinar grego
aos outros alunos.
Hahnemann estudou medicina na Universidade de Leipzig, em
Viena, e em Erlangen, diplomando-se em 1779, e logo tornou-se
muito respeitado nos círculos profissionais pelas suas
comunicações escritas, tanto sobre medicina quanto sobre
química. Mesmo assim, ficava muito perturbado com a falta de
126
um pensamento fundamental subjacente à terapêutica da época,
que consistia em sangria, catárticos, ventosas e o uso de
substâncias químicas tóxicas. Hahnemann escreveu a um de
seus amigos:
"Para mim, foi uma agonia estar sempre no escuro quando tinha
que curar o doente e prescrever, de acordo com essa ou aquela
hipótese relacionada com as doenças, substâncias que tinham o
seu lugar na matéria médica, por uma decisão arbitrária... Logo
depois do meu casamento, renunciei à prática da medicina para
não mais correr o risco de causar danos e me dediquei
exclusivamente à química e às ocupações literárias. Mas tornei-
me pai, e doenças sérias ameaçavam meus amados filhos...
Meus escrúpulos duplicaram quando percebi que eu não lhes
podia dar nenhum alívio".
Ele voltou à profissão de tradutor de trabalhos médicos, mas sua
mente inquiridora estava sempre à procura dos princípios
fundamentais sobre os quais devia se basear a terapia. Foi
enquanto traduzia a edição da matéria médica de Cullen que
deparou com a idéia que o levou à revolucionária descoberta.
Cullen era professor de medicina da Universidade de Edimburgo
e havia devotado vinte páginas de sua matéria médica às
indicações terapêuticas sobre quina, cujo sucesso no tratamento
da malária ele atribuía ao fato de a erva ser amarga. Hahnemann
estava tão insatisfeito com essa explicação que decidiu prová-Ia
ele mesmo, ato completamente inusitado na época. Diz ele:
"Tomei, como experiência, duas vezes ao dia, quatro dracmas de
boa quina. Meus pés e as extremidades dos dedos logo ficaram
frios; fui ficando lânguido e sonolento, depois ocorreram
palpitações de coração e o pulso ficou fraco; ansiedade
intolerável, tremor, prostração de todos os meus membros; em
seguida, latejamento na cabeça, vermelhidão das faces, sede, e,
resumindo, apareceram todos esses sintomas, que são
ordinariamente característicos da febre intermitente, um após o
127
outro, sem, no entanto, o frio peculiar e o calafrio.
Em suma; até mesmo esses sintomas que ocorrem regularmente
e são especialmente característicos - como o embotamento da
mente, aquela espécie de rigidez dos membros e, acima de tudo,
a desagradável sensação de entorpecimento, que parece ocorrer
no periósteo, espalhando-se para todos os ossos do corpo - tudo
isso apareceu. Esse acesso durava duas ou três horas de cada
vez e só reaparecia se eu repetisse a dose; caso contrário, não;
interrompi a dosagem e fiquei com boa saúde.
Sumário do capítulo 6
130
1. O plano dinâmico permeia todos os níveis do organismo da
mesma forma como o campo eletromagnético permeia a matéria,
sendo a origem de todas as ações do corpo, tanto na saúde
quanto na doença. Um sistema altamente organizado reage ao
estresse, produzindo sempre a melhor resposta possível.
2. As medidas terapêuticas que se utilizam do plano dinâmico
tanto podem agir de forma indireta, através de um único nível,
quanto de forma direta, atuando sobre o próprio plano dinâmico.
3. Três modos terapêuticos podem agir diretamente no plano
dinâmico: a acupuntura, a "imposição das mãos", feita por um
indivíduo espiritualmente evoluído, e a homeopatia.
4. A lei dos semelhantes combina o sintoma manifestado no
plano dinâmieo em um paciente com o sintoma análogo de uma
substância terapêutica manifestada num indivíduo saudável para
estabelecer a ressonância entre o paciente e o medicamento.
5. A lei dos semelhantes afirma: qualquer substância que possa
produzir uma totalidade de sintomas num ser humano saudável
pode curar essa totalidade de sintomas num ser humano doente.
6. A lei dos semelhantes foi a contribuição. básica de Samuel
Hahnemann, um médico alemão insatisfeito com as práticas
grosseiras de seu tempo. Hahnemann sistematizou essa lei
fazendo "experimentações", ou registros sistemáticos, dos
sintomas produzidos pelas substâncias nos seres humanos
saudáveis.
7. Para ser completa, uma experimentação deve ser testada
numa gama completa de doses (ou potências); os sintomas
registrados devem incluir os três níveis do indivíduo; devem ser
incluídos os sintomas dos pacientes doentes curados depois da
administração do medicamento.
Capítulo 7
O agente terapêutico no plano dinâmico
131
Apresentamos, dessa forma, o conceito de plano dinâmico
eletromagnético e a lei dos semelhantes, que nos permite utilizar
o princípio de ressonância para estimulá-Ia. O próximo passo
lógico será desenvolver os agentes terapêuticas que estão no
plano dinâmico e que são capazes de afetar esse domínio do
organismo humano. O propósito deste capítulo é demonstrar de
que maneira, mais especificamente, a ciência da homeopatia
alcançou esse objetivo através da técnica da potencialização, de
Hahnemann.
Se refletirmos sobre o fato de que cada substância tem um
campo eletromagnético (desde os organismos simples até o
planeta como um todo), podemos afirmar que qualquer
substância administrada a uma pessoa tem pelo menos o
potencial para afetar o organismo de duas formas. Por um lado, a
substância pode ter um efeito químico, como o que percebemos
nos alimentos, vitaminas, drogas, tabaco, café, etc. E, por outro
lado, pode ter um efeito sobre o campo eletromagnético do corpo,
causado pelo campo eletromagnético correspondente da
substância, especialmente se os níveis de vibração forem
suficientemente próximos, tendo a mesma ressonância.
Normalmente, é claro, o efeito eletrodinâmico de uma substância
em estado natural pode ser muito fraco para ser notado; por outro
lado, pode desempenhar um papel importante em circunstâncias
tais como os banhos minerais, os banhos de mar, os cataplas-
mas, etc.
Com relação ao organismo humano, as substâncias podem ser
prontamente classificadas como biologicamente inertes ou
biologicamente ativas. As substâncias biologicamente inertes
como o ouro, a sílica, o ferro metálico, a platina, a celulose, etc.,
são química e energicamente "fechadas" à interação com o corpo
humano. Elas apenas passam pelo sistema intestinal, tendo um
efeito meramente mecânico. A sua influência eletromagnética
sobre o organismo é tão pequena que nem mesmo pode ser
132
detectada.
Uma substância biologicamente ativa é aquela em que as
energias químicas, ou outras, são "abertas" à interação com o
corpo; existe uma afinidade química entre a substância e o
organismo. Se alguém comer uma fruta, tomar uma pílula de
vitamina ou ingerir um comprimido de aspirina, imediatamente
ocorrerão reações químicas complexas, que criam efeitos em
muitos órgãos do corpo. As substâncias biologicamente ativas
podem ter efeitos benéficos, no caso da comida, ou podem ter
efeitos altamente tóxicos, no caso de doses suficientes de
arsênico, mercúrio ou drogas alopáticas. Essas substâncias
tóxicas causarão algum efeito virtualmente em qualquer pessoa
que as use, mas o grau de toxidade de uma determinada dose
variará de um indivíduo para outro. Uma pessoa com um grau
muito alto de sensibilidade, ou "afinidade", pode reagir de
maneira tão violenta que lhe sobrevenha a morte, ao passo que
outra pessoa com menor sensibilidade a essa substância pode
ter uma reação mais amena. Como descobriu Hahnemann com
seus estudos sobre a sintomatologia dos envenenamentos, a
própria sensibilidade da pessoa a uma determinada substância
pode ser a expressão da ressonância entre esta pessoa e a
substância; na homeopatia, essa ressonância é utilizada como
princípio terapêutico.
É possível que ocorra a cura da doença por intermédio de um
agente biológico ativo mesmo em forma natural, se a
ressonância, ou afinidade, da pessoa se combinar o bastante
com a vibração da substância. Essa é a explicação provável para
o benefício que algumas pessoas recebem ao se banharem em
águas minerais. Nem todos conhecem um efeito benéfico,
naturalmente; alguns podem sentir uma piora depois de se
exporem ao banho; a maioria experimenta um efeito relativo, e
talvez de 15 a 20 por cento sintam um alívio dos sintomas e um
aumento geral da vitalidade. Muito provavelmente, os que
133
experimentam algum benefício (e isso já foi registrado nos que
experimentam agravamento) estão com seus planos
eletromagnéticos ressoando intimamente com um dos muitos
minerais presentes nas águas. Esse benefício pode durar de seis
a nove meses; depois, há uma recaída. Se a pessoa retorna ao
banho, observa-se, então, que a segunda exposição produz um
benefício menos duradouro, de, digamos, cerca de três meses.
Na terceira ou quarta exposição, pode não haver nenhum
benefício. Os estímulos terapêuticos que inicialmente ocorreram
no plano dinâmico pela ação do mineral em forma natural
tornaram-se, finalmente, muito fracos para continuar afetando o
mecanismo de defesa da pessoa.
A mesma observação é geralmente percebida na administração
de medicamentos à base de ervas. Se por acaso uma das ervas
pertencentes a uma fórmula em particular ressonar com o plano
dinâmico do paciente, deve ocorrer um benefício que pode durar
por um bom tempo. Se, no entanto, o mecanismo de defesa do
paciente estiver muito enfraquecido, haverá uma recaída. Então,
descobrir-se-á que a administração da mesma erva produzirá um
efeito menos intenso ou de menor duração do que o da
prescrição original. Isso porque a ação dinâmica da erva não foi
intensificada, enquanto o mecanismo de defesa pode ter sido
enfraquecido, mais até do que seu estado original. Como foi dito
antes, é possível proceder a observações similares com relação
aos efeitos curativos acidentais da acupuntura, das drogas
alopáticas e de outras terapias.
Para produzir resultados curativos de longa duração, é
necessário aumentar a intensidade do campo eletromagnético do
agente terapêutico, ou, em outras palavras, liberar a energia
contida na substância a fim de torná-Ia mais disponível para a
interação com o plano dinâmico do organismo. Foi nesse ponto
que Samuel Hahnemann fez sua segunda engenhosa
contribuição para a medicina, projetando a técnica da
134
potencialização. Ainda é desconhecida a maneira exata pela qual
Hahnemann deparou com essa técnica, se ela surgiu de sua
experiência anterior com a química ou por simples inspiração
divina. De qualquer modo, ele desenvolveu um método bastante
simples para extrair a energià terapêutica de uma substância sem
alterar seu grau de vibração. Assim, o "medicamento
homeopático" resultante é uma forma de energia intensificada
que pode ainda ser administrada de acordo com o princípio
básico de ressonância da lei dos semelhantes, mas agora com
capacidade acentuada para afetar o plano dinâmico do orga-
nismo e, por conseguinte, produzir uma cura duradoura de todo o
organismo.
Como foi descrito no capítulo anterior, a primeira grande
descoberta de Hahnemann foi a importância de "experimentar" as
substâncias em seres humanos voluntários e saudáveis para
obter uma completa descrição da sintomatologia da substância.
Infelizmente, no entanto, a maioria das substâncias
potencialmente úteis são altamente tóxicas em sua ação
biológica - substâncias como o arsênico, o mercúrio, a beladona,
os venenos de cobra, etc. Dispunha-se de alguma informação
sobre os envenenamentos provocados por essas substâncias,
mas a sintomatologia não era tão acurada como Hahnemannn
necessitava para a prescrição homeopática. Foi nesse processo
de luta para resolver o problema que Hahnemann fez sua
descoberta.
De início, ele simplesmente tentou diluir as substâncias. Isso
acontecia, naturalmente, ao reduzir a toxicidade dos agentes,
mas o processo também reduzia proporcionalmente o efeito
terapêutico. Hahnemann, então, descobriu, de alguma forma, a
técnica de adicionar energia cinética às diluições, agitando, ou
seja, por meio da "sucussão". A essa combinação da sucussão
com a diluição serial Hahnemann chamou "potencialização" ou
"dinamização". A observação decisiva foi a de que, quanto mais
135
a substância for submetida à sucussão, e diluída, maior será o
efeito terapêutica, enquanto ao mesmo tempo fica neutralizado o
efeito tóxico.
Vamos agora descrever de que maneira as farmácias
homeopáticas preparam seus remédios. Serão fornecidas
descrições detalhadas no capítulo 11, mas é importante que se
faça aqui, em favor da clareza, uma breve descrição.
Inicialmente, a substância é dissolvida numa solução de
álcool/água pelo mesmo modo padrão da química ou da
botânica. Uma gota da "tintura" é, então, diluída em nove ou 99
gotas de uma solução de 40 por cento de álcool/água. Essa
diluição é submetida, em seguida, a sucussão com grande força
por cem vezes. Uma gota dessa solução que foi submetida a
sucussão é acrescentada a nove ou 99 gotas de solvente fresco,
o qual por sua vez é submetido a sucussão por cem vezes e
diluído da forma anterior. Esse processo, literalmente, pode
continuar indefinidamente, aumentando sempre o poder
terapêutico e ao mesmo tempo neutralizando as propriedades
tóxicas.
Na homeopatia existe uma nomenclatura específica para cada
"potência" ou diluição. Se as diluições seriais forem feitas na
base de 1/10, a escala é chamada "decimal", e os números
resultantes da potência são designados por "X"; por exemplo, a
primeira diluição 1/10 é chamada de potência 1X, a segunda,
potência 2X, a trigésima diluição, 30X. Se as diluições são feitas
na base de 1/100, a escala é chamada de escala "centesimal" e
designada por um "c"; desse modo, a primeira diluição 1/100 é
chamada de 1c, a trigésima diluição, de 30c e a centésima
diluição, de 1000c.
De acordo com as leis da química, há um limite para a
quantidade de diluições seriais que podem ser feitas sem perda
da substância original. Esse limite é chamado de "número de
Avogadro", que corresponde, aproximadamente, à potência
136
homeopática de 24X (equivalente a 12c). Desse modo, qualquer
potência além de 24X ou 12c não tem, virtualmente, nenhuma
chance de conter uma molécula sequer da substância original.
Neste ponto poder-se-ia pensar que uma potencialização a mais
deixaria de ser eficiente, mas, na verdade, as potências em
escala bem superior a esse "limite" continuam a aumentar de
poder. Até hoje não foi encontrado nenhum limite, embora os
médicos homeopatas usem freqüentemente,e com sucesso,
potências superiores a 100.000c. Para dar ao leitor uma idéia de
como essa potência é extremamente diluída, vamos descrever as
diluições em termos de fração numeral; o número de A vogadro
corresponderia aproximadamente a uma diluição representada
por 1/1.000... até um total de 24 zeros. Uma potência de
100.000c seria representada por uma diluição de 1/100.000... até
um total de 100.000 zeros - o que se situa inconcebivelmente
muito além do ponto em que se pode encontrar alguma molécula
da substância original!
Como podemos saber se realmente o poder terapêutico das
potências aumenta com as diluições e sucussões posteriores?
Isso é confirmado pelas freqüentes observações clínicas dos
homeopatas. Uma vez selecionado o medicamento correto, de
acordo com a lei dos semelhantes, é certo que este atuará até
mesmo em estado natural. Por exemplo, um paciente com febre
de beladona (com todos os sintomas homeopáticos
individualizados que foram encontrados nas provas da beladona)
responderá até mesmo a umas poucas gotas da tintura de
beladona. No entanto, a resposta pode ser diminuta e de curta
ação. Se for dada uma potência 12X de beladona, o alívio
provavelmente será mais surpreendente. Se, no entanto,
administrarmos uma potência de 10.000c, provavelmente a
resposta será o desaparecimento completo de todos os sintomas
em algumas horas, sem nenhuma recaída.
Vemos também outros tipos de casos em que a substância em
137
estado natural, bem como as potências baixas até 30c, não
atuam. Uma vez encontrada a potência correta, no entanto, que
pode ser alta, de 100.000c, seguir-se-á uma cura notável e
duradoura.
A afirmação de que apenas por meio de sucussão e de diluição
serial o poder terapêutico de uma substância pode "ser
aumentado sem limites, enquanto é anulada sua toxicidade,
certamente parece chocar nossa compreensão usual da física e
da química. Os resultados clínicos dos homeopatas de todo o
mundo, que rotineiramente fazem uso de potências além do
número de Avogadro, não podem ser negados, mas então o que
na verdade ocorre durante o processo de potencialização?
Sabemos que somente a diluição não é suficiente para produzir o
fenômeno. A sucussão acrescenta energia cinética à solução, o
que é importante. Se fizermos apenas a sucussão em uma
solução, sem diluí-Ia mais, ocorrerá uma elevação de nível de
apenas uma potência, não importa quantas vezes a
submetermos à sucussão; por conseguinte, ambas são
necessárias, tanto a sucussão quanto a diluição. Sabemos
também que, quanto mais sucussão e diluição houver, maior será
o poder terapêutico, chegando inclusive a ultrapassar o ponto em
que existe apenas uma molécula remanescente da substância
original.
Pelo que até agora sabemos, não há nenhuma explicação, tanto
na física quanto na química modernas, para tal fenômeno.
Parece que por meio dessa técnica alguma forma nova de
energia é liberada. A energia contida de forma limitada na
substância original é, de certo modo, liberada e transmitida às
moléculas do solvente. Uma vez que não mais esteja presente a
substância original, a energia remanescente no solvente pode ser
intensificada ad infinitum. As moléculas do solvente empregam a
energia dinâmica da substância original. Pelos resultados
clínicos, sabemos que a energia terapêutica ainda retém a
138
"freqüência vibratória" da substância original, mas essa energia
foi intensificada a um tal grau que é capaz de estimular o plano
dinâmico do paciente de forma suficiente para produzir uma cura.
As descobertas do processo de potencialização e da lei dos
semelhantes, feitas por Hahnemann, realmente revolucionaram a
potencialidade científica da terapêutica. Por um lado, o princípio
da lei dos semelhantes virtualmente nos forneceu um método
para combinar as vibrações ressonantes de quaisquer
substâncias do meio ambiente com a do paciente. Como vimos
nos casos de alívio temporário
resultantes da administração de agentes terapêuticos em estado
natural, a substância em estado natural freqüentemente possui
intensidade insuficiente para produzir uma cura permanente. Por
outro lado, com a descoberta feita por Hahnemann de uma
técnica para aumentar indefinidamente a intensidade terapêutica
do plano dinâmico, possuímos, agora, um modo de estimular ,o
mecanismo de defesa do paciente com a intensidade necessária,
seja ela qual for, para dominar a intensidade da doença.
A descoberta precisa da maneira pela qual a energia é
transferida para o solvente, por meio dessa técnica, terá de ser
deixada para os físicos e químicos. Talvez existam poucos
indíciôs a serem descobertos nos limites da experiência empírica
dos homeopatas. Uma propriedade já definida dos medicamentos
homeopáticos é a sua grande sensibilidade aos raios do sol. Se
um medicamento for exposto diretamente ao sol, todo o seu
poder terapêutico se perde. Também parece ser verdade que os
medicamentos podem ser desativados pela exposição a uma
temperatura acima de 110-120ºF. Muitos homeopatas relatam,
além disso, que pelo menos alguns medicamentos são
desativados pela exposição a substâncias fortemente aromáticas,
especialmente a cânfora. A causa pela qual essas exposições
desativam tão rapidamente os medicamentos é até agora
desconhecida, mas pelo menos esperamos que esses indícios,
139
que aparecem com a experiência, forneçam algum dia indicações
para que os pesquisadores possam tentar encontrar a natureza
exata dessa energia.
Enquanto a homeopatia se torna cada vez mais respeitada pela
surpreendente eficácia na cura de doenças de todos os tipos,
agudas ou crônicas, podemos ter esperança de que os
pesquisadores comecem a investigar a natureza dos
medicamentos homeopáticos. Conhecendo mais a respeito de
suas propriedades, será possível apurar nossas técnicas de
combinação dos medicamentos e potências aos pacientes,
individualmente, com uma precisão maior do que nos é possível
na atualidade. Essa é a única possibilidade que deve motivar os
investigadores a entrar nesse campo; é uma área de pesquisa
com amplos campos abertos tanto para as profundas
descobertas teóricas quanto para a aplicação prática, em
benefício da humanidade.
Sumário do capítulo 7
1. Toda substância, seja ela animada ou inanimada, possui um
campo eletromagnético.
2. Qualquer substância pode afetar o organismo humano de uma
dessas duas formas: pela ação química direta ou pela interação
dos campos eletromagnéticos, se as freqüências estiverem
suficientemente próximas para ressoar.
3. As substâncias biologicam.ente inertes são "fechadas" química
e energeticamente à interação com o corpo humano.
4. As substâncias biologicamente ativas podem agir
quimicamente sobre os tecidos do corpo. A reação específica do
organismo depende do grau de sensibilidade, ou "afinidade", para
com a substância.
5. Se a sensibilidade for suficientemente próxima, até mesmo a
forma natural de um,a substância biologicamente ativa pode ser
140
terapêutica, embora, de modo geral, o efeito seja apenas
temporário.
6. Para se obter resultados curativos duradouros, é necessário
aumentar a intensidade do campo eletromagnético da substância.
Isso é feito pela potencialização, através da sucussão e da
diluição. Apenas a sucussão ou a diluição não são eficazes.
7. Não há limites para o grau de possibilidades da
potencialização, até mesmo quando o número de Avogadro for
excedido e nenhuma molécula da substância original estiver
presente.
8. Por enquanto, não há explicação alguma disponível para esse
fenômeno, embora sua validade seja inegável. De certo modo, a
força do campo eletromagnético da substância original é
transferida para as moléculas do solvente sem, no entanto,
mudar a freqüência de ressonância.
9. Os medicamentos possuem propriedades que podem ser
indícios úteis para a futura pesquisa do fenômeno da
potencialização: elas são desativadas quando expostas à luz
indireta do sol, ao calor excessivo, acima de 110-120ºF e, talvez,
a substâncias aromáticas como a cânfora.
Capítulo 8
A interação dinâmica da doença
Até aqui, descrevemos o organismo humano como uma
totalidade integrada que responde aos estímulos morbíficos
externos inicialmente pela mudança no grau de vibração do nível
dinâmico eletromagnético. Se o mecanismo de defesa for fraco
ou o estímulo for muito poderoso em relação a ele, o grau de
vibração permanecerá alterado e o organismo será incapaz de
retomar ao estado original por si mesmo. Por essa razão,
potencializamos as substâncias para que possam, então, atuar,
fortalecendo o nível dinâmico, e as prescrevemos de acordo com
141
a lei dos semelhantes, de forma a tirar vantagem do princípio de
ressonância entre o agente terapêutico e o nível de vibração
resultante do organismo. Os estímulos capazes de alterar a
freqüência de ressonância do organismo podem ser fracos e
passageiros, como nas mudanças da umidade ou da pressão
barométrica, ou podem ser muito poderosos, como os profundos
choques emocionais ou estados de estresse prolongados e
graves. Neste capítulo examinaremos um pouco mais algumas
das influências mais poderosas que podem, de maneira profunda
e crônica, alterar a saúde de um indivíduo. Pela experiência
homeopática, três dessas poderosas influências, que devem ser
levadas em conta na história de um paciente, são as poderosas
enfermidades agudas, as terapias supressivas e as vacinas.
Essas três influências, quando o organismo está enfraquecido e
sua vibração, em um nível sensível, podem se tornar pontos crí-
ticos no histórico da saúde de um indivíduo.
Aforismo 36
I. Se as duas doenças dessemelhantes e coincidentes no ser
humano forem de intensidade equivalente ou, ainda, se a mais
antiga for mais forte, a nova doença será repelida do corpo pela
143
antiga e não lhe será permitido que o afete. Um paciente que
sofre de uma doença crônica grave não será atacado por uma.
disenteria outonal moderada ou por outra doença epidêmica... Os
que sofrem de tuberculose pulmonar não estão sujeitos ao
ataque de febres epidêmicas de caráter pouco violento."
Aforismo 38
II. Ou se a nova doença dessemelhante for mais forte.
Neste caso, a doença de que o paciente antes padecia, sendo
mais fraca, será contida e suspensa pela superveniência da mais
forte, até que esta complete seu curso ou seja curada e, então, a
antiga reaparece, incurada. Duas crianças afetadas por uma
espécie de epilepsia ficaram livres dos ataques depois de
contraírem uma infecção de tinhà (tínea); mas tão logo
desapareceu a erupção na cabeça a epilepsia manifestou-se
novamente exatamente como antes... Assim, também a tísica
pulmonar permaneceu estacionária quando o paciente foi
atacado por um violento tifo, mas continuou novamente depois
que este completou seu curso. Se ocorrer mania em um paciente
tuberculoso, a tísica com todos os seus sintomas será eliminada
pela primeira; mas se esta desaparecer, a tísica retomará
imediatamente, sendo fatal... E assim é com todas as doenças
dessemelhantes; a mais forte suspende a mais fraca (quando
uma não complica a outra, o que quase nunca acontece com as
doenças agudas), mas elas nunca se curam uma à outra.
Aforismo 40
lII. Ou a nova doença, depois de ter agido durante muito tempo
no organismo, junta-se por fim à antiga, que lhe é
dessemelhante, e forma com ela uma doença complexa, de
forma que cada uma delas ocupa um determinado lugar no
organismo, isto é, os órgãos que lhe são peculiarmente
adaptados e o espaço que, de forma especial, lhe pertence,
144
deixando o restante para a outra doença, que lhe é
dessemelhante... Como doenças dessemelhantes, elas não
podem eliminar nem curar uma à outra... Quando duas doenças
agudas infecciosas e dessemelhantes se encontram, como a
varíola e o sarampo, uma geralmente suspende a outra, como foi
observado antes; no entanto, também houve epidemias gràves
desta espécie em que, em casos raros, duas doenças agudas
dessemelhantes ocorreram simultaneamente no mesmo corpo e,
por um curto período, combinaram-se, por assim dizer, entre si.
"Aforismo 43
No entanto, o resultado é inteiramente diferente quando duas
doenças semelhantes coincidem no organismo, quando, por
assim dizer, à doença já existente se acrescenta uma semelhante
e mais forte. Em tais casos vemos como a cura pode ser
efetuada pelas operações da natureza, e aprendemos uma lição
de como deve o homem curar-se.
Aforismo 44
Duas doenças semelhantes não podem repelir-se (como se
afirma em relação às doenças dessemelhantes, em I) nem (como
foi mostrado a respeito das doenças dessemelhantes, em 11)
suspender uma à outra, de forma que a mais antiga retoma
depois que a nova tenha completado seu curso; e é bem pouco
provável também que duas doenças semelhantes (como foi
demonstrado em III com referência às afecções dessemelhantes)
coexistam no mesmo organismo, ou juntas formem uma doença
complexa dupla."
Aforismo 45
É verdade que nem mesmo duas doenças diferentes em espécie,
mas muito semelhantes nos seus fenômenos, efeitos,
sofrimentos e sintomas graves que produzem, invariavelmente se
145
destroem mutuamente sempre que coincidem no organismo; isto
é, a doença mais forte destrói a mais fraca, e isso pela simples
razão de que o poder morbífico mais forte, quando invade o
sistema, em virtude de sua semelhança de ação, envolve
precisamente as mesmas partes do organismo que foram
anteriormente afetadas pela irritação morbífica mais fraca, a qual,
por conseguinte, não pode mais agir sobre essas partes, sendo
extinta, ou (em outras palavras) a potência morbífica nova e
semelhante, porém mais forte, controla as sensações do paciente
e daí em diante o princípio vital, em virtude de sua própria
peculiaridade, não pode mais sentir a doença semelhante e mais
fraca, que se extingue - deixa de existir -, pois nunca foi algo
material, mas sim uma afecção (conceitual) dinâmica - de
inclinação espiritual. Somente o princípio da vida, doravante, é
afetado, e apenas temporariamente, pela nova potência
morbífica, mais forte e semelhante.
Terapias supressivas
Comentei durante todo o livro os perigos de se prescrever
agentes terapêuticos baseando-se apenas em sintomas locais,
enquanto se ignora a totalidade da expressão do sintoma. A
medicina alopática, em partictllar, desenvolveu toda uma
metodologia terapêutica baseada no conceito de contraposição
de sintomas e síndromes específicos. As próprias drogas
alopáticas constituem choques morbíficos para o organismo e,
por conseguinte, estimulam uma reação por parte do mecanismo
de defesa. Essa resposta do mecanismo de defesa consiste em
sintomas que geralmente são chamados de "efeitos colaterais"
pelo médico alopata. Esses sintomas são, pelo contrário, sinais
de sensibilidade por parte do organismo; eles são a melhor
resposta possível do mecanismo de defesa para contrapor-se ao
estímulo morbífico da droga. Dessa forma, as drogas em si
podem ser vistas como doenças, seguindo-se a mesma dinâmica
descrita por Hahnemann nos aforismos já transcritos.
Hahnemann comenta especificamente o efeito das drogas
alopáticas no Aforismo 76.
147
"A benéfica Divindade nos concedeu, na Homeopatia, os meios
para proporcipnar alívio somente às doenças naturais; mas as
devastações e mutilações feitas ao organismo humano, exterior e
interiormente, freqüentemente afetado durante anos pelo
exercício impiedoso de uma falsa arte, com suas drogas e
tratamentos prejudiciais, devem ser remediadas pela própria
força vital (sendo concedido o auxílio apropriado para a
erradicação de qualquer miasma crônico que possa estar
escondido no segundo plano) se esta já não foi por demais
enfraquecida por esses atos nocivos, e puder devotar-se por
vários anos a essa grandiosa operação sem ser perturbada. Não
há e não pode haver uma arte humana de cura para restaurar o
estado normal dessas inumeráveis condições anormais, tão fre-
qüentemente produzidas pela arte alopática não curativa."
Vacinação
A vacinação é citada por muitos como um exemplo do uso
alopático da lei dos semelhantes; superficialmente, isso poderia
parecer verdade porque as vacinas são pequenas quantidades
de material capaz de produzir doenças nas pessoas normais. Se
refletirmos sobre os princípios enunciados neste livro, no entanto,
rapidamente esclareceremos este ponto de confusão. As vacinas
são administradas em populações inteiras sem qualquer
consideração para com a individualidade. Cada indivíduo tem um
unico grau de sensibilidade com relação a cada vacina e, no
entanto, ela é administrada sem levar em consideração essa
singularidade. Por conseguinte, o conceito de vacina é quase o
oposto dos princípios da homeopatia; é a administração
indiscriminada a todas as pessoas de uma substância estranha,
sem levar em consideração o estado de saúde ou a sensibilidade
individual.
151
O que ocorre exatamente ao organismo quando da aplicação de
uma vacina? Naturalmente, os estudos modernos feitos no
campo da imunologia documentam muito bem as variedades dos
mecanismos químicos e celulares que são ativados. De qualquer
forma, somos levados a perguntar: o que acontece no plano
dinâmico quando a vacina é administrada?
A experiência de perspicazes observadores homeopáticos tem
mostrado de forma conclusiva que, numa porcentagem grande de
casos, a vacinação tem um efeito profundamente perturbador
sobre a saúde de um indivíduo, particularmente com relação à
doença crônica. Sempre que uma vacina é administrada, ela
tende a mudar a taxa de vibração eletromagnética, da mesma
maneira que uma doença grave ou uma droga alopática.
Dependendo do estado de saúde do indivíduo, podem ocorrer
duas respostas básicas depois da vacinação:
1. Reação amena.
2. Reação forte, com febre e outros sintomas sistemáticos.
3. Reação muito forte, com complicações tais como encefalite,
meningite, paralisia, etc.
156
Sumário do capítulo 8
Sumário da parte sobre influência da doença
Capítulo 9
Predisposição à doença
Deve estar bem claro que a doença é o resultado de um estímulo
morbífico que ressoa no nível particular de suscetibilidade do
organismo. Esse estímulo, chamado de causa excitante, pode ser
um microrganismo, uma substância química estranha, um choque
emocional, uma droga alopática, uma vacina ou qualquer uma de
muitas outras influências. Para que a doença se manifeste, é
necessária uma forte suscetibilidade ao agente morbífico; essa
predisposição é chamada de causa mantenedora, pois é a
fraqueza do mecanismo de defesa que mantém um estado de
saúde reduzido e não uma sucessão de causas excitantes. Neste
capítulo, devemos considerar exatamente o que é essa
predisposição, quais suas características, como ela é transmitida
e qual sua importância no tratamento.
Como foi descrito no capítulo 5, a suscetibilidade de uma pessoa
tende a variar dentro do estreito espectro das enfermidades.
Durante toda a vida um indivíduo permanece em um certo nível
de suscetibilidade, a menos que uma influência mais importante
(como as discutidas no capítulo 8) produza um salto de nível;
mesmo assim, o organismo permanecerá no novo nível, a menos
que seja tratado homeopaticamente. Dentro de uma certa escala
de doenças, uma pessoa sofrerá variações de acordo com fato-
res como: quantidade de horas de sono, nutrição, medidas
sanitárias, grau de estresse em sua vida, etc. Por outro lado, será
incapaz de operar mudanças de um nível para outro por si
mesma.
Em primeiro lugar, de que maneira uma pessoa adquire
predisposição a uma enfermidade? De que maneira é
estabelecida a fraqueza em determinado nível? Como sabemos,
159
poderosas enfermidades agudas, drogas alopáticas e vacinas
são fatores considerados importantes, mas é claro também que
grande parte da predisposição é hereditária. É bem conhecido o
fato de que algumas doenças, como as do coração, o câncer, o
diabetes, a dança de São Vito, a tuberculose, o alcoolismo, a
esquizofrenia e muitas outras, tendem a circular nas famílias.
Todos os médicos já observaram com freqüência que existe
predisposição para uma doença séria per se em certas famílias e
não em outras. Por exemplo, um paciente pode desenvolver
sintomas de colite ulcerosa na juventude, embora ninguém de
sua família tenha tido colite; ao pesquisar-se a história da família,
no entanto, descobre-se que os pais e avós foram doentes a
maior parte da vida, vítimas de diferentes enfermidades. É muito
raro uma pessoa adquirir uma doença crônica séria quando
jovem se os ancestrais foram todos saudáveis até idade
avançada.
Sabe-se que a composição genética, o ADN, de um indivíduo
desempenha um papel na formação da predisposição hereditária
à doença, mas isso não é tudo. Como veremos mais adiante, é
possível que um pai adquira uma enfermidade cuja influência
pode ser transmitida aos filhos, embora não tenha ocorrido
nenhuma mudança conhecida na estrutura genética do pai.
Levando em consideração o plano dinâmico, é muito fácil
imaginar como isso aconteceu. Se a força vital estiver
significativamente enfraquecida nos pais, o campo eletrodinâmico
do filho pode ser, do mesmo modo, enfraquecido no momento da
concepção.
Dá-se o reconhecimento clínico dessa causa mantenedora da
doença quando vemos um paciente voltar ao consultório mais de
uma vez com a mesma queixa ou com outra semelhante, embora
os medicamentos homeopáticos pareçam ter agido bem em cada
crise aguda. Nestes casos, parece que os medicamentos
afetaram o mecanismo de defesa num nível insuficientemente
160
profundo de sua predisposição. Foi por ter se sentido frustrado
com esses casos que Hahnemann devotou os últimos anos da
sua vida à pesquisa das causas dessas profundas
predisposições. Tais investigações, finalmente, levaram à sua
terceira contribuição mais importante para a medicina: a teoria
dos miasmas.
No Aforismo 72 do Organon, Hahnemann descreve suas
observações iniciais sobre tal matéria.
164
Para a maioria de nós, no mundo moderno, esse conceito pode
parecer um pouco simplista. Entretanto, ele coincide com o que
foi dito até agora com relação à supressão dos sintomas dos
níveis periféricos para níveis mais profundos. Esse é um bom
exemplo do modo pelo qual a freqüência de ressonância do
organismo pode ser mudada, criando, assim, suscetibilidade às
enfermidades mais profundas. Em seu livro Chronics diseases,
Hahnemman cita um grande número de casos que demonstram
esse princípio de forma muito convincente:
166
Hahnemann, enfim, descreveu três miasmas básicos, que
acreditava serem as causas subjacentes à doença crônica. Em
qualquer paciente pode haver um miasma ou uma combinação
deles. O primeiro que ele descreveu foi o miasma psórico
(derivado da palavra grega "psora", que quer dizer "sarna").
Hahnemann achava que esse foi o primeiro miasma a afetar a
raça humana e, por conseguinte, a camada mais fundamental
subjacente à fraqueza, sobre a qual as demais foram
construídas. As doenças específicas que Hahnemann associou
com a psora iam virtualmente desde todas as enfermidades
físicas, inclusive o câncer, diabetes, artrite, etc., até as mais
graves doenças mentais, como a epilepsia, a esquizofrenia e a
imbecilidade.
Hahnemann acreditava que o segundo miasma a afetar a raça
humana foi o miasma sifilítico. A doença específica da sífilis era
considerada uma das manifestações dessa predisposição, mas
estava também implicada numa extensa escala de outros
distúrbios encontrados nos últimos estágios de outros miasmas.
Ele acreditava que os pacientes que sofrem do miasma da sífilis
adquiriram essa influência pela exposição à sífilis ou pela
hereditariedade de um ancestral contaminado - sendo essa
característica transmitida de geração para geração.
O terceiro miasma hahnemanniano é o miasma da sicosi (raiz da
palavra grega "syco", que significa "figo"). Ele achava que esse
miasma havia surgido da gonorréia, contraída tanto pelo próprio
paciente quanto por um de seus ancestrais.
Deve-se esclarecer que Hahnemann não levava em
consideração os micróbios atuais, o espiroqueta ou o gonococo,
como causa específica dos miasmas venéreos. Consideravam-se
esses micróbios, assim como todos os agentes causadores de
doença, como possuidores de influência morbífica no plano
dinâmico. Se o paciente estiver enfraquecido pelo miasma
psórico, expondo-se a seguir a uma doença venérea por contato
167
sexual, essa combinação leva ao mal e, em seguida, ao miasma.
Nem todo mundo que realmente adquire gonorréia progride para
o miasma da sicosi; somente uma porcentagem relativamente
pequena o desenvolve, mas logo que essa "mácula" se implanta
no plano dinâmico do organismo é passada adiante de geração
para geração.
Um equívoco comum a respeito da teoria miasmática é o de que
as condições patológicas específicas resultam de miasmas
específicos. Por exemplo, diz-se com freqüência que o eczema é
uma doença psórica, que as úlceras são sifilíticas e que o câncer,
as psoríases e outras mais resultam de uma combinação dos três
miasmas. Na realidade, todos os três miasmas podem resultar
em qualquer mudança patológica. Câncer, diabetes, insanidade,
imbecilidade, etc., podem surgir do último estágio de qualquer um
dos miasmas, ou de uma combinação entre eles.
O grau de fraqueza crônica do mecanismo de defesa é o
resultado direto da intensidade das influências miasmáticas. Se
compararmos dois pacientes com leucemia, por exemplo, a idade
em que a doença ocorre é a medida do número de miasmas
envolvidos. Se a leucemia se desenvolver aos setenta anos,
depois de uma vida saudável, é provável que esteja envolvido
apenas o miasma psórico. Se, por outro lado, aparecer na
infância, é muito provável que três ou mais miasmas estejam
implicados. Ter idéia do número de miasmas envolvido, enquanto
se avalia um caso individual, é importante para o prognóstico;
quanto maior o número de miasmas envolvidos, mais lenta será a
resposta ao tratamento.
Desde a época de Hahnemann, a teoria miasmática tem sido
muito mal aplicada e mal compreendida pelos homeopatas.
Muitos deles simplesmente ignoram o conceito como se fosse
muito simplista ou de pouco valor prático. Muitos adotaram a
teoria sem crítica alguma, simplesmente como um ato de fé para
com o mestre que legou tantas contribuições. Infelizmente, essa
168
fé cega impede uma compreensão real da idéia e sua maior
elaboração pela verdadeira prática clínica. Conseqüentemente,
existem, na atualidade, duas escolas principais de medicina
homeopática com relação aos miasmas: uma que ignora a idéia e
outra que a aceita impensadamente e, por conseguinte, adota
uma fórmula de prescrição na tentativa de "esclarecer" o caso
dos miasmas. A confusão e a controvérsia que disso resultaram
desde a morte de Hahnemann causaram um espantoso grau de
equívocos a respeito do conceito de miasma; por essa razão,
neste livro enfatizarei o termo "predisposição" ao invés de
"miasma". Além disso, não descreverei os detalhados sinais e
sintomas clínicos associados a cada miasma, para evitar que os
leitores incorram em erro aceitando a idéia de prescrever
baseados apenas no miasma.
Mais uma confusão que surgiu desde os tempos de Hahnemann
é a de que certos miasmas são uma combinação complexa de
dois ou mais dos miasmas originais. O exemplo mais conhecido
dessa confusão é o do assim chamado "miasma da tuberculose",
que é, na verdade, uma combinação de psora e sífilis. A história
das doenças neste planeta contradiz claramente essa teoria. O"
miasma da tuberculose é uma das doenças mais antigas da
humanidade, encontrada nos esqueletos dos seres humanos
primitivos. O da sífilis, por outro lado, era desconhecido do conti-
nente europeu até ser levado da América do Norte por Colombo.
A contribuição mais importante de todas as investigações que
Hahnemann fez sobre os miasmas é a afirmação da existência
das camadas de predisposição, subjacentes aos períodos de
alternância das doenças temporárias; "essas camadas devem ser
levadas em conta em um tratamento que pretenda ser
completamente curativo. Em tais casos, a cura completa exigirá
um tempo relativamente longo, enquanto o médico remove
sistematicamente camada após camada das predisposições às
fraquezas, prescrevendo com cuidado cada medicamento,
169
baseado na totalidade dos sintomas do momento (ver figura 9).
Cada camada é sempre o resultado de outras camadas
subjacentes, e há uma seqüência definida em sua apresentação.
Se um medicamento for prescrito regularmente com base apenas
no passado ou no histórico da família e não na sintomatologia
atual do paciente, ele pode, na verdade, interromper o processo
de cura. Pior ainda, essa prescrição pode desordenar o
mecanismo de defesa a ponto de dificultar o discernimento da
imagem do medicamento correto.
O conceito de camadas de predisposição teve um considerável
valor prático nos casos de doença crônica reincidente. Por
exemplo, se um paciente consultar um homeopata devido a dores
de cabeça crônicas que começaram após uma exposição ao frio,
e o médico receitar beladona, acabará descobrindo que as dores
de cabeça desaparecem de forma extraordinária. Se o paciente
tiver uma constituição muito forte, o problema pode permanecer
curado por um bom tempo. No entanto, a grande maioria das
pessoas são gradualmente enfraqueci das pelas influências
hereditárias, pelas drogas ou pelas vacinas, que resultaram em
várias camadas de predisposição. No momento em que o
paciente mencionado faz sua primeira consulta com um
homeopata, a totalidade dos sintomas representa apenas a
camada predominante das suas predisposições. Com o tempo, a
camada seguinte provavelmente se manifesta, podendo o
paciente apresentar sintomas como grande sensibilidade ao frio,
desejo excessivo de doces e ovos quentes, vertigens em lugares
altos e calor nas solas dos pés quando está deitado. Então, o
homeopata percebe que a nova complexidade de sintomas,
embora não seja tão paralisadora para o paciente quanto as
dores de cabeça, ainda representa uma limitação à sua
liberdade. Com base nessa nova totalidade de sintomas,
prescreve-se Calcarea carbonica e a saúde do paciente
apresenta uma melhora maior ainda, sem que haja nova
170
manifestação das dores de cabeça. Neste exemplo, Hahnemann
diria que a segunda camada devia-se ao miasma psórico.
1. Influência hereditária
2. Doenças infecciosas graves
3. Tratamentos e vacinas anteriores
Sumário do capítulo 9
1. A doença é o resultado de uma "causa excitante" e de uma
"causa mantenedora". A causa mantenedora é a predisposição
herdada para a doença crônica, o "miasma".
2. A predisposição para o miasma não é apenas uma questão
que envolve o ADN, pois as doenças adquiridas durante a vida
podem transmitir suas influências às gerações subseqüentes.
3. As predisposições à doença crônica são a razão primária pela
qual em alguns casos continua a haver recaída apesar da terapia
correta.
4. As teorias miasmáticas de Hahnemann foram muito mal
compreendidas, ignoradas, ou irrefletidamente transformadas em
fórmulas para se "limpar" um caso dos miasmas.
5. As camadas de predisposição são eliminadas uma de cada
vez. Um medicamento dado num momento impróprio não surte
nenhum efeito ou cria um dano verdadeiro de dois tipos: pode
interferir no progresso da cura e perturbar o mecanismo de
defesa o bastante para evitar o aparecimento.de um quadro de
sintomas claro.
6. As predisposições miasmáticas não são apenas simples
herança de uma condição patológica bem definida, mas, pelo
contrário, a herança de uma síndrome particular, que
corresponde à influência do miasma.
7. O miasma é caracterizado pela transmissão de geração para
geração e pelo alívio obtido pelo nosódio correspondente.
8. A predisposição de uma criança é a combinação das
predisposições dos pais. A predisposição transmitida pelos pais é
o resultado tanto do estado geral quanto do estado específico de
179
saúde.
Parte II
Os princípios da homeopatia na aplicação prática
Introdução
Como foi descrito na parte I, os processos que tratam da saúde e
da doença são compreendidos por leis e princípios verificáveis.
Embora essas leis e princípios sejam conhecidos há séculos,
somente em tempos recentes o genial Samuel Hahnemann
possibilitou sua formulação na ciência curativa da homeopatia.
Assim como a física sofreu uma mudança desde a era
newtoniana até os conceitos da física moderna, o campo da
medicina lentamente começa a investigar os domínios dos
campos de energia no corpo humano.
Os conceitos apresentados na parte I são interessantes e
plausíveis por si mesmos, mas não passam de idéias estéreis até
serem provados na arena da real experiência clínica. É na
aplicação desses conceitos que as verdades profundas da
homeopatia se tornam vivas qe significado e vívidas na ação.
Após ler este e outros livros sobre homeopatia, o leitor pode
adquirir uma compreensão intelectualmente clara da lei dos
semelhantes, das leis da direção da cura, da potencialização e
dos conceitos sobre as predisposições subjacentes à doença.
Essa compreensão intelectual, no entanto, está muito distante da
aplicação. Em termos específicos, como uma totalidade de
sintomas é deduzida de um paciente de forma que as atividades
de seu mecanismo de defesa possam tornar-se visíveis? De que
maneira, também, chegamos ao quadro de sintomas obtido pelos
medicamentos homeopáticos? Na prática, como podemos
180
combinar essas duas imagens quando confrontadas com um
determinado paciente? Uma vez receitado um medicamento, de
que maneira precisamente os princípios teóricos se manifestam
em resposta? Todos sabem que os seres humanos muito
raramente se ajustam a padrões nítidos e simples; de que forma,
então, a homeopatia pode ser aplicada nos casos complexos que
envolvem vários fatores interferentes?
Por ser a homeopatia uma terapia baseada somente na
estimulação do grau de energia do ser humano, as leis e
princípios subjacentes que regem esse domínio devem ser
completamente entendidos pelo médico homeopata antes de
tentar o tratamento de um caso real. Uma vez compreendidos os
princípios subjacentes, o passo seguinte émergulhar na arte da
homeopatia. Cada paciente é um indivíduo. A abordagem exata
de cada paciente é, por conseguinte, altamente individualizada.
Pode-se tentar analisar, passo a passo, a maneira exata pela
qual os princípios básicos são aplicados ao paciente, mas o
processo real da prescrição de um medicamento está mais
relacionado com a arte. Tendo compreensão dos princípios, o
homeopata aprende a arte de conhecer o paciente, de extrair
dele a imagem única de seu estado patológico e de, finalmente,
escolher com precisão o medicamento e a potência necessários
àquele paciente em particular. Isso dá início a um processo que
estimula o mecanismo de defesa, e leva a outra decisão, a saber,
se o medicamento agiu e de que maneira. O próximo passo é
escolher o medicamento e a potência seguintes, e o processo
continua. Cada decisão exige uma total compreensão das leis e
princípios fundamentais, mas em cada caso essa compreensão é
fundida de forma artística numa aplicação única para cada pa-
ciente.
O encontro entre um paciente e um hcimeopata é uma interação
íntima dos dois. O paciente, naturalmente, tem a
responsabilidade de relatar da maneira mais completa e exata
181
possível todos os aspectos de sua existência, até mesmo ao
descrever os sintomas, mais íntimos. O médico, no entanto, não
é apenas um observador passivo, protegido por uma parede de
objetividade. Cada paciente enreda o homeopata de maneira
profunda e significativa. Devido à própria natureza da
homeopatia, o médico se torna participante íntimo da vida do
paciente, envolvendo-se em cada um de seus aspectos e sendo,
de imediato, solidário e sensível, bem como objetivo e
compreensivo. Para o homeopata, cada dia é um processo vivo,
e a experiência das regiões mais profundas da existência
humana é obtida de forma muito rápida. Quando a homeopatia é
praticada com esse grau de envolvimento, ela tanto estimula o
crescimento do médico quanto do paciente.
Em cada caso, o homeopata enfrenta uma nova variação dos
muitos modos pelos quais as leis fundamentais são aplicadas aos
indivíduos. Cada caso é tão único que é literalmente impossível
escrever um manual que possa aplicar-se com precisão a um
determinado indivíduo. Ainda assim, é possível descrever os
padrões comumente vistos na prática homeopática; tal é o
propósito da parte II deste livro. Ela pretende fornecer pautas
pelas quais os médicos homeopatas possam aprender a aplicar
os princípios enunciados na parte I.
É muito importante reconhecer que a arte da aplicação prática
não pode ser aprendida apenas nos livros. Os livros podem
fornecer uma estrutura geral, mas não são suficientes para tornar
o praticante capaz de lidar com um caso específico. A instrução
supervisionada por um homeopata experiente é absolutamente
necessária. Essa instrução ensina ao iniciante a necessidade de
julgar cada caso em particular de modo a ser coerentemente
exato na tomada de decisão. No início, os equívocos são muito
freqüentes, o que é inevitável; mas o feedback proporcionado por
um homeopata experiente pode capacitar o praticante a aprender
com ele. A própria qualidade da circunspecção, tão necessária, é
182
aprendida. Ela ajuda a desenvolver a capacidade para ser
decidido e, ao mesmo tempo, estar disposto interiormente a
duvidar de todos os julgamentos. Esse procedimento exige um
treinamento intenso, tanto para a homeopatia quanto para as
demais realizações profissionais.
Neste manual, presume-se o conhecimento relativo de uma
informação médica regular por parte do leitor. Assuntos como
anatomia, psicologia, diagnóstico físico e de laboratório, as
muitas variedades de diagnóstico para as diversas categorias de
doença, assim como os tratamentos médicos regulares para
essas categorias são importantes para se ter uma visão
abrangente do que está ocorrendo com um paciente num
determinado momento. Mesmo que a nomenclatura padronizada
das doenças utilizadas pela ciência médica não seja básica para
a seleção do medicamento homeopático, é importante um
conhecimento acurado do estado patológico do paciente para se
chegar a um prognóstico preciso de qualquer caso.
Por essa razão, os médicos automaticamente levam certa
vantagem ao lerem a respeito da homeopatia. Presume-se que
eles estejam prontos para mergulhar diretamente no material
puramente homeopático aqui apresentado. A experiência mostra,
no entanto, que, por razões práticas e doutrinais, é provável que
os médicos não respondam à homeopatia em número suficiente
para satisfazer à demanda pública crescente. Por outro lado; é
bem possível que muitos estudantes que não fazem medicina se
empenhem no estudo disciplinado da homeopatia. Por isso, é
importante enfatizar que, embora não seja necessário ser um
especialista em assuntos médicos, para se tornar um bom
homeopata é necessário estar bem informado a respeito da
ciência médica a fim de corresponder adequadamente à
responsabilidade para com os pacientes.
Nesta parte, tentaremos discutir de modo detalhado os vários
aspectos técnicos da receita homeopática. Em cada capítulo os
183
princípios descritos na parte I serão traduzidos, na medida do
possível, em termos práticos. Por essa razão, essas duas partes
estão sendo combinadas em um volume: trata-se de duas
maneiras de descrever as mesmas leis e princípios.
Capítulo 10
O nascimento de um medicamento
Uma vez dominada a teoria homeopática fundamental, nossa
principal preocupação será com o próprio medicamento
homeopático - o instrumento pelo qual o processo da cura é
acionado. Para ser eficiente, esse instrumento deve ser
altamente refinado no preparo e experimentado de forma
acurada. Na atualidade, existem, literalmente, milhares de
medicamentos derivados de minerais, plantas e tecidos doentes,
cujas características foram completamente delineadas por
experimentações cuidadosamente conduzidas, e alguns outros
milhares que foram apenas parcialmente experimentados.
Todavia, para que a homeopatia continue a progredir, é
necessário continuar realizando experimentos com novos
medicamentos, o que fatalmente leva a uma expansão do
equipamento terapêutico. Para atingir esse objetivo, é necessário
ter claramente definidos os modelos dos métodos atuais de
realização de uma experimentação acurada e completa.
A base teórica fundamental para a experimentação de drogas em
pessoas saudáveis foi enunciada originalmente por Samuel
Hahnemann, conforme descrição no capítulo 6. No Aforismo 21,
Hahnemann descreve o princípio básico:
189
Basicamente, existem três critérios para determinar se um
medicamento sofreu uma completa experimentação:
A experiência
A prova experimental de uma nova droga sempre deve ser
levada adiante de uma forma "double-blind", na qual nem os
experimenta dores nem os sujeitos conheçam a droga que está
sendo experimentada (figura 12). O responsável pela experiência
é quem decide sobre a substância a ser experimentada,
assegurando-se de que os métodos usados no decorrer da prova
se conformem aos mais altos padrões. Ele também decide, de
acordo com as técnicas aleatórias de rotina, quais os sujeitos que
irão receber a substância experimental e quais os placebos. Para
25 por cento dos sujeitos, aproximadamente, serão ministrados
placebos, enquanto os demais receberão a substância a ser
testada. Esta e os placebos devem ser acondicionados de
maneira idêntica, e o código que identifica os sujeitos em teste
que receberam os placebos deve-ser mantido em segredo tanto
195
para os experimentadores como para os sujeitos. Instruções
estritas devem ser fornecidas a todos os experimentadores para
que não se comuniquem entre si, sob nenhuma circunstância,
trocando informações a respeito dos sintomas.
A experiência começa com a administração da substância a ser
testada nos sujeitos apropriados numa dosagem hipotóxica. A
potência pode oscilar de 1X até aproximadamente 8X - sendo
usado 1X para as substâncias relativamente não-tóxicas (por
exemplo, plantas comestíveis) e de 8X a 12X para as substâncias
mais tóxicas (por exemplo, ácido cianídrico). As doses são dadas
três vezes ao dia durante um mês, ou até que os sintomas
apareçam. Devem ser dadas instruções cuidadosas para que
todas as doses sejam suspensas sempre que quaisquer sintomas
definidos, que não sejam comuns, apareçam. Entretanto, as
anotações detalhadas são mantidas três vezes ao dia, mesmo
depois da suspensão do medicamento. A observação deve
continuar até um mês depois de ter sido completada a
administração do medicamento, prosseguindo durante mais três
meses ou o tempo que for preciso para se certificar de que mais
nenhum sintoma novo está surgindo.
196
Supondo-se que de cinqüenta a cem sujeitos participem dessa
experiência, somente um sujeito muito especial passará por uma
cura dos sintomas preexistentes, alguns desenvolverão novos
sintomas em poucos dias, um grupo maior mostrará sintomas
depois do vigésimo dia, e a maioria mostrará pouco ou nenhum
sintoma durante todo o período de observação. Essa grande
variação de resposta é perfeitamente esperada devido à variação
de sensibilidade descrita na figura 11. Os que imediatamente
produzem sintomas são os mais sensíveis. ao medicamento; são
esses os sujeitos que continuarão a experiência mais tarde, com
197
potências mais altas.
Depois de passado o tempo necessário para se ter certeza de
que não surgirá mais nenhum sintoma da primeira fase, esses
sujeitos que reagiram rapidamente às doses hipotéxicas
receberão os mesmos medicamentos na trigésima potência e, de
novo, 25 por cento deles receberão placebos, de forma aleatória.
Isso é repetido uma vez todos os dias durante duas semanas. O
período de observação a seguir deve continuar por pelo menos
mais três meses, ou até se tornar evidente que mais nenhum
sintoma novo surgirá. Como sempre, se os sintomas se
manifestarem imediatamente, as doses seguintes serão
suspensas, enquanto os sintomas continuam a ser registrados
sob condições rigorosas até cessarem. Quando todos os
sintomas tiverem desaparecido, o sujeito da experimentação
deve transcrever seu diário no painel e voltar para casa.
A última administração de alta potência deve ser retardada por
um ano, tempo durante o qual podem ser feitas as observações
menos formais no ambiente normal do sujeito. Após esse período
de descanso, os mesmos sujeitos que receberam a trigésima
potência se reúnem outra vez nesse meio ambiente rural e
experimental e passam outro período de preparo, restabelecendo
as observações de "linha de base". Em seguida, é ministrada
uma dose de potência 10M ou 50M (e, de novo, 25 por cento
deles recebem placebos), enquanto são observados
intensamente por mais um período de três meses ou até que
todos os sintomas cessem.
Na conclusão da experiência, o painel de experimentadores
reúne todos os cadernos de anotação e, um por um, cataloga os
sintomas que representam um desvio do estado normal do
sujeito. Os experimentadores devem se encontrar e tentar
elaborar e esclarecer cada sintoma da forma mais cuidadosa
possível - descrevendo completamente as causas excitantes, o
tempo de duração e as modalidades. Por fim, a experiência é
198
"revelada". Os sintomas gerados pelos sujeitos que receberam
placebos são retirados dos registros dos sujeitos em teste, a
menos que haja uma discrepância marcante na freqüência ou
intensidade. Os experimentadores, então, cotejam todos os
sintomas remanescentes, entregando-os para publicação.
201
Na literatura homeopática, existe uma variedade de tipos de
matéria médicas que oferecem descrições dos diferentes níveis
do processo do nascimento de um medicamento. Talvez a melhor
maneira de ilustrar este assunto seja seguindo o "crescimento"
da imagem de um medicamento nas diversas materia medicas.
Levaremos em consideração um dos mais conhecidos remédios
da homeopatia, o Arsenicum album. Para começar, existem os
dados primitivos, bastante detalhados, do experimento original.
Esse experimento foi citado por Hahnemann, em seu livro
Chronic diseases, e é um dos marcos da literatura homeopática.
Por ser muito ilustrativo a nível do detalhe e da profundidade
fenomenais que Hahnemann imprimia ao seu trabalho, citamos
amplamente este exemplo no final deste capítulo.
Os resultados desses experimentos estão, desse modo, reunidos
em volumosas matéria médicas como a Encyclopedia of pure
materia medica, de Allen, em dez volumes, e o Guiding
symptoms, também em dez volumes, de Hering. São trabalhos
de referência úteis, que qualquer homeopata deve possuir, pois,
além dos sintomas detalhados, eles também se utilizam de
símbolos para indicar as gradações relativas aos sintomas mais
importantes.
202
O Dictionary of practical materia medica também é um exemplo
de materia medica que condensou os dados brutos em sumários
compactos dos sintomas, ordenados pelo sistema anatômico. É
um valioso livro de referência por ser bem detalhado e também
muito conveniente ao uso. Além disso, cada medicamento é
apresentado numa parte que, de forma lúcida, descreve as
principais características clínicas e os casos exemplares que
foram curados.
Por fim, a "essência" ou personalidade dê um medicamento é
descrita numa materia medica que melhor se exemplifica com o
livro Lectures on homeopathic materia medica with new
remedies, de Kent. Essa monumental contribuição à homeopatia
deveria constituir objeto de estudo e meditação contínuos, na
carreira de qualquer homeopata. Kent não faz nenhuma tentativa
de apresentar um delineamento completo de todos os sintomas
manifestados com cada um dos medicamentos. Em vez disso,
tenta descrever a "essência" principal, a personalidade essencial
de cada medicamento da forma como foi compilada pela sua
arguta experiência. Kent foi um clínico e observador
incomparável, e é o melhor do seu conhecimento e experiência
que torna essa materia medica tão confiável.
Um exemplo clássico de um experimento feito cuidadosamente é
dado no apêndice A. E um extrato do experimento original de
Hahnemann com o Arsenicum album, um dos medicamentos
mais comumente usados na materia medica homeopática.
Capítulo 11
O preparo dos medicamentos
Qualquer método terapêutico deve dominar os aspectos técnicos
dos materiais usados, se houver alguma esperança de se
alcançar resultados que possam ser reproduzidos. Os padrões
dos materiais e métodos devem ser cuidadosamente
203
estabelecidos e seguidos à risca. Isso é verdadeiro tanto para a
homeopatia quanto para as demais ciências.
Em sua maior parte, a responsabilidade pela padronização
técnica recaiu sobre os ombros dos farmacêuticos homeopáticos.
Levando-se em consideração a exigüidade da dose administrada
a cada paciente, é fácil imaginar os problemas que esses
farmacêuticos têm para obter, de maneira justa, algum lucro.
Apesar das suas dificuldades, eles têm feito um trabalho
admirável, fornecendo aos homeopatas de todo o mundo
excelentes medicamentos, de padrão confiável. No entanto, para
que esses padrões sejam mantidos, todo praticante deve tomar
providências para apoiar os farmacêuticos no preparo e
distribuição desses preciosos medicamentos. Não é o bastante
simplesmente juntar os medicamentos em nossos consultórios e,
às cegas, tomar como certo que o suprimento estará sempre à
mão. Pelo contrário, devemos fazer acordos pelos quais nossos
farmacêuticos sejam beneficiados com nossas prescrições tanto
quanto nós mesmos e nossos pacientes. Caso contrário, a
confiabilidade e disponibilidade dos medicamentos de-
saparecerão ao mesmo tempo; tal procedimento, assim como a
oposição das sociedades médicas ortodoxas, podem levar a
homeopatia à morte.
Ao considerarmos os padrões técnicos para a própria produção
dos remédios homeopáticos, devemos antes dar, atenção ao
preparo inicial da planta, do mineral ou do nosódio para a
obtenção de uma forma viável de potencialização. Além disso, é
muito importante ater-se aos padrões específicos para a
potencialização. Por fim, e isso vai ser apresentado no capítulo
19, a estocagem, o manuseio e a administração dos
medicamentos devem ser compreendidos e seguidos.
Logo que uma planta (ou uma porção dela) for colhida de
maneira correta, será então preparada de forma a tornar-se
própria para o processo padrão da potencialização. Geralmente,
isso implica o preparo de uma tintura da planta. O preparo das
tinturas é um procedimento padronizado, muito conhecido pelos
botânicos e herboristas, mas para os nossos propósitos a
descrição padrão é dada por Hahnemann, no Aforismo 267 do
Organon.
"Tomamos conhecimento dos poderes das plantas nativas e das
que podem ser obtidas frescas da maneira mais certa e
completa, misturando imediatamente seu suco fresco e recém-
extraído com partes iguais de álcool de vinho de força suficiente
para queimar em uma lanterna. Depois de essa mistura ter
permanecido durante um dia e uma noite num frasco bem
arrolhado e de as matérias fibrosas e albuminosas estarem
depositadas, o fluido claro e suspenso é, então, decantado para
uso medicinal. Toda fermentação do suco vegetal será detida de
207
vez pelo álcool de vinho a ele misturado, depois não mais
utilizado; todo o poder medicinal do suco vegetal é, dessa
maneira, retido (perfeito e inalterado) para sempre, mantendo-se
o preparo em frascos bem arrolhados e lacrados com cera para
evitar a evaporação, longe da luz do sol”.
O preparo padrão
209
Logo que o medicamento tenha sido preparado numa forma
solúvel à potência de 6X, é usado o método típico de
potencialização, descrito no capítulo 7. Uma gota é diluída numa
certa quantidade de solvente (9, 99 ou 50.000 gotas), e a solução
resultante é vigorosamente submetida a um número definido de
sucussões. A seguir, uma gota dessa solução é diluída, agindo-
se do mesmo modo, e o processo continua indefinidamente.
A diluição e a sucussão podem ser feitas tanto manualmente
quanto pela utilização de uma máquina. Hoje em dia, é mais
eficiente usar máquinas que possam executar o processo de
forma rápida e contínua. Mesmo utilizando máquinas, no entanto,
um medicamento de potência alta freqüentemente leva três
meses para ser produzido. Uma variedade de máquinas tem sido
projetada para realizar essas sucussões. O importante é que o
número de sucussões seja padronizado; as experiências
mostram que devem ser feitas entre quarenta e cem sucussões
para cada nível de potência. A força de cada sucussão deve ser
equivalente a ou maior do que a força do braço de um homem ao
bater o frasco preso na mão fechada com força contra uma
superfície firme (como um livro com encadernação de couro,
como foi descrito por Hahnemann). As máquinas devem ser
controladas cuidadosamente quanto ao número e força das
sucussões, a fim de que nenhum erro mecânico possa interferir
na padronização dos preparos.
Naturalmente, a prática de algumas farmácias inescrupulosas, de
fazer a sucussão logo após cada cinco ou dez diluições, deve ser
deplorada e rejeitada. Além disso, a tendência moderna para
desenvolver máquinas que apliquem a energia cinética de modos
não convencionais (isto é, com ultra-som, disparando um jato de
solvente num tanque giratório, etc.) deve ser rejeitada. Num
sentido puramente físico, esses desvios podem ser eficazes, mas
o vasto corpo da experiência homeopática até aqui foi construído
210
sobre medicamentos preparados pelo método padrão acima
descrito; por conseguinte, as principais alterações introduzem
sérias variáveis na interpretação dos resultados. Quaisquer
mudanças de técnica devem ser testadas experimentalmente de
maneira completa por um longo período, para confirmar suas
validades. Os profissionais conscientes devem se responsabilizar
pela constância dos métodos específicos usados no preparo dos
medicamentos e comprar somente medicamentos das farmácias
que mantêm os melhores padrões clássicos.
No momento existem dois métodos igualmente válidos para o
preparo de uma diluição. O método hahnemanniano consiste em
tomar uma gota da potência previamente diluída no álcool, fazer
a sucussão e, então, desfazer-se do frasco de vidro, após o
preparo de cada potência. Pelo método Korsakoff, procede-se
derramando fora o solvente da potência anterior, deixando uma
gota desta nas paredes do frasco (que se determinou ser de um
tamanho uniforme a cada vez) e, então, adicionando-se o novo
solvente para o preparo da potência seguinte; desse modo, no
método Korsakoff é usado o mesmo frasco para cada potência.
Naturalmente, mesmo no método Korsakoff, é desejável de vez
em quando separar potências intermediárias para armazená-Ias;
desse modo, o número total de frascos usados para, digamos,
uma potência elevada a duzentos deve ser de seis a oito,
enquanto no método hahnemanniano são necessários duzentos
frascos.
A diferença de preparo entre o método de Hahnemann e
Korsakoff deu origem a uma inflamada controvérsia entre os
homeopatas. O argumento contra o método Korsakoff é o de que
ele resulta numa mistura de potências de um para outro nível. No
meu entender, esse argumento não tem sentido. Afinal, quando.
é feita a diluição e a sucussão do frasco, toda a solução, assim
como o frasco, se eleva a uma nova amplitude de vibração.
Como pode uma porção da solução evitar passar pela mesma
211
mudança das demais porções? Por conseguinte, não pode haver
"contaminação" de uma potência para outra.
Essa não é uma distinção meramente acadêmica. Ela tem uma
grande importância prática para os farmacêuticos homeopatas.
Para executar o método hahnemanniano, devem ser usados
muitos frascos, e os frascos velhos só podem ser reutilizados
depois de serem aquecidos num forno a alta temperatura. Tal
procedimento, naturalmente; é muito dispendioso e
desnecessário. A fim de auxiliar a preservação de nossas
farmácias e de seus padrões, é preferível o método Korsakoff.
As potências originais de Hahnemann foram feitas em álcool,
mas isso também sobrecarrega muito as "farmácias que
produzem medicamentos de alta potência. Como o álcool não
pode ser reutilizado, é necessária uma grande quantidade de
álcool para se fazer um medicamento de alta potência. Por
exemplo, consideremos a produção de uma potência de 10.000;
para a produção dessa potência
seriam necessários aproximadamente 50 litros de álcool - uma
proposta muito cara! Não é provável que o álcool ou a água
façam qualquer diferença no processo real da potencialização,
pois várias misturas dos dois foram usadas no passado. Por
conseguinte, seria preferível usar água duplamente destilada
para todas as potências intermediárias. No entanto, qualquer
potência, que tenha de ser armazenada para uso como
medicamento, deve ser preservada em álcool puro. A água não é
um bom meio para a preservação, pois os microrganismos
tendem com o tempo a proliferar, podendo interferir na ação do
medicamento. O álcool, por outro lado, é um excelente
preservativo, podendo-se confiar nele para manter as potências
indefinidamente.
De qualquer modo, deve ser dada uma atenção cuidadosa aos
padrões de pureza de todos os materiais usados nesse delicado
processo. Como bem podemos imaginar, mesmo as pequenas
212
possibilidades de contaminação podem ser muito ampliadas
durante a potencialização. Por conseguinte, o ambiente onde
estão as máquinas que produzem a potencialização deve estar o
mais livre possível de poeira, odores químicos, luz do sol, etc. Os
frascos utilizados devem ter um alto padrão químico. A água e o
álcool também devem ter, pelo menos, alto padrão químico e
serem, no mínimo, duplamente destilados para se ter uma pureza
ainda maior. As tampas dos frascos usados devem, por
experiência, ser feitas de rolha de cortiça (ou, pelo menos,
cobertas de cortiça), e a cortiça deve ser de alta qualidade. A
lactose usada para a trituração e administração dos
medicamentos deve ser de alta qualidade e o almofariz e o pilão
usados devem ser aquecidos a altas temperaturas antes do
preparo de cada medicamento.
Nomenclatura
A terminologia usada para nomear as potências em suas
diferentes escalas evoluiu com o tempo. Infelizmente, isso levou
a convenções um pouco confusas para o iniciante.
A escala decimal é baseada na diluição de 1/10. A primeira
potência 1X é uma diluição de 1/10. A segunda diluição (1/10 X
1/10 = 1/ 100) é chamada de potência 2X. A oitava diluição
decimal (1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 =
1/100.000.000) é chamada de potência 8. Assim, a potência na
escala decimal é equivalente ao número de zeros no
denominador da diluição final.
A escala centesimal é a mais comumente usada na homeopatia.
E baseada nas diluições seriais de 1/100. Cada potência
centesimal, por conseguinte, é equivalente, in dilution, a duas
potências decimais. Uma potência 30c é a mesma que uma 60X ,
considerando-se apenas a quantidade de diluição.
Finalmente, alguns homeopatas esttio utilizando potências
213
baseadas em diluições seriais de 1/50.000 a cada nível. Estas
são chamadas de potências 50-milesimal, mas a linguagem
médica rotineira se refere a elas simplesmente como potências
milesimais. Esse fator incomum de
diluição foi sugerido por Hahnemann nos últimos tempos da sua
vida, baseado em seus experimentos preliminares com diferentes
graus de diluição e sucussão. Por exemplo, uma potência 1m é
uma diluição de
1/50.000 e uma potência 3m representa uma diluição de
1/125.000.000.000.000 (1/50.000 X 1/50.000 X 1/50.000).
É muito importante compreender que ambas, tanto a diluição
quanto a sucussão, são importantes na produção de um
determinado nível de potência clinicamente eficaz. Para cada
nível da potência é executado um número padrão de sucussões,
bem como uma diluição de acordo com a escala específica que
está sendo usada. A figura 14 mostra um quadro no qual as
potências em números equivalentes, pertencentes a diferentes
escalas, são comparadas quanto às suas diluições e número de
sucussões (admitindo-se um padrão de cem sucussões, para
cada nível).
Como os dois fatores estão implicados na potencialização, é
incorreto igualar as potências apenas de acordo com a sucussão
ou apenas com a diluição. Por exemplo, se compararmos uma
30c com uma 30X, as duas sofreram o mesmo número de
sucussões (3.000), mas possuem diluições diferentes (1/10
elevado a 30 para a 30X e 1/10 elevado a 60 para a 30c); desse
modo, a 30c é uma potência de certa forma mais alta. Pelo
contrário, se compararmos dois medicamentos de igual diluição,
um 30c com um 60X, vemos que o 60X tem uma potência mais
alta, pois sofreu 6.000 sucussões, em comparação com as 3.000
feitas com a 30c.
De vez em quando na prática clínica levanta-se o problema
quanto a que potência de uma determinada escala corresponde
214
efetivamente uma potência de outra escala. Por exemplo,
suponhamos que um paciente teve uma certa reação com a 30c;
o mesmo medicamento ainda é o indicado, mas o homeopata
quer mudar para uma escala milesimal. Que potência
corresponde, na escala milesimal, a 30c? Uma 9m é uma
potência mais alta, pois a diluição é maior? Ou é mais baixa
porque sofreu menos sucussões? Essa questão não pode ser
respondida com precisão, ainda, mas é um bom tema para as
futuras investigações. Algum dia será possível planejar uma fór-
mula que forneça essa comparação; mas existem ainda muitos
fatores desconhecidos. Por exemplo, a sucussão e a diluição têm
a mesma importância ou uma é mais importante do que a outra?
Um dos fatores é mais importante em potências mais baixas e o
outro em potências mais altas? Um determinado número de
sucussões tem um efeito constante em diluições diferentes, ou o
efeito varia nas diferentes diluições? Existem efeitos diferentes
abaixo do número de Avogadro, principalmente quando
quantidades apreciáveis da substântica original ainda estão
presentes, ou a razão da substância original é irrelevante para o
solvente? De qualquer modo, por enquanto, a única maneira de
chegar a um resultado é a experiência clínica dos observadores
mais atentos da homeopatia; no presente, o resultado ainda não
foi atingido.
Por convenção e hábito de experiência, certas potências são
usadas regularmente na homeopatia: 2X, 6X , 12X, 30c, 200c,
1.000c, 10.000c, 50.000c. Para facilidade de comunicação, o "c"
é omitido quando descreve potências de 30c para cima; desse
modo, referimo-nos a uma "potência 200th" em lugar de dizermos
"20-oc". E como alguns dos números maiores são impraticáveis,
adotamos as designações do numeral romano: 1.000 torna-se
1M, uma potência de 10.000 torna-se um 10M, uma potência de
50.000 é uma 50M, a de 100.000 é chamada de CM, e assim por
diante. O "M" é escrito com letra maiuscula neste livro para
215
diferenciá-Io do "m", que representa a escala "50-milesimal" de
potencialização. Existem potências chamadas ultra-elevadas que
vão a MM (1.000.000c) , 50MM (50.000.000c), CMM
(100.000.000c), MMM (1.000.000.000c), etc. Além disso, um
homeopata raramente receitará uma potência incomum, por
algumas razões - potências como uma 17X, uma 500c, etc.
Como foi mencionado no capítulo 7, o número de Avogadro
corresponde, na diluição, a uma potência 24X, que é uma 12c,
entre uma 5m e uma 6m. Isso quer dizer que, além desse ponto,
não resta mais nenhuma molécula da substância original. Por
conseguinte, as potências 10M ou MMM estão astronomicamente
além de qualquer possibilidade de manterem o efeito químico da
substância original. O fato de a energia, ou grau de vibração, da
substância original ser transferido para as moléculas do solvente
foi discutido no capítulo 7.
Hahnemann era químico e estava bem ciente do número de
Avogadro. O fato de ter levado adiante sua experiência e usado
potências que excediam esse número é bem indicativo de sua
mente aberta e de sua ênfase na observação empírica. Com isso
acabou descobrindo que essas potências eram cada vez mais
eficazes e tinham menos efeitos adversos do que as potências
baixas. Nesse ponto, muitos de seus seguidores não puderam
acompanhá-Io. O pensamento desses seguidores estava
fortemente enraizado na filosofia materialista que surgia na
época; desse modo, achavam inconcebível que os remédios
pudessem agir além dos níveis materiais. Esse fato causou uma
ruptura importante nos círculos homeopáticos que ficou
conhecida como a ruptura entre os que estavam a favor da
potência baixa e os que defendiam a potência alta. (Geralmente,
potências baixas são os medicamentos que estão abaixo do
número de Avogadro; são consideradas potências altas as que
ultrapassam esse número.)
216
Descrever essa ruptura como estando baseada nas potências
usadas pelos homeopatas não expressa adequadamente a
217
verdadeira natureza da cisão. Os homeopatas que começaram a
contestar a liderança de Hahnemann tendiam a rejeitar não
apenas o uso que ele fazia de altas potências, bem como muitos
dos seus demais princípios. Eram favoráveis à mistura de vários
medicamentos e à prescrição de várias potências de uma só vez.
Além disso achavam oportuna a repetição de medicamentos,
muitas vezes durante dias ou semanas; receitavam pelo diagnós-
tico do órgão afetado ou pelo diagnóstico do rótulo do
medicamento; prescreviam medicamentos para produzir a
"drenagem" do sistema, etc. Em resumo, os homeopatas que
defendiam as potências baixas, de modo geral, utilizavam os
medicamentos homeopáticos de forma quase puramente
alopática. Essas práticas ainda estão em voga em muitos lugares
do mundo, e prejudicam seriamente a possibilidade de cura em
milhares de casos.
Também é enganador descrever os homeopatas hahne-
mannianos clássicos como receitadores de altas potências. Um
homeopata que se conforma com as leis estritas da homeopatia
provavelmente fará uso de qualquer potência, dependendo das
necessidades individuais do paciente. É verdade que, mais
comumente, eles confiam em potências abaixo do número de
Avogadro, mas sempre existem circunstâncias em que até
mesmo uma potência 6X pode ser usada. Desse modo, a
verdadeira cisão pouco tem a ver com as potências usadas; pelo
contrário, diz respeito a toda uma filosofia e método de receitar.
Capítulo 12
A tomada de um caso
O sistema homeopático é uma disciplina científica que se baseia
em leis, princípios e técnicas estáveis e verificáveis. No entanto,
sua aplicação ao paciente individual é também uma arte. Esse
aspecto artístico da homeopatia é mais evidente no processo da
218
tomada de um caso. Embora existam pautas de orientação para
isso, cada entrevista é um processo único, que demanda do
entrevistador diferentes tipos de sensibilidade e diferentes
abordagens para cada paciente. É um processo vivo e fluente,
que, entretanto, leva à informação, com base na qual são feitos
os julgamentos científicos.
A tomada de caso, nos casos crônicos (no final do capítulo
analisaremos os casos agudos), exige grande experiência e
treinamento, que não podem ser adquiridos pela leitura de livros.
Os livros podem fornecer a estrutura básica e uma compreensão
simples dos objetivos de um caso bem tomado, mas a
desvantagem da aprendizagem pelos livros, nesse caso, reside
na tendência do leitor para conceitualizar o processo em termos
de regras. Ao escrever um livro, o autor, por necessidade, tem
que generalizar suas descrições e exemplos, e o leitor,
conseqüentemente, tem uma idéia muito pronta, muito simples,
muito preto no branco.
O único modo confiável de aprender a arte de tomar um caso é
envolver-se com o processo, sob a supervisão de um homeopata
experiente e eficiente. De início, isto pode implicar simplesmente
sentar-se em um canto e observar o homeopata exercendo essa
função e, depois, trocar impressões após a conclusão da
entrevista. O cenário ideal para isso é um consultório onde esteja
instalado um espelho de uma só face; desse modo, a entrevista
poderia ser conduzida mantendo-se, na aparência, a privacidade,
enquanto os estudantes tomam notas, postados do outro lado do
espelho. Logo depois, o instrutor pode examinar as anotações e
dar sugestões com relação às sutilezas e ênfases implicadas no
caso. De início, sua contribuição no processo de tomada de notas
e interpretação dae respostas dos pacientes é muito valiosa para
o estudante. Ela ajuda a desenvolver a sensibilidade necessária
para cada paciente, bem como a objetividade para traduzir, de
modo acurado, as expressões do paciente, transformando-as em
219
informações úteis para a estrutura homeopática.
Mais tarde, o estudante deve envolver-se pessoalmente com a
tomada de caso. O entrevistado r homeopata precisa
conscientizar-se de suas próprias responsabilidades para com o
paciente, adquirindo certa disciplina na situação real da
entrevista. Deve-se encontrar um equilíbrio entre a necessidade
da informação exata, a sensibilidade para com o que o paciente
está verdadeiramente expressando, e o estabelecimento de uma
comunicação que possibilite ao paciente sentir-se
suficientemente à vontade para compartilhar seus sentimentos e
experiências mais íntimos. O ideal é que esse processo seja
supervisionado por um homeopata experiente, de forma que o
entrevistador possa mais adiante aprimorar suas habilidades.
Cada entrevistador possui uma personalidade única e, por
conseguinte, um estilo único de conduzir uma entrevista, e cada
paciente exige uma abordagem individual. É necessário,
entretanto, aprimorar as habilidades necessárias, a fim de que a
informação registrada no papel constitua uma base confiável para
estudo posterior.
A informação colhida durante a entrevista homeopática é meio
caminho andado no processo que leva, por fim, à cura. Um caso
bem tomado proporciona imagens vívidas do paciente, que pode
ser estudado de maneira frutífera mais tarde, não apenas com o
propósito de chegar a um medicamento, mas também do ponto
de vista da aprendizagem a respeito das interações fundamentais
entre saúde e doença. Além disso, é também uma experiência
valiosa para o paciente, pois é um momento em que ele tem
oportunidade de examinar conscientemente os pontos mais cru-
ciais e íntimos de sua vida.
Por outro lado, um caso mal tomado pode ser a fonte de uma
interminável frustração. Quanto mais se estuda um caso desses,
mais se fica confuso sobre o que realmente está acontecendo
com o paciente, e qualquer prescrição baseada nessa informação
220
será apenas uma suposição. Se a informação não for melhorada
nas consultas subseqüentes, é possível que um caso como esse
prossiga durante anos, fragmentando-se a imagem do paciente
por meio das prescrições baseadas na adivinhação, até
finalmente tornar-se incurável. Esse é o tipo de problema que
todo homeopata enfrenta nos primeiros anos, enquanto adquire
experiência, mas a dificuldade pode ser minorada contando com
uma supervisão apropriada e um treinamento prático.
O propósito da entrevista homeopática é chegar de forma
acurada à totalidade dos sintomas significativos para o paciente
em todos os três níveis. É essa totalidade que expressa as
perturbações patológicas no plano dinâmico, e somente
deduzindo essa totalidade dos sintomas de forma acurada e
completa é que a perturbação interna pode ser compreendida.
Em outras palavras, é essa totalidade que expressa a freqüência
ressonante da enfermidade. O entrevistador não está, de modo
específico, apenas colhendo dados que mais tarde possam ser
analisados por um processo mecânico ou computadorizado para
chegar a uma conclusão. Trata-se de uma expressão livre
emitida pelas regiões mais íntimas e significativas da vida do
paciente, e assim o entrevistador deve, de modo suave e
sensível, encorajar a exteriorização da expressão desse estado
íntimo.
É nesse sentido que a tomada de caso, na homeopatia, é uma
arte. O entrevistador pode ser comparado a um pintor que,
lentamente e com um trabalho esmerado, produz uma imagem;
esta representa, em sua essência, uma visão particular da
realidade. O artista começa um quadro de uma determinada
maneira, mas, enquanto prossegue seu trabalho, a imagem se
transforma, tornando-se mais distinta, de modo não previsto
completamente. A mesma regra é verdadeira em relação à
entrevista homeopática. No começo, a descrição feita pelo
paciente pode parecer ir ao encontro de um medicamento em
221
particular, ou de uma compreensão particular da evolução da
patologia individual da pessoa, mas, com as descrições
posteriores, o conceito pode mudar inteiramente. Desse modo, a
informação adquirida é tão verificável quanto qualquer dado
científico. Sua obtenção, no entanto, é uma verdadeira arte.
O ambiente
Em primeiro lugar, deve-se dar atenção ao local onde é feita a
entrevista. O ambiente deve ser calmo, com uma decoração
harmoniosa, simples e estética. As interrupções devem ser
reduzidas ao mínimo, e o paciente não deve se sentir apressado.
É importante também que o paciente não se comporte de forma
tendenciosa devido a uma acentuada expectativa antes da
entrevista. Algumas poucas e simples instruções, esclarecendo
que a entrevista homeopática se focaliza no paciente como um
todo e não apenas no problema físico imediato, são apropriadas.
Mas descrições amplas da espécie exata de informação que a
homeopatia requer e, particularmente, o uso dos questionários
homeopáticos, devem ser evitados. É provável que esse tipo de
informação leve o paciente a se preocupar muito com detalhes
insignificantes, ao invés de se concentrar nas questões mais
significativas de sua experiência de vida.
A atitude do médico é um fator de grande importância, que
distingue uma tomada de caso eficiente de outra, mal feita. É da
maior importância que o entrevistador tenha interesse e
preocupação pelo bem-estar do paciente. Esse interesse pode
ser transmitido por algumas perguntas discretas feitas durante a
narrativa do paciente, ouvida com grande cuidado e atenção. Se
o entrevistador estiver sinceramente interessado, o paciente se
sentirá mais motivado a fornecer a informação necessária.
Não deve haver nenhuma implicação de julgamento por parte do
médico. Os sintomas comunicados pelo paciente devem ser
222
aceitos com interesse, mas sem nenhum julgamento. Não se
deve dar conselhos, e as recomendações morais devem ser
evitadas. Se o paciente se sentir julgado, provavelmente se
retrairá, recusando-se a divulgar a informação de maior valor.
Uma mente sem preconceitos por parte do médico é importante
não apenas para a comodidade do paciente e sua liberdade de
expressão, como também para a própria habilidade do médico
em perceber a verdade do caso. Freqüentemente, a tendência é
tentar catalogar os sintomas em interpretações baseadas nas
experiências anteriores ou no conhecimento da materia medica.
Esse processo é de certa forma inevitável, devendo a entrevista
ser muito cautelosa a esse respeito. Deve-se ter muitas suspeitas
acerca de qualquer tentativa habitual ou inconsciente de encerrar
a expressão do paciente em categorias preconcebidas.
Essa é a essência da abordagem empírica do medicamento; ela
é descrita de modo excelente no Aforismo 100, de Hahnemann.
Deduzindo os sintomas
Durante a entrevista, o homeopata fica relativamente em silêncio,
225
fazendo apenas algumas perguntas discretas para esclarecer um
ponto, demonstrar vivo interesse pela dissertação do paciente, ou
para dirigir a narração a aspectos mais relevantes. Esse é um
processo suave, catalítico, e não apenas uma forma aborrecida,
mecânica ou rotineira de recolher dados. O homeopata se
envolve de maneira ativa e íntima com a revelação do paciente.
Não é uma entrevista semelhante à conduzida por um questio-
nário escrito. O objetivo não é obter a maior quantidade possível
de dados, mas, ao contrário, deduzir uma imagem viva da
essência da patologia interna do paciente.
A maior parte das entrevistas começa, naturalmente, pedindo-se
ao paciente que descreva tudo o que percebe como problema no
momento. Geralmente, os pacientes falam a respeito dos males
físicos, e as descrições se caracterizam por uma certa
superficialidade. Na maioria das vezes, eles focalizam
informações de natureza alopática - testes de laboratório,
diagnósticos de outros médicos, etc. O entrevistador deixa o
paciente continuar a narração até esgotar o assunto.
De início, é importante que o homeopata fique inteiramente
informado a respeito da natureza alopática da queixa. Embora
esse conhecimento seja de pouca importância para a prescrição
do medicamento homeopático, ele é muito importante para o
julgamento do grau de seriedade do sintoma apresentado no
momento e, particularmente, para a compreensão do prognóstico
patológico para o futuro. Por conseguinte, o homeopata pode
muito bem examinar os registros alopáticos anteriores e os
resultados fornecidos pelos laboratórios. Se a situação patológica
ainda estiver obscura, pode ser importante recolher mais infor-
mação de laboratório ou radiológica, ou até mesmo pedir a
opinião de um especialista.
O homeopata deve, então, perguntar ao paciente: O que mais?
Esta pergunta ajuda a infundir no paciente a idéia de que os
sintomas não-alopáticos, ou não-físicos, são importantes. O
226
homeopata pode fazer um breve comentário para assegurar ao
paciente que a totalidade dos problemas do paciente é
importante.
O passo seguinte, geralmente, é fazer uma revisão do que foi
apresentado para esclarecer o significado de cada sintoma e
obter os detalhes, tão importantes para a homeopatia. Faz-se
uma investigação quanto à localização exata de cada sintoma,
sua sensação exata, a duração, o momento característico do
agravamento, quantos meses ou anos já dura, e as modalidades
com relação a coisas como calor e frio, mudanças de
temperatura, atividade ou repouso, posição, reação à fricção ou
pressão, etc. Como esses sintomas são os males mais
importantes do paciente, eles devem ser elaborados com certo
detalhamento, mesmo que possam, por fim, representar apenas
uma parte menor na escolha do medicamento. Qualquer exame
físico necessário também deve ser feito, para fornecer a
observação objetiva e assegurar ao paciente que o problema
está sendo investigado de modo completo.
É natural indagar, em seguida, a evolução do estado patológico
do paciente. Isso não deve constituir apenas um registro de rotina
da história médica do paciente, mas sim uma investigação ativa
acerca da seqüência exata dos sintomas correntes. Quando eles
ocorreram? Houve algum acontecimento importante na vida do
paciente na época do aparecimento dos sintomas? Que "causas
excitantes" podem ser consideradas como fatores na produção
dos sintomas? A evolução do estado patológico do paciente deve
focalizar, em particular, as seguintes influências principais:
1. Todos os choques mentais ou emocionais que ocorreram na
vida do paciente, inclusive acontecimentos como desgostos,
grandes perdas financeiras, separação de pessoas amadas, crise
de identidade e outros estresses da vida.
2. Todas as doenças principais que possam ter afetado a saúde
geral do paciente. Devem ser anotadas, principalmente, as
227
doenças venéreas, as doenças infecciosas prolongadas e os
colapsos mentais ou os desequilíbrios.
3. Todos os tratamentos recebidos durante a vida do paciente.
Como as terapias freqüentemente podem ser supressivas, esse
fator pode ser de grande importância na evolução da patologia
para regiões mais profundas. Por isso, devem-se levar em
consideração os tratamentos com drogas, cirurgia, psicoterapia,
terapias naturais e até mesmo as técnicas de meditação. Em
particular. deve-se perguntar ao paciente sobre cortisona, pílulas
para o controle da natalidade, hormônios da tireóide,
tranqüilizantes e antibióticos. Freqüentemente, a simples
indagação sobre esses tratamentos específicos estimulará a
memória do paciente a respeito de algum episódio importante de
sua vida.
4. Vacinas administradas e as reações manifestadas pelo
paciente.
232
O ideal seria fazer uma entrevista homeopática sem se
preocupar com a necessidade de tomar notas, mas isso é
impossível. O registro homeopático é muito importante para o
tratamento. É um método confiável de socorrer a memória do
homeopata nas consultas futuras e um meio pelo qual o paciente
pode ser transferido de um homeopata para outro sem
interromper o tratamento. Ao registrar o caso homeopático, o
primeiro objetivo é descrever de maneira acurada e concisa
todos os seus fatores importantes, enquanto se elimina a
informação irrelevante. Além disso, o registro deve comunicar a
intensidade relativa da ênfase dos sintomas em particular.
Tanto quanto possível, deve-se transcrever literalmente as
palavras do paciente. Isso é importante, pois toda a literatura
homeopática baseia-se na terminologia gráfica da linguagem
comum. Todas as experimentações registram os sintomas tanto
quanto possível na expressão natural dos experimentadores.
Naturalmente, quando necessário, os coloquialismos particulares
podem ser traduzidos para uma linguagem homeopática. Um
exemplo claro disso é dado por Hahnemann: é permitido traduzir
palavras como "regras", "período", "incômodo", para a
terminologia familiar dos homeopatas: "menstruação". Esse tipo
de tradução pode ser feita com segurança quando se trata de
sintomas físicos, mas deve-se ter muito cuidado no caso dos
sintomas mentais e emocionais. Deve-se procurar encorajar
o paciente para que seja bastante específico a respeito
desses sintomas, a fim de que eles possam ser acuradamente
interpretados na linguagem homeopática. Ainda assim, sempre
que possível, o melhor é se prender o máximo à fraseologia do
paciente.
Também é importante abster-se de pôr as palavras na boca do
paciente. As perguntas devem ser formuladas de modo não
dirigido; assim se evitará que o paciente dê a resposta que, no
seu entender, o homeopata espera receber. Por exemplo, o
233
entrevistador pode perguntar: "Como você reage às mudanças
do tempo?" O paciente, diante dessa pergunta, tem
possivelmente diversas respostas e é, por conseguinte,
encorajado a examinar a questão à luz da verdadeira experiência
pessoal. Ou, então, a pergunta deve ser feita assim: "Você tem
quaisquer desejos ou aversões particularmente fortes?", ao invés
de ser uma pergunta dirigida, como: "Você tem necessidade de
doces?”
As perguntas diretas, como as formuladas para respostas
categóricas nos questionários (sim ou não), devem ser evitadas a
todo custo. Por exemplo, se um paciente responde
afirmativamente à pergunta: "Você tem necessidade de doces?",
a resposta não deve ser registrada. Para verificar se isso é
realmente uma expressão patológica da individualidade do
paciente, devem ser feitas mais perguntas para confirmar sua
validade: "Essa necessidade é muito forte?" "Quantas vezes você
a sente?" "Seria difícil absterse dela?" "Pode dar o exemplo de
uma circunstância em que você mais sente essa necessidade?”
Perguntas hipotéticas também devem ser evitadas. Por exemplo,
nenhuma informação útil viria de uma resposta a uma pergunta
do tipo: "Você ficaria irritado/a se, atrasado/a para um encontro,
tivesse que parar à espera da passagem de um trem
inusitadamente longo num cruzamento ferroviário, enquanto as
crianças no banco de trás gritam e brigam entre si?" Essa
pergunta não forneceria nenhuma informação verdadeiramente
expressiva do mecanismo de defesa do paciente.
Às vezes, o paciente não tem nenhuma resposta particular para
dar à pergunta inicial, propositalmente não dirígida. Suponhamos
que o entrevistador pergunte: "Você tem algum medo ou fobia?"
O paciente responde: "Nada de que eu me lembre". Pela
totalidade dos sintomas restantes suponhamos que o
entrevistador queira saber especificamente se o paciente tem
medo de altura. Seria impróprio perguntar de maneira direta:
234
"Você tem medo de altura?", pois o paciente pode deduzir que o
entrevistador está procurando uma resposta afirmativa. Pelo
contrário, o entrevistador pode dar uma variedade de pos-
sibilidades apenas para auxiliar a memória do paciente, cpmo:
"Bem, por exemplo, você tem medo do escuro, de ficar sozinho,
de altura, de trovoadas, de cachorros, ou qualquer outra coisa?"
Suponhamos, entãó, que o paciente responda: "Oh, sim! Sempre
tive muito medo de altura! Sempre evito isso". Pode-se confiar
nessa resposta porque ela foi deduzida de uma variedade de
outras possibilidades apresentadas com a mesma ênfase.
Os sintomas importantes não devem ser abandonados pelo valor
aparente. Eles devem ser sondados mais profundamente, para
nos éertificarmos do verdadeiro quadro que está sendo
apresentado. Por exemplo, pode-se perguntar a um paciente:
"Você tende a ser chato ou rabugento?" O paciente responde:
"Bem, sou muito rabugento". Mas, se a pergunta for além: "Como
os outros o vêem com relação a isso?" o paciente bem pode
responder: "Muito bem!" O paciente chato nunca está satisfeito e,
por conseguinte, se vê como rabugento.
Quando um paciente apresenta um sintoma particular, é
aconselhável tomar nota do que se trata e, em seguida, deixar
um espaço logo abaixo. Não se deve interromper o paciente
apenas para preencher os claros e as modificações. Pelo
contrário, deixa-se um espaço, e essa informação é preenchida
mais tarde, depois que o paciente tiver terminado sua exposição.
Com alguns pacientes, especialmente com os que parecem
gostar de divagar sobre qualquer coisa que lhes venha à mente,
talvez haja necessidade de interromper de vez em quando a
entrevista a fim de retornar aos tópicos mais relevantes. Mesmo
nessa situação, as interrupções devem ser feitas
reluntantemente, pois sempre há uma chance de que essas
divagações possam comunicar indícios de um sintoma
importante.
235
Uma técnica preciosa, que deve ser usada em todos os casos
homeopáticos, é a do grifo. Para cada determinado sintoma
homeopático existem três fatores que determinam sua ênfase:
clareza, intensidade e espontaneidade. Um sintoma de
significado para o paciente, comunicado com grande clareza
descritiva, cuja intensidade produz interferência na vida do
paciente, e espontaneidade (isto é, um sintoma apresentado pelo
paciente de modo voluntário, ao invés de ser deduzido depois da
entrevista), tem o maior peso no caso. Estes três fatores são
combinados no processo do grifo:
Casos difíceis
Todos os casos são tomados individualmente. Não existem
rotinas estabelecidas para serem seguidas, embora certas
informações básicas devam ser conseguidas para se fazer uma
prescrição apropriada. Devemos nos aproximar do paciente de
forma individual; cada paciente apresenta desafios para o
entrevistador homeopático.
Existem tipos de pacientes que fingem problemas sérios. Estes
casos, por várias razões, tornam difícil a obtenção de uma visão
clara dos sintomas. Pacientes deste tipo devem ser tratados de
forma especial, e os sintomas comunicados por eles, vistos com
grande precaução até serem cuidadosamente confirmados.
O primeiro grupo de pacientes difíceis é o dos tímidos, sensíveis,
reservados ou fechados. Eles resguardam muitos de seus
sintomas ou descrevem-nos com muito menos intensidade do
que a que na realidade possuem. Essas pessoas geralmente
acham que o entrevistador não está interessado em seus
pequenos incômodos, e que se aborreceria ou ficaria fatigado
com eles. Podem achar vergonhoso expressar alguns de seus
sintomas mentais, emocionais ou sexuais. Ao resguardarem ou
menosprezarem seus sintomas, essas pessoas desorientam o
homeopata, levando-o a registrar um quadro incorreto e, por
237
conseguinte, a prescrever um medicamento não apropriado.
Com tais pacientes, é necessária uma abordagem toda especial.
Deve-se tratar a todos com grande habilidade. E imprescindível
transmitir-Ihes confiança e demonstrarIhes um interesse real por
todos os detalhes, não importa o quanto eles sejam
"insignificantes" ou "vergonhosos". Após uma indagação e uma
sondagem delicada e compreensiva, o paciente começa aos
poucos a sentir-se à vontade, desejando então expor os sintomas
necessários.
Em pacientes "fechados", que fornecem muito poucos sintomas,
as observações objetivas têm uma importância adicional. O
entrevistador deve anotar cada gesto, tique, etc. - agitação dos
dedos, do corpo ou dos pés, irritabilidade excessiva, loquacidade,
o tempo que leva para responder às perguntas, a dificuldade
para encontrar as palavras certas, se cora com facilidade, as
expressões faciais, os inchaços em volta dos olhos, a cor da
pele, queda dos cabelos, se rói as unhas, timidez, suor das mãos
ou do corpo, odores, etc.
O segundo grupo de casos difíceis é o dos hipocondríacos. Esse
grupo inclui não apenas os excessivamente ansiosos com a
saúde, como também aqueles que observam de modo
compulsivo cada detalhe relacionado com ela, até perderem toda
a perspectiva. Essas pessoas tendem a relatar uma enorme
quantidade de sintomas menores, que podem não ser
completamente avaliados pelo homeopata por causa da
tendência desses pacientes ao exagero. Nesse caso, são
anotadas a própria natureza hipocondríaca e uma eventual
ansiedade acerca da saúde. Quaisquer outros sintomas devem
ser sublinhados apenas com grande cautela e somente após sua
confirmação, feita por auxiliares ou parentes objetivos. Com
freqüência, esses pacientes estão muito preocupados em
impressionar o homeopata, fazendo-o ver o quanto acreditam
que estão doentes. Nenhuma abordagem em particular, por parte
238
do entrevistador, pode impedir esse comportamento, mas é
melhor ter uma atitude de compreensão objetiva, sem mostrar
excessiva simpatia ou alarme. Enquanto isso, o paciente deve
ser encorajado a ter uma visão geral de sua condição, a sintetizar
e ressaltar os sintomas e a comunicar somente os mais persis-
tentes.
Um terceiro grupo de pacientes problemáticos é o dos
intelectuais - aquelas pessoas altamente instruídas, que contam
com a mente para serem bem-sucedidas na vida. À primeira
vista, somos levados a pensar que os intelectuais são os
melhores pacientes, pois suas observações são, supostamente,
as mais argutas. Na verdade, é o contrário. Os intelectuais
tendem a se relacionar com a realidade de acordo com o que é
explicável às suas mentes; se alguma coisa for peculiar ou
inexplicável, eles se inclinam a bloqueá-Ia sem perceber. Desse
modo, vêem nas coisas generalidades e não a individualidade e,
provavelmente, são incapazes de relatar seus próprios sintomas;
avaliam-nos ou interpretam-nos em termos das leituras, das
teorias correntes, das conjecturas que se ajustam a sua filosofia
de vida; desse modo, "explicam" os sintomas de mais valor para
o homeopata, esgotando-os. Um homem simples, sem instrução,
um aldeão, expressa seus sintomas com muito mais clareza e
exatidão do que um intelectual. Por exemplo, se o intelectual
admite que sofre de ansiedade, imediatamente se apressa em
explicar que esse fato é natural por causa do ambiente febril em
que é forçado a viver. Ou, se tem medo, explica que é devido a
uma experiência traumática sofrida na infância e afirma: "Estou
quase certo de que esse medo já foi dominado em oitenta por
cento". Por causa dessas conjecturas e argumentações, é
impossível o homeopata se certificar se o medo é um sintoma
significativo ou não. O homeopata então pergunta: "Como é o
seu sono?" O intelectual responde: "Bem, eu quase não
durmo, mas isso com certeza deve-se à vida noturna irregular
239
que levo" .
No final, após uma longa e complicada entrevista, o homeopata
tem uma grande quantidade de sintomas, todos eles qualificados
pela frase, "Sim, mas..." Nesses casos, pode não haver nenhum
sintoma sobre o qual prescrever com alguma confiança. Esses
são casos muito difíceis de avaliar. O homeopata deve manter-se
cético com relação às explicações dadas pelo paciente intelectual
e sempre questionar se a gravidade do sintoma é, na realidade,
proporcional às explicações dadas. Por exemplo, muitas pessoas
sofrem experiências traumáticas na infância ou levam um tipo de
vida que exige horas irregulares de sono; mas quantas dessas
pessoas desenvolvem algum medo durante a vida, ou insônia
crônica? E importante ter em mente a diferença entre a "causa
excitante", que os intelectuais tendem a enfatizar, e a
suscetibilidade a essa causa.
Os pacientes muito instruídos também criam outra distorção. Eles
assimilaram muitas teorias sobre dietas, vitaminas, regimes de
desintoxicação, etc., e alguns até adotaram algumas dessas
idéias, sem qualquer consideração para com a singularidade do
próprio organismo. Por exemplo, um professor muito instruído,
que sofria de febre do feno, úlcera duodenal, constipação e
outros problemas, pode ter-se convencido, através de um livro
sobre nutrição, de que o sal é um mal para a raça humana. Por
conseguinte, evita o sal, embora este tenha sido um alimento
habitual, crônico e necessário, no seu caso. A química de seu
organismo pode ter exigido uma quantidade de sal mais alta do
que a das demais pessoas, mas, por razões intelectuais, ele
alterou esse equilíbrio do próprio corpo. Esse comportamento
não apenas elimina o sintoma da observação, que devia ser
importante para o homeopata, como também o desequilíbrio
químico pode resultar em depressão, irritabilidade ou cansaço
fácil, etc. Para esse novo estado, então, o intelectual estuda
outros livros de nutrição e decide tomar doses maciças de
240
vitamina B para corrigir o que ele supõe ser uma deficiência
vitamínica, o que, por sua vez, produz outros sintomas, e o
processo continua.
Quando o intelectual chega ao homeopata, já usou tanto a sua
mente para interferir de maneira profunda na própria expressão
natural do orgànismo, que se torna virtualmente impossível
descobrir o que o mecanismo de defesa estava tentando fazer
em primeiro lugar. O intelectual, naturalmente, pode explicar a
razão de cada alteração acontecida, mas é impossível discernir
os sintomas resultantes das alterações anteriores e as
expressões verdadeiras da patologia. Em tal situação, a única
coisa a fazer é recomendar ao paciente que suspenda todas as
vitaminas, siga uma dieta baseada somente naquilo de que sinta
necessidade ou desejo, e retorne alguns meses depois para a
entrevista homeopática.
Outro grande problema apresentado pelos intelectuais é a
insistência em tomarem eles mesmos todas as decisões com
relação à terapia. Eles querem saber a razão de tudo e insistem
em participar de cada julgamento. Naturalmente, os pacientes
devem assumir a responsabilidade geral pela sua saúde e ter
iniciativa suficiente para pedir uma informação básica com
relação ao progresso, prognóstico e fundamento lógico que
sustenta a terapia que está sendo usada. Mas esse processo não
deve ser levado tão adiante que possa envolver o paciente em
toda decisão, por pequena que seja. Isso é algo a que o
homeopata foi treinado durante muitos anos. Em certos
momentos, uma pessoa deve descansar e reconhecer o valor da
especialização.
Essa questão se torna mais evidente nos pacientes intelectuais
que compram materia medicas e estudam os medicamentos que
lhes são dados. Não tendo nenhum treinamento nem experiência
clínica, eles se confundem facilmente com as várias sutilezas
implicadas na escolha de um medicamento. Pior ainda: logo que
241
lêem a respeito de alguns medicamentos na materia medica.
naturalmente tendem a descrever seus próprios sintomas em
termos do que leram. Se esse processo for muito adiante, o
homeopata pode receber somente a informação que brota da
teorização intelectual, ao invés dos sintomas que expressam o
verdadeiro estado patológico do paciente.
Um típico grupo de pacientes problemáticos com que o
homeopata se defronta é o dos mais abastados, que podem
consultar os especialistas do mundo todo. De um dos médicos,
esse paciente "médico-maníaco" pode ter recebido um
diagnóstico de "neurastenia", com a recomendação de absoluto
repouso. Outro médico diagnostica "exaustão das supra-renais" e
prescreve uma combinação particular de vitaminas, minerais e
ervas. Em seguida, um nutricionista afirma que o problema do
paciente é "intolerância ao carboidrato", e este, então, aprende a
evitá-Ios. Por fim, um ecólogo clínico descobre, através de testes
de pele e de controle do pulso, que o paciente é alérgico a 25
substâncias diferentes, que estão presentes no alimento e no
ambiente. O paciente evita estritamente os alimentos perigosos,
começa uma dieta rotativa que não é baseada nas exigências
individuais e se compromete a tomar uma série de injeções para
diminuir a alergia. Ao chegar ao consultório do homeopata, está
seguindo uma dieta completamente anormal, toma caixas ,de
vitaminas, está dopado com Valium, e acabou de tomar uma
injeção contra alergia antes de ir para o consultório. Além disso,
em vez de descrever os sintomas, o paciente apresenta como
seus maiores males: "neurastenia", "exaustão das supra-renais",
"intolerância a carboidratos" e "hipersensibilidade química".
Pessoas como essas tendem a ver o homeopata apenas como
outro médico qualquer, pago para lhes criar um estado de
"saúde" relativamente satisfatório. Sentem-se completamente
dependentes das drogas, vitaminas, injeções para alergia, etc., e
a simples sugestão para que suspendam tudo deixa-as em
242
pânico. Tais indivíduos estão num estado lastimável. A imagem
que poderia surgir de seus mecanis mos de defesa há muito foi
suprimida para níveis mais profundos; perderam de vista suas
habilidades de autopreservação, tornando-se viciadas da
indústria da saúde. Casos como esses virtualmente não têm
esperança de que um homeopata alcance algum sucesso. A
menos que esses pa cientes tenham um desejo profundo de
retomar às leis fundamentais da natureza e da cura, estarão
condenados a continuar sua peregrinação por consultórios
médicos, ingerindo narcóticos e provocando acentuada
degeneração de suas condições crônicas.
Cada um desses grupos de casos difíceis representa uma
questão aos que estão familiarizados com o misticismo oriental:
quais são as implicações cármicas do tratamento homeopático?
Ao prescrevermos um medicamento, estare mos curando um
estado de sofrimento destinado a ser um estímulo para o
crescimento espiritual? A resposta a essa pergunta está no fato
de que em primeiro lugar são necessárias muita inteligência e
perspicácia para que um paciente inicie uma terapia
homeopática, que coopere com o processo de auto-observação e
confissão necessários à descoberta de um medicamento. Além
disso, é indispensável uma enorme paciência para permitir que o
andamento da cura se complete por si mesmo sem nenhuma
interferência. A homeopatia exige muito de seus adeptos. Em
seus hábitos de vida, eles devem se conformar com uma dieta
relativa mente natural e espontânea; evitar substâncias que
possam interferir no funcionamento do mecanismo de defesa;
observar suas respostas aos vários estímulos com o máximo de
simplicidade e objetividade; e estar desejosos de expressar a
verdadeira experiência de seu estado interior de desequilíbrio. Se
um paciente tiver completa certeza de querer empreender essa
tarefa complexa, as influências cármicas da doença se
encarregarão do processo de cura.
243
Enfrentando um caso agudo
Doença aguda é aquela que se autolimita. Caracteriza-se por um
período latente, um período de exacerbação e um período de
declínio dos sintomas, que tanto pode re sultar na cura como na
morte. As doenças agudas são aquelas em que o próprio
mecanismo de defesa é capaz de lidar com a perturbação por si
mesmo. Numa doença realmente aguda, a seqüela crônica não
acontece. Na verdade, todas as condições crônicas preexistentes
retiram-se para o fundo durante a moléstia aguda, retornando
mais tarde.
O objetivo do medicamento homeopático na moléstia aguda é o
de simplesmente acelerar os processos naturais postos em ação
pelo mecanismo de defesa. O homeopata apenas precisa
prescrever de acordo com os sintomas mais acentuados da fase
aguda e ignorar os sintomas subjacentes, que pertencem ao
estado crônico. Isso é relativamente fácil, pois os sintomas
agudos estão vívidos e frescos na mente do paciente. O
importante é descobrir as reações específicas geradas pelo
mecanismo de defesa em resposta apenas ao estímulo agudo.
Durante a doença aguda, o homeopata reúne informa ção de três
fontes. A primeira, idealmente, é a do ambiente físico do
paciente. Se possível, é extremamente importante uma visita
domiciliar durante uma doença aguda grave. O homeopata
observa se o quarto está mal iluminado ou exposto à luz do dia,
se a janela está aberta ou fechada, se o paciente está todo
coberto ou bem à vontade, se está sendo usada uma bolsa de
água quente, se o paciente está de cama, se há garrafas cheias
de água gelada ou chá na cabeceira, se há uma cadeira para as
visitas, etc. Além disso, o paciente é observado diretamente: a
expressão é ansiosa, pacífica, invulgarmente alegre ou
entorpecida? A tez é pálida ou corada? Os olhos são claros ou
244
turvos? Os lábios estão secos e rachados ou úmidos? Há algum
odor particular? O paciente relata os sintomas de maneira fácil e
livremente ou o faria melhor se fosse deixado sozinho, sem ser
perturbado? E ansioso, ou irritável? Para um homeopata que
tenha um bom conhecimento dos medicamentos agudos, uma
simples visita ao quarto do paciente fornece em poucos minutos
uma riqueza de informações.
A segunda fonte de informação é o próprio paciente. Se ele
puder comunicar sintomas confiáveis, todos eles são reunidos e
suas características homeopáticas anotadas: localização exata, a
hora em que aparece e a duração, o tipo preciso da sensação e
as características de melhora ou piora. Num caso agudo, essa
informação geralmente é muito fácil de se deduzir, pois os
sintomas são bastante vívidos e os modificadores estão frescos
na mente do paciente. Um exame clínico é, então, pedido para se
determinar o diagnóstico preciso, a gravidade e o prognóstico da
enfermidade no momento.
A terceira fonte de informação são os amigos ou parentes que
estiveram tomando conta do paciente. Muitas vezes, o paciente
está entorpecido e não consegue dar uma informação precisa;
assim, a melhor informação é deduzida pelos que tomam conta
dele, que têm uma perspectiva mais objetiva. Vamos considerar
o exemplo de um sintoma agudo e os fatores pertinentes que
devem ser determinados em relação a ele. Como exemplo,
tomaremos o sintoma febre.
A febre aparece somente à tarde, durante as primeiras horas da
manhã, entre nove e onze da manhã, ou exatamente entre seis e
oito da noite? Ela diminui depois de comer, ou se eleva somente
depois de comer? Ela se eleva somente com o sono?
Ocasionalmente, perceber-se-á que ela afeta apenas algumas
partes ou apenas um lado do corpo. Pode ser precedida por
calafrios ou seguida deles. Pode haver transpiração, com alívio
da febre, ou transpiração, sem alívio da febre. Pode haver sede
245
com a febre, ou falta de sede. Cada um desses sintomas pode
levar o homeopata a um medicamento diferente.
Cada sintoma deve ser examinado com cuidado exatamente
nesse grau de detalhe, até se chegar a uma totalidade dos
sintomas agudos. Dessa totalidade, pode ser determinado o
medicamento para aquele momento em particular. Naturalmente,
o andamento dos sintomas muda rapidamente durante uma
moléstia aguda, podendo ser indicado outro medicamento
algumas horas depois. Mas sempre que o medicamento for dado
com base na totali dade dos sintomas agudos do momento, a
tendência é haver uma evolução acelerada para a cura, o que
resulta em considerável alívio para o paciente.
Capítulo 13
Avaliação dos sintomas
Logo que o caso for tomado e registrado de maneira detalhada e
completa, é possível começar o processo de estudo que levará,
enfim, à primeira prescrição. Para os iniciantes, talvez seja
melhor explicar aos pacientes com doenças crônicas que é
necessário um estudo específico do caso para se chegar à
primeira prescrição; por isso pede-se-Ihes que voltem um dia ou
dois depois para receber a prescrição. Esse procedimento ajuda
a evitar prescrições apressadas, que constituem a perdição de
todos os homeopatas, sempre às voltas com horários apertados.
Esse plano de ação não desapontará o paciente; pelo contrário,
melhorará a prescrição homeopática cuidadosa; isso não só é útil
à necessária cooperação do paciente, como também ajuda a
incutir-lhe a necessidade de um relato acurado e completo dos
sintomas.
No início da carreira, talvez o homeopata tenha de fazer várias
entrevistas com o paciente antes de chegar à prescrição final. O
homeopata iniciante conhece poucos medicamentos, e de
246
maneira parcial, e provavelmente fará as perguntas de forma
incompleta. A inexperiência pode fazer com que o iniciante
apenas aborde superficialmente questões que mais tarde serão
de grande importância. Por essa razão, o melhor procedimento é
fazer uma entrevista inicial e, depois, levar o registro para casa e
estudá-Io de modo completo e cuidadoso. Durante esse estudo,
é inevitável que surjam outras questões ou dúvidas a respeito de
certas áreas da tomada de caso inicial. Enquanto isso, o paciente
também refletirá sobre a entrevista, desejando esclarecer alguns
pontos. A seguir, é realizada uma segunda entrevista, geralmente
mais breve, abordando maiores detalhes. O homeopata se
aprofunda mais no caso. Esse processo deve se repetir tantas
vezes quantas forem necessárias antes que o médico chegue,
finalmente, à prescrição que julgar correta; toda prescrição deve
ser feita sem pre somente após uma reflexão cuidadosa, seja
chegando a ela alguns dias depois, no caso de um homeopata
iniciante, seja resolvendo-a num período relativamente curto, no
caso de um homeopata mais experiente. Se for tomado esse
grande cuidado com cada um dos casos, adquirir-se-á, de
maneira rápida e confiável, experiência e conhecimento dos
medicamentos, até que, por fim, todo o processo seja apenas
uma questão de minutos em certos casos, sem diminuir a
confiança do homeopata quanto à prescrição.
Logo que todo o caso, tenha sido tomado, a tarefa seguinte é
reunir a totalidade da sintomatologia do paciente. Tendo em
mente que o mecanismo de defesa só se dá a conhecer através
dos sintomas produzidos nos níveis mental, emocional e físico, o
homeopata deve ler e reler o histórico do paciente até assimilá-Io
como um todo. O caso deve tomar forma, em sua mente, de
maneira que as expressões mais importantes do mecanismo de
defesa sejam ressaltadas apropriadamente até que todos os
mínimos detalhes rejam apreendidos. Os fatores etiológicos, as
predispesições miasmáticas e a personalidade geral (não
247
patológica) do paciente também devem ser totalmente
entendidos.
O passo seguinte consiste em anotar as expressões do sintoma
principal, por ordem de importância. Nessa relação, só os
sintomas mais significativos devem ser incluídos; muitos
sintomas menores serão ignorados. Essa lista deve ser feita com
muita ponderação e não apenas de acordo com algum
procedimento mecânico (como arrolar apenas os sintomas
sublinhados três vezes, ou começar sempre com as principais
queixas do paciente). Os critérios para a relação dos sintomas
são descritos na figura 15. Basicamente, os sintomas são
ordenados de acordo com a intensidade, conforme a sua
profundidade no organismo (sendo considerados mais
importantes os sintomas mentais e emocionais) e de acordo com
o grau de peculiaridade.
248
Com freqüência, a lista dos sintomas ignorará totalmente as
queixas que fizeram com que o paciente consultasse o
homeopata em primeiro lugar; por exemplo, um paciente pode vir
ao consultório preocupado com algumas verrugas, ou com dores
de cabeça crônicas, ou com uma tendência à constipação, mas o
homeopata descobre, ao tomar o caso, que o paciente tem um
grande número de fobias, ansiedades e possui uma resistência
249
muito baixa, quadro que se apresentou durante toda a sua vida.
Nesse caso, as queixas originais são virtualmente ignoradas na
avaliação dos sintomas e, em vez disso, são relacionadas as
principais limitações à liberdade do paciente.
Na figura 15, os sintomas de maior importância estão dispostos
no ápice do diagrama e os de menor importância, embaixo. Um
sintoma mental de grande intensidade, que também é muito
peculiar, recebe o maior peso na avaliação; por exemplo, esse
sintoma pode ser "irritabilidade apenas quando está só" ou
"irritabilidade apenas quando está lendo", ou "ansiedade que
melhora com bebidas frias".
Por outro lado, um sintoma comum, que afeta apenas uma parte
localizada do corpo, e que interfere apenas ocasionalmente na
vida do paciente, é considerado de importância mínima. Exemplo
desse tipo de sintoma pode ser uma calos idade na planta do pé,
algumas verrugas nos dedos, ou até uma pequena mancha no
rosto, que é significativa para o paciente apenas por motivos
estéticos.
Para os propósitos da prescrição homeopática, o sintoma
peculiar é aquele que não é só incomum à experiência humana,
mas também está arrolado no Repertório como uma rubrica com
poucos medicamentos. Por exemplo, um paciente pode
descrever o delírio paranóico constante de que todos estão
tentando insultá-lo. Este, por certo, é um sintoma incomum da
experiência humãna, mas não tem nenhum valor para a
homeopatia, pois não está descrito nos experimentos com os
medicamentos. Por outro lado, um paciente pode se queixar de
uma poderosa sensação de medo que sobrevém somente
quando ouve música; no Repertório homeopático, esse sintoma é
encontrado em apenas dois medicamentos (Digitalis e Natrum
carbonicum); desse modo, ele pode ser de grande valor para o
homeopata. Naturalmente, este sempre deve ter em mente que
os experimentos, bem como o Repertório, podem estar
250
incompletos. Por mais valiosos e característicos que sejam os
sintomas, não se deve prescrever apenas para eles, sem uma
confirmação do resto do caso.
Sintomas comuns são os comuns à experiência humana e que
possuem um grande número de medicamentos arrolados no
Repertório. Por exemplo, o sintoma "Aversão a companhia",
mesmo não sendo incomum à experiência humana, está arrolado
no Repertório como tendo produzido sem medicamentos!
Ao avaliar os sintomas, deve-se ter em mente os que são
verdadeiramente representativos do mecanismo de defesa do
paciente e os que são meras manifestações da cate goria de
diagnóstico da entidade patológica. De um paciente que sofre da
categoria alopática "Artrite reumatóide” espera-se naturalmente
que se queixe de dor nas juntas. Esse sintoma, embora útil para
um diagnóstico alopático, não tem valor algum para o homeopata
na descoberta do medicamento correto. Uma junta pode estar
muito dolori da, vermelha, inchada e delicada ao toque e mesmo
assim nenhum desses sintomas auxiliam o homeopata. Por
outro lado, um inchaço sem dor das juntas dos membros supe-
riores seria de grande valor para o homeopata, pois é uma coisa
característica, e somente dois medicamentos estão arrolados sob
essa rubrica.
Sintomas gerais são os que descrevem o paciente como um
todo. Geralmente, esses sintomas são descritos por frases como
"Sinto..." ou "Estou..." Por conseguinte, todos os sintomas
mentais e -emocionais são gerais.
A pessoa tende a descrevê-Ios em termos gerais:
"Estou ansioso", "Estou deprimido", ou "Tenho medo...”
Esses são também sintomas físicos gerais. Referem-se a
estados físicos que se aplicam à pessoa como um todo. O
paciente pode dizer: "Sinto muito frio o tempo todo", "Não tolero o
sol" ou "Estou sempre cansado". Mesmo os desejos ou aversões
por alimentos são considerados' sinto mas físicos gerais: "Tenho
251
necessidade de doces", "Detesto carne" ou "Estou sempre com
vontade de tomar bebidas frias". Esses sintomas representam
manifestações do organismo todo e não apenas do estômago.
Os sintomas sexuais seguem-se, em importância, aos sintomas
físicos gerais. Neles estão incluídos o grau de desejo sexual, o
grau de satisfação sexual e o agravamento ou melhora pela
menstruação. :Esses sintomas, relacionados com os órgãos
genitais particulares, no entanto, estão arrolados como sintomas
locais: isto é, irregularidades menstruais, corrimentos, ou
inabilidade de ter ou de manter a ereção.
A seguir, em importância, estão os sintomas do sono, que,
naturalmente, são sintomas gerais. Eles surgem de estados
mentais. e emocionais, de certos desequilíbrios hormonais e
eletromagnéticos, da irrequietação física, etc. Por conseguinte,
arrolamos sintomas como a posição em que o paciente dorme,
posições em que não consegue dormir ou em que ocorrem
sonhos perturbadores, partes do corpo que tendem a ficar
descobertas durante o sono, hora em que acorda, insônia,
sonolência, etc.
Aos sintomas físicos em particular é dada uma significação
relativamente menor. Embora esses sintomas possam ser de
grande intensidade, afetam apenas uma parte do organismo e
são, por conseguinte, uma manifestação relativamente
insignificante do mecanismo de defesa.
Finalmente, são de menor significado as mudanças patológicas
de tecido. Elas têm grande importância para o diagnóstico
alopático e também para se determinar uma impressão
prognóstica, mas são relativamente pouco importantes para a.
seleção real do medicamento. Por exemplo, o problema comum
de retenção de urina num homem idoso, que tem a próstata
dilatada, não pode ser usado para os propósitos homeopáticos. A
constipação resultante do câncer do reto também é igualmente'
inútil, a menos que existam sintomas individualizantes
252
associados a ela. Mesmo um problema tão sério quanto a
dispnéia resultante do aumento da glândula tireóide não pode ser
utilizado na escolha de um medicamento se não tiver característi-
cas individualizantes.
O processo de dispor os sintomas de acordo com sua
importância relativa é decisivo para o estudo posterior do caso e
impossível descrever essa avaliação de modo mais conciso do
que o utilizado nas linhas gerais de orientação, arroladas na
figura 15. Esse não é um processo matemático; assim, não pode
ser feito através de métodos regulares. Ele exige muita reflexão,
habilidade e experiência. Nos primeiros anos, esse processo
deve ser supervisionado por um homeopata experiente e
habilitado, pois pode ser tão importante para a prescrição
definitiva quanto a tomada de caso real.
O Repertório homeopático
Antes de continuar com o processo do estudo de um caso, é
necessário fazer uma pausa para descrever os con teúdos e a
estrutura de um instrumento de máxima importância: o
Repertório.
Obviamente, seria inteiramente impraticável que um médico
folheasse os vários volumes das materia medicas na tentativa de
descobrir o medicamento que melhor se adapta à totalidade dos
sintomas do paciente. Foram, por conseguinte, projetadas
referências cruzadas que compilam as listas de medicamentos
onde um sintoma específico foi localizado. Na história da
homeopatia, há projeções de vários desses Repertórios.
O Repertório mais completo e útil, de acordo com minha
experiência, é o de J ames Tyler Kent. Trata-se de um trabalho
monumental, que contribuiu enormemente para o processo da
seleção de medicamentos. O Repertório de Kent arrola
detalhadamente os vários sintomas produzidos pelos
253
experimentos com medicamentos conhecidos na época (1877), e
vai mais além. Kent foi 'um homeopata muito experiente e
habilitado e incluiu no Repertório uma grande quantidade de
informações recolhidas em sua expe riência pessoal. A
confiabilidade desse Repertório deriva não apenas da
meticulosidade no registro dos resultados dos experimentos, mas
também do detalhamento e profundidade do seu próprio
conhecimento.
O propósito do Repertório é possibilitar que o homeopata reveja
rapidamente as várias drogas conhecidas como produtoras dos
sintomas que estão sendo estudados num determinado caso.
Devido à gradação dos sintomas, auxilia também a interpretar a
intensidade dos sintomas, como é demonstrado nos
medicamentos em particular. O Repertório destina-se a servir de
lembrete, de sugestão. Ele leva o homeopata a pensar sobre
certos medicamentos que, de outra forma, poderiam ser
esquecidos.
Não se deve exagerar a importância do Repertório. Há uma
tendência natural para usá-Ia como uma espécie de computador,
que de modo mecânico apresenta, automática e
impensadamente, o medicamento suposto. Na verdade, os
conteúdos do Repertório de Kent foram realmente computados.
Naturalmente, a mera computaçãb dos dados não é perigosa em
si mesma; o verdadeiro risco acontece quando pessoas
inabilitadas são ensinadas a confiar nos resultados da
"repertorização" como se eles fossem suficientes para a escolha
do medicamento. A repertorização pode apenas ser tão útil
quanto a informação já reunida. Anos de treinamento são
necessários para se aprender as habilidades próprias implica das
na tomada de caso, gradação e avaliação dos sintomas.
Em última análise, qualquer prescrição deve ser baseada num
estudo cuidadoso da materia medica e na combinação da
"essência" e totalidade dos sintomas com a do medicamento.
254
Essa combinação exige estudo e discemimento. Deve-se sempre
lembrar que o repertório é apenas um auxiliar para esse
processo de combinação.
É importante recordar também que o Repertório, por mais
admirável que seja, é incompleto. O conhecimento de Kent era
vasto, mas não podia incluir tudo. Com mais experiência, os
homeopatas provavelmente descobrirão medicamentos arrolados
de modo incorreto no Repertório. Haverá muitos acréscimos às
observações clínicas de sintomas curados, bem como dados dos
modernos experimentos, tanto de medicamentos antigos como
de novos. Mesmo os medicamentos testados como Sulphur,
Calcarea carbonica ou Natrum muriaticum podem apresentar e
curar sintomas ainda não registrados no Repertório. Por conse-
guinte, é importante não ver o Repertório como uma referência
absoluta, final, embora ele seja uma grande inspiração para o
trabalho. Trata-se de um instrumento indispensável, mas não é a
palavra final.
Descrito de modo simples, o Repertório é um livro maciço, que
contém uma relação detalhada dos sintomas (chamados
"rubricas") a que se seguem os vários medica mentos que
demonstraram esse sintoma, tanto nos experimentos, como nos
casos clínicos curados.
No Repertório de Kent, os medicamentos são listados em três
gradações: aqueles em que o sintoma específico é representado
com maior intensidade têm sua freqüência impressa em negrito e
três pontos; os que mostram o sintoma com intensidade
moderada estão impressos em itálico e têm dois pontos; os que
demonstram menor intensidade e freqüência são impressos em
tipo comum e têm um ponto.
A presença ou ausência de um medicamento numa determinada
rubrica, bem como sua gradação, está sujeita a atualização,
conforme a experiência dos homeopatas capacitados. O
homeopata deve manter regularmente um re gistro dos sintomas
255
que foram curados no processo de total restabelecimento do
paciente. Quando ocorrer uma dessas curas, o homeopata deve
rever cada sintoma curado nos seus mínimos detalhes, incluindo
todas as modalidades, sensações e circunstâncias
concomitantes de que o paciente se lembre - exatamente como é
feito na experimentação. Uma vez observado que um sintoma
particular foi curado deste modo três vezes, é justificável que o
homeopata inclua o medicamento no Repertório. Ou se o
medicamento já constar da lista, mas num grau inferior, poderá
fazê-Ia subir de grau, de acordo com sua experiência.
O Repertório de Kent pode ser desconcertante para o não
iniciado. Não é apenas uma lista alfabética dos sintomas; ao
contrário, está ordenado de maneira específica, de acordo com o
método homeopático da tomada de caso.
As partes do livro são ordenadas, em primeiro lugar, de cima
para baixo e do geral para o particular. O Reper tório tem 31
tópicos, na seguinte ordem:
1. Tópico geral
2. Hora dos agravamentos
3. Modalidades que agravam (ou melhoram, se especificado)
4. Localização
5. Extensões
Capítulo 14
Análise de caso e primeira prescrição
Até aqui, discutimos o processo da tomada de caso, os princípios
gerais implicados na gradação dos sintomas e suas
262
classificações, de acordo com a importância homeopática.
Também consideramos, de modo geral, a organização do
Repertório e de que maneira um sintoma individual pode ser
estudado nele. Estamos agora aptos a nos aprofundar na análise
do caso e, também, na escolha do primeiro medicamento.
Durante toda essa exposição, veremos sempre que a análise de
um caso e a escolha de um medicamento são julgamentos
regulares ou matemáticos baseados em regras concretas: Isso
parece ser verdadeiro em virtude das dificuldades acarretadas
pela tentativa de traduzir um processo muito complexo numa
linguagem clara e compreensível. As leis e princípios implicados
na escolha de um medicamento, como foi descrito na primeira
parte, são definitivos e verificáveis. No entanto, sua aplicação em
cada caso individual é um assunto complexo; os julgamentos
envolvidos resultam de uma fusão entre arte e ciência. O leitor
não deve pensar que esse processo possa ser consumado por
meio de rotinas computadorizadas ou que não levam em conta o
pensamento. Nem se deve tirar a conclusão de que as
prescrições dadas pelos médicos experientes sejam feitas, de
certo modo, por intuição ou por processos mágicos. Existe um
processo definido, baseado inteiramente em leis e princípios
sólidos, mas que é também artístico na aplicação individual. O
homeopata usa um amplo espectro de informação do paciente
combinado com um vasto conhecimento dos princípios
homeopáticos e da materia medica, fundindo-os depois numa
compreensão gestáltica, na qual é baseada a prescrição.
Esse processo exige um grande esforço mental, uma percepção
altamente penetrante de cada paciente, bem como muito estudo.
Por isso, é de se esperar que poucos terão a motivação e a
paciência necessárias para aplicar esse modelo de homeopatia.
Haverá sempre a tendência, por parte dos médicos, de tentarem
atalhos, de descobrirem "linhas de ação" passíveis de serem
utilizadas de maneira rotineira e de desenvolverem métodos por
263
computador, que possam reduzir o tempo e a energia exigidos do
homeopata para chegar a uma prescrição correta. Até aqui, no
entanto, no longo caminho percorrido, essas tentativas tiveram
resultados desapontadores que apenas contribuem para
prejudicar a imagem pública da homeopatia. Muito cedo na sua
carreira, todo homeopata deve tomar uma decisão: a utilização
ou não de modelos estritos e exigentes. Os que tentam os
atalhos obterão alguns resultados, mas se tornarão cada vez
mais frustrados pela confusão criada pelas prescrições
incompletas. Aqueles que, por outro lado, se dedicam à
aprendizagem e aplicação dos mais altos padrões terão
resultados cada vez mais positivos e, além disso, descobrirão
que estão verdadeiramente sabendo o que está acontecendo em
cada caso. Uma carreira dedicada a esses padrões é altamente
satisfatória, não apenas para os pacientes como também para os
homeopatas.
Perguntas práticas também surgem nas mentes dos iniciantes:
"Poderei ganhar a vida obedecendo a esses padrões?" Poderei
atender um número suficiente de pacientes para ganhar a vida
trabalhando nestes padrões que exigem longo tempo de
dedicação a cada paciente?” É verdade que cada caso exige
tempo e, por conseguinte, cobra-se do paciente uma soma
relativamente alta em comparação com, digamos, o que um
alopata pode cobrar. No entanto, devemos nos lembrar de que os
resultados da homeopatia são muito melhores do que os da
alopatia. Os pacientes percebem esse fato e estão dispostos a
pagar pelos resultados. Com o tempo, os pacientes da homeopa-
tia gastam bem menos com o cuidado médico do que
os pacientes da alopatia, pois, à medida que vai melhorando sua
saúde, as consultas vão sendo cada vez mais espaçadas, a
medicação é menos cara e a necessidade de testes
de laboratório e hospitalização é drasticamente reduzida. Logo
que um homeopata tenha dominado o mais alto padrão na
264
prescrição e esteja alcançando resultados confiáveis e
consistentes, poderá ganhar a vida sem maiores dificuldades,
assegurando-se inclusive um grande número de clientes.
A seleção da potência
Tão logo um medicamento é selecionado, a decisão seguinte
com que o médico se depara é a escolha da potência. Para tanto,
não existem regras fixas, e a experiência e a observação têm um
papel muito importante. Daremos aqui algumas linhas gerais,
mas elas não devem ser ado tadas como "regras".
Há uma tendência, particularmente entre os iniciantes, a dar
muita atenção à seleção da potência. Por mais estranho que
pareça, é mais comum perguntarem a um instrutor homeopático
por que uma potência em particular é selecionada num
determinado caso ao invés de questionarem o motivo pelo qual
um medicamento em particular é selecionado. A realidade é que
a seleção da potência tem importância secundária em relação à
seleção do medicamento. A lei dos semelhantes é a principal lei
da cura, e o processo de potencialização é apenas um fator
acessório. Se for selecionado o medicamento correto, ele agirá
278
de modo curativo em qualquer potência, embora uma potência
correta aja de modo mais suave, para conforto do paciente; ao
contrário, um medicamento incorreto tanto pode ser inativo
quanto disruptivo para um caso, não importa sua potência.
Linhas de ação próprias para a seleção da potência são difíceis
de se definir, pois em qualquer caso é impossível dizer o que
teria acontecido se uma potência diferente tivesse sido dada.
Suponhamos que um paciente se queixe de artrite, asma e
ansiedade; receita-se Arsenicum na potência 30 e acontece uma
cura duradoura num período de seis meses. Poder-se-ia
conjecturar que uma potência 10M teria produzido uma cura em
três meses; no entanto, isso não pode ser comprovado. Além do
mais, é impossível comparar dois casos que parecem
semelhantes e, em seguida, determinar duas potências
diferentes; dois casos nunca são exatamente iguais. Desse
modo, um não pode ser comparado a outro. A única
circunstância em que essas comparações têm alguma validade é
durante uma epidemia virótica na qual muitos pacientes precisam
do mesmo medicamento; na verdade, é nessa circunstância que
é possí vel demonstrar, de forma convincente, a eficácia das
potências mais altas, mas essa experiência não pode ser
necessariamente transferida para os casos crônicos. Estes im-
plicam uma ampla variedade de fatores e, assim, qualquer linha
de ação para a seleção da potência das doenças crônicas
somente pode ser considerada em impressões gerais.
Existem certos tipos de casos nos quais devem ser usadas
potências relativamente baixas, pelo menos no início. Aos
pacientes de constituição fraca, pessoas idosas ou
hipersensíveis, inicialmente deve-se receitar potências que
abranjam, de forma aproximada, de 12X a 200. A razão para
tanto é que as potências mais altas podem superestimular os
mecanismos de defesa enfraquecidos, resultando em
desnecessários e poderosos agravamentos (os agravamentos
279
serão discutidos no próximo capítulo). Tal princípio se aplica
particularmente aos pacientes conhecidos como portadores de
uma patologia específica no nível físico - isto é, arteriosclerose,
câncer, doença da artéria coronária. Quando a patologia alcança
um estágio adian tado no nível físico, a constituição do
organismo enfraquece e até mesmo a administração do
medicamento correto em alta potência tende a provocar sérios
sofrimentos. Por conseguinte, pode-se dizer, de modo geral, que,
quanto mais grave for o estado da patologia física, menor a po-
tência a ser usada para a prescrição inicial.
Se a opção for receitar uma potência 12X, esta deverá ser
utilizada no decorrer de um determinado período, com a
instrução de que, se houver, inesperadamente, agravamento ou
melhora dos sintomas, ela seja suspensa imediatamente. Entre
os pacientes muito fracos para receber uma potência 12X, os que
possuem uma vitalidade relativamente maior podem repetir as
doses três vezes ao dia durante trinta dias. Se a vitalidade do
paciente estiver muito enfraquecida, no entanto, essa
recomendação pode ser reduzida para uma vez ao dia, durante
vinte dias.
Vamos supor que temos um paciente, um homem idoso, com a
próstata bem aumentada, e suspeitamos que possa ser câncer.
Se o paciente tiver vitalidade suficiente para empreender suas
atividades diárias num nível razoável, então uma potência 12X
deve ser prescrita três vezes ao dia durante trinta dias, com
instruções para suspendê-Ia se ocorrer qualquer mudança
inesperada para "melhor ou pior". Por outro lado, a um homem
idoso com a próstata aumentada, tão enfraquecido que passa a
maior parte do tempo na cama, seria dada uma potência 12X (ou,
às vezes, até mesmo uma 6X) somente uma vez por dia, durante
cerca de vinte dias, junto com as mesmas instruções para
suspendê-Ia na ocorrência de mudança significativa.
Pacientes extremamente sensíveis apresentam um problema
280
singular para a seleção da potência. Trata-se de pessoas
excessivamente "nervosas", que reagem a todos os estímulos
físicos e emocionais, geralmente lépidas e ligeiras em seus
movimentos, irrequietas, sensíveis aos ódores, aos ruídos e à
luz, e que em geral sofrem com a exposição aos elementos
químicos do ambiente ou da comida. Essas pessoas são muito
reativas tanto a potências baixas (no nível físico) quanto a
potências altas (no nível eletrodinâmico). Por conseguinte, é
melhor restringir as prescrições iniciais a 30 ou 200 nesses
pacientes; dependendo da reação, as potências posteriores
podem ser elevadas ou reduzidas. Mas, de início, 30 ou 200 são
as melhores escolhas para pacientes supersensíveis.
As crianças que sofrem de problemas graves deveriam ter como
indicação habitual potências baixas. Um bebê com um eczema
sério ou com psoríase provavelmente terá um agravamento sério
se lhe for dada uma potência alta. Nesses casos, então, é
oportuno prescrever algumas doses (digamos, diariamente) de
uma 12X ou apenas uma dose de uma potência 30 ou 200.
Geralmente, nos casos com malignidade conhecida não é
aconselhável, de início, receitar potências acima de 200. Se há
apenas uma suspeita de que um caso possui uma condição
maligna ou pré-maligna, a prescrição inicial não deve ser mais
alta do que 1M. Além do mais, essa restrição à potência é feita a
fim de evitar agravamentos poderosos e desnecessários que
exijam uma experiência considerável para seu tratamento.
Se um caso parecer relativamente curável e livre de patologia
física, deverão ser tentadas as potências iniciais mais altas, de
30 a CM. O princípio orientador no caso é o grau de certeza que
o homeopata tem a respeito do medicamento. Se o medicamento
parecer bastànte óbvio e cobrir muito bem o caso, deve-se
prescrever uma potência muito alta a uma pessoa com um
sistema curável. Se não houver um consenso a respeito do
medicamento mais apropriado, é melhor começar com uma
281
potência mais próxima de 30.
Por exemplo, suponhamos que uma mulher de trinta anos se
queixe de uma erupção de pele nas mãos que dura já três anos.
Ao se tomar o caso, descobre-se que ela teve poucos problemas
e que é totalmente livre em sua expressão de vida. Ela é criativa,
gosta de seu trabalho, apreciou viajar por vários países, tem
amizades profundas e não é reprimida na esfera sexual. A
informação homeopática leva a um quadro muito claro de
Pulsatilla, e a observação da paciente confirma essa impressão.
Nesse caso, pode-se prescrever Pulsatilla 50M ou até uma CM.
Por outro lado, outra pessoa jovem queixa-se de um mal
semelhante, mas hesita-se em decidir-se entre Pulsatilla ou
Sulphur. Finalmente, decide-se pela Pulsatilla, após muitas horas
de cuidadoso estudo; nesse caso, inclina-se a dar somente uma
30 ou uma 200 para a prescrição inicial devido à falta de
definição.
Ainda em outro caso de erupção de pele, percebe-se que
Pulsatilla é o indicado. No entanto, a paciente relata que é capaz
de manter sob controle sua erupção de pele usando um
ungüento de cortisona "somente" duas vezes por semana. Mais:
observa-se que existem outras fraquezas do organismo - uma
vitalidade frágil, propensão ao cansaço, é facilmente afetado por
elementos químicos do ambiente. Nesse tipo de caso, deve-se
evitar uma potência mais alta do que a 200, do contrário, poderia
haver um agravamento desnecessariamente prolongado.
Diz-se, às vezes, que as potências altas são para os casos em
que o centro de gravidade está no nível mental, ao passo que as
potências bàixas são reservadas àqueles centrados no plano
físico. Esse ponto de vista é falso. É verdade que os sintomas
mentais são os mais importantes na seleção de um
medicamento; se eles indicarem clara e obviamente um
medicamento, embora os sintomas físicos possam não combinar
tão perfeitamente, então pode ser receitada uma potência alta,
282
pois há um alto grau de certeza a respeito po medicamento, e
não porque seja um caso mental. Outro caso com muitos
sintomas mentais, que não se ajusta claramente a qualquer
medicamento em particular, deverá ser tratado com uma potência
mais baixa, pois não há definição para o medicamento mais
adequado.
É comum a idéia, completamente equivocada, de que não
acontecerá nenhum dano se um médico iniciante restringir a
potência abaixo de 30. Como foi mencionado antes, qualquer
potência pode agir profundamente, dependendo da semelhança
do remédio com o paciente. Se o medicamento for o simillimum,
mesmo uma dose aproximada ou uma potência muito baixa
podem ter efeitos profundos; se for originalmente uma substância
venenosa e combinar intimamente com a freqüência de
ressonância de um paciente hipersensível, uma potência mais
baixa pode produzir um agravamento sério e perigoso.
Existem alguns medicamentos com relação aos quais se deve ter
muito cuidado ao receitar potências altas. Medicamentos como
Lachesis, Aurum e nosódios de ação profunda (especialmente o
Medorrhinum) relacionam-se fortemente com a patologia física.
Por essa razão, eles geralmente devem ser restritos às potências
mais baixas (30 ou 200), a menos que o caso individual
demonstre estar totalmente livre da patologia física.
Finalmente, convém falar a respeito da prescrição nos casos
agudos. Em geral, os mesmos princípios se aplicam, mas pode
acontecer que seja necessária uma repetição mais freqüente,
caso a ação do medicamento seja rapidamente esgotada. Nas
crianças com enfermidades agudas (porque seus mecanismos
"de defesa são muito fortes), é melhor não prescrever potências
mais baixas do que 200; por conseguinte, potências de 200 a CM
podem ser receitadas, dependendo da certeza que se tem do
medicamento para a enfermidade aguda. Se o paciente for mais
idoso, cronicamente enfraquecido, ou até mesmo se
283
enfraquecido seriamente pela moléstia aguda (por exemplo, se
ela evoluiu para uma grave pneumonia), uma potência de 200
seria preferível para a prescrição inicial, mesmo que o medica-
mento fosse absolutamente óbvio. Mesmo nas enfermidades
agudas, o ideal é receitar uma dose de medicamento para poder
observar seu efeito; se for ministrada uma potência mais baixa, é
possível que o efeito se esgote em poucas horas, e, nesse caso,
deve-se receitar mais uma dose. Esta, porém, não será prescrita
regularmente; o caso será retomado para se certificar de que não
é necessário um medicamento diferente. É prática comum em
alguns círculos homeopáticos prescrever regularmente um
programa automático de repetições nos casos agudos (digamos,
uma dose a cada hora, perfazendo seis doses). Embora essa
prática, provavelmente, seja pouco nociva, é também, em geral,
desnecessária. Se houver certeza quanto ao medicamento, em
geral é suficiente prescrever uma dose em uma potência alta;
caso seja preciso repetir a dose, faz-se necessária uma nova
tomada do caso para uma nova prescrição.
Remédio único
Um dos princípios fundamentais da homeopatia é o de
prescrever apenas um medicamento de cada vez. Trata-se de
um princípio tão óbvio que se aplica a toda a prática curativa.
Se se prescrever mais de um medicamento (ou técnica
terapêutica), qualquer efeito, benéfico ou nocivo, não será
avaliado com precisão. Não há meio de se definir qual
componente de determinada combinação agiu. Além disso,
ninguém pode predizer as interações que venham a ocorrer
numa combinação de influências terapêuticas. Se um de-
terminado medicamento age de um modo particular quando é
ministrado sozinho, como é possível prever seu efeito depois de
alterado, de modo imprevisível, por uma combinação?
284
Suponhamos que um paciente que recebeu uma combinação de
seis medicamentos homeopáticos diferentes apresente uma
deterioração definida. O que está acontecendo? Trata-se de
alguma espécie de agravamento complexo? É possível que um
dos medicamentos tenha produzido uma crise curativa enquanto
outro está funcionando como antídoto contra qualquer progresso
anterior que porventura estivesse em andamento? Um
medicamento pode agir em poucos dias, enquanto o outro
começa a surtir efeito depois de uma semana? O paciente é
especialmente sensível a qualquer substância em particular? Se
for, a qual substância ele reage? Se o agravamento for julgado
realmente sério, como achar o medicamento seguinte para salvar
o paciente?
Ao contrário, suponhamos que seja dada uma combinação de
seis medicamentos a um paciente e ocorram melhoras definidas
num período de três meses. Qual dos medicamentos produziu a
melhora? Se a melhora for apenas temporária, como poderá ser
escolhido em seguida um medicamento que se relacione com
ela? Suponhamos que o medicamento ativo foi dado numa
potência muito baixa para a cura permanente; como decidir,
então, que medicamento dar em potência mais alta?
Existem outras questões ainda. Se os medicamentos são
privados no contexto de experimentações separadas,
cuidadosamente conduzidas, o que aconteceria se eles fossem
combinados? Seria a ação resultante apenas uma mistura das
experimentações separadas, uma "soma das partes"? Ou o
resultado seria um quadro sintomático drasticamente diferente?
Nenhuma experimentação jamais foi feita com medicamentos
combinados; desse modo, como é possível prever os conjuntos
de sintomas que essas combinações podem curar?
A prática de receitar combinações de medicamentos obviamente
viola todas as leis fundamentais da homeopatia - e o senso
comum, também. Entretanto, é prática normal em algumas partes
285
do mundo. Alguns homeopatas tomam um caso, não conseguem
perceber um medicamento que cubra a totalidade dos sintomas
e, desse modo, criam uma combinação de medicamentos, cada
um dos quais (de acordo com sua estimativa) para cobrir uma
parte do caso. Para piorar tudo, costuma-se, nesses círculos,
misturar, também, os níveis de potências e até mesmo receitar
determinados medicamentos a certa hora do dia e outros em
outros horários. Como o leitor deste livro agora sabe muito bem,
o processo da homeopatia consiste em encontrar o medicamento
cuja freqüência vibracional combine mais de perto com a
freqüência ressonante do mecanismo de defesa do paciente. A
prescrição combinada, nesse contexto, seria semelhante à
tentativa de se criar uma harmonia ligando-se ao mesmo tempo
seis rádios diferentes em estações diversas, na esperança de
criar uma sinfonia.
Essa prática só pode criar um caos completo, e, na verdàde, os
casos mais lamentáveis que ocorrem na prática homeopática são
os de pacientes que se submeteram durante anos a esse
tratamento caótico. O.mecanismo de defesa desses pacientes
está tão perturbado que freqüentemente é de todo impossível
restaurar sua saúde mesmo no nível anterior a essa prescrição,
quanto mais motivar uma cura.
Para um homeopata consciencioso e instruído, a prescrição
combinada só pode ser deplorada. Até mesmo a atitude: "Bem,
nós temos a nossa maneira e eles têm a deles" é insuficiente,
pois essa prescrição caótica pode apenas contribuir para a ruína
da reputação da homeopatia. Se alguém estiver tentando
conscientemente utilizar-se de uma terapia baseada em energias
que estão além da percepção comum, deverá necessariamente
se conformar de modo muito estrito às leis específicas e
aprimoradas que regem o uso dessas energias.
Capítulo 15
286
A consulta de retorno
É comum, na prescrição homeopática, dar-se atenção quase que
spmente ao complexo sintomático inicial e à descoberta do
primeiro medicamento. Embora seja verdade que em qualquer
caso a prescrição mais importante é a inicial, deve-se entender
que a capacidade de interpretar corretamente a resposta do
paciente ao medicamento inicial tem a mesma importância.
Parece, mais fácil, para o homeopata, abordar a consulta de
retorno como uma simples questão onde se decide se o paciente
reagiu ou não à prescrição inicial. Se o paciente expressa
satisfação, o médico respira aliviado e, confiante, recomenda a
mais comum de todas as prescrições homeopáticas: "Espere".
Se, por outro lado, o paciente não se mostra satisfeito e,
aparentemente, pouca coisa aconteceu, então o homeopata se
acomoda à tarefa de tentar decidir uma prescrição melhor.
Na realidade, a verdadeira significação é muito mais complexa do
que isso, e as decisões tomadas durante as consultas de retorno
não podem ser feitas de modo simplista ou casual. Embora a
primeira prescrição seja a decisão mais importante da
homeopatia, a prescrição feita no retorno é, provavelmente, a
mais difícil. Na primeira entrevista, o objetivo é relativamente
simples: analisar o caso de modo a chegar ao medicamento
correto. As consultas de retorno, no entanto, implicam
julgamentos muito mais complexos. O paciente está melhor de
verdade? O medicamento está produzindo a resposta desejada,
ele falhou ou produziu somente um efeito parcial? Agora que é
conhecida a resposta à prescrição inicial, qual seria o verdadeiro
prognóstico do paciente? Deve ser dado um medicamento a essa
altura, ou a potência deve ser mudada? É hora de esperar por
mais melhoras? Talvez fique claro que o paciente não reagiu de
modo apropriado ao medicamento inicial; a imagem do
medicamento atual está bastante clara para permitir outra
287
prescrição? Ou é necessário mais tempo para que surja a
imagem?
Estes são apenas alguns dos dilemas com que se defronta o
homeopata durante as consultas de retorno. Pode-se na verdade
dizer que a consulta de retorno, mais ainda do que a entrevista
inicial, exige maior conhecimento, sensibilidade e discernimento
por parte do homeopata. É durante as consultas de retorno que
toda a gama de conhecimentos da homeopatia se faz valer. Os
princípios que envolvem as decisões tomadas durante essas
consultas são verificáveis e científicos no sentido mais
verdadeiro; por outro lado, sua aplicação demanda tal
complexidade em cada caso individual que ela só pode ser
considerada uma arte.
A tendência natural dos homeopatas é focalizar sua atenção
principalmente na descoberta do medicamento. Nas
conferências, nos grupos de estudo e nas consultas a outros
homeopatas, o principal tópico geralmente é: deve-se prescrever
este ou aquele medicamento? Isso naturalmente é muito
apropriado para a primeira prescrição, mas uma questão bem
mais importante na consulta de retorno é: "O que está realmente
acontecendo?" Para se chegar a uma resposta, exige-se um
conhecimento profundo da teoria homeopática; além disso, em
muitos casos, trata-se de questões às quais é difícil responder.
Somente depois de decidir qual a resposta mais adequada é que
o homeopata poderá optar entre continuar o tratamento ou
suspendê-Io. Se a opção for continuar o tratamento, será preciso
estabelecer se se mantém o medicamento ou se há a
necessidade de se mudar sua potência.
O paciente também depara com novos desafios durante as
consultas de retorno. Na entrevista inicial ele geralmente fica
impressionado com a incrível quantidade de detalhes de que o
homeopata necessita. Isso pode levar a uma tendência a se
deter nos detalhes em vez de se visar a mudança do padrão
288
geral. Há um forte desejo de comunicar a informação precisa,
que é necessária, mas também há uma grande esperança de
que o medicamento esteja realmente atuando. Cada paciente
responde de uma determinada maneira a estas pressões. Um
paciente emocionalmente "fechado", que tem um ponto de vista
acentuadamente racional sobre os acontecimentos e revela uma
informação apenas quando ela é surpreendente e definida, ten-
derá a ser cauteloso e poderá desorientar o homeopata no
momento de estabelecer se o medicamento agiu ou não. Um
paciente emocionalmente "aberto" pode empolgar-se com o
desejo de trazer boas novas e, por conseguinte, comunicar
informações muito otimistas. Um paciente hipocondríaco, sempre
concentrado em impressionar o médico com a importância de
seus problemas, pode enfatizar detalhes insignificantes,
menosprezar sintomas que foram mitigados e exagerar a
seriedade dos novos sintomas. Os pacientes hipersensíveis
podem apresentar mudanças extraordinárias após tomarem a
dose inicial, e prestar atenção inadequada às mudanças que
ocorrem com o passar do tempo.
Por essa razão, não é oportuno enfatizar o fato de que os
pacientes devem providenciar relatos cuidadosos e objetivos. Os
pacientes que tendem a esquecer o padrão das mudanças
devem manter anotações; e não se deve exigir nenhuma
anotação dos pacientes que se orientam pelo detalhe e que,
provavelmente, perderão de vista o quadro geral. Ao mesmo
tempo, o homeopata deve ser muito mais cuidadoso com relação
às respostas dadas durante as consultas de retorno. Como já foi
dito, existem problemas particulares associados à tomada de um
caso na entrevista inicial; isso é ainda mais verdadeiro quanto às
consultas de retorno, embora os problemas sejam totalmente
diferentes. As respostas do paciente devem sempre ser
questionadas detalhadamente para se determinar o padrão real
das mudanças ocorridas. Isso deve ser feito com grande cuidado,
289
tendo em mente a eventualidade de uma disrupção séria,
acarretada por um medicamento incorreto ou por um
medicamento administrado em hora imprópria. Muitos ho-
meopatas são capazes de selecionar o medicamento apropriado
na primeira consulta, mas uma grande porcentagem deles
posteriormente arruína o sucesso inicial, interferindo no momento
errado ou por meio de medicamentos incorretos.
Tomemos como exemplo um paciente de natureza relativamente
"fechada", que recebeu o remédio constitucional correto, mas
que, na consulta de retorno, ainda tem dúvidas sobre a ação do
medicamento. Ele não quer ser muito otimista; desse modo
informa que não notou nenhuma mudança definida. Então, o
homeopata retoma o caso, nota apenas algumas mudanças, que
prontamente são explicadas por fatores ambientais, e decide dar
um novo medicamento, tendo em vista que não ocorreu nenhuma
mudança significativa. Ao reestudar o caso, o medicamento
inicial ainda parece ser muito bom, mas como aparentemente
não funcionou, é receitado um segundo medicamento. Na
consulta seguinte, ainda parece que houve pouco progresso, e,
assim, é tentado outro medicamento. Após cinco meses de
receita, o paciente finalmente comenta: "Sabe, de todos os
remédios que você me deu, aquele primeiro parecia o melhor; eu
me lembro de algumas mudanças nítidas naquela época". Esta é
a situação mais exasperante para um homeopata, pois depois de
tantos medicamentos não é mais possível simplesmente repetir o
me ,dicamento inicial; o caso pode ter-se tornado tão desnor-
teante que o medicamento inicial já não seria o indicado, ou tão
confuso que seria mesmo difícil discernir o quadro atual.
O perigo de julgar mal a resposta durante a segunda entrevista
pode ser tão sério que, às vezes, recorro a algumas medidas
drásticas. Se suspeito que um paciente assim "fechado" está
retendo a história verdadeira, posso dizer: "Está bem. Como
parece não ter ocorrido nenhum progresso, sou forçado a fazer
290
outra prescrição. Esperemos que ela não interrompa nenhum
efeito benéfico que possa estar ocorrendo por causa do primeiro
medicamento". Logo que o paciente perceber, com esta ameaça,
que as prescrições seguintes podem interferir seriamente na
ação do pri meiro medicamento, ele provavelmente tentará
descrever a verdadeira situação com maior empenho. É nesses
momentos que aparece o quadro real.
Inúmeros exemplos podem ser citados para demonstrar as
armadilhas em que os homeopatas e os pacientes podem cair.
Neste capítulo, vou tentar descrever as mais comuns com base
em minha experiência. Seria inviável delinear de modo completo
toda reação possível aos medicamentos em cada situação. Esse
conhecimento pode vir apenas com a experiência. Entretanto, os
exemplos dados neste capítulo são uma tentativa de descrever
as respostas mais características, suas interpretações, e as
ações terapêuticas apropriadas.
Para começar, devemos dar uma definição clara da segunda
prescrição. A "segunda prescrição" é a que se segue a um
medicamento que agiu. Não é necessariamente apenas a
segunda prescrição. Se nehhum medicamento agiu até a terceira
prescrição, então o quarto medicamento será a "segunda
prescrição": Um medicamento incorreto, distante da freqüência
ressonante do organismo, não tem nenhum efeito; por
conseguinte, não é levado em consideração nas próximas
prescrições. Se, no entanto, uma prescrição teve um efeito
diminuto sobre o paciente, é considerada como a "primeira
prescrição", e as seguintes devem ser cuidadosamente
avaliadas.
Esse ponto torna-se um fator importante em relação aos assim
chamados medicamentos hostis. Por exemplo, descobriu-se na
experiência homeopática que o Phosphorus e o Causticum
podem criar reações adversas se forem prescritos um após o
outro. Essa observação, no entanto, aplica-se apenas aos casos
291
em que o paciente respondeu a um dos dois medicamentos. Se
for dado o Causticum e não ocorrer nenhuma mudança, então
não é preciso ter medo de dar o Phosphorus na prescrição
seguinte. Se, por outro lado, o Causticum pareceu ter algum
efeito, o homeopata deve evitar seguir com o Phosphorus.
O agravamento homeopático
O agravamento homeopático talvez seja a questão mais
controvertida e mal entendida da prescrição curativa. Talvez por
esse motivo os homeopatas divirjam mais surpreendentemente
dos outros sistemas terapêuticos, tendo os desentendimentos a
respeito dessa questão criado inclusive dissidências sérias
dentro da classe homeopática.
Como o simillimum produz no paciente sintomas semelhantes
aos dos indivíduos saudáveis, espera-se que também produza os
mesmos sintomas no indivíduo doente. Por conseguinte, é lógico
presumir que uma verdadeira resposta curativa seja precedida,
até certo ponto, pelo agravamento dos sintomas. Como foi
descrito detalhadamente na primeira parte desta obra, o
mecanismo de defesa de um paciente pode manifestar sua
atividade apenas por meio dos sintomas. Nosso propósito ao
indicar um medicamento homeopático é estimular o mecanismo
de defesa do paciente de modo que ele possa, finalmente, curar
a doença contra a qual tem lutado. Por conseguinte, a fim de
produzir uma resposta verdadeiramente curativa, não apenas se
espera mas se deseja que haja um agravamento dos sintomas,
após a administração do medicamento correto.
O agravamento homeopático pode ser considerado um meio
através do qual o organismo é "encorajado" pelo medicamento a
297
"confessar", a trazer à luz os problemas profundamente
arraigados ou as tendências malignas que antes o oprimiam.
Para se libertar por inteiro, um organismo deve ser
completamente expressivo e criativo no contexto de sua
realidade imediata. Quando sua expressão éinibida, suprimida,
oculta ou obstruída, temos um indivíduo doente. Durante a
entrevista homeopática, o médico deve, de certo modo, induzir o
paciente a comunicar essa expressão "interna" do mecanismo de
defesa, a fim de descobrir o medicamento exato. O medicamento
produz, então, um estímulo no mecanismo de defesa, criando por
um certo tempo uma exacerbação dos sintomas, que são a única
manifestação de sua ação visível à nossa percepção.
Dessa maneira, pode-se compreender imediatamente que,
sobretudo nos casos crônicos, os agravamentos homeopáticos
são desejáveis. Por conseguinte, a prática comum de alguns
homeopatas, tentando suprimir os agravamentos, é, na verdade,
um processo que não permite a cura. As atitudes e ensinamentos
baseados na prescrição de medicamentos que provavelmente
não produzam agravamentos vêm de pessoas com pouco
conhecimento da ciência da homeopatia.
Os pacientes homeopáticos muitas vezes ficam surpresos
quando telefonam para o homeopata, relatando o agravamento
inicial de seus sintomas, e recebem a resposta: "Bom sinal. Fico
contente". Os homeopatas, naturalmente, não são insensíveis.
Eles não desejam infligir sofrimentos desnecessários. Na medida
do possível, tudo é feito para reduzir a seriedade e a duração dos
agravamentos homeopáticos, mas as leis básicas da cura
sempre devem ser observadas. Mesmo que possa parecer cruel
da parte do médico, qualquer outro procedimento estará, na
verdade, prestando um desserviço ao paciente, pois seu sofri-
mento será, afinal, prolongado pela ausência da cura.
Na grande maioria dos pacientes, o agravamento homeopático
não pode ser considerado prejudicial. O mecanismo de defesa
298
sempre obedece ao princípio fundamental da cibernética, que
declara que todo sistema altamente organizado reagirá ao
estresse com a melhor resposta possível de que é capaz no
momento. Por isso, se houver um sintoma patológico que possa
causar dano ao sistema, como a pressão sanguínea muito alta,
esse sintoma perigoso será imediatamente melhorado, enquanto
os demais podem agravar-se durante a crise terapêutica. Esse é
um princípio muito importante, que se deve ter em mente ao
interpretar as respostas ao medicamento.
Uma circunstância determinada em que os agravamentos do
medicamento podem ser prejudiciais é a repetição de um
medicamento mal indicado. Se o homeopata interpretar mal a
resposta do paciente e continuar a repetir o medicamento, o
mecanismo de defesa pode ficar superestimulado, provocando o
malefício. Isso exige uma repetição realmente excessiva e,
provavelmente, só ocorreria com a mais impensada das
prescrições; no entanto, trata-se de uma possibilidade teórica.
Outra circunstância dos agravamentos homeopáticos com a qual
se deve ter cuidado diz respeito aos casos patológicos sérios
aliados a uma constituição gravemente enfraquecida. Nesses
casos, a verdadeira cura é possível desde que haja suficiente
resistência para produzir um agravamento; isso exige do
homeopata a maior habilidade e experiência. Nessa
circunstância, um bom conhecimento alopático é importante para
o homeopata; nesses casos sérios, é necessário que o
homeopata seja capaz de determinar quando o caso está
evoluindo para uma mudança patológica séria. Deve-se então
introduzir rapidamente o medicamento correto no momento
apropriado, que pode ser alguns dias após a prescrição inicial. E
difícil lidar com esses agravamentos, que comumente acontecem
nos pacientes hospitalizados; não é provável que um homeopata
iniciante se confronte com essa situação. Entretanto, todo médico
deve estar atento para essa possibilidade.
299
A doença da cólera nos oferece uma boa analogia. A maioria das
doenças infecciosas cria uma reação da parte do mecanismo de
defesa, que se manifesta com febre alta, mal-estar, dores
musculares, anorexia, e vários outros sintomas. Na cólera, a
própria reação defensiva torna-se bastante séria, podendo até
matar o paciente; na verdade, não é o microrganismo que causa
a morte; pelo contrário, é a grave diarréia (e a desidratação
resultante) destinada a eliminar as bactérias do sistema. E por
isso que o tratamento alopático para a cólera salva vidas - não
pelo antibiótico, mas por fornecer alimento intravenoso que
contra-ataca a perda de fluido. Uma vez terminada a reação
defensiva, são suspensos os fluidos intravenosos e o paciente
retoma ao estado normal. Nesses casos, é a superatividade do
mecanismo de defesa que pode levar à morte. O mesmo é
verdadeiro para um sério agravamento homeopático que ocorra
num paciente constitucionalmente fraco e profundamente
patológico. Se houver essa reação, um medicamento correto no
momento preciso pode capacitar o mecanismo de defesa a
provocar a saúde do modo mais eficiente, mas uma política de
espera desnecessária, durante muito tempo, com relação ao
movimento do caso, pode levar a um dano patológico.
Esses agravamentos sérios, no entanto, só ocorrem
em circunstâncias muito incomuns que provavelmente não
são enfrentadas pelos homeopatas iniciantes. Para os casos roti-
neiros de consultório, o agravamento homeopático não causa
danos significativos. Essas respostas, no entanto, não devem ser
temidas nem evitadas, pelo contrário, devem ser bem-vindas.
Sempre que possível a escolha de uma potência mais reduzida
no começo pode diminuir a intensidade da reação, mas um
medicamento nunca deve ser escolhido apenas para se evitar o
agravamento homeopático, Pelo contrário, o agravamento é o
sinal encorajador de que o medicamento está agindo e o
paciente está a caminho da cura.
300
Avaliação um mês depois
A primeira situação que exige grande compreensão do
homeopata é a consulta de retorno um mês depois. A primeira e
mais importante tarefa é interpretar corretamente o efeito real da
primeira prescrição. Como foi discutido, essa não é uma tarefa
fácil. Em primeiro lugar, a confiabilidade da informação deve ser
estabelecida com correção. Há muitas dinâmicas no paciente que
podem desorientar o homeopata, além dos problemas comuns da
entrevista, que possivelmente podem levar o médico a "induzir" o
paciente a uma má interpretação.
A variável seguinte é a própria prescrição homeopática. O
medicamento foi ativo no seu estado inicial? Foi prescrito o
verdadeiro simillimum? A prescrição apenas se aproximou do
exato simillimum, tendo por isso agido apenas parcialmente?
Esteve muito longe do simillimum para causar algum efeito? O
medicamento esteve próximo demais e criou um efeito
supressivo ou disruptivo? O medicamento foi antidotado por
qualquer ação do paciente? Se a segunda prescrição visa auxiliar
ainda mais o paciente, todas essas questões devem ser
corretamente avaliadas. Se a avaliação for incorreta, pode muito
bem criar uma peturbação na ação da primeira prescrição.
Outra variável é o estado de saúde do paciente. Na primeira
entrevista, são descobertos muitos indícios que podem ajudar o
médico a decidir sobre um prognóstico do caso. Um verdadeiro
prognóstiço não pode ser obtido, no entanto, até haver uma
oportunidade para avaliar a reação do paciente ao medicamento.
E nesse ponto que o grau de incurabilidade de um caso pode,
na verdade, ser determinado.
Na história da prescrição homeopática, a experiência clínica tem
evoluído gradualmente quanto à verificação das interpretações
das várias respostas que os pacientes comunicam após tomar
301
um medicamento. Normalmente, a literatura homeopática tem
focalizado a questão da descoberta de um medicamento correto
para cada caso. No entanto, os observadores homeopáticos mais
perspicazes e cuidadosos foram gradualmente descobrindo os
padrões das respostas aos medicamentos, que têm significados
particulares. Por fim, essas observações culminaram na regra
formulada por Constantine Hering como Lei de Hering: A cura se
processa de cima para baixo, de dentro para fora, dos órgãos
mais importantes para os menos importantes e na ordem inversa
do aparecimento dos sintomas. Um importante corolário deve ser
acrescentado a essa lei: a cura se processa pela melhora dos
planos internos conjugada com uma aparente descarga, erupção
da pele ou das membranas mucosas. Essa complementação da
lei original não acrescenta nenhum conceito novo, mas torna
mais vívidas as espécies de mudanças que ocorrem durante o
processo da cura.
Essa regra de interpretação é uma pauta valiosa para se
determinar a ação de um medicamento. Ela simplesmente
expressa de maneira correta os princípios descritos na primeira
parte deste livro. Durante o processo da cura, o mecanismo de
defesa transforma o grau de vibração que, progressivamente, vai
se mudando para níveis cada vez mais periféricos do organismo.
Se a cura estiver progredindo, os sintomas se manifestarão em
níveis cuja importância é cada vez menos crucial para a
liberdade do indivíduo expressar-se plena e criativamente na
vida. E esse o conceito subjacente à Lei de Hering. Não o de que
existem apenas quatro direções específicas para a cura; na reali-
dade, existe apenas uma direção para a cura, que a linguagem
s6 pode descrever claramente pelas quatro observações
específicas.
No apêndice B, consideramos a variedade de respostas dos
pacientes, que pode ocotrer um mês após a administração do
primeiro medicamento. A interpretação dessas respostas, às
302
vezes, é uma tarefa difícil; são necessários muito treino e
experiência antes que um homeopata adquira conhecimento,
discernimento e habilidade suficientes para chegar a uma
interpretação correta. Entretanto, tentarei descrever os exemplos
mais comuns encontrados na prática diária. Somente termos
vagos podem ser usados paradescrever um fenômeno que, na
verdade, é completamente específico; esperamos que mesmo
essas generalidades forneçam aos estudantes da homeopatia
uma estrutura pela qual possam, de modo acurado, interpretar as
respostas dos pacientes aos medicamentos.
Capítulo 16
Princípios que envolvem o controle dos períodos
de longa duração
Quando se trata de interpretar as mudanças de longa duração
durante a prescrição homeopática, as variações de paciente para
paciente tornam-se tão complexas que o único meio de discuti-
Ias é em termos dos princípios e categorias gerais. E. impossível
considerar cada eventualidade num manual; mas, neste capítulo,
espero fornecer os princípios básicos que orientam o controle
dos casos durante um longo período. Talvez os exemplos reais
dos casos apresentados no apêndice B ilustrem de modo mais
específico a maneira pela qual esses princípios podem ser
aplicados êom precisão aos casos individuais.
Uma vez mais, ao lidar com circunstâncias difíceis como as
apresentadas liqui, deve-se advertir o leitor de que a arte do
controle de longa duração só pode ser adquirida pela instrução
supervisionada por um homeopata experiente e instruído. Essa
compreensão não pode ser adquirida apenas pela leitura de
livros.
Nesta parte do livro, levamos em consideração a aplicação
prática, mas é sempre bom lembrar que tudo o que estamos
303
discutindo surge das leis e princípios gerais descritos na primeira
parte. O primeiro passo para a aprendizagem do controle dos
casos com graus variados de complexidade é uma boa
fundamentação teórica. Um simples conhecimento da materia
medica não é suficiente. O conhecimento da teoria deve ser
combinado com o conhecimento da materia medica, mais a
experiência clínica prática, para determinar a resposta a todas as
situações. Não é tanto uma questão de "encontrar o
medicamento certo" quanto de ser capaz de determinar
específica e precisamente o que acontece com o paciente a
qualquer momento do tratamento.
Consideramos em detalhes a maneira de interpretar a resposta
do paciente um mês após ter recebido o medicamento. Os
mesmos princípios, até certo ponto, aplicam-se ao controle dos
casos de longa duração. Neste capítulo, primeiro vou reiterar
alguns dos princípios mais fundamentais que orientam o controle
dos casos crônicos no tempo. Em seguida, levarei em
consideração as três categorias básicas de pacientes crônicos e
de que maneira os princípios fundamentais se aplicam a cada
uma dessas categorias.
Princípios fundamentais
Os princípios gerais se aplicam a todos os casos em todos os
momentos, embora em graus variáveis, dependendo da
gravidade do caso. De que maneira precisamente eles se
manifestam numa pessoa vai depender do grau de resistência do
mecanismo de defesa. Num paciente com um mecanismo de
defesa forte, os princípios básicos para a avaliação da direção da
cura são ressaltados claramente. duando o mecanismo de
defesa é muito fraco e tênue, no entanto, os princípios não se
manifestam tão claramente, e o julgamento e a experiência do
homeopata tornam-se de suma importância.
304
Princípio no. 1: Se o paciente sente-se melhor, internamente, não
interfira. Esta deve ser considerada a "regra de ouro" da
homeopatia. Deve ser obedecida tão completa e estritamente
quanto possível, se o homeopata realmente desejar resultados
profundos e permanentes. Esse princípio, embora
freqüentemente ignorado pelos médicos, sustenta
necessariamente todas as outras linhas de orientação da
interpretação. Deve-se lutar sempre para compreender primeiro
como o paciente está se sentindo, apesar das queixas ou
decepções que forem comunicadas inicialmente.
Princípio no. 2: Não dê outro medicamento, a menos que o
quadro de sintomas esteja claro. Isso se aplica tanto às situações
em que é indicado o mesmo medicamento quanto às situações
em que é mais apropriado um novo medicamento. Se a imagem
do medicamento não estiver clara logo após o medicamento
inicial, é melhor esperar por uma imagem clara sempre que for
possível. Naturalmente, ser capaz de perceber a "clareza" da
imagem de um medicamento depende tanto do conhecimento
quanto da experiência. Um homeopata iniciante pode perfeita-
mente acreditar que a imagem está clara e correta quando não
está. Ao contrário, a imagem pode parecer confusa para um
iniciante quando pareceria óbvia para um homeopata mais
instruído. Entretanto, quando não for possível consultar um
homeopata mais experiente, o princípio geral é esperar, sempre
que a imagem não estiver clara.
Ocorre com freqüência de o paciente passar por uma fase de
sofrimento que "parece" necessitar de medicamento. O paciente,
acometido de sério sofrimento, telefona diariamente ao médico.
Entretanto, o primeiro passo é determinar se o sofrimento é
realmente tão sério quanto antes do medicamento inicial. Se for,
o próximo passo será determinar o surgimento de uma imagem
clara e se esta jáse estabeleceu. Não se deve ter pressa em
305
prescrever enquanto os sintomas estão mudando. É bem
possível que a situação esteja em estado de transição; a imagem
do medicamento pode ter-se apresentado há apenas dois ou três
dias e, nesse caso, é provável que ela, finalmente, mude.
Sempre que possível, deve-se esperar até que a imagem do
medicamento se estabeleça pelo menos durante quinze dias
aproximadamente; nesse caso, pode-se ter uma razoável certeza
de que o medicamento baseado na imagem estável não será
disruptivo, podendo inclusive ser benéfico.
Como veremos, existem naturalmente circunstâncias
desesperadoras em que esse princípio não pode ser estritamente
seguido. Apesar dessas exceções, deve-se fazer todo o esforço
para deixar o paciente chegar aos limites da sua capacidade de
suportar o sofrimento a fim de perceber claramente a imagem do
próximo medicamento. Com o tempo, a observação desse
princípio abreviará o período de sofrimento - embora, no
momento, possa parecer um modo cruel de agir.
Princípio no. 3: Não tenha pressa de prescrever, sobretudo se
um antigo sintoma ou complexo de sintomas estiver retornando.
Se um paciente admite ter sentido, alguns meses ou anos antes
de tomar um medicamento, os mesmos sintomas que sentiu nos
primeiros seis meses depois de começar a tomá-Io, o melhor é
esperar. Nesse caso, é muito importante ter feito uma tomada de
caso completa. Na confusão do momento e com o desejo do
paciente de que o homeopata "faça alguma coisa" numa situação
que aparentemente é a "degeneração" de uma situação anterior,
o paciente pode mostrar relutância em relatar que o novo
conjunto de sintomas é realmente a manifestação de um estado
anterior. O médico deve examinar com muito cuidado essa
possibilidade, a fim de se certificar perfeitamente da situação
real.
Princípio no. 4: Não prescreva um medicamento se aparecer
uma erupção de pele ou supuração acompanhada de uma
306
melhora geral. Nos casos crônicos acontece com freqüência
seguir-se uma reação ao medicamento correto, que produz
erupção na pele ou supuração. Num paciente com um bom
mecanismo de defesa, essa erupção ou supuração pode ser
intensa mas breve. Em uma pessoa com o meçanismo de defesa
mais fraco, a erupção ou supuração pode ser seriamente
perturbadora e prolongada. Esse acontecimento pode tornar-se
absolutamente alarmante para o paciente que pensa que sua
saúde está seriamente abalada e para o homeopata, que é
atormentado pelas urgentes chamadas ao telefone. Entretanto, o
homeopata não deve se apressar em prescrever outro
medicamento, a menos que a situação esteja além do suportável
e a imagem do medicamento seguinte esteja clara.
Princípio no. 5: Não prescreva outro medicamento se os
sintomas remanescentes representarem apenas uma per-
turbação menor para a pessoa. Esse é o corolário do primeiro
princípio. Tal princípio é óbvio para qualquer pessoa. que tenha
uma compreensão verdadeira do conceito básico de cura, que se
processa das regiões mais centrais para as mais periféricas do
organismo. Não obstante, muitos equívocos são cometidos por
médicos ansiosos por "completar a cura".
Princípio no. 6: Não receite outro medicamento se os sintomas
estiverem claramente se movimentando de cima para baixo no
corpo. Esse é outro princípio claro para qualquer pessoa
familiarizada com a Lei de Hering. Ele se aplica de modo mais
óbvio aos sintomas do corpo físico, mas é também evidente nos
diagramas dos invólucros cônicos, apresentados na primeira
parte.
Casos incuráveis
A terceira categoria dos pacientes que precisam de um
tratamento de longa duração é a dos que já cruzaram os limites
da incurabilidade. Esses pacientes mostram o menos possível os
princípios fundamentais da cura. Os mecanismos de defesa são
tão fracos que não suscitam as típicas reações curativas.
Por exemplo, se foi dado a um desses pacientes um
medicamento homeopático correto, depois da consulta inicial o
paciente pode voltar com a seguinte declaração: "Eu me sinto
definitivamente melhor". No grupo desses pacientes, esse relato
geralmente significa que o sofrimento agudo foi aliviado de modo
320
considerável, mas que, na verdade, o estado geral de bem-estar
não foi afetado. Como o sofrimento anterior era muito sério,
esses pacientes têm a impressão de que o estado geral está
melhor.
Jamais se pode esperar que os casos incuráveis saltem de um
nível maior de saúde para outro mais periférico. O único objetivo
razoável é. minorar os sofrimentos imediatos, de forma que o
resto da vida do paciente possa ser relativamente confortável.
Nesses casos, as recaídas ocorrem muito rapidamente e com
freqüência. Com isso, a imagem do remédio muda quase com
toda a certeza, de modo que o médico deve ser bastante
perspicaz e estar atento às novas imagens do medicamento.
Se ocorrerem erupções de pele ou supurações, não é provável
que sejam acompanhadas de uma melhora real dos níveis mais
profundos do paciente, embora haja uma melhora definitiva numa
pequena porcentagem dos casos. Pode-se supor que os
sofrimentos advindos dessas erupções ou supurações sejam
sérios e persistentes. E freqüente a necessidade de uma
prescrição rápida nesses casos; mesmo assim, a imagem do
novo medicamento ainda não estará clara. Não obstante, o
homeopata deve fixar-se no medicamento mais próximo do caso
no momento. Isso exige grande habilidade; por conseguinte,
esses casos não devem ser aceitos por principiantes.
Nos casos incuráveis, geralmente não se observa o retorno de
sintomas antigos; o mecanismo de defesa é muito fraco para
voltar ap nível de vibração anterior.
Presumindo-se uma excelente prescrição, os casos incuráveis
têm uma oportunidade de sobrevivência, em relativo conforto, por
muitos anos, dependendo, naturalmente, da condição da
gravidade inicial. Suas manifestações seguem as direções
tradicionais da resposta curativa; assim, só a habilidade e a
experiência do homeopata podem proporcionar uma efetiva
mitigação da doença.
321
Este capítulo parece implicar que, sob tratamento homeopático,
os pacientes com graves doenças crônicas sofrem
inexoravelmente. Isso pode ser verdade nos casos mais graves,
mas permanece o fato de que, durante todo o tratamento, eles
definitivamente sofrem menos do que teriam sofrido em seu
estado inicial, sem o tratamento homeopático. O tratamento
homeopático sempre é válido nesses casos, pois é a única
esperança que eles têm.
Capítulo 17
Casos complicados
Neste capítulo, consideraremos os casos que aparecem na
consulta inicial já num estado altamente desordenado ou
terminal. Esses casos exigem do homeopata a maior habilidade,
experiência, paciência e tempo possível. Como regra geral, a
maior parte desses casos deveria ser imediatamente rejeitada
pelos homeopatas principiantes, pois é provável que a má
prescrição resulte em maior confusão para o caso e sofrimento
desnecessário para o paciente. Muitas vezes parece que a
homeopatia é a única oportunidade para o paciente, já que o
remédio alopático e outras terapias não foram bem sucedidos.
No entanto, quando tanto o homeopata quanto o paciente não
têm conhecimento do extremo sofrimento e do caos que se
podem encontrar nos casos graves, eles iniciam o tratamento e
em pouco tempo descobrem que tais casos estão além da pos-
sibilidade de compreensão. O modo mais compassivo de ação
pode ser, simplesmente, recusar esses casos ou enviálos a um
homeopata mais experiente, a fim de evitar o terrível sofrimento
que pode decorrer da busca de uma oportunidade de cura; se o
homeopata não for capaz de lidar com as confusões e as
complicações, esse sofrimento pode, afinal, ser inútil.
Naturalmente, não há comparação entre o dano que o tratamento
322
alopático "correto" pode causar a um paciente cronicamente
doente e o que pode ser causado por um tratamento
homeopático "incorreto". Os efeitos colaterais do tratamento
alopático são terríveis em comparação com uma má prescrição
homeopática. A prescrição homeopática incorreta não causa mal
direto ao paciente, mas pode produzir muita disrupção no
mecanismo de defesa, tornando as prescrições posteriores
incomensuravelmente mais difíceis.
Neste capítulo, consideraremos estas três categorias básicas de
casos que se apresentam de início com problemas altamente
complicados. Discutiremos casos que se desordenaram durante
longo tempo por prescrições homeopáticas inadequadas, casos
em que durante muito tempo os pacientes tomaram drogas
alopáticas fortes, e casos que já chegam ao homeopata no
estágio terminal.
1. Curáveis
2. Incuráveis
Casos terminais
Muito raramente o homeopata: se confronta com um paciente já
em estado terminal - cuja morte é prevista para alguns dias ou
semanas: Se o paciente estiver com câncer, é muito comum que
já estejam sendo administradas drogas citotóxicas; nenhuma
ajuda é possível nesses casos. Há outros tipos de casos
terminais em que o paciente não tomou nenhum medicamento,
ou por não existir tratamento específico, ou porque o paciente
não confia nos médicos alopatas. Esses pacientes devem ser
atendidos - com a devida consideração às limitações legais
existentes na circunscrição do médico -, mas só se pode receitar
338
um paliativo.
À primeira vista, pode parecer que um simples paliativo é
relativamente fácil de ministrar na homeopatia. Na verdade,
principalmente nos casos terminais, o paliativo pode ser a tarefa
mais desafiadora com que um médico homeopata se defronta.
Todas as dificuldades discutidas antes, com relação aos casos
incuráveis, se apresentam nesse caso. O paciente deve ser visto
todos os dias; o medicamento provavelmente tem que ser
mudado com freqüência, devendo planejar-se o intervalo entre as
doses de modo a evitar as previsíveis recaídas. Toda prescrição
deve ser, na medida do possível, precisa; de outro modo, o caso
pode complicar-se tanto que se torne impossível a administração
de um paliativo.
Por alguma razão que ainda não entendi, os casos terminais
tendem a necessitar mais de medicamentos incomuns - como
Aurum muriaticum, Euphorbium, Tellurium, e outros.
Naturalmente, se aparecer o Sulphur ou outro policresto na
imagem do sintoma, este deve ser dado, mas, por experiência
própria, os casos profundos, terminais, exigem medicamentos
menores, que os homeopatas iniciantes provavelmente não
conhecem. Por essa razão, e por causa das dificuldades legais
que podem ocorrer, os homeopatas com pouca experiência
seriam prudentes se evitassem esses casos.
Ao tentar aliviar um caso terminal, dever-se-ia ficar contente por
acatar os sofrimentos relativamente menores. Freqüentemente, é
impossível produzir um estado completamente livre de dor,
embora o sofrimento intenso possa ser aliviado. Se o homeopata
tentar atingir o paliativo perfeito com muito empenho, estará
correndo o risco de provocar, com sua prescrição, uma recaída; e
essa recaída poderá tornar-se tão intensa quanto teria sido se a
doença não fosse tratada.
Diz-se com freqüência, nos círculos homeopáticos, que dar
remédios paliativos nos casos terminais pode abreviar
339
piedosamente os últimos dias do paciente. Esse ponto de vista
precisa de maior investigação. Na minha experiência pessoal,
não observei esse efeito. Como exemplo, posso lembrar, no meu
primeiro ano de prática, de uma mulher com câncer no seio; o
tumor havia se disseminado por metástase até a espinha lombo-
sacral, os ossos da pélvis e as costelas. Ela sentia tantas dores
que gritava o dia todo, e ninguém tinha esperanças de que ela
vivesse mais do que alguns dias. Os médicos se recusavam a
hospitalizá-Ia por não haver nenhum propósito nisso; foi-lhe dada
permissão para que morresse em casa. A família me chamou
para o tratamento. Expliquei que, pela experiência até aquele
momento, os medicamentos poderiam produzir um alívio à dor,
mas, em contrápartida, poderiam abreviar os dias restantes.
Concordou-se com isso e o tratamento homeopático teve início.
Para minha surpresa, os medicamentos não só tiveram sucesso
em aliviar o sofrimento mais intenso, como a paciente viveu por
mais um ano e meio! Ela continuou fraca e teve que restringir
suas atividades a ver televisão a maior parte do tempo, mas, pelo
menos, não estava sofrendo muito, e permaneceu mentalmente
ativa.
Este outro caso mostra também que se deve ficar satisfeito com
os sofrimentos menos intensos; uma paciente sofria de dores na
barriga das pernas que não eram controladas pelos
medicamentos. Um médico alopata declarou que elas eram de
origem "reumática", e afirmou que podiam ser controladas por
vitaminas. Foram-lhe dadas altas doses de vitaminas e, em três
dias, deu-se a recaída total, que escapava ao controle dos
medicamentos homeopáticos. Hospitalizada às pressas, foram-
lhe ministradas drogas alopáticas, e ela logo se tornou um
"vegetal" humano, falecendo dez dias depois.
Outro caso impressionante em que foi violado o princípio
segundo o qual os medicamentos paliativos encurtam a vida: um
homem de 74 anos tinha um câncer pulmonar em estado
340
adiantado, que havia se disseminado por metástase para várias
regiões. O prognóstico alopático foi o de que ele morreria dentro
de poucas semanas. Iniciou-se um tratamento homeopático
paliativo, e os resultados, novamente, foram surpreendentes.
Durante os três anos seguintes, o homem ficou essencialmente
livre da dor e suficientemente ativo para cuidar de seu jardim, até
morrer de uma grave e repentina hemorragia dos pulmões. Não
se pode dizer, de modo algum, que houve "cura" nesse caso,
mas o tratamento paIiativo foi duradouro e o paciente foi capaz
de gozar mais vários anos de vida útil além do que se esperava.
Capítulo 18
Manuseio dos medicamentos e fatores
interferentes
Neste livro, sempre me referi aos fatores técnicos que podem
evitar a ação de um medicamento. Neste capítulo, serão
enumerados os elementos específicos desses fatores. Por um
lado, deve-se dar atenção ao manuseio verdadeiro do próprio
medicamento a fim de que seu estado delicadamente
potencializado não seja destruído antes de ser administrado ao
paciente. Por outro lado, deve-se levar em consideração os
fatores que podem interromper a ação do medicamento até
mesmo meses ou anos após sua administração.
Logo que o medicamento for adquirido em uma farmácia
homeopática, deve ser manuseado corretamente. A maior parte
dos homeopatas mantém uma provisão de medicamentos no
consultório, que são administrados diretamente ao paciente. Às
vezes, fazem-se arranjos com os farmacêuticos locais para
administrar os medicamentos à base de prescrição. Os dois
procedimentos são aceitáveis, contanto que se dê atenção às
condições de armazenamento dos remédios. O medicamento,
geralmente, é recebido num frasco de vidro com uma rolha de
341
cortiça ou com uma tampa de plástico revestida de cortiça. Em
seu estado de estocagem, o frasco deve ser de cor, a fim' de
proteger o medicamento dos raios do sol, mas os frascos dados
ao paciente podem ser feitos de vidro transparente. Os remédios
devem ser mantidos em lugar onde não sejam expostos
diretamente à luz do sol, ao calor ou frio excessivos, à umidade
ou aos odores fortes. Qualquer dessas exposições físicas pode
destruir a potência do medicamento.
Cada homeopata tem seu próprio método de administrar o
medicamento, mas acredito que os padrões estritamente
profissionais mantidos pelas boas farmácias são a única garantia
de qualidade. Se não forem mantidos esses padrões, pode
acontecer de um medicamento ficar inativo antes mesmo de
chegar ao paciente.
O difícil é descobrir imediatamente que um medicamento está
inativo. Se um paciente retomar sem nenhum resultado,
provavelmente o homeopata decidirá que foi escolhido o
medicamento errado em vez de suspeitar da atividade do
medicamento. Existem já muitas variáveis na prescrição
homeopática; por conseguinte, recomenda-se que os
medicamentos sejam mantidos nas condições mais cuida-
dosamente controladas possíveis.
Para os que mantêm medicamentos em seu próprio consultório,
é absolutamente necessário encomendar o medicamento de uma
farmácia homeopática, sempre que ele se esgote. A principal
vantagem desse procedimento é que ele fornece uma fonte
contínua de lucro às farmácias, o único meio de assegurarmos
uma provisão contínua de medicamentos confiáveis. Mesmo que
nossos medicamentos sejam continuamente encomendados, a
despesa será quase insignificante.
Apesar dessa consideração, alguns homeopatas desejam manter
um suprimento constante em seus consultórios. Um plano de
ajuste útil, portanto, é manter dois conjuntos de medicamentos.
342
Um contendo os medicamentos em forma "seca" (em glóbulos de
lactose), prontos para a administração direta ao paciente. Outro,
com os medicamentos de "estoque" em forma líquida. Sempre
que um frasco de glóbulos for usado, será preenchido com
glóbulos sem medicamento, que depois serão umedecidos com
algumas gotas do líquido do "estoque" da solução em álcool.
Desse modo, quaisquer medicamentos inativos são reativados
com as soluções líquidas "estocadas", mantidas em frascos de
vidro colorido, muito raramente abertos. Finalmente, quando
terminar o "estoque" de medicamento líquido, ele deve ser
encomendado novamente a uma farmácia.
Geralmente, administram-se os remédios homeopáticos
colocando-se na língua do paciente alguns glóbulos de lactose
medicamentados. Deixa-se que se dissolvam na língua, podendo
também ser engolidos. O homeopata deve treinar-se para
esperar um momento antes de abrir um frasco de medicamento,
a fim de prestar atenção a quaisquer odores do ambiente.
Também é importante que o paciente não esteja usando
qualquer perfume no momento da administração.
A melhor hora para se tomar um medicamento é de manhã,
antes do café e antes de escovar os dentes. A razão para isso é
que não deve haver nenhum odor forte (em particular os odores
aromáticos como os da cânfora, hortelã-pimenta, cebola, alho,
etc.) na boca quando o medicamento for administrado; se
acontecer de estarem presentes esses odores, o medicamento
pode tornar-se inativo no próprio ato de colocá-Io sobre a língua.
Se um medicamento tiver que ser tomado após uma refeição,
deve-se deixar passar pelo menos uma hora e meia, a fim de
minimizar a possibilidade de permanência de qualquer odor forte
na boca. Depois que um medicamento for tomado, no entanto, o
paciente pode comer, após dez minutos, aproximadamente.
Quando há necessidade de repetição freqüente, os me-
dicamentos geralmente são dados com água. O melhor pro-
343
cedimento é dissolver alguns glóbulos num copo de vidro (não de
plástico) com água destilada. A água é agitada até que todos os
glóbulos se dissolvam, e o conteúdo é tomado de acordo com as
instruções do homeopata. Se for necessária outra dose no dia
seguinte, o copo é enchido com mais água destilada, tapado e
vigorosamente agitado. Ele pode, também, ser estocado até o dia
seguinte num lugar que não seja diretamente exposto à luz do
sol, ao calor excessivo, ao frio excessivo ou aos odores fortes.
Toma-se a dose seguinte e repete-se o processo quantas vezes
forem necessárias. Esse procedimento é conhecido na
homeopatia como plussing (plus) e geralmente é usado em
receitas de baixa potência. Por exemplo, suponhamos que seja
dado a um paciente uma potência 12X e com a instrução de que
ele o tome em forma de "plus" diariamente, durante dez dias.
Numa abordagem rudimentar, pode-se dizer que a dose, no dia
seguinte, terá uma potência 13X; no terceiro dia, 14X; no quarto,
15X; lá pelo décimo dia, o paciente estará tomando uma potência
22X.
Depois que o medicamento for administrado com sucesso, nossa
atenção se volta para os vários fatores que podem antidotar o
seu efeito, depois que o organismo respondeu a ele. Isso ocorre
por interferências na ação do próprio mecanismo de defesa. Em
geral, pode-se dizer que, literalmente, qualquer coisa que possua
um efeito medicinal sobre um indivíduo pode antidotar um
medicamento. Qualquer coisa que produza um estado hiperativo,
nervoso, ou quimicamente induzido de calma ou de sono pode
antidotar a ação do medicamento.
É importante lembrar que na verdade não é o medicamento que
é antidotado (embora essa expressão seja comumente usada por
conveniência), mas é o próprio mecanismo de defesa que retorna
à desordem, sob o estímulo de uma droga alopática, do café, e
assim por diante. Por conseguinte, os pacientes têm a
responsabilidade de ser bastante rigorosos com relação às
344
substâncias conhecidas como disruptivas do mecanismo de
defesa e que causam recaída.
O antídoto mais importante é a droga alopática. Em nosso:
mundo, as drogas como os analgésicos, os antibióticos, os
tranqüilizantes, os sedativos, etc., são tão comuns que as
pessoas tendem a engoli-Ias sem pensar duas vezes. No
entanto, são substâncias artificiais, com poderosos efeitos, que
rapidamente podem antidotar os medicamentos homeopáticos.
Por conseguinte, as drogas alopáticas devem ser estritamente
evitadas, a menos que tenham sido especificamente aprovadas
pelo homeopata.
As únicas exceções a essa regra são os analgésicos menores,
como a aspirina, que não é composta com outras drogas. Usada
em quantidades moderadas nas condições agudas, elas são
preferíveis, na verdade, ao tratamento homeopático. Quando um
paciente está sob tratamento homeopático crônico, as
enfermidades agudas autolimitadas, breves, não devem ser
tratadas com medicamentos homeopáticos; pelo contrário, as
dores ou enfermidades suaves devem ser tratadas com algumas
doses de aspirina.
O café é um "antídoto" muito conhecido. Os pacientes
homeopáticos devem evitar totalmente o café. Como é difícil
saber com antecedência quais os pacientes que, provavelmente,
são sensíveis ao café e quais os que podem ser relativamente
resistentes, é melhor fixar uma política igual para que não tomem
café. Isso se aplica tanto aos que bebem uma xícara por dia
quanto aos que bebem três xícaras por dia. Não é necessário
preocupar-se com quantidades pequenas de café como as
adicionadas aos bolos de café ou aos sorvetes com sabor de
café. A idéia é a de que o café é uma substância medicinal que
superestimula o sistema nervoso. Em um determinado paciente,
qualquer quantidade que produza até mesmo um mínimo grau
desse estímulo pode causar uma recaída. Os substitutos comuns
345
como o chá preto (se for tomado em quantidades que não
produzam superestimulação), o café descafeinado, o café de
cereais, etc., são aceitáveis.
A prática comum de usar chás de ervas como bebida exige uma
atenção toda especial. Os chás de erva comum não são
interferentes, mas é melhor variar seu uso, diariamente; o uso
rotineiro de um chá de erva em particular pode levar a uma dose
suficientemente forte para produzir um efeito medicinal.
Sabendo-se que o chá de uma determinada erva produz um
efeito medicinal em um paciente - estimulante, sedativo,
regulador das funções do estômago ou dos intestinos, diurético,
etc. -, deve-se evitá-Io.
A cânfora é uma substância que pode antidotar os medicamentos
homeopáticos. Os ungüentos comuns e os vapo-rubs usados
para os "resfriados do peito" geralmente contêm grandes
quantidades de cânfora. Além disso, a maior parte dos bastões
cosméticos para as rachaduras dos lábios contém quantidades
significativas de cânfora, devendo ser evitados. Mesmo uma forte
exposição às exalações de cânfora é capaz de antidotar os
medicamentos. No entanto, não é necessário ser cauteloso em
demasia com as diminutas quantidades de cânfora existentes
nos cosméticos. A prática de ler os rótulos e evitar as
substâncias com fortes odores aromáticos deve ser o bastante.
Observa-se que os tratamentos dentários freqüentemente
antidotam a ação dos medicamentos. Se um paciente estiver
começando o tratamento homeopático e souber que vai
necessitar de cuidados odontológicos num futuro próximo, é
melhor protelar o tratamento homeopático até que o tratamento
dentário tenha se completado. Se for preciso fazer esse
tratamento após ter recebido um medicamento homeopático, a
quantidade de anestésico usada deve ser diminuída tanto quanto
possível. O dentista também deve ser instruído no sentido de
evitar, na medida do pos sível, usar substâncias com fortes
346
odores aromáticos - principalmente o óleo de cravos ou os
compostos de menta.
Existem casos em que se descobriu que até a menta da pasta de
dentes constitui um antídoto para os medicamentos. Tais casos
são relativamente incomuns, mas ocorrem com freqüência
suficiente para que o homeopata esteja pelo menos consciente
dessa possibilidade.
Várias medidas terapêuticas também foram observadas como
antídotos ao tratamento homeopático. Observou-se que banhos
minerais, altas doses de vitaminas, acupuntura, massagem por
polaridade e fitoterapia ou terapia com ervas antidotam os
medicamentos homeopáticos em casos específicos. Por essa
razão, devem ser evitados durante o tratamento homeopático.
Em geral, as substâncias da comida não perturbam tanto o
sistema a ponto de antidotar os medicamentos. As comidas
comuns, em quantidades normais, parecem não ter efeitos
medicinais, não interferindo, por conseguinte, no tratamento
homeopático. Curiosamente, o mesmo parece ser verdadeiro
com relação aos cigarros e ao álcool; não se observou nenhuma
interferência deles nos medicamentos homeopáticos.
Capítulo 19
Homeopatia para o paciente que está à morte
Os últimos dois capítulos desta parte focalizarão algumas
especulações a respeito do papel da homeopatia. Essas opiniões
não implicam a informação do homeopata sobre a prática real,
mas tocam as questões levantadas nas conversas mais
filosóficas a respeito da homeopatia. Estas opiniões são
especulações absolutamente pessoais e não de vem ser
consideradas parte do corpo aceito do conhecimento
homeopático.
A morte é um ponto de transição crucial, que pode ser tão
347
importante para o crescimento consciente de um indivíduo como
qualquer outra crise que ocorra durante a sua vida. Por essa
razão, a homeopatia tem um papel muito importante, ajudando o
paciente a fazer essa transição. Deve-se permitir que todas as
pessoas morram com o mínimo sofrimento possível e a máxima
lucidez.
Todos imediatamente concordarão com a necessidade de
minimizar o sofrimento no momento da morte, mas pouco se tem
pensado sobre a necessidade de, simultaneamente, aumentar ao
máximo a consciência do paciente. Muito freqüentemente, os
hospitais modernos mantêm os pacientes drogados, como
"vegetais", separados do amor e do apoio da família e dos
amigos. A justificativa para essa prática é a de que não se pode
fazer mais nada; fazendo algo para minimizar a agonia do
paciente, sentem-se justificados em entorpecer o infeliz.
Em todo este texto, expressei repetidas vezes que a existência
humana não é um processo meramente casual ou acidental. Há
um propósito para a vida neste plano da existência - um
propósito fundamentado em realidades espirituais e não apenas
nas questões materiais. O propósito principal é o de harmonizar
conscientemente todo ser humano com as leis eternas da
natureza para que permaneça totalmente envolvido com o reino
da vida como sua parte inseparável.
Assim como a vida consiste em uma série de mudanças e
desafios transitórios, também é possível percebê-Ia como uma
fase transitória que faz parte de um processo maior e dotado de
sentido. A cada dia da sua existência, o ser humano depara com
uma série de circunstâncias - algumas aparentemente
insignificantes e outras momentâneas - que oferecem
oportunidades para o seu crescimento em direção a um amor e a
uma sabedoria maiores. Durante toda a sua vida, ocorrem
grandes crises que oferecem até mesmo maiores desafios e
oportunidades para o crescimento. Quase todos nós tendemos a
348
ser, de certo modo, preguiçosos e indolentes com relação a
essas oportunidades, deixando de lado as lições, até que,
finalmente, não nos é dada nenhuma escolha. Enquanto senti-
mos que podemos "escapar impunemente", evitamos enfrentar
nossa fraqueza, nossas crueldades, nossa desonestidade, etc.
Entretanto, o propósito exato dos desafios com que nos
defrontamos na vida visa fornecer-nos motivação para que
tenhamos cada vez mais amor e sabedoria. Mesmo as
predisposições miasmáticas que herdamos servem a esse
propósito.
O momento crucial da Verdade, para a maior parte das pessoas,
ocorre pouco antes ou no momento da morte. Nesse ponto da
transição, o indivíduo se depara com o fato do término desta fase
da existência. Inevitavelmente, ele reflete sobre os
acontecimentos e sobre o significado de sua vida. Frente ao fato
iminente e inesperado do término da vida, a pessoa assume uma
atitude diferente. Os valores materiais, que foram tão
escravizantes durante toda a vida, são postos de lado; o
comportamento deplo rável e desonesto do passado é visto sob
nova luz. Um sentimento de profundo pesar e desgosto ameaça
dominar a pessoa, a menos que ela seja capaz de, finalmente,
encarar as realidades e aceitar a remissão pela confissão e pelo
arrependimento. Uma vez experimentada essa remissão,
o indivíduo sente-se livre para enfrentar a morte com serenidade
e satisfação.
Esse processo pode ocorrer em meio à maior crise da vida, mas
na maioria dos casos ele ocorre na relação com a morte. Pode-
se dizer que esse momento é o mais importante da vida de uma
pessoa, mais importante, inclusive, que o momento da morte. No
entanto, a fim de usar esse instante de transformação espiritual,
deve-se permitir ao indivíduo desfrutar do estado de consciência.
Infelizmente, isso é muitas vezes negado ao paciente
pela administração de poderosos narcóticos e tranqüilizantes. As
349
terapias supressivas são aplicadas com tal intensidade que os
pacientes terminam degenerando em estados de senilidade,
imbecilidade e, finalmente, o coma. Esse modo insensível e
desumano de lidar com o paciente que está à morte tem a
desculpa de ser o último recurso da ciência moderna, e, mais
tarde, o médico lava as mãos com relação à situação, dizendo:
"Fizemos tudo o que pudemos". Enquanto isso, roubaram do
paciente a possibilidade de experimentar o acontecimento mais
importante de sua vida.
O propósito da homeopatia durante a vida é maximizar tanto
quanto possível a saúde; e a liberdade do indivíduo, a fim de que
todas as oportunidades para o crescimento espiritual e sua
transformação possam ser totalmente utilizadas. Quando se
aproxima o momento da morte, o papel da homeopatia muda do
processo de cura para o objetivo de oferecer ao paciente um
máximo grau de consciência com o mínimo de sofrimento. Desse
modo, é dada ao paciente a possibilidade de experimentar a tran-
sição para a morte com dignidade, serenidade, satisfação
e liberdade.
Capítulo 20
Implicações sócio-econômicas e políticas da
homeopatia
Não basta introduzir uma idéia no mundo e depois,
passivamente, esperar sua aceitação pela sociedade. Novas
idéias sempre desafiam as opiniões convencionais e as
estruturas tradicionais. Por essa razão, elas são aceitas
lentamente e com grande dificuldade. Entretanto, se uma idéia
estiver baseada na verdade fundamental, será finalmente aceita,
apesar dos muitos obstáculos.
A homeopatia é uma terapia de profundo valor para o futuro de
nossas sociedades. Não apenas pode efetivamente curar as
350
doenças crônicas, como, também, é um método para estimular o
mecanismo de defesa e equilibrar a constituição dos pacientes. A
homeopatia é capaz de acentuar o grau de produtividade,
criatividade e serenidade das pessoas, eliminando a
suscetibilidade às influências perturbadoras. Este único fato tem
surpreendentes implicações para nossas sociedades. Se
imaginarmos um tempo futuro, em que a homeopatia possa se
tornar o principal método terapêutico e em que homeopatas
altamente capacitados estejam disponíveis para todos na
sociedade, perceberemos claramehte a poderosa influência
benéfica que poderá ter. Quando um número cada vez maior de
pessoas forem tratadas com sucesso, haverá menos ineficiência
no trabalho, menor tendência aos atos de violência social que
hoje em dia afligem nossas sociedades, menor necessidade de
drogas artificiais usadas com o propósito de experimentar um
momentâneo alívio do sofrimento, e uma maior tendência das
pessoas a trabalharem juntas por valores comuns e uma maior
sabedoria. Com a crescente aceitação da terapia homeopática,
os líderes do mundo terão acesso a um tratamento que reduzirá
suas reações pessoais ao estresse, criando-se, por conseguinte,
uma situação em que as nações possam evitar o conflito e criar
uma maneira de harmonizar suas relações.
Essa visão das implicações da homeopatia parece grandiosa,
pois ninguém acredita realmente que uma simples terapia possa
ter esses efeitos profundos. Essa pretensão, no entanto, surge
das opiniões fragmentadas e materialistas que prevalecem nos
modelos de terapia atual. Na homeopatia, temos uma visão geral
da pessoa como um ser espiritual, mental/emocional e
fisicamente integrado. A homeopatia não apenas elimina a
doença do organismo, como também fortalece e harmoniza a
própria fonte de vida e criatividade do indivíduo. Isso fica bastan-
te evidente na experiência diária dos bons homeopatas e seus
pacientes; para eles, a grandiosa visão apresentada no parágrafo
351
anterior não está longe de ser alcançada, mas é bastante
razoável e prática, presumindo-se a adoção de um alto padrão de
homeopatia como uma prática largamente aceita.
Todavia, essa é naturalmente uma grande pretensão. A indústria
médica de hoje é uma das maiores indústrias do mundo, se
levarmos em consideração os inúmeros médicos; os hospitais, as
indústrias farmacêuticas e mais as indústrias subsidiárias. Há um
grande investimento na perspectiva alopática, com relação à
saúde e à doença. Não se pode esperar e nem mesmo desejar
que essa estrutura mude do dia para a noite. As forças que
permitem o acúmulo desse poder não irão facilmente aceitar um
sistema tão radicalmente diferente como o da homeopatia.
Qualquer mudança para a adoção da homeopatia será ne-
cessariamente difícil e lenta.
No entanto, a própria sociedade vem sofrendo mudanças que
criam a esperança da possibilidade desse avanço. Um número
cada vez maior de pessoas se desencantam com os fracassos
da moderna medicina alopática face à doença crônica; os
pressupostos básicos da medicina estão sendo questionados e
abertamente desafiados. Várias terapias alternativas estão sendo
tentadas. Nesse clima, se o público perceber com clareza a
ciência sistemática da homeopatia e seus princípios,
fundamentados em leis naturais que se perdem no tempo, haverá
uma poderosa onda de apoio que pode fornecer à homeopatia as
influências de que necessita para ser aceita e amplamente
disseminada.
A disseminação da homeopatia pelo mundo terá que ser,
naturalmente, um processo progressivo. O propósito deste livro
não é descrever uma estratégia detalhada para a introdução da
homeopatia, mas fornecer um perfil geral dos passos evidentes
que se podem dar nesse processo.
Para iniciar, deve-se estabelecer o padrão mais alto e rigoroso de
homeopatia e prová-Io completamente na arena dos resultados
352
clínicos efetivos. Com esse fim, os professores devem ser
treinados nos mais altos padrões. Tais professores, com o apoio
financeiro e a criatividade de um público interessado, poderão
criar escolas de tempo integral para o treinamento dos médicos
homeopatas. O próprio profissionalismo e o sucesso clínico
dessas escolas se encarregarão de sobrepujar a inevitável
resistência política e legal ao surgimento de uma nova profissão
e, finalmente, os procedimentos de licenciamento serão fixados
de forma a que o público possa diferenciar entre um profissional
habilitado e um sem habilitação. À medida que as escolas forem
se estabelecendo e os homeopatas forem se tornando
conhecidos em suas comunidades, a pesquisa clínica formal
pode ser conduzida de modo a provar conclusivamente o
sucesso do tratamento homeopático. O profissional da alopatia
pode ser convidado a participar dos estudos objetivos, se
compararmos a eficácia dos dois métodos. Simultaneamente, a
pesquisa deve ser orientada por físicos que investiguem os
processos eletromagnéticos que envolvem os medicamentos
homeopáticos e suas ações. À medida que o sucesso dos
homeopatas de alta qualidade for se tornando mais amplamente
conhecido, poderão ser escritos livros e artigos para melhorar a
compreensão pública das leis e dos princípios que regem a
saúde e a doença.
A aceitação da homeopatia, de acordo com esse roteiro geral,
será necessariamente gradual e lenta. As meras implicações
financeiras dessa mudança são desconcertantes. Embora os
homeopatas sejam muito bem pagos pela enorme quantidade de
tempo que dedicam aos pacientes, o custo total do cuidado
médico de cada indivíduo será drasticamente reduzido. Ao invés
de gastar dinheiro constantemente com drogas paliativas e com
hospitalizações, cada vez mais freqüentes, a sociedade terá de
pagar apenas um tratamento homeopático relativamente barato
que, na maioria dos casos, implicaria tratamento intensivo
353
somente por alguns meses - ou no máximo alguns anos. Daí em
diante, as consultas seriam bastante infreqüentes e muito
baratas, comparativamente aos gastos crônicos do cuidado
médico alopático atual.
A indústria farmacêutica sofreria drásticas mudanças. Mais
provavelmente seria forçada a reduzir-se a uma mera fração do
seu tamanho no presente. Os hospitais teriam uma diminuição
muito grande em seus encargos, o que possibilitaria reduzir seus
custos (ao contrário da incontrolável alta atual do custo dos
hospitais). Todo o contexto do treinamento dos médicos,
finalmente, seria mudado para levar em consideração o
mecanismo natural da cura, ao invés de focalizar apenas os
produtos finais da doença. O valor dos métodos álopáticos,
naturalmente, ja mais se perderá. Campos como os da medicina
de emergência, cirurgia, ortopedia e obstetrícia sempre serão ne-
cessários, assim como uma parte do tratamento alopático
paliativo, mas o contexto da medicina alopática será colocado
numa perspectiva mais apropriada.
Muito embora o crescimento corrente da homeopatia seja e deva
ser gradual, temos motivos para acreditar que ele continuará num
ritmo firme e crescente na compreensão e aceitação públicas.
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