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GEORGE VITHOULKAS

HOMEOPATIA: CIÊNCIA E CURA


1
Tradução Sônia Régis
EDITORA CULTRIX
São Paulo
1980

Dedicado ao meu professor C. H.

Sumário
Preâmbulo de William A. Tiller
Prefácio

Parte I: Leis e princípios da cura 

Introdução

Capítulo 1: O ser humano no meio ambiente

Capítulo 2: Os três níveis do ser humano


O plano mental
O plano emocional
O plano físico
Definição e medida da saúde

Capítulo 3: O ser humano como uma totalidade integrada

Capítulo 4: A força vital segundo a ciência moderna

Capítulo 5: A força vital na doença


Conceitos básicos de física
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O mecanismo de defesa

Capítulo 6: A lei fundamental da cura


Samuel Hahnemann
A experimentação dos medicamentos

Capítulo 7: O agente terapêutico no plano dinâmico

Capítulo 8: A interação dinâmica da doença


A influência da doença aguda.
Terapias supressivas
Vacinação

Capítulo 9: Predisposição à doença

Parte II: Os princípios da homeopatia na aplicação prática

Introdução

Capítulo 10: O nascimento de um medicamento


Preparação de uma experimentação
Local para a experiência
A experiência
A formulação das matérias médicas

Capítulo 11: O preparo dos medicamentos


A preparação inicial das substâncias no  estado natural
O preparo padrão
Nomenclatura

Capítulo 12: A tomada de um caso


O ambiente
Deduzindo os sintomas
3
Registro aos sintomas
Casos difíceis
Enfrentando um caso agudo

Capítulo 13: Avaliação dos sintomas


O Repertório homeopático

Capítulo 14: Análise de caso e primeira prescrição


Avaliação inicial do prognóstico
Análise de caso para o iniciante
Análise de caso para médicos adiantados
A seleção da potência
Remédio único

Capítulo 15: A consulta de retorno


Intervalo de tempo para a programação do retorno
Modelo para a consulta de retorno
O agravamento homeopático
Avaliação um mês depois

Capítulo 16: Princípios que envolvem o controle dos períodos de


longa duração
Princípios fundamentais
Aplicação em pacientes de categorias específicas
Casos miasmáticos profundos
Casos incuráveis

Capítulo 17: Casos complicados


Casos homeopaticamente desordenados
Casos alopaticamente desordenados ou suprimidos
Casos terminais

Capítulo 18: Manuseio dos medicamentos e fatores interferentes


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Capítulo 19: Homeopatia para o paciente que está à morte

Capítulo 20: Implicações sócio-econômicas e políticas da


homeopatia

Apêndice A: A experimentação de Hahnemann com o Arsenicum


album

Apêndice B: Avaliação do paciente um mês depois

Preâmbulo
Há cerca de dois séculos, antes que a ciência começasse
simplesmente a focalizar sua atenção no aspecto puramente
físico da natureza, a homeopatia e a alopatia caminhavam juntas
para servir às necessidades de saúde da humanidade. Quando
as ciências físicas começaram a ter sucesso, sua tolerância para
com as idéias que não podiam ser comprovadas pelos mesmos
critérios diminuiu e a homeopatia começou a sentir as pressões
de uma cidadania de segunda classe. A ciência física tornou-se
cada vez mais quantitativa e previsivelmente poderosa, enquanto
a homeopatia começou a perder o apóio dos médicos
praticantes. Apenas um pequeno encrave de médicos persistiu
com confiança na prática da homeopatia até este século, e
atualmente seu número está aumentando, pois as sérias falhas
da medicina alopática tornam-se cada vez mais evidentes para
todos nós.
Pode-se afirmar que a preocupação com a doença e não com a
saúde foi o que separou os caminhos da alopatia e da
homeopatia. O corpo físico revela a materialização óbvia da
doença, enquanto sua relação com os aspectos mais sutis do
5
homem não é tão facilmente discriminada. A medicina alopática
convencional trata diretamente dos componentes químicos e
estruturais do corpo físico. Ela pode ser classificada como uma
medicina objetiva, pois trata da natureza num nível espaço-
temporal quadridimensional e, dessa forma, tem tido a mais
evidente prova de laboratório para sustentar suas hipóteses
físicoquímicas. Isso aconteceu porque, atualmente, a habilidade
de percepção fidedigna, tanto dos seres humanos quanto da
instrumentação, opera nesse nível.
A medicina homeopática, por outro lado, trata de forma indireta
da química e da estrutura do corpo físico, ao tratar diretamente
da substância e das energias no nível seguinte, mais sutil. Deve
ser classificada como uma medicina subjetiva, em parte por lidar
com a energia, passível de ser fortemente perturbada pelas
atividades mentais e emocionais dos indivíduos, e, em parte, por
não haver nenhum equipamento de diagnóstico que sirva de
sustentação ao médico homeopata. Espera-se que num futuro
próximo essa situação se transforme.
A transição atual, de preocupação com a saúde e a integridade e
não com a doença, tem realçado a crescente consciência,
perspectiva e importância de uma hierarquia de energias e
influências sutis que determinam o bem-estar humano. Nessa
linha, projetei uma equação de reações com relação aos vários
níveis de energia na natureza que influenciam a humanidade:

6
Esta equação exprime o fato de a humanidade abranger seres
multidimensionais, que vivem num universo multidimensional;
conseqüentemente, uma perturbação da cadeia de energia em
qualquer nível causa oscilações de efeito, que ocorrem em
ambos os sentidos da cadeia. A homeostase completa, no nível
físico, também requer homeostase em todos os níveis
subjacentes. Se eles estiverem em desequilíbrio, a homeostase
completa não pode existir no nível físico, e a doença, finalmente,
deve se materializar, de uma forma ou outra.
Se começarmos pelo nível inferior direito, com o Divino, essa
equação mostrará que somos elementos que pertencem
essencialmente ao Espírito, multiplicado no Divino; este Espírito,
a fim de possuir um mecanismo para a experiência, tem a mente
engasta da em si mesmo. A Mente é a construtora e, para ter
uma experiência de aprendizagem, possui encaixadas em si
duas estruturas referenciais, que se interpenetram no universo,
as quais chamaremos "estrutura de espaço/tempo positiva" e
"estrutura de espaço/tempo negativa". Delas brota a substância.
A substância, que associamos aos componentes químicos,
emprega várias formas estruturais, formas que têm função. A
substância física se manifesta na estrutura de espaço/tempo
positiva - ela é elétrica na natureza, possui massa positiva, tem
velocidade menor do que a da luz eletromagnética, dá origem à
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força gravitacional e é a substância prescrita e utilizada pela
medicina alopática. Considera-se como postulado que a
substância etérea manifesta-se na estrutura de espaço/tempo
negativa - é magnética na natureza, possui massa negativa, tem
velocidade maior do que a da luz eletromagnética, dá origem à
força levitacional e é a substância prescrita e utilizada pela
medicina homeopática.
O ser humano comunica-se com seu ambiente através de uma
variedade de cadeias integrantes de percepção e resposta que
funcionam por todo um extenso espectro de relativa integridade.
Quanto maior o grau de integridade das cadeias e mais baixa a
entrada de alimentação para a geração do sinal interno, mais o
indivíduo será sensível às perturbações do meio ambiente.
Quanto mais organizados e coerentes nos tornamos no nível
físico, mais evidente é nossa desorganização, incoerência e
desequilíbrio em níveis mais sutis. À medida que evoluímos e
nos tornamos mais integrados, a coerência se estende aos níveis
mais sutis, proporcionando-lhes uma maior energização; assim,
as funções individuais, no mundo físico, passam a atuar sob
condições de maior fluxo energético. Dessa forma, desequilíbrios
cada vez menores no sistema dispersam o fluxo energético de
maneira significativa, assim que eles são detectados e
diagnosticados como doença.
Essa perspectiva é notavelmente semelhante à situação que se
observa durante o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de
muitas tecnologias. Por exemplo, a indústria de semicondutores,
que envoluiu do transístor para os circuitos integrados, está
agora trabalhando por uma integração em larga escala, onde um
milhão de circuitos serão dispostos numa única chapa de
silicone. A qualidade do material de silicone, que funcionava bem
nas aplicações em circuito nos primeiros tempos, fracassaria
completa mente na atualidade, se fosse testada. Os modernos
circuitos integrados têm ordens de grandeza mais exigentes do
8
que os de uma década atrás. A nossa compreensão dos
materiais é mais sofisticada, e nossa habilidade em perceber os
desvios da perfeição é relativamente maior. Dessa forma, um
maior grau de coerência do sistema significa que os desvios da
perfeição são mais catastróficos para o funcionamento do
sistema e aparecem mais prontamente.
No passado, não tínhamos irtstrumentação adequada para
detectar estes níveis sutis de energia, tão relevantes para a
homeopatia. Hoje, estamos apenas começando a desenvolver
uma instrumentação de natureza elétrica para monitorar as
respostas fisiológicas de uma cadeia de pontos da pele. Esses
pontos se correlacionam bem com os desequilíbrios do corpo no
nível físico e no nível seguinte, mais sutil. No laboratório e na
prancheta estão sendo desenvolvidos aparelhos que irão revelar
diretamente a interação da intenção mental e da cura. Dessa
forma, nossa medicina futura prosseguirá em direção ao
desenvolvimento de técnicas e tratamentos que possam utilizar
sucessivamente , energias cada vez mais refinadas. Uma série
maior de aparelhos mostrará o que monitorar ou perturbar em
todos os níveis das chaves.
Uma ciência rigorosa dessas energias sutis está se de-
senvolvendo. Muitas técnicas e procedimentos novos se juntarão
ao equipamento atual e aos métodos da prática dos médicos
homeopatas. Devemos dar lugar a muitas mudanças; tanto no
entendimento quanto na técnica. Devemos ter esperança de que
uma comprovação adequada desses novos procedimentos será
permitida e encorajada pelo atual sistema homeopático e que
não sofrerão preconceito contra o "novo" do mesmo modo como,
em contrapartida, sofreram discriminação, no passado, por parte
do poderoso sistema médico aIopático.
Ehquanto a maré muda em favor da homeopatia, não posso
pensar em nenhum outro líder e professor da matéria mais apto
que George Vithoulkas para conduzi-Ia ao seu papel
9
predestinado de liderança no campo dos cuidados com a saúde.
A publicação deste manual, que li com grande prazer, se faz em
tempo; ele nos fornece um conjunto de conceitos científicos e de
observações experimentais para formar um sólido alicerce sobre
o qual construir a ciência da homeopatia. É um novo começo - e
tem um futuro promissor!

WILLIAM A. TILLER
Departamento de Ciências Materiais e Engenharia da
Universidade de Stanford

Prefácio
Este livro nasceu de vinte anos de experiência na aplicação da
homeopatia - vinte anos de verdadeira dedicação, estudo,
observação rigorosa e constante meditação sobre os muitos
problemas desafiadores que a jovem e emergente ciência da
homeopatia apresentou a minha mente indagadora. Desde o
início, pude perceber a existência de muitos pontos perdidos e
resultados confusos em sua teoria e aplicação; inúmeras
ligações desconhecidas sobre as quais eu procurava em vão que
me esclarecessem os mestres da época. No entanto, apesar de
existirem pontos em branco na teoria, os resultados terapêuticos
que a aplicação oferecia eram mais do que miraculosos.
Finalmente, depois de todos esses anos de estudo intenso, de
aplicação e observação, muitos fatores importantes, muitos elos
perdidos, começaram a ser esclarecidos. Com o tempo, toda a
teoria e a prática homeopáticas emergiram como as apresento
neste manual. Resultados importantes como uma definição
completa de saúde, a compreensão do ser humano em seus três
níveis de existência, a importância hierárquica dos sintomas ou
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síndromes e suas interrelações, a compreensão da teoria dos
miasmas em sua verdadeira perspectiva e muitos outros
problemas foram esclarecidos.
Não levei muito tempo para entender que a homeopatia, em
comparação com a medicina ortodoxa, tem - no campo
terapêutico - as mesmas diferenças que a mecânica do quantum
em relação à física newtoniana. Era óbvio que, depois da entrada
da homeopatia no campo terapêutico, o médico fosse capaz de
influir de forma curativa, através do medicamento homeopático,
no campo eletromagnético do paciente. Percebi que, por meio
dos conceitos que a homeopatia tem introduzido na medicina, os
elementos sobre os quais a terapêutica vem há muito operando
foram transferidos do corpo físico para o seu nível
eletromagnético. Com toda a certeza, com a introdução da
homeopatia no campo da terapêutica, está surgindo uma nova
era para a medicina. A verdade dessa declaração audaciosa é
difícil de ser percebida por todos nos tempos atuais; no entanto,
seu significado será totalmente entendido pelas gerações
vindouras.
Existe apenas uma desvantagem com relação à homeopatia; a
de que ela é extremamente difícil de se aprender a manejar.
Recordando minha própria experiência, posso dizer com certeza
que quase nem consigo me lembrar de um dia em minha vida,
em todos esses anos, em que esta ciência realmente divina não
tenha ocupado a melhor parte dos meus pensamentos. Logo
percebi que estava vivendo apenas para a homeopatia. Eu sabia
que esse era o segredo para a eficácia terapêutica e até para a
gratificação pessoal. A homeopatia é uma ciência viva. e
dinâmica, e só pode ser eficaz se se tornar um conhecimento
vivo e vibrante na mente e no coração do homeopata praticante.
Esta exposição da homeopatia é minha pequena contribuição
para que tenham uma aprendizagem mais fácil e mais completa
os estudantes do futuro. Ao preparar esta edição, fui auxiliado
11
pelo médico americano Bill Gray (graduado pela Universidade de
Stanford), cuja verdadeira dedicação à causa da homeopatia e
profundidade científica muito me impressionaram. O dr. Gray
permaneceu mais de um ano em nossa escola trabalhando
arduamente. Meu contato com ele deixou-me a forte crença de
que, afinal, este nosso mundo caótico não está destituído de
homens dignos e competentes, prontos a sacrificar o conforto
pessoal por uma boa causa. Estou ciente de que, assim como
ele, outros cientistas pioneiros estão hoje trabalhando para
preparar o sistema médico para uma mudança capital, uma
grande revolução terapêutica.
É absolutamente certo - e todo visionário, homem ou mulher, o
sente - que a medicina hoje está no limiar de uma profunda e
radical mudança e que, em breve, abraçará as novas e únicas
possibilidades que á homeopatia está lhe oferecendo. e certo
também que, atualmente, as pessoas querem, mais do que
qualquer outra coisa, readquirir a saúde perdida. Elas não estão
preocupadas com vagas especulações. Pode-se dizer que, na
atualidade, estão exigindo uma forma de reconquistar seu
equilíbrio psicossomático perdido, a fim de enfrentar os desafios
que a civilização tecnológica lhes tem imposto. Creio firmemente,
pela minha experiência, que a homeopatia pode, de maneira
eficaz, ajudar a humanidade enferma neste empenho e ser um
valoroso trunfo para uma evolução espiritual mais rápida do
gênero humano.
George Vithoulkas
Março de 1979

Parte I
Leis e princípios de cura

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Introdução
À primeira vista, o conteúdo básico deste livro poderá parecer, de
certo modo, ambicioso. A saúde e a doença, especialmente em
relação às questões fundamentais da natureza do homem, são
na verdade controvérsias profundas e sérias, sobre as quais
inúmeros volumes têm sido escritos através dos tempos.
Entretanto, nos tempos modernos foram feitas descobertas que
lançam nova luz sobre os princípios e métodos básicos
envolvidos nessas controvérsias. Este livro é uma tentativa de
elucidar os princípios e métodos relativamente simples
implicados na cura, não apenas para o profissional como
também para o leitor em geral que deseja aprofundar-se mais no
assunto.
Neste livro foi feito um esforço para:

A. Delinear as leis básicas da cura que, embora sempre tenham


funcionado e sido válidas para todas as idades, somente nos
tempos modernos foram descobertas e formuladas de modo
sistemático.
B. Mostrar a conexão subjacente e verificável entre a evolução
espiritual da humanidade e seu estado de saúde. Sem essa
compreensão, o médico não será capaz de efetuar uma cura
radical e duradoura.
c. Mostrar um tanto detalhadamente o método pelo qual o
homem pode ser auxiliado a atingir permanentemente um melhor
estado de saúde.

Até recentemente, parecia que a raça humana pouco fizera para


assegurar efetivamente a boa saúde. Apesar dos avanços no
tratamento das doenças agudas, a proporção de doenças
crônicas virtualmente críticas deu origem a temores de que a
raça humana pudesse estar em perigo de perder a saúde para
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sempre. Como ocorreu durante toda a história, a terapia moderna
é inútil diante das doenças crônicas que incapacitam o homem;
conseqüentemente, ela fica reduzida a fornecer um tratamento
meramente paliativo em vez de curativo. Com base nisso, surgiu
em toda parte um grande interesse em relação às suposições
fundamentais subjacentes ao cuidado médico, resultado, creio,
da imensa quantidade de pessoas doentes hoje face ao alívio
relativamente pequeno que as várias terapias aceitas
proporcionam.
Devido ao surgimento dessas dúvidas, as terapias alternativas
mais uma vez tornaram-se populares, e as pessoas, em
desespero, voltam-se para elas indiscriminadamente. Quando
ocorre o desencanto com as tentativas ortodoxas, fica-se, então,
embaraçado para avaliar acurada e seguramente a eficácia e a
segurança das tentativas alternativas. Desse modo, em
contrapartida, torna-se claro que o sistema médico predominante
não explicou as leis e os princípios que governam a saúde e a
doença. Essa falta de explicação se deve ao fato de não ter sido
formulada no contexto da própria profissão médica. Se
pesquisarmos a história da medicina, encontraremos grande
volume de dados empíricos e resultados experimentais, mas
nenhuma lei ou princípio geral que o sustente ou que deles
proceda. Não é injusto concluir que a medicina é o único ramo da
ciência que baseou sua estrutura em opiniões e suposições, ao
invés de baseá-Ia em leis e princípios.
Devido a essa fragilidade de concepção, o sistema médico
predominante fracassa, tanto em convencer o povo de sua
eficácia como em prover resultados satisfatórios e contínuos,
especialmente em face de uma das crises mais frustrantes e
rapidamente crescentes com que se depara a medicina
atualmente: a doença crônica.
O propósito deste livro é tentar reafirmar os princípios universais
da saúde e da doença num sistema amplo e racional,
14
prontamente verificável pelos resultados clínicos reais, que
compreendem e podem efetuar uma cura radical sempre que
possível. Esses princípios devem ser conhecidos e respeitados
por qualquer praticante, não importa a modalidade terapêutica
usada. Entendendo esses simples princípios, as pessoas se
tornarão capazes de julgar qualquer método terapêutico quanto à
sua ação curativa e, assim, optando pela utilização de um
sistema que ofereça possibilidades mais eficazes, descobrir seu
caminho para uma saúde melhor.
Nesta exposição, os leitores, sem dúvida, poderão deparar-se
com fragmentos de idéias por eles já encontradas em algum
outro sistema de cura que lhe foi proposto no passado. No
entanto, somente em tempos relativamente recentes essa ampla
descrição das leis naturais que governam a saúde e a doença foi
formulada numa metodologia científica.
Analisemos agora os pontos de especial interesse do
pensamento médico através da história. Não é intenção deste
livro apresentar uma descrição exaustiva das diferentes fases
pelas quais a medicina passou em sua evolução, mas pelo
menos podemos rever algumas generalidades bem conhecidas.
Poder-se-ia supor que, enquanto o homem ocidental progrediu
do seu estado primitivo para civilizações cada vez mais
evoluídas, a medicina, naturalmente, o acompanhou em sua
própria evolução. No entanto, os fatos não comprovam tal
suposição. Apesar dos avanços da humanidade em muitos
campos e em várias épocas da história, a medicina nunca
acompanhou o progresso do pensamento em geral.
Vamos tomar como exemplo a Grécia: a civilização grega
progrediu muito mais do que qualquer outra civilização primitiva
no decorrer dos séculos VI, V e IV a.C., alcançando um estado
de evolução interna difícil de ser superado até pelo homem
moderno. A humanidade, entretanto, foi forçada a dar
continuidade aos métodos mais primitivos e duvidosos para
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recobrar sua saúde. Os grandes insights e deduções, que
permitiram àqueles gigantes do pensamento mergulhar em
incomparável especulação filosófica e espiritual, não os
auxiliaram a desvendar os segredos que regem a saúde e a
doença.
Novamente, durante a era cristã, quando ocorreu uma evolução
espiritual maciça e profunda, a medicina permaneceu nas trevas.
Enquanto a humanidade prosseguia no encalço de novas metas
da expressão religiosa e artística durante as eras bizantina e
renascentista, a medicina estava ocupada em desenvolver e
aplicar sangrias e purgativos.
Nos séculos XVIII e XIX, o espírito científico avançou
tremendamente, realizando novas descobertas, embora esse
mesmo espírito sancionasse o uso de métodos curativos mais do
que primitivos e em escala maciça. Foi nesse período,
significativamente, que um médico alemão, Samuel Hahnemann,
formulou, pela primeira vez na história da medicina, as leis e
princípios completos que regem a saúde e a doença,
comprovando-os numa experiência clínica verdadeira. No
entanto, ninguém lhe deu crédito. Aparentemente, suas idéias
eram muito avançadas para o primitivo estado mental em que
viviam seus colegas. Eles pareciam incapazes de dar o salto
necessário para alcançar uma idéia que estava séculos à frente
de seu pensamento.
Ao invés disso, os conceitos mais materialistas, manifestados por
Louis Pasteur, foram largamente aceitos, por adequarem-se
melhor à necessidade de uma conceitualização newtoniana. As
teorias e pesquisas de Pasteur sobre a natureza dos micróbios
levaram todos a acreditar que a causa das moléstias fora
explicada. Com o avanço da moderna ciência da bacteriologia,
no entanto, chegou-se à conclusão de que tanto o micróbio
quanto a suscetibilidade constitucional são necessários para dar
início ao processo da doença. No entanto, os médicos modernos
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parecem ter fechado os olhos para esse fato. Eles continuam a
procurar novos micróbios, bactérias, vírus, etc., e depois
desenvolvem poderosas drogas para exter . miná-Ios.
Testemunha disso é o enorme esforço para explicar a "causa" da
recente doença dos legionários; toda a pesquisa concentra-se na
procura de uma causa microbiana, ignorando amplamente a
suscetibilidade constitucional das vítimas. Outra abordagem
perfeitamente válida, que poderia inclusive produzir melhores
resultados, seria estudar a relativa resistência dos sobreviventes
ao organismo supostamente virulento.
Infelizmente, a obsessão dos pesquisadores médicos em sua
determinação de perseguir essa idéia errônea sobre micróbios e
fatores concretos causadores da doença  apesar dos resultados
cada vez mais desapontadores, so bretudo nas doenças crônicas
- está levando progressivamente ao desenvolvimento de drogas
cada vez mais tóxicas, que, por si mesmas, estão se tornando
uma significativa ameaça à saúde pública.
Torna-se evidente para os pacientes mais conscientizados que a
procura obsessiva de uma causa concreta da moléstia não é, na
verdade, a base da moderna terapêutica. A maior parte das
drogas prescritas para moléstias como artrite e asma, colite,
úlceras, doenças do coração, epilepsia e depressão não se
destinam a ser curativas, mesmo em sua concepção original.
Elas não combatem, de forma alguma, a causa, mas apenas
oferecem uma frágil esperança como paliativo, isso sem falar do
perigo dos efeitos colaterais. Este, por si só, é um sinal da
impotência da medicina moderna para lidar efetivamente com a
doença.
Dessa forma, vemos que a medicina ortodoxa (a que, neste livro,
nos referimos como alopatia, derivada de raízes gregas, que
significam "outro" e "sofrimento"), apesar de criar para si mesma
uma sólida estrutura financeira, inércia institucional e conexões
políticas, mostra-se ao mesmo tempo extremamente insuficiente
17
em suas leis e princípios básicos. A medicina sempre se
desenvolveu em meio a uma sociedade científica que
experimentava os maiores avanços tecnológicos já
testemunhados na história; no entanto, ironicamente isso
acontecia sem que qualquer lei ou princípio justificasse seus
métodos. Toda ciência é um sistema baseado em leis e
princípios verificados por contínuos dados experimentais e
empíricos. A medicina ortodoxa autodenomina-se "ciência", mas
merecerá realmente esse nome? Onde estão suas leis e
princípios, que são o fundamento de qualquer ciência?
Consideremos por um instante como deve ser o sistema
terapêutico ideal. Naturalmente, ele deve ser efetivo com um
mínimo ou, idealmente, sem nenhum risco para o paciente. Sua
eficácia deve ser baseada não apenas no alívio ou na ausência
de sintomas, mas no fortalecimento do corpo e no bem-estar do
indivíduo - permitindo-lhe um prolongamento da vida. Não
deveria, naturalmente, ser proibitivamente caro, podendo ser
prontamente acessível e compreensível a toda a população.
O mais importante, contudo, é que o sistema terapêutico ideal
deve ter uma concepção clara das seguintes questões:

O que é, exatamente e em sentido mais completo, o ser


humano?
O que significa verdadeiramente ser saudável?
O que é precisamente um estado de doença?

A menos que essas questões sejam completamente en tendidas,


qualquer terapia será incapaz de produzir resultados sólidos,
confiáveis e verificáveis ou até de reconhecer o progresso real,
se este ocorrer.
Este livro está dividido em quatro partes. Na primeira, partimos,
desde os primeiros capítulos, da compreensão dos três conceitos
básicos, desenvolvidos sob o prisma da ciência da homeopatia,
18
mas que se aplicam igualmente a todas as demais disciplinas
curativas: o homem, a saúde e a doença. Em seguida, tentamos
entender as leis e os princípios dessas relações na saúde e na
doença. Na segunda parte estudamos, com um detalhamento
considerável, os precisos e sistemáticos métodos e técnicas
pelos quais tais conceitos são aplicados. A terceira parte
apresenta as "essências" da matéria médica dos mais
importantes remédios homeopáticos, e a última, a dos apêndices,
fornece casos clínicos reais com análises detalhadas para
estudo.
Antes de continuar, devemos discutir outra questão vital, que não
pode ser isolada das demais: Qual é o objetivo da vida humana?
Não podemos falar convincentemente de saúde e doença de um
indivíduo sem primeiro conhecer claramente o propósito
fundamental da vida. Assim, o que procuramos em nossas
vidas?
A resposta, para esta questão será naturalmente um pouco
superficial de início, tal como: O homem quer dinheiro, poder,
fama, terra, sexo, ausência de sofrimento e libertação da
ansiedade e da tensão. No entanto, se meditarmos mais sobre
esses desejos, logo chegaremos à resposta de que todos,
através desses desejos, procuram um estado interior que é a
felicidade, uma felicidade incondicional e contínua - uma
felicidade que depende muito pouco das condições externas e
que persistirá, apesar das mudanças transitórias que,
caleidoscopicamente, passam por nós na vida. Aprofundando
mais o raciocínio, é claro que, se uma pessoa experimenta uma
limitação da sensação de bemestar, tanto a nível físico quanto
emocional ou mental da existência, a possibilidade de que se
manifeste esse estado de felicidade interna é impedida. Na
moléstia grave a consciência é mobilizada para lidar com seu
processo e com suas manifestações, e é, por conseguinte,
incapaz de ajudar a pessoa a crescer e alcançar um estado de
19
felicidade. Nesse sentido, podemos ver que a preservação da
saúde é o prérequisito essencial para que o homem atinja o
objetivo fundamental na vida: a felicidade incondicional, que pode
ajudá-Io, assim, a atingir os estágios evolutivos mais altos.
Dessa forma, o espírito humano está intimamente ligado ao
organismo físico numa única totalidade integrada. Esse conceito
é um dogma fundamental, que será expresso muitas outras
vezes neste livro. Apesar de as modernas tendências afirmarem
o contrário, essa perspectiva holística foi muito claramente
estendida através da história, como mostra a seguinte citação de
um texto sumeriano, A escritura sagrada da promessa divina:

"Honra teu corpo, que é teu representante neste universo. Sua


magnificência não é nenhum acidente. É a estrutura através da
qual devem surgir teus trabalhos; é por ela que o espírito e o
espírito nele contido falam. A carne e o espírito são duas fases
da tua realidade no espaço e no tempo. Quem ignora uma delas,
desintegra-se em mortandades. Assim está escrito...“

Sumário da introdução
1. Existem leis e princípios de acordo com os quais a doença, ou
uma série de doenças, aparece numa pessoa.
2. Também existem leis e princípios que regem a cura, e todo
terapeuta, não importa o método terapêutico utilizado, deveria
conhecê-Ios e aplicá-Ios.
3. O objetivo principal e final de um ser humano é a felicidade
contínua e incondicional. Todo sistema terapêutico deveria
conduzir uma pessoa ao seu objetivo.

Capítulo 1
O ser humano no meio ambiente
20
A primeira e precípua tarefa de um profissional que decidiu
dedicar-se ao estudo e à prática de uma verdadeira ciência
terapêutica é, acima de tudo, restabelecer a saúde de um
indivíduo doente. Por conseguinte, esse profissional deverá,
antes de mais nada, colocar-se as seguintes perguntas:

. O que é um ser humano?


. Como é construído o ser humano?
. Como funciona o ser humano no contexto de seu universo?
. Quais são as leis e princípios que governam a função do ser
humano tanto na saúde quanto na doença?

É somente através do entendimento das respostas a essas


questões que o praticante pode obter a cura no indivíduo,
fazendo, desse modo, que o paciente restabeleça a harmonia
consigo mesmo e com o universo que o circunda. Além do mais,
é necessário compreender suas respostas, a fim de poder
reconhecer e apreciar uma verdadeira cura quando ela se
manifesta no paciente.
Para começar, devemos reconhecer que o organismo humano
não é uma entidade isolada, auto-suficiente. Cada indivíduo
nasce, vive e morre de modo inseparável dos grandes contextos
das influências físicas, sociais, políticas e espirituais. As leis que
regem o universo físico não são separadas das leis que regem
as funções dos organismos vivos. Dessa forma, devemos
começar por compreender claramente o conjunto no qual o ser
humano é encontrado, como é influenciado por ele, e por outro
lado, como ele afeta esse conjunto.
Como tudo o mais, o organismo humano originalmente foi
designado para funcionar harmoniosa e compativelmente com o
meio ambiente. A intenção desse desígnio era obviamente
estabelecer um equilíbrio dinâmico no qual ambos, tanto o
indivíduo quanto o meio ambiente, fossem mutuamente
21
beneficiados. Qualquer desequilíbrio leva inevitavelmente à
destruição, que diminui tanto o ser humano quanto o universo no
qual ele vive. Como os seres humanos são dotados de
consciência e percepção, eles têm uma grande responsabilidade,
tanto em relação a si mesmos quanto em relação ao cosmos: a
de viverem de acordo com as leis da natureza. O gênero
humano, idealmente, devia ter consciência e percepção
suficientes para viver de acordo com a ordem do universo e
colaborar com ela, sendo, dessa forma, livre para alcançar as
mais altas possibilIdades de evolução.
Ao invés disso, encontramo-nos em meio à desordem e à
doença. Numa era de avanço tecnológico sem precedentes,
vemos também a atmosfera, a água e a terra submetidas a
danos nunca vistos. Socialmente, é fácil conjeturar de maneira
pessimista que a moderna epidemia da competição, da violência
e da guerra pode muito bem levar à verdadeira destruição do
gênero humano. E, individualmente, ao invés de nos
regozijarmos com um crescente grau de saúde de geração para
geração, testemunhamos um contínuo declínio da saúde.
Por que isso acontece? Numa análise elementar, podemos
atribuir esse estado de degeneração a duas dinâmicas:

1) Violações humanas das leis da natureza, que resultam na


contaminação do meio ambiente, que, em contrapartida, gera
uma pressão crescente sobre a habilidade do indivíduo para
funcionar.
2) A humanidade está perdendo gradualmente a consciência
interna que lhe possibilitaria uma percepção correta das leis da
natureza que devem ser respeitadas.

Por conseguinte, vemos que os seres humanos, tanto coletiva


quanto individualmente, estão ao mesmo tempo afetando e
sendo afetados pelo meio ambiente; enquanto nos desviamos
22
cada vez mais das leis da natureza, estabelece-se um ciclo
vicioso que requer grande discernimento e energia para ser
corrigido.
Para cada indivíduo nessa situação pode haver uma grande
variedade de respostas possíveis às pressões externas. Algumas
pessoas parecem não ser relativamente afetadas pelas
perturbações internas ou externas, seus organismos estão num
estado de relativo equilíbrio, que é mantido com um mínimo de
esforço. A maior parte das pessoas, por outro lado, experimenta
graus de desequilíbrio que vão desde o ligeiro até o mais grave;
estes são os indivíduos que consideramos enfermos no sentido
mais amplo do termo. Em tais pessoas, a perturbação se
manifesta de uma maneira bastante individual e variada,
podendo ser vista como um desequilíbrio da capacidade do
organismo para enfrentar as influências internas e externas. Se
levarmos em consideração o indivíduo como uma totalidade, é
claro que as perturbações não se manifestam unicamente no ní-
vel físico da existência, como supõe a prática da moderna
medicina alopática. Cada pessoa é perturbada em todos os
níveis da existência, em graus variáveis.
É comum a observação de que a sensibilidade das pessoas varia
frente às influências ambientais. Algumas pessoas são
abençoadas durante toda a vida com a capacidade de manter um
alto nível de vida criativa apesar de parcas horas de sono, dieta
extravagante, pesadas responsabilidades de trabalho, pressões
familiares e, talvez até, maiores pesares na vida. Outras
pessoas, por outro lado, sentem-se esmaga das por mínimas
tensões, precisam de muitas horas de sono e descanso por dia e
sofrem de uma variedade de sintomas mesmo após um leve
desvio da sua dieta convencional. Há pessoas que mal notam o
calor e o frio, enquanto outras são tão sensíveis às variações de
temperatura que podem predizê-Ias com um dia de
antecedência.
23
Por que algumas pessoas podem enfrentar as tensões sem
esforço, ao passo que outras se perturbam com tanta facilidade?
Essa é uma questão básica, que deu origem a duas tradições
importantes do pensamento médico na história ocidental. Por um
lado, a tradição racionalista que precedeu o pensamento
ortodoxo moderno focalizava os fatores concretos que levam
uma pessoa à enfermidade, na esperança de que a
compreensão da "causa que provoca" a moléstia possibilitasse a
intervenção curativa; essa abordagem foi provada e aplicada de
modo totalmente adequado através da história. No entanto, ainda
vemos um aumento constante e alarmante de doenças
degenerativas incapacitadoras.
Por outro lado, a tradição empírica do pensamento focaliza-se na
seguinte questão: o que possibilita a uma pessoa permanecer
saudável apesar das várias influências nocivas?
A consideração dessa questão leva rapidamente ao re-
conhecimento de que cada organismo possui um mecanismo de
defesa que está constantemente enfrentando estímulos, tanto de
fontes internas quanto de fontes externas. Esse mecanismo de
defesa é responsável pela manutenção de um estado de
homeostase, isto é, um estado de equilíbrio entre os processos
que tendem a perturbar o organismo e os processos que tendem
a mantê-lo em ordem. ~ vital compreender com precisão como
esses mecanismos de defesa funcionam, pois qualquer dano
significativo em seu funcionamento leva rapidamente ao
desequilíbrio e, finalmente, àmorte. É com a ação do mecanismo
de defesa que lidaremos neste livro; dessa maneira, neste
capítulo, contentar-nos-emos apenas com uma breve visão geral.
Todas as influências ambientais produzem estímulos de um
determinado tipo. Esses estímulos são percebidos pelo
organismo através dos receptores, nos níveis mental, emocional
e físico da existência.
O centro da existência humana depende da habilidade do
24
organismo em manter seu equilíbrio dinâmico com um mínimo de
perturbação e um máximo de constância. O mecanismo de
defesa está constantemente tentando criar esse equilíbrio, mas
nem sempre é totalmente bem-sucedido. Se o mecanismo de
defesa funcionasse sempre com perfeição, jamais haveria
sofrimento, sintomas ou doença.
No entanto, na maioria das pessoas, esse mecanismo deixa de
funcionar, por razões que serão discutidas extensamente nos
capítulos finais. Se os estímulos são mais fortes do que a
resistência natural do organismo, cria-se um estado de
desequilíbrio que se manifesta na forma de sinais e sintomas.
Embora os efeitos sejam experimentados por todas as pessoas,
em todos os níveis, as manifestações são expressas, de modo
relativo, com maior força em um dos níveis, mental, emocional ou
físico, dependendo da predisposição individual da pessoa. Esses
sintomas ou grupos de sintomas são erroneamente chamados de
"doenças", quando, na realidade, apresentam o resultado da luta
dos mecanismos de defesa para contra-atacarem o estímulo
morbífico.
Antes de prosseguir em descrições mais extensas do modo
como trabalha precisamente o mecanismo de defesa, vamos
primeiro considerar, em linhas gerais, a natureza das influências
ambientais que o mecanismo de defesa deve enfrentar e alguns
exemplos dos vários tipos de resposta que podem ser
observados num dado indivíduo. Cada um dos níveis das
influências ambientais tem uma única contribuição que deve ser
entendida pelo praticante:

1. O universo como um todo e suas leis


2. O sistema solar 
3. A nação 
4. A sociedade próxima 
5. A localização geográfica 
25
6. A família

A influência do universo além do sistema solar é, desse modo,


muito menos compreendida; mas, levando-se em consideração
pesquisas recentes sobre o raio X, os raios cósmicos e os
campos eletromagnéticos, não apenas a nível solar mas também
a nível galáctico, podemos ter certeza de que seus efeitos um dia
serão considerados importantes. Torna-se cada vez mais
evidente, tanto para os médicos quanto para os metafísicos, que
o universo é um todo interessante, onde cada componente afeta
os demais.
Os efeitos do sistema solar são profundos e bem conhecidos. O
Sol, em si mesmo, é da maior importância. As manchas solares
afetam o tempo, o campo eletromagnético da Terra e a ionização
da atmosfera - e todos, por sua vez, influenciam a saúde das
pessoas. A Lua, naturalmente, há muito é conhecida pelas
influências capitais que exerce sobre a saúde; a sincronicidade
entre o ciclo menstrual e as fases da Lua foi verificada diversas
vezes; ademais, a história há muito registra o efeito das fases da
Lua sobre os epilépticos e psicóticos. A esse respeito é
interessante lembrar o fato de que a polícia e os grupos de
emergência de muitas cidades maiores são atualmente
reforçados durante a lua cheia devido ao comprovado aumento
da violência e de acidentes durante essa fase.
A nação também pode afetar as pessoas de maneira morbífica.
Cada nação tem uma espécie de disposição de espírito pela qual
o indivíduo é apanhado. Os americanos, por exemplo, são em
geral muito materialisticamente ambiciosos, desejosos de realizar
e adquirir muito mais do que é necessário para sua felicidade.
Essa constante pressão mina, com o passar do tempo, seu
sistema nervoso, e assim, por volta dos cinqüenta e cinco ou
sessenta anos, eles são levados a procurar uma instituição de
repouso. Da mesma forma, outros países também têm suas
26
características nacionais, que constituem tópicos de conversação
em todo o mundo. A disposição de espírito da nação pode
desempenhar um papel significativo na configuração da moléstia
do indivíduo.
O ambiente de trabalho e as pressões produzem influências
óbvias que estão sendo estudadas detalhadamente pela classe
médica. O resultado da exposição a substâncias nocivas como o
asbesto, o chumbo, o pó de sílica e os produtos radiativos é bem
conhecido. Os níveis sonoros, as pressões relativas a
cumprimento de prazos, os efeitos das tarefas repetitivas e até
mesmo as responsabilidades executivas são conhecidos riscos
ocupacionais que podem produzir incapacidade física. Até
mesmo as inadequações da educação, como veremos mais
detidamente num capítulo posterior, têm profunda influência
sobre o grau de resistência emocional das pessoas.
Designo por condições geográficas não apenas as condições
climáticas, mas também a ecologia da área (particularmente o
grau de contaminação da atmosfera, da água e da provisão
alimentar), as condições sanitárias e a altitude. Estas influências
nos dão ensejo para considerarmos de que modo precisamente
um indivíduo pode ser afetado pelos estímulos externos de uma
maneira única, dependendo do grau de resistência de seu
mecanismo de defesa. Vamos examinar, por exemplo, os efeitos
que um clima muito úmido pode ter sobre uma população com
diferentes graus de saúde:

1. O organismo de uma pessoa completamente saudável resistirá


à umidade com um mínimo de perturbação do equilíbrio
existente, e se recuperará sem qualquer seqüela significativa.
2. Uma pessoa com menos saúde pode desenvolver rigidez
muscular, dores nas juntas, sinusite, rinite ou asma. O foco de
perturbação, em tal caso, situa-se primariamente no corpo físico.
3. Outra pessoa com saúde ainda mais debilitada pode
27
desenvolver um estado de ansiedade ou até de depressão nesse
clima. O foco da perturbação, nesse caso, situa-se no plano
emocional.
4. Alguém com saúde muito fraca pode apresentar um
embotamento da mente e incapacidade de concentração. O foco,
nesse exemplo, situa-se no nível mental.

Em cada um desses exemplos, o estímulo morbífico (a umidade)


é recebido por receptores no nível físico do organismo. O efeito é
sentido por todo o organismo, em todos os níveis, mas a
manifestação resultante do desequilíbrio ou da perturbação é
expressa em um ou outro nível, dependendo da fraqueza
predisponente do indivíduo.
A influência da família também pode ser um fator extremamente
importante na saúde do indivíduo. Vamos demonstrar, de modo
mais ou menos detalhado, como a individualidade da pessoa se
combina com as circunstâncias externas para produzir uma
variedade possível de condições. Tomaremos como exemplo
uma relação estressante entre mãe e filha, devida a uma
competição subconsciente ou ciumenta, levando em
consideração apenas o efeito sobre a filha. Nessa situação, a
tensão emocional pode alcançar um grau incrível. Até mesmo as
palavras ou ações involuntárias da mãe podem produzir grande
sofrimento na filha. Se essa situação permanecer sem resolução
durante um longo período, a reação da filha pode tomar uma das
seguintes formas:

1. Se a filha for totalmente saudável, pode, finalmente,


desconsiderar a influência da mãe. Ela "entende" toda a situação
e o estresse inicial é facilmente dissipado. O estímulo, nesse
exemplo, não dominou a resistência natural do organismo, não
tendo, pois, criado um estado de desequilíbrio.
2. Se o organismo da filha não apresentar uma constituição
28
bastante saudável, pode-se desenvolver uma perturbação que se
manifestará como acne no rosto, eczema, ou até mesmo úlcera
duodenal. Nesse caso, o estímulo é mais forte do que o
mecanismo de defesa, e é recebido através dos receptores
emocionais e se manifesta somente no corpo físico.
3. Se a saúde da filha já estiver abalada, pode-se desenvolver
um mal mais sério. Inicialmente, uma excessiva falta de
confiança nas situações sociais; mais tarde, talvez, apatia e,
finalmente, depressão. Nesse exemplo, o estímulo é recebido
pelos receptores emocionais, que resultam numa perturbação
que se manifesta primariamente no mesmo nível.
4. Se a saúde da filha estiver mais debilitada, devido a uma
predisposição hereditária, o mesmo grau de estresse domina a
resistência de forma mais grave ainda e produz-se, então, um
distúrbio mental. A filha é incapaz de se concentrar na escola,
suas notas baixam e ela se queixa de não assimilar uma matéria
que antes entendia perfeitamente. Essa progressão, se tiver
continuidade, pode acabar em psicose. Esse exemplo demonstra
um estresse recebido pelos receptores emocionais e transmitido
ao centro do ser, o nível mental.

Uma conclusão crucial e profunda a ser tirada desses exemplos


é a de que o ser humano é um todo, uma entidade integrada, e
não fragmentada em partes independentes. A medicina em geral
acumulou uma grande quantidade de informação sobre
anatomia, fisiologia, patologia, psicologia, psiquiatria, bioquímica,
biologia molecular, biofísica e assim por diante, relacionada aos
seres humanos. Infelizmente, cada um desses ramos de estudo
examinou o indivíduo de seu ângulo particular. Ninguém nega
que a matéria revelada através desses laboriosos estudos tem
sido esclarecedora e geralmente útil. Mas tais estudos não nos
deram até agora uma idéia clara e íntegra do que é um ser
humano funcionando em sua totalidade - não apenas no seu
29
nível molecular, ou no nível dos órgãos, nem somente no nível
psicológico. Conseqüentemente, a moderna terapêutica tem uma
visão fragmentada do ser humano. Se o fígado estiver afetado,
receita-se alguma coisa para o fígado; se o nariz estiver
escorrendo, indica-se algum remédio para o nariz. O
conhecimento é casual ao invés de ser baseado em leis
sistematicamente verificadas e em princípios derivados da
observação dos seres humanos.
Os exemplos dados acima levam em consideração os efeitos dos
estímulos ambientais sobre pessoas de vários graus de saúde
insatisfatória; a estrutura e o funcionamento dos seres humanos
podem ser descritos da mesma forma no estado de saúde. Se
observamos um homem saudável, podemos discernir facilmente
que ele é um organismo íntegro agindo o tempo todo, tanto
consciente quanto inconscientemente. A ação é a característica
do organismo vivo. A ação tanto pode ser passiva quanto ativa, e
a natureza exata da ação é uma expressão da individualidade da
pessoa. A atividade de um indivíduo se manifesta primariamente
em três níveis:

1. Mental 
2. Emocional
3. Físico 

Em qualquer momento a atividade de uma pessoa é centrada,


principalmente, num desses três níveis. O centro da atividade
pode mudar freqüentemente, até de forma rápida, dependendo
da intenção ou das circunstâncias da pessoa, mas há sempre
uma interação dinâmica entre esses três níveis.
Quando uma pessoa funciona num desses níveis, todo o sistema
integrado coopera para preencher seu objetivo da melhor forma
possível. Ao participar de uma competição, um corredor de longa
distância mobiliza todas as suas funções no nível físico. O
30
mesmo é verdadeiro quando alguém faz um trabalho manual. Um
homem que tenta resolver um problema difícil tem suas
faculdades mentais mobilizadas, enquanto suas emoções e as
funções físicas são mantidas em seu ritmo normal. Um homem
que encontra a amada depois de uma longa separação entrega-
se completamente a suas emoções, enquanto reduz as ativida-
des mentais e físicas.
Naturalmente, é sempre a totalidade da pessoa que está agindo,
mas sua atenção, sua consciência, estão centradas no plano
particular em que optou funcionar. Esse conceito pode parecer
simplista e de pouco valor prático, mas veremos, mais adiante,
que ele tem a mais profunda significação no processo da
produção e avaliação da cura de uma doença.

Sumário do capítulo 1
1. O ser humano é um todo integrado, que age o tempo todo
através de três níveis distintos: o mental, o emocional e o físico,
sendo o nível mental o mais importante e o físico, o menos
importante.
2. A atividade do organismo pode ser passiva ou ativa. Na
doença as "reações" do mecanismo de defesa aos vários
estímulos são do maior interesse para o homeopata.
3. O ser humano vive desde o momento do nascimento num
meio ambiente dinâmico, que afeta seu organismo durante toda a
vida e de várias maneiras, e que o obriga a se ajustar
continuamente, de modo a manter um equilíbrio dinâmico.
4. Se os estímulos forem mais fortes do que a resistência natural
do organismo, ocorrerá um estado de desequilíbrio com sinais e
sintomas erroneamente rotulados de "doença" .
5. Os resultados dessa luta podem ser vistos principalmente no
nível mental, emocional e físico, dependendo do estado geral de
saúde no momento do estresse.
31
Capítulo 2
Os três níveis do ser humano
Há uma hierarquia, prontamente identificável na construção do
ser humano. Essa hierarquia é basicamente caracterizada por
três níveis:

1. Mental/espiritual 
2. Emocional/psíquico 
3. Físico (incluindo sexo, sono, alimentação e os cinco sentidos)

Esses níveis não são, na realidade, separados e distintos; pelo


contrário, há uma interação completa entre eles. Não obstante, o
grau de saúde ou de doença do indivíduo pode ser avaliado por
um exame dos três níveis. Essa é uma determinação crucial para
a capacidade de qualquer profissional da saúde, pois é essencial
na avaliação do progresso do paciente.
Naturalmente, existem também hierarquias dentro desses três
planos básicos. As hierarquias são ilustradas na figura 1. Numa
representação simplificada de uma ou duas dimensões, o plano
mental é visto como o mais central, o mais alto na hierarquia,
pois nesse nível estão as funções mais cruciais da expressão do
indivíduo como ser humano; o nível físico, embora importante, é,
não obstante, registrado como o mais periférico (o menos
significativo) na hierarquia.
A figura 2 é uma solução de continuidade das funções individuais
da figura 1. Dentro de cada plano há uma hierarquia adicional
das funções do indivíduo. Como o clínico está preocupado
primariamente com a doença, as hierarquias registradas na
figura 2 mostram uma lista dos sintomas que são aspectos
negativos das funções correspondentes. 

32
O registro preciso é, por ora, preliminar; é necessário muito
trabalho para apurar nossa compreensão dos vários graus. Não
obstante, essa aproximação é clinicamente útil e pode ser
33
verifica da e apurada através do estabelecimento de um
detalhado histórico, sempre focalizado no ser como um todo.
Neste capítulo, será feita uma tentativa para descrever os três
graus de forma um tanto detalhada; maiores ilustrações serão
elaboradas de modo bem mais exaustivo à medida que
progredimos na exposição desta obra.
Deve-se considerar cada descrição desta ilustração composta de
um sintoma particular em seu grau de intensidade. No diagrama,
a seqüência de sintomas está registrada, supondo-se que
tenham a mesma seriedade. Num dado indivíduo, naturalmente,
não é esse o caso. Por exemplo, uma irritabilidade do grau (a)
representa menor perigo para a vida do paciente do que uma
depressão do mesmo grau (a). Uma grande irritabilidade do grau
(x) é, naturalmente, mais grave do que uma depressão do grau
(a). Por outro lado, se um paciente progride deste estado para
um estado em que existe a depressão de intensidade (x), en-
quanto a irritabilidade recua para uma intensidade (a), isso quer
dizer que ocorreu um agravamento na saúde do paciente.
Pela combinação de ambos - do nível hierárquico no qual
repousa a perturbação principal, e da intensidade de sintomas - é
possível construir uma idéia rudimentar do centro de gravidade
da moléstia de um paciente. À medida que ambos, tanto o nível
quanto a intensidade dos sintomas, progridem no diagrama (isto
é, mais em direção ao centro do verdadeiro ser da pessoa),
ocorre uma implicação adversa para a saúde da pessoa. À
medida que o centro de gravidade se move para baixo (isto é,
mais perifericamente), ocorre uma melhora da saúde. Esse
conceito será mais amplamente ilustrado nos capítulos
posteriores.

O plano mental
O nível mais alto e mais importante em que o ser humano
34
funciona é o mental e espiritual. Como definição geral deste
plano podemos dizer: O plano mental de um indivíduo é aquele
que registra as mudanças de compreensão ou consciência.
Como foi discutido no capítulo anterior, essas mudanças são
indicadas tanto pelos estímulos internos quanto pelos estímulos
externos, mas elas são registradas neste plano da existência. É
no nível mental que um indivíduo pensa, critica, compara,
calcula, classifica, cria, sintetiza, conjectura, visualiza, planeja,
descreve, comunica-se, etc. As perturbações dessas funções,
por sua vez, constituem sintomas de doença mental.
O nível mental é o nível mais crucial para o ser humano. O
conteúdo mental e espiritual de uma pessoa é a verdadeira
essência dessa pessoa. Se os instrumentos internos para a
obtenção de uma consciência mais elevada estiverem
perturbados, a própria idéia central da possibilidade de evolução
da consciência está perdida. Onde, então, está o sentido da
vida?
Uma pessoa pode continuar a viver, ser feliz e útil aos outros e a
si mesma com um corpo aleijado, com a perda dos membros, ou
até com a perda da vista ou da audição. Podem-se citar muitos
exemplos de pessoas saudáveis nesse nível de existência,
embora estivessem em desvantagens em níveis mais periféricos.
Existem músicos cegos, muito conhecidos hoje em dia.
Beethoven compôs algumas de suas mais profundas e
poderosas obras depois de ter perdido a audição. Um dos gênios
mais reverenciados e bem-sucedidos em astrofísica, na
atualidade, está confinado a uma cadeira de rodas, virtualmente
paralisado por uma enfermidade neurológica, incapaz de
pronunciar claramente as palavras; no entanto, desde que está
enfermo, tem contribuído com uma quantidade sem precedentes
de insights em seu campo. Gigantes espirituais como Ramana
Maharishi e Ramakrishna tiveram câncer sem que diminuíssem
sua realidade espiritual ou o impacto sobre seus discípulos.
35
Por outro lado, se há uma perturbação no plano mental/espiritual,
a própria existência da pessoa está ameaçada. Isso pode ser
visto em condições como a senilidade, a esquizofrenia e a
imbecilidade. Embora o corpo físico seja o meio através do qual
as faculdades mais elevadas podem se manifestar neste mundo
material, a manutenção de sua saúde não pode tornar-se um fim
em si mesmo. É duvidoso que alguém possa sustentar que as
pessoas vieram a esta vida apenas para comer, ter prazer sexual
e acumular dinheiro e bens materiais. Até mesmo os homens
mais primitivos perceberam um objetivo mais elevado na vida,
que os levou a valorizar a fé (um grau de compreensão) e o
amor; é só retirar esses valores, mesmo das pessoas mais
primitivas, e a vontade de viver se perderá.
Se fosse possível ter uma mente absolutamente saudável,
veríamos as pessoas vivendo continuamente em bem-
aventurança espiritual e revelando todos os dias novas idéias
criativas, expressas de forma bem clara, sempre a serviço dos
outros. Tais pessoas viveriam constantemente na clareza da luz
e nunca na confusão da obscuridade espiritual. Desse estado de
absoluta saúde mental para um estado de total confusão mental,
podemos discernir uma gradação constante de confusão cada
vez maior nos vários subníveis do plano mental.
Há uma hierarquia dentro das funções mentais. Se presumirmos
condições de intensidade igual, podemos perceber que a
perturbação da memória não é tão séria quanto uma perturbação
da habilidade de se concentrar; e esta não é tão séria quanto a
inabilidade para discriminar, que, por sua vez, não é tão séria
quanto uma perturbação na habilidade de pensar.
Entender claramente essas gradações é decisivo para a
determinação do diagnóstico num determinado caso. Se o grau
de confusão mental num paciente submetido a tratamento se
eleva, pode-se deduzir que houve um declínio da saúde, embora
um sintoma físico particular possa ter sido aliviado. Longe de ser
36
apenas uma observação acadêmica, a supressão resultante
dessa terapia descuidada pode levar ao colapso da saúde de
todo o gênero humano. Pode-se mostrar que nos tempos antigos
os mecanismos de defesa estavam bem mais capacitados para
resistir às mo léstias e reparar os ferimentos do que hoje.
Atualmente, as visitas aos médicos começam já na primeira
infância; em conseqüência, maiores parcelas de nossas
populações estão expostas, desde a juventude, às terapias de
supressão. Talvez seja essa a razão para o alarmante aumento,
há apenas poucas gerações, das taxas de enfermidade e morta-
lidade por doença crônica. Mesmo o caos espiritual do nosso
mundo moderno pode ser o resultado dessa progressão, criada
pelos contínuos tratamentos de supressão cada vez mais
poderosos. James Tyler Kent, um médico americano, em seus
Lesser writings, resumiu a tragédia desta forma: "Hoje em dia
não se deixa aparecer nenhuma erupção de pele. Tudo o que
aparece na pele é rapidamente suprimido. Se isso acontecer
durante muito tempo, a raça humana desaparecerá da face da
Terra".
Como, então, quando confrontados com um paciente atual,
podemos reconhecer claramente o seu grau de saúde ou doença
no plano mental? Precisamos ter um modo simples e óbvio de
definir as qualidades que descrevem o graú de saúde mental de
um indivíduo. Como em todos os níveis, a saúde não é apenas a
ausência de sintomas que se referem às funções mentais
particulares. É um estado de ser que pode ser descrito como
tendo três qualidades fundamentais, e cada uma das quais é
indispensável para um verdadeiro estado de saúde. Mesmo com
a ausência de qualquer uma delas, a mente pode funcionar
completamente bem em termos apenas das funções, mas pode,
entretanto, estar completamente doente. As três qualidades
indispensáveis, que devem acompanhar as diferentes funções da
mente, são:
37
1. Clareza 
2. Racionalidade, coerência e seqüência lógica 
3. Atividade criativa para o bem dos outros tanto quanto para o
seu próprio bem

Todas essas três qualidades devem estar presentes, mas a


terceira é de suma importância. É essa qualidade, a atividade
criativa, que parece ser a menos compreendida pela moderna
medicina alopática; no entanto, a falta dessa qualidade leva,
subseqüentemente, aos piores estados de insanidade que se
possam imaginar.
Vamos discutir uns poucos exemplos de como a consideração
dessas qualidades mentais pode fornecer ao profissional uma
maneira precisa de avaliar a saúde mental do indivíduo.
Consideremos primeiro uma pessoa que não consegue
expressar seus pensamentos com clareza. Ela tem grande
dificuldade para encontrar as palavras certas. Seu pensamento
tornou-se fraco - estamos vendo o começo de uma perturbação
que pode, com o passar do tempo, levar a um estado de
senilidade ou de imbecilidade.
Outro indivíduo pode possuir a clareza, mas falta-lhe a coerência
de pensamento. Ele não consegue expressar seus pensamentos
de maneira lógica e, por conseguinte, não é compreendido pelos
outros. Perdeu a capacidade para o pensamento abstrato e, mais
importante ainda, tende a se tornar uma pessoa impulsiva,
irracional. Nesse caso, salta de um assunto para outro, talvez até
de forma brilhante, mas tão rapidamente que os outros
permanecem confusos. O estereótipo do gênio distraído é um
bom exemplo de alguém cuja coerência se encontra alterada.
Essa pessoa está profundamente perturbada no nível mental.
O mesmo se aplica ao chefe de uma quadrilha, altamente
inteligente, que planeja um roubo ou um assassinato com o mais
38
alto grau de clareza e racionalidade de pensamento. No entanto,
essa pessoa está doente nas regiões mais profundas de seu ser,
pois persegue objetivos egoístas às custas de outras pessoas.
Essa mentalidade permeia nosso mundo moderno a um grau
extremo, e é uma das causas fundamentais do problema da
competição, da violência, do abuso do álcool e das drogas, da
pobreza e da guerra.
Todos nós conhecemos indivíduos altamente egoístas e
intolerantes para com as opiniões das outras pessoas. Eles
acreditam que estão sempre certos, que ninguém conhece nada
melhor do que eles; por conseguinte, não podem aceitar
nenhuma idéia nova, por mais correta e benéfica que ela possa
ser. Isso leva a um estado mentaf que exclui a possibilidade de
perceber a verdade. Neste caso, a falta de clareza e de
criatividade impedem inclusive o uso total e adequado das
faculdades mentais. Progressivamente, essa pessoa terá
propensão a desenvolver um estado de ilusão, em que o falso
lhe parecerá verdadeiro. Desse modo, a pessoa altamente
egoísta e interesseira prepara o caminho para um estado de
confusão que pode, finalmente, levá-Ia a um estado de
verdadeira insanidade.
Podemos observar um processo similar num indivíduo altamente
consumista. Tal pessoa acredita profundamente nos valores
materiais; nada é mais importante para ela do que as posses que
deseja adquirir - quer sejam objetos ou pessoas. Essa
possessividade pode evoluir para um desejo impetuoso tão
irrealista que a pessoa tem que procurar a satisfação a qualquer
custo. A exploração dos outros, ou até mesmo o mal causado
aos outros, não serão obstáculos suficientes, uma vez que o
desejo se torna obsessivo. Uma pessoa nesse estado perdeu
todos os valores idealistas e éticos. O que pode ser mais insano
do que ferir ou até mesmo matar o próximo para obter algum
ganho material? Além disso, tal fato finalmente resulta num
39
estado de grande insegurança para a própria pessoa possessiva.
Se por alguma razão ela perder suas posses, o choque será
virtualmente insuportável. Em comparação, uma pessoa mais
saudável com relação a essa qualidade, ao perder suas posses,
sofrerá apenas temporariamente e, em seguida, se voltará
harmoniosamente para a criação de um novo começo.
Como podemos ver através desses exemplos, há uma linha
muito tênue entre aquilo que os psiquiatras julgam ser saúde
mental e o que chamam de doença mental. Em que ponto dos
exemplos dados anteriormente essas pessoas cruzam a fronteira
entre saúde e doença? De preferência, há uma contínua
gradação da degeneração mental que começa com o egoísmo e
a possessividade e leva ao que pode claramente ser definido
como insanidade.
Por fim, consideraremos as fontes básicas do sofrimento mental
e emocional, que desencadeiam o processo da doença
psicossomática. As perspectivas psicossomáticas praticamente
tornaram-se uma novidade. Sabemos, assim como todos os
médicos modernos, que pensamentos ou sentimentos
perturbados podem alterar profundamente a saúde de uma
pessoa. Um súbito pesar, um medo repentino, um inesperado
recebimento de más notícias podem levar o organismo a um
extremo sofrimento, desequilibrando-o para o resto da vida. Por
que algumas pessoas podem experimentar esse choque por um
breve período sem alterações da saúde, enquanto outras
padecem de males crônicos? Quais são as qualidades do nível
mental que levam a essas diferenças de suscetibilidade?
Se meditarmos sobre a fonte do sofrimento mental ou emocional,
torna-se gradualmente claro que esse sofrimento nasce de duas
fontes básicas: ambições frustradas e relações rompidas. Essas,
por sua vez, são uma outra maneira de denominar o egoísmo e a
possessividade.
Qualquer pessoa que acredite firmemente em muitas ambições
40
egoístas está se preparando para um bocado de sofrimento. Tão
logo fique claro que uma ambição desmesurada é inalcançável, a
pessoa experimentará um pesar proporcional ao grau da
confiança que nela depositava originalmente. O mesmo se aplica
a uma pessoa guiada pela possessividade. O grau de sofrimento
resultante da perda da posse é proporcional ao grau de ligação a
essa posse.
Dessa maneira, pode-se concluir que, se a pessoa desejar evitar
o sofrimento mental e emocional, deverá cultivar a generosidade,
a humildade e as qualidades altruístas. Isso não quer dizer, no
entanto, que uma pessoa deva tornar-se ascética, recusando-se
a atender às necessidades indispensáveis exigidas pelo
indivíduo. A melhor política a seguir, para a maximização da
saúde, é "o caminho do meio" trilhado pelos antigos gregos: nem
muito, nem pouco. Nenhum excesso. Essa moderação se aplica
igualmente aos três níveis da existência humana.

O plano emocional
O nível da existência humana, que se segue em importância ao
nível mental, é o emocional. Nele incluímos todos os graus e
nuanças das emoções, desde a mais primitiva até a mais
sublime. Esse nível da existência age como receptor do
mecanismo de defesa dos estímulos emocionais do meio
ambiente, e funciona também como veículo de expressão para
os sentimentos, as ações e as perturbações emocionais que
ocorrem no indivíduo. O que se segue é uma definição do plano
emocional da existência: esse é o nível da existência humana
que registra mudanças nos estados emocionais. O âmbito da
expressão emocional pode variar largamente: amor/ódio;
alegria/tristeza; calma/ansiedade; confiança/raiva;
coragem/medo, etc. Por conseguinte, é esse nível que está bem
próximo do centro da existência diária de cada indivíduo.
41
Quanto à qualidade, os sentimentos podem ser definidos como
positivos ou negativos. Os sentimentos positivos tendem a levar
o indivíduo a um estado de felicidade, ao passo que os
sentimentos negativos tendem a levá-Io a um estado de
infelicidade. Quanto mais um indivíduo experimenta sentimentos
negativos, mais doentio se torna nesse nível. Medir o grau da
perturbação emocional de uma pessoa é descobrir o quanto, em
seu estado de vigília, ela está entregue a sentimentos negativos
como apatia, irritabilidade, ansiedade, angústia, depressão,
pansamentos de suicídio, ciúme, ódio, inveja, etc.
As pessoas mais saudáveis e emocionalmente evoluídas
experimentam alguns dos estados mais profundos conhecidos
pela humanidade: experiências místicas, êxtase, amor puro,
devoção religiosa e uma vasta gama de sentimentos sublimes
difíceis de descrever e, em nossa era, limitados apenas a um
pequeno número de indivíduos. Pode-se dizer de uma maneira
geral que os desequilíbrios no plano emocional manifestam-se
como sensibilidade elevada no sentimento de nós mesmos como
seres vulneráveis separados do resto da criação; estados
emocionalmente perturbados tendem a girar em torno de
questões relativas a conforto pessoal, sobrevivência e expressão
pessoal. Por outro lado, os estados emocionais mais evoluídos
tendem a envolver sentimentos da nossa unicidade com toda a
criação: amor, bem-aventurança, devoção, etc. Dessa forma, os
sentimentos positivos num indivíduo sempre tenderão a criar
uma sensação de unidade com o mundo externo; ao contrário, os
sentimentos negativos tenderão a produzir uma sensação de
isolamento e separação do mundo externo.
Do mesmo modo que, no nível mental, uma pessoa pode sofrer
devido a pensamentos negativos, assim também, no nível
emocional, pode ter sentimentos negativos, que criam
perturbação interior e desarmonia no meio ambiente. Os
sentimentos positivos, ao contrário, fortalecem o estado
42
emocional interno e criam condições positivas no meio ambiente,
acentuam a comunicação com as pessoas e, por conseguinte,
servem à comunidade. Quando alguém expressa confiança no
outro, esse fato, em si, eleva a ambos e cria um equilíbrio
psíquico maior. Em contrapartida, uma expressão de raiva ou de
desconfiança cria um estado emocional desarmonioso na psique,
concorrendo assim para a deterioração da comunidade. Alguém
com sentimentos de calma interior, alegria, euforia, etc., fornece
a si mesmo e aos outros o melhor alimento emocional possível,
que somente acentua o nível da saúde emocional. Por outro
lado, uma pessoa que vive continuamente em ansiedade, tristeza
ou medo fornece alimento envenenado, que final mente leva à
degeneração da própria saúde e da dos outros..
Como nos outros dois níveis, existe uma hierarquia de
perturbações emocionais que pode ser graduada conforme
atinjam profundamente o indivíduo ou permaneçam relativamente
na periferia. A aproximação comum dessa hierarquia está
registrada na figura 2 (página 52). Trata-se, também, de uma
aproximação grosseira, desenvolvida a partir de experiências
clínicas passadas e que, sem dúvida, serão alteradas e
depuradas por cuidadosos observadores de todo o mundo. Nos
limites do plano emocional com os planos mental e físico, há uma
certa margem de "sobreposições", descritas na figura 3 (página
78). Contudo, dentro da própria hierarquia emocional,
percebemos uma gradação de sintomas que permite determinar
se o progresso de um paciente está evoluindo ou declinando. Por
exemplo, levando em consideração cada sintoma em graús
equivalentes de intensidade, a depressão pode ser considerada
mais limitadora da vida do paciente do que a ansiedade, sendo
esta mais grave do que a irritabilidade.
É conveniente que o profissional compreenda a gradação dos
sintomas para determinar a direção que o progresso do paciente
está seguindo, mas é necessário também um breve roteiro com o
43
qual julgar o grau de saúde ou doença de um indivíduo logo na
primeira consulta. No estado mais alto de saúde emocional, o
indivíduo experimenta uma absoluta calma dinâmica combinada
com amor por si mesmo, pelos outros e pelo ambiente. Esse é
um estado de serenidade que está ativamente envolvido com as
pessoas e o ambiente; não é apenas uma falta de sentimento
emocional gerada como proteção contra a vulnerabilidade emo-
cional. Por outro lado, uma pessoa gravemente enferma sofre de
uma séria angústia interna, ou de uma depressão intensa que a
faz perder todo o interesse pela vida, desejando intensamente a
morte. Entre esses extremos, existem amplas variações dos
modos individuais de expressão.
Nos tempos modernos, a perturbação emocional tornou-se um
dos maiores problemas de saúde. Seja por falta de compreensão
das leis da natureza, seja por causa da contínua supressão
"terapêutica" de enfermidades relativamente periféricas que se
recolhem para o centro da existência humana, percebe-se que
muitos dos problemas do mundo atual são provenientes de
emoções desequilibradas, maldirigidas e destrutivas. Os
problemas modernos dos conflitos armados indiscriminados, da
violência aleatória, do terrorismo nas cidades, dos crimes em
massa, da opressão racial e do abuso infantil, são todos
exemplos de estados emocionais maldirigidos, tanto no nível
individual quanto no nível social.
Como foi descrito anteriormente, o ser humano tanto afeta o
ambiente quanto é afetado por ele. No nível emocional, uma das
nossas influências mais importantes é a incapacidade total dos
nossos sistemas educacionais em fornecer um treinamento
emocional para os jovens. Como resultado, nossa parte
emocional permanece subalimentada e caquética, tornando-se
presa fácil das condições de doença. Em toda a história
ocidental, e especialmente na era atual, materialista e
tecnológica, a educação tem se concentrado quase que
44
exclusivamente no treinamento atlético (nível físico) e intelectual
(nível mental). Os principais heróis dos jovens são os colegas de
classe bem-sucedidos atlética ou intelectualmente. Os jovens
sensíveis, artistas, músicos ou poetas raramente são glorificados
e encorajados. Na vida moderna, a principal fonte de educação
emocional parece ser a televisão, que envolve o espectador
apenas de forma passiva e enfatiza as persepectivas exageradas
ou fantasiosas da vida.
A educação deveria seguir um procedimento mais natural e
baseado nos estágios conhecidos da maturidade. A ênfase
educativa deveria ser voltada ao desenvolvimento do corpo físico
entre as idades de sete e doze anos; ao nível das emoções,
entre as idades de doze e dezessete anos; ao nível mental, entre
as idades de dezessete e vinte e dois anos. Ao invés disso,
nossa educação é casual e aleatória, regi da freqüentemente por
influências políticas mais do que pelo reconhecimento dos
estágios naturais do desenvolvimento dos estudantes. O
resultado é a criação de graduados desequilibrados e fragilizados
no nível emocional. Embora esteja além do propósito deste livro
delinear recomendações minuciosas para a mudança do sistema
educacional, é, entretanto, importante para o profissional
compreender a profunda influência que a educação inadequada
exerce sobre a saúde emocional do indivíduo.
Entre as idades de doze e dezessete anos, o ser humano
experimenta um despertar natural dos instintos sexuais e
também dos mais elevados sentimentos: apreciação do amor, da
liberdade, da justiça, etc. Por não haver nenhuma educação
programada para mobilizar e desenvolver esses sentimentos,
eles se canalizam para experiências desnorteantes, frustrantes e
freqüentemente humilhantes para os jovens. Tentativas precoces
de expressar e agir de acor do com tais emoções são rotuladas,
tanto pelos professores quanto pelos pais, de "rebeldes",
"sonhadoras", "extremamente idealistas", ou até mesmo
45
"irracionais". Expressões emocionais saudáveis são rebaixadas e
criticadas, enquanto se dá ênfase educacional à conformidade,
"normalidade", sucesso e competição com os demais.
Geralmente, o que acontece é que os jovens canalizam todas as
suas experiências emocionais para o sexo e para a gratificação
imediata do prazer, que, em contrapartida, leva muitas vezes a
experiências chamadas ilícitas ou degradantes.
O resultado final é que o jovem passa por experiências
fortemente desconcertantes, que lhe enrijecem as emoções ou,
às vezes, as embotam completamente. A necessidade da
expressão emocional canaliza-se, então, para objetivos
distorcidos. Dessa forma, testemunhamos o aparecimento do
homem de negócios, astuto e competitivo, impiedoso para com
os sentimentos alheios. Pessoas com experiência emocional
inadequada casam-se despreparadas, uma situação que conduz
ao elevado índice atual de divórcios. Os pais, que se defrontam
com a inesperada e grande responsabilidade, de ter filhos,
encaram-nos como objetos ou projeções de seus próprios
objetivos frustrados na vida. Do conjunto desses fatores, resulta
uma sociedade composta por pessoas que têm consciência de
seus sentimentos e são incapazes de lidar com eles de forma
madura, quando se manifestam. Do ponto de vista emocional,
podemos dizer que temos hoje uma sociedade de pessoas que
morrem aos vinte e cinco anos, embora vivam até os setenta e
cinco.
A educação deveria reconhecer a necessidade dos sentimep.tos
idealistas e estéticos que aparecem de modo natural na idade
escolar. Quando o amor, a amizade e o companheirismo, os
sentimentos altruístas e o sacrifício são expressos, deveriam ser
elogiados, encorajados e canalizados para direções maduras, em
vez de ser ignorados ou criticados. As inclinações naturais para a
música, a poesia e a arte deveriam ser especificamente
recompensadas e desenvolvidas sob uma orientação perspicaz.
46
Excursões a lugares de beleza natural deveriam ser constantes.
Mesmo discussões religiosas e espirituais deveriam ser
acessíveis aos éstudantes, e técnicas de meditação de vários
tipos deveriam ser oferecidas aos estudantes que tivessem esse
interesse. Dos doze aos dezessete anos, a educação deveria
enfatizar mais a criatividade que o conformismo, os valores
estéticos mais que os meramente intelectuais e o desen-
volvimento da inspiração mais que a prática.
Se a educação fosse melhorada dessa maneira, o resultado seria
um grande número de pessoas maduras e equilibradas no nível
emocional e, por conseguinte, muito menos. suscetíveis às
doenças nesse nível. O casamento e a vida de família seriam
estáveis e satisfatórios e não estressantes e morbíficos. As
pressões da vida e do ambiente não gravitariam tão facilmente
rumo ao enfraquecimento do mecanismo de defesa do plano
emocional, prevenindo, assim, as modernas epidemias nervosas
de insegurança, violência, ansiedade, medo e depressão.

O plano físico
A medicina tem-se preocupado tradicionalmente com o plano
físico da existência, o organismo humano. Ele tem sido
pesquisado em profundidade pela anatomia, fisiologia, patologia,
bioquímica, biologia molecular, etc. No entanto, a despeito de
toda essa pesquisa, há um fato singular, do qual a maioria dos
médicos parece não se dar conta, ou seja, que o corpo humano,
em sua complexidade, mantém uma hierarquia de importância de
seus órgãos e sistemas. Pode-se apenas conjecturar sobre o
modo pelo qual esse conceito de hierarquia foi ignorado pela
literatura alopática, mas parece que a razão fundamental é que
esse conceito não é necessário para a abordagem alopática no
tratamento da doença. Não obstante, uma compreensão total
dessa perspectiva é absolutamente necessária para o
47
profissional que lida com o paciente como um todo.
Como sempre, ao considerar a gradação dos sistemas do corpo
físico, devemos primeiro reconhecer a natureza experimental da
precisão dos detalhes até que eles sejam confirmados por
observações ulteriores. Os seguintes princípios nos auxiliarão a
elucidar essa hierarquia:

1. Se um determinado sistema contém um órgão de importância


central para a manutenção de uma sensação plena de bem-
estar, esse sistema deverá ser graduado de acordo com a
importância desse órgão para todo o organismo.
2. O nível relativo de importância de um órgão pode ser medido
pelo grau de prejuízo causado ao organismo por uma
determinada soma de injúrias sobre esse órgão. Por exemplo,
uma cicatriz no cérebro terá um efeito mais prejudicial do que
uma cicatriz semelhante no coração ou na pele.

Segue-se uma relação dos sistemas considerados e seus


órgãos, apresentados numa ordem aproximada de importância
para o organismo:

1. Sistema nervoso, que inclui cérebro, medula


espinhal, gânglios, plexo e fibras nervosas periféricas.
2. Sistema circulatório, que inclui coração, vasos sanguí neos, o
próprio sangue, vasos linfáticos e linfa.
3. Sistema endócrino, que inclui glândula pituitária, glândulas
tireóide e paratireóide, supra-renais, ilhotas de  Langerhans,
ovários e testículos e glândula pineal.
4. Sistema digestivo, composto por fígado, pâncreas e
tubo digestivo com suas glândulas acessórias.
5. Sistema respiratório, formado por pulmões,
brônquios, traquéia, faringe e nariz.
6. Sistema excretor, composto pelos rins, ureteres, bexiga e
48
uretra.
7. Sistema reprodutor, formado pelos testículos,
vesículas seminais, pênis, uretra, próstata e glândulas bulbo-ure-
trais, no homem; e pelos ovários, trompas de Falópio, o útero,
vagina e vulva, na mulher.
8. Sistema ósseo, que inclui ossos, tecidos conjuntivos e  juntas.
9. Sistema muscular, que consiste nos músculos estriados e nos
músculos não-estriados.

Nessa classificação, vemos que os quatro primeiros sistemas


contêm cada um um órgão vital para a manutenção da vida: o
cérebro, o coração, a glândula pituitária e o fígado. Nesses
sistemas, há um órgão predominante e cuja função não pode ser
realizada por outro órgão igualou similar. Ao percorrer a lista,
vemos sistemas que têm dois órgãos igualmente eficientes, cada
um deles capaz de funcionar pelos dois: dois pulmões, dois rins e
dois órgãos reprodutivos, tanto no homem como na mulher. Mais
abaixo na hierarquia, encontramos o sistema ósseo cuja parte
central é a coluna vertebral, que consiste em muitas vértebras;
várias delas podem ser danificadas sem causar a morte. O
mesmo se passa com o sistema muscular.
A hierarquia dos sistemas físicos pode ser considerada sob luz
diferente se fizermos a seguinte pergunta: a que nível é preciso
chegar o dano a um determinado órgão ou sistema para
prejudicar a vida? No nível muscular seria preciso uma miopatia
sistêmica que afetasse quase todos os músculos para prejudicar
a vida de forma significativa; já no que diz respeito à coluna
vertebral, o dano poderia ser menor, mas ainda assim teria que
ser muito grande para destruir a vida. À medida que subimos na
hierarquia, vemos que progressivamente uma menor destruição
do órgão principal de cada sistema coloca cada vez mais em
perigo a vida do organismo. Nos órgãos vitais para o organismo,
bastam pequeníssimas áreas de dano para criar problemas muito
49
sérios; uma área de isquemia no coração é mais nociva à saúde
do que uma área semelhante no fígado ou no rim, mas ainda é
menos ameaçadora do que um dano do mesmo porte no
cérebro.
Com essas observações podemos construir uma hierarquia dos
órgãos do corpo físico; baseada em sua importância em relação
ao organismo:

1. Cérebro (1)
2. Coração (1)
3. Glândula pituitária (1)
4. Fígado (2)
5. Pulmões (2)
6. Rins (2)
7. Testículos/ovários (2)
8. Vértebras (28)
9. Músculos (muitos)

Compreender essa hierarquia não é apenas um exercício


acadêmico; possibilita ao profissional reconhecer a direção da
progressão da moléstia. Se a doença estiver progredindo na
hierarquia - em direção aos rins, pulmão, pituitária, coração e,
finalmente, cérebro -, está claro que a progressão caminha para
uma direção adversa. Pelo contrário, se a progressão se dirige
do cérebro para os músculos, evidencia-se uma melhora no
estado de saúde geral.
Se um médico moderno observar, por exemplo, um paciente
progredindo de um eczema para uma bronquite asmática,
provavelmente explicará ao paciente esse fato com as seguintes
suposições: ou é o curso natural da doença em indivíduos
alérgicos ou então a asma é uma enfermidade lamentável, mas
coincidente, adicionada ao eczema. Se um paciente que sofreu
de artrite reumatóide tiver mais tarde um ataque do coração, o
50
médico considerará os dois acontecimentos como separados e
coincidentes, e os tratará separadamente. E até, o que é mais
lamentável, quanto mais, profundamente o órgão estiver
envolvido, mais inclinado estará o médico a dar uma droga ainda
mais tóxica para controlar os sintomas (se esta já tiver sido
inventada); ao paciente com artrite reumatóide provavelmente
será dada aspirina ou butazolina e, depois do ataque do coração,
ele pode receber digitális, quinina, propanolol, bem como
anticoagulantes. A classe alopática não leva em consideração a
possibilidade de que as enfermidades progressivamente mais
sérias possam ser o resultado da supressão dos sintomas de
enfermidades menos sérias. Independentemente de o método
terapêutico usado ser "artificial" ou o assim chamado "natural",
se ocorrer uma direção adversa na hierarquia, depois do
tratamento, deve-se suspeitar que a terapia está sendo
prejudicial, e providenciar sua suspensão ou mudança.

Definição e medida da saúde


Até aqui tentamos levar em consideração, um tanto
detalhadamente, o organismo humano em seu conjunto de
influências ambientais nos seus três níveis de funcionamento.
Essa abordagem apresenta necessariamente uma imagem de
certa forma fragmentada do ser humano. Na verdade, o
organismo humano é uma totalidade completamente integrada,
que age sempre com inteligência inata para manter a
homeostase com diferentes graus de sucesso. Agora, vamos
tentar reunir essa imagem fragmentada e ilustrar com exemplos
o modo pelo qual esses conceitos podem ser usados pelos
profissionais para avaliar com precisão o estado de saúde de um
determinado indivíduo.
Como vimos, existe uma gradação hierárquica das funções e
perturbações no organismo humano, que tende a manter a
51
ordem. Essa hierarquia não está meramente limitada às
entidades vivas, mas é característica da estrutura e da função do
próprio universo. Por exemplo, uma perturbação repentina nas
leis da atração e repulsão, ou nos campos eletromagnéticos,
criaria uma destruição inimaginável no cosmos. Uma mudança
fundamental, mesmo momentânea, na atividade do Sol
desintegraria profundamente a vida na Terra. Até pequenas
mudanças na escala da temperatura do planeta alteram
drasticamente o equilíbrio das formas de vida. Numa escala
menor, a força gravitacional da Lua afeta a vida, assim como a
umidade, o vento e as condições climáticas. Em todos esses
fenômenos, discernimos uma hierarquia de funções e de leis que
regem suas interações. Se um processo de importância básica
for perturbado, ainda que ligeiramente, o efeito sobre todo o
sistema será bem maior do que se um processo menor fosse
perturbado no mesmo grau. Como vimos, essa hierarquia é
evidente também no organismo humano, de forma que uma
pequena área de dano no cérebro tem muito mais efeito sobre o
organismo do que uma área de dano semelhante sobre a pele.
A idéia da hierarquia é, na verdade, a idéia da unicidade, a partir
da qual tudo foi criado. Todas as entidades e todos os níveis
estão ligados no universo inteiro por esse conceito; por
conseguinte, ela pode ser considerada uma lei universal.
O conceito de hierarquia ganha grande importância prática para
os clínicos na consideração do centro de gra vidade da ação ou
perturbação do organismo. Em nossos dias, pode-se dizer, de
um ponto de vista prático, que cada indivíduo (visto como uma
totalidade) em todos os momentos de sua vida está doente em
certo grau. A extensão da doença é determinada pela totalidade
da perturbação existente na forma de sintomas em todos os três
níveis. Uma perturbação visível em um nível, não importa quão
diminuta, afeta simultaneamente outros níveis, embora em maior
ou menor grau. Não obstante, quando a maior parte dos
52
sintomas se situa em determinado nível, podemos dizer que o
centro de gravidade da perturbação naquele momento localiza-se
naquele nível. Esse é um estado altamente dinâmico, mas o
profissional pode, em geral, discernir um centro básico de
gravidade da perturbação ao elaborar um histórico cuidadoso
que inclua todos os três níveis do indivíduo.
Tomemos como exemplo um paciente que tem bronquite
asmática e. constipação crônica como os principais males de seu
corpo físico. Após elaborar um histórico cuidadoso de todos os
níveis, torna-se claro que o paciente também é irritável, tem
medo do escuro, medo de doença e uma enorme ansiedade com
relação ao futuro. Depois de mais perguntas, ele admite ter
observado durante algum tempo uma diminuição de seu poder
de concentração. Nesse ponto, como foi definido pela
intensidade da queixa principal, o médico percebe que o centro
de gravidade dos sintomas situa-se no plano físico.
O profissional prescreve um plano de terapia (seja através da
medicina alopática, de psicoterapia, ou de tratamentos
naturalistas), e, ao retornar para uma visita de avaliação,
descobre que a asma e a constipação melhoraram, ao passo que
os sintomas da irritabilidade e ansiedade aumentaram. O
paciente queixa-se de tristeza, e seu estado mental evidencia
uma diminuição do poder de concentração; a própria habilidade
de realizar um trabalho criativo para si mesmo e para os outros
de cresce consideravelmente. O médico alopata ortodoxo, que se
concentra, devido ao treinamento que recebeu, no nível físico,
sentir-se-ia gratificado com os resultados, pois, afinal, a asma e a
constipação melhoraram; e muito provavelmente encaminharia o
paciente a um psiquiatra para tratar do "novo" problema
psicológico. Um profissional que compreende os princípios da
totalidade do paciente, no entanto, perceberia imediatamente que
o centro de gravidade da perturbação moveu-se do nível físico
para o nível emocional, o que significa uma deterioração da
53
saúde em geral, apesar de os sintomas físicos originais terem
melhorado em noventa por cento.
No decorrer de uma cura real, é provável que ocorra exatamente
a seqüência oposta. Primeiro, os sintomas físicos podem
permanecer imutáveis ou talvez piorem levemente, enquanto o
poder de concentração cresce e os sintomas emocionais
diminuem. Isso significa que o centro de gravidade está
gradualmente baixando na hierarquia, concentrando-se em
algum outro ponto do plano físico. O médico prudente
simplesmente nada faria a esta altura e, nas visitas
subseqüentes, observaria que todos os sintomas, inclusive os
físicos, gradualmente desapareceram. Dessa forma, entendendo
a hierarquia dos sintomas e observando a mudança do centro de
gravidade, temos um método altamente prático de avaliar o
progresso, método baseado, ademais, nos trabalhos reais do
mecanismo de defesa do organismo.
Em toda a apresentação até aqui, mencionamos dois fatores a
serem levados em consideração: a localização dos sintomas na
hierarquia e suas intensidades. Por exemplo, dois pacientes
podem ter um espectro de sintomas idênticos aos do paciente
citado, ambos com o mesmo centro de gravidade; no entanto, um
pode experimentar somente leves danos à sua saúde, ao passo
que o outro pode estar gravemente afetado pela doença. Isso
resulta da diferença de intensidade dos sintomas. Por essa
razão, precisamos de um instrumento para medir prontamente o
grau total de saúde do indivíduo e de uma medida da intensidade
dos sintomas que ele apresenta. Essa medida nasce da definição
fundamental de saúde.
De acordo com o que foi dito até aqui, é fácil definir o estado de
saúde de um indivíduo. Uma definição abrangente deve ajustar-
se a todo o objetivo do ser humano como ser espiritual. As
pessoas, durante toda a vida, pouco mais fazem do que se
libertarem da servidão que a dor cria no corpo, que as paixões
54
despertam nas emoções e que o egoísmo faz nascer no espírito.
O médico que compreende o objetivo da missão daquele que
cura deve tentar levar o paciente a libertar-se dessas três
limitações.
Toda dor, desconforto ou fraqueza que aparece no corpo limita
inevitavelmente a liberdade que existia antes do aparecimento
dos sintomas. Por conseguinte, a enfermidade é uma servidão,
uma escravidão do corpo. Quase todas as pessoas, no entanto,
pelo menos por um breve momento na vida, experimentam toda
a liberdade da função do corpo, quando nenhum dos órgãos está
limitado e não existe nenhuma sensação corporal negativa. Por
essa razão, o estado de saúde física pode ser definido da
seguinte maneira: saúde do corpo físico é liberdade em relação à
dor, após ter-se atingido um estado de bem-estar.
No plano emocional, ou psíquico, enquanto uma pessoa está
serena e calma, pode prosseguir sem qualquer restrição ao
trabalho criativo, tanto para si mesma quanto para os outros. No
momento em que a paixão aparece e a domina, ocorrem a
ansiedade, a raiva, a angústia, o medo, o fanatismo, etc. Essa
paixão tende a escravizar a parte emocional e interferir no livre
funcionamento dos demais domínios. Isso é verdadeiro mesmo
em relação às paixões idealísticas que, em intensidade, estão
próximas do fanatismo, pois qualquer paixão excessiva tende a
escravizar; qualquer paixão impede que a pessoa seja dona de si
mesma. Assim, podemos definir o estado de saúde no nível
emocional da seguinte maneira: saúde emocional é uma viva
sensação de liberdade em relação à paixão, que tem como
resultado uma serenidade dinâmica. Nessa definição deve-se
deixar bem claro que a ênfase recai na dinâmica. Essa não é
apenas uma falta de sentimentõ resultante das disciplinas
intelectuais destinadas a controlar a emoção; é, de preferência, a
capacidade de sentir com liberdade toda a gama de emoções
humanas sem se deixar escravizar por elas em nenhum
55
momento.
Da mesma forma, quando aparecem as tendências egoístas e os
desejos de aquisição, experimenta-se uma sensação de
sofrimento. A pessoa egoísta é aquela que estádoente na
camada mais profunda do ser, conforme a intensidade de seu
egoísmo. Todos nós conhecemos pessoas altamente egoístas
que são facilmente feridas por acontecimentos que contrariam
seus desejos. À proporção que ela égovernada pela ambição
egoísta e pelo desejo de aquisição, aproxima-se de um estado
mental doentio que pode terminar em total confusão. Temos,
conseqüentemente, a seguinte definição: saúde, no plano
mental, é a liberdade em relação ao egoísmo, que tem como
resultado a completa unificação da pessoa com o divino, ou com
a verdade, e cujas ações são dedicadas ao serviço criativo.
Dessa maneira, resumimos a definição de saúde do ser humano
como um todo da seguinte forma: saúde significa liberdade do
corpo físico em relação à dor, ao se atingir um estado de bem-
estar; liberdade em relação à paixão no nível emocional, o que
resulta num estado dinâmico de serenidade e calma; e liberdade
em relação ao egoísmo, na esfera mental, o que resulta na total
unificação com a Verdade.
Neste ponto surge naturalmente a seguinte pergunta: Como
medimos o grau relativo de saúde de qualquer indivíduo num
dado momento? Qual é o parâmetro que define, por exemplo, se
um indivíduo com artrite reumatóide está em melhores condições
de saúde do que outro que sofre de depressão?
O parâmetro que possibilita essa medida de saúde é a
criatividade. Por criatividade, entendo todos os atos e funções
que promovem no próprio indivíduo e nos outros o seu principal
objetivo na vida: a felicidade contínua e incondicional. À medida
que um indivíduo é limitado no exercício de sua criatividade, ele
está doente. Se um paciente com artrite reumatóide está afetado
a tal ponto que sua enfermidade o impossibilita de ser mais
56
criativo do que um paciente com depressão, então, o paciente
com artrite reumatóide está mais seriamente doente do que o
paciente deprimido, mesmo que o centro da gravidade esteja
num nível hierárquico inferior.
Tendo em mente a idéia da criatividade, pode-se, em qualquer
momento, inferir o grau de saúde ou de doença de um indivíduo.

Sumário do capítulo 2
Sumário da parte sobre o plano mental 

1. O nível mental do ser humano é o mais crucial para a


existência do indivíduo e mantém em si mesmo uma hierarquia
muito útil para a avaliação do progresso do paciente.
2. Uma mente saudável deve se caracterizar, em suas funções,
pelas qualidades seguintes: clareza, coerência e criatividade. À
medida que qualquer uma ou todas essas qualidades estiverem
reduzidas ou ausentes, a pessoa está enferma no nível
correspondente.
3. Confusão, desunião e distração constituem as qualidades de
uma mente completamente doente.
4. A prática do egoísmo e da cobiça são os fatores primários que
perturbam a mente. A liberdade em relação ao egoísmo e à
cobiça levará naturalmente a um estado mental saudável.

Sumário da parte sobre o plano emocional

1. Ao plano mental do ser humano segue-se imediatamente, por


ordem de importância, o emocional. Esse plano está em situação
crítica na medida em que umá pessoa alimenta sentimentos
negativos, é dominada por eles e os expressa na forma de
inveja, ciúme, angústia, fanatismo, tristeza. Se o indivíduo puder
libertar-se de tais "paixões", poderá ser saudável nesse nível.
57
2. Nesse nível surgem a ansiedade, a angústia, a irritabilidade,
os medos, as fobias e a depressão, tão comuns em nossos
tempos. Nossos sistemas educacionais e políticos nunca
desenvolveram sistematicamente o plano emocional, que,
geralmente, é frágil, subalimentado e, por conseguinte,
vulnerável.
3. Existe uma hierarquia de sintomas nesse nível, que é útil para
medir o progresso durante a terapia.

Sumário da parte sobre o plano físico

1. O corpo físico e seus órgãos constituem o plano menos


importante do ser humano; existe igualmente uma hierarquia com
relação a seus órgãos e funções. Um enfar te do cérebro terá um
efeito mais profundo do que um enfarte do coração, que, por sua
vez, é mais prejudicial do que a trombose de uma artéria da
perna.
2. O organismo sempre tentará manter as perturbações longe
dos órgãos importantes.
3. Uma perturbação que progrida, durante um tratamento
qualquer, dos órgãos menos importantes para os mais
importantes indica uma deterioração da saúde geral. A direção
oposta do proceso indica um progresso em direção a um estado
de saúde melhor.

Capítulo 3
O ser humano como uma totalidade integrada
No capítulo 2 tentamos descrever os três níveis de um indivíduo
em termos de importância hierárquica das funções, tanto na
saúde quanto na doença. Neste capítulo, esse conceito será
discutido de forma mais complexa e mais profunda, de modo a
enfatizar a interação dos níveis, enquanto o organismo funciona
58
como uma totalidade. O leitor perspicaz, sem dúvida alguma, já
deve ter levantado algumas questões sobre a interação dos
níveis em seus limites. Por exemplo: é verdade que a perda de
memória (plano mental) representa um estado de saúde inferior
ao da depressão (plano emocional)? Um estado de irritabilidade
é mais grave do que um ferimento no cérebro (plano físico)? E os
pacientes que parecem flutuar de lá para cá, de um nível para
outro? Exemplos como esse representam uma imprecisão na
hierarquia tal como foi apresentada, ou existe sobreposição dos
níveis em seus limites?
Em favor da simplicidade, a hierarquia tem sido pois apresentada
há muito como uma descrição unidimensional, linear (e em duas
dimensões, considerando-se os conceitos de importância das
camadas central e periférica). Na realidade, a relação entre os
níveis é mais complexa. A figura 3 ilustra uma construção
tridimensional, representando os diferentes níveis de um
indivíduo na forma de invólucros coniformes e concêntricos. O
mais central é, naturalmente, o plano mental/espiritual, ao 'passo
que o mais periférico é o físico. Por sua vez, cada um deles pode
ser distribuído em arranjos hierárquicos de invólucros no interior
de cada plano.
No nível físico, esses invólucros poderiam ser até mais
elaborados para representar os sistemas dos órgãos, os próprios
órgãos, os tecidos, a hierarquia dentro das células do tecido e
até as hierarquias dentro das células (ADN e ARN, núcleo,
orgânulos citoplasmáticos e membrana da célula, em ordem de
importância decrescente). Outro detalhe significativo a ser notado
com relação ao diagrama é que cada invólucro começa e termina
em um nível de certa forma mais elevado do que aquele que lhe
é apenas periférico; dessa forma, é evidente que a sobreposição
não é completa. Refletindo, então, vemos que os diagramas
apresentados no capítulo 2 podem ser considerados como
reflexos uni e bidimensionais de uma estrutura que é, na
59
verdade, tridimensional.

Observa-se na figura 3 que o centro de gravidade move-se em


duas direções básicas. Por um lado, cada invólucro tem sua
própria hierarquia linear e, por outro, cada nível tem
correspondências com os demais níveis. Quanto mais se
progride para determinado invólucro, tanto mais profundamente
se atinge o organismo. Além disso, mudando de um invólucro
para o nível correspondente, no outro, tanto mais a direção
central representa a degeneração da saúde geral do indivíduo
60
quanto o movimento em direção aos invólucros externos indica
uma melhora da saúde. A região mais importante localiza-se no
ponto mais alto do nível mental/espiritual central, que não tem
nenhuma correspondência com os planos emocional e físico. A
região menos importante fica na parte inferior do invólucro
externo (físico), que não tem nenhum correspondente nos níveis
emocional ou mental. Dessa forma, pode-se perceber
prontamente que cada nível está refletido, até certo ponto, nos
demais e que existe sempre uma interação dinâmica entre todos
os níveis, de forma simultânea. Qualquer estímulo ou mudança
num nível afeta simultaneamente os outros, num grau maior ou
menor, dependendo do centro de gravidade da perturbação em
qualquer momento.

61
Para tornar mais claro esse conceito, vamos tomar como
exemplo um caso detalhado (figura 4). Se tivermos um paciente
psicótico que se queixa de muitos e grandes medos e de
depressão suicida, veremos que o centro de gravidade de sua
perturbação está no plano emocional. Ao tomarmos o histórico
do caso, torna-se evidente que existem outros sintomas que
afetam também o nível físico, mas em um grau bem menor. O
paciente é tratado com sucesso, e o estado psicótico diminui
consideravelmente. Depois de seis ou nove meses, no entanto,
desenvolvem-se sintomas neurológicos como diplopia, contração
62
muscular, fraqueza e entorpecimento de certas áreas. Se fosse
possível construir o diagrama com exatidão, veríamos que o
centro de gravidade da perturbação moveu-se em direção à
periferia (em direção ao físico), mas num nível que está logo
abaixo do nível correspondente dos sintomas emocionais
anteriores. Continuando o tratamento, os sintomas neurológicos
cedem, mas o paciente, embora não mais psicótico, torna-se
muito irritável e de difícil convívio; o centro de gravidade moveu-
se novamente para o centro (plano emocional), mas num nível de
correspondência ainda mais baixo, se comparado com a
totalidade dos sintomas iniciais. Com a continuação do
tratamento, a irritabilidade cede, e o paciente desenvolve então
uma disfunção do fígado, de intensidade moderada. Finalmente,
prosseguindo o tratamento, o problema do fígado desaparece e
manifesta-se uma erupção na pele, que permanece alguns
poucos meses e em seguida desaparece. Depois dessa
progressão, o .médico pode ter a certeza de que, se não houver
nenhum choque extremo no sistema ou interferências de terapias
impróprias, o paciente estará curado por um bom tempo.
Neste exemplo, analisado com base nos diagramas
apresentados no capítulo 2, o profissional pode ter ficado
confuso no momento em que a irritabilidade substituiu os
sintomas neurológicos; esse fato pode ser interpretado como
uma degeneração da saúde e levar à adoção de medidas
drásticas para tentar corrigir o problema. Utilizando a dimensão
tridimensional, no entanto, é possível ver que o progresso
sempre esteve numa direção positiva, quando visto com o
conhecimento das correspondências de um nível para outro.
Embora essa construção pareça complexa e exija uma tremenda
quantidade de confirmações pelos médicos do mundo todo, ela
é, contudo, uma imagem útil e deve-se tê-Ia em mente ao avaliar
os diferentes tipos de casos. Tal imagem ajuda o profissional a
classificar o emaranhado de mudanças, aparentemente
63
aleatórias e confusas, com certa confiança em relação ao que
realmente está ocorrendo com o paciente. Nas décadas futuras,
as observações sistemáticas feitas por entrevistadores
cuidadosos tornarão os detalhes dessas correspondências e
hierarquias mais refinados, de forma que os futuros médicos
terão um instrumento preciso para avaliar o progresso clínico, até
mesmo com exatidão maior do que a proporcionada pelos testes
de laboratório - um instrumento derivado apenas dos sintomas
comunicados pelos pacientes.
A moderna fisiologia e a medicina psicossomática documentaram
muito bem o fato de existirem correspondências entre os planos
emocional e físico. Estudos de eletroencefalogramas e de
biofeedback confirmam que a intensa concentração mental, ou a
meditação, aumentam a circulação no cérebro, enquanto
produzem relaxamento da musculatura e abaixam a pressão do
sangue. O estado de medo cria palpitações, secura na boca,
diminuição dos movimentos peristálticos, transpiração nas
palmas das mãos, dilatação das pupilas, etc. Uma emoção
agradável como o amor entre duas pessoas cria a dilatação
periférica dos vasos sanguíneos, rubor, palpitações do coração e
excitação emocional e mental. Todo estímulo, toda emoção e
todo pensamento têm um efeito correspondente, em certo grau,
em todos os níveis do corpo simultânea e instantaneamente.
Clinicamente, as correspondências mais óbvias são as que
relacionam determinados órgãos a estados emocionais
específicos. Todo pensamento e toda emoção possuem um local
correspondente que os "favorece" no corpo físico. Essa área é
afetada, positiva ou negativamente, dependendo da natureza do
pensamento ou da emoção a ela correspondente. Um homem
que passa pelo estresse do rom. pimento de um caso de amor
provavelmente virá a sofrer sintomas cardíacos; uma outra
pessoa, com dificuldades nos negócios, está sujeita a
desenvolver uma úlcera péptica. Pensamentos e emoções
64
negativos retardarão o funcionamento do órgão ou sistema
correspondente, ao passo que, se forem positivos, fortalecerão a
função do órgão correspondente.
Para ilustrar a interação dos níveis correspondentes num
organismo, vamos apresentar alguns poucos exemplos clínicos
que são vistos diariamente por qualquer clínico geral:

Caso 1. Uma mulher foi levada pelos pais, extremamente


religiosos, a considerar o sexo como algo horrível que devia ser
excluído de seus pensamentos a qualquer custo. Ao procurar o
médico, queixava-se de crescimento excessivo de pêlos em
partes incomuns de seu corpo, como no peito, no abdômen e nas
costas, enquanto havia uma queda acentuada de cabelos, que
beirava a calvície; além disso, depois de uma menarca atrasada,
ela passou a ter menstruações dolorosas e irregulares, sempre
atrasadas. Enfim, depois do casamento, novo problema veio
juntar-se aos demais: sérias dores de cabeça. Nesse caso, a
supressão do instinto sexual no nível mental levou a um
desequilíbrio de testosterona/estrogênio, resultando numa dis-
tribuição masculinizada de pêlos. Essa supressão evoluiu para
outro sintoma no nível mental: aversão ao sexo. O casamento
produziu inevitavelmente mais estresse nesse já enfraquecido
nível, causando mudanças nos níveis emocional e físico
correspondentes: sensação de insatisfação no casamento,
juntamente com dores de cabeça muito fortes (em substituição à
queda de cabelos). Originalmente, o mecanismo de defesa foi
capaz de estabelecer um equilíbrio, limitando os sintomas ao
nível endócrino; mas o acréscimo do estresse devido ao
casamento perturbou esse equilíbrio e forçou o mecanismo de
defesa a restabelecer os sintomas num nível um pouco mais
profundo e mais nocivo.

Caso 2. Outra mulher, também criada com uma educação


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rigorosa, desenvolveu uma tendência à perda de cabelo. Com
vinte e dois anos, ela se apaixonou e houve uma relação
emocional muito saudável no casamento. No início dessa
relação, a perda de cabelo cedeu e a paciente sentiu uma
profunda sensação de bem-estar; no entanto, a quantidade de
cabelos permaneceu bem menor do que a normal e os cabelos
não ficaram mais espessos. Nesse exemplo, o mesmo grau de
supressão mental produziu um desequilíbrio endócrino similar,
mas o estímulo emocional saudável foi capaz de fortalecer
suficientemente o mecanismo de defesa da paciente,
estabelecendo um novo equilíbrio em termos de liberdade para
viver feliz e criativamente. Dessa maneira, embora sua cabeleira
não fosse normal, a paciente foi informada de que o mecanismo
de defesa estabelecera um equilíbrio muito aceitável, no qual
não se devia interferir.

Caso 3. Um jovem de dezenove anos desenvolveu excessiva


rigidez na nuca enquanto se preparava para entrar na
universidade. O curso por ele escolhido era muito árduo, e ele
sentia grande ansiedade a respeito de sua capacidade para
completá-Io com sucesso. Em linhas gerais, pode-se dizer que
existem dois centros no corpo físico que correspondem, mais de
perto, aos níveis mental e emocional do ser humano: o coração e
o cérebro. Nesse caso, o jovem optou por um curso a respeito do
qual ele sentia grande incerteza no plano emocional. A nuca
parece ser o principal caminho relacionado ao cérebro e ao
coração no nível físico; dessa forma, o conflito mental! emocional
que se manifestou criou dor física na região desse caminho.
Nesses e em outros exemplos, observamos que o mecanismo de
defesa sempre tenta criar um muro de defesa, que se manifesta
por sinais e sintomas no nível mais periférico possível. Existem
três fatores que determinam ou alteram o centro de gravidade da
perturbação:
66
1. A resistência ou a fraqueza hereditária do mecanismo de
defesa, em primeiro lugar. Trata-se de fator importante, que será
discutido extensamente em capítulos subseqüentes. Se o
mecanismo de defesa for fraco, o centro de gravidade dos
sintomas tenderá a afetar prontamente os níveis mental e
emocional mais profundos; se o mecanismo de defesa for forte,
os sintomas serão contidos nos órgãos físicos menos vitais.
2. A intensidade dos estímulos morbíficos recebidos nos níveis
mental, emocional ou físico. Se o choque com o organismo for
muito grave, nem mesmo o mais forte mecanismo de defesa
poderá manter o equilíbrio num nível baixo; se o estímulo
morbífico for fraco (digamos, um vírus de gripe de virulência
fraca), então, até mesmo um estado constitucional relativamente
fraco pode tratar do estímulo com um mínimo de perturbação.
3. O grau de interferência dos tratamentos incapazes de
fortalecer o mecanismo de defesa co'mo uma totalidade. Se o
corpo estabeleceu uma defesa num nível particular, os sintomas
se manifestarão e tenderão a permanecer estáveis nesse nível.
Se for usada uma droga alopática para aliviar a dor ou apaziguar
a ansiedade, o ponto de defesa será retirado e o mecanismo de
defesa, então, deverá criar uma nova barreira. Essa nova
barreira será, inevitavelmente, num nível mais vital da saúde do
organismo, pois o equilíbrio original era o melhor possível que o
mecanismo de defesa podia produzir; dessa forma, os
medicamentos alopáticos, ou terapias de qualquer espécie, que
focalizam os sintomas específicos enquanto ignoram o quadro
geral, na verdade enfraquecem o mecanismo de defesa e
finalmente causam uma deterioração da saúde,
provocando dbenças crônicas muito mais sérias.

Esses três fatores afetam tanto o melhor nível possível de defesa


do organismo, em dado momento, quanto a direção da mudança
67
do centro de gravidade, quando a saúde da pessoa é alterada.
Se esses fatores se combinarem desse modo, produzindo a
deterioração da saúde, existem duas direções possíveis para as
quais o centro de gravidade pode se mover:

1. Ele pode mudar, de forma linear, dentro da hierarquia de um


mesmo nível, com mínimas mudanças correspondentes nos
outros níveis. Se, por exemplo, os sintomas se moverem de um
nível do plano físico para um nível mais elevado do mesmo
plano, pode-se dizer que o mecanismo de defesa nos planos
mental e emocional foi suficientemente saudável para restringir o
efeito do estímulo morbífico em nível físico.
2. Os sintomas podem saltar de um invólucro periférico para um
mais central. Isso pode ocorrer se o mecanismo de defesa for
fraco, se ocorrer um grave choque ou se for empregada uma
poderosa terapia supressora. Em geral, a progressão para
regiões mais centrais apresenta um prognóstico pior do que a
progressão linear dentro de uma única hierarquia.

Para ilustrar esses fatores e a interação de correspondências e


hierarquias, consideremos três pacientes que sofrem de eczema:

1. Uma mulher que sofria de eczema havia muitos anos passa a


utilizar, sob receita médica, um ungüento à base de cortisona,
que ela aplica religiosamente durante três anos. O eczema é
controlado enquanto o ungüento é aplicado, mas a paciente nota
um aumento gradual do mau humor e da irritabilidade e um
desejo de limitar seus contatos sociais apenas a alguns poucos
amigos. O centro de gravidade, neste ponto, moveu-se do nível
físico para o emocional; portanto, o tratamento foi supressivo.
Finalmente, ela começa uma forma benéfica de prática de medi-
tação, e em poucos meses começa a sofrer de rinite alérgica.
Esse sintoma representa progressão, novamente, para o plano
68
físico, mas num nível mais profundo do que o epidérmico, isto é,
as membranas mucosas. O mau humor e a irritabilidade são
aliviados; em contrapartida, ela sofre agora de uma incômoda
rinite alérgica com manifestações ocasionais de sinusite aguda.
Se a rinite for ainda mais suprimida por anti-histamínicos,
injeções antialérgicas, antibióticos, ou até injeções intranasais de
cortisona, a paciente experimentará outra vez uma deterioração
mais marcante no plano emocional, ou no nível físico, com o
desenvolvimento de uma bronquite asmática. Dessa maneira,
pode ocorrer uma de'generação linear da saúde no mesmo nível,
ou, então, o centro de gravidade pode voltar ao nível emocional -
sinal que indica um prognóstico mais desencorajador.

2. Uma outra mulher teve eczema durante muitos anos, mas, por
não concordar com tratamentos apenas paliativos, recusou os
ungüentos de cortisona. O eczema persiste, embora sem piorar.
Então, de repente, ela perde o marido em um acidente de
automóvel. Esse choque repentino debilita-a no plano emocional;
o eczema desaparece, mas manifestam-se agora ansiedade,
nervosismo, medos ou delírios. Se forem dados tranqüilizantes
para acalmar os sintomas emocionais desta paciente, e se
acontecer de eles atuarem de forma curativa, então, o eczema
reaparecerá, enquanto os sintomas emocionais cessarão. Se os
tranqüilizantes agirem de forma supressiva, no entanto, pode
ocorrer a deterioração numa dessas duas direções, dependendo
da resistência ou da fraqueza de seu mecanismo de defesa
constitucional. Se ele for relativamente forte, ela provavelmente
desenvolverá uma rinite alérgica ou bronquite asmática (um
retorno ao plano físico, mas num nível mais profundo do que o da
pele). Se não for suficientemente forte para agüentar a influência
supressiva dos tranqüilizantes, seguir-se-á uma deterioração no
nível emocional ou mental mais profundo.

69
3. Uma terceira paciente, sofrendo de eczema há muito tempo, é
tratada com um medicamento homeopático que lhe foi prescrito
levando-se em conta a totalidade dos sintomas. Com isso o
eczema primeiro se move do rosto e dorso para as extremidades
e, finalmente, desaparece por completo. Do que foi dito até aqui,
esta é, obviamente, a direção curativa, e o prognóstico a longo
termo é excelente.

Nesses exemplos, vemos uma correspondência entre os planos


físico e emocional e, também, uma seqüência previsível de
condições no nível físico - do eczema para a rinite alérgica e para
a bronquite asmática. Cada caso progride diferentemente,
dependendo da resistência e da natureza dos tratamentos.
Esses casos também sublinham o fato de que os casos de
degeneração seguem trajetórias totalmente previsíveis. Ao longo
dessas trajetórias existem "etapas" que representam linhas
progressivamente mais profundas de defesa criadas pelo próprio
mecanismo de defesa. Essas etapas são cruciais; de outro
modo, um estímulo morbífico rapidamente penetraria nos níveis
mais profundos do organismo, provocando prontamente a morte.
A relação das etapas durante um caminho patológico há muito é
conhecida pela medicina ortodoxa, pelo menos no nível físico da
sintomatologia. Os diferentes tipos de câncer disseminam-se por
metástase a partir de determinados órgãos: câncer do seio para
os nódulos linfáticos regionais, pulmão, ossos e cérebro; câncer
da próstata, para o sistema linfático e ossos da pélvis, que atinge
em seguida a espinha; câncer do pulmão para os nódulos locais,
sistema nervoso central, ossos longos, rins, suprarenais e pele.
Os distúrbios auto-imunes afetam de forma característica certos
tecidos com exclusão de outros: a febre reumática e problemas
reumáticos de outros tipos produzem faringite estreptocócica,
degeneração da válvula do coração, nefrite glomerular, artrite
reumatóide, etc.; o lupus eritematoso produz erupções de pele
70
características, nefrite, colite, artrite, hepatomegalia e
esplenomegalia, e pericardite. A síndrome de Reiter inclui uretrite
gonocócica, artrite monoarticular e uvíte. No incipiente campo da
medicina psicossomática tem-se notado muitas correspondên-
cias entre os estados emocionais e as enfermidades físicas: a
melancolia corresponde à disfunção do fígado; a irritabilidade
suprimida está relacionada com a úlcera péptica; a ansiedade
suprimida comumente é percebida na colite ulcerosa; tipos de
personalidades anal-retentivas tendem a sofrer de constipação e
hemorróidas; personalidades do "tipo A" têm um tipo particular de
sangue e uma incidência maior de hipertensão e infarto precoce
do miocárdio; e enfim, as personalidades compulsivas, com raiva
suprimida, têm propensão para o câncer.
Essas correlações são conhecidas, mas o que precisamente
determina os caminhos dessas correspondências? Em alguns
exemplos a especulação concentra-se naturalmente no sistema
nervoso ou no sistema circulatório como caminhos para a
metástase. A medicina chinesa, baseada em séculos de
observação, desenvolveu correlações bem específicas entre
determinados pontos de acupuntura e determinados órgãos, bem
como correlações entre órgãos específicos e correspondentes
estados mentais e emocionais sem, no entanto, explicar as
origens dessas correspondências. Outra perspectiva deriva da
moderna ciência da embriologia. Dependendo de novas
pesquisas, pode-se muito bem descobrir que muitos dos
caminhos surgem dos tecidos embriológicos primordiais. Toda
pessoa começa a vida como uma célula única. Essa célula
gradualmente se desenvolve de forma ordenada em uma enorme
quantidade de outras células através da divisão progressiva da
célula inicial. À medida que esse processo avança, verifica-se o
aparecimento de três diferentes camadas de célula, que se
transformam nas estruturas primordiais, das quais se origina o
resto do organismo. Esses três níveis são chamados de:
71
ectoderma, mesoderma e endoderma. De cada uma dessas
camadas, desenvolvem-se órgãos e sistemas específicos, como
é mostrado a seguir.

Ectoderma
A pele e seus complementos. (Especificamente: o epitélio da
pele, pêlo, unhas, células epiteliais do suor, glândulas sebáceas
e glândulas mamárias.)
Epitélio do começo e do fim do sistema gastrintestinal.
(Especificamente: epitélio e glândulas dos lábios, faces,
gengivas, parte do fundo da boca e do palato, membranas mucos
as das fossas nasais e dos seios paranasais, bem como epitélio
da parte inferior do canal anal e as partes terminais dos sistemas
genital e urinário.)
Tecidos do sistema nervoso. (Especificamente: todo o sistema
nervoso central, inclusive a retina; o sistema nervoso periférico,
inclusive as células e fibras nervosas simpáticas; a medula das
glândulas supra-renais e as células do invólucro neurilemal; o
epitélio sensório dos órgãos olfativo e auditivo.)
A parte anterior da pituitária.
O cristalino, a camada anterior do epitélio da córnea, os
músculos da íris e a camada externa do tímpano.

Endoderma
Epitélio do trato gastrintestinal, exceto suas partes terminais e o
parênquima das glândulas dele derivadas (fígado, pâncreas,
tireóide, paratireóide e timo).
O epitélio de revestimento da trompa de Eustáquio e da cavidade
do ouvido médio, inclusive a camada interior do tímpano e o
revestimento das células da apófise aérea mastóide.
O revestimento do epitélio da laringe, traquéia, brônquios e
72
alvéolos.
Epitélio da bexiga, da maior parte da uretra feminina e parte da
uretra masculina, mais as glândulas delas derivadas (por
exemplo, a próstata), e a parte inferior da vagina.

Mesoderma
Derivados epiteliais:
Revestimento visceral e parietal das cavidades peritoneal, pleural
e pericardial.
Córtex das supra-renais.
Derivados mesenquimais:
Tecido conjuntivo, cartilagem e osso, inclusive a den tina.
Musculatura visceral e do miocárdio, inclusive vasos 
sanguíneos. O endocárdio e endotélio dos vasos
sanguíneos.
Glândulas linfáticas, vasos linfáticos e baço.
Células sanguíneas.
Invólucros do tecido conjuntivo dos músculos, tendões e
terminações nervosas e membranas sinoviais das juntas e das
cavidades bursais.

Por essa classificação, fica claro que os diferentes órgãos e


sistemas têm uma afinidade específica em relação um ao outro,
devido a sua origem comum em uma das três camadas
primordiais do tecido. Finalmente, pode-se descobrir que essas
afinidades são fatores importantes que regem a direção
previsível dos sintomas para regiões cada vez mais profundas do
corpo à medida que a saúde degenera.

Sumário do capítulo 3
1. O organismo humano trabalha sempre como uma totalidade,
73
seja representando suas funções normais, seja defendendo-se
dos estímulos morbíficos.
2. Os sinais e sintomas de um estímulo morbífico podem ser
percebidos em um ou mais dentre os três níveis da existência.
3. O organismo conserva sempre a importância hierárquica
desses três níveis e dentro de cada nível. Isso pode ser
representado por um diagrama tridimensional de cones.
4. O mecanismo de defesa cria a melhor defesa possível num
dado momento, tentando sempre limitar os sintomas aos níveis
mais periféricos.
5. Três fatores afetam as mudanças no centro de gravidade da
perturbação: resistência ou fraqueza hereditárias do mecanismo
de defesa, intensidade dos estímulos morbíficos e grau de
interferência dos tratamentos supressivos.
6. O centro de gravidade da perturbação pode mudar para uma
das duas direções seguintes: para cima ou para baixo no interior
de um único plano ou de um plano para outro.
7. Existem caminhos previsíveis com "etapas" intermediárias de
defesa, ao longo das quais os sintomas progridem enquanto a
saúde geral se deteriora. Esses podem ser afetados, em parte,
por afinidades que se originam nas conhecidas camadas
embriológicas do desenvolvimento.

Capítulo 4
A força vital segundo a ciência moderna
Até agora, discutimos extensivamente o mecanismo de defesa e
um pouco da dinâmica de sua ação, mas ainda não o definimos
com precisão. O que é o mecanismo de defesa? Como ele pode
ser percebido? Quais são, precisamente, as qualidades que
definem sua função nas diversas circunstâncias?
Pelos casos discutidos até aqui, pode-se entender prontamente
que o mecanismo de defesa não se limita aos processos físicos
74
tão bem conhecidos pelos fisiólogos: o sistema imunológico, o
sistema reticuloendotelial, o sistema endócrino, os sistemas
nervosos simpático e parassimpático, ou outros mecanismos.
Essas são, na verdade, funções importantes do mecanismo de
defesa no plano físico, mas não são os únicos níveis do seu
funcionamento. Como sabemos, o mecanismo de defesa age
tanto no nível mental quanto no emocional de um modo
altamente sistemático e ordenado. Ele funciona como uma
totalidade, como um todo integrado, sempre defendendo o
organismo da melhor maneira possível a qualquer momento. Sua
função, na medida do possível, é defender as regiões espirituais
mais íntimas e elevadas do organismo contra a progressão da
doença.
Que mecanismo é esse? Esta pergunta intrigou filósofos e
médicos de todas as épocas. Há séculos, o ponto de vista
predominante estava centrado na filosofia do "vitalismo", que
postulava a presença de uma força vital dotada de inteligência e
poder de governar miríades de processos envolvidos tanto na
saúde quanto na doença. Parecia-lhes óbvio que alguma força
animava o corpo humano, pois o organismo humano é mais do
que simplesmente uma soma de seus componentes físicos.
Alguma força ou princípio animador entra no organismo no mo-
mento da concepção, orienta todas as funções da vida e depois
deixa-o quando ocorre a morte. O que se passa no momento da
morte? O organismo está estruturalmente intato, as células estão
funcionando ativamente, as reações químicas ainda continuam;
no entanto, sobrevém uma mudança súbita e o corpo começa a
se decompor! A reflexão sobre esse fato torna o conceito de
"forças vitais" não apenas compreensível, mas atraente.
A idéia de uma força vital tem sido descrita através de toda a
história com notável semelhança por todos os escritores. As
qualidades básicas que lhe são atribuídas são descritas na
seguinte citação, retirada de Ostrander e Schroeder:
75
"A interrogação fundamental de todos os ocidentais que se
depararam com essa energia vital ou psicométrica, durante os
últimos quinhentos anos, é: o que ela faz?
Paracelso, o alquimista e físico renascentista, dizia que essa
energia irradiava-se de uma pessoa para outra e podia agir a
uma certa distância. Ele acreditava que ela podia purificar o
corpo e restituir a saúde, ou podia envenenar o corpo e causar a
doença. O dr. van Helmont, químico e físico flamengo do século
XVII, acreditava que essa energia podia fazer com que uma
pessoa afetasse outra à distância. O famoso químico alemão,
barão von Reichenbach, afirmou que essa energia podia ser
armazenada e que as substâncias podiam ser carregadas com
ela. Desconhecidos de Reichenbach, os praticantes polinésios de
Huna concordavam em que era possível transferir a energia vital
dos seres humanos para os objetos."

A força vital é uma influência que dirige todos os aspectos da


vida do organismo. Ela se adapta a todas as influências
ambientais, anima a vida emocional do indivíduo, fornece
pensamentos e criatividade e conduz à inspiração espiritual. A
escola vitalista do pensamento acreditava, na verdade, que a
força vital liga o indivíduo à unidade última do universo.
Evidentemente, a força vital inclui uma larga variedade de
funções, e a esse aspecto da força vital, que estabelece um
equilíbrio nos estados de doença, nós chamamos "mecanismo
de defesa". É parte integral da força vital, mas constitui somente
uma das várias funções; o mecanismo de defesa, que age sobre
todos os três níveis do organismo, pode ser visto como um
instrumento da força vital, que age no contexto da doença.
Durante os últimos 250 anos, um ponto de vista materialista do
universo avançou firmemente no pensamento das sociedades
industrializadas, e o conceito vitalista, conseqüentemente, caiu
76
em descrédito. O mundo passou a ser visto pela ciência como
totalmente explicável em termos puramente mecânicos. As
ciências biológicas também adotaram esse ponto de vista; dessa
forma; acumulou-se uma grande quantidade de informação
relacionada ao funcionamento físico e químico do corpo humano.
Esses dados são verdadeiros e corretos. Eles não contradizem
de modo algum a idéia da força vital. Os mecanismos físicos e
químicos são apenas instrumentos da força vital que agem sobre
o plano físico do organismo.
Neste século, ocorreram muitas mudanças em todos os
empreendimentos da vida humana; talvez a mais impressionante
tenha sido o advento dos conceitos radicalmente novos no
campo da física. Anteriormente, a física newtoniana nos oferecia
explicações reprodutíveis e previsíveis da mecânica subjacentes
aos fenômenos visíveis pelos nossos sentidos físicos. As leis de
Newton, embora ainda aplicáveis ao mundo perceptual, não
conseguiram explicar as observações nos reinos atômico e
subatômico da existência. Novas teorias e leis tiveram que ser
desenvolvidas para explicar os fenômenos nesses níveis.
Einstein, Heisenberg e outros elucidaram esses fenômenos
desenvolvendo os novos conceitos que agora são conhecidos
como teoria de campo, teoria dos quanta e teoria da relatividade.
O efeito revolucionário que esses conceitos tiveram sobre o
pensamento moderno é descrito de forma magnífica por Fritjof
Capra em seu livro The tao of physics:

"O mundo clássico e mecanicista baseava-se na noção das


partículas sólidas e indestrutíveis que se moviam no vazio. A
física moderna provocou uma revisão radical desse quadro. Ela
não só levou a uma noção completamente nova das partículas,
como também transformou profundamente o conceito clássico de
vazio. Essa transformação teve lugar nas chamadas teorias de
campo...
77
O conceito de campo foi introduzido no século XIX por Faradaye
Maxwell na descrição que fizeram das forças existentes entre as
descargas e correntes elétricas. Um campo elétrico consiste
numa condição no espaço em volta de um corpo carregado que
produzirá uma força em outra carga qualquer nesse espaço. Os
campos elétricos são, dessa forma, criados por corpos
carregados, e seus efeitos somente podem ser sentidos por
corpos carregados. Os campos magnéticos são produzidos por
cargas em movimento, isto é, por correntes elétricas, e as forças
magnéticas delas resultantes podem ser sentidas por outras
carga em movimento. Na eletrodinâmica clássica, a teoria
desenvolvida por Faraday e Maxwell, os campos são entidades
físicas primárias que podem ser estudadas sem qualquer
referência aos corpos materiais. Os campos de vibração elétrica
e magnética podem viajar através do espaço em forma de ondas
de rádio, ondas de luz ou outras espécies de radiação
eletromagnética.
A teoria da relatividade tornou a estrutura da eletro-dinâmica
muito mais elegante, unificando os conceitos tanto das cargas e
correntes como dos campos magnéticos. Como todo movimento
é relativo, toda carga também pode parecer uma corrente - numa
estrutura na qual ela se movimenta em relação ao observador -,
e, conseqüentemente, seu campo elétrico também pode parecer
um campo magnético. Na formulação relativista da
eletrodinâmica, os dois campos são, dessa maneira, unificados
num único campo eletromagnético...
Matéria e espaço vazio - o cheio e o vácuo - eram os dois
conceitos fundamentalmente distintos nos quais se assentavam o
atomismo de Demócrito e de Newton. Na relatividade geral,
esses dois conceitos não podem mais ser separados...
Dessa forma, a física moderna nos mostra mais uma vez que os
objetos materiais não são entidades distintas, mas estão
inseparavelmente ligados ao seu meio ambiente; que suas
78
propriedades s6 podem ser entendidas em termos de sua
interação com o resto do mundo. De acordo com o princípio de
Mach, essa interação se estende a todo o universo até as mais
distantes estrelas e galáxias. A unidade básica do cosmos se
manifesta, por conseguinte, não somente no mundo do
infinitamente pequeno, mas também no mundo do infinitamente
grande; um fato que é reconhecido de forma crescente pela
moderna astrofísica e cosmologia...
A unidade e a inter-relação de um objeto material e de seu
ambiente, que é manifesta na escala macroscópica na teoria
geral da relatividade, aparece de uma forma ainda mais
surpreendente no nível subatômico. Aqui, as idéias da clássica
teoria de campo combinam-se às da teoria dos quanta para
descrever as interações entre as partículas subatômicas. Essa
combinação ainda não foi possível para a interação gravitacional
por causa da complicada forma matemática da teoria da
gravidade de Einstein, mas a outra teoria de campo clássica, a
eletrodinâmica, fundiu-se à teoria dos quanta em uma teoria
chamada de eletrodinâmica quântica, que descreve todas as
interações eletromagnéticas entre as partículas subatômicas.
Essa teoria incorpora tanto a teoria dos quanta quanto a teoria da
relatividade. Foi o primeiro modelo quantum-relativista da física
moderna e é ainda o mais bem-sucedido.
O novo e surpreendente perfil da eletrodinâmica do quantum
surge da combinação de dois conceitos: o do campo
eletromagnético e o dos fótons como manifestações da partícula
das ondas eletromagnéticas. Como os fótons também são ondas
eletromagnéticas e como essas ondas são campos de vibração,
os fótons devem ser manifestações dos campos
eletromagnéticos. Daí resulta o conceito de um campo de
quantum, isto é, de um campo que pode tomar a forma das
quanta, ou partículas. Este é, na verdade, um conceito
inteiramente novo, que foi ampliado para descrever todas as
79
partículas subatômicas e suas interações, cada tipo de partícula
correspondendo a um campo diferente. Nessas teorias do campo
de quantum, o contraste clássico entre as partículas sólidas e o
espaço que as rodeia está completamente superado. O campo
do quantum é visto como a entidade física fundamental; um meio
contínuo que está presente em todos os lugares do espaço. As
partículas são apenas as condensações locais do campo; são
concentrações de energia que vêm e vão, perdendo desse modo
seu caráter individual e dissolvendose no campo subjacente. Nas
palavras de Albert Einstein:

Podemos, portanto, considerar a matéria como sendo constituída


pelas regiões do espaço nas quais o campo é extremamente
intenso... Não há lugar nessa nova espécie de física para o
campo e a matéria, pois o campo é a únidade realidade." (Grifo
meu.)

Esses novos conceitos da física mudaram toda a nossa


perspectiva sobre a realidade. Se a matéria e a energia são
intercambiáveis e, na verdade, estão contínua e rapidamente se
intercambiando no contexto dos campos de intensidade variada,
abrem-se panoramas inteiramente novos para a humanidade.
Por um lado, há a possibilidade de usar esses novos insights em
formas anteriormente inimagináveis para o benefício do ser
humano; por outro, o uso impróprio dessas energias pode
perfeitamente levar à destruição do gênero humano.
Apesar dos avanços radicais da física, as ciências biológicas têm
sido lentas em incorporar tais conceitos à sua visão do corpo
humano. O corpo é ainda visto como estando em conformidade
com as leis mecanicistas da física e da química, como na era
newtoniana da física. Em época bem recente, no entanto, os
cientistas da Rússia e dos Esta dos Unidos começaram a
investigar os campos eletrodinâmicos envolvidos no organismo
80
humano. Essa pesquisa é, por enquanto, completamente
experimental e preliminar, mas sua validade tem suscitado
interesse suficiente para motivar um crescente número de
cientistas de alto nível a entrar nesse campo. Dessa forma, há
uma espécie de retorno ao antigo conceito vitalista dos
organismos vivos, mas munido dessa vez de tecnologia para
medir com precisão os campos biológicos eletrodinâmicos e suas
ações. Vamos a uma breve leitura da nova e excitante
informação que surge dessa nova biologia em virtude dos
insights sobre a força vital que ela pode fornecer.
A primeira evidência admirável dos campos eletromagnéticos
associados ao corpo humano não surgiu da pesquisa, mas das
observações de casos incomuns, nos quais o campo se situava
exageradamente além da experiência normal.
"O primeiro caso registrado data de 1879. Uma garota de
dezenove anos, que morava em Ontário, no Canadá, depois de
se recobrar de uma moléstia desconhecida, que era
sintomatizada por convulsões, não somente descarregava
eletricidade, como também parecia ter propriedades
eletromagnéticas. Qualquer objeto de metal que ela pegava
aderia à sua mão aberta e tinha que ser retirado à força por outro
indivíduo.
Nove anos mais tarde, em Maryland, um garoto de dezesseis
anos, com propriedades eletromagnéticas semelhantes, atraiu a
atenção dos cientistas da Faculdade de Farmácia de Maryland
devido a sua habilidade em suspender bastões de ferro e aço, de
1,75 centímetro de diâmetro e 30 de comprimento, com as
pontas dos dedos. O rapaz conseguia levantar também um balde
cheio de pesos de ferro apenas encostando os três dedos no
recipiente. Ouvia-se um estalo quando ele retirava um dos
dedos.
Talvez o mais impressionante desses casos tenha sido o de uma
garota de catorze anos, do Missouri, que, em 1895, de repente,
81
parecia ter se tornado um dínamo elétrico. Quando procurava
tocar em objetos de metal, como o cabo de uma bomba, as
pontas de seus dedos emitiam fagulhas de voltagem tão alta que
ela, na verdade, sentia dor. O curso da eletricidade através de
seu corpo era tão poderoso que um médico, ao tentar examiná-
Ia, foi arremessado longe, caindo de costas e permanecendo
inconsciente durante vários segundos. Para alívio da jovem, sua
habilidade de dar choques finalmente começou a diminuir e por
fim desapareceu quando ela completou vinte anos.

Uma área de interesse considerável envolve a pesquisa dos


efeitos dos campos eletromagnéticos sobre o organismo
humano; grandes quantidades de dados foram acumulados e
começa a surgir uma compreensão precisa desses efeitos.
Mesmo sem nos referirmos diretamente a essa pesquisa, ba-
seando-nos em nossa própria experiência e na de nossos
amigos e vizinhos, podemos reconhecer que os campos ele-
tromagnéticos têm efeitos definidos em nós em todos os níveis
da existência. "O dr. A. Podshibyakin descobriu que, na presença
de tempestades magnéticas rentes ao chão, o potencial elétrico
da pele se eleva. Algumas pessoas parecem pressentir esses
invisíveis turbilhões, em vários graus. Algumas experimentam
essas sensações 24 horas antes da tempestade, outras até três
ou quatro dias antes que os instrumentos físicos as registrem."
Essas influências eletromagnéticas ambientais podem ser
consideradas provas indiretas da presença de um campo
receptivo eletromagnético intimamente ligado ao organismo
humano.
Um dos mais sistemáticos pesquisadores da medição dos
campos bioelétricos foi Harold Saxton Burr, doutor em medicina
da Universidade de Yale. Usando um aparelho feito com um tubo
de vácuo de alta impedância baseado numa ponte de
Wheatstone, Burr desenvolveu um elétrodo que podia ser
82
inserido em tecido vivo a fim de medir o potencial elétrico sem
perturbar significativamente o campo eletromagnético do
organismo. Durante um período ,de mais de trinta anos, ele
estudou de forma sistemática os organismos de complexidade.
progressivamente crescente, das células únicas às árvores e
seres humanos. Enfim; foi possível colocar os elétrodos muito
próximos da superfície do organismo sem, no entanto, penetrá-
Io, continuando a obter resultados significativos. A história dessa
pesquisa é apresentada no livro do dr. Burr, The fields of life,
altamente recomendável para leitores que queiram se aprofundar
na matéria. Aqui está uma breve descrição de suas observações
iniciais:

"Com nossos instrumentos de navegação - uma alta impedância


amplificada e elétrodos de cloreto de prata-prata trabalhando
através de uma ponte de sal em contato com sistemas vivos -,
fomos capazes de desenvolver uma técnica que proporciona
resultados confiáveis. Com isso, tornou-se logo evidente que
todo sistema vivo possui um campo elétrico de grande
complexidade. Isso pode ser medido com considerável precisão,
podendo-se demonstrar sua correlação com o crescimento e o
desenvolvimento, degeneração e regeneração, e a orientação de
partes componentes no sistema todo. Talvez o mais interessante
de tudo seja o fato de que esse campo exibe notável estabilidade
através do crescimento e desenvolvimento de um ovo". (Grifos
meus.)

O dr. Leonard Ravitz, um colega e amigo do dr. Burr, corrobora e


amplia as implicações de sua pesquisa nesta declaração:

"Como o dr. Burr descreveu nas páginas anteriores, os


instrumentos descobriram o que ele eo dr. Northrop postulavam
há mais de trinta anos. Incontáveis experiências têm
83
demonstrado que os campos elétricos que eles descobriram
servem para funções básicas, controle do cres,cimento e
morfogênese, manutenção e restabelecimento das coisas vivas.
Naturalmente, esses diferem da saída de corrente elétrica
alternada do cérebro e do coração, bem como da epifenomenal
resistência da pele, servindo, ao contrário, como uma matriz
elétrica para manter a forma corpórea em sua configuração.
Obviamente, esses estudos jogaram água fria sobre os dogmas
científicos ora em moda, que ainda asseguram que o corpo
humano especial e, principalmente, um produto químico que
deriva das atividades místicas da molécula ADN. Porquanto seja
inquietante, a química representa uma propriedade de grandeza
escalar - o fluxo descendente da energia - que exige alguma
força vetor para dar-lhe direção. De acordo com o dr. Henry
Margenau e Eugene Higgins, professor de física e filosofia
natural da Universidade de Yale, entre todas as forças
conhecidas, somente os campos eletromagnéticos ou
eletrodinâmicos podem agir como indicadores claros para dirigir
as transformações química, metabólica ou molecular contínuas
no sistema - campos em que, de fato, parecem subscrever o
desenvolvimento da estrutura até mesmo previamente a
quaisquer reações químicas conhecidas."

Depois de trinta anos de esforço e pesquisa sistemática do


assunto, estas são as conclusões do dr. Burr:

"A seguinte teoria pode ser, então, formulada. O padrão ou


organização de qualquer sistema biológico é estabelecido por um
complexo campo eletromagnético que, em parte, é determinado
pelos seus componentes atômicos físico-químicos e que, em
parte, determina o comportamento e a orientação desses
componentes. Esse campo é elétrico no sentido físico e através
de suas propriedades relaciona as entidades do sistema
84
biológico com um modelo característico, sendo ele mesmo em
parte resultado da experiência dessas entidades. Ele determina e
é determinado pelos componentes.
Mais do que estabelecer um modelo, ele deve manter o modelo
em meio a um fluxo físico-químico. Por conseguinte, deve regular
e controlar as coisas vivas. Deve ser o mecanismo, cujas
atividades são: a integridade, a organização e a continuidade."
(Grifo do dr. Burr.)

Enquanto o dr. Burr desenvolvia seu trabalho no campo da


bioelétrica, uma equipe de cientistas da Rússia formada pelo
casal Semion e Valentina Kirlian desenvolvia outra técnica. O
campo eletrodinâmico que permeia e envolve todos os objetos,
sejam eles vivos ou não vivos, pode ser visualizado
fotograficamente pela exposição de um filme ao objeto em meio
a um campo de alta intensidade eletromagnética. Esse método,
conhecido também como "fotografia Kirlian" ou "fotografia de alta
voltagem" provavelmente, fez mais do que qualquer outra
observação para estimular uma incrível quantidade de
investigações no campo bioeletromagnético em todo o mundo,
especialmente nos Estados Unidos.
Inicialmente, o trabalho dos Kirlian tornou-se amplamente
conhecido nos Estados Unidos por causa da descrição gráfica
dada no livro Psychic discoveries behind the Iron Curtain, de
Ostrander e Schroeder.

"Basicamente, a fotografia de alta freqüência dos campos


elétricos envolve um gerador de descarga elétrica, ou oscilador,
especialmente construí do, que gera de 75.000 a 200.000
oscilações elétricas por segundo. O gerador pode ser ligado a
vários prendedores, pratos, instrumentos ópticos, microscópios
ou microscópios eletrônicos. O objeto a ser investigado (dedo,
folha, etc.) é inserido entre os prendedores juntamente com um
85
papel fotográfico. O gerador, então, é acionado, criando um
campo de alta freqüência entre os prendedores que,
aparentemente, induz o objeto a irradiar uma espécie de
bioluminescência sobre o papel fotográfico. Não é necessária
uma câmara para o processo da fotografia.
As primeiras fotografias eram uma 'janela para o desconhecido',
dizem os Kirlian. Uma folha retirada de uma árvore, quando
disposta no campo de uma corrente de alta freqüência, revelava
um mundo de miríades de pontos de energia. Margeando a folha
havia motivos turquesa e vermelho-amarelados das chamas que
saíam de canais específicos da folha. Um dedo humano disposto
no campo de alta freqüência e fotografado revelava-se um
complexo mapa topográfico. Havia linhas, pontos, crateras de luz
e chamas. Algumas partes do dedo pareciam uma abóbora
entalhada e iluminada internamente por uma luz.
Mas as fotografias somente mostravam imagens estáticas. Logo
os Kirlian haviam desenvolvido um instrumento óptico especial a
fim de poder observar diretamente o fenômeno em ação. Kirlian
estendeu sua mão debaixo das lentes e ligou a corrente. E,
então, o mundo fantástico do invisível abriu-se diante do casal.
A própria mão parecia a via-láctea num céu estrelado. Contra um
fundo azul e dourado, alguma coisa acontecia à mão, que
parecia uma exibição de fogos de artifício. Chamas multicoloridas
se acendiam, depois faíscas, bruxuleios, clarões. Algumas luzes
brilhavam firmemente, como círios romanos; outras, lampejavam
e depois se obscureciam...

A impressionante beleza das fotografias tiradas com essa técnica


estimulou pesquisadores de todos os lugares, e muitas visitas
foram feitas à Rússia para adquirir cópias heliográficas e
informação técnica sobre o equipamento. Desde então, grandes
quantidades de fotografias produzidas nos laboratórios dos
Estados Unidos apareceram nos jornais e revistas populares, de
86
tal modo que quase todo mundo se familiarizou com elas. A
pergunta que naturalmente se faz é: o que essas luzes e cores
representam realmente? São elas imagens verdadeiras da "aura
humana", como alguns querem acreditar, ou são apenas
fenômenos artificiais sem nenhuma significação? Um dos mais
cuidadosos pesquisadores desse campo é WilIiam A. TilIer, pro-
fessor do Departamento de Ciências Materiais e Engenharia da
Universidade de Stanford, que definiu sistematicamente os
parâmetros das observações pelo seu conhecimento detalhado
das ciências materiais e chegou às seguintes conclusões sobre o
fenômeno:
"A simples leitura do trabalho de Loeb já permite perceber que
tratamos aqui do fenômeno do efeito coroa, chamado de raios de
luz. Nesse processo, primeiro são produzidos poucos elétrons no
espaço intereletrodal, seja por acontecimentos do raio cósmico,
radiação ultravioleta, seja pela emissão de campo do catódio.
Esses elétrons são acelerados pelo campo e ionizam as
moléculas de ar, produzindo um crescimento exponencial do
número de elétrons e íons positivos, isto é, uma avalanche. Os
elétrons deslizam velozmente em direção ao anódio (lado
positivo), e a junção dos íons positivos movimenta-se um pouco
mais lentamente em direção ao catodo (lado negativo). Quando o
feixe de íons positivos alcança no vácuo do ar uma densidade
crítica, ele atrai fortemente os elétrons, de modo que sucede um
grande número de ocorrências de recombinação, e os fótons de
luz são gerados a um grau tão elevado que o feixe de íons
positivos se torna brilhantemente luminoso e viaja a velocidade
de cerca de 1 por cento da velocidade da luz (cerca de 107 a 108
centímetros por segundo)...
Como resultado do campo propulsor do elétrodo, podemos
antecipar algum tipo de energia que se junta às células do objeto.
Isso, por sua vez, pode levar a emissões de energia das células,
que pode influenciar as propriedades de ionização do gás e,
87
desse modo, alterar os detalhes quantitativos do processo de
avalanche dos elétrons. Como a pele é fortemente piezoelétrica,
um estímulo elétrico gerará uma ressonância mecânica e vice-
versa. Ouvimos ruído mecânico no raio de ação de alta
freqüência durante a descarga. Ocorrências de emissão
secundária convencional devida aos impactos de fótons, íons e
elétrons levarão à emissão secundária de fotoelétrons e elétrons.
As mudanças nos estados mental ou emocional devem mudar a
população do estado eletrônico do dedo e, desse modo, revelar-
se por intermédio dos processos de emissão alterada." (Grifo
meu.)

No decorrer da pesquisa feita por diversos especialistas, muitos


parâmetros comuns que se esperava fossem os responsáveis
por essas descargas foram excluídos. Fotografaram-se dedos
em vários estados de vaso-dilatação (confirmado por
pletismografia), temperaturas variadas (confirmadas por
termístores), estados variados de condutância de pele
(confirmados por mensurações GSR) e variados graus de suor.
Descobriu-se que todos esses parâmetros não tinham efeito nas
descargas Kirlian.
A técnica Kirlian, naturalmente, levou à criação de muitos
instrumentos e estudos similares na União Soviética, e
observações interessantes foram demonstradas para ampliar o
conhecimento do efeito.

"Atualmente, desenvolve-se um trabalho sobre os detectares do


campo de força, no Laboratório de Cibernética Biológica do
Departamento de Fisiologia da Universidade de Leningrado. O
grupo de pesquisa, orientado pelo sucessor do dr. Vassíliev, o dr.
Pável Guliaiev, usa elétrodos extremamente sensíveis e de atla
resistência para registrar o campo de força ou a 'aura elétrica',
como eles a chamam.
88
Os soviéticos relatam que as reações musculares que
acompanham até mesmo um pensamento podem ser detectadas
e medidas, e que os sinais da aura elétrica revelam muita coisa
acerca do estado do organismo. O dr. Guliaiev acha que este
campo de força pode ser o meio pelo qual ocorre a comunicação
entre os peixes, os insetos e os animais.
A pesquisa soviética é dirigida para o uso dos detectares do
campo de força em diagnósticos médicos e em psicocinese. Os
sinais gerados por um pensamento podem ser captados à
distância, amplificados e utilizados para movimentar objetos.
O aparelho de 'eletroauragrama' do dr. Guliaiev é tão sensível
que pode medir o campo elétrico de um nervo. Os nervos de uma
rã, por exemplo, têm um campo elétrico de 24 centímetros. Um
nervo do coração humano tem um campo de 10 centímetros. As
emanações elétricas em volta do corpo mudam de acordo com a
saúde, a disposição de ânimo, o caráter. A distância em que
esse campo pode ser medido depende da quantidade da tensão
gerada. (Ver Parapsychology Newsletter, janeiro-fevereiro, 1969,
maio, junho, 1969).
Os detectores Serguêiev medem aparentemente o campo de
força humano a uma distância de cerca de 3,5 metros do corpo."
Outro aspecto fascinante da pesquisa soviética envolve
observações sobre os pontos da acupuntura. Os chineses
acreditam que a acupuntura é uma técnica pela qual o fluxo de
força vital através do corpo pode ser mudado, canalizado e
equilibrado pela inserção de agulhas em pontos específicos. A
acupuntura é considerada uma terapia que afeta diretamente o
campo da força vital, e, por conseguinte, as observações
soviéticas, embora ainda preliminares, oferecem interessantes
especulações para pesquisas posteriores.
"Resta uma última área de estudo preliminar a ser relatada: a
possibilidade de uma correlação entre a fotografia de irradiação e
a acupuntura. Este é um assunto que foi discutido extensamente
89
por T. C. Iniuchin (1969) num simpósio recente. Essa pesquisa
sugere que os pontos de acupuntura tornam-se visíveis através
da fotografia de Kirlian. Usando nossa aparelhagem, não
chegamos a nenhuma conclusão relativamente a essa asserção.
No entanto, trabalhando com um habilidoso acupunturista,
observamos diferenças significativas na coroa antes e depois do
tratamento no qual uma agulha, ou agulhas, foram inseridas em
um ou mais pontos de acupuntura. Além disso, esse não é um
efeito invariável; pelo contrário, ele depende do ponto específico
tratado pela acupuntura. Em certos pontos pene trados por uma
agulha, não há nenhuma mudança discernível na aura, mas em
outros pontos (geralmente relacionados com enfermidades
físicas específicas) é obtida uma luminosidade aumentada e uma
claridade da coroa. Dessa forma, embora a nossa pesquisa
tenha apenas começado, aprendemos que a inserção da agulha
- com a dor decorrente - não causa necessariamente uma
mudança nas emanações fotografadas. Isso parece eliminar a
dor como uma possível resposta com relação ao que essas
fotografias revelam."
Agora que foram desenvolvidas algumas técnicas para
observação do campo eletrodinâmico do corpo e alguns dos
parâmetros do campo estão começando a ser elucidados, surge
a questão lógica, para o nosso propósito: Que conexão tem este
campo com a saúde e a doença e, especialmente, com as
atividades da força vital em sua função como mecanismo de
defesa? Felizmente, existem algumas observações iniciais
relacionadas a essa questão; até aqui a pesquisa parece
confirmar uma correlação entre as mudanças no campo
eletrodinâmico e as mudanças nos estados emocional e físico,
tanto na saúde quanto na doença.
Além disso, os russos têm feito observações intrigantes, que
tendem a indicar que os fenômenos por eles medidos realmente
produzem efeitos similares ao que havíamos discutido nos
90
capítulos anteriores. A seguir, apresentamos uma exposição
sobre a experiência Kirlian com uma doença diagnosticada nas
folhas das plantas; depois de testar algumas folhas fornecidas
pelo presidente de um importante instituto científico, os Kirlian
acharam que alguma coisa estava errada com o seu
equipamento, pois não conseguiam garantir que as folhas se
conformassem ao modelo usual das outras; então, trabalharam a
noite toda para corrigir o problema, sendo posteriormente
relatado o seguinte:

"Pela manhã, extenuados e preocupados, eles mostraram os


inquietantes resultados ao seu celebrado hóspede cientista. Para
surpresa deles, seu rosto iluminou-se com prazer. 'Vocês
descobriram!', disse ele, entusiasmado.
Os dois inventores, exaustos, esqueceram-se da fadiga quando o
botânico explicou: 'As duas folhas foram retiradas da mesma
espécie de planta. Mas uma dessas plantas já estava
contaminada por uma séria doença. Vocês descobriram isso
imediatamente! Não há absolutamente nada na planta ou nesta
folha que indique que ela foi infectada e morrerá logo. Nenhum
teste real da planta ou da folha mostra qualquer coisa errada
com ela. Com a fotografia de alta freqüência vocês
diagnosticaram a doença na planta antes do tempo!...
Logo os institutos começaram a levar para os Kirlian centenas de
'pacientes verdes' - folhas de videiras, macieiras, tabaco, e assim
por diante. Em cada caso, os Kirlian podiam determinar se a
planta estava ou não doente muito antes de haver quaisquer
mudanças patológicas físicas nas folhas ou nas plantas, pelo
estudo da contra parte energéti ca do corpo da folha em fotos de
alta freqüência:
Em outra ocasião, esse efeito foi observado no próprio Semion
Kirlian. Enquanto calibrava seu equipamento, ele testou a própria
mão na máquina, mas não conseguiu obter o modelo usual de
91
emanações, embora fizesse várias tentativas. Sua esposa, no
entanto, conseguia fazer com que a máquina trabalhasse
perfeitamente. Logo depois, Semion foi acometido por uma
doença aguda e percebeu que havia visto a mudança em seu
campo eletrodinâmico antes do ataque real da doença. Desde
então, outros estudos têm confirmado essa observação.
"Kirlian e Kirlian (1959) notam que, quando uma, pessoa está
num estado de saúde mental ou físico precário, as fotografias
tiradas dessa pessoa refletem as mudanças no seu campo (isto
é, em diâmetro, em cor, em regularidade).
Essa descoberta relaciona-se com a declaração de Presman
(1970, 6) de que no organismo vivo os sistemas que tratam de
informação são ordinariamente protegidos das interferências dos
campos eletromagnéticos externos, mas, nos estados
patológicos, as barreiras são derrubadas e mais de uma
influência é exercida pelas forças externas (por exemplo, raios
solares, descargas de relâmpagos)...
Lewin (1951) notou que os limites ordinários não funcionam bem
nos estados patológicos.
Por outro lado, os Kirlian descobriram que uma folha murcha
quase não mostra nenhuma chama e que os coágulos movem-se
muito pouco. Enquanto a folha gradualmente vai morrendo, suas
auto-emissões também decrescem de forma correspondente até
não haver nenhuma emissão da folha morta. Da mesma forma, o
dedo de um corpo humano, morto há vários dias, não mostra
nenhuma auto-emissão distinta. A auto-emissão das coisas vivas
parece ser a medida direta dos processos de vida que ocorrem
dentro de seu sistema."
Trabalhando com a técnica de Harold Saxton Burr, Louis
Langman, doutor em medicina do Departamento de Obstetrícia e
Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova
York e do Hospital Bellevue, estudou grande número de
mulheres, pacientes dos ambulatórios de postos médicos,
92
inserindo elétrodos próximo ao colo do útero e na parede
abdominal externa, enquanto registrava as diferenças potenciais.
Esses dados foram, então, correlacionados com o quadro clínico
das pacientes, obtendo-se os seguintes resultados:"Na
comunicação mais recente, foram relatadas as observações
eletrométricas feitas em 428 mulheres. De 75 pacientes que se
sabia serem portadoras de câncer no aparelho reprodutor
feminino, 98,7 por cento apresentavam o colo do útero
consistentemente eletronegativo com relação à parede ventral-
abdominal. De 353 pacientes que sofriam de condições não
malignas, 289 mostravam o colo do útero positivo com relação ao
abdômen (81,9 por cento)...
As descobertas em pacientes que tiveram acompanhamento de
estudos eletrométricos indicam que uma inversão na polaridade
do negativo para o positivo ocorre depois da histerectomia total
do carcinoma intra-epitelial do colo do útero. Essa inversão não é
encontrada nos casos de estágios mais avançados do carcinoma
cervical (estágios II e III), que sofreram uma operação radical ou
uma terapia de rádio ou por intermédio do raio X. Em seguida
a uma histerectomia total, as mulheres às quais fora dado um
diagnóstico de metaplasia esc amos a do colo do útero pré-
operatoriamente mostram uma reversão similar da polaridade.
Essas descobertas sugerem que o eletrométrico correlaciona o
resultado das causas inerentes ao tecido envol vido, e se o
tecido envolvido pode ser removido total mente, ocorre a
reversão de potencial. Inversamente, a reversão não ocorre
quando todo o tecido envolvido não éremovido pela operação."
(Grifo do dr. Langmans.)
Leonard Ravitz, doutor em medicina, eminente psiquiatra
americano filiado a diversas universidades e socie dades
profissionais, também trabalhou com o dr. Burr em vários
estudos clínicos. Foram observados pacientes psicóticos durante
os estados de excitação e de repouso e após tratamentos bem-
93
sucedidos. Resultados muito surpreendentes foram
consistentemente obtidos em grande número de pacientes.
Particularmente interessantes para nós foram os resultados que
correlacionaram as mudanças do plano mental com as
mudanças do campo eletrodinâmico.
"Com relação aos estudos experimentais humanos nos quais os
sujeitos servem como séus próprios controles, uma das
abordagens iniciais comparava as mudanças dos estados
individuais antes e depois da hipnose, juntamente com os efeitos
da hipnose como foram registrados e estudados. Mudanças
hipnóticas e pós-hipnóticas foram, então, comparadas com
alterações correspondentes de campo.
Inquietações de todas as espécies assim induzidas
foram estudadas eletrometricamente e comparadas com as
que surgiam espontaneamente, tanto no estado de vigília quanto
no estado hipnótico. Mais tarde, as mudanças foram medidas
antes, durante e depois da aplicação de várias drogas, placebos
e dosagens apropriadas para alcançar os efeitos correlacionados
com as intensidades do campo e polaridades em determinados
momentos. Experimentos similares foram, da mesma forma,
realizados sobre os efeitos da submissão de controle de
pacientes aos vários procedimentos terapêuticos.
Em resumo, os sujeitos em estado de transe, induzido ou
espontâneo, mostram uma uniformidade no registro do campo e
geralmente um decréscimo lento, muito embora apresentem às
vezes um aumento de intensidade. No término do transe ocorrem
perceptíveis mudanças de voltagem, o tempo anterior ao registro
retorna ao tempo do estado de vigília, dependendo da rapidez
com a qual o sujeito retorna ao estado de vigília. Os sujeitos que
foram acordados do estado de transe, mas que, na verdade,
estavam apenas parcialmente acordados; ou os que retornaram
ao estado de transe, embora superficialmente parecessem
'acordados', mostravam campos correlacionados com essas
94
mudanças de estado ou pelo uso de registradores a bico de pena
fotoelétricos ou de oscilógrafos de raio catódio ligados aos
milivoltímetros agora procluzidos comercialmente. (Isso foi
demonstrado pela primeira vez na Segunda Assembléia
Científica Anual da Sociedade Americana de Hipnose Clínica, em
1959.) Os estados de viiília mostram variações quase contínuas,
geralmente, de intensidades mais altas do que durante a
hipnose.
Deduz-se que a profundidade da hipnose pode, agora, ser
definida eletrometricamente; a 'profundidade', no entanto, nada
tem a ver com habilidades para desenvolver vários fenômenos
hipnóticos complexos." (Grifo meu.)
William A. Tiller, da Universidade de Stanford, também usou os
estudos fotográficos dos Kirlian de forma sistemática para
demonstrar a relação entre as mudanças mentais e emocionais e
as emanações dos campos eletromagnéticos. Aqui, ele descreve
os resultados de outros e dele próprio.
"Esses investigadores têm usado uma técnica semelhante à de
Moss e têm estudado as mudanças de energia manifestadas nas
fotografias Kirlian, tanto antes quanto depois do tratamento de
um grupo de esquizofrênicos e um grupo de "alcoólatras. Eles
observaram que, antes do tratamento, os dois grupos
apresentavam uma marcante fragmentação espacial ou uma
anulação de grandes porções da emissão normal da ponta do
dedo. Além disso, o modelo de emissão da porção em contato
com a ponta do dedo parece totalmente caótico. Como resultado
do tratamento bem-sucedido, de acordo com os critérios da
psiquiatria convencional, observa-se: (a) o preenchimento do
modelo de emissão em volta da ponta do dedo, (b) uma acentua-
ção da intensidade da energia manifestada, e (c) um modelo de
impressão digital mais ordenado e coerente na porção em
contato com as fotografias. Eles também notaram marcantes
mudanças do modelo associadas às infecções respiratórias...
95
Em uma experiência recente, estudamos a ponta do dedo de um
sujeito enquanto seu estado mental se transformava. Ele mudava
de estado a cada dois minutos e nós tiramos retratos de alta
voltagem enquanto ele conscientemente tentava manter uma
pressão constante do dedo sobre o elétrodo transparente. A
seqüência foi: (a) normal, (b) estado 1, (c) estado 2, (d) estado 3,
(e) repouso; e a seqüência foi repetida. Os resultados indicam
que, na verdade, a mudança do estado mental se manifesta
como uma mudança do modelo de emissão. Tendo em vista que
o resultado do estado de repouso corresponde mais
estreitamento ao resultado do estado normal do que ao dos
estados 1, 2 ou 3, e desde que dois minutos não parece ser um
tempo muito longo para ocorrerem as mudanças químicas da
superfície da pele, podemos deduzir que os outros efeitos
fisiológicos não são importantes aqui e que estamos monitorando
um verdadeiro estado interno de mudança."
Pode-se, pois, perceber que algumas observações bastante
interessantes têm sido feitas pelos modernos biólogos, que os
resultados são suficientemente intrigantes para atrair muitos
pesquisadores para o campo e parecem confirmar as
declarações sobre a força vital e o mecanismo de defesa aqui
apresentados.
A característica desse rápido levantamento das pesquisas não é
tentar provar detalhadamente a existência e o funcionamento da
força vital, pois a pesquisa é ainda muito preliminar e sem
sofisticação para os propósitos médicos. Entretanto, essas
observações apontam para uma direção que pode ser análoga
às mudanças que ocorreram na física no começo deste século;
se o progresso dessa pesquisa continuar, como promete, é
possível que vejamos o nascimento de uma nova era na
medicina: uma era da medicina da energia.
Vamos concluir este capítulo retornando às argutas observações
de um médico homeopata do século XIX, J. T. Kent. O dr. Kent
96
descreve detalhadamente as qualidades da força vital, que ele
denomina "substâncias simples". Seus inteligentes insights são
passíveis de ser confirmados e reconfirmados pela pesquisa
daqui a muitas décadas.

a) A substância simples é dotada de inteligência formativa, isto é,


opera de maneira inteligente e forma a economia de todos os
reinos, animal, vegetal e mineral... A substância simples dá a
todas as coisas seu próprio tipo de vida, dá-lhe a distinção e a
identidade, pela qual ela se diferencia de todas as outras coisas.
O cristal de rocha possui sua própria associação, sua própria
identidade; ele é dotado de uma substância simples que esta-
belecerá sua identidade diferentemente de tudo no reino animal e
de tudo rio reino vegetal. Isso é devido à inteligência formativa da
substância simples... As plantas crescem em formas fixas. O
mesmo se dá com o homem do início ao fim; há um afluxo
contínuo para o homem, que vem da sua causa. Daí, o homem e
todas as formas estão sujeitos às leis do afluxo...

b) Essa substância está sujeita a mudanças; em outras palavras,


pode estar fluindo em ordem ou em desordem, pode ser doente
ou normal...

c) Ela permeia toda a substância material sem perturbá-Ia ou


substituí-Ia...

d) Ela domina e controla o corpo que ocupa... Por sua causa são


mantidas em ordem todas as funções, a perpetuação das formas
e as proporções de cada animal, planta e mineral. Toda
operação possível é devida à substância simples, e através dela
o próprio universo é mantido em ordem. Ela não somente opera
cada substância material, como é a causa da cooperação entre
todas as coisas...
97
e) A substância simples pode existir como simples, composta ou
complexa... Ao considerar a substância simples, não podemos
pensar em tempo, lugar ou espaço, pois não estamos no reino da
matemática nem nas restritas medidas do mundo ao espaço e do
tempo; estamos no reino da substância simples. E apenas finito
pensar no espaço e no tempo. A quantidade não pode ser
pressuposto da substância simples, somente a qualidade em
graus de excelência e fineza.

f) A substância simples também sofre adaptação... É indiscutível


que o indivíduo sofre uma adaptação ao seu ambiente... O corpo
morto não pode fazê-Io. Quando raciocinamos de dentro para
fora vemos que a substância simples se adapta às suas
circunstâncias... e, por conseguinte, o corpo humano é mantido
num estado de ordem, no frio ou no calor, na chuva e na
umidade e sob todas as circunstâncias.

g) Também vemos que essa substância vital, quando em estado


natural, é construtiva; ela mantém o corpo continuamente
construído e reconstruído. Mas quando ocorre o oposto, quando
a força vital ,por uni motivo qualquer se retira do corpo, vemos
que as forças que estão no corpo, ao se soltarem, tornam-se
destrutivas."

Essas palavras de um médico americano, expressas vinte anos


antes da divulgação das teorias d,e campo de Einstein, são
verdadeiras, além de ser uma espantosa façanha de dedução e
percepção. Duvidamos que uma descrição mais completa e
concisa das qualidades elementares da força vital (e, por
conseguinte, do mecanismo de defesa) jamais tenha sido escrita.
Em resumo, pelo que até aqui descobrimos, pode-se afirmar com
confiança que existe uma força vital que anima todos os níveis
98
do organismo humano e que um dos seus aspectos é o
mecanismo de defesa. Essa força vital possui todas as
qualidades que estão sendo descobertas pela pesquisa moderna
nos campos da eletrodinâmica biológica - e mais!

Sumário do capítulo 4
1. O mecanismo de defesa, que age em todos os níveis do
organismo, funciona como um todo integrado e defende
sistematicamente as regiões mais íntimas e espirituais da melhor
maneira possível.
2. Os conhecidos mecanismos fisiológico e químico do corpo são
instrumentos do mecanismo de defesa.
3. O organismo humano é mais do que a mera soma de seus
componentes físicos, fato mais evidente nos momentos da
concepção e da morte. Disso se deduz a presença de uma "força
vital" inteligente que anima, guia e equilibra o organismo em
todos os níveis, tanto na saúde quanto na doença.
4. O mecanismo de defesa é esse aspecto da força vital que
responde especificamente no estado de doença.
5. Novos conceitos em física estão começando a se refletir na
ciência biológica, particularmente no estudo dos campos
eletrodinâmicos do corpo humano. Agora, existem instrumentos
que podem medir diretamente o campo eletromagnético do
corpo, e essas medidas são clinicamente úteis no dignóstico do
câncer, das doenças infecciosas e nos níveis de adaptação do
transe hipnótico.
6. A fotografia Kirlian é uma técnica admirável, através da qual o
campo eletromagnético pode ser diretamente visualizado.
Demonstrou-se que este fenômeno também não é apenas um
artifício da natureza. Mudanças características podem ser
percebidas nos estados mentais ou emocionais alterados, tanto
na saúde quanto na doença.
99
7. Apesar dos avanços feitos na pesquisa do campo
bioeletromagnético, a comprovação viva tem ainda um longo
caminho a percorrer, antes de ser considerada como "prova" das
ações da força vital.
8. A lúcida descrição de J. T. Kent da força vital ("substância
simples") caracteriza-a como dotada de uma inteligência
formativa, sujeita a mudanças e que permeia a substância
material sem substituí-Ia, criadora da ordem no corpo e
pertencente ao reino da qualidade mais do que ao da quantidade
(o reino dos graus da fineza), sendo adaptável e construtiva.
 
Capítulo 5
A força vital na doença
A idéia de que há uma força vital inteligente que anima o
organismo humano, podendo essa força vital ser um campo
similar ou análogo ao campo eletromagnético, abre novas
possibilidades para a terapêutica, passível de conduzir a uma era
da medicina da energia. Compreender as leis e princípios
implícitos nessa idéia pode ser de grande utilidade para os
profissionais e pacientes que por eles são servidos. Neste
capítulo, apresento a hipótese de que a força vital comporta-se
de uma maneira análoga aos campos eletromagnéticos e, talvez,
se conforme aos conceitos padrão da física, pertencendo a esses
campos. Tentarei, pois, descrever as implicações dessa idéia no
contexto terapêutico.

Conceitos básicos de física


Para começar, devo apresentar a terminologia básica usada na
física padrão. Essa terminologia será descrita de forma sucinta;
para maiores detalhes basta recorrer a qualquer manual de
física.
100
Como foi descrito por Fritjof Capra, no capítulo anterior, as
partículas e ondas são completamente intercambiáveis nos
níveis atômico e subatômico. O campo eletrodinâmico é a inter-
relação das partículas que se afetam umas às outras através da
carga e do movimento. Essas relações são definíveis em termos
de oscilações ou vibrações. Quando os elétrons se movimentam
em volta do núcleo de um átomo, por exemplo, o movimento
pode ser descrito como uma "onda", do ponto de vista do
observador externo. Enquanto circula em volta do núcleo, o
elétron parece, a um observador de fora, primeiro mover-se em
uma direção, depois, mover-se para trás, voltando para sua
localização original. Na figura 5, vemos uma típica forma de onda
caracterizada, primeiro, pelo movimento numa direção "positiva",
depois, numa direção "negativa". Uma onda completa é chamada
de "ciclo".

101
O conceito de onda é familiar a todos nós. Na água, uma onda se
caracteriza pelo movimento das moléculas para cima (em direção
a uma crista) e para baixo (em direção a uma depressão). Um
pedaço de papel que esteja flutuando na superfície permanecerá
no mesmo ponto enquanto a onda passa; no entanto, a própria
onda se movimenta. Um seixo atirado num tanque transmite
força à água, o que resulta numa onda que se irradia para o exte-
rior a partir do ponto do impacto. O pedaço de papel, entretanto,
permanece estacionário enquanto a força da onda se irradia por
todo o tanque. Outro exemplo familiar são as ondas sonoras;
elas fazem as moléculas de ar se movimentarem de um lado
para outro em relação umas às outras, propagando, dessa
maneira, a força do som à distância. As ondas eletromagnéticas
transmitem força, também, mas essas podem ser transmitidas
102
mesmo no vácuo e através de grandes distâncias.
A velocidade da propagação de tais ondas se caracteriza pelo
tipo de substância em que se propagam. As ondas sonoras, ao
nível do mar, propagam-se a uma velocidade constante, à
velocidade do som. As ondas eletromagnéticas propagam-se à
velocidade da luz.
Existem três parâmetros básicos que definem uma forma de
onda: a freqüência (comumente medida em ciclos por segundo),
o comprimento de onda (medido em centímetros ou metros) e a
amplitude (medida em unidades de força).
A "freqüência" da vibração é descrita como o número de ondas,
ou "ciclos" ,por unidade de tempo. Dessa maneira, podemos
perceber o grau de vibração de um ciclo/segundo, ou 1 milhão de
ciclos/segundo. Como a velocidade da propagação é constante,
qualquer freqüência possui um "comprimento de onda"
correspondente, que é o comprimento real de cada onda em
particular. Quando os físicos ou técnicos eletrônicos falam de
ondas propagadas, usam indiferentemente os termos
"freqüência" e "comprimento" .
O conceito de freqüências diferentes, ou graus de vibração, é
compreensível para qualquer pessoa que tenha conhecimento de
música. Cada nota tem um diapasão que é a sua freqüência;
quando a freqüência muda, muda o diapasão. Os graus de
vibração oscilam do muito baixo (como o que é visto numa ponte
ressoando para o alto e para baixo durante um terremoto) ao
muito alto (como na luz, raios X, microondas, etc.). O ouvido
humano detecta um certo alcance de freqüências e o olho, um
alcance diferente.
A altura de uma onda é chamada "amplitude". Amplitude é uma
medida de força real contida numa onda. Quanto mais alta a
amplitude, maior a força; quanto menor a amplitude, menos força
existe na onda. Isso pode ser percebido facilmente pela diferença
da força das ondas criada na água ao se atirar um seixo num
103
tanque e ao se atirar uma. pedra grande num tanque. A pedra
transmite maior força à água e a amplitude da onda é,
proporcionalmente, maior. Da mesma forma, se compararmos
duas ondas eletromagnéticas de mesma freqüência, a que tem
maior amplitude contém e transmite mais força.
Inversamente, de duas ondas eletromagnéticas com igual
amplitude, a que tem maior freqüência contém e transmite maior
força. Por essa razão, as microondas são mais poderosas do que
as ondas de rádio de baixa freqüência de mesma amplitude. Por
conseguinte, quando se baixa a freqüência de uma onda (sem
mudar-lhe a amplitude), seu nível de energia diminui; se se
aumentar a freqüência, mais energia será acumulada na onda.
Cada substância tem uma freqüência característica, ou alcance
de freqüência, pela qual ela vibra mais facilmente. Uma
substância homogênea como o cristal, ou um diapasão de metal,
vibrará fortemente em apenas uma frequência, que é chamada a
sua "freqüência de ressonância", e menos fortemente em suas
freqüências harmônicas. Se vibrarmos um diapasão em dó médio
na sala com outro diapasão em dó médio, o segundo começará a
vibrar em ressonância com o primeiro. Se tocarmos um diapasão
em dó alto numa sala com um diapasão em dó médio, o segundo
vibrará a uma amplitude reduzida, mas ainda assim vibrará.
Vemos, então, que as vibrações podem ter efeito a certa
distância e até mesmo em níveis diferentes de vibração, mas o
efeito será harmonioso somente através do princípio da
ressonância (ver figura 6).
Se uma substância é não homogênea, como uma rocha ou um
órgão do corpo humano, então cada um de seus componentes
tenderá a vibrar em sua própria freqüência de ressonância, mas
a atividade resultante do todo não será prontamente reconhecível
aos nossos sentidos. Isso não quer dizer que as vibrações de
fora não estejam tendo nenhum efeito, apenas que o efeito não é
detectável aos nossos sentidos.
104
Agora, considerar a força vital do organismo humano em termos
de vibração eletrodinâmica envolve, obviamente, um grau de
complexidade enorme. A vibração resultante desse organismo
complexo é, sem dúvida, altamente complicada, pois ela muda a
cada momento não apenas em freqüência, mas também na
regularidade da freqüência, bem como em amplitude. É por isso
que o nível da força vital do organismo humano é considerado o
plano dinâmico, que afeta todos os níveis do ser de uma vez e
em graus variados de harmonia e força. É um processo
altamente complexo, fluido, flexível e energético, respondendo e
afetando simultaneamente o ambiente circundante. Apesar dessa
complexidade, no .entanto, existem leis e princípios que
105
governam tanto as influências morbíficas quanto as terapêuticas
desse sistema - leis e princípios são fundados nos conceitos de
ressonância, harmonia, reforço e interferência. Todo o
organismo, e qualquer um de seus componentes, podem ser
fortalecidos ou enfraquecidos,.dependendo do grau de harmonia,
ressonância e força da influência morbífica ou terapêutica a ele
aplicada. Por isso é tão importante para qualquer profissional de
"medicina da energia" compreender com clareza as leis e
princípios fundamentais envolvidos nessas influências.

O mecanismo de defesa
Quando o organismo é exposto a um estímulo, seja ele morbífico
ou benéfico, a primeira coisa que se verifica é uma alteração do
grau de vibração no plano dinâmico. Dentre os muitos estímulos
rotineiros aos quais todos nós estamos expostos
constantemente, o plano dinâmico é o mais capaz de responder
e se ajustar sem nenhum efeito notável nos níveis mental,
emocional ou físico.
Se, no entanto, a força do estímulo for mais forte do que a força
vital, o mecanismo de defesa é chamado a agir para contrapor-se
ao estímulo. Caso contrário, qualquer estímulo poderoso alteraria
o estado de todo o organismo, sem defesa, e a morte se daria
rapidamente. Há um certo limiar em qualquer indivíduo abaixo do
qual o plano dinâmico opera os estímulos sem mudanças visíveis
e acima do qual o mecanismo de defesa gera processos que são
percebidos pelo indivíduo como sintomas em um ou mais níveis.
Antes que os verdadeiros sintomas se desenvolvam, há um
período latente, durante o qual o mecanismo de defesa começa a
se ajustar ao efeito do estímulo. A mudança do plano dinâmico,
naturalmente, é instantânea, mas pode passar por várias
durações de tempo antes que o mecanismo de defesa gere
sintomas que se expressem no nível físico, emocional ou mental.
106
Dependendo das circunstâncias, esse período latente pode ser
de horas, dias, semanas ou até de meses. Numa doença aguda,
o período latente é conhecido como "período de incubação",
pode durar de horas ou dias, no caso de gripes e infecções
bacteriológicas, a várias semanas, no caso de gonorréia, ou até
três meses, no caso da raiva e da hepatite infecciosa.
Menos conhecida é a ocorrência de um período latente numa
doença crônica. Uma pessoa pode suportar um estresse
emocional e desenvolver uma asma, seis meses depois, ou um
câncer, depois de um período ainda mais longo.
A mudança instantânea inicial no nível de vibração também
altera a sensibilidade da pessoa a outras influências nocivas do
mesmo tipo. Por exemplo, se uma pessoa é exposta a um vírus,
seu grau de vibração altera-se imediatamente e ela se torna
imune à invasão de outros vírus do mesmo tipo e virulência; os
sintomas podem não surgir até que o último período latente
tenha passado, mas o organismo está "imune" a outros vírus
semelhantes duran te o período de latência. Esse fenômeno
ocorre porque a freqüência ressonante foi mudada pelo estímulo
inicial, entregando à 8uscetibilidade do organismo apenas novas
influências morbíficas na nova freqüência de ressonância.
Essa mudança de sensibilidade pode ocorrer, naturalmente, não
apenas pela exposição aos vírus e bactérias, mas também
através de choques emocionais, mudanças da temperatura
ambiental ou pela umidade e, especialmente, pelo tratamento
com drogas alopáticas.
A melhor forma de ilustrar esse princípio é apresentar um
exemplo muitb comum na prática de qualquer médico.
Consideremos um paciente que contraiu uma
infecção estafilocócica pulmonar. No momento do ataque da
infecção, o grau de vibração ("a freqüência ressonante")
muda um pouco, ficando o paciente "imune" à invasão de outro
organismo semelhante. O mecanismo de defesa aciona
107
os mecanismos normais da febre, tosse, calafrios,
prostração, etc., e o paciente procura o médico. São feitos
exames de sangue, que revelam uma taxa elevada de glóbulos
brancos, e a presença de anticorpos contra os estafilococos; uma
radiografia acusa uma infecção e o material colhido para cultura
desenvolve a sensibilidade do estafilococo a uma variedade de
antibióticos. Receita-se ao paciente qual quer antibiótico e a
febre baixa prontamente, a energia retorna e melhora a
qualidade do escarro.
Se o mecanismo de defesa desse paciente é forte, ele,
finalmente, restabelece o equilíbrio e corrige às mudanças do
grau de vibração causadas pela bactéria e pelo antibiótico. Se,
por outro lado, o mecanismo de defesa não for suficientemente
forte, o curso dos acontecimentos será outro. O grau de vibração
não retorna ao normal e é alterado até mais profundamente pelo
antibiótico. Dentro de uma semana ou mais, ocorre uma reação
pleural com dor e efusão. Os médicos reconhecem que houve
uma "complicação" e retiram da região pleural um pouco do
fluido, que agora revela uma nova bactéria, o Proteus, sensível a
menos antibióticos ainda do que era o estafilococo. A razão
dessa ocorrência é que a nova freqüência de ressonância do
paciente possibilitou a sensibilidade a um organismo novo e mais
sério.
É então, dado um segundo antibiótico, que altera novamente o
grau de vibração do mecanismo de defesa. Gradualmente, o
paciente sente-se melhor, a dor cede e parece que à
recuperação está em andamento. Ainda assim, nada foi feito
para reforçar, de forma apreciável, o mecanismo de defesa. Pelo
contrário, duas infecções bacterianas e duas séries de
antibióticos o enfraqueceram. Por fim, a efusão volta a aumentar
e descobre-se a presença de um organismo ainda mais sério, o
bacilo piociânico, insensível a todos os antibióticos conhecidos.
Para o médico alopata, a única alternativa que, resta é a
108
drenagem cirúrgica e, talvez, a lobectomia; o caso é então
considerado grave, havendo de qualquer modo perigo de vida.
Casos como esse não são raros; todo médico tem bastante
experiência de casos que progridem exatamente desse modo.
Quando um paciente desse tipo é encaminhado a um
especialista, é comum que se comente a tendência de tal
paciepte para desenvolver "complicações"; e até mesmo os
médicos alopatas falam em termos de enfraquecimento
sistemático. Pela experiência, eles aprenderam a esperar o pior.
Como o problema não é fundamentalmente o de um
microrganismo específico mas, pelo contrário, o do enfra-
quecimento do mecanismo de defesa do paciente, não se pode
esperar que a terapia por antibiótico funcione nesse caso. O
antibiótico é o estímulo mais nocivo que o mecanismo de defesa
deve enfrentar, e o nível vibratório progride de forma inevitável
cada vez mais profundamente. Pelo contrário, deve-se utilizar
uma terapia que fortaleça a freqüência de ressonância de todo o
organismo. Logo que isso ocorra, o mecanismo de defesa poderá
funcionar de forma efetiva, e o progresso terá prosseguimento na
ordem inversa, através dos níveis vibratórios anteriores: as
culturas mostrarão o bacilo piociânico, depois o Proteus e, a
seguir, o estafilococo, antes que o paciente possa ter alta do
hospital, totalmente restabelecido. Essa é a experiência dos
médicos homeopatas, que são sábios o bastante para não
receitarem antibióticos ao simples aparecimento de um novo
micróbio. Ao contrário, eles permitem o fortalecimento do
mecanismo de defesa para que ele mesmo complete seu
processo.
Como foi mencionado, a supressão contínua (por terapias
impróprias) do mecanismo de defesa na maior parte da nossa
população leva ao enfraquecimento progressivo. É por essa
razão que se observa uma crescente incidência de doenças do
coração, distúrbios neurológicos, câncer, psicoses e violência na
109
sociedade; é também pela mesma razão que se verifica um surto
de epidemias microbianas, como a doença do legionário e
outras, insensíveis a todos os antibióticos conhecidos. Isso não é
apenas um caso de mutação bacteriana, mas a conseqüência do
enfraquecimento progressivo do mecanismo de defesa das
pessoas devido a terapias impróprias.
O princípio de ressonância dá ao organismo sensibilidade à
influência basicamente em um único nível e em um determinado
momento. Na figura 7, vemos um diagrama simplificado do
espectro das freqüências ressonantes. Cada nível representa,
por exemplo, sensibilidade num determinado âmbito das
doenças. Se uma pessoa for tratada no nível B, de gonorréia,
receberá antibióticos e sua freqüência ressonante muda; com o
tempo', ela se tornará sensível à doença, digamos, no nível C.
Enquanto experimenta sintomas de alguma doença nesse nível,
ela não terá gonorréia, mesmo que possa estar exposta a ela.
Isso também é verdadeiro para pessoas que sofrem de doenças
crônicas há longo tempo. Se, no entanto, essa pessoa fosse
tratada homeopaticamente, o grau de vibração voltaria a diminuir
na escala e o paciente poderia tornar-se sensível à gonorréia
mais uma vez. O observador superficial pode interpretar essa
sensibilidade renovada à gonorréia como um sinal de
deterioração da saúde, quando, na realidade, ela representa um
progresso!
Dessa forma, uma pessoa pode ser "imune" à doença no nível B
por duas razões: ou ela está muito doente, com um grau de
vibração correspondente aos níveis mais profundos de
ressonância, ou ela está muito saudável, com um grau de
vibração exatamente na parte mais baixa do diagrama.
Esse princípio de sensibilidade também explica um fenômeno
freqüentemente observado pelos médicos cuidadosos. Os
esquizofrênicos raramente têm enfermidades agudas, mesmo
quando expostos a organismos muito virulentos. Quanto mais
110
uma pessoa for psicótica, menos probabilidade terá de adquirir
uma enfermidade aguda. Isso porque a freqüência de
ressonância está num nível mental muito profundo e o
mecanismo de defesa simplesmente não tem força para reagir
nos níveis mais periféricos. Se uma pessoa for apenas
ligeiramente psicótica, é possível que adquira uma infecção
aguda; observou-se que os sintomas psicóticos, então, diminuem
sensivelmente durante a doença aguda, para retornarem logo
depois da recuperação. Embora os médicos alopatas não
tenham conseguido explicar esse fenômeno, ele se tornou,
contudo, base para a terapia da febre, do choque de insulina e,
finalmente, da terapia do eletrochoque. Ademais, é verdade que,
se um paciente psicótico adquirir uma infecção aguda, a infecção
geralmente será séria e, freqüentemente, fatal. Essa observação
é prontamente explicada pelo princípio da ressonância, quando
se percebe que o mecanismo de defesa está enfraquecido. Por
fim, se um paciente psicótico for tratado homeopaticamente com
sucesso, percebe-se um retorno da sensibilidade às
enfermidades agudas; a princípio, elas podem ser muito sérias,
mas, à medida que o tratamento for prosseguindo, a habilidade
para se livrar dessas enfermidades se fortalecerá.
Logo que um estado de doença se estabelece em um nível
particular, a pessoa fica relativamente resistente à doença nos
outros níveis, mas os estímulos no mesmo nível de ressonância
ainda podem produzir mudanças no grau de vibração. Além
disso, esses estímulos podem ser devidos a drogas, choques
emocionais ou influências ambientais, mas os estímulos devem
ressoar com o grau vibratório do organismo a fim de produzir
efeito. Por exemplo, suponhamos um paciente com uma doença
do coração. Se ele receber a notícia de que o filho morreu - um
choque emocional que afeta o nível vibratório correspondente ao
coração -, é provável que desenvolva uma psicose. Enquanto
isso, os sintomas de sua disfunção cardíaca desaparecerão. O
111
mesmo ocorreria se o paciente fosse tratado com uma poderosa
droga para o coração.

112
Pelo contrário, é verdade que um estímulo benéfico contraposto
à correta freqüência ressonante altera o grau de vibração no
sentido de uma melhora. Essa influência benéfica pode ocorrer,
virtualmente, em qualquer tipo de terapia, mas, na maioria das
terapias, ela ocorre acidentalmente, pois os princípios não são
seguidos; por isso a freqüência de ressonância do agente
terapêutico é contraposta à da moléstia. Por exemplo, o
eletrochoque geralmente alivia a depressão psicótica apenas
temporariamente, e, com certeza, tem seus próprios efeitos
prejudiciais sobre a função do sistema nervoso; no entanto, em
raros exemplos, esses casos experimentam alívio permanente.
Isso ocorre porque, por acidente, o grau vibratório do
elettochoque contrapõe-se o bastante à freqüência de res-
sonância da sensibilidade, de forma que o mecanismo de defesa
é fortalecido. Infelizmente, os médicos que cuidam desses casos
não percebem o que aconteceu e, muitas vezes, utilizam drogas
supressivas sempre que uma moléstia correspondente surgir no
plano físico; dessa forma, com muita freqüência induzem a volta
do paciente ao estado psicótico.
Qualquer terapia pode virtualmente produzir respos tas curativas
ocasionais exatamente desse modo acidental. Os psiquiatras ou
grupos de encontro podem produzir poderosos benefícios num
dado momento, quando o paciente estiver receptivo a essas
influências; se ele não for inco modado, o benefício pode ser
muito duradouro. Infelizmente, a tendência dos terapeutas é
continuar tentando uma cura, ao invés de deixá-Io em paz; se
através desse processo ocorrer uma perturbação emocional no
novo nível vibratório, pode haver uma influência morbífica que,
por conseguinte, resultará numa recaída ao estado anterior  ou,
quem sabe, a um estado ainda pior. O mesmo vale para os
tratamentos feitos com ervas, pela acupuntura, massagem de
polaridade, etc. Todos podem produzir benefícios quando o
113
estímulo terapêutico se contrapuser ao nível de receptividade do
organismo, e esse benefício pode, então, ser duradouro se o
progresso permitido tiver uma continuidade imperturbável, apesar
do desenvolvimento de novos sintomas em níveis mais
periféricos.
Na homeopatia, temos pelo menos um sistema científico,
baseado em princípios claros, que almejam estimular o
organismo de forma benéfica precisamente dentro da freqüência
ressonante, que, então, permite ao mecanismo de defesa, assim
fortalecido, completar seu trabalho na ordem própria. Como
veremos nos capítulos subseqüentes, supõe-se que cada
prescrição homeopática esteja baseada na totalidade das
expressões do mecanismo de defesa; desse modo, ele é
contraposto à freqüência ressonante. Mesmo assim, é verdade,
até mesmo na homeopatia, que pode ser ministrado um
medicamento incorreto, baseado apenas numa imagem parcial
da sintomatologia do paciente. Essa prescrição também pode
rebaixar o nível vibratório, acarretando uma deterioração da
saúde geral do paciente. Da mesma forma, mesmo um
medicamento homeopático, se for administrado de forma
imprópria, num momento em que o mecanismo de defesa já está
seguindo eficientemente na direção certa, pode interromper o
progresso e retardar a recuperação.

Sumário do capítulo 5
Sumário da parte sobre física

1. Pode-se partir da hipótese de que a força vital é sinônimo do


campo eletrodinâmico do corpo, conformando-se por conseguinte
aos conhecidos princípios da física.
2. Matéria e energia intercambiam-se no campo eletrodinâmico;
esse campo é mensurável em formas de onda, compostas de
114
freqüência, comprimento de onda e amplitude.
3. A força, ou energia, da onda ou campo é proporcional à sua
amplitude e freqüência.
4. Toda substância tem uma freqüência ressonante particular
pela qual vibrará com máior força quando estimulada por uma
onda de freqüência semelhante. Essa freqüência ressonante
pode ser facilmente discernível num objeto homogêneo, por
exemplo, ou difícil de perceber num objeto não homogêneo,
como o corpo humano.
5. O campo eletromagnético do corpo humano pode ser
considerado como o seu "plano dinâmico" - um plano de
complexidade inconcebível que, no entanto, se conforma a leis e
princípios fundados nos conceitos eletromagnéticos de
ressonância, harmonia, reforço e interferência. Essas leis e
princípios, por conseguinte, são a base para a nova "medicina da
energia".

Sumário da parte sobre o mecanismo de defesa

1. A maioria dos estímulos morbíficos é manejada de maneira


bem-sucedida pela força vital, sem produzir sintomas. Se o
estímulo morbífico for mais forte do que o mecanismo de defesa,
a resposta inicial será uma mudança da freqüência de
ressonância do organismo.
2. Há um período latente antes da produção dos sintomas reais,
mesmo que o grau de vibração do organismo seja imediatamente
mudado pelo estímulo.
3. Tão logo mude a freqüência de ressonância, a sensibilidade
do organismo à doença também muda; há um novo espectro de
doenças às quais a pessoa é sensível. Essa mudança de
sensibilidade explica numerosos casos em que o paciente parece
adquirir uma série de infecções de virulência crescente e de
reação descrescenteaos antibióticos.
115
4. O princípio de ressonância torna o organismo sensível à
influência morbífica basicamente em apenas um nível, num
determinado momento. Por conseguinte, uma pessoa pode ser
"imune" à gonorréia por duas razões: ela está muito doente ou
muito saudável para ressoar com o nível de influência da
gonorréia.
5. As influências benéficas também estão sujeitas ao princípio da
ressonância. Se ocorrer uma ação curativa por meio de qualquer
terapia, é porque o tratamento ressoa com o nível de
sensibilidade do organismo naquele momento. Tal ocorrência é
rara e sobrevém por acidente, pois as leis e os princípios da cura
não são compreendidos. A maior parte desses casos são, mais
tarde, suprimidos por manipulações terapêuticas impróprias.

Capítulo 6
A lei fundamental da cura
O plano dinâmico é o plano da presença da vida, o plano no qual
se origina a doença, bem como o mecanismo de defesa. Esse
plano não é um quarto nível separado do organismo. Pelo
contrário, ele permeia todos os níveis, é anterior a eles e com
eles interage. O plano dinâmico tem com o corpo físico
exatamente a mesma relação que os campos eletromagnéticos
têm com a matéria. Esse conceito é ilustrado na figura 8, que é
uma simplificação do esquema apresentado no capítulo 3. A
força vital, ou plano dinâmico, como indicam as setas, interage
intimamente com, os três níveis. Sempre que um organismo re-
cebe um estímulo de um de seus três níveis de recepção, o
efeito inicialmente é respondido pelo campo eletrodinâmico (ou
força vital) e, depois, distribuído aos três níveis, de acordo com a
força do estímulo e o grau de resistência do organismo.
Os modernos conceitos de cibernética demonstram um princípio
fundamental que se aplica tanto ao organismo humano quanto
116
aos outros sistemas: qualquer sistema altamente organizado
reage ao estresse, produzindo sempre a melhor resposta
possível de que é capaz no momento. No ser humano isso
significa que o mecanismo de defesa oferece a melhor resposta
possível ao estímulo morbífico, de acordo com o estado de
saúde do momento e a intensidade do estresse.
Quando ocorre a doença, a primeira perturbação acontece no
campo eletromagnético do corpo, que, então, coloca em ação o
mecanismo de defesa. Esse conceito foi anunciado
definitivamente pela primeira vez como a base da terapêutica de
Samuel Hahnemann, médico alemão que, no século XIX,
descobriu e desenvolveu a ciência da homeopatia. No Aforismo
11 da sua monumental obra-prima, Organon der rationellen
Heilkunde; Hahnemann escreve: "Essa força vital é a única a ser
perturbada primariamente pelas influências dinâmicas de um
agente morbífico que age sobre ela".

117
Para a eficácia de qualquer terapia é óbvio que o médico deve
cooperar com esse processo, sem jamais desviar-se dele. Como
o mecanismo de defesa já está reagindo com a melhor resposta
possível, qualquer desvio na direção de sua atuação terá
118
inevitavelmente um menor grau de eficácia. É por isso que as
terapias baseadas nas teorias intelectuais e na compreensão
parcial da totalidade apenas podem inibir o processo de cura e,
freqüentemente, produzir danos reais ao organismo através da
supressão.
Como a atividade do mecanismo de defesa se origina no plano
dinâmico, a abordagem terapêutica adequada é a que intensifica
e fortalece esse nível, aumentando assim a eficácia do próprio
processo de cura do organismo. De maneira geral, as medidas
terapêuticas podem realizar isso de duas maneiras:

1. O agente terapêutico pode afetar primariamente um dos três


níveis e, pela mediação do plano dinâmico, afetar indiretamente
todos os demais níveis. Como essa abordagem inclui o risco de
focalizar-se somente numa ressonância parcial, provavelmente
os resultados serão desapontadores. Mesmo assim é possível
obter algumas curas por meio dessa abordagem se,
acidentalmente, o efeito causar o fortalecimento do mecanismo
de defesa em sua totalidade.
2. O agente terapêutico pode agir diretamente sobre o .campo
eletrodinâmico como um todo e, por conseguinte, fortalecer
diretamente o mecanismo de defesa. O resultado dessa ação,
que repousa automaticamente na inteligência do próprio
mecanismo de defesa, pode ser apenas benéfico e resultará num
elevado índice de cura das doenças, não apenas de um nível,
mas da pessoa como um todo.

Dessas duas estratégias terapêuticas, a segunda parece ser a


melhor, mesmo levando-se em consideração a dificuldade de
encontrar agentes que possam atuar diretamente sobre o plano
dinâmico. Atualmente, existem apenas três terapias amplamente
conhecidas que podem agir diretamente sobre o plano dinâmico.
A acupuntura é uma das terapias que também possui uma
119
profunda compreensão das leis e princípios da cura. A forma
antiga da acupuntura, praticada por mestres dedicados e
experientes, é um método altamente curativo. Infelizmente, no
entanto, mesmo na moderna China, a influência do pensamento
tecnológico fez com que esses mestres se tornassem muito
raros. Naturalmente, a acupuntura hoje em dia circula pelo
mundo, mas sua prática é geralmente um reflexo superficial da
forma antiga. Dizem que a prática da acupuntura no mais alto
grau de eficácia requer muitos anos de treino intenso e
supervisionado, e muita experiência. Hoje é comumente
praticada por profissionais que muitas vezes fazem apenas um
curso de uma ou duas semanas ou, no máximo, dois ou três
anos de treinamento. Ai de nós! Os verdadeiros mestres da
acupuntura são cada vez mais raros, e parece improvável que
muitas pessoas do nosso mundo moderno se submetam aos
anos necessários de treinamento para se tornarem
acupunturistas altamente qualificados.
A "imposição das mãos" feita por um indivíduo espiritualmente
muito desenvolvido é outra terapia que pode afetar diretamente o
plano do campo eletrodinâmico. Com isso não nos referimos à
cura psíquica comum, a cura pela fé ou por práticas de
massagens que afetam a força vital apenas de forma indireta,
através de um dos três níveis. A "imposição das mãos" feita por
uma pessoa espiritualmente desenvolvida, que, na verdade, é
um canal para as energias universais, pode fortalecer
diretamente o mecanismo de defesa e, por conseguinte, provocar
uma cura duradoura. O inconveniente é que sempre existirão
muito poucas pessoas com essa evolução espiritual que possam
lidar de maneira efetiva com os problemas de saúde do nosso
tempo.
A terceira terapia que estimula diretamente o plano dinâmico é a
administração de medicamentos homeopaticamente
"potencializados". A ciência terapêutica homeopática tem muitas
120
vezes demonstrado resultados curativos extremamente eficazes
com altas porcentagens de casos com benefícios duradouros.
Ela se baseia em princípios de fácil compreensão e pode ser
aprendida por qualquer estudante dedicado, aproximadamente
no mesmo tempo exigido para o treinamento da medicina
alopática. Por conseguinte, é uma terapia capaz de produzir um
grande número de médicos qualificados que podem atender às
necessidades de saúde das nossas populações.
Como descobrir na homeopatia, ou em qualquer terapia que atue
sobre o plano dinâmico, o agente terapêutico que ressoe
diretamente junto à freqüência resultante do organismo no plano
dinâmico? Parece estar muito longe o momento de possuirmos
uma tecnologia suficientemente sofisticada para medir realmente
essa freqüência; então, de que forma exatamente
empreendemos uma seleção do agente terapêutico que possa
estimular de maneira pode rosa o plano dinâmico?
Para começar, devemos lembrar que o plano dinâmico não se
manifesta num estado de saúde relativamente 'bom; ele equilibra
e ajusta o organismo sem que a pessoa precise focalizar sua
atenção sobre a sua ação. Na doença, entretanto, logo que um
determinado limite for transposto, o mecanismo de defesa é
acionado e, finalmente, produz sintomas como manifestação de
sua ação.
Os sintomas e sinais são a única maneira que temos de perceber
a ação do mecanismo de defesa. Ele age da melhor maneira
possível para o benefício do organismo; por essa razão, os
sintomas e sinais produzidos são tentativas reais, por parte do
organismo, para se curar. Esse, sem dúvida alguma, é um
conceito paradoxal para muitos leitores, mas, se refletirmos
sobre o que foi dito até aqui, essa idéia se tornará clara e lógica.
Febre, indisposição, - perda de apetite, dor, reações emocionais,
confusão mental, bem como as reações mais sutis e individuais,
não são problemas em si mesmos; pelo contrário, são a melhor
121
tentativa possível do mecanismo de defesa para produzir a cura
de uma perturbação originada no plano dinâmico. Além disso, foi
Samuel Hahnemann quem primeiro, e de forma mais clara,
afirmou este conceito, no seu Aforismo 7: "A totalidade dos
sintomas deve ser o principal, na verdade, a única coisa que o
médico tem que anotar em cada caso de doença e eliminar por
meio de sua arte, de forma que a doença possa ser curada e
transformada em saúde".
Para afetar diretamente o plano dinâmico, devemos encontrar
uma substância que seja suficientemente semelhante para que a
freqüência resultante do plano dinâmico produza ressonância.
Como a única manifestação perceptível do mecanismo de defesa
aos nossos sentidos são os sintomas e sinais da pessoa, deduz-
se que devemos procurar uma substância que possa produzir no
organismo humano uma totalidade semelhante de sintomas e
sinais. Se uma substância é capaz de produzir um quadro de
sintomas semelhante num organismo sáudável, é grande a
probabilidade de que seu grau de vibração esteja muito próximo
da freqüência resultante do organismo doente, ocorrendo, por
conseguinte, um poderoso fortalecimento do mecanismo de
defesa através do princípio de ressonância.
Essa percepção é o esteio fundamental da ciência da
homeopatia: Similia similibus curantur, como foi cunhado por
Hahnemann. "O semelhante cure o semelhante." "Qualquer
substância capaz de produzir uma totalidade de sintomas num
ser humano saudável pode curar essa totalidade de sintomas
num ser humano doente.”
Naturalmente, esse é um princípio novo e surpreendente para a
terapêutica. Durante toda a história, os sjntomas ou grupos de
sintomas foram vistos como problemas a serem erradicados
imediatamente, e o pensamento médico voltou toda a sua
atenção para os agentes capazes de eliminar sintomas ou
síndromes determinadas. Se uma pessoa está com o nariz
122
escorrendo, deve tomar um descongestionante; se sente dores,
toma um analgésico; se está constipada, toma um laxante; para
o sistema nervoso, um tranqüilizante. Essa abordagem é
baseada apenas na própria manifestação do sintoma, e não na
perturbação ao nível dinâmico. Ela não respeita os sintomas
como uma tentativa do corpo para se curar, e, por conseguinte,
suas terapêuticas não se destinam a fortalecer o mecanismo de
defesa do organismo.
Por outro lado, a homeopatia (de homeo, que significa "similar" e
pathos, "sofrimento") reconhece os sintomas como a melhor
tentativa do mecanismo de defesa para a cura e se empenha em
cooperar com ele pela lei dos semelhantes, um método que se
origina no princípio da ressonância. A maneira exata como isto é
feito, naturalmente, é o assunto do restante deste manual, mas
podemos dar um exemplo simplificado para demonstrar o que
estamos dizendo.
Digamos que seu robusto filho seja subitamente acometido por
febre alta, ficando com o rosto afogueado, os olhos vidrados e
com pupilas dilatadas, a boca seca, apesar de não sentir sede, a
garganta irritada, as glândulas submaxilares inchadas,
principalmente do lado direito, manifestando-se ainda uma
espécie de delírio turbulento que o faça desejar subir pelas
paredes. O médico alopata interpreta esses sintomas e sinais
como provas de uma infecção virulenta ou bacteriana e colhe
uma amostra da garganta para fazer cultura, na esperança de
encontrar um organismo que responda aos antibióticos; essa
abordagem supõe que a "causa" seja o micróbio. O praticante
homeopata, por outro lado, tem um relativo desinteresse pela
natureza do micróbio. Ele vê os sintomas como manifestação da
perturbação do plano dinâmico, do qual jamais é possível "fazer
cultura". O homeopata, por conseguinte, estuda cuidadosamente
os próprios sintomas em sua totalidade, pesquisando
especialmente os traços individualizantes que representam a
123
"freqüência de ressonância", que podem ser usáados para a
cura. Ele pesquisa uma substância que reflita da maneira mais
próxima possível o quadro total dos sintomas. Nesse exemplo,
essa substância é a beladona; é dada ao paciente uma dose
única e mínima de beladona, a febre baixa rapidamente,
atingindo um nível normal, e a criança cai num sono pacífico.
Pela manhã, ela está completamente boa, e, se for colhida uma
cultura da garganta, neste momento, ela mostrará o
desaparecimento de qualquer micróbio que, porventura, tenha
sido encontrado antes. Essa história pode parecer difícil de
acreditar, mas todo homeopata pode citar inúmeros casos
semelhantes, retirados de sua prática diária.
Na descrição acima, deve-se notar que os sintomas descritos
não eram apenas descrições grosseiras de "febre, dor de
garganta, adenopatia e delírio". Os sintomas importantes para a
homeopatia são os sintomas mais individuais do paciente. Dez
pessoas com uma "dor de garganta" causada pelo estreptococo
provavelmente irão mostrar dez quadros diferentes da totalidade
dos sintomas, tão logo sejam determinadas as qualidades,
individualizantes. Na prática homeopática, os sintomas mais
valiosos freqüentemente são os chamados sintomas estranhos,
raros e peculiares. Isso obviamente porque só através desse re-
finamento é possível abordar com precisão a verdadeira
freqüência de ressonância que pode levar à cura.
O princípio de ressonância também é a base da insistência da
homeopatia na totalidade dos sintomas. Se for obtida apenas
uma imagem parcial do quadro total dos sintomas, o efeito da
substância terapêutica no organismo será limitado a esse nível
de vibração. Se um paciente for ao médico homeopata
reclamando de artrite, por exemplo, e os únicos sintomas
notados forem os relacionados com suas juntas, enquanto o
resto do plano físico é ignorado juntamente com o plano
emocional e o mental, pode-se esperar que a prescrição aja
124
apenas sobre as juntas. Esse procedimento provavelmente não
produzirá uma cura, podendo, além disso, resultar na
degeneração dos níveis mais profundos.
Para encontrar a freqüência de ressonância do organismo como
um todo e, por conseguinte, fortalecer todo o plano dinâmico da
ação, deve-se registrar os desvios do normal nos três níveis e
com todos os detalhes de suas características individuais. Como
exemplo, damos a seguir apenas uma pequena amostra dos
tipos de questões que o médico homeopata deve colocar ao
paciente: todas as influências que alteram o achaque principal
apresentado pelo paciente; tolerância ao calor e ao frio do meio
ambiente; efeito da umidade e das mudanças do tempo; hora do
dia ou da noite em que o paciente se sente pior de forma geral;
efeitos de todos os alimentos naturais; quaisquer desejos ou
aversões fortes por comida; posição e grau de conforto durante o
sono; quaisquer ansiedades ou fobias que o paciente, possa ter;
se existe alguma irritabilidade e em que circunstâncias; como
funciona sua mente em várias situações, etc. Todas essas
questões, e muitas outras, devem ser exploradas
detalhadamente, a fim de elucidar a totalidade dos sintomas
individuais, que indicam em cada circunstância a direção e a
forma que o mecanismo de defesa decidiu ser a melhor a tomar.
As áreas mais importantes dos sintomas, para o médico
homeopata, são as que se relacionam com as funções básicas
que ocupam a atenção da pessoa. Todos necessariamente dão
uma considerável atenção às coisas que dizem respeito ao
conforto ambiental, comida, sexo, sono, relações com as
pessoas amadas, problemas financeiros e influências de sua
ocupação ou do trabalho doméstico. Essas áreas da existência
humana são de importância mais fundamental para o médico
homeopata do que os detalhes clínicos reais da doença do
coração do paciente, do lupus eritematoso, das enxaquecas, etc.
O conhecimento clínico, naturalmente, desempenha um papel na
125
escolha do agente terapêutico, mas seu papel é muito menos
significativo para a homeopatia do que para a medicina alopática.

Samuel Hahnemann
Antes de prosseguir, seria útil fazer uma pequena pausa para
examinar a vida de Samuel Hahnemann, o notável gênio que
descobriu, desenvolveu e sistematizou as leis fundamentais da
cura, que estão produzindo mudanças revolucionárias no
pensamento relativo à saúde e à doença. A história de
Hahnemann revela um dos casos mais singulares de
descobertas da história da medicina.
Ao comentar a lei dos semelhantes, Hahnemann foi o primeiro a
admitir que esse conceito fora posto de lado por outros na
história. ocidental, a começar pelo próprio Hipócrates. Apesar
dessas especulações anteriores, no entanto, ninguém antes de
Hahnemann reconheceu a verdadeira importância do conceito,
nem muito menos procedeu à sua sistematização como ciência
terapêutica completa.
Hahnemann nasceu em 1755 numa pequena cidade da
Alemanha e desde cedo demonstrou notáveis habilidades. O pai,
que reconhecia as qualidades do filho, ensinou-lhe desde cedo a
ter disciplina; costumava trancar o jovem Samuel numa sala
onde ele tinha de fazer "exercícios de raciocínio" - exigindo que
ele resolvesse sozinho os problemas, pois "o garoto precisa
aprender a pensar". Hahnemann possuía grande talento para as
línguas e já aos doze anos seu instrutor o fazia ensinar grego
aos outros alunos.
Hahnemann estudou medicina na Universidade de Leipzig, em
Viena, e em Erlangen, diplomando-se em 1779, e logo tornou-se
muito respeitado nos círculos profissionais pelas suas
comunicações escritas, tanto sobre medicina quanto sobre
química. Mesmo assim, ficava muito perturbado com a falta de
126
um pensamento fundamental subjacente à terapêutica da época,
que consistia em sangria, catárticos, ventosas e o uso de
substâncias químicas tóxicas. Hahnemann escreveu a um de
seus amigos:
"Para mim, foi uma agonia estar sempre no escuro quando tinha
que curar o doente e prescrever, de acordo com essa ou aquela
hipótese relacionada com as doenças, substâncias que tinham o
seu lugar na matéria médica, por uma decisão arbitrária... Logo
depois do meu casamento, renunciei à prática da medicina para
não mais correr o risco de causar danos e me dediquei
exclusivamente à química e às ocupações literárias. Mas tornei-
me pai, e doenças sérias ameaçavam meus amados filhos...
Meus escrúpulos duplicaram quando percebi que eu não lhes
podia dar nenhum alívio".
Ele voltou à profissão de tradutor de trabalhos médicos, mas sua
mente inquiridora estava sempre à procura dos princípios
fundamentais sobre os quais devia se basear a terapia. Foi
enquanto traduzia a edição da matéria médica de Cullen que
deparou com a idéia que o levou à revolucionária descoberta.
Cullen era professor de medicina da Universidade de Edimburgo
e havia devotado vinte páginas de sua matéria médica às
indicações terapêuticas sobre quina, cujo sucesso no tratamento
da malária ele atribuía ao fato de a erva ser amarga. Hahnemann
estava tão insatisfeito com essa explicação que decidiu prová-Ia
ele mesmo, ato completamente inusitado na época. Diz ele:
"Tomei, como experiência, duas vezes ao dia, quatro dracmas de
boa quina. Meus pés e as extremidades dos dedos logo ficaram
frios; fui ficando lânguido e sonolento, depois ocorreram
palpitações de coração e o pulso ficou fraco; ansiedade
intolerável, tremor, prostração de todos os meus membros; em
seguida, latejamento na cabeça, vermelhidão das faces, sede, e,
resumindo, apareceram todos esses sintomas, que são
ordinariamente característicos da febre intermitente, um após o
127
outro, sem, no entanto, o frio peculiar e o calafrio.
Em suma; até mesmo esses sintomas que ocorrem regularmente
e são especialmente característicos - como o embotamento da
mente, aquela espécie de rigidez dos membros e, acima de tudo,
a desagradável sensação de entorpecimento, que parece ocorrer
no periósteo, espalhando-se para todos os ossos do corpo - tudo
isso apareceu. Esse acesso durava duas ou três horas de cada
vez e só reaparecia se eu repetisse a dose; caso contrário, não;
interrompi a dosagem e fiquei com boa saúde.

Dessa forma, Hahnemann incidentalmente acabou descobrindo a


idéia de que a mesma substância que produz os sintomas numa
pessoa normal pode curá-Ios numa pessoa doente. E, o que é
mais fundamental ainda, ele reconheceu a necessidade da
experimentação humana no delineamento das indicações
curativas dos agentes terapêuticos. Assim, ele e outros médicos
com a mesma formação começaram a provar as substâncias
neles próprios, de maneira sistemática, e a registrar suas
observações nos mínimos detalhes. Essa experiência continuou
por seis anos, durante os quais Hahnemann também compilou
uma lista exaustiva dos envenenamentos registrados por
diversos médicos em diferentes países nos séculos da história
médica.
Ele e os colegas começaram a experimentar a lei dos
semelhantes em casos clínicos e imediatamente começaram a
obter resultados estarrecedores, que de longe ultrapassavam os
resultados alopáticos da época. No Aforismo 19 do Organon,
escrito depois de ter adquirido bastante experiência e ter-se
tornado conhecido por seus resultados, Hahnemann sintetiza a
importância fundamental da descoberta:
"Então, como as doenças nada mais são do que alterações do
estado de saúde do indivíduo saudável, que se expressam
através de sinais mórbidos, e como a cura também é possível
128
somente através de uma mudança da condição saudável do
estado de saúde do indivíduo doente, é bastante evidente que os
remédios jamais poderiam curar as doenças se não possuíssem
o poder de alterar o estado de saúde do homem, que depende
das sensações e funções; na verdade, seu poder curativo deve-
se apenas ao poder que possuem de alterar o estado de saúde
do homem".
O procedimento sistemático de testar as substâncias em seres
humanos saudáveis para elucidar os sintomas que refletem a
ação da substância é chamado de "experimentação".
Hahnemann desenvolveu procedimentos específicos para
conduzir uma experimentação, e os procedimentos que cabem
às condições e circunstâncias modernas serão fornecidos neste
livro. As experimentações continuam desde o tempo de
Hahnemann e são a base para a escolha de um determinado
medicamento para um paciente em particular. Dessa forma, a
manifestação do sintoma do paciente e a manifestação do
sintoma do medicamento se combinam, possibilitando que os
princípios de ressonância excitem e fortaleçam o mecanismo de
defesa, provocando a cura.

A experimentação dos medicamentos


Durante uma experimentação, introduzimos no organismo uma
substância de concentração suficientemente alta para perturbar o
organismo e mobilizar seu mecanismo de defesa. O mecanismo
de defesa produz um espectro de sintomas nos três níveis do
organismo; esse espectro, então, caracteriza a natureza peculiar
e única da substância; Da mesma forma, anotamos os sintomas
do paciente, registrando o modo característico pelo qual seu
organismo reagiu ao estímulo morbífico no plano dinâmico. Em
ambos os casos, a causa excitante deve ser suficientemente
forte para mobilizar o mecanismo de defesa, de forma que haja
129
produção de sintomas. Isso ocorre somente se o agente for su-
ficientemente forte ou se a pessoa for suficientemente sensível à
freqüência vibratória da substância.
Felizmente para a ciência terapêutica, os quadros de sintomas
dos medicamentos combinam de forma totalmente acurada com
o quadro de sintomas de virtualmente tódas as doenças
existentes, em todas as suas variedades. Existem atualmente
centenas de medicamentos que foram experimentados dessa
forma e que cobrem a maior parte das perturbações possíveis do
ser humano.
Para se poder dizer que uma droga foi totalmente ex-
perimentada, no entanto, antes ela deve ter sido testada numa
pessoa saudável nas doses tóxica, hipotóxica e altamente diluída
e potencializada (a potencialização será discutida no próximo
capítulo). Em segundo lugar, devem ser anotados os sintomas
produzidos pela droga nos três níveis. Em terceiro, a ação da
substância deve ser completada pela observação dos sintomas
que desapareceram depois que o medicamento produziu a cura.
Se forem registrados os sintomas de uma experimentação
apenas no nível físico, ela ainda está incompleta. Épor essa
razão que a simples toxicologia descrita nas escolas de medicina
é insuficiente. Os sintomas têm sido registrados de forma muito
grosseira, sem uma informação individualizada adequada, sendo,
ademais, anotadas quase exclusivamente as ações no nível
físico.
No capítulo 10 serão fornecidas maiores elaborações sobre as
técnicas específicas para se conduzir uma experimentação, e
será apresentada uma das provas originais de Hahnemann como
exemplo do detalhamento específico com que é considerada a
ação das substâncias.

Sumário do capítulo 6

130
1. O plano dinâmico permeia todos os níveis do organismo da
mesma forma como o campo eletromagnético permeia a matéria,
sendo a origem de todas as ações do corpo, tanto na saúde
quanto na doença. Um sistema altamente organizado reage ao
estresse, produzindo sempre a melhor resposta possível.
2. As medidas terapêuticas que se utilizam do plano dinâmico
tanto podem agir de forma indireta, através de um único nível,
quanto de forma direta, atuando sobre o próprio plano dinâmico.
3. Três modos terapêuticos podem agir diretamente no plano
dinâmico: a acupuntura, a "imposição das mãos", feita por um
indivíduo espiritualmente evoluído, e a homeopatia.
4. A lei dos semelhantes combina o sintoma manifestado no
plano dinâmieo em um paciente com o sintoma análogo de uma
substância terapêutica manifestada num indivíduo saudável para
estabelecer a ressonância entre o paciente e o medicamento.
5. A lei dos semelhantes afirma: qualquer substância que possa
produzir uma totalidade de sintomas num ser humano saudável
pode curar essa totalidade de sintomas num ser humano doente.
6. A lei dos semelhantes foi a contribuição. básica de Samuel
Hahnemann, um médico alemão insatisfeito com as práticas
grosseiras de seu tempo. Hahnemann sistematizou essa lei
fazendo "experimentações", ou registros sistemáticos, dos
sintomas produzidos pelas substâncias nos seres humanos
saudáveis.
7. Para ser completa, uma experimentação deve ser testada
numa gama completa de doses (ou potências); os sintomas
registrados devem incluir os três níveis do indivíduo; devem ser
incluídos os sintomas dos pacientes doentes curados depois da
administração do medicamento.

Capítulo 7
O agente terapêutico no plano dinâmico

131
Apresentamos, dessa forma, o conceito de plano dinâmico
eletromagnético e a lei dos semelhantes, que nos permite utilizar
o princípio de ressonância para estimulá-Ia. O próximo passo
lógico será desenvolver os agentes terapêuticas que estão no
plano dinâmico e que são capazes de afetar esse domínio do
organismo humano. O propósito deste capítulo é demonstrar de
que maneira, mais especificamente, a ciência da homeopatia
alcançou esse objetivo através da técnica da potencialização, de
Hahnemann.
Se refletirmos sobre o fato de que cada substância tem um
campo eletromagnético (desde os organismos simples até o
planeta como um todo), podemos afirmar que qualquer
substância administrada a uma pessoa tem pelo menos o
potencial para afetar o organismo de duas formas. Por um lado, a
substância pode ter um efeito químico, como o que percebemos
nos alimentos, vitaminas, drogas, tabaco, café, etc. E, por outro
lado, pode ter um efeito sobre o campo eletromagnético do corpo,
causado pelo campo eletromagnético correspondente da
substância, especialmente se os níveis de vibração forem
suficientemente próximos, tendo a mesma ressonância.
Normalmente, é claro, o efeito eletrodinâmico de uma substância
em estado natural pode ser muito fraco para ser notado; por outro
lado, pode desempenhar um papel importante em circunstâncias
tais como os banhos minerais, os banhos de mar, os cataplas-
mas, etc.
Com relação ao organismo humano, as substâncias podem ser
prontamente classificadas como biologicamente inertes ou
biologicamente ativas. As substâncias biologicamente inertes
como o ouro, a sílica, o ferro metálico, a platina, a celulose, etc.,
são química e energicamente "fechadas" à interação com o corpo
humano. Elas apenas passam pelo sistema intestinal, tendo um
efeito meramente mecânico. A sua influência eletromagnética
sobre o organismo é tão pequena que nem mesmo pode ser
132
detectada.
Uma substância biologicamente ativa é aquela em que as
energias químicas, ou outras, são "abertas" à interação com o
corpo; existe uma afinidade química entre a substância e o
organismo. Se alguém comer uma fruta, tomar uma pílula de
vitamina ou ingerir um comprimido de aspirina, imediatamente
ocorrerão reações químicas complexas, que criam efeitos em
muitos órgãos do corpo. As substâncias biologicamente ativas
podem ter efeitos benéficos, no caso da comida, ou podem ter
efeitos altamente tóxicos, no caso de doses suficientes de
arsênico, mercúrio ou drogas alopáticas. Essas substâncias
tóxicas causarão algum efeito virtualmente em qualquer pessoa
que as use, mas o grau de toxidade de uma determinada dose
variará de um indivíduo para outro. Uma pessoa com um grau
muito alto de sensibilidade, ou "afinidade", pode reagir de
maneira tão violenta que lhe sobrevenha a morte, ao passo que
outra pessoa com menor sensibilidade a essa substância pode
ter uma reação mais amena. Como descobriu Hahnemann com
seus estudos sobre a sintomatologia dos envenenamentos, a
própria sensibilidade da pessoa a uma determinada substância
pode ser a expressão da ressonância entre esta pessoa e a
substância; na homeopatia, essa ressonância é utilizada como
princípio terapêutico.
É possível que ocorra a cura da doença por intermédio de um
agente biológico ativo mesmo em forma natural, se a
ressonância, ou afinidade, da pessoa se combinar o bastante
com a vibração da substância. Essa é a explicação provável para
o benefício que algumas pessoas recebem ao se banharem em
águas minerais. Nem todos conhecem um efeito benéfico,
naturalmente; alguns podem sentir uma piora depois de se
exporem ao banho; a maioria experimenta um efeito relativo, e
talvez de 15 a 20 por cento sintam um alívio dos sintomas e um
aumento geral da vitalidade. Muito provavelmente, os que
133
experimentam algum benefício (e isso já foi registrado nos que
experimentam agravamento) estão com seus planos
eletromagnéticos ressoando intimamente com um dos muitos
minerais presentes nas águas. Esse benefício pode durar de seis
a nove meses; depois, há uma recaída. Se a pessoa retorna ao
banho, observa-se, então, que a segunda exposição produz um
benefício menos duradouro, de, digamos, cerca de três meses.
Na terceira ou quarta exposição, pode não haver nenhum
benefício. Os estímulos terapêuticos que inicialmente ocorreram
no plano dinâmico pela ação do mineral em forma natural
tornaram-se, finalmente, muito fracos para continuar afetando o
mecanismo de defesa da pessoa.
A mesma observação é geralmente percebida na administração
de medicamentos à base de ervas. Se por acaso uma das ervas
pertencentes a uma fórmula em particular ressonar com o plano
dinâmico do paciente, deve ocorrer um benefício que pode durar
por um bom tempo. Se, no entanto, o mecanismo de defesa do
paciente estiver muito enfraquecido, haverá uma recaída. Então,
descobrir-se-á que a administração da mesma erva produzirá um
efeito menos intenso ou de menor duração do que o da
prescrição original. Isso porque a ação dinâmica da erva não foi
intensificada, enquanto o mecanismo de defesa pode ter sido
enfraquecido, mais até do que seu estado original. Como foi dito
antes, é possível proceder a observações similares com relação
aos efeitos curativos acidentais da acupuntura, das drogas
alopáticas e de outras terapias.
Para produzir resultados curativos de longa duração, é
necessário aumentar a intensidade do campo eletromagnético do
agente terapêutico, ou, em outras palavras, liberar a energia
contida na substância a fim de torná-Ia mais disponível para a
interação com o plano dinâmico do organismo. Foi nesse ponto
que Samuel Hahnemann fez sua segunda engenhosa
contribuição para a medicina, projetando a técnica da
134
potencialização. Ainda é desconhecida a maneira exata pela qual
Hahnemann deparou com essa técnica, se ela surgiu de sua
experiência anterior com a química ou por simples inspiração
divina. De qualquer modo, ele desenvolveu um método bastante
simples para extrair a energià terapêutica de uma substância sem
alterar seu grau de vibração. Assim, o "medicamento
homeopático" resultante é uma forma de energia intensificada
que pode ainda ser administrada de acordo com o princípio
básico de ressonância da lei dos semelhantes, mas agora com
capacidade acentuada para afetar o plano dinâmico do orga-
nismo e, por conseguinte, produzir uma cura duradoura de todo o
organismo.
Como foi descrito no capítulo anterior, a primeira grande
descoberta de Hahnemann foi a importância de "experimentar" as
substâncias em seres humanos voluntários e saudáveis para
obter uma completa descrição da sintomatologia da substância.
Infelizmente, no entanto, a maioria das substâncias
potencialmente úteis são altamente tóxicas em sua ação
biológica - substâncias como o arsênico, o mercúrio, a beladona,
os venenos de cobra, etc. Dispunha-se de alguma informação
sobre os envenenamentos provocados por essas substâncias,
mas a sintomatologia não era tão acurada como Hahnemannn
necessitava para a prescrição homeopática. Foi nesse processo
de luta para resolver o problema que Hahnemann fez sua
descoberta.
De início, ele simplesmente tentou diluir as substâncias. Isso
acontecia, naturalmente, ao reduzir a toxicidade dos agentes,
mas o processo também reduzia proporcionalmente o efeito
terapêutico. Hahnemann, então, descobriu, de alguma forma, a
técnica de adicionar energia cinética às diluições, agitando, ou
seja, por meio da "sucussão". A essa combinação da sucussão
com a diluição serial Hahnemann chamou "potencialização" ou
"dinamização". A observação decisiva foi a de que, quanto mais
135
a substância for submetida à sucussão, e diluída, maior será o
efeito terapêutica, enquanto ao mesmo tempo fica neutralizado o
efeito tóxico.
Vamos agora descrever de que maneira as farmácias
homeopáticas preparam seus remédios. Serão fornecidas
descrições detalhadas no capítulo 11, mas é importante que se
faça aqui, em favor da clareza, uma breve descrição.
Inicialmente, a substância é dissolvida numa solução de
álcool/água pelo mesmo modo padrão da química ou da
botânica. Uma gota da "tintura" é, então, diluída em nove ou 99
gotas de uma solução de 40 por cento de álcool/água. Essa
diluição é submetida, em seguida, a sucussão com grande força
por cem vezes. Uma gota dessa solução que foi submetida a
sucussão é acrescentada a nove ou 99 gotas de solvente fresco,
o qual por sua vez é submetido a sucussão por cem vezes e
diluído da forma anterior. Esse processo, literalmente, pode
continuar indefinidamente, aumentando sempre o poder
terapêutico e ao mesmo tempo neutralizando as propriedades
tóxicas.
Na homeopatia existe uma nomenclatura específica para cada
"potência" ou diluição. Se as diluições seriais forem feitas na
base de 1/10, a escala é chamada "decimal", e os números
resultantes da potência são designados por "X"; por exemplo, a
primeira diluição 1/10 é chamada de potência 1X, a segunda,
potência 2X, a trigésima diluição, 30X. Se as diluições são feitas
na base de 1/100, a escala é chamada de escala "centesimal" e
designada por um "c"; desse modo, a primeira diluição 1/100 é
chamada de 1c, a trigésima diluição, de 30c e a centésima
diluição, de 1000c.
De acordo com as leis da química, há um limite para a
quantidade de diluições seriais que podem ser feitas sem perda
da substância original. Esse limite é chamado de "número de
Avogadro", que corresponde, aproximadamente, à potência
136
homeopática de 24X (equivalente a 12c). Desse modo, qualquer
potência além de 24X ou 12c não tem, virtualmente, nenhuma
chance de conter uma molécula sequer da substância original.
Neste ponto poder-se-ia pensar que uma potencialização a mais
deixaria de ser eficiente, mas, na verdade, as potências em
escala bem superior a esse "limite" continuam a aumentar de
poder. Até hoje não foi encontrado nenhum limite, embora os
médicos homeopatas usem freqüentemente,e com sucesso,
potências superiores a 100.000c. Para dar ao leitor uma idéia de
como essa potência é extremamente diluída, vamos descrever as
diluições em termos de fração numeral; o número de A vogadro
corresponderia aproximadamente a uma diluição representada
por 1/1.000... até um total de 24 zeros. Uma potência de
100.000c seria representada por uma diluição de 1/100.000... até
um total de 100.000 zeros - o que se situa inconcebivelmente
muito além do ponto em que se pode encontrar alguma molécula
da substância original!
Como podemos saber se realmente o poder terapêutico das
potências aumenta com as diluições e sucussões posteriores?
Isso é confirmado pelas freqüentes observações clínicas dos
homeopatas. Uma vez selecionado o medicamento correto, de
acordo com a lei dos semelhantes, é certo que este atuará até
mesmo em estado natural. Por exemplo, um paciente com febre
de beladona (com todos os sintomas homeopáticos
individualizados que foram encontrados nas provas da beladona)
responderá até mesmo a umas poucas gotas da tintura de
beladona. No entanto, a resposta pode ser diminuta e de curta
ação. Se for dada uma potência 12X de beladona, o alívio
provavelmente será mais surpreendente. Se, no entanto,
administrarmos uma potência de 10.000c, provavelmente a
resposta será o desaparecimento completo de todos os sintomas
em algumas horas, sem nenhuma recaída.
Vemos também outros tipos de casos em que a substância em
137
estado natural, bem como as potências baixas até 30c, não
atuam. Uma vez encontrada a potência correta, no entanto, que
pode ser alta, de 100.000c, seguir-se-á uma cura notável e
duradoura.
A afirmação de que apenas por meio de sucussão e de diluição
serial o poder terapêutico de uma substância pode "ser
aumentado sem limites, enquanto é anulada sua toxicidade,
certamente parece chocar nossa compreensão usual da física e
da química. Os resultados clínicos dos homeopatas de todo o
mundo, que rotineiramente fazem uso de potências além do
número de Avogadro, não podem ser negados, mas então o que
na verdade ocorre durante o processo de potencialização?
Sabemos que somente a diluição não é suficiente para produzir o
fenômeno. A sucussão acrescenta energia cinética à solução, o
que é importante. Se fizermos apenas a sucussão em uma
solução, sem diluí-Ia mais, ocorrerá uma elevação de nível de
apenas uma potência, não importa quantas vezes a
submetermos à sucussão; por conseguinte, ambas são
necessárias, tanto a sucussão quanto a diluição. Sabemos
também que, quanto mais sucussão e diluição houver, maior será
o poder terapêutico, chegando inclusive a ultrapassar o ponto em
que existe apenas uma molécula remanescente da substância
original.
Pelo que até agora sabemos, não há nenhuma explicação, tanto
na física quanto na química modernas, para tal fenômeno.
Parece que por meio dessa técnica alguma forma nova de
energia é liberada. A energia contida de forma limitada na
substância original é, de certo modo, liberada e transmitida às
moléculas do solvente. Uma vez que não mais esteja presente a
substância original, a energia remanescente no solvente pode ser
intensificada ad infinitum. As moléculas do solvente empregam a
energia dinâmica da substância original. Pelos resultados
clínicos, sabemos que a energia terapêutica ainda retém a
138
"freqüência vibratória" da substância original, mas essa energia
foi intensificada a um tal grau que é capaz de estimular o plano
dinâmico do paciente de forma suficiente para produzir uma cura.
As descobertas do processo de potencialização e da lei dos
semelhantes, feitas por Hahnemann, realmente revolucionaram a
potencialidade científica da terapêutica. Por um lado, o princípio
da lei dos semelhantes virtualmente nos forneceu um método
para combinar as vibrações ressonantes de quaisquer
substâncias do meio ambiente com a do paciente. Como vimos
nos casos de alívio temporário
resultantes da administração de agentes terapêuticos em estado
natural, a substância em estado natural freqüentemente possui
intensidade insuficiente para produzir uma cura permanente. Por
outro lado, com a descoberta feita por Hahnemann de uma
técnica para aumentar indefinidamente a intensidade terapêutica
do plano dinâmico, possuímos, agora, um modo de estimular ,o
mecanismo de defesa do paciente com a intensidade necessária,
seja ela qual for, para dominar a intensidade da doença.
A descoberta precisa da maneira pela qual a energia é
transferida para o solvente, por meio dessa técnica, terá de ser
deixada para os físicos e químicos. Talvez existam poucos
indíciôs a serem descobertos nos limites da experiência empírica
dos homeopatas. Uma propriedade já definida dos medicamentos
homeopáticos é a sua grande sensibilidade aos raios do sol. Se
um medicamento for exposto diretamente ao sol, todo o seu
poder terapêutico se perde. Também parece ser verdade que os
medicamentos podem ser desativados pela exposição a uma
temperatura acima de 110-120ºF. Muitos homeopatas relatam,
além disso, que pelo menos alguns medicamentos são
desativados pela exposição a substâncias fortemente aromáticas,
especialmente a cânfora. A causa pela qual essas exposições
desativam tão rapidamente os medicamentos é até agora
desconhecida, mas pelo menos esperamos que esses indícios,
139
que aparecem com a experiência, forneçam algum dia indicações
para que os pesquisadores possam tentar encontrar a natureza
exata dessa energia.
Enquanto a homeopatia se torna cada vez mais respeitada pela
surpreendente eficácia na cura de doenças de todos os tipos,
agudas ou crônicas, podemos ter esperança de que os
pesquisadores comecem a investigar a natureza dos
medicamentos homeopáticos. Conhecendo mais a respeito de
suas propriedades, será possível apurar nossas técnicas de
combinação dos medicamentos e potências aos pacientes,
individualmente, com uma precisão maior do que nos é possível
na atualidade. Essa é a única possibilidade que deve motivar os
investigadores a entrar nesse campo; é uma área de pesquisa
com amplos campos abertos tanto para as profundas
descobertas teóricas quanto para a aplicação prática, em
benefício da humanidade.

Sumário do capítulo 7
1. Toda substância, seja ela animada ou inanimada, possui um
campo eletromagnético.
2. Qualquer substância pode afetar o organismo humano de uma
dessas duas formas: pela ação química direta ou pela interação
dos campos eletromagnéticos, se as freqüências estiverem
suficientemente próximas para ressoar.
3. As substâncias biologicam.ente inertes são "fechadas" química
e energeticamente à interação com o corpo humano.
4. As substâncias biologicamente ativas podem agir
quimicamente sobre os tecidos do corpo. A reação específica do
organismo depende do grau de sensibilidade, ou "afinidade", para
com a substância.
5. Se a sensibilidade for suficientemente próxima, até mesmo a
forma natural de um,a substância biologicamente ativa pode ser
140
terapêutica, embora, de modo geral, o efeito seja apenas
temporário.
6. Para se obter resultados curativos duradouros, é necessário
aumentar a intensidade do campo eletromagnético da substância.
Isso é feito pela potencialização, através da sucussão e da
diluição. Apenas a sucussão ou a diluição não são eficazes.
7. Não há limites para o grau de possibilidades da
potencialização, até mesmo quando o número de Avogadro for
excedido e nenhuma molécula da substância original estiver
presente.
8. Por enquanto, não há explicação alguma disponível para esse
fenômeno, embora sua validade seja inegável. De certo modo, a
força do campo eletromagnético da substância original é
transferida para as moléculas do solvente sem, no entanto,
mudar a freqüência de ressonância.
9. Os medicamentos possuem propriedades que podem ser
indícios úteis para a futura pesquisa do fenômeno da
potencialização: elas são desativadas quando expostas à luz
indireta do sol, ao calor excessivo, acima de 110-120ºF e, talvez,
a substâncias aromáticas como a cânfora.

Capítulo 8
A interação dinâmica da doença
Até aqui, descrevemos o organismo humano como uma
totalidade integrada que responde aos estímulos morbíficos
externos inicialmente pela mudança no grau de vibração do nível
dinâmico eletromagnético. Se o mecanismo de defesa for fraco
ou o estímulo for muito poderoso em relação a ele, o grau de
vibração permanecerá alterado e o organismo será incapaz de
retomar ao estado original por si mesmo. Por essa razão,
potencializamos as substâncias para que possam, então, atuar,
fortalecendo o nível dinâmico, e as prescrevemos de acordo com
141
a lei dos semelhantes, de forma a tirar vantagem do princípio de
ressonância entre o agente terapêutico e o nível de vibração
resultante do organismo. Os estímulos capazes de alterar a
freqüência de ressonância do organismo podem ser fracos e
passageiros, como nas mudanças da umidade ou da pressão
barométrica, ou podem ser muito poderosos, como os profundos
choques emocionais ou estados de estresse prolongados e
graves. Neste capítulo examinaremos um pouco mais algumas
das influências mais poderosas que podem, de maneira profunda
e crônica, alterar a saúde de um indivíduo. Pela experiência
homeopática, três dessas poderosas influências, que devem ser
levadas em conta na história de um paciente, são as poderosas
enfermidades agudas, as terapias supressivas e as vacinas.
Essas três influências, quando o organismo está enfraquecido e
sua vibração, em um nível sensível, podem se tornar pontos crí-
ticos no histórico da saúde de um indivíduo.

A influência da doença aguda


Como discutimos na introdução, virtualmente todos nós temos,
em certo grau, uma tendência para a doença crônica que
influencia a nossa saúde a vida toda. Certas pessoas possuem
uma constituição relativamente forte, enquanto outras têm-na
completamente fraca. Na ausência de uma terapia curativa ou de
choques maiores ao sistema, o grau de vibração de um
determinado indivíduo variará dentro de uma certa gama de
suscetibilidades à doença. Dependendo da nutrição, da
quantidade de repouso e de sono, do estresse emocional, dos
estímulos ambientais, etc., haverá variação de hora para hora e
de dia para dia dentro de um certo espectro de suscetibilidade,
mas o organismo não saltará para níveis maiores, superiores ou
inferiores, sem o impacto de influências poderosas. Dessa
maneira, uma pessoa pode variar sua suscetibilidade a
142
resfriados, erupções menores da pele e disposições passageiras
de ânimo; mas a mesma pessoa provavelmente não saltará para
níveis mais importantes tornando-se, de repente, psicótica. Ou,
pelo contrário, um indivíduo psicótico p'rovavelmente não
adquirirá, espontaneamente, clareza mental e emocional para
depois apresentar somente sintomas em níveis mais periféricos.
Uma das influências mais importantes, que pode alterar de modo
adverso a saúde de um indivíduo, é a aquisição de uma doença
aguda à qual, em determinado momento, o indíviduo está muito
sensível. Todo médico bastante experiente tem encontrado
pacientes que se queixam de artrite por muitos anos, depois de
sofrerem uma gripe séria, ou que têm uma recaída de bronquite
crônica depois de uma pneumonia grave, ou que nunca mais
voltam a ter o mesmo nível de vitalidade depois de uma mono-
nucleose ou de uma hepatite. As mudanças mais importantes da
saúde não são provocadas por males pequenos à que o paciente
é sensível apenas temporariamente; mas quando o sistema é
enfraquecido a um nível particular de sensibilidade, essas
mudanças podem ocorrer, tornando-se o indivíduo incap,az de
voltar ao nível anterior sem auxílio. Essas são as circunstâncias
em que a homeopatia produz resultados extraordinários.
Samuel Hahnemann era um observador particularmente
perspicaz das interações que podem ocorrer entre os diferentes
estados de doença. Suponhamos que uma pessoa tem tendência
a uma determinada doença crônica, adquirindo depois outra
doença, à qual é fortemente sensível. Qual será o resultado
dessa interação para a saúde do indivíduo? Hahnemann
descreve as possibilidades nos seguintes aforismos.

Aforismo 36
I. Se as duas doenças dessemelhantes e coincidentes no ser
humano forem de intensidade equivalente ou, ainda, se a mais
antiga for mais forte, a nova doença será repelida do corpo pela
143
antiga e não lhe será permitido que o afete. Um paciente que
sofre de uma doença crônica grave não será atacado por uma.
disenteria outonal moderada ou por outra doença epidêmica... Os
que sofrem de tuberculose pulmonar não estão sujeitos ao
ataque de febres epidêmicas de caráter pouco violento."

Aforismo 38
II. Ou se a nova doença dessemelhante for mais forte.
Neste caso, a doença de que o paciente antes padecia, sendo
mais fraca, será contida e suspensa pela superveniência da mais
forte, até que esta complete seu curso ou seja curada e, então, a
antiga reaparece, incurada. Duas crianças afetadas por uma
espécie de epilepsia ficaram livres dos ataques depois de
contraírem uma infecção de tinhà (tínea); mas tão logo
desapareceu a erupção na cabeça a epilepsia manifestou-se
novamente exatamente como antes... Assim, também a tísica
pulmonar permaneceu estacionária quando o paciente foi
atacado por um violento tifo, mas continuou novamente depois
que este completou seu curso. Se ocorrer mania em um paciente
tuberculoso, a tísica com todos os seus sintomas será eliminada
pela primeira; mas se esta desaparecer, a tísica retomará
imediatamente, sendo fatal... E assim é com todas as doenças
dessemelhantes; a mais forte suspende a mais fraca (quando
uma não complica a outra, o que quase nunca acontece com as
doenças agudas), mas elas nunca se curam uma à outra.

Aforismo 40
lII. Ou a nova doença, depois de ter agido durante muito tempo
no organismo, junta-se por fim à antiga, que lhe é
dessemelhante, e forma com ela uma doença complexa, de
forma que cada uma delas ocupa um determinado lugar no
organismo, isto é, os órgãos que lhe são peculiarmente
adaptados e o espaço que, de forma especial, lhe pertence,
144
deixando o restante para a outra doença, que lhe é
dessemelhante... Como doenças dessemelhantes, elas não
podem eliminar nem curar uma à outra... Quando duas doenças
agudas infecciosas e dessemelhantes se encontram, como a
varíola e o sarampo, uma geralmente suspende a outra, como foi
observado antes; no entanto, também houve epidemias gràves
desta espécie em que, em casos raros, duas doenças agudas
dessemelhantes ocorreram simultaneamente no mesmo corpo e,
por um curto período, combinaram-se, por assim dizer, entre si.

"Aforismo 43
No entanto, o resultado é inteiramente diferente quando duas
doenças semelhantes coincidem no organismo, quando, por
assim dizer, à doença já existente se acrescenta uma semelhante
e mais forte. Em tais casos vemos como a cura pode ser
efetuada pelas operações da natureza, e aprendemos uma lição
de como deve o homem curar-se.

Aforismo 44
Duas doenças semelhantes não podem repelir-se (como se
afirma em relação às doenças dessemelhantes, em I) nem (como
foi mostrado a respeito das doenças dessemelhantes, em 11)
suspender uma à outra, de forma que a mais antiga retoma
depois que a nova tenha completado seu curso; e é bem pouco
provável também que duas doenças semelhantes (como foi
demonstrado em III com referência às afecções dessemelhantes)
coexistam no mesmo organismo, ou juntas formem uma doença
complexa dupla."

Aforismo 45
É verdade que nem mesmo duas doenças diferentes em espécie,
mas muito semelhantes nos seus fenômenos, efeitos,
sofrimentos e sintomas graves que produzem, invariavelmente se
145
destroem mutuamente sempre que coincidem no organismo; isto
é, a doença mais forte destrói a mais fraca, e isso pela simples
razão de que o poder morbífico mais forte, quando invade o
sistema, em virtude de sua semelhança de ação, envolve
precisamente as mesmas partes do organismo que foram
anteriormente afetadas pela irritação morbífica mais fraca, a qual,
por conseguinte, não pode mais agir sobre essas partes, sendo
extinta, ou (em outras palavras) a potência morbífica nova e
semelhante, porém mais forte, controla as sensações do paciente
e daí em diante o princípio vital, em virtude de sua própria
peculiaridade, não pode mais sentir a doença semelhante e mais
fraca, que se extingue - deixa de existir -, pois nunca foi algo
material, mas sim uma afecção (conceitual) dinâmica - de
inclinação espiritual. Somente o princípio da vida, doravante, é
afetado, e apenas temporariamente, pela nova potência
morbífica, mais forte e semelhante.

As descrições de Hahnemann podem ser prontamente


entendidas em termos do modelo considerado neste livro.
Quando ele fala das doenças dessemelhantes, refere-se às
doenças pertencentes, aproximadamente, ao mesmo espectro;
que estão bem próximas de ressonarem com o organismo em
determinado grau, mas que não estão próximas o suficiente para
se destruírem mutuamente. Nessas circunstâncias, a intensidade
da doença é o fator crucial. Se duas doenças forem bastante
semelhantes (possuindo quase a mesma ressonância), irão
estimular o mecanismo de defesa de tal modo que se destruirão
completamente; neste exemplo, o fator crucial está mais na
semelhança do que na intensidade das doenças. Naturalmente,
se alguém estiver exposto a uma doença de extrema
dessemelhança, estando em um nível totalmente diferente, o
organismo simplesmente não responderá. Todos nós nos
expomos todos os dias aos agentes potencialmente morbíficos,
146
mas apenas ocasionalmente, na verdade, contraímos a doença -
dependendo do nível dê sensibilidade vibratória e dó grau de
fraqueza do mecanismo de defesa no momento.
No próximo capítulo veremos como são importantes esses
conceitos de interação para a saúde. Se influências de doenças
suficientemente poderosas ocorrerem na vida de um indivíduo, o
mecanismo de defesa irá se enfraquecendo de maneira
progressiva em camadas. Essas camadas de predisposição são
chamadas, na homeopatia, de "miasmas", tornando-se fatores
importantes para qualquer médico que cuide de doenças
crônicas.

Terapias supressivas
Comentei durante todo o livro os perigos de se prescrever
agentes terapêuticos baseando-se apenas em sintomas locais,
enquanto se ignora a totalidade da expressão do sintoma. A
medicina alopática, em partictllar, desenvolveu toda uma
metodologia terapêutica baseada no conceito de contraposição
de sintomas e síndromes específicos. As próprias drogas
alopáticas constituem choques morbíficos para o organismo e,
por conseguinte, estimulam uma reação por parte do mecanismo
de defesa. Essa resposta do mecanismo de defesa consiste em
sintomas que geralmente são chamados de "efeitos colaterais"
pelo médico alopata. Esses sintomas são, pelo contrário, sinais
de sensibilidade por parte do organismo; eles são a melhor
resposta possível do mecanismo de defesa para contrapor-se ao
estímulo morbífico da droga. Dessa forma, as drogas em si
podem ser vistas como doenças, seguindo-se a mesma dinâmica
descrita por Hahnemann nos aforismos já transcritos.
Hahnemann comenta especificamente o efeito das drogas
alopáticas no Aforismo 76.

147
"A benéfica Divindade nos concedeu, na Homeopatia, os meios
para proporcipnar alívio somente às doenças naturais; mas as
devastações e mutilações feitas ao organismo humano, exterior e
interiormente, freqüentemente afetado durante anos pelo
exercício impiedoso de uma falsa arte, com suas drogas e
tratamentos prejudiciais, devem ser remediadas pela própria
força vital (sendo concedido o auxílio apropriado para a
erradicação de qualquer miasma crônico que possa estar
escondido no segundo plano) se esta já não foi por demais
enfraquecida por esses atos nocivos, e puder devotar-se por
vários anos a essa grandiosa operação sem ser perturbada. Não
há e não pode haver uma arte humana de cura para restaurar o
estado normal dessas inumeráveis condições anormais, tão fre-
qüentemente produzidas pela arte alopática não curativa."

De forma mais concisa, no Aforismo 75, Hahnemann afirma:

"Essas incursões à saúde humana afetada pela arte alopática


não curativa (mais particularmente nos tempos mais recentes)
são, de todas as doenças crônicas, as mais incuráveis; e lamento
ter de acrescentar que aparentemente é impossível descobrir ou
deparar com quaisquer medicamentos de cura quando essas
doenças já atingiram um estágio considerável."

Se isso era verdadeiro no tempo de Hahnemann, é muito mais


verdadeiro atualmente! A ciência moderna desenvolveu
substâncias químicas ainda mais potentes do que as existentes
na época de Hahnemann. Naturalmente, as drogas de todos os
tipos são prejudiciais, mas, de acordo com minha experiência, o
que mais perturba o organismo são os antibióticos, os
tranqüilizantes, as pílulas anticoncepcionais, a cortisona e outros
hormônios. Em qualquer indivíduo em especial, no entanto,
qualquer droga ou substância estranha pode, literalmente, ser
148
destruidora se a pessoa for sensível a ela. Desse modo, vemos
pessoas que manifestam até reações anafiláticas fatais a doses
mínimas de drogas, como a penicilina, a aspirina e outras
supostamente amenas.
Como as drogas alopáticas nunca são selecionadas de acordo
com a lei dos semelhantes, elas inevitavelmente sobrepõem ao
organismo uma nova doença medicamentosa que, depois, deve
ser neutralizada pelo organismo. Além disso, se a droga for bem
sucedida, eliminado os sintomas em um nível periférico, o
mecanismo de defesa é, então, forçado a restabelecer um novo
estado de equilíbrio em um nível mais profundo. Desse modo, o
grau de vibração do organismo é perturbado e enfraquecido por
dois mecanismos: 1) pela influência da própria droga e 2) pela
interferência da melhor resposta possível do mecanismo de
defesa. Por conseguinte, se a droga for suficientemente
poderosa, ou se a terapia medicamentos a for continuada, o
organismo pode saltar para um nível mais profundo de sua
suscetibilidade à doença. A verdadeira tragédia dessa
conseqüência é que o mecanismo de defesa do indivíduo não
pode, depois, restabelecer o equilíbrio original por si mesmo;
mesmo com tratamento homeopático de alta qualidade pode
levar muitos anos para voltar ao seu nível original, quanto mais
fazer qualquer progresso na enfermidade original.
Este é um paradoxo estranho, mas verdadeiro: as pessoas
'enfraquecidas por tratamentos alopáticos com drogas tornam-se
relativamente "protegidas" contra certas infecções e epidemias.
Isso ocorre naturalmente, porque o centro de gravidade da
sensibilidade mudou-se para regiões mais vitais do organismo e
não existe sensibilidade suficiente nos níveis superficiais para
produzir uma reação sintomática. Em tal caso, isso não é um
sinal de melhora da saúde, mas, pelo contrário, é um sinal de
degeneração.
Vamos considerar o exemplo de uma pessoa contaminada por
149
sífilis. Ele desenvolve um cancro no pênis, que é, então, tratado
com altas doses de penicilina durante duas semanas. O cancro
desaparece e o paciente é considerado curado. A pesquisa e a
experiência clínica têm mostrado que esse paciente não. pode
readquirir outro cancro. Essa "imunidade" aparente não é um
sinal de melhora de saúde, mas, pelo contrário, a indicação de
mais uma degeneração na capacidade de o mecanismo de
defesa manter os sintomas nos níveis mais periféricos do
organismo. Do ponto de vista homeopático, isto é considerado
uma supressão. O organismo como um todo está sofrendo do
cancro mais ainda do que durante o estágio inicial. Três ou cinco
meses depois, no entanto, o estágio secundário de sífilis aparece
na forma de uma erupção de pele em outra parte do corpo.
Então, muitos anos depois, manifesta-se um terceiro estágio na
forma. de uma degeneração do sistema nervoso central e, talvez,
de insanidade mental. Durante a evolução desses últimos
estágios, também é verdade que o paciente fica "imune" a
qualquer nova contaminação de sífilis. Essa imunidade não é um
sinal claro de melhora da saúde; ao contrário, é o sinal de uma
maior degeneração da capacidade de o mecanismo de defesa
manter os sintomas nos níveis mais periféricos do organismo.
Por conseguinte, por causa dos graves efeitos supressivos das
drogas, todo médico deveria ficar o mais alerta possível à história
terapêutica do paciente. As doenças causadas por droga podem,
desse modo, ser reconhecidas e as influências supressivas mais
importantes da vida do paciente serão então determinadas.
Num sentido mais geral, também é importante perceber o efeito
que tais terapias de supressão maciças e sistemáticas têm sobre
populações inteiras. Como foi muito bem descrito por Ivan Illich,
em seu Medical nemesis e por Allen Klass, em There's gold in
them thar pills, todo o sistema médico incorpora compromissos
estruturais para manter o modelo das doenças e terapias
correntes. As estatísticas demonstram muito claramente que a
150
ameaça das doenças agudas diminuiu neste século, embora isso
não seja devido à eficácia terapêutica, e que existe um aumento
correspondente de doenças crônicas aleijantes, câncer, doenças
do coração, ataques, distúrbios neurológicos e epilepsia,
violência e insanidade. Esse é o resultado inevitável quando os
processos da natureza são ignorados. Por outro lado, quando
percebemos um crescente progresso na cooperação com os
processos da natureza, as estatísticas demonstram um declínio
desses problemas. Para falar com franqueza, o aumento do
interesse pelo controle de peso, pela boa nutrição e pelo
exercício já resultou, nos últimos anos, num leve declínio das
doenças e ataques do coração, pela primeira vez em muitas
décadas. Qoanto maior for o número de pessoas tratadas pela
homeopatia, mais podemos esperar um progresso em termos de
saúde.

Vacinação
A vacinação é citada por muitos como um exemplo do uso
alopático da lei dos semelhantes; superficialmente, isso poderia
parecer verdade porque as vacinas são pequenas quantidades
de material capaz de produzir doenças nas pessoas normais. Se
refletirmos sobre os princípios enunciados neste livro, no entanto,
rapidamente esclareceremos este ponto de confusão. As vacinas
são administradas em populações inteiras sem qualquer
consideração para com a individualidade. Cada indivíduo tem um
unico grau de sensibilidade com relação a cada vacina e, no
entanto, ela é administrada sem levar em consideração essa
singularidade. Por conseguinte, o conceito de vacina é quase o
oposto dos princípios da homeopatia; é a administração
indiscriminada a todas as pessoas de uma substância estranha,
sem levar em consideração o estado de saúde ou a sensibilidade
individual.
151
O que ocorre exatamente ao organismo quando da aplicação de
uma vacina? Naturalmente, os estudos modernos feitos no
campo da imunologia documentam muito bem as variedades dos
mecanismos químicos e celulares que são ativados. De qualquer
forma, somos levados a perguntar: o que acontece no plano
dinâmico quando a vacina é administrada?
A experiência de perspicazes observadores homeopáticos tem
mostrado de forma conclusiva que, numa porcentagem grande de
casos, a vacinação tem um efeito profundamente perturbador
sobre a saúde de um indivíduo, particularmente com relação à
doença crônica. Sempre que uma vacina é administrada, ela
tende a mudar a taxa de vibração eletromagnética, da mesma
maneira que uma doença grave ou uma droga alopática.
Dependendo do estado de saúde do indivíduo, podem ocorrer
duas respostas básicas depois da vacinação:

1. Pode não haver nenhuma reação à vacina.


2. A vacina pode "pegar", e isso significa que um certo grau de
reação foi produzido.

No primeiro caso, a falta de reação pode indicar: 1) um sistema


muito saudável ou 2) um sistema com profunda fraqueza
constitucional. Essa situação é análoga à mencionada no capítulo
5, com relação à suscetibilidade à gonorréia. Se as condições de
saúde de uma pessoa forem perfeitas, isto é, se estiver na parte
inferior da escala da figura 7 (página 129), o organismo
simplesmente não será sensível à vacina, não ocorrendo
nenhuma ressonância nem reação. Por outro lado, se o sistema
for muito fraco, isto é, se sua vibração estiver num nível mais
profundo de suscetibilidade, o mecanismo de defesa será
incapaz de produzir uma reação imediata à vacina. Naturalmente,
os dois indivíduos, que não demonstram nenhuma reação,
também não iriam contrair nenhuma doença se fossem expostos
152
à epidemia para a qual a vacina é projetada, pois ambos os
organismos estão vibrando em níveis muito distantes da vibração
da doença.
Se o organismo for capaz de reagir à vacina, isso significa que o
grau de vibração da vacina está suficientemente próximo do grau
de vibração do paciente, produzindo ressonância. A reação,
então, é um sinal do mecanismo de defesa, que responde à
influência morbífica da vacina. Existem três tipos básicos
possíveis de reação, cada uma representando uma intensidade
de resposta diferente:

1. Reação amena.
2. Reação forte, com febre e outros sintomas sistemáticos.
3. Reação muito forte, com complicações tais como encefalite,
meningite, paralisia, etc.

Vamos considerar separadamente o significado de cada uma


dessas reações possíveis. No primeiro caso, a reação amena
indica que o paciente é realmente suscetível à doença contra a
qual está vacinado e, por conseguinte, o mecanismo de defesa
cria uma inflamação local, prurido (coceira) ou dor e, talvez, um
pouco de pus. Uma reação amena, no entanto, indica que o
mecanismo de defesa não está suficientemente forte para desviar
completamente o efeito da vacina. Sua influência morbífica,
dessa maneira, permanece no corpo e a taxa de vibração do
organismo todo é mudada na proporção da intensidade da
própria vacina. Se a vacina for muito poderosa (isto é, a vacina
contra a varíola) e ressoar intimamente ao nível de
suscetibilidade do paciente, o grau de vibração pode mudar com-
pletamente de nível, sendo incapaz de voltar ao nível anterior à
vacinação sem a ajuda de um tratamento homeopático. Essa
mudança do nível de vibração será confirmada adiante pelo fato
153
de tal paciente, mais tarde, ser incapaz de reagir às
administrações da mesma vacina.
Se a vacina estimular sintomas sistêmicos, como febre,
indisposição, anorexia, dores musculares, etc., é porque o
mecanismo de defesa é muito forte, podendo contrapor-se à
influência morbífica da vacina. Essa reação forte é comumente
percebida nas crianças cujo mecanismo de defesa não foi ainda
seriamente enfraquecido pelos estímulos morbíficos externos.
Naturalmente, se o mecanismo de defesa for assim bem
sucedido, a pessoa permanecerá desprotegida contra a doença.
Ao contrário da pessoa muito saudável, que não possui nenhuma
suscetibilidade à vacina ou ao micróbio, a pessoa que demonstra
uma forte reação sistêmica. é sensível ao micróbio e à vacina e
bem pode contrair a doença se a ela for exposta, apesar da
vacinação. Esses casos são relativamente raros porque poucas
pessoas têm esse alto grau de saúde em nosso mundo moderno;
assim, as estatísticas mostram uma taxa de "eficácia" nas
populações vacinadas numa escala de 10 a 15 por cento,
dependendo do tipo particular de imunização. Infelizmente, essas
estatísticas não representam a eficácia da vacina, mas, pelo
contrário, ilustram as más condições de saúde da população.
O terceiro tipo é a reação muito forte e com complicações. Isso
indica também que a suscetibilidade do organismo à doença é
muito alta, mas, nesse caso, o mecanismo de defesa é muito
fraco para contrapor-se ao estímulo morbífico da vacina; desse
modo, produz-se uma moléstia profunda. Esta talvez seja a
circunstância mais trágica, pois se o paciente sobreviver à
complicação, sua saúde pode permanecer prejudicada por um
longo tempo. Nesses casos vemos a evolução de condições
crônicas muito graves que datam do tempo da vacinação. O
enfraquecimento do mecanismo de defesa, nesses casos, pode
ser tão grave que, mesmo seguindo uma cuidadosa prescrição
médica, a pessoa pode levar anos para readquirir uma saúde
154
plena. e verdade também que, se uma pessoa assim sensível
fosse exposta à epidemia, estaria sujeita às mesmas complica-
ções; mas quem pode afirmar que todas essas pessoas seriam
expostas à epidemia?
Na homeopatia, qualquer condição crônica que indique uma
vacinação é chamada de vacinose. Em seu livro, Vaccinosis, J.
Compton Burnett apresenta seus casos detalhadamente,
demonstrando com clareza que as vacinações podem criar
perturbações profundas e influências duradouras sobre a saúde
de indivíduos suscetíveis. Os casos que relata referem-se à
administração da vacina contra varíola, mas os homeopatas
modernos conhecem casos semelhantes de vacinose, que
ocorrem após as vacinas contra hidrofobia, sarampo, pólio, gripe,
tifo, para tifo e até contra tétano.
O fato de a vacinose realmente dever-se à vacina e não ser
apenas uma mera coincidência é percebido porque muitos casos
são beneficiados de forma extraordinária pela administração de
um preparado potencializado da vacina que foi usada. Por
exemplo, suponhamos que deparamos com um caso de alguém
que vem sofrendo há anos de uma sinusite crônica desde que
recebeu a vacina contra a varíola, à qual reagiu de forma amena
no começo; nesse caso, o Variolinum 1 M (uma potência 1.000c
feita a partir da própria vacina contra a varíola) pôde resolver
completamente toda a sua condição. Em outros casos, de
paramos com pacientes que simplesmente não respondem às
prescrições homeopáticas bem selecionadas; nestes casos, será
suficiente prescrever o preparo potencializado correspondente à
vacina para que haja uma reação aos medicamentos
apropriados.
Um caso extraordinário que me vem à mente é o de uma mulher
de cinqüenta anos que sofreu de febre do feno durante muitos
anos. Após o tratamento homeopático, ela ficou completamente
livre da febre do feno por mais de dois anos. Então, quando se
155
preparava para uma viagem ao estrangeiro, foi vacinada contra
varíola. Seu sistema reagiu apenas com uma leve vermelhidão
local, mas sem nenhum sintoma sistêmico; logo em seguida,
porém, a febre do feno voltou a se manifestar. O tratamento
homeopático foi muito mais difícil; os mesmos medicamentos
utilizados anteriormente, embora ainda indicados, não agiram de
maneira efetiva. O Variolinum ajudou a restabelecer o equilíbrio
do sistema, e a paciente, então, voltou a responder aos
medicamentos apropriados.
Casos como esses podem ser citados em grande quantidade por
qualquer homeopata que emprega seu tempo elucidando a
história completa do paciente. Dessa maneira, até mesmo uma
coisa tão popular quanto a muito difundida vacinação - um dos
assim chamados "sucessos" mais importantes da moderna
medicina - pode ser um fator de degeneração em grande escala
da saúde de nossas populações. Um exemplo surpreendente que
aconteceu em tempos recentes foi o grande esforço feito pelo
governo dos Estados Unidos para vacinar toda a população
contra uma esperada epidemia de febre suína. Havia a expecta-
tiva de que uma epidemia como esta pudesse vir a ser mais séria
do que a epidemia de influenza de 1918. Conforme revelações
posteriores, a vacina não foi preparada a tempo para surtir muito
efeito, e a epidemia jamais se materializou. Dos 50 milhões de
americanos vacinados, 581 desenvolveram a síndrome de
Guillain-Barré, um distúrbio de paralisia neurológica. Esse
incidente representa um incremento sete vezes superior no
número da população doente de um modo geral. Pode-se atribuir
isso às impurezas quando do preparo ou a qualquer outra causa,
mas, do ponto de vista homeopático, essas conseqüências são
previsíveis sempre que uma substância estranha for injetada num
grande número de pessoas, sem se levar em consideração a
suscetibilidade individual.

156
Sumário do capítulo 8
Sumário da parte sobre influência da doença

1. Todos virtualmente têm certa tendência à doença crônica.


2. Não se pode simplesmente pular para níveis maiores de
suscetibilidade; apenas as influências poderosas podem produzir
essas mudanças. Uma dessas influências maiores é uma doença
grave.
3. De duas doenças dessemelhantes, a mais forte repele a mais
fraca, mas uma nunca cura a outra.
4. Raramente duas doenças dessemelhantes podem criar uma
doença complexa sem que uma delas se cure.
5. Duas doenças semelhantes curam-se uma à outra. Aqui a
semelhança é um fator mais importante do que a intensidade da
doença.
6. As enfermidades graves podem enxertar na constituição do
indivíduo uma predisposição suficiente à doença crônica, que
pode durar a vida toda e persistir nas gerações subseqüentes.

Sumário da parte sobre terapia supressiva

1. As próprias drogas alopáticas são estímulos morbíficos parà o


corpo humano.
2. Os efeitos "colaterais" são, na verdade, sinais do mecanismo
de defesa, que está reagindo a essa influência morbífica.
3. O uso de muitas drogas alopáticas pode prejudicar de tal forma
o mecanismo de defesa que o paciente corre o risco de tornar-se
virtualmente incurável.
4. Como as drogas alopáticas nunca são prescritas de acordo
com a lei dos semelhantes, elas inevitavelmente sobrepõem ao
organismo uma nova doença causada pela droga.
5. As drogas têm dois efeitos: a influência morbífica direta e a
157
influência supressiva, resultante da eliminação da melhor
resposta possível do mecanismo de defesa.
6. A supressão pela droga é o fator mais importante do aumento
alarmante das doenças crônicas em nossas sociedades.

Sumário da parte sobre vacinação

1. A vacinação não é, na verdade, um exemplo de princípio


homeopático, pois trata-se da administração indiscriminada de
uma substância a toda a população, sem levar em consideração
a individualidade.
2. A vacinação é um estímulo morbífico que muda a freqüência
de ressonância do mecanismo de defesa.
3. A falta de reação à vacina pode representar um sistema muito
saudável ou uma profunda fraqueza constitucional, pois em
ambos os casos a freqüência ressonante do paciente não permite
uma resposta. Nesse caso, o paciente estaria imune à epidemia,
mesmo que não tivesse sido vacinado.
4. Uma reação amena - apenas uma inflamação local - indica um
mecanismo de defesa relativamente fraco, e a taxa de vibração
alterada bem pode persistir por um longo período, levando mais
tarde a uma doença crônica. Esses casos criam a
improbabilidade de reação à administração posterior de vacina,
confirmando mudança da freqüência de ressonância.
5. Uma reação sistêmica, com febre, indisposição, etc., indica
uma forte reação do mecanismo de defesa, que, provavelmente,
será bem sucedido em livrar-se da influência morbífica da vacina.
O paciente, então, permanece desprotegido contra a doença,
apesar de ter sido vacinado.
6. Uma reação sistêmica, com complicações, como encefalite e
distúrbios neurológicos, é o pior caso possível, pois a
degeneração subseqüente da saúde será séria e prolongada.
7. Nos casos crônicos de vacinose, o nosódio apropriado produz
158
freqüentemente um grande benefício.

Capítulo 9
Predisposição à doença
Deve estar bem claro que a doença é o resultado de um estímulo
morbífico que ressoa no nível particular de suscetibilidade do
organismo. Esse estímulo, chamado de causa excitante, pode ser
um microrganismo, uma substância química estranha, um choque
emocional, uma droga alopática, uma vacina ou qualquer uma de
muitas outras influências. Para que a doença se manifeste, é
necessária uma forte suscetibilidade ao agente morbífico; essa
predisposição é chamada de causa mantenedora, pois é a
fraqueza do mecanismo de defesa que mantém um estado de
saúde reduzido e não uma sucessão de causas excitantes. Neste
capítulo, devemos considerar exatamente o que é essa
predisposição, quais suas características, como ela é transmitida
e qual sua importância no tratamento.
Como foi descrito no capítulo 5, a suscetibilidade de uma pessoa
tende a variar dentro do estreito espectro das enfermidades.
Durante toda a vida um indivíduo permanece em um certo nível
de suscetibilidade, a menos que uma influência mais importante
(como as discutidas no capítulo 8) produza um salto de nível;
mesmo assim, o organismo permanecerá no novo nível, a menos
que seja tratado homeopaticamente. Dentro de uma certa escala
de doenças, uma pessoa sofrerá variações de acordo com fato-
res como: quantidade de horas de sono, nutrição, medidas
sanitárias, grau de estresse em sua vida, etc. Por outro lado, será
incapaz de operar mudanças de um nível para outro por si
mesma.
Em primeiro lugar, de que maneira uma pessoa adquire
predisposição a uma enfermidade? De que maneira é
estabelecida a fraqueza em determinado nível? Como sabemos,
159
poderosas enfermidades agudas, drogas alopáticas e vacinas
são fatores considerados importantes, mas é claro também que
grande parte da predisposição é hereditária. É bem conhecido o
fato de que algumas doenças, como as do coração, o câncer, o
diabetes, a dança de São Vito, a tuberculose, o alcoolismo, a
esquizofrenia e muitas outras, tendem a circular nas famílias.
Todos os médicos já observaram com freqüência que existe
predisposição para uma doença séria per se em certas famílias e
não em outras. Por exemplo, um paciente pode desenvolver
sintomas de colite ulcerosa na juventude, embora ninguém de
sua família tenha tido colite; ao pesquisar-se a história da família,
no entanto, descobre-se que os pais e avós foram doentes a
maior parte da vida, vítimas de diferentes enfermidades. É muito
raro uma pessoa adquirir uma doença crônica séria quando
jovem se os ancestrais foram todos saudáveis até idade
avançada.
Sabe-se que a composição genética, o ADN, de um indivíduo
desempenha um papel na formação da predisposição hereditária
à doença, mas isso não é tudo. Como veremos mais adiante, é
possível que um pai adquira uma enfermidade cuja influência
pode ser transmitida aos filhos, embora não tenha ocorrido
nenhuma mudança conhecida na estrutura genética do pai.
Levando em consideração o plano dinâmico, é muito fácil
imaginar como isso aconteceu. Se a força vital estiver
significativamente enfraquecida nos pais, o campo eletrodinâmico
do filho pode ser, do mesmo modo, enfraquecido no momento da
concepção.
Dá-se o reconhecimento clínico dessa causa mantenedora da
doença quando vemos um paciente voltar ao consultório mais de
uma vez com a mesma queixa ou com outra semelhante, embora
os medicamentos homeopáticos pareçam ter agido bem em cada
crise aguda. Nestes casos, parece que os medicamentos
afetaram o mecanismo de defesa num nível insuficientemente
160
profundo de sua predisposição. Foi por ter se sentido frustrado
com esses casos que Hahnemann devotou os últimos anos da
sua vida à pesquisa das causas dessas profundas
predisposições. Tais investigações, finalmente, levaram à sua
terceira contribuição mais importante para a medicina: a teoria
dos miasmas.
No Aforismo 72 do Organon, Hahnemann descreve suas
observações iniciais sobre tal matéria.

"As doenças peculiares à humanidade pertencem a duas classes.


A primeira inclui processos morbíficos rápidos causados por
estados e distúrbios anormais da força vital; essas afecções
geralmente completam seu curso num período breve, de variação
durável, e são chamadas de doenças agudas. A segunda classe
abrange as doenças que, freqüentemente, são insignificantes e
imperceptíveis no começo; mas, de uma forma que lhes é
característica, elas agem de modo deletério sobre o organismo
vivo perturbando-o dinâmica e insidiosamente, e minando-lhe a
saúde a tal ponto que a energia automática da força vital,
destinada à preservação da vida, pode fazer frente a essas
doenças apenas de forma imperfeita e ineficaz; no início, bem
como durante o seu progresso. Incapaz de extingui-Ias sem
auxílio, a força vital é impotente para prevenir seu crescimento ou
sua própria deterioração, resultando na destruição final do
organismo. Estas são as chamadas doenças crônicas."

As investigações de Hahnemann sobre esse problema


ocuparam-no durante doze anos; ele questionou sistema-
ticamente cada caso de maneira implacável, averiguando
inclusive as enfermidades dos pais e avós, no esforço de elucidar
a origem do problema. O relato que Hahnemann faz de sua
investigação está descrito no livro Chronic diseases. É tão lúcido
e responde a tantas questões que serão suscitadas sem dúvida
161
alguma na mente do leitor, que o cito aqui um pouco
extensamente:

"As doenças crônicas muito pouco podiam ser retardadas no seu


avanço, apesar de todos os esforços feitos pelo homeopata, e
pioravam de ano para ano... O começo das doenças era
promissor, a continuação, menos favorável, o resultado, sem
esperanças... Entretanto, esse ensinamento foi descoberto no
inabalável pilar da verdade e assim será para sempre... Só a
homeopatia ensinou antes de tudo como curar as tão bem
definidas doenças idiopáticas... por meio de poucas e pequenas
doses de remédios homeopáticos corretamente selecionados.
Por que razão, então, esse resultado menos favorável, esse
resultado desfavorável de continuação de tratamento das
doenças crônicas não venéreas? Qual era a razão do insucesso
de centenas de esforços para curar outras doenças de natureza
crônica de modo a alcançar uma saúde duradoura? Será que
isso se devia aos poucos medicamentos homeopáticos que até
então haviam sido experimentados quanto à sua ação pura? Isso
servia de consolo aos seguidores da homeopatia, mas essa
desculpa, que chamamos de consolo, jamais satisfez o fundador
da homeopatia - principalmente porque o acréscimo de novos
medicamentos comprovadamente valiosos, que aumentam de
ano para ano, não resultou em nenhum progresso na cura das
doenças (não venéreas) crônicas; enquanto isso as doenças
agudas não apenas são eliminadas de maneira razoável por meio
da correta aplicação dos medicamentos homeopáticos, como têm
a assistência da força vital preservadora, que jamais fica inativa
no nosso organismo, e encontram uma cura rápida e completa.
Por que, então, essa força vital atacada de maneira eficiente pelo
medicamento homeopático não pode produzir uma recuperação
verdadeira e duradoura no caso dessas moléstias, embora conte
com a ajuda dos medicamentos homeopáticos que melhor
162
abrangem seus sintomas presentes, enquanto essa mesma
força, criada para a restauração do nosso organismo, é tão
infatigável e bem-sucedida na sua ação de completar a
recuperação, mesmo no caso de graves doenças agudas? O que
a impede?
Descobrir a razão pela qual todos os medicamentos conhecidos
de homeopatia fracassaram na obtenção de uma cura verdadeira
para as mencionadas doenças [...] me ocupou desde o ano de
1816, dia e noite, e eis que o provedor de todas as boas coisas
me permitiu, nesse espaço de tempo, solucionar gradualmente
esse problema sublime por meio de pensamento incessante, pela
indagação infatigável, pela observação fiel e pelas experiências
mais acuradas, feitas para o bem-estar da humanidade.
Tem sido continuamente repetido que as doenças crônicas, após
serem repetidas vezes eliminadas de forma homeopática, voltam
sempre, de forma mais ou menos variada e com novos sintomas,
ou reaparecem anualmente, com mais achaques. Esse fato me
forneceu o primeiro indício de que o homeopata, ao deparar-se
com um caso de doença crônica (não venérea), tem não apenas
que combater a doença que se apresenta à sua frente, mas não
deve vê-Ia e percebê-Ia como se fosse uma doença bem
definida, que pode ser destruída para sempre e curada com os
me. dicamentos homeopáticos comuns. Ele deve sempre encon-
trar algum fragmento em separado de uma doença original mais
profunda... Por conseguinte, deve primeiro descobrir, se lhe for
possível, toda a extensão dos acidentes e sintomas que
pertencem a alguma moléstia primitiva e desconhecida, antes de
esperar descobrir um ou mais medicamentos que possam
abranger homeopaticamente toda a doença original por
intermédio de seus sintomas característicos...
Pareceu-me claro que a moléstia original que está sendo
procurada deve pertencer também a uma natureza crônica
miasmática, pois uma vez que ela tenha se adiantado e
163
desenvolvido até certo ponto não pode mais ser eliminada pela
força de nenhuma constituição robusta; não pode mais ser
subjugada pela dieta ou pela disciplina de vida mais saudáveis,
nem desaparecerá por si mesma...
Eu havia chegado a esse ponto em minhas investigações e
observações dos pacientes portadores de doenças não venéreas
quando descobri, já no início, que o obstáculo à cura de muitos
casos - que de forma enganadora pareciam doenças específicas,
bem-definidas e que, no entanto, não podiam ser curadas pela
homeopatia com os medicamentos até então experimentados -
parecia estar numa antiga erupção com prurido freqüentemente
não confessada. O começo de todos os sofrimentos
subseqüentes geralmente datava desse tempo. Isto também
acontecia com pacientes crônicos semelhantes, que não
confessavam essa infecção por não terem prestado atenção nela,
ou por não a acharem importante, ou, simplesmente, por
esquecimento. Após cuidadosa investigação, era comum
observar traços de erupções (pequenas fístulas causadoras de
prurido, herpes, etc.) que se haviam manifestado nesses
pacientes. Isso poderia indicar um acontecimento eventual, mas
também poderia ser o sinal de uma antiga infecção dessa
espécie.
Essas circunstâncias, ligadas ao fato de que inúmeras
observações de médicos e, não menos freqüentemente, minha
própria experiência, haviam mostrado que uma erupção de
prurido suprimida devida a uma prática falha ou uma erupção que
havia desaparecido da pele por outros meios foi seguida,
evidentemente, em pessoas saudáveis sob outros aspectos,
pelos mesmos sintomas ou sintomas semelhantes; essas
circunstâncias, repito, não podiam deixar dúvidas em minha
mente quanto ao inimigo interno que eu devia combater no meu
tratamento médico desses casos...

164
Para a maioria de nós, no mundo moderno, esse conceito pode
parecer um pouco simplista. Entretanto, ele coincide com o que
foi dito até agora com relação à supressão dos sintomas dos
níveis periféricos para níveis mais profundos. Esse é um bom
exemplo do modo pelo qual a freqüência de ressonância do
organismo pode ser mudada, criando, assim, suscetibilidade às
enfermidades mais profundas. Em seu livro Chronics diseases,
Hahnemman cita um grande número de casos que demonstram
esse princípio de forma muito convincente:

"Um rapaz de treze anos, depois de sofrer desde a infância de


Tinea capitis, pediu que a mãe a eliminasse para ele. Após oito
ou dez dias, ele ficou muito doente, sendo acometido por asma,
dores violentas nos membros, nas costas e no joelho, que não
aliviavam, até que, um mês mais tarde, uma erupção de prurido
irrompeu por todo o corpo". (Pelargus, [Storch] Obs. clin. Jahrg.,
1722, p. 435.)
"A Tinea capitis foi expelida por uma menina pequena com a
utilização de purgantes e outros remédios, mas a criança foi
atacada de opressão do peito, tosse e grande lassidão. Só
quando ela parou de tomar os remédios, quando a Tinea
apareceu novamente, a menina recuperou rapidamente a
alegria." (Pelargus, Breslauer Sammlung v. Jahrg., 1727, p. 293.)

"Uma menina de três anos apresentou prurido durante várias


semanas; depois da aplicação de um ungüento o prurido
desapareceu, mas ela passou a apresentar, no dia seguinte, um
catarro sufocante com ronco, entorpecimento e frio em todo o
corpo; a menina não se recuperou até que o prurido reapareceu."
(Suffocating catarrh, Ehrenfr., Hagendorn, Hist. Med. Phys. Cento
I., hist. 8, 9.)

"Um menino de cinco anos sofria há muito de prurido, e quando


165
esse foi eliminado com uma pomada, deixou uma grave
melancolia, acompanhada de tosse." (Riedlin, Obs. Cento lI, obs.
90, Aubsburgo, 1691.)

"Uma garota de doze anos sofrera constantemente de prurido.


Após a aplicação de um ungüento o prurido foi eliminado. Mas a
menina passou a ter uma febre aguda com catarro sufocante,
asma e inchaço e, mais tarde, pleurisia. Seis dias depois, após
ingerir um remédio de uso interno que continha sulphur, o prurido
apareceu de novo, e todas as aflições, exceto o inchaço,
desapareceram; 24 dias depois, porém, o prurido secou e seguiu-
se nova inflamação do peito com pleurisia e vômito." (Pelargus,
Obs. clin. Jahrg., 1723, p. 15.)

"Uma menina de nove anos, após eliminar a Tinea capitis, foi


acometida por uma febre prolongada, inchaço generalizado e
dispnéia; quando a Tinea reapareceu, ela se recuperou."
(Hagendorn, Recueil d'observ. de Méd., tom. lU, p. 308.)

"Do prurido expelido por uma aplicação externa surgiu amaurose,


que passou quando a erupção reapareceu na pele." (Amaurosis,
Northof, Diss. de Scabie, Gotting, 1792, p. 10.)

"Um homem, após eliminar uma erupção de prurido que se


manifestava regularmente, pela aplicação de um ungüento,
passou a ter convulsões epilépticas, que desapareceram por
completo quando a erupção reapareceu na pele." (Epilepsy, J. C.
Carl em Act. Nat. Curo V., obs. 16.)

"Duas crianças ficaram livres da epilepsia pela erupção da Tinea


úmida, mas a epilepsia voltou quando a Tinea foi
imprudentemente eliminada." (Tulpius, Obs. Lib. [, Cap, 8.) I

166
Hahnemann, enfim, descreveu três miasmas básicos, que
acreditava serem as causas subjacentes à doença crônica. Em
qualquer paciente pode haver um miasma ou uma combinação
deles. O primeiro que ele descreveu foi o miasma psórico
(derivado da palavra grega "psora", que quer dizer "sarna").
Hahnemann achava que esse foi o primeiro miasma a afetar a
raça humana e, por conseguinte, a camada mais fundamental
subjacente à fraqueza, sobre a qual as demais foram
construídas. As doenças específicas que Hahnemann associou
com a psora iam virtualmente desde todas as enfermidades
físicas, inclusive o câncer, diabetes, artrite, etc., até as mais
graves doenças mentais, como a epilepsia, a esquizofrenia e a
imbecilidade.
Hahnemann acreditava que o segundo miasma a afetar a raça
humana foi o miasma sifilítico. A doença específica da sífilis era
considerada uma das manifestações dessa predisposição, mas
estava também implicada numa extensa escala de outros
distúrbios encontrados nos últimos estágios de outros miasmas.
Ele acreditava que os pacientes que sofrem do miasma da sífilis
adquiriram essa influência pela exposição à sífilis ou pela
hereditariedade de um ancestral contaminado - sendo essa
característica transmitida de geração para geração.
O terceiro miasma hahnemanniano é o miasma da sicosi (raiz da
palavra grega "syco", que significa "figo"). Ele achava que esse
miasma havia surgido da gonorréia, contraída tanto pelo próprio
paciente quanto por um de seus ancestrais.
Deve-se esclarecer que Hahnemann não levava em
consideração os micróbios atuais, o espiroqueta ou o gonococo,
como causa específica dos miasmas venéreos. Consideravam-se
esses micróbios, assim como todos os agentes causadores de
doença, como possuidores de influência morbífica no plano
dinâmico. Se o paciente estiver enfraquecido pelo miasma
psórico, expondo-se a seguir a uma doença venérea por contato
167
sexual, essa combinação leva ao mal e, em seguida, ao miasma.
Nem todo mundo que realmente adquire gonorréia progride para
o miasma da sicosi; somente uma porcentagem relativamente
pequena o desenvolve, mas logo que essa "mácula" se implanta
no plano dinâmico do organismo é passada adiante de geração
para geração.
Um equívoco comum a respeito da teoria miasmática é o de que
as condições patológicas específicas resultam de miasmas
específicos. Por exemplo, diz-se com freqüência que o eczema é
uma doença psórica, que as úlceras são sifilíticas e que o câncer,
as psoríases e outras mais resultam de uma combinação dos três
miasmas. Na realidade, todos os três miasmas podem resultar
em qualquer mudança patológica. Câncer, diabetes, insanidade,
imbecilidade, etc., podem surgir do último estágio de qualquer um
dos miasmas, ou de uma combinação entre eles.
O grau de fraqueza crônica do mecanismo de defesa é o
resultado direto da intensidade das influências miasmáticas. Se
compararmos dois pacientes com leucemia, por exemplo, a idade
em que a doença ocorre é a medida do número de miasmas
envolvidos. Se a leucemia se desenvolver aos setenta anos,
depois de uma vida saudável, é provável que esteja envolvido
apenas o miasma psórico. Se, por outro lado, aparecer na
infância, é muito provável que três ou mais miasmas estejam
implicados. Ter idéia do número de miasmas envolvido, enquanto
se avalia um caso individual, é importante para o prognóstico;
quanto maior o número de miasmas envolvidos, mais lenta será a
resposta ao tratamento.
Desde a época de Hahnemann, a teoria miasmática tem sido
muito mal aplicada e mal compreendida pelos homeopatas.
Muitos deles simplesmente ignoram o conceito como se fosse
muito simplista ou de pouco valor prático. Muitos adotaram a
teoria sem crítica alguma, simplesmente como um ato de fé para
com o mestre que legou tantas contribuições. Infelizmente, essa
168
fé cega impede uma compreensão real da idéia e sua maior
elaboração pela verdadeira prática clínica. Conseqüentemente,
existem, na atualidade, duas escolas principais de medicina
homeopática com relação aos miasmas: uma que ignora a idéia e
outra que a aceita impensadamente e, por conseguinte, adota
uma fórmula de prescrição na tentativa de "esclarecer" o caso
dos miasmas. A confusão e a controvérsia que disso resultaram
desde a morte de Hahnemann causaram um espantoso grau de
equívocos a respeito do conceito de miasma; por essa razão,
neste livro enfatizarei o termo "predisposição" ao invés de
"miasma". Além disso, não descreverei os detalhados sinais e
sintomas clínicos associados a cada miasma, para evitar que os
leitores incorram em erro aceitando a idéia de prescrever
baseados apenas no miasma.
Mais uma confusão que surgiu desde os tempos de Hahnemann
é a de que certos miasmas são uma combinação complexa de
dois ou mais dos miasmas originais. O exemplo mais conhecido
dessa confusão é o do assim chamado "miasma da tuberculose",
que é, na verdade, uma combinação de psora e sífilis. A história
das doenças neste planeta contradiz claramente essa teoria. O"
miasma da tuberculose é uma das doenças mais antigas da
humanidade, encontrada nos esqueletos dos seres humanos
primitivos. O da sífilis, por outro lado, era desconhecido do conti-
nente europeu até ser levado da América do Norte por Colombo.
A contribuição mais importante de todas as investigações que
Hahnemann fez sobre os miasmas é a afirmação da existência
das camadas de predisposição, subjacentes aos períodos de
alternância das doenças temporárias; "essas camadas devem ser
levadas em conta em um tratamento que pretenda ser
completamente curativo. Em tais casos, a cura completa exigirá
um tempo relativamente longo, enquanto o médico remove
sistematicamente camada após camada das predisposições às
fraquezas, prescrevendo com cuidado cada medicamento,
169
baseado na totalidade dos sintomas do momento (ver figura 9).
Cada camada é sempre o resultado de outras camadas
subjacentes, e há uma seqüência definida em sua apresentação.
Se um medicamento for prescrito regularmente com base apenas
no passado ou no histórico da família e não na sintomatologia
atual do paciente, ele pode, na verdade, interromper o processo
de cura. Pior ainda, essa prescrição pode desordenar o
mecanismo de defesa a ponto de dificultar o discernimento da
imagem do medicamento correto.
O conceito de camadas de predisposição teve um considerável
valor prático nos casos de doença crônica reincidente. Por
exemplo, se um paciente consultar um homeopata devido a dores
de cabeça crônicas que começaram após uma exposição ao frio,
e o médico receitar beladona, acabará descobrindo que as dores
de cabeça desaparecem de forma extraordinária. Se o paciente
tiver uma constituição muito forte, o problema pode permanecer
curado por um bom tempo. No entanto, a grande maioria das
pessoas são gradualmente enfraqueci das pelas influências
hereditárias, pelas drogas ou pelas vacinas, que resultaram em
várias camadas de predisposição. No momento em que o
paciente mencionado faz sua primeira consulta com um
homeopata, a totalidade dos sintomas representa apenas a
camada predominante das suas predisposições. Com o tempo, a
camada seguinte provavelmente se manifesta, podendo o
paciente apresentar sintomas como grande sensibilidade ao frio,
desejo excessivo de doces e ovos quentes, vertigens em lugares
altos e calor nas solas dos pés quando está deitado. Então, o
homeopata percebe que a nova complexidade de sintomas,
embora não seja tão paralisadora para o paciente quanto as
dores de cabeça, ainda representa uma limitação à sua
liberdade. Com base nessa nova totalidade de sintomas,
prescreve-se Calcarea carbonica e a saúde do paciente
apresenta uma melhora maior ainda, sem que haja nova
170
manifestação das dores de cabeça. Neste exemplo, Hahnemann
diria que a segunda camada devia-se ao miasma psórico.

Podemos, assim, perceber a sabedoria de Hahnemann ao


afirmar que o tratamento homeopático deve ser continuado até
que todas as camadas da predisposição sejam eliminadas. Se o
171
paciente e o homeopata ficarem satisfeitos antes de eliminarem
todas as camadas, a condição remanescente, que não foi
tratada, provavelmente degenerará com o tempo, transformando-
se em um processo patológico irreversível, principalmente se
houver a ocorrência de outras causas excitantes. Cada camada
mostra-se, no início, na forma de alguns sintomas relativamente
menores, difíceis de discernir. Alguns anos depois, talvez a
imagem se torne mais clara, e então será possível prescrever o
medicamento mais apropriado. Em alguns casos, esse processo
de cura completa pode levar vinte anos de prescrição cuidadosa
e paciente.
A predisposição do mecanismo de defesa à fraqueza pode ser
devida a três fatores principais:

1. Influência hereditária
2. Doenças infecciosas graves
3. Tratamentos e vacinas anteriores

Apesar das investigações de Hahnemann, qualquer homeopata


que tenha estudado a evolução da degeneração de pacientes
durante um longo período pode confirmar a presença de um
grande número de "miasmas". Com certeza, a psora, a sífilis e a
sicosi são as influências maiores percebidas na prática diária.
Além disso, o câncer, a tuberculose e outras enfermidades
importantes transmitem de uma geração para outra imagens
características de doença que nem sempre podem ser igualadas
à própria condição patológica em particular; por exemplo, o filho
de um pai com tuberculose pode não contrair a tuberculose em
si, mas, provavelmente, sofrerá de bronquite asmática, febre do
feno, sinusite, emaciação, suores noturnos, inquietação e medo
de cães - reações que se manifestam nos experimentos com o
Tuberctilinum, o "nosódio" potencializado, que é preparado - a
partir de um abcesso verdadeiro do tubérculo. Um paciente
172
portador de asma, que venha de uma família com alta incidência
de câncer em sua história, pode reagir muito bem à
administração do nosódio Carcinosin, preparado a partir do
próprio tecido canceroso.
Da mesma maneira, um paciente pode adquirir uma
predisposição para a doença crônica após o ataque de uma
grave doença infecciosa, podendo essa predisposição ser
transmitida à geração seguinte. Por conseguinte, às vezes de-
paramos com casos em que os medicamentos bem selecionados
aparentemente não agem de maneira satisfatória. No entanto,
mais tarde, depois que se descobre um grave episódio de
influenza na história do paciente ou de um de seus pais, essas
pessoas reagem ao Influenzinum (nosódio preparado a partir de
um conjunto de vírus da influenza).
Por fim as drogas alopáticas ou vacinas podem enxertar no
organismo a predisposição para uma determinada síndrome de
alta sintomatologia homeopática individual. As vacinas contra a
varíola, contra a raiva, a imunização contra a poliomielite, a
cortisona, a penicilina, os tranqüilizantes, etc., são todas capazes
de enfraquecer seriamente o mecanismo de defesa, predispondo-
o a doenças crônicas de diversos tipos. Nesses casos, poucos
experimentos foram feitos com vacinas ou drogas
potencializadas; assim, a prescrição do nosódio correspondente
deve ser feita às cegas, mas conhecemos casos de reação
satisfatória ao Variolinum potencializado (o nosódio feito a partir
da vacina de varíola), ao Hydrophobinum (o nosódio da raiva,
que foi experimentado), ao nosódio do Penicillin ou ao da
Cortisona, quando a história do paciente ou a da família mostra
uma predisposição maior à doença crônica, seguindo-se à
exposição a uma dessas influências morbíficas. Além do mais,
deve-se enfatizar intensamente que a prescrição regular desses
nosódios deve ser evitada por todos os homeopatas conscientes,
pois essas prescrições indiscriminadas podem ser muito prejudi-
173
ciais, sempre que a camada correspondente ainda não produziu
uma imagem completa.
Baseados no que até agora foi dito, podemos apresentar uma
definição de miasma: Miasma é a predisposição à doença
crônica subjacente às manifestações agudas da moléstia, 1) que
é transmitida de geração para geração e 2) que pode responder
de forma benéfica ao nosódio correspondente, preparado a partir
do tecido patológico ou da droga ou vacina apropriada. Com essa
definição, torna-se claro que existe um grande número de
miasmas, e que o número total está aumentando constantemente
com o advento das terapias supressivas.
Consideremos um exemplo clínico verdadeiro que nos ajude a
esclarecer a influência das predisposições herdadas num
determinado caso, e a maneira como esse conceito afeta a
prescrição. Tomaremos o caso de um jovem que sofreu de
acessos periódicos de bronquite asmática durante muitos anos. A
cada acesso agudo era prescrita grande variedade de
medicamentos, como Bryonia, Gelsemium, de novo Bryonia,
Eupatorium perfoliatum e, finalmente, Kali carbonicum; o acesso
agudo cedia rapidamente a cada medicamento, mas depois de
um ou dois anos tornou-se claro que a predisposição
fundamental aos acessos não fora afetada.
Revisando os sintomas durante todo o período de tratamento,
percebemos algumas indicações que correspondiam ao
Tuberculinum; indagamos então se alguém em sua família sofria
de tuberculose. Realmente, um dos pais havia contraído a
doença, apesar de o filho nunca ter apresentado nenhum
sintoma. Pela constatação da história da família e tendo em vista
que o paciente mostrava sintomas homeopáticos
correspondentes aos nossos experimentos, receitamos
Tuberculinum numa potência alta, e os acessos de bronquite
asmática diminuíram de maneira extraordinária em intensidade e
freqüência, até, finalmente, desaparecerem.
174
Alguns anos depois, o paciente foi atacado por uma bursite no
braço direito, tratada com Sanguinaria. Durante um certo tempo,
ele sofreu de artrite no braço esquerdo e, mais tarde, no joelho
direito, tratadas com Rhus toxicodendron e Agaricus,
respectivamente. Percebemos a existência de uma camada de
predisposição subjacente, menos profunda do que a primeira,
mas que, no entanto, não estava sendo curada pelos
medicamentos específicos receitados durante as crises agudas.
O caso é revisto, no período do ano precedente, e são
encontradas algumas indicações de Calcarea carbonica, que é
prescrita; o paciente volta a ficar bem por alguns anos. Podemos
chamar a segunda camada de predisposição de miasma psórico,
mas o Psorinum (material potencializado de uma vesícula de
prurido) não é receitado. Em vez disso, os sintomas indicam
Calcarea carbonica e, na verdade, a melhora clínica confirma a
sua ressonância com o grau de vibração da segunda camada.
Esse exemplo é muito instrutivo, porque ilustra de modo
satisfatório os princípios básicos envolvidos. Cada prescrição
está baseada na totalidade dos sintomas do momento, mas,
durante as crises agudas, os sintomas agudos nos levam aos
medicamentos de atuação relativamente superficial. Como será
visto na parte prática deste livro, é muito raro poder-se encontrar
um medicamento que cubra cada sintoma detalhado do paciente.
Em conseqüência, há sempre alguns sintomas relativamente
menores que são desconsiderados. Durante um certo tempo, no
entanto, reconhecendo que não lidamos ainda com a camada de
predisposição, revemos todo o caso e descobrimos alguns des-
ses sintomas "escondidos", que nos levam ao medicamento de
ação mais profunda. Isso ilustra a importância do retorno do
paciente para uma consulta periódica, mesmo quando não está
tendo uma crise aguda; é freqüente, nesses momentos
relativamente calmos, detectar com facilidade os sintomas mais
sutis.
175
Podemos nos perguntar se não teria sido oportuno receitar
Calcarea carbonica, já no início deste exemplo. Antes de mais
nada, é muito improvável que fosse possível perceber a imagem
de Calcarea carbonica no início, pois a camada mais alta não
fora eliminada. Se por acaso tivesse sido dada Calcarea
carbonica, muito provavelmente ela não teria agido, porque a
freqüência de ressonância, naquele momento, não. combinava.
Se estivesse bastante próxima para produzir algumas mudanças,
não teria levado a uma cura e, muito provavelmente, teria
mudado a imagem sintomática o bastante para fazer com que as
prescrições posteriores fossem muito difíceis. Esse tipo de
equívoco pode prejudicar um caso, interferindo seriamente na
possibilidade de uma cura eventual.
Alguns homeopatas, ao atender pela primeira vez um paciente;
prescrevem regularmente os vários nosódios que correspondem
à história do passado do paciente e de sua família, de acordo
com a teoria de que os miasmas devem ser "limpos" antes de se
ministrar o medicamento constitucional. Uma rotina como essa
prescreve os nosódios uma vez por semana durante um mês, em
seqüência, e, depois que a seqüência estiver completa, é tomado
o caso constitucional. Essas rotinas são completamente
impensadas e muito perigosas. Como se pode afirmar qual das
doenças da história pregressa realmente criou um miasma? E
quem pode determinar a seqüência precisa das camadas? Às ve-
zes, é claro, um dos nosódios pode produzir um certo benefício,
mas se for dado tempo insuficiente para que a sua ação tenha
efeito, qualquer benefício que tenha sido criado será inutilizado
pelas prescrições subseqüentes. É sempre necessário analisar o
caso por completo e só depois prescrever a receita - após uma
cuidadosa consideração sobre a escolha do medicamento, sua
potência e o tempo correto - de acordo com as leis e princípios
básicos enumerados.
Às vezes um claro conhecimento dos miasmas pode ter grande
176
valor de predição, confirmando, de forma convincente, a teoria.
Uma mulher de 21 anos foi trazida ao consultório por seu pai
porque sofria há muitos anos de dores de cabeça crônicas.
Quando o caso foi analisado, a totalidade dos sintomas indicava
de maneira clara o Medorrhinum, um nosódio muito bem
experimentado preparado a partir da emissão gonorréica. O pai
era um importante funcionário do governo, um homem de grande
distinção, e achei improvável que ele tivesse tido gonorréia.
Entretanto, levei-o para outra sala e perguntei-lhe, confi-
dencialmente, se alguma vez tivera gonorréia, nos seus anos de
juventude. A resposta foi: "Quem não teve?" Receitei o
Medorrhinum, e a paciente prontamente teve seus sofrimentos
abrandados.
Este caso mostra uma importante distinção que deve ser feita. A
filha não tinha gonorréia; é até mesmo possível que seu
mecanismo de defesa fosse tão fraco que ela não estivesse,
naquele momento, suscetível à gonorréia, mesmo exposta
(embora depois do tratamento seu mecanismo de defesa
pudesse ficar tão fortalecido que ela se tornasse suscetível).
Entretanto, a influência miasmática não se mostrava, pela
sintomatologia específica, limitada à patologia venérea em
particular. Se possuíssemos experimentos de todos os nosódios
correspondentes aos miasmas conhecidos, como aconteceu
nesse caso, a prescrição certamente seria muito mais fácil.
Temos na figura 10 uma representação esquemática das várias
camadas de predisposição. Na base de cada camada, está a
saúde mais plena possível para aquela camada. No alto de cada
uma, o mecanismo de defesa émais fraco para aquela camada
de suscetibilidade em particular. Se o nível de saúde da mãe e do
pai estiverem localizados como está o nível da amostra, a
predisposição do filho estará em algum ponto entre o dos pais; a
localização precisa depende da gravidade das predisposições de
cada um dos pais. Isso se refere especificamente ao estado de
177
saúde dos pais no momento da concepção da criança.

O nível geral da saúde dos pais depende, naturalmente, de suas


próprias predisposições globais, mas também varia dentro de um
certo espectro, dependendo das horas de repouso, do grau de
estresse emocional, da presença ou ausência de drogas e álcool,
etc. Por essa razão é muito importante que os que pretendem vir
a ser pais façam o possível para melhorar ao máximo sua saúde
- não apenas no momento da concepção, mas antes mesmo
dela. Estas mudanças passageiras no estado de saúde dos pais
explicam o fenômeno comumente observado. de filhos dos
mesmos pais que mostram uma grande variação de saúde.
178
Dessa forma, a atenção consciente dos pais para com a sua
própria saúde durante os anos de geração dos filhos pode salvá-
Ios de grandes sofrimentos na vida.

Sumário do capítulo 9
1. A doença é o resultado de uma "causa excitante" e de uma
"causa mantenedora". A causa mantenedora é a predisposição
herdada para a doença crônica, o "miasma".
2. A predisposição para o miasma não é apenas uma questão
que envolve o ADN, pois as doenças adquiridas durante a vida
podem transmitir suas influências às gerações subseqüentes.
3. As predisposições à doença crônica são a razão primária pela
qual em alguns casos continua a haver recaída apesar da terapia
correta.
4. As teorias miasmáticas de Hahnemann foram muito mal
compreendidas, ignoradas, ou irrefletidamente transformadas em
fórmulas para se "limpar" um caso dos miasmas.
5. As camadas de predisposição são eliminadas uma de cada
vez. Um medicamento dado num momento impróprio não surte
nenhum efeito ou cria um dano verdadeiro de dois tipos: pode
interferir no progresso da cura e perturbar o mecanismo de
defesa o bastante para evitar o aparecimento.de um quadro de
sintomas claro.
6. As predisposições miasmáticas não são apenas simples
herança de uma condição patológica bem definida, mas, pelo
contrário, a herança de uma síndrome particular, que
corresponde à influência do miasma.
7. O miasma é caracterizado pela transmissão de geração para
geração e pelo alívio obtido pelo nosódio correspondente.
8. A predisposição de uma criança é a combinação das
predisposições dos pais. A predisposição transmitida pelos pais é
o resultado tanto do estado geral quanto do estado específico de
179
saúde.

Parte II
Os princípios da homeopatia na aplicação prática

Introdução
Como foi descrito na parte I, os processos que tratam da saúde e
da doença são compreendidos por leis e princípios verificáveis.
Embora essas leis e princípios sejam conhecidos há séculos,
somente em tempos recentes o genial Samuel Hahnemann
possibilitou sua formulação na ciência curativa da homeopatia.
Assim como a física sofreu uma mudança desde a era
newtoniana até os conceitos da física moderna, o campo da
medicina lentamente começa a investigar os domínios dos
campos de energia no corpo humano.
Os conceitos apresentados na parte I são interessantes e
plausíveis por si mesmos, mas não passam de idéias estéreis até
serem provados na arena da real experiência clínica. É na
aplicação desses conceitos que as verdades profundas da
homeopatia se tornam vivas qe significado e vívidas na ação.
Após ler este e outros livros sobre homeopatia, o leitor pode
adquirir uma compreensão intelectualmente clara da lei dos
semelhantes, das leis da direção da cura, da potencialização e
dos conceitos sobre as predisposições subjacentes à doença.
Essa compreensão intelectual, no entanto, está muito distante da
aplicação. Em termos específicos, como uma totalidade de
sintomas é deduzida de um paciente de forma que as atividades
de seu mecanismo de defesa possam tornar-se visíveis? De que
maneira, também, chegamos ao quadro de sintomas obtido pelos
medicamentos homeopáticos? Na prática, como podemos
180
combinar essas duas imagens quando confrontadas com um
determinado paciente? Uma vez receitado um medicamento, de
que maneira precisamente os princípios teóricos se manifestam
em resposta? Todos sabem que os seres humanos muito
raramente se ajustam a padrões nítidos e simples; de que forma,
então, a homeopatia pode ser aplicada nos casos complexos que
envolvem vários fatores interferentes?
Por ser a homeopatia uma terapia baseada somente na
estimulação do grau de energia do ser humano, as leis e
princípios subjacentes que regem esse domínio devem ser
completamente entendidos pelo médico homeopata antes de
tentar o tratamento de um caso real. Uma vez compreendidos os
princípios subjacentes, o passo seguinte émergulhar na arte da
homeopatia. Cada paciente é um indivíduo. A abordagem exata
de cada paciente é, por conseguinte, altamente individualizada.
Pode-se tentar analisar, passo a passo, a maneira exata pela
qual os princípios básicos são aplicados ao paciente, mas o
processo real da prescrição de um medicamento está mais
relacionado com a arte. Tendo compreensão dos princípios, o
homeopata aprende a arte de conhecer o paciente, de extrair
dele a imagem única de seu estado patológico e de, finalmente,
escolher com precisão o medicamento e a potência necessários
àquele paciente em particular. Isso dá início a um processo que
estimula o mecanismo de defesa, e leva a outra decisão, a saber,
se o medicamento agiu e de que maneira. O próximo passo é
escolher o medicamento e a potência seguintes, e o processo
continua. Cada decisão exige uma total compreensão das leis e
princípios fundamentais, mas em cada caso essa compreensão é
fundida de forma artística numa aplicação única para cada pa-
ciente.
O encontro entre um paciente e um hcimeopata é uma interação
íntima dos dois. O paciente, naturalmente, tem a
responsabilidade de relatar da maneira mais completa e exata
181
possível todos os aspectos de sua existência, até mesmo ao
descrever os sintomas, mais íntimos. O médico, no entanto, não
é apenas um observador passivo, protegido por uma parede de
objetividade. Cada paciente enreda o homeopata de maneira
profunda e significativa. Devido à própria natureza da
homeopatia, o médico se torna participante íntimo da vida do
paciente, envolvendo-se em cada um de seus aspectos e sendo,
de imediato, solidário e sensível, bem como objetivo e
compreensivo. Para o homeopata, cada dia é um processo vivo,
e a experiência das regiões mais profundas da existência
humana é obtida de forma muito rápida. Quando a homeopatia é
praticada com esse grau de envolvimento, ela tanto estimula o
crescimento do médico quanto do paciente.
Em cada caso, o homeopata enfrenta uma nova variação dos
muitos modos pelos quais as leis fundamentais são aplicadas aos
indivíduos. Cada caso é tão único que é literalmente impossível
escrever um manual que possa aplicar-se com precisão a um
determinado indivíduo. Ainda assim, é possível descrever os
padrões comumente vistos na prática homeopática; tal é o
propósito da parte II deste livro. Ela pretende fornecer pautas
pelas quais os médicos homeopatas possam aprender a aplicar
os princípios enunciados na parte I.
É muito importante reconhecer que a arte da aplicação prática
não pode ser aprendida apenas nos livros. Os livros podem
fornecer uma estrutura geral, mas não são suficientes para tornar
o praticante capaz de lidar com um caso específico. A instrução
supervisionada por um homeopata experiente é absolutamente
necessária. Essa instrução ensina ao iniciante a necessidade de
julgar cada caso em particular de modo a ser coerentemente
exato na tomada de decisão. No início, os equívocos são muito
freqüentes, o que é inevitável; mas o feedback proporcionado por
um homeopata experiente pode capacitar o praticante a aprender
com ele. A própria qualidade da circunspecção, tão necessária, é
182
aprendida. Ela ajuda a desenvolver a capacidade para ser
decidido e, ao mesmo tempo, estar disposto interiormente a
duvidar de todos os julgamentos. Esse procedimento exige um
treinamento intenso, tanto para a homeopatia quanto para as
demais realizações profissionais.
Neste manual, presume-se o conhecimento relativo de uma
informação médica regular por parte do leitor. Assuntos como
anatomia, psicologia, diagnóstico físico e de laboratório, as
muitas variedades de diagnóstico para as diversas categorias de
doença, assim como os tratamentos médicos regulares para
essas categorias são importantes para se ter uma visão
abrangente do que está ocorrendo com um paciente num
determinado momento. Mesmo que a nomenclatura padronizada
das doenças utilizadas pela ciência médica não seja básica para
a seleção do medicamento homeopático, é importante um
conhecimento acurado do estado patológico do paciente para se
chegar a um prognóstico preciso de qualquer caso.
Por essa razão, os médicos automaticamente levam certa
vantagem ao lerem a respeito da homeopatia. Presume-se que
eles estejam prontos para mergulhar diretamente no material
puramente homeopático aqui apresentado. A experiência mostra,
no entanto, que, por razões práticas e doutrinais, é provável que
os médicos não respondam à homeopatia em número suficiente
para satisfazer à demanda pública crescente. Por outro lado; é
bem possível que muitos estudantes que não fazem medicina se
empenhem no estudo disciplinado da homeopatia. Por isso, é
importante enfatizar que, embora não seja necessário ser um
especialista em assuntos médicos, para se tornar um bom
homeopata é necessário estar bem informado a respeito da
ciência médica a fim de corresponder adequadamente à
responsabilidade para com os pacientes.
Nesta parte, tentaremos discutir de modo detalhado os vários
aspectos técnicos da receita homeopática. Em cada capítulo os
183
princípios descritos na parte I serão traduzidos, na medida do
possível, em termos práticos. Por essa razão, essas duas partes
estão sendo combinadas em um volume: trata-se de duas
maneiras de descrever as mesmas leis e princípios.

Capítulo 10
O nascimento de um medicamento
Uma vez dominada a teoria homeopática fundamental, nossa
principal preocupação será com o próprio medicamento
homeopático - o instrumento pelo qual o processo da cura é
acionado. Para ser eficiente, esse instrumento deve ser
altamente refinado no preparo e experimentado de forma
acurada. Na atualidade, existem, literalmente, milhares de
medicamentos derivados de minerais, plantas e tecidos doentes,
cujas características foram completamente delineadas por
experimentações cuidadosamente conduzidas, e alguns outros
milhares que foram apenas parcialmente experimentados.
Todavia, para que a homeopatia continue a progredir, é
necessário continuar realizando experimentos com novos
medicamentos, o que fatalmente leva a uma expansão do
equipamento terapêutico. Para atingir esse objetivo, é necessário
ter claramente definidos os modelos dos métodos atuais de
realização de uma experimentação acurada e completa.
A base teórica fundamental para a experimentação de drogas em
pessoas saudáveis foi enunciada originalmente por Samuel
Hahnemann, conforme descrição no capítulo 6. No Aforismo 21,
Hahnemann descreve o princípio básico:

"Ora, sendo inegável que o princípio curativo dos remédios não é


perceptível por si mesmo e como nas experiências puras com os
remédios, desenvolvidas pelos observadores mais rigorosos,
nada pode ser observado que os constitua em medicamentos ou
184
remédios a não ser o poder de causar alterações distintas no
estado de saúde do corpo humano e, particularmente, no corpo
do “indivíduo saudável', nele excitando vários sintomas
morbíficos definidos, conclui-se que, quando os remédios agem
como medicamentos, eles podem apenas fazer funcionar sua
propriedade curativa mediante esse poder de alterar o estado de
saúde do homem, produzindo sintomas peculiares; e assim, por
conseguinte, temos que confiar somente nos fenômenos
morbíficos que os remédios produzem no corpo saudável como a
única revelação possível de seu poder curativo inerente a fim de
aprender qual o poder que cada remédio possui em particular
para produzir a doença e, ao mesmo tempo, a cura."

Vemos, assim, que o propósito da experimentação de um


medicamento é registrar a totalidade dos sintomas morbíficos
produzidos por essa substância em indivíduos saudáveis; e essa
totalidade, portanto, constituirá as indicações curativas sobre as
quais será prescrito o medicamento curativo para o indivíduo
doente.
Provavelmente esse conceito, de que qualquer substância,
literalmente, pode ter um espectro amplo e variado de sintomas
altamente individuais, é novo para muitos. De fato, quando
houver a possibilidade de variar a dosagem da substância, esse
espectro de sintomas pode tornar-se evidente por meio de
comprovação cuiaadosa. O fato de as substâncias realmente
produzirem reações específicas é claramente afirmado por
Hahnemann no Aforismo 30:

"O corpo humano parece admitir ser afetado de maneira muito


mais poderosa, em sua saúde, pelos remédios (em parte porque
temos o regulamento da dose em nosso próprio poder) do que
pelos estímulos morbíficos naturais - pois as doenças naturais
são curadas e dominadas por remédios apropriados."
185
É possível, na verdade, envenenar um organismo com qualquer
substância, se for administrada em quantidade suficiente. Isso é
verdade tanto para um veneno como para um alimento. Uma
coisa tão comum como o sal de mesa, se for administrado em
grandes doses diariamente durante um longo tempo, pode gerar
uma variedade de sintomas em pessoas relativamente
saudáveis. Se administrarmos uma substância que está sendo
testada, em quantidade suficiente, ela perturbará a força vital o
bastante para mobilizar o mecanismo de defesa que, por sua
vez, gerará um grupo de sintomas inteiramente peculiares à
substância que está sendo testada.

Quando uma substância é administrada e os sintomas


resultantes são anotados, estamos registrando as manifestações
específicas do mecanismo de defesa - esse é o único modo que
temos para identificar a freqüência ressoante da ação do
medicamento. Assim também, quando anotamos os sintomas do
paciente, estamos registrando as manifestações peculiares que
representam a freqüência ressoante do mecanismo de defesa.
Combinando o quadro de sintomas do medicamento com o
quadro de sintomas do paciente, comparamos suas freqüências
de ressonância, realizando, dessa maneira, a cura pelo
fortalecimento do mecanismo de defesa em seu ponto mais fraco.
Se uma substância for administrada em doses tóxicas ou
venenosas, virtualmente todo o organismo reagirá, mas essa
reação será muito grosseira para ter valor em termós de
homeopatia. Sintomas como coma, convulsões, vômito ou
diarréias serão registrados, mas as distinções sutis, refinadas,
não serão evidentes. Se, no entanto, doses pequenas, até
mesmo diminutas e potencializadas, forem usadas, produzir-se-á
uma ampla variedade de sintomas altamente refinados e
específicos, particularmente nos planos mental e emocional. É
186
por isso que a homeopatia enfatiza as experimentações em
serem humanos saudáveis, capazes de descrever de forma
lúcida até as mudanças mais sutis. O método alopático, pelo
contrário, primeiro testa as drogas em animais e, depois, em
seres humanos doentes. O teste com animais é, naturalmente,
inadequado para qualquer propósito terapêutico verdadeiro, pois
os únicos sintomas que podem ser registrados são os sintomas
físicos mais grosseiros. Para os propósitos homeopáticos, o teste
de drogas feito em seres humanos doentes tampém é
inadequado, já que os sintomas da doença podem confundir-se
facilmente com os efeitos da droga. De qualquer modo, é óbvio
que as drogas alopáticas são testadas apenas na sua
capacidade de funcionar como paliativos dos sintomas ou
síndromes específicos e não pelo efeito que podem ter sobre a
saúde geral do paciente.
Quando uma substância é administrada num organismo, existem
duas fases de resposta. O efeito primário ocorre imediatamente,
dentro de poucas horas ou dias; este representa a "fase de
excitação" da reação, que geralmente é um tanto violenta. O
organismo, em sua tentativa de restabelecer o equilíbrio,
compensa a si mesmo, então, com um efeito secundário. Esse
tem, geralmente, um período de reação aproximado de duas
vezes o tempo da reação primária. Os sintomas gerados nessa
segunda fase podem ser opostos aos sintomas da primeira fase.
Em qualquer experimentação, é importante registrar os sintomas
das duas fases, mesmo que eles pareçam contraditórios. Cada
fase representa uma manifestação característica da ação do me-
canismo de defesa e, por conseguinte, deve ter a mesma
importância.
Os medicamentos homeopáticos são derivados de planta,
mineral, animal e produtos de doença (ou de drogas alopáticas
potencializadas), e todos têm um preparo altamente padronizado.
Nos países onde a homeopatia é muito difundida, a rigorosa
187
qualidade dos medicamentos é assegurada pela conformação às
farmacopéias homeopáticas muito detalhadas, usadas como
modelos universais.
Além disso, a própria técnica da experimentação deve ser
cuidadosa, completa, precisa e padronizada. Uma vez que um
medicamento é desenvolvido com ingredientes colhidos num
determinado local geográfico, onde é em seguida experimentado,
esse preparado específico deve ser o único usado por todos os
homeopatas, baseados nesse experimento. O medicamento
Pulsatilla, usado por todos os homeopatas, deve ser da mesma
espécie utilizada nas experimentações originais; se fosse
empregada uma espécie diferente, sem ser feita nova
experimentação, o quadro específico de sintomas poderia ser tão
diferente, que não se alcançariam os resultados desejados. Se
um medicamento for preparado e experimentado na índia, so-
mente este preparado deve ser utilizado pelo resto do mundo.
Nosso receituário só poderá ser suficientemente
acurado se nos prendermos a esses padrões, atingindo possíveis
resultados seguros na homeopatia.
Para que o mecanismo de defesa produza os sintomas, o limite
da força vital deve ser transposto. Isso pode ocorrer de duas
formas: ou a dosagein da substância é suficientemente forte para
sobrepujar a força vital, ou o organismo tem um grau
relativamente alto de sensibilidade a ela. A figura 11 ilustra de
forma esquemática o que acabamos de dizer. É mostrado um
amplo espectro de sensibilidades, ou taxas de vibração,
resultantes de diversas experimentações. A taxa de vibração da
substância testada é mostrada da forma indicada. Visando
produzir sintomas nos provadores cuja vibração é muito diferente
da vibração do medicamento, devem ser usadas altas dosagens
do material (talvez até doses tóxicas), podendo-se esperar que
os sintomas resultantes sejam muito abruptos (envolvendo mais
o corpo físico). Por outro lado, se essa alta dosagem do material
188
fosse usada em provadores muito sensíveis à substância, isso
poderia resultar em. sintomas fortes e prejudiciais. Se, no
entanto, for dada uma dose diminuta ou potencializada. aos
provadores que estão muito próximos da taxa de vibração da
substância, aparecerão uma série de sintomas altamente
específicos e característicos; nesse caso, os sintomas serão
sutis, individuais e característicos, principalmente nos planos
mental e emocional.
Por fim, se o grau de vibração de um dos experimentadores
combinar exatamente com o da substância, este provador terá
um alívio extraordinário e duradouro de todos os sintomas
apresentados antes da experimentação. Devido ao princípio de
ressonância, os melhores sintomas de uma experimentação são
inferidos pelos provadores mais sensíveis à substância que esiá
sendo provada.
Surge, naturalmente, uma questão importante: é ético administrar
substâncias potencialmente tóxicas em indivíduos
essencialmente saudáveis? Antes de mais nada, é oportuno
esclarecer que as experimentações jamais devem ser feitas em
dosagens tóxicas; para os sintomas tóxicos, devemos contar
apenas com os relatos dos envenenamentos acidentais
járegistrados na literatura toxicológica. A administração da
substância que está sendo provada é suspensa assim que
houver o registro do primeiro sintoma. Os provadores com pouca
sensibilidade à substância têm poucos ou nenhum sintoma e sua
saúde não é afetada. Os provadores sensíveis à substância, no
entanto, demonstram um aumento definitivo da saúde no
decorrer da experimentação, efeito que se prolonga no tempo.
Quanto mais sensível for um provador, maior será o benefício
para sua saúde. O próprio Hahnemann observou esse efeito
benéfico nas experimentações e instava a que todos
participassem deles.

189
Basicamente, existem três critérios para determinar se um
medicamento sofreu uma completa experimentação:

1. Devem ser registrados os sintomas dos experimentos feitos


em indivíduos saudáveis, usando-se doses tóxicas (como as
registradas nos envenenamentos acidentais), hipotóxicas (isto é,
potências baixas) e altamente potencializadas.
190
2. Os sintomas registrados devem ser retirados dos três níveis
do organismo: mental, emocional e físico.
3. Devem ser incluídos os sintomas que foram curados no
processo do tratamento do organismo todo, depois da
administração do medicamento a uma pessoa doente.

Qualquer medicamento experimentado que registre apenas os


sintomas físicos é insuficiente para os propósitos da homeopatia.
Como foi dito, a toxicologia alopática, mesmo a praticada pelas
universidades de prestígio, é inadequada por basear-se
primariamente em estudos com animais. Além disso, esses
estudos toxicológicos não abarcam toda a gama possível de
potências. Até mesmo os registros dos envenenamentos de
seres humanos são inadequados, pois os sintomas não são
descritos com individualização suficiente; por exemplo, se o
envenenamento por uma determinada substância produzir a
"mania", é muito raro que a literatura alopática descreva o tipo
particular de mania característica de cada uma das vítimas do
envenenamento.
Por fim, as descrições do medicamento que não incluem
sintomas curados apresentam apenas um quadro particular dos
sintomas. Afinal, a cura é o objeto da administração do
medicamento e os sintomas eliminados do ser como um todo,
durante o processo da cura, são os mais confiáveis, pois indicam
o mais alto grau de sensibilidade ao medicamento.
É comum nos questionarmos sobre a possibilidade de se
encontrarem pessoas suficientemente saudáveis capazes de
participar desses experimentos. De fato, hoje em dia pessoas
com essas características são raras. Por essa razão as
experimentações devem conformar-se a um formato preciso,
destinado a minimizar o registro de quaisquer sintomas
patológicos preexistentes. Isso deve ser feito com grande
cuidado e uma objetividade tipo "double-blind".
191
A descrição, a seguir, desse formato preciso sem dúvida alguma
esmorecerá alguns leitores. Ele exige um número relativamente
grande de pessoas, leva aproximadamente dois anos e é,
necessariamente, um pouco caro. Entretanto, essas dificuldades
devem ser avaliadas considerando o fato de que a informação
gerada por esse procedimento formará uma base sólida para o
receituário de muitas gerações. Nas nossas universidades e
centros médicos modernos, muito tempo, esforço e dinheiro são
gastos para se adquirir dados que comumente são considerados
ultrapassados em dez ou quinze anos. As experimentações aqui
descritas, por outro lado, representam apenas uma fração dessa
despesa e, no entanto, os dados permanecem confiáveis para
todas as gerações vindouras.

Preparação de uma experimentação


Atualmente, a fim de participar de uma experimentação válida,
um sujeito deve cumprir as seguintes exigências:

1. O sujeito deve estar bem familiarizado com a metodologia


homeopática e, acima de tudo, deve possuir um bom
conhecimento da sintomatologia encontrada na matéria médica
homeopática. Essa exigência é necessária para que o sujeito
possa apreciar completamente os desvios particulares
manifestados durante o experimento.
2. O sujeito deve ter entre dezoito e 45 anos de idade, para que a
degeneração natural do corpo, que advém com a idade, não seja
um fator sério. Além disso, déve apresentar, pelos padrões
médicos ortodoxos, uma saúde razoável.
3. O sujeito não deve ser uma pessoa histérica ou ansiosa. Isso é
necessário, pois indivíduos com essas características mostram
uma alta incidência de "efeito placebo"; em outras palavras, eles
geram os sintomas simplesmente pelo ato de tomarem uma
192
substância medicinal.
4. O sujeito deve ser capaz de apreciar a seriedade da
experimentação.
5. O sujeito deve ser capaz de levar uma vida tão normal quanto
possível durante o curso da experimentação. Isso quer dizer que
as circunstâncias de sua vida devem ser tais que lhe permitam
ter um tempo regular para o sono, para caminhadas, para comer,
etc. Sua alimentação deve ser baseada em alimentos livres de
substâncias químicas, produtos refinados e temperos ou
estimulantes. Finalmente, a pessoa deve ser capaz de manter um
grau razoável de estabilidade em relação ao emprego, família,
amigos - no plano mental e emocional, em geral. Em suma, o
sujeito deve ser capaz de levar uma vida de moderação durante
a experimentação, evitando influências excessivas.

O tempo de preparo, antes de iniciar a experimentação, deve ser


de pelo menos, um mês. Durante esse período os
experimentadores anotarão meticulosamente quaisquer sintomas
ou leves incômodos que observarem nos três níveis: mental,
emocional ou físico. Devem ser feitas anotações diárias pelo
menos três vezes ao dia, para evitar lapsos da memória, por
menores que sejam. Essas observações serão feitas com a total
convicção do experimentador sobre a absoluta importância da
experiência. Cada anotação registrará mesmo o menor desvio do
estado normal do sujeito. Deve incluir uma descrição por escrito e
com gráficos de cada sintoma, a intensidade do sintoma, a sua
duração e todas as influências que provocam agravamento ou
melhora. Além disso, quaisquer possíveis "causas excitantes"
devem ser anotadas, para que se possa colocar o verdadeiro
significado do sintoma em sua perspectiva própria. A seguir,
damos um exemplo desse tipo de anotação: uma pontada
moderada atrás do olho esquerdo, irradiando-se em direção à
têmpora esquerda, que ocorreu às 9h00 depois de o paciente ter
193
sido criticado pela mulher por ter esquecido de trazer o leite;
durou quarenta minutos, agravando-se pelo movimento repentino
e com o ruído, melhorando com a pressão e aplicações frias.
Outro exemplo: irritabilidade motivada por coisas banais e pelo
ruído, acompanhada dé fome; ocorrida às 15h30, não foi aliviada
caminhando nem tomando ar fresco, mas apenas com a ingestão
de alimento. Depois do registro de todos esses detalhes a
respeito do estado normal do sujeito pelo menos durante um
mês, sua "linha de base" estará suficientemente delineadapara
que se dê início ao experimento.
Antes de começar, o painel dos experimentadores que levarão
adiante a experiência contém todas as anotações sobre a
perspectiva dos sujeitos e as registra a fim de decidir quem pode
participar. As seguintes pessoas devem ser excluídas da
experimentação desde o início:

1. As que revelaram uma certa quantidade de sintomas


emocionais ou mentais. Muitos sintomas desse domínio
confundem os resultados finais.
2. Aquelas que obviamente omitiram a lembrança de sintomas ou
que mostraram superficialidade no relato. Essas tendências
indicam falta de clareza mental ou falta de sinceridade.
3. As que sofrem de doenças resultantes de hipersensibilidade -
como asma, febre do feno, alergias, hipersensibilidade a
alimentos, etc.

Local para a experiência


O ideal é fazer três experiências, cada uma em lugar diferente e
com sujeitos de nacionalidades diferentes. Como as reações
variam muito, dependendo do ambiente, as experimentações
devem ser feitas nas montanhas, nas planícies baixas e em
lugares próximos ao mar.
194
Para que uma experimentação seja absolutamente confiável,
essas condições ideais devem ser reunidas. No entanto, não é
provável que essas experiências tão elaboradas sejam possíveis
por algum tempo. Como compromisso, por conseguinte, é
recomendável que a experiência seja feita num local no campo,
de preferência a uma altitude de cerca de 4500 metros, com ar e
água não poluídos. Deve ser um ambiente tranqüilo, livre das
febris e ansiosas influências urbanas.
O propósito desse ambiente natural é elevar o máximo possível a
saúde dos sujeitos antes da verdadeira experiência. Tendo em
mente tal objetivo, quinze dias no campo devem ser suficientes.
Depois do décimo quinto dia, os sintomas relatados
provavelmente já representam expressões que pertencem à
verdadeira constituição da pessoa. Uma vez que a estabilização
própria tenha sido concluída nesse ambiente natural, a
experiência real pode ser iniciada.

A experiência
A prova experimental de uma nova droga sempre deve ser
levada adiante de uma forma "double-blind", na qual nem os
experimenta dores nem os sujeitos conheçam a droga que está
sendo experimentada (figura 12). O responsável pela experiência
é quem decide sobre a substância a ser experimentada,
assegurando-se de que os métodos usados no decorrer da prova
se conformem aos mais altos padrões. Ele também decide, de
acordo com as técnicas aleatórias de rotina, quais os sujeitos que
irão receber a substância experimental e quais os placebos. Para
25 por cento dos sujeitos, aproximadamente, serão ministrados
placebos, enquanto os demais receberão a substância a ser
testada. Esta e os placebos devem ser acondicionados de
maneira idêntica, e o código que identifica os sujeitos em teste
que receberam os placebos deve-ser mantido em segredo tanto
195
para os experimentadores como para os sujeitos. Instruções
estritas devem ser fornecidas a todos os experimentadores para
que não se comuniquem entre si, sob nenhuma circunstância,
trocando informações a respeito dos sintomas.
A experiência começa com a administração da substância a ser
testada nos sujeitos apropriados numa dosagem hipotóxica. A
potência pode oscilar de 1X até aproximadamente 8X - sendo
usado 1X para as substâncias relativamente não-tóxicas (por
exemplo, plantas comestíveis) e de 8X a 12X para as substâncias
mais tóxicas (por exemplo, ácido cianídrico). As doses são dadas
três vezes ao dia durante um mês, ou até que os sintomas
apareçam. Devem ser dadas instruções cuidadosas para que
todas as doses sejam suspensas sempre que quaisquer sintomas
definidos, que não sejam comuns, apareçam. Entretanto, as
anotações detalhadas são mantidas três vezes ao dia, mesmo
depois da suspensão do medicamento. A observação deve
continuar até um mês depois de ter sido completada a
administração do medicamento, prosseguindo durante mais três
meses ou o tempo que for preciso para se certificar de que mais
nenhum sintoma novo está surgindo.

196
Supondo-se que de cinqüenta a cem sujeitos participem dessa
experiência, somente um sujeito muito especial passará por uma
cura dos sintomas preexistentes, alguns desenvolverão novos
sintomas em poucos dias, um grupo maior mostrará sintomas
depois do vigésimo dia, e a maioria mostrará pouco ou nenhum
sintoma durante todo o período de observação. Essa grande
variação de resposta é perfeitamente esperada devido à variação
de sensibilidade descrita na figura 11. Os que imediatamente
produzem sintomas são os mais sensíveis. ao medicamento; são
esses os sujeitos que continuarão a experiência mais tarde, com
197
potências mais altas.
Depois de passado o tempo necessário para se ter certeza de
que não surgirá mais nenhum sintoma da primeira fase, esses
sujeitos que reagiram rapidamente às doses hipotéxicas
receberão os mesmos medicamentos na trigésima potência e, de
novo, 25 por cento deles receberão placebos, de forma aleatória.
Isso é repetido uma vez todos os dias durante duas semanas. O
período de observação a seguir deve continuar por pelo menos
mais três meses, ou até se tornar evidente que mais nenhum
sintoma novo surgirá. Como sempre, se os sintomas se
manifestarem imediatamente, as doses seguintes serão
suspensas, enquanto os sintomas continuam a ser registrados
sob condições rigorosas até cessarem. Quando todos os
sintomas tiverem desaparecido, o sujeito da experimentação
deve transcrever seu diário no painel e voltar para casa.
A última administração de alta potência deve ser retardada por
um ano, tempo durante o qual podem ser feitas as observações
menos formais no ambiente normal do sujeito. Após esse período
de descanso, os mesmos sujeitos que receberam a trigésima
potência se reúnem outra vez nesse meio ambiente rural e
experimental e passam outro período de preparo, restabelecendo
as observações de "linha de base". Em seguida, é ministrada
uma dose de potência 10M ou 50M (e, de novo, 25 por cento
deles recebem placebos), enquanto são observados
intensamente por mais um período de três meses ou até que
todos os sintomas cessem.
Na conclusão da experiência, o painel de experimentadores
reúne todos os cadernos de anotação e, um por um, cataloga os
sintomas que representam um desvio do estado normal do
sujeito. Os experimentadores devem se encontrar e tentar
elaborar e esclarecer cada sintoma da forma mais cuidadosa
possível - descrevendo completamente as causas excitantes, o
tempo de duração e as modalidades. Por fim, a experiência é
198
"revelada". Os sintomas gerados pelos sujeitos que receberam
placebos são retirados dos registros dos sujeitos em teste, a
menos que haja uma discrepância marcante na freqüência ou
intensidade. Os experimentadores, então, cotejam todos os
sintomas remanescentes, entregando-os para publicação.

A formulação das "matéria médicas"


As experiências descritas são o primeiro passo para o
nascimento e aparecimento de um medicamento. Essas
experiências precisas, mais toda a informação disponível na
literatura toxicológica, fornecem os dados brutos que formam os
fundamentos básicos para a utilização do medicamento. Apesar
de a informação ser elaborada e detalhada, ainda assim é
incompleta até ser provada clinicamente. O medicamento é
administrado por profissionais de confiança às pessoas doentes,
de acordo com os sintomas gerados nos experimentos. Desse
modo, à medida que a experiência clínica cresce, são feitos
registros cuidadosos dos sintomas curados durante um processo
de cura verdadeira do paciente em sua integralidade em todos os
seus três níveis. É muito importante entender que somente os
sintomas assim curados, levando em consideração a pessoa
toda, é que são significativos; negligenciam-se os sintomas
ocasionais, que desaparecem aleatoriamente sem uma mudança
curativa correspondente nos demais níveis do paciente.
Finalmente, surge o quadro completo do medicamento, que
abrange todas as fontes: a literatura toxicológica, os
experimentos e observações clínicas. Logo que essa imagem
completa estiver disponível, o medicamento pode ser incluído
numa matéria médica completa. É possível que um homeopata
bastante familiarizado com o medicamento crie uma gradação
dos sintomas de acordo com a importância, como expressões da
verdadeira personalidade do medicamento. Essa graduação é
199
altamente subjetiva e pode variar um pouco de homeopata para
homeopata; contudo, podemos oferecer uma aproximação
rudimentar à forma pela qual os sintomas são classificados, do
mais confiável ao menos confiável.
Os parâmetros mais importantes no julgamento da confiabilidade
dos sintomas são os seguintes:

1. Sintomas curados. Sintomas curados como parte de uma cura


completa, seja durante a experiência, seja na aplicação clínica.
2. Freqüência. Sintomas encontrados com maior freqüência entre
os sujeitos.
3. Intensidade. Sintomas que produzem os efeitos mais
poderosos nos sujeitos.
4. Potência. Sintomas que ocorrem durante o teste das potências
mais altas são mais confiáveis do que os que ocorrem durante as
doses brutas. .
5. Tempo. Sintomas que surgem num sujeito imediatamente após
a administração do medicamento, especialmente se for numa
potência alta, são mais significativos do que os que ocorrem
posteriormente.

Por conseguinte, os sintomas aos quais se dá maior grau de


confiabilidade são, naturalmente, os sintomas curados (que
fazem parte de uma cura completa), que também são observados
num número maior de sujeitos, com grande intensidade e
velocidade, e que são evidentes mesmo após a administração de
potências altas. Os, sintomas menos confiáveis são os que
ocorrem de maneira fraca em apenas alguns dos sujeitos, os que
ocorrem muito tardiamente, os que ocorrem somente em casos
de envenenamentos, ou os que foram curados apenas de
maneira acidental, sem uma correspondente melhora geral da
saúde.
Enquanto os sintomas vão sendo graduados e observados nos
200
verdadeiros pacientes, vai surgindo uma imagem da
personalidade da substância que está sendo testada. Assim
como não percebemos um indivíduo como se ele fosse um
conjunto de características isoladas, a cor do cabelo, a
constituição do corpo, os maneirismos, a atitude, etc., também
não podemos perceber as expressões de um medicamento como
entidades isoladas. Logo que tenhamos a totalidade dos
sintomas, devemos passar um certo tempo meditando sobre eles
como uma totalidade integrada, principalmente em relação aos
pacientes nos quais vimos o medicamento agir de forma curativa.
Dessa maneira, adquirimos aos poucos o sentido da "essência",
ou "alma", do medicamento. Essa imagem final, integrada, do
medicamento, na análise final, está além das simples palavras;
ela é "conhecida" de maneira viva e experimental - tal como se
conhece um amigo.
A imagem do sintoma de um medicamento pode ser vista em
forma diagramática na figura 13. A totalidade dos sintomas tem
uma "forma", ou "formato", igual ao representado. Cada pico
corresponde a um sintoma específico. O formato que tem a
moléstia no paciente é idealmente semelhante ao formato do
medicamento apropriado, mas é mostrado em tamanho maior
devido à intensidade de sua influência morbífica sobre o
paciente. Nesse sentido; o "formato" do medicamento e o da
doença possuem a mesma "freqüência de ressonância", como
discutimos anteriormente; a freqüência de ressonância produz
um tipo particular de sintomas nos indivíduos doentes e nos
experimentadores. A combinação dos quadros de sintomas é a
tarefa principal do homeopata ao prescrever o medicamento.

201
Na literatura homeopática, existe uma variedade de tipos de
matéria médicas que oferecem descrições dos diferentes níveis
do processo do nascimento de um medicamento. Talvez a melhor
maneira de ilustrar este assunto seja seguindo o "crescimento"
da imagem de um medicamento nas diversas materia medicas.
Levaremos em consideração um dos mais conhecidos remédios
da homeopatia, o Arsenicum album. Para começar, existem os
dados primitivos, bastante detalhados, do experimento original.
Esse experimento foi citado por Hahnemann, em seu livro
Chronic diseases, e é um dos marcos da literatura homeopática.
Por ser muito ilustrativo a nível do detalhe e da profundidade
fenomenais que Hahnemann imprimia ao seu trabalho, citamos
amplamente este exemplo no final deste capítulo.
Os resultados desses experimentos estão, desse modo, reunidos
em volumosas matéria médicas como a Encyclopedia of pure
materia medica, de Allen, em dez volumes, e o Guiding
symptoms, também em dez volumes, de Hering. São trabalhos
de referência úteis, que qualquer homeopata deve possuir, pois,
além dos sintomas detalhados, eles também se utilizam de
símbolos para indicar as gradações relativas aos sintomas mais
importantes.
202
O Dictionary of practical materia medica também é um exemplo
de materia medica que condensou os dados brutos em sumários
compactos dos sintomas, ordenados pelo sistema anatômico. É
um valioso livro de referência por ser bem detalhado e também
muito conveniente ao uso. Além disso, cada medicamento é
apresentado numa parte que, de forma lúcida, descreve as
principais características clínicas e os casos exemplares que
foram curados.
Por fim, a "essência" ou personalidade dê um medicamento é
descrita numa materia medica que melhor se exemplifica com o
livro Lectures on homeopathic materia medica with new
remedies, de Kent. Essa monumental contribuição à homeopatia
deveria constituir objeto de estudo e meditação contínuos, na
carreira de qualquer homeopata. Kent não faz nenhuma tentativa
de apresentar um delineamento completo de todos os sintomas
manifestados com cada um dos medicamentos. Em vez disso,
tenta descrever a "essência" principal, a personalidade essencial
de cada medicamento da forma como foi compilada pela sua
arguta experiência. Kent foi um clínico e observador
incomparável, e é o melhor do seu conhecimento e experiência
que torna essa materia medica tão confiável.
Um exemplo clássico de um experimento feito cuidadosamente é
dado no apêndice A. E um extrato do experimento original de
Hahnemann com o Arsenicum album, um dos medicamentos
mais comumente usados na materia medica homeopática.

Capítulo 11
O preparo dos medicamentos
Qualquer método terapêutico deve dominar os aspectos técnicos
dos materiais usados, se houver alguma esperança de se
alcançar resultados que possam ser reproduzidos. Os padrões
dos materiais e métodos devem ser cuidadosamente
203
estabelecidos e seguidos à risca. Isso é verdadeiro tanto para a
homeopatia quanto para as demais ciências.
Em sua maior parte, a responsabilidade pela padronização
técnica recaiu sobre os ombros dos farmacêuticos homeopáticos.
Levando-se em consideração a exigüidade da dose administrada
a cada paciente, é fácil imaginar os problemas que esses
farmacêuticos têm para obter, de maneira justa, algum lucro.
Apesar das suas dificuldades, eles têm feito um trabalho
admirável, fornecendo aos homeopatas de todo o mundo
excelentes medicamentos, de padrão confiável. No entanto, para
que esses padrões sejam mantidos, todo praticante deve tomar
providências para apoiar os farmacêuticos no preparo e
distribuição desses preciosos medicamentos. Não é o bastante
simplesmente juntar os medicamentos em nossos consultórios e,
às cegas, tomar como certo que o suprimento estará sempre à
mão. Pelo contrário, devemos fazer acordos pelos quais nossos
farmacêuticos sejam beneficiados com nossas prescrições tanto
quanto nós mesmos e nossos pacientes. Caso contrário, a
confiabilidade e disponibilidade dos medicamentos de-
saparecerão ao mesmo tempo; tal procedimento, assim como a
oposição das sociedades médicas ortodoxas, podem levar a
homeopatia à morte.
Ao considerarmos os padrões técnicos para a própria produção
dos remédios homeopáticos, devemos antes dar, atenção ao
preparo inicial da planta, do mineral ou do nosódio para a
obtenção de uma forma viável de potencialização. Além disso, é
muito importante ater-se aos padrões específicos para a
potencialização. Por fim, e isso vai ser apresentado no capítulo
19, a estocagem, o manuseio e a administração dos
medicamentos devem ser compreendidos e seguidos.

A preparação inicial das substâncias no estado


natural
204
Os materiais de valor medicinal aparecem na natureza em
grande variedade de formas, algumas das quais são de fácil
aproveitamento químico para a potencialização, ao passo que
outras exigem um preparo inicial.
Uma grande variedade de espécies de plantas é usada na
homeopatia. O primeiro passo, obviatnente, requer a seleção das
espécies corretas, cultivadas sob condições 6timas e colhidas
num tempo ideal. Essa tarefa exige a habilidade de uma pessoa
que tenha grandes conhecimentos de botânica. Uma vez que
uma espécie particular de planta tenha sido utilizada num
experimento, todas as condições de colheita e preparo original da
planta devem ser reproduzidas detalhadamente nos preparos
médicos posteriores.
Além da atenção cuidadosa dada às espécies, é importante
colher somente as plantas encontradas em seu habitat particular,
sob condições que reduzem ao mínimo a contaminação do solo,
da água e dos poluentes do ar. Por exemplo, uma planta que
brota no alto de uma colina com pleno acesso ao sol e à chuva,
livre da contaminação dos pesticidas utilizados nas imediações
pelo escoamento das águas, é preferível a uma planta que
cresce próxima a uma estrada onde o tráfego é intenso, num vale
cercado de plantações submetidas a freqüentes pulverizações
químicas.
A época da colheita pode ser .importante. Algumas plantas têm
uma vitalidade muito maior em certas estações do ano e outras,
em outras estações. A estação da colheita, por conseguinte, deve
reproduzir tanto quanto possível as condições do experimento
original; a época ideal para a colheita será a de maior vitalidade
da planta. Geralmente, a melhor estação é a primavera e, em
seguida, o verão; algumas espécies, porém, só podem ser
repicadas em épocas especiais do ano. O ideal é apanhar a
planta num dia de sol, logo depois de uma chuva; tal
205
procedimento aumenta ao máximo a probabilidade de não haver
nenhuma contaminação. Naturalmente, a própria planta deve
estar saudável, livre de resíduos de terra e da infestação dos in-
setos.
Os experimentos com substâncias de plantas, em alguns casos,
incluíam a planta toda e em outros apenas uma porção dela.
Ademais, deve-se saber com clareza o que foi usado no
experimento original. Se o experimento original foí feito somente
com a flor madura de uma planta e não com a planta toda, deve-
se usar somente a flor.
Parece, a principio, impossível que o praticante possa apreender
a grande quantidade de informação técnica necessária para cada
um das centenas de medicamentos experimentados. Felizmente,
tudo isso já foi compilado em farmacopéias que servem de
padrão. Uma das mais bem aceitas é a Homeopathic
pharmacopoeia of the United States. No momento em que
escrevo este livro, ela está sendo novamente atualizada para se
ajustar a todos os padrões de botânica e química modernos;
mas, daqui para a frente, retiraremos as citações de sua sexta
edição. Para dar um exemplo do cuidado minucioso exigido na
seleção da planta apropriada para o preparo do medicamento,
segue-se uma descrição da Pulsatilla.

"PULSATILLA (Anêmona dos campos)


Ordem natural: Ranunculaceae.
Sinônimos: em latim, Anemone pratensis, Herba vent; Pulsatilla
nigricans, P. pratensis, P. vulgaris; em inglês, Meadow anemone,
Pasque flower, Wind flower; em francês, Pulsatille; em alemão,
Kuchenschelle.

Descrição: Erva decídua, perene, com raiz de forma alongada,


grossa, lenhosa, marrom-escura, oblíqua e com várias copas. O
caule possui de 8 a 13 centímetros de altura, é simples, ereto e
206
arredondado. As folhas são radiculares, pecioladas, bipinatífidas,
e possuem segmentos lineares; a base é cercada por diversas
bainhas ovaladas e lanceoladas. As flores variam de cor, do
violeta-escuro ao azul-claro, aparecem de março a maio e têm a
forma campanular, pendular, terminal, refletidas no ápice,
cercadas por um distinto invólucro séssil composto de três
brácteas palmadas divididas e incisas em lobos lineares. A planta
é revestida de pêlos longos e sedosos, é inodora, mas quando
esfregada exala um vapor acre e tem um gosto acre e ardido.

Habitat: Campos e planícies, lugares secos de muitas partes da


Europa, da Rússia, da Turquia e da Ásia. Fig., Flora Hom. II 102;
Jahr e Cat. 254; Winkler, 109, 110.

Parte usada: A planta fresca na época de floração.

Logo que uma planta (ou uma porção dela) for colhida de
maneira correta, será então preparada de forma a tornar-se
própria para o processo padrão da potencialização. Geralmente,
isso implica o preparo de uma tintura da planta. O preparo das
tinturas é um procedimento padronizado, muito conhecido pelos
botânicos e herboristas, mas para os nossos propósitos a
descrição padrão é dada por Hahnemann, no Aforismo 267 do
Organon.
"Tomamos conhecimento dos poderes das plantas nativas e das
que podem ser obtidas frescas da maneira mais certa e
completa, misturando imediatamente seu suco fresco e recém-
extraído com partes iguais de álcool de vinho de força suficiente
para queimar em uma lanterna. Depois de essa mistura ter
permanecido durante um dia e uma noite num frasco bem
arrolhado e de as matérias fibrosas e albuminosas estarem
depositadas, o fluido claro e suspenso é, então, decantado para
uso medicinal. Toda fermentação do suco vegetal será detida de
207
vez pelo álcool de vinho a ele misturado, depois não mais
utilizado; todo o poder medicinal do suco vegetal é, dessa
maneira, retido (perfeito e inalterado) para sempre, mantendo-se
o preparo em frascos bem arrolhados e lacrados com cera para
evitar a evaporação, longe da luz do sol”.

As substâncias minerais e os nosódios também são preparados


dentro de um padrão igualmente rigoroso. Os nosódios são
preparados com matérias da doença, como a emissão gonorréica
(Medorrhinum), o cancro da sífilis (Syphilinum), a cavidade da
tuberculose (Tuberculinum), o vírus da influenza (lnfluenzinum), a
saliva da ruiva (Hydrophobinum), etc., e também com drogas
como o Valium, a penicilina, a cortisona, etc. A primeira
preocupação deve ser com a pureza, a simplicidade e a
praticabilidade química.
Muitas substâncias minerais, assim como algumas plantas, não
são quimicamente viáveis para a potencialização. Estas devem
ser preparadas de alguma maneira; o método especial para cada
caso varia de acordo com a natureza da substância. As
preparações posteriores devem se conformar com o método
exato utilizado nos experimentos originais, mesmo que as
modernas técnicas tenham se mostrado superiores. O próprio
Hahnemann é uma das melhores fontes para o uso do melhor
método das substâncias em particular. Ele era um químico
bastante habilitado e muito bem informado sobre alquimia; desse
modo, seu conhecimento do preparo dos minerais era muito
particular e completo. Um exemplo da minuciosidade específica
implicada no preparo de uma determinada substância metálica
específica é dado na bibliografia comentada deste capítulo - a
descrição que Hahnemann faz do Causticum. Esse exemplo
ilustra a incrível minuciosidade com que ele investigava as
substâncias, tanto em suas ações biológicas quanto em suas
características químicas.
208
O passo seguinte na preparação dos remédios é a produção da
milionésima diluição (potência 6X ou 3c). Se o preparo inicial, ou
tintura, for solúvel em álcool, então a potencialização a esse nível
é levada adiante da maneira padrão descrita mais adiante. Se, no
entanto, a substância não for solúvel em álcool, é usado um
método específico de trituração para elevá-Ia à milionésima
diluição numa forma solúvel em álcool. Isso implica moer a
matéria com uma determinada quantidade de lactose num
almofariz durante três horas. O método é altamente específico e
não mudou desde a primeira descrição feita por Hahnemann (ver
a bibliografia comentada).
Como sabemos, esse primeiro nível de preparação possibilita
que o potencial energético das substâncias materiais seja
liberado, mas ele também tem efeitos puramente químicos,
difíceis de compreender. Hahnemann, ademais, descreve este
efeito:

Essas substâncias medicinais, como foi mostrado em outra parte,


não somente desenvolvem seus poderes a um grau prodigioso,
como também mudam seu comportamento físico-químico de tal
forma que, se ninguém antes jamais pôde perceber em sua forma
bruta qualquer solubilidade no álcool ou na água, após essa
transmutação peculiar elas se tornam completamente solúveis
tanto na água quanto no álcool - uma descoberta inestimável
para a arte da cura...
O que posso afirmar sobre os metais puros e seus sulfuretos,
senão que todos eles, sem exceção alguma, ficam com esse
tratamento da mesma maneira, tanto solúveis na água quanto no
álcool, e que cada um deles desenvolve a virtude médica que lhe
é peculiar do modo mais puro e simples a um grau incrivelmente
alto?

O preparo padrão
209
Logo que o medicamento tenha sido preparado numa forma
solúvel à potência de 6X, é usado o método típico de
potencialização, descrito no capítulo 7. Uma gota é diluída numa
certa quantidade de solvente (9, 99 ou 50.000 gotas), e a solução
resultante é vigorosamente submetida a um número definido de
sucussões. A seguir, uma gota dessa solução é diluída, agindo-
se do mesmo modo, e o processo continua indefinidamente.
A diluição e a sucussão podem ser feitas tanto manualmente
quanto pela utilização de uma máquina. Hoje em dia, é mais
eficiente usar máquinas que possam executar o processo de
forma rápida e contínua. Mesmo utilizando máquinas, no entanto,
um medicamento de potência alta freqüentemente leva três
meses para ser produzido. Uma variedade de máquinas tem sido
projetada para realizar essas sucussões. O importante é que o
número de sucussões seja padronizado; as experiências
mostram que devem ser feitas entre quarenta e cem sucussões
para cada nível de potência. A força de cada sucussão deve ser
equivalente a ou maior do que a força do braço de um homem ao
bater o frasco preso na mão fechada com força contra uma
superfície firme (como um livro com encadernação de couro,
como foi descrito por Hahnemann). As máquinas devem ser
controladas cuidadosamente quanto ao número e força das
sucussões, a fim de que nenhum erro mecânico possa interferir
na padronização dos preparos.
Naturalmente, a prática de algumas farmácias inescrupulosas, de
fazer a sucussão logo após cada cinco ou dez diluições, deve ser
deplorada e rejeitada. Além disso, a tendência moderna para
desenvolver máquinas que apliquem a energia cinética de modos
não convencionais (isto é, com ultra-som, disparando um jato de
solvente num tanque giratório, etc.) deve ser rejeitada. Num
sentido puramente físico, esses desvios podem ser eficazes, mas
o vasto corpo da experiência homeopática até aqui foi construído
210
sobre medicamentos preparados pelo método padrão acima
descrito; por conseguinte, as principais alterações introduzem
sérias variáveis na interpretação dos resultados. Quaisquer
mudanças de técnica devem ser testadas experimentalmente de
maneira completa por um longo período, para confirmar suas
validades. Os profissionais conscientes devem se responsabilizar
pela constância dos métodos específicos usados no preparo dos
medicamentos e comprar somente medicamentos das farmácias
que mantêm os melhores padrões clássicos.
No momento existem dois métodos igualmente válidos para o
preparo de uma diluição. O método hahnemanniano consiste em
tomar uma gota da potência previamente diluída no álcool, fazer
a sucussão e, então, desfazer-se do frasco de vidro, após o
preparo de cada potência. Pelo método Korsakoff, procede-se
derramando fora o solvente da potência anterior, deixando uma
gota desta nas paredes do frasco (que se determinou ser de um
tamanho uniforme a cada vez) e, então, adicionando-se o novo
solvente para o preparo da potência seguinte; desse modo, no
método Korsakoff é usado o mesmo frasco para cada potência.
Naturalmente, mesmo no método Korsakoff, é desejável de vez
em quando separar potências intermediárias para armazená-Ias;
desse modo, o número total de frascos usados para, digamos,
uma potência elevada a duzentos deve ser de seis a oito,
enquanto no método hahnemanniano são necessários duzentos
frascos.
A diferença de preparo entre o método de Hahnemann e
Korsakoff deu origem a uma inflamada controvérsia entre os
homeopatas. O argumento contra o método Korsakoff é o de que
ele resulta numa mistura de potências de um para outro nível. No
meu entender, esse argumento não tem sentido. Afinal, quando.
é feita a diluição e a sucussão do frasco, toda a solução, assim
como o frasco, se eleva a uma nova amplitude de vibração.
Como pode uma porção da solução evitar passar pela mesma
211
mudança das demais porções? Por conseguinte, não pode haver
"contaminação" de uma potência para outra.
Essa não é uma distinção meramente acadêmica. Ela tem uma
grande importância prática para os farmacêuticos homeopatas.
Para executar o método hahnemanniano, devem ser usados
muitos frascos, e os frascos velhos só podem ser reutilizados
depois de serem aquecidos num forno a alta temperatura. Tal
procedimento, naturalmente; é muito dispendioso e
desnecessário. A fim de auxiliar a preservação de nossas
farmácias e de seus padrões, é preferível o método Korsakoff.
As potências originais de Hahnemann foram feitas em álcool,
mas isso também sobrecarrega muito as "farmácias que
produzem medicamentos de alta potência. Como o álcool não
pode ser reutilizado, é necessária uma grande quantidade de
álcool para se fazer um medicamento de alta potência. Por
exemplo, consideremos a produção de uma potência de 10.000;
para a produção dessa potência
seriam necessários aproximadamente 50 litros de álcool - uma
proposta muito cara! Não é provável que o álcool ou a água
façam qualquer diferença no processo real da potencialização,
pois várias misturas dos dois foram usadas no passado. Por
conseguinte, seria preferível usar água duplamente destilada
para todas as potências intermediárias. No entanto, qualquer
potência, que tenha de ser armazenada para uso como
medicamento, deve ser preservada em álcool puro. A água não é
um bom meio para a preservação, pois os microrganismos
tendem com o tempo a proliferar, podendo interferir na ação do
medicamento. O álcool, por outro lado, é um excelente
preservativo, podendo-se confiar nele para manter as potências
indefinidamente.
De qualquer modo, deve ser dada uma atenção cuidadosa aos
padrões de pureza de todos os materiais usados nesse delicado
processo. Como bem podemos imaginar, mesmo as pequenas
212
possibilidades de contaminação podem ser muito ampliadas
durante a potencialização. Por conseguinte, o ambiente onde
estão as máquinas que produzem a potencialização deve estar o
mais livre possível de poeira, odores químicos, luz do sol, etc. Os
frascos utilizados devem ter um alto padrão químico. A água e o
álcool também devem ter, pelo menos, alto padrão químico e
serem, no mínimo, duplamente destilados para se ter uma pureza
ainda maior. As tampas dos frascos usados devem, por
experiência, ser feitas de rolha de cortiça (ou, pelo menos,
cobertas de cortiça), e a cortiça deve ser de alta qualidade. A
lactose usada para a trituração e administração dos
medicamentos deve ser de alta qualidade e o almofariz e o pilão
usados devem ser aquecidos a altas temperaturas antes do
preparo de cada medicamento.

Nomenclatura
A terminologia usada para nomear as potências em suas
diferentes escalas evoluiu com o tempo. Infelizmente, isso levou
a convenções um pouco confusas para o iniciante.
A escala decimal é baseada na diluição de 1/10. A primeira
potência 1X é uma diluição de 1/10. A segunda diluição (1/10 X
1/10 = 1/ 100) é chamada de potência 2X. A oitava diluição
decimal (1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 X 1/10 =
1/100.000.000) é chamada de potência 8. Assim, a potência na
escala decimal é equivalente ao número de zeros no
denominador da diluição final.
A escala centesimal é a mais comumente usada na homeopatia.
E baseada nas diluições seriais de 1/100. Cada potência
centesimal, por conseguinte, é equivalente, in dilution, a duas
potências decimais. Uma potência 30c é a mesma que uma 60X ,
considerando-se apenas a quantidade de diluição.
Finalmente, alguns homeopatas esttio utilizando potências
213
baseadas em diluições seriais de 1/50.000 a cada nível. Estas
são chamadas de potências 50-milesimal, mas a linguagem
médica rotineira se refere a elas simplesmente como potências
milesimais. Esse fator incomum de
diluição foi sugerido por Hahnemann nos últimos tempos da sua
vida, baseado em seus experimentos preliminares com diferentes
graus de diluição e sucussão. Por exemplo, uma potência 1m é
uma diluição de
1/50.000 e uma potência 3m representa uma diluição de
1/125.000.000.000.000 (1/50.000 X 1/50.000 X 1/50.000).
É muito importante compreender que ambas, tanto a diluição
quanto a sucussão, são importantes na produção de um
determinado nível de potência clinicamente eficaz. Para cada
nível da potência é executado um número padrão de sucussões,
bem como uma diluição de acordo com a escala específica que
está sendo usada. A figura 14 mostra um quadro no qual as
potências em números equivalentes, pertencentes a diferentes
escalas, são comparadas quanto às suas diluições e número de
sucussões (admitindo-se um padrão de cem sucussões, para
cada nível).
Como os dois fatores estão implicados na potencialização, é
incorreto igualar as potências apenas de acordo com a sucussão
ou apenas com a diluição. Por exemplo, se compararmos uma
30c com uma 30X, as duas sofreram o mesmo número de
sucussões (3.000), mas possuem diluições diferentes (1/10
elevado a 30 para a 30X e 1/10 elevado a 60 para a 30c); desse
modo, a 30c é uma potência de certa forma mais alta. Pelo
contrário, se compararmos dois medicamentos de igual diluição,
um 30c com um 60X, vemos que o 60X tem uma potência mais
alta, pois sofreu 6.000 sucussões, em comparação com as 3.000
feitas com a 30c.
De vez em quando na prática clínica levanta-se o problema
quanto a que potência de uma determinada escala corresponde
214
efetivamente uma potência de outra escala. Por exemplo,
suponhamos que um paciente teve uma certa reação com a 30c;
o mesmo medicamento ainda é o indicado, mas o homeopata
quer mudar para uma escala milesimal. Que potência
corresponde, na escala milesimal, a 30c? Uma 9m é uma
potência mais alta, pois a diluição é maior? Ou é mais baixa
porque sofreu menos sucussões? Essa questão não pode ser
respondida com precisão, ainda, mas é um bom tema para as
futuras investigações. Algum dia será possível planejar uma fór-
mula que forneça essa comparação; mas existem ainda muitos
fatores desconhecidos. Por exemplo, a sucussão e a diluição têm
a mesma importância ou uma é mais importante do que a outra?
Um dos fatores é mais importante em potências mais baixas e o
outro em potências mais altas? Um determinado número de
sucussões tem um efeito constante em diluições diferentes, ou o
efeito varia nas diferentes diluições? Existem efeitos diferentes
abaixo do número de Avogadro, principalmente quando
quantidades apreciáveis da substântica original ainda estão
presentes, ou a razão da substância original é irrelevante para o
solvente? De qualquer modo, por enquanto, a única maneira de
chegar a um resultado é a experiência clínica dos observadores
mais atentos da homeopatia; no presente, o resultado ainda não
foi atingido.
Por convenção e hábito de experiência, certas potências são
usadas regularmente na homeopatia: 2X, 6X , 12X, 30c, 200c,
1.000c, 10.000c, 50.000c. Para facilidade de comunicação, o "c"
é omitido quando descreve potências de 30c para cima; desse
modo, referimo-nos a uma "potência 200th" em lugar de dizermos
"20-oc". E como alguns dos números maiores são impraticáveis,
adotamos as designações do numeral romano: 1.000 torna-se
1M, uma potência de 10.000 torna-se um 10M, uma potência de
50.000 é uma 50M, a de 100.000 é chamada de CM, e assim por
diante. O "M" é escrito com letra maiuscula neste livro para
215
diferenciá-Io do "m", que representa a escala "50-milesimal" de
potencialização. Existem potências chamadas ultra-elevadas que
vão a MM (1.000.000c) , 50MM (50.000.000c), CMM
(100.000.000c), MMM (1.000.000.000c), etc. Além disso, um
homeopata raramente receitará uma potência incomum, por
algumas razões - potências como uma 17X, uma 500c, etc.
Como foi mencionado no capítulo 7, o número de Avogadro
corresponde, na diluição, a uma potência 24X, que é uma 12c,
entre uma 5m e uma 6m. Isso quer dizer que, além desse ponto,
não resta mais nenhuma molécula da substância original. Por
conseguinte, as potências 10M ou MMM estão astronomicamente
além de qualquer possibilidade de manterem o efeito químico da
substância original. O fato de a energia, ou grau de vibração, da
substância original ser transferido para as moléculas do solvente
foi discutido no capítulo 7.
Hahnemann era químico e estava bem ciente do número de
Avogadro. O fato de ter levado adiante sua experiência e usado
potências que excediam esse número é bem indicativo de sua
mente aberta e de sua ênfase na observação empírica. Com isso
acabou descobrindo que essas potências eram cada vez mais
eficazes e tinham menos efeitos adversos do que as potências
baixas. Nesse ponto, muitos de seus seguidores não puderam
acompanhá-Io. O pensamento desses seguidores estava
fortemente enraizado na filosofia materialista que surgia na
época; desse modo, achavam inconcebível que os remédios
pudessem agir além dos níveis materiais. Esse fato causou uma
ruptura importante nos círculos homeopáticos que ficou
conhecida como a ruptura entre os que estavam a favor da
potência baixa e os que defendiam a potência alta. (Geralmente,
potências baixas são os medicamentos que estão abaixo do
número de Avogadro; são consideradas potências altas as que
ultrapassam esse número.)

216
Descrever essa ruptura como estando baseada nas potências
usadas pelos homeopatas não expressa adequadamente a
217
verdadeira natureza da cisão. Os homeopatas que começaram a
contestar a liderança de Hahnemann tendiam a rejeitar não
apenas o uso que ele fazia de altas potências, bem como muitos
dos seus demais princípios. Eram favoráveis à mistura de vários
medicamentos e à prescrição de várias potências de uma só vez.
Além disso achavam oportuna a repetição de medicamentos,
muitas vezes durante dias ou semanas; receitavam pelo diagnós-
tico do órgão afetado ou pelo diagnóstico do rótulo do
medicamento; prescreviam medicamentos para produzir a
"drenagem" do sistema, etc. Em resumo, os homeopatas que
defendiam as potências baixas, de modo geral, utilizavam os
medicamentos homeopáticos de forma quase puramente
alopática. Essas práticas ainda estão em voga em muitos lugares
do mundo, e prejudicam seriamente a possibilidade de cura em
milhares de casos.
Também é enganador descrever os homeopatas hahne-
mannianos clássicos como receitadores de altas potências. Um
homeopata que se conforma com as leis estritas da homeopatia
provavelmente fará uso de qualquer potência, dependendo das
necessidades individuais do paciente. É verdade que, mais
comumente, eles confiam em potências abaixo do número de
Avogadro, mas sempre existem circunstâncias em que até
mesmo uma potência 6X pode ser usada. Desse modo, a
verdadeira cisão pouco tem a ver com as potências usadas; pelo
contrário, diz respeito a toda uma filosofia e método de receitar.

Capítulo 12
A tomada de um caso
O sistema homeopático é uma disciplina científica que se baseia
em leis, princípios e técnicas estáveis e verificáveis. No entanto,
sua aplicação ao paciente individual é também uma arte. Esse
aspecto artístico da homeopatia é mais evidente no processo da
218
tomada de um caso. Embora existam pautas de orientação para
isso, cada entrevista é um processo único, que demanda do
entrevistador diferentes tipos de sensibilidade e diferentes
abordagens para cada paciente. É um processo vivo e fluente,
que, entretanto, leva à informação, com base na qual são feitos
os julgamentos científicos.
A tomada de caso, nos casos crônicos (no final do capítulo
analisaremos os casos agudos), exige grande experiência e
treinamento, que não podem ser adquiridos pela leitura de livros.
Os livros podem fornecer a estrutura básica e uma compreensão
simples dos objetivos de um caso bem tomado, mas a
desvantagem da aprendizagem pelos livros, nesse caso, reside
na tendência do leitor para conceitualizar o processo em termos
de regras. Ao escrever um livro, o autor, por necessidade, tem
que generalizar suas descrições e exemplos, e o leitor,
conseqüentemente, tem uma idéia muito pronta, muito simples,
muito preto no branco.
O único modo confiável de aprender a arte de tomar um caso é
envolver-se com o processo, sob a supervisão de um homeopata
experiente e eficiente. De início, isto pode implicar simplesmente
sentar-se em um canto e observar o homeopata exercendo essa
função e, depois, trocar impressões após a conclusão da
entrevista. O cenário ideal para isso é um consultório onde esteja
instalado um espelho de uma só face; desse modo, a entrevista
poderia ser conduzida mantendo-se, na aparência, a privacidade,
enquanto os estudantes tomam notas, postados do outro lado do
espelho. Logo depois, o instrutor pode examinar as anotações e
dar sugestões com relação às sutilezas e ênfases implicadas no
caso. De início, sua contribuição no processo de tomada de notas
e interpretação dae respostas dos pacientes é muito valiosa para
o estudante. Ela ajuda a desenvolver a sensibilidade necessária
para cada paciente, bem como a objetividade para traduzir, de
modo acurado, as expressões do paciente, transformando-as em
219
informações úteis para a estrutura homeopática.
Mais tarde, o estudante deve envolver-se pessoalmente com a
tomada de caso. O entrevistado r homeopata precisa
conscientizar-se de suas próprias responsabilidades para com o
paciente, adquirindo certa disciplina na situação real da
entrevista. Deve-se encontrar um equilíbrio entre a necessidade
da informação exata, a sensibilidade para com o que o paciente
está verdadeiramente expressando, e o estabelecimento de uma
comunicação que possibilite ao paciente sentir-se
suficientemente à vontade para compartilhar seus sentimentos e
experiências mais íntimos. O ideal é que esse processo seja
supervisionado por um homeopata experiente, de forma que o
entrevistador possa mais adiante aprimorar suas habilidades.
Cada entrevistador possui uma personalidade única e, por
conseguinte, um estilo único de conduzir uma entrevista, e cada
paciente exige uma abordagem individual. É necessário,
entretanto, aprimorar as habilidades necessárias, a fim de que a
informação registrada no papel constitua uma base confiável para
estudo posterior.
A informação colhida durante a entrevista homeopática é meio
caminho andado no processo que leva, por fim, à cura. Um caso
bem tomado proporciona imagens vívidas do paciente, que pode
ser estudado de maneira frutífera mais tarde, não apenas com o
propósito de chegar a um medicamento, mas também do ponto
de vista da aprendizagem a respeito das interações fundamentais
entre saúde e doença. Além disso, é também uma experiência
valiosa para o paciente, pois é um momento em que ele tem
oportunidade de examinar conscientemente os pontos mais cru-
ciais e íntimos de sua vida.
Por outro lado, um caso mal tomado pode ser a fonte de uma
interminável frustração. Quanto mais se estuda um caso desses,
mais se fica confuso sobre o que realmente está acontecendo
com o paciente, e qualquer prescrição baseada nessa informação
220
será apenas uma suposição. Se a informação não for melhorada
nas consultas subseqüentes, é possível que um caso como esse
prossiga durante anos, fragmentando-se a imagem do paciente
por meio das prescrições baseadas na adivinhação, até
finalmente tornar-se incurável. Esse é o tipo de problema que
todo homeopata enfrenta nos primeiros anos, enquanto adquire
experiência, mas a dificuldade pode ser minorada contando com
uma supervisão apropriada e um treinamento prático.
O propósito da entrevista homeopática é chegar de forma
acurada à totalidade dos sintomas significativos para o paciente
em todos os três níveis. É essa totalidade que expressa as
perturbações patológicas no plano dinâmico, e somente
deduzindo essa totalidade dos sintomas de forma acurada e
completa é que a perturbação interna pode ser compreendida.
Em outras palavras, é essa totalidade que expressa a freqüência
ressonante da enfermidade. O entrevistador não está, de modo
específico, apenas colhendo dados que mais tarde possam ser
analisados por um processo mecânico ou computadorizado para
chegar a uma conclusão. Trata-se de uma expressão livre
emitida pelas regiões mais íntimas e significativas da vida do
paciente, e assim o entrevistador deve, de modo suave e
sensível, encorajar a exteriorização da expressão desse estado
íntimo.
É nesse sentido que a tomada de caso, na homeopatia, é uma
arte. O entrevistador pode ser comparado a um pintor que,
lentamente e com um trabalho esmerado, produz uma imagem;
esta representa, em sua essência, uma visão particular da
realidade. O artista começa um quadro de uma determinada
maneira, mas, enquanto prossegue seu trabalho, a imagem se
transforma, tornando-se mais distinta, de modo não previsto
completamente. A mesma regra é verdadeira em relação à
entrevista homeopática. No começo, a descrição feita pelo
paciente pode parecer ir ao encontro de um medicamento em
221
particular, ou de uma compreensão particular da evolução da
patologia individual da pessoa, mas, com as descrições
posteriores, o conceito pode mudar inteiramente. Desse modo, a
informação adquirida é tão verificável quanto qualquer dado
científico. Sua obtenção, no entanto, é uma verdadeira arte.

O ambiente
Em primeiro lugar, deve-se dar atenção ao local onde é feita a
entrevista. O ambiente deve ser calmo, com uma decoração
harmoniosa, simples e estética. As interrupções devem ser
reduzidas ao mínimo, e o paciente não deve se sentir apressado.
É importante também que o paciente não se comporte de forma
tendenciosa devido a uma acentuada expectativa antes da
entrevista. Algumas poucas e simples instruções, esclarecendo
que a entrevista homeopática se focaliza no paciente como um
todo e não apenas no problema físico imediato, são apropriadas.
Mas descrições amplas da espécie exata de informação que a
homeopatia requer e, particularmente, o uso dos questionários
homeopáticos, devem ser evitados. É provável que esse tipo de
informação leve o paciente a se preocupar muito com detalhes
insignificantes, ao invés de se concentrar nas questões mais
significativas de sua experiência de vida.
A atitude do médico é um fator de grande importância, que
distingue uma tomada de caso eficiente de outra, mal feita. É da
maior importância que o entrevistador tenha interesse e
preocupação pelo bem-estar do paciente. Esse interesse pode
ser transmitido por algumas perguntas discretas feitas durante a
narrativa do paciente, ouvida com grande cuidado e atenção. Se
o entrevistador estiver sinceramente interessado, o paciente se
sentirá mais motivado a fornecer a informação necessária.
Não deve haver nenhuma implicação de julgamento por parte do
médico. Os sintomas comunicados pelo paciente devem ser
222
aceitos com interesse, mas sem nenhum julgamento. Não se
deve dar conselhos, e as recomendações morais devem ser
evitadas. Se o paciente se sentir julgado, provavelmente se
retrairá, recusando-se a divulgar a informação de maior valor.
Uma mente sem preconceitos por parte do médico é importante
não apenas para a comodidade do paciente e sua liberdade de
expressão, como também para a própria habilidade do médico
em perceber a verdade do caso. Freqüentemente, a tendência é
tentar catalogar os sintomas em interpretações baseadas nas
experiências anteriores ou no conhecimento da materia medica.
Esse processo é de certa forma inevitável, devendo a entrevista
ser muito cautelosa a esse respeito. Deve-se ter muitas suspeitas
acerca de qualquer tentativa habitual ou inconsciente de encerrar
a expressão do paciente em categorias preconcebidas.
Essa é a essência da abordagem empírica do medicamento; ela
é descrita de modo excelente no Aforismo 100, de Hahnemann.

"... é irrelevante se alguma coisa semelhante já apareceu ou não


antes no mundo com o mesmo nome ou com outro. A novidade
ou peculiaridade de uma doença dessa espécie não faz nenhuma
diferença, seja no modo de examiná-Ia como no de tratá-Ia, visto
que o médico deve, de qualquer maneira, olhar o quadro puro de
cada doença dominante como se ela fosse alguma coisa nova e
desconhecida, e investigá-Ia completamente por si mesmo se for
sua intenção praticar a medicina de um modo real e radical,
jamais substituindo a conjetura pela observação real, jamais
tomando o caso da doença que tem diante de si como se já fosse
conhecida de modo parcial ou total, mas sempre examinando-a
cuidadosamente em todas as suas fases."

Esse ponto foi desenvolvido posteriormente por J. T. Kent, um


dos maiores médicos da homeopatia, que humildemente admite
como os preconceitos rapidamente tendem a se insinuar de
223
modo furtivo no processo. Neste parágrafo, ele comenta o
aforismo de Hahnemann, transcrito acima.

"Tenha isso em mente, sublinhe-o meia dúzia de vezes com tinta


vermelha, pinte-o na parede, ponha o dedo indicador sobre ele.
Uma das coisas mais importantes é tirar da cabeça, no exame de
um caso, qualquer outro caso que pareça ser semelhante. Se
isso não for feito, a mente será prejudicada, apesar de nossos
melhores esforços. Eu tenho que lutar contra esse fato a cada
novo caso que enfrento. Tenho que me esforçar para não pensar
em algo que curei, parecido com esse, porque isso prejudicaria.
minha mente."

Ouvindo o paciente de modo ativo, a imaginação do homeopata e


sua sensibilidade devem se envolver bastante. O homeopata
deve desenvolver a capacidade de viver a experiência do
paciente. Não é apenas o caso de o homeopata se colocar no
lugar do paciente, mas o de perceber a experiência do paciente
em seu próprio contexto. Como é obviamente impossível para
qualquer pessoa experimentar verdadeiramente toda a gama de
expressões vistas durante um único dia de consulta de um
homeopata, é necessário que este suspenda os preconceitos
pessoais e se transporte em imaginação ao contexto de cada
paciente, a fim de viver essa experiência, mesmo por um
momento.
O paciente pode descrever um sintoma estranho à experiência
pessoal do homeopata - por exemplo, o medo experimentado em
meio a uma multidão. O homeopata deve imaginar de forma
ativa: O que é isso? Um sentimento de opressão? Medo de sofrer
uma agressão? Medo de não ser capaz de escapar em caso de
algum desastre imaginado? Uma vulnerabilidade emocional aos
sofrimentos dos que estão na multidão? Uma sensação de perda
da identidade pessoal, ao ver-se imerso na identidade da
224
multidão como uma entidade singular? A partir dessas
suposições, o homeopata será capaz de estruturar questões que
elucidarão de modo mais preciso o significado exato desse
sintoma para o paciente. Vivendo o sintoma dessa maneira, ele
também estará comunicando ao paciente seu verdadeiro
interesse, além de mostrar que entende até mesmo as
experiências ou os pensamentos mais íntimos do paciente.
Esse processo é idêntico ao que se relaciona com o estudo da
materia medica. De início, quando nos aproximamos da materia
medica, ficamos frustrados pela quantidade assombrosa de
dados aparentemente desconexos. Mas se nos aproximarmos de
cada um dos sintomas do modo acima descrito, gradualmente o
medicamento vai sendo visto como uma entidade integrada, viva.
Cada sintoma deve ser lido com grande interesse e solenidade; a
imaginação deve ser posta em jogo, a fim de que a verdadeira
experiência do sintoma e do medicamento possa ser vivida.
Como a experiência desse sintoma se relaciona com as demais?
Como pode ser? Depois de meditar desse modo sobre o
significado dos sintomas e sobre sua inter-relação, o homeopata
gradualmente obtém um melhor entendimento do medicamento,
da mesma forma como mais tarde terá uma compreensão melhor
do paciente. Se um paciente sente que o homeopata está
interessado nele, que o entende e não o julga, ele por fim
comunicará seu estado interior, ou sua essência. Assim também,
se um medicamento for analisado com interesse, com
compreensão, sem ser julgado, acabará proporcionando ao
homeopata sua essência interior. Em última análise, o processo
fundamental da homeopatia é a combinação dessas duas
imagens vívidas, ou essências.

Deduzindo os sintomas
Durante a entrevista, o homeopata fica relativamente em silêncio,
225
fazendo apenas algumas perguntas discretas para esclarecer um
ponto, demonstrar vivo interesse pela dissertação do paciente, ou
para dirigir a narração a aspectos mais relevantes. Esse é um
processo suave, catalítico, e não apenas uma forma aborrecida,
mecânica ou rotineira de recolher dados. O homeopata se
envolve de maneira ativa e íntima com a revelação do paciente.
Não é uma entrevista semelhante à conduzida por um questio-
nário escrito. O objetivo não é obter a maior quantidade possível
de dados, mas, ao contrário, deduzir uma imagem viva da
essência da patologia interna do paciente.
A maior parte das entrevistas começa, naturalmente, pedindo-se
ao paciente que descreva tudo o que percebe como problema no
momento. Geralmente, os pacientes falam a respeito dos males
físicos, e as descrições se caracterizam por uma certa
superficialidade. Na maioria das vezes, eles focalizam
informações de natureza alopática - testes de laboratório,
diagnósticos de outros médicos, etc. O entrevistador deixa o
paciente continuar a narração até esgotar o assunto.
De início, é importante que o homeopata fique inteiramente
informado a respeito da natureza alopática da queixa. Embora
esse conhecimento seja de pouca importância para a prescrição
do medicamento homeopático, ele é muito importante para o
julgamento do grau de seriedade do sintoma apresentado no
momento e, particularmente, para a compreensão do prognóstico
patológico para o futuro. Por conseguinte, o homeopata pode
muito bem examinar os registros alopáticos anteriores e os
resultados fornecidos pelos laboratórios. Se a situação patológica
ainda estiver obscura, pode ser importante recolher mais infor-
mação de laboratório ou radiológica, ou até mesmo pedir a
opinião de um especialista.
O homeopata deve, então, perguntar ao paciente: O que mais?
Esta pergunta ajuda a infundir no paciente a idéia de que os
sintomas não-alopáticos, ou não-físicos, são importantes. O
226
homeopata pode fazer um breve comentário para assegurar ao
paciente que a totalidade dos problemas do paciente é
importante.
O passo seguinte, geralmente, é fazer uma revisão do que foi
apresentado para esclarecer o significado de cada sintoma e
obter os detalhes, tão importantes para a homeopatia. Faz-se
uma investigação quanto à localização exata de cada sintoma,
sua sensação exata, a duração, o momento característico do
agravamento, quantos meses ou anos já dura, e as modalidades
com relação a coisas como calor e frio, mudanças de
temperatura, atividade ou repouso, posição, reação à fricção ou
pressão, etc. Como esses sintomas são os males mais
importantes do paciente, eles devem ser elaborados com certo
detalhamento, mesmo que possam, por fim, representar apenas
uma parte menor na escolha do medicamento. Qualquer exame
físico necessário também deve ser feito, para fornecer a
observação objetiva e assegurar ao paciente que o problema
está sendo investigado de modo completo.
É natural indagar, em seguida, a evolução do estado patológico
do paciente. Isso não deve constituir apenas um registro de rotina
da história médica do paciente, mas sim uma investigação ativa
acerca da seqüência exata dos sintomas correntes. Quando eles
ocorreram? Houve algum acontecimento importante na vida do
paciente na época do aparecimento dos sintomas? Que "causas
excitantes" podem ser consideradas como fatores na produção
dos sintomas? A evolução do estado patológico do paciente deve
focalizar, em particular, as seguintes influências principais:
1. Todos os choques mentais ou emocionais que ocorreram na
vida do paciente, inclusive acontecimentos como desgostos,
grandes perdas financeiras, separação de pessoas amadas, crise
de identidade e outros estresses da vida.
2. Todas as doenças principais que possam ter afetado a saúde
geral do paciente. Devem ser anotadas, principalmente, as
227
doenças venéreas, as doenças infecciosas prolongadas e os
colapsos mentais ou os desequilíbrios.
3. Todos os tratamentos recebidos durante a vida do paciente.
Como as terapias freqüentemente podem ser supressivas, esse
fator pode ser de grande importância na evolução da patologia
para regiões mais profundas. Por isso, devem-se levar em
consideração os tratamentos com drogas, cirurgia, psicoterapia,
terapias naturais e até mesmo as técnicas de meditação. Em
particular. deve-se perguntar ao paciente sobre cortisona, pílulas
para o controle da natalidade, hormônios da tireóide,
tranqüilizantes e antibióticos. Freqüentemente, a simples
indagação sobre esses tratamentos específicos estimulará a
memória do paciente a respeito de algum episódio importante de
sua vida.
4. Vacinas administradas e as reações manifestadas pelo
paciente.

Todas essas informações devem ser reunidas numa seqüência


cronológica, de forma que o homeopata possa ver os estágios de
desenvolvimento da patologia corrente. Essa indagação se
mostrará muito elucidativa para o paciente que, provavelmente,
não levou em consideração todos esses fatores com relação à
sua saúde geral.
Nesse ponto do caso, a patologia básica e sua evolução devem
estar muito bem entendidas. O passo lógico seguinte é fazer
perguntas com relação às preocupações típicas da
sintomatologia homeopática. Essas perguntas penetram em
áreas da vida do paciente que provavelmente não foram
consideradas relevantes ao quadro e, por conseguinte, servem
mais uma vez como um processo educativo, além da verdadeira
informação homeopática obtida.
Essas perguntas devem naturalmente incluir o máximo de
informação possível, mas devem tender a focalizar áreas de
228
importância particular da experiência diária do paciente:

1. Tolerância à temperatura, à umidade, às mudanças do tempo,


ao sol, ao tempo nebuloso, ao vento, às correntezas, aos
ambientes fechados, etc.
2. Mudanças que ocorrem em determinados momentos do dia ou
da noite e, também, durante determinadas estações.
3. A qualidade do sono (se é calmo ou irrequieto), a posição no
sono, as horas em que acorda e suas razões, necessidade de
cobertas sobre as diversas partes do corpo, se a janela deve
permanecer aberta ou fechada, etc. Sonhos mais comuns,
sonambulismo, sons ou gestos peculiares durante o sono, etc.
4. Apetite, sede, desejos por determinados alimentos, aversões e
irritações causadas por alimentos.
5. Desejo sexual, satisfação sexual e inibições ou obsessões
particulares relacionadas com a sexualidade.
6. O funcionamento dos diversos sistemas do corpo: endócrino,
circulatório, gastrointestinal, eliminador, respiratório, cutâneo, etc.
Com relação às mulheres, deve-se elaborar a história da função
menstrual e da gravidez.
7. A qualidade geral da energia disponível para o funcionamento
da vida diária e sob várias circunstâncias.
8. Limitações emocionais: ansiedades específicas, medos ou
fobias, depressão, apatia, falta de autoconfiança, irritabilidade,
etc.
9. A qualidade da vida do paciente na relação com as pessoas
amadas, com a família e os colegas.
10. Sintomas mentais, como memória fraca, incapacidade para
concentrar-se ou compreender, estados de delírio ou de
alucinação, paranóia.

Essa exemplificação de sintomas deve ser vista apenas como


uma diretriz; as perguntas reais, num determi nado caso, serão
229
guiadas pela natureza da própria doença. Ao indagar sobre todos
esses fatos, deve-se permitir gran de flexibilidade a fim de que o
paciente possa ser o mais expressivo possível, logo que a
amplitude dos sintomas que são de interesse para o homeopata
for entendida pelo paciente.
Cada sintoma deduzido deve ser explorado, para uma maior
exatidão e vividez. Por exemplo, se o paciente re lata uma
depressão, é importante aprofundar esse tema, para saber o
exato significado disso para o paciente. Nes sas épocas de
novidades psicológicas, esse termo tornou-se generalizado e
vago, embora seja comumente usado. Para um determinado
paciente, a depressão pode indicar um desejo de suicídio,
simples pensamentos de suicídio, deses pero,
desencorajamento, falta de auto-estima, ansiedade, pessimismo,
apatia, letargia mental, etc. Deve ser deduzida a qualidade
precisa do sintoma, incluindo-se todos os fatores modificadores.
E, o que é mais importante, esses sintomas devem ser
elaborados numa imagem viva do significado que têm para a vida
do paciente. Quando uma descrição generalizada é feita pelo
paciente, o homeopata pode perguntar: "Parecido com o quê?",
ou: "Pode dar um exemplo concreto?" Desse modo, as palavras
usadas tornam-se vivas” e o homeopata pode avaliar de modo
mais acurado a importância e a particularidade do sintoma. Esse
princípio de obtenção de imagens vivas é de grande importância.
Se o homeopata reunir apenas dados simples, não haverá caso
algum, e uma prescrição curativa pode até ser im possível.
Obtida a sintomatologia homeopática do plano físico, deve ser
estabelecida uma comunicação suficiente que possibilite
indagações posteriores acerca dos sintomas mentais e
emocionais. Estes são da maior importância para o homeopata,
devendo ser deduzidos com grande cuidado. É nesse domínio
que os pacientes provavelmente mantêm os segredos mais
importantes; por conseguinte, o entrevistador deve usar de
230
grande tato e sensibilidade para que o paciente os exponha.
Pacientes crônicos, em particular, abrigam bem no seu íntimo
sentimentos, pensamentos ou experiências que os envergonham
e Ihes causam grande embaraço. Eles acre ditam que esses
segredos são tão chocantes e tão inaceitá veis que ninguém
seria capaz de compreendê-Ios. No sentido cristão, eles são
vistos como "pecados" profundos, sombrios, que devem ser
reprimidos e escondidos a todo custo. Essas imagens
escondidas, sentimentos ou medos, são da maior importância
para o homeopata, pois são a expres são da atividade do
mecanismo de defesa nos graus mais profundos do organismo.
Logo que esses sintomas são trazidos à superfície,
particularmente quando acompanhados de fortes emoções, o
homeopata pode ficar seguro de que a essência mais profunda
da patologia está sendo revelada. Então, e somente então,
seleciona-se um medicamento que atinja os recessos mais
profundos do mecanismo de defesa e provoque a cura.
Na verdade, trazer à luz esses sintomas mais profundos é uma
matéria muito delicada. O primeiro indício de sua presença pode
ser revelado por uma simples tensão, hesitação, gesto ou
mudança da voz. Por terem sido erigidas paredes em volta
desses pontos doloridos, o paciente tentará escapar desses
sintomas, desviando-se para coisas menos dolorosas. O
entrevistador deve ser muito sensível
a essa dinâmica. Em nosso contexto cultural existem inúmeros
sinais sutis (verbais ou não verbais) por nós utilizados para avisar
os demais de que, a partir daquele ponto, estão entrando numa
área "privada". A maior parte dessa comunicação é feita
subliminarmente. O entrevistador homeopata, no entanto, deve
tornar-se hábil na apreensão desses sinais. Talvez o melhor seja
ser sensível ao seu próprio grau de tensão emocional. 'Se,
durante o curso de uma entrevista, o homeopata sentir um
embaraço a respeito de um determinado tópico (contanto que,
231
naturalmente, este não seja apenas um ponto frágil do próprio
homeopata), essa área deve ser mais explorada, de maneira
delicada e sensível, mas resolutamente.
Os homeopatas são tão humanos quanto qualquer pessoa; por
conseguinte, gostam de ser apreciados e respeitados por seus
pacientes. Essa motivação em si mesma pode evitar que o
homeopata sonde áreas delicadas. Se houver uma área sensível,
o homeopata tem a responsabilidade de encorajar o paciente -
sem fazer julgamentos e com cuidado - a descrever abertamente
o sintoma. Com freqüência, a sondagem delicada desses
domínios provocará no paciente uma crise nervosa, manifesta
em choro, agitação ou ira. Se os sintomas forem comunicados
com essa carga emocional, sua expressão será benéfica para o
paciente e de grande valor para o homeopata. Nesses
momentos, o paciente baixa a guarda, sendo pois qualquer
expressão que ocorra profunda e essencial ao caso.
Para alguns, essa abordagem pode lembrar o método catártico
de uma entrevista psicanalítica. É verdade que a habilidade
implicada numa entrevista homeopática é, de modo superficial,
parecida com a habilidade necessária na psicanálise, mas o
propósito de deduzir os sintomas é totalmente diferente. Na
homeopatia, esses sintomas são destacados com o propósito de
entender profundamente a verdadeira patologia, o modo preciso
pelo qual o mecanismo de defesa está agindo, visando
determinar o medicamento mais apropriado que possa levar à
cura. Um psicanalista, ao descobrir um pensamento, sentimento
ou experiências tão importantes, tenderá a retomá-Ios mais
adiante de modo analítico. O homeopata, ao contrário, uma vez
satisfeito com a dedução do sintoma, passará para outros
sintomas.

Registro dos sintomas

232
O ideal seria fazer uma entrevista homeopática sem se
preocupar com a necessidade de tomar notas, mas isso é
impossível. O registro homeopático é muito importante para o
tratamento. É um método confiável de socorrer a memória do
homeopata nas consultas futuras e um meio pelo qual o paciente
pode ser transferido de um homeopata para outro sem
interromper o tratamento. Ao registrar o caso homeopático, o
primeiro objetivo é descrever de maneira acurada e concisa
todos os seus fatores importantes, enquanto se elimina a
informação irrelevante. Além disso, o registro deve comunicar a
intensidade relativa da ênfase dos sintomas em particular.
Tanto quanto possível, deve-se transcrever literalmente as
palavras do paciente. Isso é importante, pois toda a literatura
homeopática baseia-se na terminologia gráfica da linguagem
comum. Todas as experimentações registram os sintomas tanto
quanto possível na expressão natural dos experimentadores.
Naturalmente, quando necessário, os coloquialismos particulares
podem ser traduzidos para uma linguagem homeopática. Um
exemplo claro disso é dado por Hahnemann: é permitido traduzir
palavras como "regras", "período", "incômodo", para a
terminologia familiar dos homeopatas: "menstruação". Esse tipo
de tradução pode ser feita com segurança quando se trata de
sintomas físicos, mas deve-se ter muito cuidado no caso dos
sintomas mentais e emocionais. Deve-se procurar encorajar
o paciente para que seja bastante específico a respeito
desses sintomas, a fim de que eles possam ser acuradamente
interpretados na linguagem homeopática. Ainda assim, sempre
que possível, o melhor é se prender o máximo à fraseologia do
paciente.
Também é importante abster-se de pôr as palavras na boca do
paciente. As perguntas devem ser formuladas de modo não
dirigido; assim se evitará que o paciente dê a resposta que, no
seu entender, o homeopata espera receber. Por exemplo, o
233
entrevistador pode perguntar: "Como você reage às mudanças
do tempo?" O paciente, diante dessa pergunta, tem
possivelmente diversas respostas e é, por conseguinte,
encorajado a examinar a questão à luz da verdadeira experiência
pessoal. Ou, então, a pergunta deve ser feita assim: "Você tem
quaisquer desejos ou aversões particularmente fortes?", ao invés
de ser uma pergunta dirigida, como: "Você tem necessidade de
doces?”
As perguntas diretas, como as formuladas para respostas
categóricas nos questionários (sim ou não), devem ser evitadas a
todo custo. Por exemplo, se um paciente responde
afirmativamente à pergunta: "Você tem necessidade de doces?",
a resposta não deve ser registrada. Para verificar se isso é
realmente uma expressão patológica da individualidade do
paciente, devem ser feitas mais perguntas para confirmar sua
validade: "Essa necessidade é muito forte?" "Quantas vezes você
a sente?" "Seria difícil absterse dela?" "Pode dar o exemplo de
uma circunstância em que você mais sente essa necessidade?”
Perguntas hipotéticas também devem ser evitadas. Por exemplo,
nenhuma informação útil viria de uma resposta a uma pergunta
do tipo: "Você ficaria irritado/a se, atrasado/a para um encontro,
tivesse que parar à espera da passagem de um trem
inusitadamente longo num cruzamento ferroviário, enquanto as
crianças no banco de trás gritam e brigam entre si?" Essa
pergunta não forneceria nenhuma informação verdadeiramente
expressiva do mecanismo de defesa do paciente.
Às vezes, o paciente não tem nenhuma resposta particular para
dar à pergunta inicial, propositalmente não dirígida. Suponhamos
que o entrevistador pergunte: "Você tem algum medo ou fobia?"
O paciente responde: "Nada de que eu me lembre". Pela
totalidade dos sintomas restantes suponhamos que o
entrevistador queira saber especificamente se o paciente tem
medo de altura. Seria impróprio perguntar de maneira direta:
234
"Você tem medo de altura?", pois o paciente pode deduzir que o
entrevistador está procurando uma resposta afirmativa. Pelo
contrário, o entrevistador pode dar uma variedade de pos-
sibilidades apenas para auxiliar a memória do paciente, cpmo:
"Bem, por exemplo, você tem medo do escuro, de ficar sozinho,
de altura, de trovoadas, de cachorros, ou qualquer outra coisa?"
Suponhamos, entãó, que o paciente responda: "Oh, sim! Sempre
tive muito medo de altura! Sempre evito isso". Pode-se confiar
nessa resposta porque ela foi deduzida de uma variedade de
outras possibilidades apresentadas com a mesma ênfase.
Os sintomas importantes não devem ser abandonados pelo valor
aparente. Eles devem ser sondados mais profundamente, para
nos éertificarmos do verdadeiro quadro que está sendo
apresentado. Por exemplo, pode-se perguntar a um paciente:
"Você tende a ser chato ou rabugento?" O paciente responde:
"Bem, sou muito rabugento". Mas, se a pergunta for além: "Como
os outros o vêem com relação a isso?" o paciente bem pode
responder: "Muito bem!" O paciente chato nunca está satisfeito e,
por conseguinte, se vê como rabugento.
Quando um paciente apresenta um sintoma particular, é
aconselhável tomar nota do que se trata e, em seguida, deixar
um espaço logo abaixo. Não se deve interromper o paciente
apenas para preencher os claros e as modificações. Pelo
contrário, deixa-se um espaço, e essa informação é preenchida
mais tarde, depois que o paciente tiver terminado sua exposição.
Com alguns pacientes, especialmente com os que parecem
gostar de divagar sobre qualquer coisa que lhes venha à mente,
talvez haja necessidade de interromper de vez em quando a
entrevista a fim de retornar aos tópicos mais relevantes. Mesmo
nessa situação, as interrupções devem ser feitas
reluntantemente, pois sempre há uma chance de que essas
divagações possam comunicar indícios de um sintoma
importante.
235
Uma técnica preciosa, que deve ser usada em todos os casos
homeopáticos, é a do grifo. Para cada determinado sintoma
homeopático existem três fatores que determinam sua ênfase:
clareza, intensidade e espontaneidade. Um sintoma de
significado para o paciente, comunicado com grande clareza
descritiva, cuja intensidade produz interferência na vida do
paciente, e espontaneidade (isto é, um sintoma apresentado pelo
paciente de modo voluntário, ao invés de ser deduzido depois da
entrevista), tem o maior peso no caso. Estes três fatores são
combinados no processo do grifo:

1. Nenhuma sublinha: sintomas confusos, expressos sem


espontaneidade e que não são percebidos com muita intensidade
pelo paciente.
2. Uma sublinha: sintomas de grande clareza e intensidade,
embora ainda deduzidos apenas através da indagação.
3. Duas sublinhas: sintomas de grande clareza, intensidade
moderada e comunicados de maneira completamente
espontânea pelo paciente.
4. Três sublinhas: sintomas de enorme clareza, gran de
intensidade e comunicados de maneira completamente
espontânea pelo paciente.

Tais sublinhas devem ser usadas com precisão e aplicadas tanto


nas consultas de revisão como na entrevista inicial. Com isso, as
mudanças de ênfase de um sintoma do quadro geral podem ser
avaliadas apenas com sua presença ou ausência; isso pode
fornecer, com o tempo, importantes indícios para a evolução ou
prognóstico de um determinado caso.
Finalmente, o registro deve incluir informações puramente
objetivas, como nome, endereço, idade, data de nascimento,
altura, peso e data da entrevista. Uma breve descrição física do
paciente, incluindo os hábitos corporais, comportamento geral e
236
gestos ou posturas, pode ser de auxílio no desenvolvimento de
uma imagem do paciente como indivíduo. Quaisquer dados de
laboratório ou radiológicos, bem como as descobertas feitas
depois dos exames físicos, devem ser incluídos.
Na conclusão do registro de cada consulta, as recomendações
feitas ao paciente devem ser anotadas; se forem recomendadas
mudanças dietéticas ou outras alterações terapêuticas, também
devem constar do registro, bem como o medicamento prescrito,
sua potência e o número de doses.

Casos difíceis
Todos os casos são tomados individualmente. Não existem
rotinas estabelecidas para serem seguidas, embora certas
informações básicas devam ser conseguidas para se fazer uma
prescrição apropriada. Devemos nos aproximar do paciente de
forma individual; cada paciente apresenta desafios para o
entrevistador homeopático.
Existem tipos de pacientes que fingem problemas sérios. Estes
casos, por várias razões, tornam difícil a obtenção de uma visão
clara dos sintomas. Pacientes deste tipo devem ser tratados de
forma especial, e os sintomas comunicados por eles, vistos com
grande precaução até serem cuidadosamente confirmados.
O primeiro grupo de pacientes difíceis é o dos tímidos, sensíveis,
reservados ou fechados. Eles resguardam muitos de seus
sintomas ou descrevem-nos com muito menos intensidade do
que a que na realidade possuem. Essas pessoas geralmente
acham que o entrevistador não está interessado em seus
pequenos incômodos, e que se aborreceria ou ficaria fatigado
com eles. Podem achar vergonhoso expressar alguns de seus
sintomas mentais, emocionais ou sexuais. Ao resguardarem ou
menosprezarem seus sintomas, essas pessoas desorientam o
homeopata, levando-o a registrar um quadro incorreto e, por
237
conseguinte, a prescrever um medicamento não apropriado.
Com tais pacientes, é necessária uma abordagem toda especial.
Deve-se tratar a todos com grande habilidade. E imprescindível
transmitir-Ihes confiança e demonstrarIhes um interesse real por
todos os detalhes, não importa o quanto eles sejam
"insignificantes" ou "vergonhosos". Após uma indagação e uma
sondagem delicada e compreensiva, o paciente começa aos
poucos a sentir-se à vontade, desejando então expor os sintomas
necessários.
Em pacientes "fechados", que fornecem muito poucos sintomas,
as observações objetivas têm uma importância adicional. O
entrevistador deve anotar cada gesto, tique, etc. - agitação dos
dedos, do corpo ou dos pés, irritabilidade excessiva, loquacidade,
o tempo que leva para responder às perguntas, a dificuldade
para encontrar as palavras certas, se cora com facilidade, as
expressões faciais, os inchaços em volta dos olhos, a cor da
pele, queda dos cabelos, se rói as unhas, timidez, suor das mãos
ou do corpo, odores, etc.
O segundo grupo de casos difíceis é o dos hipocondríacos. Esse
grupo inclui não apenas os excessivamente ansiosos com a
saúde, como também aqueles que observam de modo
compulsivo cada detalhe relacionado com ela, até perderem toda
a perspectiva. Essas pessoas tendem a relatar uma enorme
quantidade de sintomas menores, que podem não ser
completamente avaliados pelo homeopata por causa da
tendência desses pacientes ao exagero. Nesse caso, são
anotadas a própria natureza hipocondríaca e uma eventual
ansiedade acerca da saúde. Quaisquer outros sintomas devem
ser sublinhados apenas com grande cautela e somente após sua
confirmação, feita por auxiliares ou parentes objetivos. Com
freqüência, esses pacientes estão muito preocupados em
impressionar o homeopata, fazendo-o ver o quanto acreditam
que estão doentes. Nenhuma abordagem em particular, por parte
238
do entrevistador, pode impedir esse comportamento, mas é
melhor ter uma atitude de compreensão objetiva, sem mostrar
excessiva simpatia ou alarme. Enquanto isso, o paciente deve
ser encorajado a ter uma visão geral de sua condição, a sintetizar
e ressaltar os sintomas e a comunicar somente os mais persis-
tentes.
Um terceiro grupo de pacientes problemáticos é o dos
intelectuais - aquelas pessoas altamente instruídas, que contam
com a mente para serem bem-sucedidas na vida. À primeira
vista, somos levados a pensar que os intelectuais são os
melhores pacientes, pois suas observações são, supostamente,
as mais argutas. Na verdade, é o contrário. Os intelectuais
tendem a se relacionar com a realidade de acordo com o que é
explicável às suas mentes; se alguma coisa for peculiar ou
inexplicável, eles se inclinam a bloqueá-Ia sem perceber. Desse
modo, vêem nas coisas generalidades e não a individualidade e,
provavelmente, são incapazes de relatar seus próprios sintomas;
avaliam-nos ou interpretam-nos em termos das leituras, das
teorias correntes, das conjecturas que se ajustam a sua filosofia
de vida; desse modo, "explicam" os sintomas de mais valor para
o homeopata, esgotando-os. Um homem simples, sem instrução,
um aldeão, expressa seus sintomas com muito mais clareza e
exatidão do que um intelectual. Por exemplo, se o intelectual
admite que sofre de ansiedade, imediatamente se apressa em
explicar que esse fato é natural por causa do ambiente febril em
que é forçado a viver. Ou, se tem medo, explica que é devido a
uma experiência traumática sofrida na infância e afirma: "Estou
quase certo de que esse medo já foi dominado em oitenta por
cento". Por causa dessas conjecturas e argumentações, é
impossível o homeopata se certificar se o medo é um sintoma
significativo ou não. O homeopata então pergunta: "Como é o
seu sono?" O intelectual responde: "Bem, eu quase não
durmo, mas isso com certeza deve-se à vida noturna irregular
239
que levo" .
No final, após uma longa e complicada entrevista, o homeopata
tem uma grande quantidade de sintomas, todos eles qualificados
pela frase, "Sim, mas..." Nesses casos, pode não haver nenhum
sintoma sobre o qual prescrever com alguma confiança. Esses
são casos muito difíceis de avaliar. O homeopata deve manter-se
cético com relação às explicações dadas pelo paciente intelectual
e sempre questionar se a gravidade do sintoma é, na realidade,
proporcional às explicações dadas. Por exemplo, muitas pessoas
sofrem experiências traumáticas na infância ou levam um tipo de
vida que exige horas irregulares de sono; mas quantas dessas
pessoas desenvolvem algum medo durante a vida, ou insônia
crônica? E importante ter em mente a diferença entre a "causa
excitante", que os intelectuais tendem a enfatizar, e a
suscetibilidade a essa causa.
Os pacientes muito instruídos também criam outra distorção. Eles
assimilaram muitas teorias sobre dietas, vitaminas, regimes de
desintoxicação, etc., e alguns até adotaram algumas dessas
idéias, sem qualquer consideração para com a singularidade do
próprio organismo. Por exemplo, um professor muito instruído,
que sofria de febre do feno, úlcera duodenal, constipação e
outros problemas, pode ter-se convencido, através de um livro
sobre nutrição, de que o sal é um mal para a raça humana. Por
conseguinte, evita o sal, embora este tenha sido um alimento
habitual, crônico e necessário, no seu caso. A química de seu
organismo pode ter exigido uma quantidade de sal mais alta do
que a das demais pessoas, mas, por razões intelectuais, ele
alterou esse equilíbrio do próprio corpo. Esse comportamento
não apenas elimina o sintoma da observação, que devia ser
importante para o homeopata, como também o desequilíbrio
químico pode resultar em depressão, irritabilidade ou cansaço
fácil, etc. Para esse novo estado, então, o intelectual estuda
outros livros de nutrição e decide tomar doses maciças de
240
vitamina B para corrigir o que ele supõe ser uma deficiência
vitamínica, o que, por sua vez, produz outros sintomas, e o
processo continua.
Quando o intelectual chega ao homeopata, já usou tanto a sua
mente para interferir de maneira profunda na própria expressão
natural do orgànismo, que se torna virtualmente impossível
descobrir o que o mecanismo de defesa estava tentando fazer
em primeiro lugar. O intelectual, naturalmente, pode explicar a
razão de cada alteração acontecida, mas é impossível discernir
os sintomas resultantes das alterações anteriores e as
expressões verdadeiras da patologia. Em tal situação, a única
coisa a fazer é recomendar ao paciente que suspenda todas as
vitaminas, siga uma dieta baseada somente naquilo de que sinta
necessidade ou desejo, e retorne alguns meses depois para a
entrevista homeopática.
Outro grande problema apresentado pelos intelectuais é a
insistência em tomarem eles mesmos todas as decisões com
relação à terapia. Eles querem saber a razão de tudo e insistem
em participar de cada julgamento. Naturalmente, os pacientes
devem assumir a responsabilidade geral pela sua saúde e ter
iniciativa suficiente para pedir uma informação básica com
relação ao progresso, prognóstico e fundamento lógico que
sustenta a terapia que está sendo usada. Mas esse processo não
deve ser levado tão adiante que possa envolver o paciente em
toda decisão, por pequena que seja. Isso é algo a que o
homeopata foi treinado durante muitos anos. Em certos
momentos, uma pessoa deve descansar e reconhecer o valor da
especialização.
Essa questão se torna mais evidente nos pacientes intelectuais
que compram materia medicas e estudam os medicamentos que
lhes são dados. Não tendo nenhum treinamento nem experiência
clínica, eles se confundem facilmente com as várias sutilezas
implicadas na escolha de um medicamento. Pior ainda: logo que
241
lêem a respeito de alguns medicamentos na materia medica.
naturalmente tendem a descrever seus próprios sintomas em
termos do que leram. Se esse processo for muito adiante, o
homeopata pode receber somente a informação que brota da
teorização intelectual, ao invés dos sintomas que expressam o
verdadeiro estado patológico do paciente.
Um típico grupo de pacientes problemáticos com que o
homeopata se defronta é o dos mais abastados, que podem
consultar os especialistas do mundo todo. De um dos médicos,
esse paciente "médico-maníaco" pode ter recebido um
diagnóstico de "neurastenia", com a recomendação de absoluto
repouso. Outro médico diagnostica "exaustão das supra-renais" e
prescreve uma combinação particular de vitaminas, minerais e
ervas. Em seguida, um nutricionista afirma que o problema do
paciente é "intolerância ao carboidrato", e este, então, aprende a
evitá-Ios. Por fim, um ecólogo clínico descobre, através de testes
de pele e de controle do pulso, que o paciente é alérgico a 25
substâncias diferentes, que estão presentes no alimento e no
ambiente. O paciente evita estritamente os alimentos perigosos,
começa uma dieta rotativa que não é baseada nas exigências
individuais e se compromete a tomar uma série de injeções para
diminuir a alergia. Ao chegar ao consultório do homeopata, está
seguindo uma dieta completamente anormal, toma caixas ,de
vitaminas, está dopado com Valium, e acabou de tomar uma
injeção contra alergia antes de ir para o consultório. Além disso,
em vez de descrever os sintomas, o paciente apresenta como
seus maiores males: "neurastenia", "exaustão das supra-renais",
"intolerância a carboidratos" e "hipersensibilidade química".
Pessoas como essas tendem a ver o homeopata apenas como
outro médico qualquer, pago para lhes criar um estado de
"saúde" relativamente satisfatório. Sentem-se completamente
dependentes das drogas, vitaminas, injeções para alergia, etc., e
a simples sugestão para que suspendam tudo deixa-as em
242
pânico. Tais indivíduos estão num estado lastimável. A imagem
que poderia surgir de seus mecanis mos de defesa há muito foi
suprimida para níveis mais profundos; perderam de vista suas
habilidades de autopreservação, tornando-se viciadas da
indústria da saúde. Casos como esses virtualmente não têm
esperança de que um homeopata alcance algum sucesso. A
menos que esses pa cientes tenham um desejo profundo de
retomar às leis fundamentais da natureza e da cura, estarão
condenados a continuar sua peregrinação por consultórios
médicos, ingerindo narcóticos e provocando acentuada
degeneração de suas condições crônicas.
Cada um desses grupos de casos difíceis representa uma
questão aos que estão familiarizados com o misticismo oriental:
quais são as implicações cármicas do tratamento homeopático?
Ao prescrevermos um medicamento, estare mos curando um
estado de sofrimento destinado a ser um estímulo para o
crescimento espiritual? A resposta a essa pergunta está no fato
de que em primeiro lugar são necessárias muita inteligência e
perspicácia para que um paciente inicie uma terapia
homeopática, que coopere com o processo de auto-observação e
confissão necessários à descoberta de um medicamento. Além
disso, é indispensável uma enorme paciência para permitir que o
andamento da cura se complete por si mesmo sem nenhuma
interferência. A homeopatia exige muito de seus adeptos. Em
seus hábitos de vida, eles devem se conformar com uma dieta
relativa mente natural e espontânea; evitar substâncias que
possam interferir no funcionamento do mecanismo de defesa;
observar suas respostas aos vários estímulos com o máximo de
simplicidade e objetividade; e estar desejosos de expressar a
verdadeira experiência de seu estado interior de desequilíbrio. Se
um paciente tiver completa certeza de querer empreender essa
tarefa complexa, as influências cármicas da doença se
encarregarão do processo de cura.
243
Enfrentando um caso agudo
Doença aguda é aquela que se autolimita. Caracteriza-se por um
período latente, um período de exacerbação e um período de
declínio dos sintomas, que tanto pode re sultar na cura como na
morte. As doenças agudas são aquelas em que o próprio
mecanismo de defesa é capaz de lidar com a perturbação por si
mesmo. Numa doença realmente aguda, a seqüela crônica não
acontece. Na verdade, todas as condições crônicas preexistentes
retiram-se para o fundo durante a moléstia aguda, retornando
mais tarde.
O objetivo do medicamento homeopático na moléstia aguda é o
de simplesmente acelerar os processos naturais postos em ação
pelo mecanismo de defesa. O homeopata apenas precisa
prescrever de acordo com os sintomas mais acentuados da fase
aguda e ignorar os sintomas subjacentes, que pertencem ao
estado crônico. Isso é relativamente fácil, pois os sintomas
agudos estão vívidos e frescos na mente do paciente. O
importante é descobrir as reações específicas geradas pelo
mecanismo de defesa em resposta apenas ao estímulo agudo.
Durante a doença aguda, o homeopata reúne informa ção de três
fontes. A primeira, idealmente, é a do ambiente físico do
paciente. Se possível, é extremamente importante uma visita
domiciliar durante uma doença aguda grave. O homeopata
observa se o quarto está mal iluminado ou exposto à luz do dia,
se a janela está aberta ou fechada, se o paciente está todo
coberto ou bem à vontade, se está sendo usada uma bolsa de
água quente, se o paciente está de cama, se há garrafas cheias
de água gelada ou chá na cabeceira, se há uma cadeira para as
visitas, etc. Além disso, o paciente é observado diretamente: a
expressão é ansiosa, pacífica, invulgarmente alegre ou
entorpecida? A tez é pálida ou corada? Os olhos são claros ou
244
turvos? Os lábios estão secos e rachados ou úmidos? Há algum
odor particular? O paciente relata os sintomas de maneira fácil e
livremente ou o faria melhor se fosse deixado sozinho, sem ser
perturbado? E ansioso, ou irritável? Para um homeopata que
tenha um bom conhecimento dos medicamentos agudos, uma
simples visita ao quarto do paciente fornece em poucos minutos
uma riqueza de informações.
A segunda fonte de informação é o próprio paciente. Se ele
puder comunicar sintomas confiáveis, todos eles são reunidos e
suas características homeopáticas anotadas: localização exata, a
hora em que aparece e a duração, o tipo preciso da sensação e
as características de melhora ou piora. Num caso agudo, essa
informação geralmente é muito fácil de se deduzir, pois os
sintomas são bastante vívidos e os modificadores estão frescos
na mente do paciente. Um exame clínico é, então, pedido para se
determinar o diagnóstico preciso, a gravidade e o prognóstico da
enfermidade no momento.
A terceira fonte de informação são os amigos ou parentes que
estiveram tomando conta do paciente. Muitas vezes, o paciente
está entorpecido e não consegue dar uma informação precisa;
assim, a melhor informação é deduzida pelos que tomam conta
dele, que têm uma perspectiva mais objetiva. Vamos considerar
o exemplo de um sintoma agudo e os fatores pertinentes que
devem ser determinados em relação a ele. Como exemplo,
tomaremos o sintoma febre.
A febre aparece somente à tarde, durante as primeiras horas da
manhã, entre nove e onze da manhã, ou exatamente entre seis e
oito da noite? Ela diminui depois de comer, ou se eleva somente
depois de comer? Ela se eleva somente com o sono?
Ocasionalmente, perceber-se-á que ela afeta apenas algumas
partes ou apenas um lado do corpo. Pode ser precedida por
calafrios ou seguida deles. Pode haver transpiração, com alívio
da febre, ou transpiração, sem alívio da febre. Pode haver sede
245
com a febre, ou falta de sede. Cada um desses sintomas pode
levar o homeopata a um medicamento diferente.
Cada sintoma deve ser examinado com cuidado exatamente
nesse grau de detalhe, até se chegar a uma totalidade dos
sintomas agudos. Dessa totalidade, pode ser determinado o
medicamento para aquele momento em particular. Naturalmente,
o andamento dos sintomas muda rapidamente durante uma
moléstia aguda, podendo ser indicado outro medicamento
algumas horas depois. Mas sempre que o medicamento for dado
com base na totali dade dos sintomas agudos do momento, a
tendência é haver uma evolução acelerada para a cura, o que
resulta em considerável alívio para o paciente.

Capítulo 13
Avaliação dos sintomas
Logo que o caso for tomado e registrado de maneira detalhada e
completa, é possível começar o processo de estudo que levará,
enfim, à primeira prescrição. Para os iniciantes, talvez seja
melhor explicar aos pacientes com doenças crônicas que é
necessário um estudo específico do caso para se chegar à
primeira prescrição; por isso pede-se-Ihes que voltem um dia ou
dois depois para receber a prescrição. Esse procedimento ajuda
a evitar prescrições apressadas, que constituem a perdição de
todos os homeopatas, sempre às voltas com horários apertados.
Esse plano de ação não desapontará o paciente; pelo contrário,
melhorará a prescrição homeopática cuidadosa; isso não só é útil
à necessária cooperação do paciente, como também ajuda a
incutir-lhe a necessidade de um relato acurado e completo dos
sintomas.
No início da carreira, talvez o homeopata tenha de fazer várias
entrevistas com o paciente antes de chegar à prescrição final. O
homeopata iniciante conhece poucos medicamentos, e de
246
maneira parcial, e provavelmente fará as perguntas de forma
incompleta. A inexperiência pode fazer com que o iniciante
apenas aborde superficialmente questões que mais tarde serão
de grande importância. Por essa razão, o melhor procedimento é
fazer uma entrevista inicial e, depois, levar o registro para casa e
estudá-Io de modo completo e cuidadoso. Durante esse estudo,
é inevitável que surjam outras questões ou dúvidas a respeito de
certas áreas da tomada de caso inicial. Enquanto isso, o paciente
também refletirá sobre a entrevista, desejando esclarecer alguns
pontos. A seguir, é realizada uma segunda entrevista, geralmente
mais breve, abordando maiores detalhes. O homeopata se
aprofunda mais no caso. Esse processo deve se repetir tantas
vezes quantas forem necessárias antes que o médico chegue,
finalmente, à prescrição que julgar correta; toda prescrição deve
ser feita sem pre somente após uma reflexão cuidadosa, seja
chegando a ela alguns dias depois, no caso de um homeopata
iniciante, seja resolvendo-a num período relativamente curto, no
caso de um homeopata mais experiente. Se for tomado esse
grande cuidado com cada um dos casos, adquirir-se-á, de
maneira rápida e confiável, experiência e conhecimento dos
medicamentos, até que, por fim, todo o processo seja apenas
uma questão de minutos em certos casos, sem diminuir a
confiança do homeopata quanto à prescrição.
Logo que todo o caso, tenha sido tomado, a tarefa seguinte é
reunir a totalidade da sintomatologia do paciente. Tendo em
mente que o mecanismo de defesa só se dá a conhecer através
dos sintomas produzidos nos níveis mental, emocional e físico, o
homeopata deve ler e reler o histórico do paciente até assimilá-Io
como um todo. O caso deve tomar forma, em sua mente, de
maneira que as expressões mais importantes do mecanismo de
defesa sejam ressaltadas apropriadamente até que todos os
mínimos detalhes rejam apreendidos. Os fatores etiológicos, as
predispesições miasmáticas e a personalidade geral (não
247
patológica) do paciente também devem ser totalmente
entendidos.
O passo seguinte consiste em anotar as expressões do sintoma
principal, por ordem de importância. Nessa relação, só os
sintomas mais significativos devem ser incluídos; muitos
sintomas menores serão ignorados. Essa lista deve ser feita com
muita ponderação e não apenas de acordo com algum
procedimento mecânico (como arrolar apenas os sintomas
sublinhados três vezes, ou começar sempre com as principais
queixas do paciente). Os critérios para a relação dos sintomas
são descritos na figura 15. Basicamente, os sintomas são
ordenados de acordo com a intensidade, conforme a sua
profundidade no organismo (sendo considerados mais
importantes os sintomas mentais e emocionais) e de acordo com
o grau de peculiaridade.

248
Com freqüência, a lista dos sintomas ignorará totalmente as
queixas que fizeram com que o paciente consultasse o
homeopata em primeiro lugar; por exemplo, um paciente pode vir
ao consultório preocupado com algumas verrugas, ou com dores
de cabeça crônicas, ou com uma tendência à constipação, mas o
homeopata descobre, ao tomar o caso, que o paciente tem um
grande número de fobias, ansiedades e possui uma resistência
249
muito baixa, quadro que se apresentou durante toda a sua vida.
Nesse caso, as queixas originais são virtualmente ignoradas na
avaliação dos sintomas e, em vez disso, são relacionadas as
principais limitações à liberdade do paciente.
Na figura 15, os sintomas de maior importância estão dispostos
no ápice do diagrama e os de menor importância, embaixo. Um
sintoma mental de grande intensidade, que também é muito
peculiar, recebe o maior peso na avaliação; por exemplo, esse
sintoma pode ser "irritabilidade apenas quando está só" ou
"irritabilidade apenas quando está lendo", ou "ansiedade que
melhora com bebidas frias".
Por outro lado, um sintoma comum, que afeta apenas uma parte
localizada do corpo, e que interfere apenas ocasionalmente na
vida do paciente, é considerado de importância mínima. Exemplo
desse tipo de sintoma pode ser uma calos idade na planta do pé,
algumas verrugas nos dedos, ou até uma pequena mancha no
rosto, que é significativa para o paciente apenas por motivos
estéticos.
Para os propósitos da prescrição homeopática, o sintoma
peculiar é aquele que não é só incomum à experiência humana,
mas também está arrolado no Repertório como uma rubrica com
poucos medicamentos. Por exemplo, um paciente pode
descrever o delírio paranóico constante de que todos estão
tentando insultá-lo. Este, por certo, é um sintoma incomum da
experiência humãna, mas não tem nenhum valor para a
homeopatia, pois não está descrito nos experimentos com os
medicamentos. Por outro lado, um paciente pode se queixar de
uma poderosa sensação de medo que sobrevém somente
quando ouve música; no Repertório homeopático, esse sintoma é
encontrado em apenas dois medicamentos (Digitalis e Natrum
carbonicum); desse modo, ele pode ser de grande valor para o
homeopata. Naturalmente, este sempre deve ter em mente que
os experimentos, bem como o Repertório, podem estar
250
incompletos. Por mais valiosos e característicos que sejam os
sintomas, não se deve prescrever apenas para eles, sem uma
confirmação do resto do caso.
Sintomas comuns são os comuns à experiência humana e que
possuem um grande número de medicamentos arrolados no
Repertório. Por exemplo, o sintoma "Aversão a companhia",
mesmo não sendo incomum à experiência humana, está arrolado
no Repertório como tendo produzido sem medicamentos!
Ao avaliar os sintomas, deve-se ter em mente os que são
verdadeiramente representativos do mecanismo de defesa do
paciente e os que são meras manifestações da cate goria de
diagnóstico da entidade patológica. De um paciente que sofre da
categoria alopática "Artrite reumatóide” espera-se naturalmente
que se queixe de dor nas juntas. Esse sintoma, embora útil para
um diagnóstico alopático, não tem valor algum para o homeopata
na descoberta do medicamento correto. Uma junta pode estar
muito dolori da, vermelha, inchada e delicada ao toque e mesmo
assim nenhum desses sintomas auxiliam o homeopata. Por
outro lado, um inchaço sem dor das juntas dos membros supe-
riores seria de grande valor para o homeopata, pois é uma coisa
característica, e somente dois medicamentos estão arrolados sob
essa rubrica.
Sintomas gerais são os que descrevem o paciente como um
todo. Geralmente, esses sintomas são descritos por frases como
"Sinto..." ou "Estou..." Por conseguinte, todos os sintomas
mentais e -emocionais são gerais.
A pessoa tende a descrevê-Ios em termos gerais:
"Estou ansioso", "Estou deprimido", ou "Tenho medo...”
Esses são também sintomas físicos gerais. Referem-se a
estados físicos que se aplicam à pessoa como um todo. O
paciente pode dizer: "Sinto muito frio o tempo todo", "Não tolero o
sol" ou "Estou sempre cansado". Mesmo os desejos ou aversões
por alimentos são considerados' sinto mas físicos gerais: "Tenho
251
necessidade de doces", "Detesto carne" ou "Estou sempre com
vontade de tomar bebidas frias". Esses sintomas representam
manifestações do organismo todo e não apenas do estômago.
Os sintomas sexuais seguem-se, em importância, aos sintomas
físicos gerais. Neles estão incluídos o grau de desejo sexual, o
grau de satisfação sexual e o agravamento ou melhora pela
menstruação. :Esses sintomas, relacionados com os órgãos
genitais particulares, no entanto, estão arrolados como sintomas
locais: isto é, irregularidades menstruais, corrimentos, ou
inabilidade de ter ou de manter a ereção.
A seguir, em importância, estão os sintomas do sono, que,
naturalmente, são sintomas gerais. Eles surgem de estados
mentais. e emocionais, de certos desequilíbrios hormonais e
eletromagnéticos, da irrequietação física, etc. Por conseguinte,
arrolamos sintomas como a posição em que o paciente dorme,
posições em que não consegue dormir ou em que ocorrem
sonhos perturbadores, partes do corpo que tendem a ficar
descobertas durante o sono, hora em que acorda, insônia,
sonolência, etc.
Aos sintomas físicos em particular é dada uma significação
relativamente menor. Embora esses sintomas possam ser de
grande intensidade, afetam apenas uma parte do organismo e
são, por conseguinte, uma manifestação relativamente
insignificante do mecanismo de defesa.
Finalmente, são de menor significado as mudanças patológicas
de tecido. Elas têm grande importância para o diagnóstico
alopático e também para se determinar uma impressão
prognóstica, mas são relativamente pouco importantes para a.
seleção real do medicamento. Por exemplo, o problema comum
de retenção de urina num homem idoso, que tem a próstata
dilatada, não pode ser usado para os propósitos homeopáticos. A
constipação resultante do câncer do reto também é igualmente'
inútil, a menos que existam sintomas individualizantes
252
associados a ela. Mesmo um problema tão sério quanto a
dispnéia resultante do aumento da glândula tireóide não pode ser
utilizado na escolha de um medicamento se não tiver característi-
cas individualizantes.
O processo de dispor os sintomas de acordo com sua
importância relativa é decisivo para o estudo posterior do caso e
impossível descrever essa avaliação de modo mais conciso do
que o utilizado nas linhas gerais de orientação, arroladas na
figura 15. Esse não é um processo matemático; assim, não pode
ser feito através de métodos regulares. Ele exige muita reflexão,
habilidade e experiência. Nos primeiros anos, esse processo
deve ser supervisionado por um homeopata experiente e
habilitado, pois pode ser tão importante para a prescrição
definitiva quanto a tomada de caso real.

O Repertório homeopático
Antes de continuar com o processo do estudo de um caso, é
necessário fazer uma pausa para descrever os con teúdos e a
estrutura de um instrumento de máxima importância: o
Repertório.
Obviamente, seria inteiramente impraticável que um médico
folheasse os vários volumes das materia medicas na tentativa de
descobrir o medicamento que melhor se adapta à totalidade dos
sintomas do paciente. Foram, por conseguinte, projetadas
referências cruzadas que compilam as listas de medicamentos
onde um sintoma específico foi localizado. Na história da
homeopatia, há projeções de vários desses Repertórios.
O Repertório mais completo e útil, de acordo com minha
experiência, é o de J ames Tyler Kent. Trata-se de um trabalho
monumental, que contribuiu enormemente para o processo da
seleção de medicamentos. O Repertório de Kent arrola
detalhadamente os vários sintomas produzidos pelos
253
experimentos com medicamentos conhecidos na época (1877), e
vai mais além. Kent foi 'um homeopata muito experiente e
habilitado e incluiu no Repertório uma grande quantidade de
informações recolhidas em sua expe riência pessoal. A
confiabilidade desse Repertório deriva não apenas da
meticulosidade no registro dos resultados dos experimentos, mas
também do detalhamento e profundidade do seu próprio
conhecimento.
O propósito do Repertório é possibilitar que o homeopata reveja
rapidamente as várias drogas conhecidas como produtoras dos
sintomas que estão sendo estudados num determinado caso.
Devido à gradação dos sintomas, auxilia também a interpretar a
intensidade dos sintomas, como é demonstrado nos
medicamentos em particular. O Repertório destina-se a servir de
lembrete, de sugestão. Ele leva o homeopata a pensar sobre
certos medicamentos que, de  outra forma, poderiam ser
esquecidos.
Não se deve exagerar a importância do Repertório. Há uma
tendência natural para usá-Ia como uma espécie de computador,
que de modo mecânico apresenta, automática e
impensadamente, o medicamento suposto. Na verdade, os
conteúdos do Repertório de Kent foram realmente computados.
Naturalmente, a mera computaçãb dos dados não é perigosa em
si mesma; o verdadeiro risco acontece quando pessoas
inabilitadas são ensinadas a confiar nos resultados da
"repertorização" como se eles fossem suficientes para a escolha
do medicamento. A repertorização pode apenas ser tão útil
quanto a informação já reunida. Anos de treinamento são
necessários para se aprender as habilidades próprias implica das
na tomada de caso, gradação e avaliação dos sintomas.
Em última análise, qualquer prescrição deve ser baseada num
estudo cuidadoso da materia medica e na combinação da
"essência" e totalidade dos sintomas com a do medicamento.
254
Essa combinação exige estudo e discemimento. Deve-se sempre
lembrar que o repertório é apenas um auxiliar para esse
processo de combinação.
É importante recordar também que o Repertório, por mais
admirável que seja, é incompleto. O conhecimento de Kent era
vasto, mas não podia incluir tudo. Com mais experiência, os
homeopatas provavelmente descobrirão medicamentos arrolados
de modo incorreto no Repertório. Haverá muitos acréscimos às
observações clínicas de sintomas curados, bem como dados dos
modernos experimentos, tanto de medicamentos antigos como
de novos. Mesmo os medicamentos testados como Sulphur,
Calcarea carbonica ou Natrum muriaticum podem apresentar e
curar sintomas ainda não registrados no Repertório. Por conse-
guinte, é importante não ver o Repertório como uma referência
absoluta, final, embora ele seja uma grande inspiração para o
trabalho. Trata-se de um instrumento indispensável, mas não é a
palavra final.
Descrito de modo simples, o Repertório é um livro maciço, que
contém uma relação detalhada dos sintomas (chamados
"rubricas") a que se seguem os vários medica mentos que
demonstraram esse sintoma, tanto nos experimentos, como nos
casos clínicos curados.
No Repertório de Kent, os medicamentos são listados em três
gradações: aqueles em que o sintoma específico é representado
com maior intensidade têm sua freqüência impressa em negrito e
três pontos; os que mostram o sintoma com intensidade
moderada estão impressos em itálico e têm dois pontos; os que
demonstram menor intensidade e freqüência são impressos em
tipo comum e têm um ponto.
A presença ou ausência de um medicamento numa determinada
rubrica, bem como sua gradação, está sujeita a atualização,
conforme a experiência dos homeopatas capacitados. O
homeopata deve manter regularmente um re gistro dos sintomas
255
que foram curados no processo de total restabelecimento do
paciente. Quando ocorrer uma dessas curas, o homeopata deve
rever cada sintoma curado nos seus mínimos detalhes, incluindo
todas as modalidades, sensações e circunstâncias
concomitantes de que o paciente se lembre - exatamente como é
feito na experimentação. Uma vez observado que um sintoma
particular foi curado deste modo três vezes, é justificável que o
homeopata inclua o medicamento no Repertório. Ou se o
medicamento já constar da lista, mas num grau inferior, poderá
fazê-Ia subir de grau, de acordo com sua experiência.
O Repertório de Kent pode ser desconcertante para o não
iniciado. Não é apenas uma lista alfabética dos sintomas; ao
contrário, está ordenado de maneira específica, de acordo com o
método homeopático da tomada de caso.
As partes do livro são ordenadas, em primeiro lugar, de cima
para baixo e do geral para o particular. O Reper tório tem 31
tópicos, na seguinte ordem:

Mente: incluindo todos os sintomas mentais e


emocionais, listados em ordem alfabética, de acordo com as
categorias mais importantes.
Vertigem: englobando todos os estados de tontura, não 
apenas a definição alopática específica de "vertigem".
Cabeça: incluindo todas as espécies de dores de cabeça, bem
como erupções, condições do cabelo, inchaços, etc. O item
cabeça descreve especificamente a região do couro cabeludo,
excluindo o rosto e o pescoço.
Olho 
Visão 
Orelha 
Ouvido 
Nariz 
Rosto: incluindo os lábios.
256
Boca: incluindo membranas mucosas, gengivas, língua e palato,
bem como a função da fala.
Dentes 
Garganta: incluindo esôfago, faringe, amígdalas e a úvula.
Garganta externa: é um capítulo separado sobre garganta;
incluindo os tecidos internos do pescoço.
Estômago: incluindo todas as referências ao apetite, à sede, às
necessidades e aversões a alimentos (que são sin tomas gerais,
embora apareçam relacionàdos como parte da região local). Os
agravamentos por "alimentos", no entanto, aparecem no item
"Generalidades".
Abdômen: incluindo as regiões do hypochondrium (abaixo das
costelas e acima do umbigo), do hypogastrium  (literalmente,
"abaixo do estômago", mas considerado como acima do umbigo,
ileocecal, alto do íIeo, ingui nal (virilha), lados, fígado, baço e
umbilicus).
Reto: incluindo todas as referências às suas funções. Diarréia e
constipação estão relacionadas em "Reto",  ao passo que as
qualidades específicas das fezes aparecem separadamente.
Fezes: especificamente a qualidade das fezes. Por conseguinte,
diarréia é encontrada em "Reto", ao passo  que fezes aquosas
aparecem em "Fezes".
Órgãos urinários 
Bexiga: incluindo "Urinar" e "Necessidade de urinar".
Rins .
Glândula da próstata 
Uretra: do homem e da mulher.
Urina: qualidades específicas da própria urina.
Genitália 
Homem (Nota: a glândula da próstata aparece separadamente
em "Órgãos urinários".)
Mulher: incluindo os sintomas menstruais. (Nota: os sintomas
gerais, por estarem relacionados ao desejo sexual, aparecem em
257
"Genitália".)
Laringe e traquéia: incluindo a voz, que descreve as qualidades
específicas da voz, como rouquidão, etc. (A fala, descrevendo as
qualidades funcionais, como gagueira, etc., está em "Boca".)
Respiração: incluindo todos os aspectos funcionais da respiração
que envolvem os pulmões, como dificuldade de respiração,
respiração ofegante, etc.
Tosse: existe uma parte do livro apenas sobre a tosse.
Expectoração: descreve apenas os aspectos físicos
da expectoração.
Peito: descreve a parede do peito, e é distinta da respiração.
Descreve as condições físicas específicas da axila, clavícula,
diafragma, esterno, costelas, músculos peitorais, lados do peito,
pulmões, coração e mamas (seios).
Costas: incluindo toda a sua extensão, começando pela parte
cervical e passando pela dorsal (torácica), lombar, sacra e pelo
cócix.
Extremidades: cada sintoma é subdividido de acordo com os
membros superiores e inferiores, bem como as partes
específicas, tais como ombro, braço, cotovelo, antebraço, pulso,
mãos, dedos e, depois, quadris, coxas, joelhos, perna (abaixo do
joelho), barriga da perna, tornozelos, pé e dedos. Também estão
subdivididas em ossos, juntas, músculos e tendões em algumas
partes do livro.
Sono: incluindo sonhos e insônia.
Calafrio 
Febre 
Transpiração 
Pele: geral. As erupções em locais específicos devem ser 
procuradas em "Erupções", na parte especial da obra.
Generalidades: incluindo todas as generalidades físicas, bem
como a maior parte das descrições patológicas específicas do
livro.
258
Cada capítulo está, então, subdividido em categorias principais,
onde estão descritas as várias condições, sintomas, estados
patológicos, etc. Os tópicos mais importantes, que estão em
"Mente", por exemplo, incluem ansiedade, medo, embotamento
da mente, delírio, irritabilidade, inquietação (da mente em
oposição ao corpo), etc. Nas partes físicas, essas condições vêm
relacionadas como congestão, erupções, calor, insensibilidade,
dor, paralisia, fraqueza, etc. Esses tópicos mais importantes são
relacionados em ordem alfabética dentro do capítulo.
O nível de organização seguinte é mais confuso para o iniciante.
Daqui em diante, nas subdivisões mais específicas, a ordem
alfabética não é seguida necessariamente.
Primeiro, deve ser entendido que qualquer rubrica dada descreve
tanto uma sensação em particular como uma condição, ou
descreve um fator agravante (a menos que a melhora seja
especificada). Para cada categoria principal, há subdescrições
específicas de acordo com um plano particular:

1. Tópico geral 
2. Hora dos agravamentos 
3. Modalidades que agravam (ou melhoram, se especificado)
4. Localização 
5. Extensões

Essa seqüência é, então, novamente repetida em cada nível da


subdivisão. Vê-se, desse modo, que todo o plano do repertório é
análogo a um telescópio invertido; cada nível torna-se cada vez
mais específico em relação aos anteriores, mas sempre com a
mesma seqüência de apresentação.
Tomemos um exemplo específico, a fim de esclarecer a
organização do Repertório. Suponhamos que um paciente
descreva uma dor de cabeça "explosiva" localizada na testa, que
259
piora pela manhã, às dez horas, e melhora à hora de se deitar.
Esse sintoma pode ser percebido de várias maneiras, tornando-
se cada vez mais específico em cada nível.
Primeiro, abrimos o Repertório no capítulo "Cabeça". Em
seguida, localizamos (alfabeticamente) o tópico geral "Dor" (que
tem 88 páginas!).
Imediatamente (na página 132), encontramos os períodos de
agravamento relacionados com as dores de cabeça em geral, e
existem diversas rubricas que podem ser de grande ajuda:
durante o dia, manhã, ao levantar-se, ao andar, até as dez horas
da manhã, antes do meio-dia e, até mesmo, as dez horas (esta
arrola sete medicamentos). Isso é muito vago para nosso
propósito.
Em seguida, vemos as modalidades para a dor de cabeça em
geral - e notamos que, "deitado, Mel.", isto é, melhora (p. 142) -
que relaciona 61 medicamentos. Ainda é muito geral.
Vamos, então, para a localização: testa. Esta é uma seção bem
grande; então procuramos também em "Cabeça", "Dor", "Testa",
"dez horas da manhã", que arrola apenas dois remédios (p. 155).
Neste ponto, incluímos a dor em geral, sua localização, uma
modalidade, hora do agravamento, havendo, assim, possibilidade
de que o medicamento seja um desses dois.
Finalmente, lembramos a descrição do paciente, "explosiva", e
avançamos para o capítulo cuja seção descreve as sensações
específicas da dor. "Explosiva" começa na página 178, arrola
algumas horas de agravamento (das quais notamos, de
passagem, "manhã"), algumas modalidades (entre as quais, de
passagem, divisamos "ao se deitar, melhora"), e, finalmente,
"testa". Em "Testa" existe apenas um medicamento classificado
para as dez horas da manhã e também apenas um arrolado em
"ao se deitar". Felizmente, é o mesmo medicamento, o que
aumenta nossa confiança de que ele possa ser o medicamento
de que o paciente necessita. Desse modo, a rubrica que cobre
260
toda a informação fornecida pelo paciente se encontra na
página 179: "Cabeça", "Dor", "explosiva", "testa", "às dez
horas da manhã" e, também, "ao se deitar". Para esse
sintoma particular, então, levaríamos em consideração, sem
dúvida alguma, o Gelsemium.
Esse processo parece um tanto estereotipado, mas, na prática, é
muito mais complexo. É raro um medicamento se apresentar em
tantas rubricas em todo o processo. À medida que encontramos
rubricas cada vez menores, passamos a dar mais atenção aos
medicamentos ali contidos. Por outro lado, devemos também
estar constantemente atentos às extravagâncias do processo
todo. Muitas perguntas são mantidas sempre presentes ao
espírito: Será que a descrição de "explosiva" feita pelo paciente é
exata? Ela não poderia ser mais bem descrita como "premente",
"lancinante", "movediça", como uma "pontada" ou "dilacerante"?
Será mesmo na testa ou é localizada mais, nas têmporas, em
cima dos olhos, atrás dos olhos, ou no rosto? O agravamento às
dez horas da manhã é confiável? Deveríamos usar "manhã", "ao
se levantar", ou "ao caminhar"?
É interessante também ter sempre em mente as incertezas do
próprio Repertório. Quando chegamos às rubricas menores,
devemos imaginar continuamente: Terá Kent incluído todos os
medicamentos possíveis? Existem medicamentos novos, cujos
experimentos talvez pudessem incluir o sintoma? Existem
medicamentos antigos que podem incluir o sintoma, mas que
ainda não foram registrados?
Em razão de todas essas incertezas, temos de nos manter bem
atentos a todas as rubricas intermediárias até a última, que inclui
todas as características dadas pelo paciente. No exemplo dado,
deveríamos levar em alta consideração o Gelsemium, pois ele foi
incluído na maioria das rubricas intermediárias (embora não em
todas).
Esse processo cuidadoso continua válido para cada sintoma
261
importante comunicado pelo paciente. São necessários muito
estudo e reflexão. O Gelsemium pode parecer bem indicado para
esse sintoma; por outro lado, pode não ser para outros sintomas
comunicados pelo paciente. É nesse ponto que entram em ação
a habilidade, a experiência, o julgamento e um bom
conhecimento da materia medica.
São todas essas incertezas que tornam ineficaz a prescrição
regular feita por computador. O caso inicial deve ser tomado de
modo acurado e cuidadoso; a totalidade dos sintomas, então,
será arrolada corretamente e com ênfase própria, de acordo com
a intensidade, a peculiaridade e a generalidade mental/física;
finalmente, a seleção real das rubricas deve ser feita de modo
correto.
Uma vez mais, é preciso lembrar que a repertorização é
meramente um indício, uma sugestão. Está destinada , apenas a
nos "pôr em campo". Em última análise, os re sultados da
repertorização devem ser esquecidos enquanto toda a atenção
do homeopata se focaliza num estudo das materia medicas. O
objetivo, afinal, é combinar a "essência" e a totalidade dos
sintomas do paciente com os do medicamento. O medicamento é
mais bem descrito nas materia medicas e não no Repertório;
desse modo, devemos estudá-Io imediatamente e de modo
indagador, tentando' sempre perceber se a imagem que temos
do paciente combina com a imagem do medicamento. Quando,
enfim, estivermos satisfeitos, achando que a combinação é a
melhor possível, podemos então, com cautela, apresentá-Ia
como prescrição.

Capítulo 14
Análise de caso e primeira prescrição
Até aqui, discutimos o processo da tomada de caso, os princípios
gerais implicados na gradação dos sintomas e suas
262
classificações, de acordo com a importância homeopática.
Também consideramos, de modo geral, a organização do
Repertório e de que maneira um sintoma individual pode ser
estudado nele. Estamos agora aptos a nos aprofundar na análise
do caso e, também, na escolha do primeiro medicamento.
Durante toda essa exposição, veremos sempre que a análise de
um caso e a escolha de um medicamento são julgamentos
regulares ou matemáticos baseados em regras concretas: Isso
parece ser verdadeiro em virtude das dificuldades acarretadas
pela tentativa de traduzir um processo muito complexo numa
linguagem clara e compreensível. As leis e princípios implicados
na escolha de um medicamento, como foi descrito na primeira
parte, são definitivos e verificáveis. No entanto, sua aplicação em
cada caso individual é um assunto complexo; os julgamentos
envolvidos resultam de uma fusão entre arte e ciência. O leitor
não deve pensar que esse processo possa ser consumado por
meio de rotinas computadorizadas ou que não levam em conta o
pensamento. Nem se deve tirar a conclusão de que as
prescrições dadas pelos médicos experientes sejam feitas, de
certo modo, por intuição ou por processos mágicos. Existe um
processo definido, baseado inteiramente em leis e princípios
sólidos, mas que é também artístico na aplicação individual. O
homeopata usa um amplo espectro de informação do paciente
combinado com um vasto conhecimento dos princípios
homeopáticos e da materia medica, fundindo-os depois numa
compreensão gestáltica, na qual é baseada a prescrição.
Esse processo exige um grande esforço mental, uma percepção
altamente penetrante de cada paciente, bem como muito estudo.
Por isso, é de se esperar que poucos terão a motivação e a
paciência necessárias para aplicar esse modelo de homeopatia.
Haverá sempre a tendência, por parte dos médicos, de tentarem
atalhos, de descobrirem "linhas de ação" passíveis de serem
utilizadas de maneira rotineira e de desenvolverem métodos por
263
computador, que possam reduzir o tempo e a energia exigidos do
homeopata para chegar a uma prescrição correta. Até aqui, no
entanto, no longo caminho percorrido, essas tentativas tiveram
resultados desapontadores que apenas contribuem para
prejudicar a imagem pública da homeopatia. Muito cedo na sua
carreira, todo homeopata deve tomar uma decisão: a utilização
ou não de modelos estritos e exigentes. Os que tentam os
atalhos obterão alguns resultados, mas se tornarão cada vez
mais frustrados pela confusão criada pelas prescrições
incompletas. Aqueles que, por outro lado, se dedicam à
aprendizagem e aplicação dos mais altos padrões terão
resultados cada vez mais positivos e, além disso, descobrirão
que estão verdadeiramente sabendo o que está acontecendo em
cada caso. Uma carreira dedicada a esses padrões é altamente
satisfatória, não apenas para os pacientes como também para os
homeopatas.
Perguntas práticas também surgem nas mentes dos iniciantes:
"Poderei ganhar a vida obedecendo a esses padrões?" Poderei
atender um número suficiente de pacientes para ganhar a vida
trabalhando nestes padrões que exigem longo tempo de
dedicação a cada paciente?” É verdade que cada caso exige
tempo e, por conseguinte, cobra-se do paciente uma soma
relativamente alta em comparação com, digamos, o que um
alopata pode cobrar. No entanto, devemos nos lembrar de que os
resultados da homeopatia são muito melhores do que os da
alopatia. Os pacientes percebem esse fato e estão dispostos a
pagar pelos resultados. Com o tempo, os pacientes da homeopa-
tia gastam bem menos com o cuidado médico do que
os pacientes da alopatia, pois, à medida que vai melhorando sua
saúde, as consultas vão sendo cada vez mais espaçadas, a
medicação é menos cara e a necessidade de testes
de laboratório e hospitalização é drasticamente reduzida. Logo
que um homeopata tenha dominado o mais alto padrão na
264
prescrição e esteja alcançando resultados confiáveis e
consistentes, poderá ganhar a vida sem maiores dificuldades,
assegurando-se inclusive um grande número de clientes.

Avaliação inicial do prognóstico


Durante a entrevista inicial, uma das decisões mais cruciais a ser
tomada diz respeito à seriedade real do caso. Durante o dia, o
homeopata vê uma grande variedade de tipos de pacientes. Dois
pacientes podem ir ao consultório queixando-se de sintomas
similares - digamos, de rigidez nos joelhos. O homeopata, após a
tomada completa do caso de um dos pacientes com a queixa,
descobre que nos demais níveis ele quase não foi afetado. O pa-
ciente está levando uma vida íntegra e criativa, totalmente livre
de quaisquer problemas a não ser essa ocasional rigidez dos
joelhos. A história passada do caso pode ser negligenciada se
seus pais viveram até uma idade avançada sem dificuldades e
morreram de forma rápida, sem doença prolongada. Pode-se
julgar de pronto que essa pessoa é totalmente saudável, e o
homeopata terá a certeza de que esse caso provavelmente
prosseguirá suave e rápido até um completo restabelecimento.
Por outro lado, outro paciente pode apresentar exatamente a
mesma queixa, mas a entrevista revela um quadro inteiramente
diferente. Embora o paciente tenha aprendido a viver com eles,
fica patente a existência de muitas ansiedades, auto-estima
baixa, depressões periódicas e um processo progressivo de
introversão que abarcou vinte anos. Enquanto o paciente fala,
torna-se claro que a habilidade para expressar suas emoções
íntimas está muito obscurecida. Ele afirma ter bastante energia
para manter sua vida diária, mas um questionamento maior
revela que ele limita de propósito suas atividades por falta de
energia e por necessitar de uma sesta todos os dias. Em sua
história passada torna-se claro que o paciente foi muito
265
sensível quando criança e mais tarde sofreu vários
desapontamentos sérios. Com o passar dos anos, tudo se tornou
estressante: conhecer novas pessoas, procurar emprego,
mudança de residência - tudo é sentido como um grande
estresse e exige do paciente dias para se recobrar. A história da
família revela uma forte ocorrência de câncer e diabetes, tendo
alguns parentes sido internados por perturbações mentais. Para
um homeopata, esse caso é rapidamente reconhecido como
sujeito a um prognóstico pobre. Os melhores exames de
laboratório podem até revelar apenas "osteoartrite". No entanto, o
homeopata sabe que dentro de alguns anos o paciente
provavelmente desenvolverá uma enfermidade patológica séria;
mesmo um bom tratamento homeopático será repleto de
dificuldades. Nesse caso, uma receita parcial, ou harmonizada
incorretamente, pode criar uma tal devastação, que as
prescrições posteriores se tornem quase impossíveis de
discernir.
O paciente procura o homeopata não apenas pela prescrição,
mas também para informar-se quanto ao que deve esperar, se
sua condição é curável, quanto tempo levará, etc. Se as
expectativas forem falsamente projetadas, de forma que o
paciente espere com prazer por um alívio extraordinário dentro
de poucos meses, os estágios posteriores dos problemas que
estão por vir e que serão experimentados na direção da cura
podem tornar-se profundamente desapontadores. Nessa
circunstância, o paciente tenderá a ficar tão desencorajado que
abandonará por completo a homeopatia.
Por conseguinte, é importante começar o estudo de um caso com
um julgamento relativo à sua gravidade. No primeiro exemplo
apresentado, o homeopata pode ter a certeza de que uma boa
prescrição resultará num rápido e duradouro alívio dos sintomas.
No segundo exemplo, no entanto, o prognóstico é muito mais
cauteloso; o paciente não deve ser levado a crer que o progresso
266
será rápido ou fácil. É interessante ensinar o paciente a esperar
por algumas dificuldades, a ter paciência e a respeitàr a
necessidade de se adaptar estritamente às leis da cura. Esse
caso apresentará muitos problemas durante o processo de cura
e, na verdade, o resultado final pode não ser tão completo como
o esperado para o primeiro exemplo.
Como pode um homeopata chegar exatamente a
esse julgamento do prognóstico? Basicamente, os fatores
a seguir tendem a assinalar um prognóstico adverso.

1. Um grau limitado de liberdade de expressão na vida. Embora


as queixas originais de um paciente sejam relativamente
menores, se a habilidade total para levar uma vida feliz e criativa
é restrita, há provavelmente fortes predisposições à doença
crônica. De pessoas criativas e generosas, em geral, pode-se
esperar que tenham um bom prognóstico. As pessoas que
limitaram seus horizontes, que propositalmente se protegeram do
estresse ou que se isolaram das relações com outras pessoas -
essas têm um prognóstico relativamente menos favorável.
Freqüentemente, um homeopata pode divisar essas tendências
no momento inicial da entrevista. A observação do grau de
abertura quanto à expressão, da vontade de discutir assuntos
sensíveis, a postura do paciente, a habilidade de manter um
contato humano com o entrevistador - tudo é indício. Além disso,
as simples observações clínicas oferecem sugestões úteis - cor e
textura da pele, tônus muscular geral, clareza dos olhos,
condições da língua, brilho dos cabelos, etc.
2. O centro de gravidade dos sintomas. Se o centro de gravidade
estiver mais nos níveis mental e emocional, pode-se esperar um
prognóstico relativamente ruim; esses pacientes comumente se
encaminham para a cura somente de. modo lento e com muita
dificuldade. Por outro lado, das pessoas com poucas limitações
nas esferas mental ou emocional e com problemas restritos ao
267
plano físico é pos sível esperar que se recuperem mais rápida e
facilmente. Quanto mais profundo for o centro de gravidade,
tanto mais desfavorável será o prognóstico.
3. O grau de hipersensibilidade aos estímulos. As pessoas
sensíveis a todas as mudanças do ambiente, que
são excessivamente afetadas pelo sofrimento e pela
violência, que reagem fortemente ao mínimo ridículo ou rejeição,
que não toleram o confronto, que constantemente têm que
observar o alimento que comem, que pegam com muita
facilidade resfriados, etc. - esses são pacientes com maiores
probabilidades de terem um diagnóstico desfavorável. Seu
organismo é incapaz de manter um equilíbrio estável e o
mecanismo de defesa deve ser constantemente acionado a fim
de restabelecer o equilíbrio.
4. A história passada e a história da família. Os pacientes que
têm uma história de doenças profundas e sérias ou de muitas
terapias supressivas terão maiores probabilidades de se
depararem com problemas até alcançarem a cura. Pacientes que
provêem de famílias com muitas influências miasmáticas
profundas - isto é, mortes precoces por sérias mudanças
patológicas, parentes com doenças crônicas debilitantes,
perturbações mentais graves na família, etc. - oferecem maiores
dificuldades durante o tratamento.

Qualquer um dos fatores antes mencionados, quando observado


em determinado paciente, é forte indício de suspeita. Até um
fator desses deve ser tomado como indício de uma dificuldade
em potencial, e maiores indagações terão de ser
cuidadosamente dirigidas para a compreensão da profundidade
da doença. Ocasionalmente, um paciente mostrará apenas um
dos fatores acima mencionados sem ter um prognóstico
fortemente adverso. De forma geral, no entanto, se um desses
fatores estiver presente, os outros tenderão a estar, também. Os
268
pacientes que possuem todos os quatro aspectos, não importa
que a queixa apresentada seja menor, devem levantar uma
"bandeira vermelha" na mente do homeopata. Nesses casos, a
queixa menor pode ser a "ponta do iceberg", e serão exigidos
mais tempo e energia para levar esse paciente a um grau
razoável de saúde.

Análise de caso para o iniciante


A tarefa seguinte no estudo de um caso inicial é encontrar o
medicamento correto, o simillimum. Para o iniciante com um
conhecimento apenas limitado da materia medica, essa decisão
pode ser muito difícil, principalmente nos casos crônicos.
Entretanto, deve-se enfatizar que a escolha do medicamento
inicial é a decisão mais crucial feita pelo homeopata. Nenhum
atalho deve ser tomado, e todos os julgamentos exigem grande
circunspecção. O primeiro medicamento é o que revela o caso, o
que dá a conhecer o verdadeiro potencial de cura do mecanismo
de defesa e que empresta ao tratamento maior ordem ou con-
fusão e desordem. Com freqüência, quando o caso inicial ainda
não foi prejudicado por uma prescrição anterior incorreta, a
escolha do medicamento inicial é uma decisão mais fácil do que
a da escolha dos medicamentos posteriores; mesmo assim,
deve-se lembrar de que esta é a prescrição mais importante de
todas.
Ocasionalmente (não com freqüência), o caso inicial é muito
óbvio. O paciente comunica algumas queixas, a imagem
homeopática se ajusta claramente a um determinado
medicamento, alguns sintomas característicos confirmam esse
medicamento e nenhum sintoma o contradiz. Essa situação é
óbvia, e o médico pode indicar o medicamento com confiança.
Mesmo os médicos relativamente inexperientes terão resultados
extraordinários quando a imagem inicial é clara e óbvia. Então, é
269
muito importante esperar um certo tempo antes de repetir o
medicamento ou receitar outro.
A circunstância mais comum, nO entanto, é uma mistura dos
quadros dos sintomas. Um paciente, por exemplo, pode
apresentar um sintoma mental altamente característico de
Pulsatilla, o que - faz, naturalmente, o médico acreditar que
Pulsatilla será o medicamento. Depois de uma maior indagação,
no entanto, revela-se que nenhum outro sintoma virtualmente
confirma Pulsatilla; além do mais, o paciente queixa-se de sentir
muito frio e de ter vontade de comer gorduras (dois sintomas que
vão diretamente contra Pulsatilla). Nessa circunstância, o
homeopata definitivamente não deve ceder à tentação de
prescrever Pulsatilla. Deve estudar e pensar para descobrir um
medicamento que cubra verdadeiramente a totalidade dos sinto-
mas. Todos os sintomas podem não ser englobados, mas
espera-se encontrar um medicamento que tenha efeito sobre a
maior parte dos sintomas mais importantes.
É comum que uma reunião de sintomas aparentemente confusa
e sem nenhuma relação entre si pareça não se ajustar a qualquer
medicamento simplesmente por causa da falta de conhecimento
do médico. Alguém com maior conhecimento e experiência pode
perceber perfeitamente o medicamento correto. Mas o que fará o
iniciante nessa circunstância?
O melhor procedimento é "repertorizar" o caso. E feita uma lista
cuidadosa dos sintomas do paciente, de acordo com os
procedimentos apresentados no capítulo 13. Deve-se pensar
muito na escolha dos sintomas a serem usados na repertorização
e, em seguida, procurar relacioná-los conforme sua verdadeira
ordem de importância.
Primeiramente, os sintomas bem característicos (aqueles que
indicam apenas alguns medicamentos no Repertório) devem ser
excluídos da repertorização formal.
Em seguida, começando com o sintoma que está no início da
270
lista, o homeopata escreve numa folha de papel cada
medicamento relacionado na rubrica correspondente, incluindo o
grau correto de cada medicamento. Isso é feito para cada um dos
sintomas significativos da totalidade. Cada medicamento é
incluído de forma a reduzir as possibilidades de se esquecer o
verdadeiro (admitindo-se que as rubricas corretas sejam
escolhidas). Finalmente, são feitas anotações de cada
medicamento que "percorre" todas as rubricas.
O ideal é que essa repertorização apresente somente um
medicamento que percorre todas as rubricas. Esse medicamento
é, então, cuidadosamente estudado na materia medica. Se a
"essência" do medicamento parecer se ajustar à "essência" do
paciente, e se o total dos sintomas não for englobado, o
medicamento poderá ser dado com confiança.
No entanto, esse ideal muito raramente é atingido na prática.
Geralmente, três ou quatro drogas percorrem as rubricas, mas
somente uma deve ser escolhida. As rubricas que cobrem os
sintomas peculiares são, então, consultadas, e se esses
medicamentos obtiveram êxito em toda a repertorização, sendo
ainda vistos nas rubricas peculiares, são estudados em primeiro
lugar. Se os sinto mas peculiares não confirmarem quaisquer
medicamentos da repertorização, então todas as três ou quatro
drogas são cuidadosamente estudadas nas materia medicas
para se descobrir a que, de maneira mais completa, combina
com a totalidade do paciente.
Um medicamento nunca deve ser dado simplesmente porque
atinge mais pontos na repertorização. Mesmo um medicamento
deste tipo deve ser rejeitado se a prescrição nas materia medicas
não se ajustar bem ao paciente. Como foi dito antes, a
repertorização é apenas um indício, não uma resposta final.
Alguns homeopatas desenvolveram "folhas de repertório" que
possibilitam uma tabulação numérica dos medicamentos de
acordo com o sintoma. Essas folhas são fáceis de usar, mas não
271
são recomendadas para o iniciante. Parte do propósito dos
estudos de caso nos primeiros anos de prática é obter uma
compreensão maior da homeopatia e dos medicamentos. O uso
das folhas do Repertório tende a evitar que se pense a respeito
de cada medicamento com relação ao paciente. O processo de
escrever cada rubrica com todas as drogas que possam produzi-
Ia, embora seja tedioso, pode ser uma maneira útil de aprender o
valor comparativo dos medicamentos. Quanto
mais medicamentos forem sendo aprendidos, mais esse
método possibilitará ao médico antecipar se um sintoma
particular será descoberto no experimento de uma determinada
droga.
O processo de escrever realmente por extenso a rubrica fornece,
então, feedback para a "suposição" do médico. Esse é um
processo tedioso; entretanto, não deve ser deixado a cargo de
assistentes ou secretários, pois a maior parte do seu propósito é
fornecer maior conhecimento ao homeopata.
Deve ser dada atenção aos medicamentos "pequenos", que
percorrem poucas rubricas numa repertorização, muito embora
seu grau seja sempre "1". "Pequenos" medicamentos são
aqueles cujas provas estão ainda incompletas e, por
conseguinte, o número de sintomas relacionados para eles é
pequeno. Se um desses medicamentos percorrer toda a
repertorização, isso pode ser um sinal importante. Ele deve ser
cuidadosamente estudado no maior número pos sível de materia
medicas. Talvez ele não cubra o caso todo, simplesmente porque
as experimentações estão incompletas: por outro lado, a imagem
presente pode pos sibilitar ao receitador sua prescrição. Esse
julgamento é, evidentemente, muito delicado e exige alguma
experiência; mesmo assim, deve ser levado em consideração.
Com muita freqüência, se descobrirá que um determinado
medicamento passa por todas as rubricas, exceto, digamos, a
terceira e a quinta (da maneira como foram relacionadas, por
272
ordem de importância); os primeiros e mais importantes sintomas
são cobertos, bem como alguns sintomas menores, mas alguns
do meio não o são. Se o restante da repertorização não produziu
uma solução óbvia, esse medicamento também deverá ser
considerado.
Ele deve ser comparado com quaisquer sintomas característicos
e, depois, cuidadosamente estudado nas materia medicas. Como
existem muitas incertezas envolvidas na tomada de caso, em
termos de relação e gradação dos sintomas, bem como no
registro das experimentações no Repertório, descobre-se com
certa freqüência que o simillimum não cobrirá todos os sintomas
importantes num caso. Nessa circunstância, deve ser feita uma
indagação cuidadosa a respeito dos sintomas ausentes nas
consultas subseqüentes para que fique caracterizado se eles
desapareceram como parte de uma cura integral do paciente; se
isso ocorrer e for confirmado em outros pacientes,
esse medicamento pode ser acrescentado à rubrica por ter pro-
duzido um "sintoma curado".
Usando esse procedimento tedioso e cuidadoso, o homeopata
aumentará regularmente seu conhecimento da materia medica.
Mais ou menos dez anos dessa prática e o rótulo de "iniciante"
não lhe será mais apropriado. Ao ganhar cada vez mais
experiência, o processo de repertorização poderá ser um pouco
agilizado, utilizando-se um procedimento de "eliminação". Essa
modificação deve ser empreendida somente depois que o
homeopata tiver ganho amplo conhecimento da materia medica,
pois reduz de maneira drástica a oportunidade de considerar
todos os medicamentos possíveis.
A "eliminação", na repertorização, é feita primeiro através de uma
lista criteriosa dos sintomas principais. Os sintomas mais
característicos são retirados e ordenados de acordo com sua
importância. Isso tem de ser feito com extremo cuidado, levando-
se em conta diversos fatores: a gravidade do sintoma, seu nível
273
hierárquico, se ele representa fortemente a patologia essencial
do paciente, seu tempo em relação à evolução da patologia
corrente, etc.
O primeiro sintoma dessa lista é, então, anotado e todos os
medicamentos mostrados nessa rubrica são escritos numa folha
de papel, inclusive a gradação de cada um. Em seguida, anota-
se o segundo sintoma; dessa vez, porém, somente os
medicamentos contidos na segunda rubrica, bem como os da
primeira, são escritos por extenso. As drogas que não estão
presentes na primeira rubrica, e que estão na segunda, são
eliminadas. Analisa-se, então, o terceiro sintoma, e somente os
medicamentos que nele estão incluídos, bem como os que
constam das rubricas anteriores, são registrados. Finalmente, ao
término desse processo, apenas um pequeno número de
medicamentos deve permanecer, depois de ter sido completada
a eliminação. Esses medicamentos são muito bem estudados
nas materia medicas.
Esse método pode parecer correto a todos desde o início, pois
permite economizar muito trabalho. No entanto, é um
procedimento arriscado, pois a lista original de sintomas é muito
crítica. Por exemplo, se um sintoma for relacionado em primeiro
lugar, ao invés de aparecer em terceiro, como seria correto,
existe a possibilidade de o verdadeiro simillimum ser eliminado
da análise. O paciente, em conseqüência, receberia um
medicamento incorreto desde o início do caso, Somente um
homeopata com bastante conhecimento da materia medica
poderia perceber esse equívoco a tempo de preveni-lo.

Análise de caso para médicos adiantados


À medida que se adquire experiência, é comum
dar gradativamente apoio à repertorização formal. Possuindo um
amplo conhecimento dos medicamentos, o homeopata terá uma
274
opinião formada acerca do medicamento mais apropriado ao fim
da tomada de caso. Apenas uma rápida olha dela em certas
rubricas do repertório bastará para confirmar ou negar esta
impressão. Nesse caso, o homeopata pode usar apenas uma
repertorização de "dedo", o termo que eu uso para o processo de
marcar com o dedo os lugares apropriados do Repertório e,
depois, procurar de lá para cá para realizar o processo de
eliminação.
Para um iniciante que observa um médico experiente, esse
processo parece realmente fácil. Entretanto, o que parece tão
simples é, na realidade, altamente sofisticado. O mesmo
processo cuidadoso, descrito para os iniciantes, ocorre na mente
do médico experiente, mas a percepção que um homeopata
adiantado tem das rubricas é tão com pleta que os
medicamentos não precisam ser anotados. Na mente do médico
experiente, as loubricas pertinentes são virtualmente
memorizadas pela longa experiência de escrevê-Ias repetidas
vezes, de forma que a repertorização é feita mais na cabeça do
homeopata. Homeopatas desse tipo conseguem citar de maneira
exata os conteúdos de todas as rubricas mais importantes.
Um médico experiente tem uma percepção tão profunda das
"essências" do medicamento que é possível combinar direta e
imediatamente a essência do paciente com a essência do
medicamento. Se a essência for clara e percebida de maneira
inequívoca, serão necessários apenas uns poucos sintomas
confirmatórios para a seleção do medicamento. Naturalmente,
todo o caso deve ser tomado, de qualquer modo, a fim de se
certificar que nenhum sintoma contraditório está presente.
Entretanto, num caso que com bina a "essência" do
medicamento de modo tão próximo, o processo da análise do
caso parecerá extremamente rápido nas mãos de um médico
experiente.
Se for percebida a essência de um medicamento no paciente e
275
alguns outros sintomas a confirmarem, não é necessário pensar
mais na prescrição. A situação torna-se mais complexa quando
existem um ou dois sintomas que se opõem fortemente ao
medicamento. Depois, o homeopata deve voltar ao começo e
reconsiderar todo o caso. Nessa circunstância, mesmo o
homeopata experiente dedicará tanto tempo e cuidado à seleção
do medicamento quanto o iniciante. Na verdade, o procedimento
para a seleção de um medicamento, nesse caso, é
essencialmente o mesmo que seria verdadeiro para o iniciante. A
totali dade é considerada de modo cuidadoso, todas as
incertezas são levadas em conta, as rubricas apropriadas são re-
vistas no Repertório e, por fim, é dada atenção particular aos
sintomas característicos. O caso deve ser bem pensado; talvez
seja feito um julgamento pouco conciliatório. Entretanto, a
prescrição final combinará tanto quanto poso sível a totalidade
dos sintomas do paciente com as manifestações do
medicamento.
Nesses casos complexos, talvez seja necessário "expulsar" os
importantes sintomas mentais ou gerais e se apoiar nos sintomas
que parecem menos significativos, mas que são mais
característicos. A maneira precisa pela qual isso é feito não pode
ser adequadamente descrita num livro. Cada caso é tão singular
que seria impossível fazer generalizações a respeito dos
julgamentos. Eles vêm com a experiência e, em grande parte,
somente podem ser aprendidos com supervisão. Esses
julgamentos pertencem mais ao domínio da arte do que ao da
ciência, embora sempre haja razões muito convenientes para
eles.
Com freqüência, são encontrados casos nos quais existem
muitos sintomas comuns e apenas dois sintomas característicos.
E impossível ter uma totalidade distinta dos sintomas. A
repertorização é feita, mas como os sintomas são comuns, um
grande número de medicamentos - inevitavelmente os mais
276
largamente experimentados -que chamamos de "policrestos", são
indicados. Essas análises e a repertorização têm poucas
possibilidades de produzir o medicamento correto. Nessa
situação, é permitido focalizar somente os sintomas peculiares -
desprezando até a repertorização. O medicamento é selecionado
pelas rubricas que descrevem os sintomas peculiares, tendendo
a prescrição a ser um medicamento, de preferência, incomum.
Como sempre, deve ser feito um cuidadoso estudo da materia
medica antes de determinar essa seleção.
De vez em quando encontra-se um caso em que o estado
crônico se origina de forma muito incomum, a partir de uma
poderosa causa excitante. Por exemplo, é possível encontrar um
paciente com antecedentes insignificantes; no entanto, o
espectro integral de suas, digamos, queixas neurológicas data de
um grave ferimento que recebeu na cabeça num acidente de
automóvel. Se, após tomar o caso, forem encontrados um ou
dois sintomas característicos que se ajustam à Arnica ou ao
Natrum sulphuricum (conhecidos por seus efeitos nos ferimentos
da cabeça), a prescrição só poderá ser baseada no fator causal
(confirmado por um ou dois sintomas característicos). Nessa
circunstância incomum, os sintomas surgidos durante o resto da
tomada de caso são ignorados, nessa primeira fase, embora
possam tornar-se significativos para as prescrições posteriores.
Como se pode observar prontamente, a seleção de um
medicamento é um processo complexo. Muitos fatores devem ser
levados em conta, ponderados, aceitos em alguns casos e
rejeitados em outros. As incertezas envolvidas sublinham
fortemente a necessidade, em primeiro lugar, de se fazer uma
boa tomada de caso. Os princípios descritos e, particularmente,
as exceções às "regras" são válidos apenas se a informação
derivada do caso original for confiável. Se o caso original for
vago, desorientador ou incorreto, todos os delicados julgamentos
feitos posteriormente, no decorrer do estudo do caso,
277
provavelmente. serão incorretos. Uma correta prescrição
homeopática depende de uma tomada de caso adequada, da
informação correta das experimentações, do preparo cuidadoso
do Repertório e, finalmente, da análise correta do caso.
É também evidente que uma prescrição pela "tônica'" pode
ocasionalmente produzir resultados satisfatórios. Às vezes, o
estudo mais cuidadoso e delicado de um caso feito por um
médico experiente chegará ao mesmo medicamento que um
médico de "tônica" teria escolhido em alguns minutos. Nesse
caso, o homeopata cuidadoso pode parecer tolo ou até ignorante.
No entanto, as prescrições feitas pela "tônica" não produzem
resultados confiáveis e consistentes. Os medicamentos corretos
podem ser selecionados aqui e ali, mas não virtualmente em
todos os casos - o que é possível pela aplicação estrita dos prin-
cípios homeopáticos profundamente entendidos.

A seleção da potência
Tão logo um medicamento é selecionado, a decisão seguinte
com que o médico se depara é a escolha da potência. Para tanto,
não existem regras fixas, e a experiência e a observação têm um
papel muito importante. Daremos aqui algumas linhas gerais,
mas elas não devem ser ado tadas como "regras".
Há uma tendência, particularmente entre os iniciantes, a dar
muita atenção à seleção da potência. Por mais estranho que
pareça, é mais comum perguntarem a um instrutor homeopático
por que uma potência em particular é selecionada num
determinado caso ao invés de questionarem o motivo pelo qual
um medicamento em particular é selecionado. A realidade é que
a seleção da potência tem importância secundária em relação à
seleção do medicamento. A lei dos semelhantes é a principal lei
da cura, e o processo de potencialização é apenas um fator
acessório. Se for selecionado o medicamento correto, ele agirá
278
de modo curativo em qualquer potência, embora uma potência
correta aja de modo mais suave, para conforto do paciente; ao
contrário, um medicamento incorreto tanto pode ser inativo
quanto disruptivo para um caso, não importa sua potência.
Linhas de ação próprias para a seleção da potência são difíceis
de se definir, pois em qualquer caso é impossível dizer o que
teria acontecido se uma potência diferente tivesse sido dada.
Suponhamos que um paciente se queixe de artrite, asma e
ansiedade; receita-se Arsenicum na potência 30 e acontece uma
cura duradoura num período de seis meses. Poder-se-ia
conjecturar que uma potência 10M teria produzido uma cura em
três meses; no entanto, isso não pode ser comprovado. Além do
mais, é impossível comparar dois casos que parecem
semelhantes e, em seguida, determinar duas potências
diferentes; dois casos nunca são exatamente iguais. Desse
modo, um não pode ser comparado a outro. A única
circunstância em que essas comparações têm alguma validade é
durante uma epidemia virótica na qual muitos pacientes precisam
do mesmo medicamento; na verdade, é nessa circunstância que
é possí vel demonstrar, de forma convincente, a eficácia das
potências mais altas, mas essa experiência não pode ser
necessariamente transferida para os casos crônicos. Estes im-
plicam uma ampla variedade de fatores e, assim, qualquer linha
de ação para a seleção da potência das doenças crônicas
somente pode ser considerada em impressões gerais.
Existem certos tipos de casos nos quais devem ser usadas
potências relativamente baixas, pelo menos no início. Aos
pacientes de constituição fraca, pessoas idosas ou
hipersensíveis, inicialmente deve-se receitar potências que
abranjam, de forma aproximada, de 12X a 200. A razão para
tanto é que as potências mais altas podem superestimular os
mecanismos de defesa enfraquecidos, resultando em
desnecessários e poderosos agravamentos (os agravamentos
279
serão discutidos no próximo capítulo). Tal princípio se aplica
particularmente aos pacientes conhecidos como portadores de
uma patologia específica no nível físico - isto é, arteriosclerose,
câncer, doença da artéria coronária. Quando a patologia alcança
um estágio adian tado no nível físico, a constituição do
organismo enfraquece e até mesmo a administração do
medicamento correto em alta potência tende a provocar sérios
sofrimentos. Por conseguinte, pode-se dizer, de modo geral, que,
quanto mais grave for o estado da patologia física, menor a po-
tência a ser usada para a prescrição inicial.
Se a opção for receitar uma potência 12X, esta deverá ser
utilizada no decorrer de um determinado período, com a
instrução de que, se houver, inesperadamente, agravamento ou
melhora dos sintomas, ela seja suspensa imediatamente. Entre
os pacientes muito fracos para receber uma potência 12X, os que
possuem uma vitalidade relativamente maior podem repetir as
doses três vezes ao dia durante trinta dias. Se a vitalidade do
paciente estiver muito enfraquecida, no entanto, essa
recomendação pode ser reduzida para uma vez ao dia, durante
vinte dias.
Vamos supor que temos um paciente, um homem idoso, com a
próstata bem aumentada, e suspeitamos que possa ser câncer.
Se o paciente tiver vitalidade suficiente para empreender suas
atividades diárias num nível razoável, então uma potência 12X
deve ser prescrita três vezes ao dia durante trinta dias, com
instruções para suspendê-Ia se ocorrer qualquer mudança
inesperada para "melhor ou pior". Por outro lado, a um homem
idoso com a próstata aumentada, tão enfraquecido que passa a
maior parte do tempo na cama, seria dada uma potência 12X (ou,
às vezes, até mesmo uma 6X) somente uma vez por dia, durante
cerca de vinte dias, junto com as mesmas instruções para
suspendê-Ia na ocorrência de mudança significativa.
Pacientes extremamente sensíveis apresentam um problema
280
singular para a seleção da potência. Trata-se de pessoas
excessivamente "nervosas", que reagem a todos os estímulos
físicos e emocionais, geralmente lépidas e ligeiras em seus
movimentos, irrequietas, sensíveis aos ódores, aos ruídos e à
luz, e que em geral sofrem com a exposição aos elementos
químicos do ambiente ou da comida. Essas pessoas são muito
reativas tanto a potências baixas (no nível físico) quanto a
potências altas (no nível eletrodinâmico). Por conseguinte, é
melhor restringir as prescrições iniciais a 30 ou 200 nesses
pacientes; dependendo da reação, as potências posteriores
podem ser elevadas ou reduzidas. Mas, de início, 30 ou 200 são
as melhores escolhas para pacientes supersensíveis.
As crianças que sofrem de problemas graves deveriam ter como
indicação habitual potências baixas. Um bebê com um eczema
sério ou com psoríase provavelmente terá um agravamento sério
se lhe for dada uma potência alta. Nesses casos, então, é
oportuno prescrever algumas doses (digamos, diariamente) de
uma 12X ou apenas uma dose de uma potência 30 ou 200.
Geralmente, nos casos com malignidade conhecida não é
aconselhável, de início, receitar potências acima de 200. Se há
apenas uma suspeita de que um caso possui uma condição
maligna ou pré-maligna, a prescrição inicial não deve ser mais
alta do que 1M. Além do mais, essa restrição à potência é feita a
fim de evitar agravamentos poderosos e desnecessários que
exijam uma experiência considerável para seu tratamento.
Se um caso parecer relativamente curável e livre de patologia
física, deverão ser tentadas as potências iniciais mais altas, de
30 a CM. O princípio orientador no caso é o grau de certeza que
o homeopata tem a respeito do medicamento. Se o medicamento
parecer bastànte óbvio e cobrir muito bem o caso, deve-se
prescrever uma potência muito alta a uma pessoa com um
sistema curável. Se não houver um consenso a respeito do
medicamento mais apropriado, é melhor começar com uma
281
potência mais próxima de 30.
Por exemplo, suponhamos que uma mulher de trinta anos se
queixe de uma erupção de pele nas mãos que dura já três anos.
Ao se tomar o caso, descobre-se que ela teve poucos problemas
e que é totalmente livre em sua expressão de vida. Ela é criativa,
gosta de seu trabalho, apreciou viajar por vários países, tem
amizades profundas e não é reprimida na esfera sexual. A
informação homeopática leva a um quadro muito claro de
Pulsatilla, e a observação da paciente confirma essa impressão.
Nesse caso, pode-se prescrever Pulsatilla 50M ou até uma CM.
Por outro lado, outra pessoa jovem queixa-se de um mal
semelhante, mas hesita-se em decidir-se entre Pulsatilla ou
Sulphur. Finalmente, decide-se pela Pulsatilla, após muitas horas
de cuidadoso estudo; nesse caso, inclina-se a dar somente uma
30 ou uma 200 para a prescrição inicial devido à falta de
definição.
Ainda em outro caso de erupção de pele, percebe-se que
Pulsatilla é o indicado. No entanto, a paciente relata que é capaz
de manter sob controle sua erupção de pele usando um
ungüento de cortisona "somente" duas vezes por semana. Mais:
observa-se que existem outras fraquezas do organismo - uma
vitalidade frágil, propensão ao cansaço, é facilmente afetado por
elementos químicos do ambiente. Nesse tipo de caso, deve-se
evitar uma potência mais alta do que a 200, do contrário, poderia
haver um agravamento desnecessariamente prolongado.
Diz-se, às vezes, que as potências altas são para os casos em
que o centro de gravidade está no nível mental, ao passo que as
potências bàixas são reservadas àqueles centrados no plano
físico. Esse ponto de vista é falso. É verdade que os sintomas
mentais são os mais importantes na seleção de um
medicamento; se eles indicarem clara e obviamente um
medicamento, embora os sintomas físicos possam não combinar
tão perfeitamente, então pode ser receitada uma potência alta,
282
pois há um alto grau de certeza a respeito po medicamento, e
não porque seja um caso mental. Outro caso com muitos
sintomas mentais, que não se ajusta claramente a qualquer
medicamento em particular, deverá ser tratado com uma potência
mais baixa, pois não há definição para o medicamento mais
adequado.
É comum a idéia, completamente equivocada, de que não
acontecerá nenhum dano se um médico iniciante restringir a
potência abaixo de 30. Como foi mencionado antes, qualquer
potência pode agir profundamente, dependendo da semelhança
do remédio com o paciente. Se o medicamento for o simillimum,
mesmo uma dose aproximada ou uma potência muito baixa
podem ter efeitos profundos; se for originalmente uma substância
venenosa e combinar intimamente com a freqüência de
ressonância de um paciente hipersensível, uma potência mais
baixa pode produzir um agravamento sério e perigoso.
Existem alguns medicamentos com relação aos quais se deve ter
muito cuidado ao receitar potências altas. Medicamentos como
Lachesis, Aurum e nosódios de ação profunda (especialmente o
Medorrhinum) relacionam-se fortemente com a patologia física.
Por essa razão, eles geralmente devem ser restritos às potências
mais baixas (30 ou 200), a menos que o caso individual
demonstre estar totalmente livre da patologia física.
Finalmente, convém falar a respeito da prescrição nos casos
agudos. Em geral, os mesmos princípios se aplicam, mas pode
acontecer que seja necessária uma repetição mais freqüente,
caso a ação do medicamento seja rapidamente esgotada. Nas
crianças com enfermidades agudas (porque seus mecanismos
"de defesa são muito fortes), é melhor não prescrever potências
mais baixas do que 200; por conseguinte, potências de 200 a CM
podem ser receitadas, dependendo da certeza que se tem do
medicamento para a enfermidade aguda. Se o paciente for mais
idoso, cronicamente enfraquecido, ou até mesmo se
283
enfraquecido seriamente pela moléstia aguda (por exemplo, se
ela evoluiu para uma grave pneumonia), uma potência de 200
seria preferível para a prescrição inicial, mesmo que o medica-
mento fosse absolutamente óbvio. Mesmo nas enfermidades
agudas, o ideal é receitar uma dose de medicamento para poder
observar seu efeito; se for ministrada uma potência mais baixa, é
possível que o efeito se esgote em poucas horas, e, nesse caso,
deve-se receitar mais uma dose. Esta, porém, não será prescrita
regularmente; o caso será retomado para se certificar de que não
é necessário um medicamento diferente. É prática comum em
alguns círculos homeopáticos prescrever regularmente um
programa automático de repetições nos casos agudos (digamos,
uma dose a cada hora, perfazendo seis doses). Embora essa
prática, provavelmente, seja pouco nociva, é também, em geral,
desnecessária. Se houver certeza quanto ao medicamento, em
geral é suficiente prescrever uma dose em uma potência alta;
caso seja preciso repetir a dose, faz-se necessária uma nova
tomada do caso para uma nova prescrição.

Remédio único
Um dos princípios fundamentais da homeopatia é o de
prescrever apenas um medicamento de cada vez. Trata-se de
um princípio tão óbvio que se aplica a toda a prática curativa.
Se se prescrever mais de um medicamento (ou técnica
terapêutica), qualquer efeito, benéfico ou nocivo, não será
avaliado com precisão. Não há meio de se definir qual
componente de determinada combinação agiu. Além disso,
ninguém pode predizer as interações que venham a ocorrer
numa combinação de influências terapêuticas. Se um de-
terminado medicamento age de um modo particular quando é
ministrado sozinho, como é possível prever seu efeito depois de
alterado, de modo imprevisível, por uma combinação?
284
Suponhamos que um paciente que recebeu uma combinação de
seis medicamentos homeopáticos diferentes apresente uma
deterioração definida. O que está acontecendo? Trata-se de
alguma espécie de agravamento complexo? É possível que um
dos medicamentos tenha produzido uma crise curativa enquanto
outro está funcionando como antídoto contra qualquer progresso
anterior que porventura estivesse em andamento? Um
medicamento pode agir em poucos dias, enquanto o outro
começa a surtir efeito depois de uma semana? O paciente é
especialmente sensível a qualquer substância em particular? Se
for, a qual substância ele reage? Se o agravamento for julgado
realmente sério, como achar o medicamento seguinte para salvar
o paciente?
Ao contrário, suponhamos que seja dada uma combinação de
seis medicamentos a um paciente e ocorram melhoras definidas
num período de três meses. Qual dos medicamentos produziu a
melhora? Se a melhora for apenas temporária, como poderá ser
escolhido em seguida um medicamento que se relacione com
ela? Suponhamos que o medicamento ativo foi dado numa
potência muito baixa para a cura permanente; como decidir,
então, que medicamento dar em potência mais alta?
Existem outras questões ainda. Se os medicamentos são
privados no contexto de experimentações separadas,
cuidadosamente conduzidas, o que aconteceria se eles fossem
combinados? Seria a ação resultante apenas uma mistura das
experimentações separadas, uma "soma das partes"? Ou o
resultado seria um quadro sintomático drasticamente diferente?
Nenhuma experimentação jamais foi feita com medicamentos
combinados; desse modo, como é possível prever os conjuntos
de sintomas que essas combinações podem curar?
A prática de receitar combinações de medicamentos obviamente
viola todas as leis fundamentais da homeopatia - e o senso
comum, também. Entretanto, é prática normal em algumas partes
285
do mundo. Alguns homeopatas tomam um caso, não conseguem
perceber um medicamento que cubra a totalidade dos sintomas
e, desse modo, criam uma combinação de medicamentos, cada
um dos quais (de acordo com sua estimativa) para cobrir uma
parte do caso. Para piorar tudo, costuma-se, nesses círculos,
misturar, também, os níveis de potências e até mesmo receitar
determinados medicamentos a certa hora do dia e outros em
outros horários. Como o leitor deste livro agora sabe muito bem,
o processo da homeopatia consiste em encontrar o medicamento
cuja freqüência vibracional combine mais de perto com a
freqüência ressonante do mecanismo de defesa do paciente. A
prescrição combinada, nesse contexto, seria semelhante à
tentativa de se criar uma harmonia ligando-se ao mesmo tempo
seis rádios diferentes em estações diversas, na esperança de
criar uma sinfonia.
Essa prática só pode criar um caos completo, e, na verdàde, os
casos mais lamentáveis que ocorrem na prática homeopática são
os de pacientes que se submeteram durante anos a esse
tratamento caótico. O.mecanismo de defesa desses pacientes
está tão perturbado que freqüentemente é de todo impossível
restaurar sua saúde mesmo no nível anterior a essa prescrição,
quanto mais motivar uma cura.
Para um homeopata consciencioso e instruído, a prescrição
combinada só pode ser deplorada. Até mesmo a atitude: "Bem,
nós temos a nossa maneira e eles têm a deles" é insuficiente,
pois essa prescrição caótica pode apenas contribuir para a ruína
da reputação da homeopatia. Se alguém estiver tentando
conscientemente utilizar-se de uma terapia baseada em energias
que estão além da percepção comum, deverá necessariamente
se conformar de modo muito estrito às leis específicas e
aprimoradas que regem o uso dessas energias.

Capítulo 15
286
A consulta de retorno
É comum, na prescrição homeopática, dar-se atenção quase que
spmente ao complexo sintomático inicial e à descoberta do
primeiro medicamento. Embora seja verdade que em qualquer
caso a prescrição mais importante é a inicial, deve-se entender
que a capacidade de interpretar corretamente a resposta do
paciente ao medicamento inicial tem a mesma importância.
Parece, mais fácil, para o homeopata, abordar a consulta de
retorno como uma simples questão onde se decide se o paciente
reagiu ou não à prescrição inicial. Se o paciente expressa
satisfação, o médico respira aliviado e, confiante, recomenda a
mais comum de todas as prescrições homeopáticas: "Espere".
Se, por outro lado, o paciente não se mostra satisfeito e,
aparentemente, pouca coisa aconteceu, então o homeopata se
acomoda à tarefa de tentar decidir uma prescrição melhor.
Na realidade, a verdadeira significação é muito mais complexa do
que isso, e as decisões tomadas durante as consultas de retorno
não podem ser feitas de modo simplista ou casual. Embora a
primeira prescrição seja a decisão mais importante da
homeopatia, a prescrição feita no retorno é, provavelmente, a
mais difícil. Na primeira entrevista, o objetivo é relativamente
simples: analisar o caso de modo a chegar ao medicamento
correto. As consultas de retorno, no entanto, implicam
julgamentos muito mais complexos. O paciente está melhor de
verdade? O medicamento está produzindo a resposta desejada,
ele falhou ou produziu somente um efeito parcial? Agora que é
conhecida a resposta à prescrição inicial, qual seria o verdadeiro
prognóstico do paciente? Deve ser dado um medicamento a essa
altura, ou a potência deve ser mudada? É hora de esperar por
mais melhoras? Talvez fique claro que o paciente não reagiu de
modo apropriado ao medicamento inicial; a imagem do
medicamento atual está bastante clara para permitir outra
287
prescrição? Ou é necessário mais tempo para que surja a
imagem?
Estes são apenas alguns dos dilemas com que se defronta o
homeopata durante as consultas de retorno. Pode-se na verdade
dizer que a consulta de retorno, mais ainda do que a entrevista
inicial, exige maior conhecimento, sensibilidade e discernimento
por parte do homeopata. É durante as consultas de retorno que
toda a gama de conhecimentos da homeopatia se faz valer. Os
princípios que envolvem as decisões tomadas durante essas
consultas são verificáveis e científicos no sentido mais
verdadeiro; por outro lado, sua aplicação demanda tal
complexidade em cada caso individual que ela só pode ser
considerada uma arte.
A tendência natural dos homeopatas é focalizar sua atenção
principalmente na descoberta do medicamento. Nas
conferências, nos grupos de estudo e nas consultas a outros
homeopatas, o principal tópico geralmente é: deve-se prescrever
este ou aquele medicamento? Isso naturalmente é muito
apropriado para a primeira prescrição, mas uma questão bem
mais importante na consulta de retorno é: "O que está realmente
acontecendo?" Para se chegar a uma resposta, exige-se um
conhecimento profundo da teoria homeopática; além disso, em
muitos casos, trata-se de questões às quais é difícil responder.
Somente depois de decidir qual a resposta mais adequada é que
o homeopata poderá optar entre continuar o tratamento ou
suspendê-Io. Se a opção for continuar o tratamento, será preciso
estabelecer se se mantém o medicamento ou se há a
necessidade de se mudar sua potência.
O paciente também depara com novos desafios durante as
consultas de retorno. Na entrevista inicial ele geralmente fica
impressionado com a incrível quantidade de detalhes de que o
homeopata necessita. Isso pode levar a uma tendência a se
deter nos detalhes em vez de se visar a mudança do padrão
288
geral. Há um forte desejo de comunicar a informação precisa,
que é necessária, mas também há uma grande esperança de
que o medicamento esteja realmente atuando. Cada paciente
responde de uma determinada maneira a estas pressões. Um
paciente emocionalmente "fechado", que tem um ponto de vista
acentuadamente racional sobre os acontecimentos e revela uma
informação apenas quando ela é surpreendente e definida, ten-
derá a ser cauteloso e poderá desorientar o homeopata no
momento de estabelecer se o medicamento agiu ou não. Um
paciente emocionalmente "aberto" pode empolgar-se com o
desejo de trazer boas novas e, por conseguinte, comunicar
informações muito otimistas. Um paciente hipocondríaco, sempre
concentrado em impressionar o médico com a importância de
seus problemas, pode enfatizar detalhes insignificantes,
menosprezar sintomas que foram mitigados e exagerar a
seriedade dos novos sintomas. Os pacientes hipersensíveis
podem apresentar mudanças extraordinárias após tomarem a
dose inicial, e prestar atenção inadequada às mudanças que
ocorrem com o passar do tempo.
Por essa razão, não é oportuno enfatizar o fato de que os
pacientes devem providenciar relatos cuidadosos e objetivos. Os
pacientes que tendem a esquecer o padrão das mudanças
devem manter anotações; e não se deve exigir nenhuma
anotação dos pacientes que se orientam pelo detalhe e que,
provavelmente, perderão de vista o quadro geral. Ao mesmo
tempo, o homeopata deve ser muito mais cuidadoso com relação
às respostas dadas durante as consultas de retorno. Como já foi
dito, existem problemas particulares associados à tomada de um
caso na entrevista inicial; isso é ainda mais verdadeiro quanto às
consultas de retorno, embora os problemas sejam totalmente
diferentes. As respostas do paciente devem sempre ser
questionadas detalhadamente para se determinar o padrão real
das mudanças ocorridas. Isso deve ser feito com grande cuidado,
289
tendo em mente a eventualidade de uma disrupção séria,
acarretada por um medicamento incorreto ou por um
medicamento administrado em hora imprópria. Muitos ho-
meopatas são capazes de selecionar o medicamento apropriado
na primeira consulta, mas uma grande porcentagem deles
posteriormente arruína o sucesso inicial, interferindo no momento
errado ou por meio de medicamentos incorretos.
Tomemos como exemplo um paciente de natureza relativamente
"fechada", que recebeu o remédio constitucional correto, mas
que, na consulta de retorno, ainda tem dúvidas sobre a ação do
medicamento. Ele não quer ser muito otimista; desse modo
informa que não notou nenhuma mudança definida. Então, o
homeopata retoma o caso, nota apenas algumas mudanças, que
prontamente são explicadas por fatores ambientais, e decide dar
um novo medicamento, tendo em vista que não ocorreu nenhuma
mudança significativa. Ao reestudar o caso, o medicamento
inicial ainda parece ser muito bom, mas como aparentemente
não funcionou, é receitado um segundo medicamento. Na
consulta seguinte, ainda parece que houve pouco progresso, e,
assim, é tentado outro medicamento. Após cinco meses de
receita, o paciente finalmente comenta: "Sabe, de todos os
remédios que você me deu, aquele primeiro parecia o melhor; eu
me lembro de algumas mudanças nítidas naquela época". Esta é
a situação mais exasperante para um homeopata, pois depois de
tantos medicamentos não é mais possível simplesmente repetir o
me ,dicamento inicial; o caso pode ter-se tornado tão desnor-
teante que o medicamento inicial já não seria o indicado, ou tão
confuso que seria mesmo difícil discernir o quadro atual.
O perigo de julgar mal a resposta durante a segunda entrevista
pode ser tão sério que, às vezes, recorro a algumas medidas
drásticas. Se suspeito que um paciente assim "fechado" está
retendo a história verdadeira, posso dizer: "Está bem. Como
parece não ter ocorrido nenhum progresso, sou forçado a fazer
290
outra prescrição. Esperemos que ela não interrompa nenhum
efeito benéfico que possa estar ocorrendo por causa do primeiro
medicamento". Logo que o paciente perceber, com esta ameaça,
que as prescrições seguintes podem interferir seriamente na
ação do pri meiro medicamento, ele provavelmente tentará
descrever a verdadeira situação com maior empenho. É nesses
momentos que aparece o quadro real.
Inúmeros exemplos podem ser citados para demonstrar as
armadilhas em que os homeopatas e os pacientes podem cair.
Neste capítulo, vou tentar descrever as mais comuns com base
em minha experiência. Seria inviável delinear de modo completo
toda reação possível aos medicamentos em cada situação. Esse
conhecimento pode vir apenas com a experiência. Entretanto, os
exemplos dados neste capítulo são uma tentativa de descrever
as respostas mais características, suas interpretações, e as
ações terapêuticas apropriadas.
Para começar, devemos dar uma definição clara da segunda
prescrição. A "segunda prescrição" é a que se segue a um
medicamento que agiu. Não é necessariamente apenas a
segunda prescrição. Se nehhum medicamento agiu até a terceira
prescrição, então o quarto medicamento será a "segunda
prescrição": Um medicamento incorreto, distante da freqüência
ressonante do organismo, não tem nenhum efeito; por
conseguinte, não é levado em consideração nas próximas
prescrições. Se, no entanto, uma prescrição teve um efeito
diminuto sobre o paciente, é considerada como a "primeira
prescrição", e as seguintes devem ser cuidadosamente
avaliadas.
Esse ponto torna-se um fator importante em relação aos assim
chamados medicamentos hostis. Por exemplo, descobriu-se na
experiência homeopática que o Phosphorus e o Causticum
podem criar reações adversas se forem prescritos um após o
outro. Essa observação, no entanto, aplica-se apenas aos casos
291
em que o paciente respondeu a um dos dois medicamentos. Se
for dado o Causticum e não ocorrer nenhuma mudança, então
não é preciso ter medo de dar o Phosphorus na prescrição
seguinte. Se, por outro lado, o Causticum pareceu ter algum
efeito, o homeopata deve evitar seguir com o Phosphorus.

Intervalo de tempo para a programação do


retorno
Logo que for prescrito o primeiro medicamento, a próxima
questão será decidir o momento de ver novamente o paciente.
Este é um assunto muito individual, naturalmente, determinado
pela natureza do caso em particular. Os casos agudos e os
crônicos com grave sofrimento são vistos antes dos demais
pacientes. Após a entrevista inicial, o curso preciso dos
acontecimentos jamais pode ser previsto com perfeita exatidão;
assim, seja lá qual for a decisão tomada, deve-se explicar ao
paciente que a próxima consulta poderá ser alterada, se houver
qualquer mudança repentina que torne necessária uma atenção
específica.
Nos casos agudos, o momento apropriado para a consulta de
retorno depende da intensidade da enfermidade. Nos pacientes
gravemente doentes, seis horas seria o intervalo apropriado para
avaliar a ação do medicamento. Nos casos mais rotineiros, o
melhor intervalo seria de 24 horas. Esses são os intervalos ideais
para se avaliar a ação do medicamento, bem como para a
escolha de um novo, se o quadro mudou de modo significativo.
Naturalmente, se o medicamento produziu uma melhora
surpreendente, seguida de uma recaída definida, o intervalo pode
ser mais curto do que o planejado. Nos casos crônicos, o
intervalo ideal seria de dois meses. Nesse período, a resposta
poderia virtualmente ser avaliada de modo confiável em todos os
casos. A maioria dos pacientes, no entanto, acha esse período
292
de espera muito longo, quando não há uma resposta.
Conseqüentemente, por razões práticas, pode-se recomendar
um mês. Se houver qualquer mudança, positiva ou negativa, ela
pode ser detectada dentro de um mês em aproximadamente 95
por cento dos casos. Se o medicamento inicial estiver correto, é
plausível esperar que uma grande porcentagem dos casos
apresente um resultado interpretável dentro de um mês.
Freqüentemente um paciente não relata nenhuma mudança (ou
talvez nenhum agravamento) até vinte dias após o medicamento,
mas em seguida ocorre uma melhora definida na última semana,
mais ou menos. Por outro lado, somente uma pequena
porcentagem de pacientes terá uma resposta curativa que não
seja perceptível em um mês.
Às vezes, acontece alguma mudança definitiva um mês depois,
mas o significado preciso dessa mudança ainda não é
interpretável. Nesse caso, pode ser necessário esperar outros
quinze dias ou até outro mês, a fim de se ter certeza da natureza
da resposta. Entretanto, a consulta de retorno, feita um mês
depois, jamais é perdida, pois muitos detalhes valiosos são
coletados, podendo ser de grande ajuda nas interpretações
posteriores.
Um princípio importante, que deve ser sempre lembrado, é que
não é absolutamente necessário dar um medicamento em cada
consulta. Essa prática é uma pressuposição derivada da filosofia
alopática, onde predomina a prescrição, mas isso pode ser
seriamente desaconselhado num caso homeopático. Se o curso
dos acontecimentos ou a imagem do medicamento não estiverem
suficientemente claros, então, a melhor prescrição é sempre
"uma tintura de tempo". Podemos sempre confiar que o
mecanismo de defesa produzirá a imagem necessária se lhe
dermos tempo suficiente (pressupondo um melhor conhecimento
por parte do homeopata para interpretar a imagem que está
tentando produzir).
293
Naturalmente, sempre existem circunstâncias em que o paciente
deve ser visto antes de um mês. Sobretudo em pacientes com
mudanças patológicas muito sérias, o andamento da
enfermidade pode ser mais rápido, tornando-se necessário ver o
paciente até mesmo poucos dias após o medicamento inicial. É o
caso dos pacientes hospitalizados; para os não internados, a
tendência geral de avaliar os casos diária ou semanalmente deve
ser desencorajada. Embora essas consultas freqüentes possam
ser tranqüilizantes para o paciente, elas exercem uma pressão
indevida sobre o médico para que "faça alguma coisa". Essa
pressão leva facilmente a prescrições que, com o tempo, podem
ser disruptivas para o processo ordenado da cura.

Modelo para a consulta de retorno


As consultas de retorno são tradicionalmente esquematizadas
para durarem menos do que as visitas iniciais. Isso é natural,
pois leva tempo para compreender totalmente o paciente no
primeiro encontro; por outro lado, isso não deve, de modo algum,
diminuir a importância da consulta de retorno para o homeopata
ou o paciente. A atitude do médico deve ser tão cuidadosa e
completa quanto possível, pois as interpelações reais são, de
certo modo, maiores durante as consultas de retorno. Deve-se
fazer anotações com a mesma segurança e sublinhar os
sintomas que se seguiram com o mesmo cuidado. A prática
comum de anotar as consultas de retorno em termos de
anotações simples de "melhor", "pior" ou "sem alteração" não é
adequada, pois existem muito mais coisas implicadas.
Para o homeopata, a consulta de retorno apresenta uma série de
decisões a serem tomadas de modo infalível:

1. Qual foi a resposta ao primeiro medicamento (in-


dependentemente da interpretação subjetiva do paciente)? O
294
medicamento produziu uma resposta curativa? Foi apenas um
medicamento parcial, que produziu apenas mudanças sem
importância? Foi supressivo, causando basicamente uma piora
no estado geral da saúde do paciente? Ou foi apenas uma
prescrição incorreta, que não produziu nenhuma resposta
significativa?
2. E necessário outro medicamento, ou é melhor esperar?
3. Se for necessária outra prescrição, qual o medi camento e qual
a potência mais indicados?

Com essas tarefas em mente, é possível descrever um modelo


básico que realce a informação importante. Naturalmente, esse
modelo não pode ser seguido com rigor. Cada caso é único, e
cada entrevista é, por conseguinte, diferente de todas as demais.
Entretanto, a informação obtida pode ser ordenada nesta
seqüência básica:

1. De modo geral, como se sente o paciente? Sua saúde


melhorou, declinou ou permaneceu inalterada pelo me-
dicamento? Os pacientes geralmente tendem a focalizar pe-
culiaridades, sobretudo depois da experiência inesperada da
grande quantidade de detalhes implicados na entrevista inicial,
mas é importante discernir a impressão geral da do início.
2. O grau de energia foi afetado? O paciente está tendo mais
energia e motivação em sua vida diária, essa energia declinou ou
permaneceu inalterada? Houve alguma mudança na habilidade
do paciente para enfrentar os vários estresses da vida?
3. Houve alguma mudança na principal queixa física - o problema
inicial que o motivou a procurar o homeopata? Qual foi, se houve
alguma, o padrão da mudança durante o mês?
4. Quais as mudanças que ocorreram nos planos mental e
emocional? Como esses sintomas representam o centro da
existência do paciente, até mudanças aparentemente
295
insignificantes desse nível podem assinalar efeitos importantes
do medicamento.
5. Em seguida, o caso inicial deve ser revisto, sintoma por
sintoma, para se determinar se ocorreram mudanças para melhor
ou pior. A tendência habitual durante tais consultas de retorno é
parar assim que é obtida uma impressão de efeito geral. E
preciso resistir a essa tendência. Todos os sintomas que vieram
à luz durante a entrevista inicial devem ser questionados e a
condição resultante, anotada e sublinhada.
6. Quaisquer sintomas novos devem ser questionados. Às vezes,
são sintomas do passado e, nesse caso, o momento do
aparecimento anterior será anotado. Se os sintomas são
verdadeiramente novos, todos os seus modificadores e
descrições apropriados também serãocuidadbsamente re-
gistrados.
7. Sempre se deve dar ao paciente a oportunidade de elaborar
mais os sintomas descritos anteriormente. Depois que o paciente
teve tempo de refletir sobre as questões levantadas na entrevista
inicial e logo que for estabelecida uma melhor comunicação,
torna-se possível avançar mais na "essência" do caso. Isso,
naturalmente, pode ser de vital importância; desse modo, o
homeopata não deve insistir em qualquer modelo específico que
interfira na expressão dessa informação. Como foi dito, esse
aspecto da consulta de retorno é relacionado por último, mas, na
realidade, ele pode e deve ser deduzido em qualquer ponto da
entrevista.

Na entrevista de retorno, a informação mais importante é a obtida


das quatro primeiras áreas do modelo acima. O estado de saúde
geral, a energia geral do paciente, a queixa principal e as
mudanças mentais e emocionais, tudo isso fornece os indícios
mais importantes para se avaliar a resposta da primeira
prescrição. Isso deve ser claramente identificado na consulta de
296
retorno, e a confiabilidade desses sintomas deve ser cuidado-
samente avaliada pelo entrevistador. Um erro derivado da
confiança precipitada nas respostas do paciente a essas
categorias pode levar a sérios equívocos de prescrição. Os
sintomas remanescentes são indícios acessórios para a
interpretação da atuação do medicamento inicial, mas, afinal,
eles fornecem o ponto de partida em que se baseiam as
prescrições posteriores.

O agravamento homeopático
O agravamento homeopático talvez seja a questão mais
controvertida e mal entendida da prescrição curativa. Talvez por
esse motivo os homeopatas divirjam mais surpreendentemente
dos outros sistemas terapêuticos, tendo os desentendimentos a
respeito dessa questão criado inclusive dissidências sérias
dentro da classe homeopática.
Como o simillimum produz no paciente sintomas semelhantes
aos dos indivíduos saudáveis, espera-se que também produza os
mesmos sintomas no indivíduo doente. Por conseguinte, é lógico
presumir que uma verdadeira resposta curativa seja precedida,
até certo ponto, pelo agravamento dos sintomas. Como foi
descrito detalhadamente na primeira parte desta obra, o
mecanismo de defesa de um paciente pode manifestar sua
atividade apenas por meio dos sintomas. Nosso propósito ao
indicar um medicamento homeopático é estimular o mecanismo
de defesa do paciente de modo que ele possa, finalmente, curar
a doença contra a qual tem lutado. Por conseguinte, a fim de
produzir uma resposta verdadeiramente curativa, não apenas se
espera mas se deseja que haja um agravamento dos sintomas,
após a administração do medicamento correto.
O agravamento homeopático pode ser considerado um meio
através do qual o organismo é "encorajado" pelo medicamento a
297
"confessar", a trazer à luz os problemas profundamente
arraigados ou as tendências malignas que antes o oprimiam.
Para se libertar por inteiro, um organismo deve ser
completamente expressivo e criativo no contexto de sua
realidade imediata. Quando sua expressão éinibida, suprimida,
oculta ou obstruída, temos um indivíduo doente. Durante a
entrevista homeopática, o médico deve, de certo modo, induzir o
paciente a comunicar essa expressão "interna" do mecanismo de
defesa, a fim de descobrir o medicamento exato. O medicamento
produz, então, um estímulo no mecanismo de defesa, criando por
um certo tempo uma exacerbação dos sintomas, que são a única
manifestação de sua ação visível à nossa percepção.
Dessa maneira, pode-se compreender imediatamente que,
sobretudo nos casos crônicos, os agravamentos homeopáticos
são desejáveis. Por conseguinte, a prática comum de alguns
homeopatas, tentando suprimir os agravamentos, é, na verdade,
um processo que não permite a cura. As atitudes e ensinamentos
baseados na prescrição de medicamentos que provavelmente
não produzam agravamentos vêm de pessoas com pouco
conhecimento da ciência da homeopatia.
Os pacientes homeopáticos muitas vezes ficam surpresos
quando telefonam para o homeopata, relatando o agravamento
inicial de seus sintomas, e recebem a resposta: "Bom sinal. Fico
contente". Os homeopatas, naturalmente, não são insensíveis.
Eles não desejam infligir sofrimentos desnecessários. Na medida
do possível, tudo é feito para reduzir a seriedade e a duração dos
agravamentos homeopáticos, mas as leis básicas da cura
sempre devem ser observadas. Mesmo que possa parecer cruel
da parte do médico, qualquer outro procedimento estará, na
verdade, prestando um desserviço ao paciente, pois seu sofri-
mento será, afinal, prolongado pela ausência da cura.
Na grande maioria dos pacientes, o agravamento homeopático
não pode ser considerado prejudicial. O mecanismo de defesa
298
sempre obedece ao princípio fundamental da cibernética, que
declara que todo sistema altamente organizado reagirá ao
estresse com a melhor resposta possível de que é capaz no
momento. Por isso, se houver um sintoma patológico que possa
causar dano ao sistema, como a pressão sanguínea muito alta,
esse sintoma perigoso será imediatamente melhorado, enquanto
os demais podem agravar-se durante a crise terapêutica. Esse é
um princípio muito importante, que se deve ter em mente ao
interpretar as respostas ao medicamento.
Uma circunstância determinada em que os agravamentos do
medicamento podem ser prejudiciais é a repetição de um
medicamento mal indicado. Se o homeopata interpretar mal a
resposta do paciente e continuar a repetir o medicamento, o
mecanismo de defesa pode ficar superestimulado, provocando o
malefício. Isso exige uma repetição realmente excessiva e,
provavelmente, só ocorreria com a mais impensada das
prescrições; no entanto, trata-se de uma possibilidade teórica.
Outra circunstância dos agravamentos homeopáticos com a qual
se deve ter cuidado diz respeito aos casos patológicos sérios
aliados a uma constituição gravemente enfraquecida. Nesses
casos, a verdadeira cura é possível desde que haja suficiente
resistência para produzir um agravamento; isso exige do
homeopata a maior habilidade e experiência. Nessa
circunstância, um bom conhecimento alopático é importante para
o homeopata; nesses casos sérios, é necessário que o
homeopata seja capaz de determinar quando o caso está
evoluindo para uma mudança patológica séria. Deve-se então
introduzir rapidamente o medicamento correto no momento
apropriado, que pode ser alguns dias após a prescrição inicial. E
difícil lidar com esses agravamentos, que comumente acontecem
nos pacientes hospitalizados; não é provável que um homeopata
iniciante se confronte com essa situação. Entretanto, todo médico
deve estar atento para essa possibilidade.
299
A doença da cólera nos oferece uma boa analogia. A maioria das
doenças infecciosas cria uma reação da parte do mecanismo de
defesa, que se manifesta com febre alta, mal-estar, dores
musculares, anorexia, e vários outros sintomas. Na cólera, a
própria reação defensiva torna-se bastante séria, podendo até
matar o paciente; na verdade, não é o microrganismo que causa
a morte; pelo contrário, é a grave diarréia (e a desidratação
resultante) destinada a eliminar as bactérias do sistema. E por
isso que o tratamento alopático para a cólera salva vidas - não
pelo antibiótico, mas por fornecer alimento intravenoso que
contra-ataca a perda de fluido. Uma vez terminada a reação
defensiva, são suspensos os fluidos intravenosos e o paciente
retoma ao estado normal. Nesses casos, é a superatividade do
mecanismo de defesa que pode levar à morte. O mesmo é
verdadeiro para um sério agravamento homeopático que ocorra
num paciente constitucionalmente fraco e profundamente
patológico. Se houver essa reação, um medicamento correto no
momento preciso pode capacitar o mecanismo de defesa a
provocar a saúde do modo mais eficiente, mas uma política de
espera desnecessária, durante muito tempo, com relação ao
movimento do caso, pode levar a um dano patológico.
Esses agravamentos sérios, no entanto, só ocorrem
em circunstâncias muito incomuns que provavelmente não
são enfrentadas pelos homeopatas iniciantes. Para os casos roti-
neiros de consultório, o agravamento homeopático não causa
danos significativos. Essas respostas, no entanto, não devem ser
temidas nem evitadas, pelo contrário, devem ser bem-vindas.
Sempre que possível a escolha de uma potência mais reduzida
no começo pode diminuir a intensidade da reação, mas um
medicamento nunca deve ser escolhido apenas para se evitar o
agravamento homeopático, Pelo contrário, o agravamento é o
sinal encorajador de que o medicamento está agindo e o
paciente está a caminho da cura.
300
Avaliação um mês depois
A primeira situação que exige grande compreensão do
homeopata é a consulta de retorno um mês depois. A primeira e
mais importante tarefa é interpretar corretamente o efeito real da
primeira prescrição. Como foi discutido, essa não é uma tarefa
fácil. Em primeiro lugar, a confiabilidade da informação deve ser
estabelecida com correção. Há muitas dinâmicas no paciente que
podem desorientar o homeopata, além dos problemas comuns da
entrevista, que possivelmente podem levar o médico a "induzir" o
paciente a uma má interpretação.
A variável seguinte é a própria prescrição homeopática. O
medicamento foi ativo no seu estado inicial? Foi prescrito o
verdadeiro simillimum? A prescrição apenas se aproximou do
exato simillimum, tendo por isso agido apenas parcialmente?
Esteve muito longe do simillimum para causar algum efeito? O
medicamento esteve próximo demais e criou um efeito
supressivo ou disruptivo? O medicamento foi antidotado por
qualquer ação do paciente? Se a segunda prescrição visa auxiliar
ainda mais o paciente, todas essas questões devem ser
corretamente avaliadas. Se a avaliação for incorreta, pode muito
bem criar uma peturbação na ação da primeira prescrição.
Outra variável é o estado de saúde do paciente. Na primeira
entrevista, são descobertos muitos indícios que podem ajudar o
médico a decidir sobre um prognóstico do caso. Um verdadeiro
prognóstiço não pode ser obtido, no entanto, até haver uma
oportunidade para avaliar a reação do paciente ao medicamento.
E nesse ponto que o grau de incurabilidade de um caso pode,
na verdade, ser determinado.
Na história da prescrição homeopática, a experiência clínica tem
evoluído gradualmente quanto à verificação das interpretações
das várias respostas que os pacientes comunicam após tomar
301
um medicamento. Normalmente, a literatura homeopática tem
focalizado a questão da descoberta de um medicamento correto
para cada caso. No entanto, os observadores homeopáticos mais
perspicazes e cuidadosos foram gradualmente descobrindo os
padrões das respostas aos medicamentos, que têm significados
particulares. Por fim, essas observações culminaram na regra
formulada por Constantine Hering como Lei de Hering: A cura se
processa de cima para baixo, de dentro para fora, dos órgãos
mais importantes para os menos importantes e na ordem inversa
do aparecimento dos sintomas. Um importante corolário deve ser
acrescentado a essa lei: a cura se processa pela melhora dos
planos internos conjugada com uma aparente descarga, erupção
da pele ou das membranas mucosas. Essa complementação da
lei original não acrescenta nenhum conceito novo, mas torna
mais vívidas as espécies de mudanças que ocorrem durante o
processo da cura.
Essa regra de interpretação é uma pauta valiosa para se
determinar a ação de um medicamento. Ela simplesmente
expressa de maneira correta os princípios descritos na primeira
parte deste livro. Durante o processo da cura, o mecanismo de
defesa transforma o grau de vibração que, progressivamente, vai
se mudando para níveis cada vez mais periféricos do organismo.
Se a cura estiver progredindo, os sintomas se manifestarão em
níveis cuja importância é cada vez menos crucial para a
liberdade do indivíduo expressar-se plena e criativamente na
vida. E esse o conceito subjacente à Lei de Hering. Não o de que
existem apenas quatro direções específicas para a cura; na reali-
dade, existe apenas uma direção para a cura, que a linguagem
s6 pode descrever claramente pelas quatro observações
específicas.
No apêndice B, consideramos a variedade de respostas dos
pacientes, que pode ocotrer um mês após a administração do
primeiro medicamento. A interpretação dessas respostas, às
302
vezes, é uma tarefa difícil; são necessários muito treino e
experiência antes que um homeopata adquira conhecimento,
discernimento e habilidade suficientes para chegar a uma
interpretação correta. Entretanto, tentarei descrever os exemplos
mais comuns encontrados na prática diária. Somente termos
vagos podem ser usados paradescrever um fenômeno que, na
verdade, é completamente específico; esperamos que mesmo
essas generalidades forneçam aos estudantes da homeopatia
uma estrutura pela qual possam, de modo acurado, interpretar as
respostas dos pacientes aos medicamentos.

Capítulo 16
Princípios que envolvem o controle dos períodos
de longa duração
Quando se trata de interpretar as mudanças de longa duração
durante a prescrição homeopática, as variações de paciente para
paciente tornam-se tão complexas que o único meio de discuti-
Ias é em termos dos princípios e categorias gerais. E. impossível
considerar cada eventualidade num manual; mas, neste capítulo,
espero fornecer os princípios básicos que orientam o controle
dos casos durante um longo período. Talvez os exemplos reais
dos casos apresentados no apêndice B ilustrem de modo mais
específico a maneira pela qual esses princípios podem ser
aplicados êom precisão aos casos individuais.
Uma vez mais, ao lidar com circunstâncias difíceis como as
apresentadas liqui, deve-se advertir o leitor de que a arte do
controle de longa duração só pode ser adquirida pela instrução
supervisionada por um homeopata experiente e instruído. Essa
compreensão não pode ser adquirida apenas pela leitura de
livros.
Nesta parte do livro, levamos em consideração a aplicação
prática, mas é sempre bom lembrar que tudo o que estamos
303
discutindo surge das leis e princípios gerais descritos na primeira
parte. O primeiro passo para a aprendizagem do controle dos
casos com graus variados de complexidade é uma boa
fundamentação teórica. Um simples conhecimento da materia
medica não é suficiente. O conhecimento da teoria deve ser
combinado com o conhecimento da materia medica, mais a
experiência clínica prática, para determinar a resposta a todas as
situações. Não é tanto uma questão de "encontrar o
medicamento certo" quanto de ser capaz de determinar
específica e precisamente o que acontece com o paciente a
qualquer momento do tratamento.
Consideramos em detalhes a maneira de interpretar a resposta
do paciente um mês após ter recebido o medicamento. Os
mesmos princípios, até certo ponto, aplicam-se ao controle dos
casos de longa duração. Neste capítulo, primeiro vou reiterar
alguns dos princípios mais fundamentais que orientam o controle
dos casos crônicos no tempo. Em seguida, levarei em
consideração as três categorias básicas de pacientes crônicos e
de que maneira os princípios fundamentais se aplicam a cada
uma dessas categorias.

Princípios fundamentais
Os princípios gerais se aplicam a todos os casos em todos os
momentos, embora em graus variáveis, dependendo da
gravidade do caso. De que maneira precisamente eles se
manifestam numa pessoa vai depender do grau de resistência do
mecanismo de defesa. Num paciente com um mecanismo de
defesa forte, os princípios básicos para a avaliação da direção da
cura são ressaltados claramente. duando o mecanismo de
defesa é muito fraco e tênue, no entanto, os princípios não se
manifestam tão claramente, e o julgamento e a experiência do
homeopata tornam-se de suma importância.
304
Princípio no. 1: Se o paciente sente-se melhor, internamente, não
interfira. Esta deve ser considerada a "regra de ouro" da
homeopatia. Deve ser obedecida tão completa e estritamente
quanto possível, se o homeopata realmente desejar resultados
profundos e permanentes. Esse princípio, embora
freqüentemente ignorado pelos médicos, sustenta
necessariamente todas as outras linhas de orientação da
interpretação. Deve-se lutar sempre para compreender primeiro
como o paciente está se sentindo, apesar das queixas ou
decepções que forem comunicadas inicialmente.
Princípio no. 2: Não dê outro medicamento, a menos que o
quadro de sintomas esteja claro. Isso se aplica tanto às situações
em que é indicado o mesmo medicamento quanto às situações
em que é mais apropriado um novo medicamento. Se a imagem
do medicamento não estiver clara logo após o medicamento
inicial, é melhor esperar por uma imagem clara sempre que for
possível. Naturalmente, ser capaz de perceber a "clareza" da
imagem de um medicamento depende tanto do conhecimento
quanto da experiência. Um homeopata iniciante pode perfeita-
mente acreditar que a imagem está clara e correta quando não
está. Ao contrário, a imagem pode parecer confusa para um
iniciante quando pareceria óbvia para um homeopata mais
instruído. Entretanto, quando não for possível consultar um
homeopata mais experiente, o princípio geral é esperar, sempre
que a imagem não estiver clara.
Ocorre com freqüência de o paciente passar por uma fase de
sofrimento que "parece" necessitar de medicamento. O paciente,
acometido de sério sofrimento, telefona diariamente ao médico.
Entretanto, o primeiro passo é determinar se o sofrimento é
realmente tão sério quanto antes do medicamento inicial. Se for,
o próximo passo será determinar o surgimento de uma imagem
clara e se esta jáse estabeleceu. Não se deve ter pressa em
305
prescrever enquanto os sintomas estão mudando. É bem
possível que a situação esteja em estado de transição; a imagem
do medicamento pode ter-se apresentado há apenas dois ou três
dias e, nesse caso, é provável que ela, finalmente, mude.
Sempre que possível, deve-se esperar até que a imagem do
medicamento se estabeleça pelo menos durante quinze dias
aproximadamente; nesse caso, pode-se ter uma razoável certeza
de que o medicamento baseado na imagem estável não será
disruptivo, podendo inclusive ser benéfico.
Como veremos, existem naturalmente circunstâncias
desesperadoras em que esse princípio não pode ser estritamente
seguido. Apesar dessas exceções, deve-se fazer todo o esforço
para deixar o paciente chegar aos limites da sua capacidade de
suportar o sofrimento a fim de perceber claramente a imagem do
próximo medicamento. Com o tempo, a observação desse
princípio abreviará o período de sofrimento - embora, no
momento, possa parecer um modo cruel de agir.
Princípio no. 3: Não tenha pressa de prescrever, sobretudo se
um antigo sintoma ou complexo de sintomas estiver retornando.
Se um paciente admite ter sentido, alguns meses ou anos antes
de tomar um medicamento, os mesmos sintomas que sentiu nos
primeiros seis meses depois de começar a tomá-Io, o melhor é
esperar. Nesse caso, é muito importante ter feito uma tomada de
caso completa. Na confusão do momento e com o desejo do
paciente de que o homeopata "faça alguma coisa" numa situação
que aparentemente é a "degeneração" de uma situação anterior,
o paciente pode mostrar relutância em relatar que o novo
conjunto de sintomas é realmente a manifestação de um estado
anterior. O médico deve examinar com muito cuidado essa
possibilidade, a fim de se certificar perfeitamente da situação
real.
Princípio no. 4: Não prescreva um medicamento se aparecer
uma erupção de pele ou supuração acompanhada de uma
306
melhora geral. Nos casos crônicos acontece com freqüência
seguir-se uma reação ao medicamento correto, que produz
erupção na pele ou supuração. Num paciente com um bom
mecanismo de defesa, essa erupção ou supuração pode ser
intensa mas breve. Em uma pessoa com o meçanismo de defesa
mais fraco, a erupção ou supuração pode ser seriamente
perturbadora e prolongada. Esse acontecimento pode tornar-se
absolutamente alarmante para o paciente que pensa que sua
saúde está seriamente abalada e para o homeopata, que é
atormentado pelas urgentes chamadas ao telefone. Entretanto, o
homeopata não deve se apressar em prescrever outro
medicamento, a menos que a situação esteja além do suportável
e a imagem do medicamento seguinte esteja clara.
Princípio no. 5: Não prescreva outro medicamento se os
sintomas remanescentes representarem apenas uma per-
turbação menor para a pessoa. Esse é o corolário do primeiro
princípio. Tal princípio é óbvio para qualquer pessoa. que tenha
uma compreensão verdadeira do conceito básico de cura, que se
processa das regiões mais centrais para as mais periféricas do
organismo. Não obstante, muitos equívocos são cometidos por
médicos ansiosos por "completar a cura".
Princípio no. 6: Não receite outro medicamento se os sintomas
estiverem claramente se movimentando de cima para baixo no
corpo. Esse é outro princípio claro para qualquer pessoa
familiarizada com a Lei de Hering. Ele se aplica de modo mais
óbvio aos sintomas do corpo físico, mas é também evidente nos
diagramas dos invólucros cônicos, apresentados na primeira
parte.

Aplicação em pacientes de categorias específicas


Logo que forem entendidos esses princípios, resta saber como
eles se manifestam nos pacientes individualmente. E sobretudo,
307
como podem esses princípios ser usados em pacientes com
graus diferentes de fraqueza constitucional?
Para começar, devemos estabelecer três categorias básicas de
pacientes crônicos. São necessariamente generalizações, mas
servem 'como categorias úteis.

1. Pacientes com apenas uma ou duas camadas de


predisposição à doença. Esses pacientes, naturalmente, têm o
melhor prognóstico.
2. Pacientes com mais de duas camadas de predisposições
miasmáticas. Esses pacientes representam uma dificuldade
consideravelmente maior.
3. Pacientes incuráveis, nos quais a cura é uma impossibilidade
prática, e o paliativo é o único objetivo.

Essa classificação dos casos de doença crônica é muito


importante, pois esclarece muitas idéias confusas sobre a
eficácia do tratamento homeopático de longa duração em
diferentes situações. Pergunta-se freqüentemente: "Qual é a
eficácia da homeopatia no tratamento do câncer? Ou da
miastenia grave? Ou do diabetes?" Basicamente para um
homeopata, essas questões não têm sentido, pois nossas
prescrições se baseiam na totalidade dos sintomas patológicos e
não na entidade doente específica. A verdadeira resposta a
essas questões, no entanto, é que isso depende da gravidade
miasmática do caso, em primeiro lugar. Se a constituição for
forte, a possibilidade de cura é grande, não importa a categoria
da doença. Por outro lado, mesmo as categorias de doença
supostamente menos sérias podem ser incuráveis nos pacientes
com mecanismos de defesa enfraquecidos além dos limites da
cura.
Dentro da primeira categoria pode-se encontrar qualquer tipo de
daença crônica - esquizofrenia, câncer, esclerose múltipla,
308
miastenia grave, miopatias, diabetes melito., tuberculose, etc.
Não obstante, essas doenças são todas curáveis se o paciente
pertencer à primeira categaoria, e o mecanismo de defesa tiver
sido forte até o aparecimento da doença. Nesses casos, pode-se
testemunhar os resultados mais surpreendentes e miraculosos.
São os casos mais satisfatórios e encorajadores para qualquer
homeopata, e toda homeopata pode lembrar-se de pelo menos
algumas dessas curas extraordinárias. Encontramos, nesses
casos, após cuidadosa investigação, pais com saúde
relativamente boa, que não foram submetidos a nenhum
tratamento alopático de longa duração que possa ter enxertado
influências miasmáticas no arganismo, e poucas vacinas com
reações adversas; geralmente se descobrirá que antes do
aparecimento da enfermidade esses pacientes tiveram vidas
relativamente saudáveis e equilibradas emocionalmente.
Os pacientes que pertencem à segunda categoria apresentam
muita mais problemas para o homeopata. As mesmas entidades
doentes podem estar envolvidas - esquizofrenia, câncer,
enfermidades neurológicas, diabetes, etc. Por conseguinte, o
homeapata, perplexo, será levado a pensar: "Por que consegui
curar essa doença em outros casos e não tenho facilidade com
este?" A resposta, naturalmente, é que as influências
miasmáticas são mais fortes. A história da hereditariedade da
paciente mostra muito mais doenças crônicas; pode haver uma
longa história de tratamento alopático com drogas poderosas; a
vacina pode não ter tido nenhum efeito aparente nem reações
muita sérias; e a vida do paciente pode ter sido sempre repleta
de ansiedades, medos e nervosismos. Qualquer caso que tenha
todas essas influências contrárias estará inevitavelmente
carregada de maiores dificuldades do que o caso de um paciente
pertencente à primeira categoria - mesmo quando o diagnóstico
alopático for idêntico.
É muito importante que o médico aprenda a julgar a profundidade
309
das influências miasmáticas de um determinado caso. Assim os
problemas com que ele lida podem ser previstos, e tanta o
paciente quanta o médico não se deixarão enganar por um falso
otimismo.
As mesmas entidades de doença podem naturalmente ser
encontradas na terceira categoria de pacientes, mas nesses
casos o mecanismo de defesa é tão fraco que o prognóstico
alopático comum realmente é exato. Mesmo assim, uma
prescrição cuidadosa pode fornecer um paliativo e é muito
possível que seus dias e meses úteis possam se estender além
das expectativas.
Agora, de que maneira precisamente podem ser aplicados os
princípios fundamentais da cura a cada categoria de pacientes?
Vamos considerar primeiro os pacientes da primeira categoria -
os que têm mecanismos de defesa fortes.
A prova mais evidente de que um paciente tem um forte
mecanismo de defesa é a resposta descrita nos casos I-IV (ver
apêndice B). Supondo-se que o medicamento esteja correta e
que não tenha havido nenhuma interferência, o paciente com
toda a certeza se sentirá melhor "interiormente". Os casos que
mostram essa resposta têm os melhores prognósticos, apesar do
diagnóstico patológico. Pode-se esperar que eles permaneçam
nesse estada extraordinariamente melhorado de seis meses a
vários anos, supondo-se que não haja nenhuma interferência
química ou estresse esmagador.
Se esse paciente adquirir uma enfermidade aguda, pode-se
esperar que ela seja relativamente suave e auto-limitada. Não
deve haver necessidade alguma de tratamento homeopático. Na
verdade, é preferível permitir que o próprio sistema a cure.
Naturalmente, esse princípio nem sempre se aplica; o paciente
pode encontrar um estímulo morbífico muito poderoso. -
digamos, uma exposição prolongada e séria aos elementos,
resultando numa pneumonia ou numa bronquite grave. Nesse
310
caso incomum, será necessária uma prescrição homeopática,
com um desdobramento relativamente fácil. Um paciente com um
mecanismo de defesa forte, mesmo durante uma enfermidade
aguda, tenderá a gerar um quadro sintomatológico que aponta
claramente para o medicamento necessário. Apenas uma
prescrição, ou no máximo duas, serão suficientes para curar a
doença aguda, e o estado crônico permanecerá em estado de
cura.
Os pacientes que pertencem à primeira categoria tendem a
permanecer relativamente bem de dois a cinco anos após a
prescrição inicial. Se eles retornam para posterior tratamento,
geralmente é por problemas menores. Depois da primeira
consulta, o homeopata com freqüência deixa de ver esses
pacientes por vários anos, podendo-se falsamente supor que a
resposta ao medicamento tenha sido desapontadora. Só anos
mais tarde é que o homeopata fica sabendo que a prescrição
inicial produziu uma cura "milagrosa" .
Ocasionalmente, mesmo os pacientes que pertencem à primeira
categoria passam por um estresse tão sério que o mecanismo de
defesa fica esmagado, sobrevindo uma recaída total. Isso pode
ocorrer em seguida a um pesar muito grande, um revés nos
negócios muito prejudicial, ou a um grave ferimento físico. No
caso dessa recaída, o homeopata deve retomar cuidadosamente
o caso em sua totalidade; provavelmente descobrir-se-á que o
medicamento inicial ainda é o indicado. A única diferença é que
ele deve ser dado em potência mais alta. Também é possível que
seja indicado um medicamento "complementar".
Em muitos círculos homeopáticos, é comum referir-se ao
"remédio constitucional", como se um indivíduo necessitasse de
apenas um único remédio. Essa terminologia pode ser aplicada
com propriedade a pacientes que possuem mecanismos de
defesa que necessitam do mesmo medicamento durante anos,
seja para os achaques menores, seja para as recaídas após
311
graves estresses. Como veremos, no entanto, esse conceito não
se aplica de imediato às demais categorias de pacientes
crônicos.
Acontece, às vezes, que o paciente que obteve uma resposta
curativa extraordinária ao primeiro medicamento sofra mais tarde
uma recaída por uma influência antídota. Isso pode ocorrer por
causa de drogas alopáticas, de algum mal menor, por tomar café,
ou se submeter a tratamento dentário. Depois dessas
interferências, a condição do paciente pode parecer retornar a
um estado de recaída; não obstante, é importante esperar quinze
dias, mais ou menos (após suspender a influência antídota). O
mecanismo de defesa em condições normais é bastante forte
para tratar por si mesmo da perturbação, sem posterior
tratamento homeopático. Se, no entanto, a recaída parece
estabelecer-se por um tempo significativo, o caso deve ser
retomado. Se ain,da for indicado o mesmo medicamento, ele
deve ser dado na mesma potência e não em potências mais
elevadas. A razão para tanto é que o primeiro medicamento foi
antidotado. Por conseguinte, não se pode saber se a potência
inicial foi realmente ótima; por isso, deve-se tentar de novo o
mesmo nível de potência.
Podem ocorrer erupções de pele nesses pacientes, nos primeiros
dez dias, mais ou menos. Se essas erupções (ou supurações)
forem acompanhadas de uma melhora geral do paciente, não se
deve administrar outro medicamento. Este é um exemplo clássico
de sintomas que mudam para a periferia em direção à cura, e
nada deve ser feito para interferir nesse processo.
Se a erupção ocorresse mais tarde, digamos, seis meses ou um
ano após, no entanto, o ideal seria ministrar outro medicamento.
Geralmente, é indicado o mesmo medicamento ou um
medicamento complementar, mas não se deve ter pressa em
prescrevê-Io. Se a imagem ainda não estiver clara é bom deixar
passar mais tempo para certificar-se perfeitamente da próxima
312
prescrição. Uma prescrição apressada, nesse estágio, pode
confundir o caso e retardar a cura da erupção.
Uma eventualidade semelhante pode ocorrer num paciente que
de início apresente graves problemas mentais  digamos,
depressão. Após o primeiro medicamento, o estado mental se
aclara de forma extraordinária, mas o paciente, em seguida, sofre
de uma séria gastrite.' Se isso ocorrer alguns dias após a
primeira prescrição, é muito provável que seja uma resposta
curativa e deve-se permitir que complete o seu curso. Este seria
o exemplo típico de uma cura que se processa "de dentro para
fora" numa constituição muito forte. Se, no entanto, a gastrite
ocorresse alguns meses ou um ano após a prescrição inicial,
provavelmente seria necessária outra prescrição - além da
repetição do remédio "constitucional" inicial ou de um
complementar.
Pode ocorrer que um paciente que pertença a essa primeira
categoria apresente o princípio da Lei de Hering, de melhora que
se processa de cima para baixo. Isso implica uma erupção de
pele que se mostra primeiro na cabeça, depois no peito e,
finalmente, nas palmas das mãos ou nos pés. Ou pode-se
observar um caso de artrite que apresente uma melhora primeiro
na região cervical, mudando-se em seguida para a região lombar
e, depois, envolvendo os nervos ciáticos; finalmente, avança em
direção aos pés ou mãos. Durante uma resposta curativa, esses
avanços ocorrem mais provavelmente num período de três a seis
meses e não devem ser interrompidos por mais prescrições. Se,
por acaso, o processo "estancar" por um mês ou mais num
determinado nível, justifica-se a seleção de um novo
medicamento, baseado na totalidade dos sintomas do momento.
Para concluir a discussão a respeito dos pacientes pertencentes
à primeira categoria, podemos reiterar que eles têm o melhor
prognóstico. Seus mecanismos de defesa estão inteiramente
fortes e, apesar do diagnóstico patológico inicial, espera-se que
313
eles sejam aliviados, em todos os níveis, por longo tempo. Esses
pacientes demonstram mais claramente o trabalho da Lei de
Hering, e a interpretação de suas respostas deve ser
relativamente fácil para o iniciante. Eles são como os prisioneiros
que, de repente, e de modo inexplicável, são postos em
liberdade. Todo homeopata deseja, é claro, que esses casos se
processem assim, suavemente; o fato de a maioria deles não se
processar dessa forma não é um reflexo da habilidade de pres-
crever do homeopata; ao contrário, prende-se mais à natureza
grave dos casos de pacientes que acabam consultando o
homeopata em primeiro lugar.

Casos miasmáticos profundos


A primeira categoria dos casos "constitucionalmente fortes"
geralmente é vista em culturas intimamente relacionadas com a
natureza. Na Grécia, encontram-se facilmente pacientes desse
tipo entre os aldeões que levam vida simples e em altitudes
elevadas. Por oposição, os pacientes que pertencem à segunda
categoria, que envolve vários miasmas, parecem vir dos meios
culturais que se podem chamar de "cultos" e "sofisticados" na
terminologia moderna. Essa observação justifica-se por diversas
razões  a separação das estações da terra, como ocorre nos
ambientes urbanos, a poluição química de diversas fontes, o
ritmo febril e artificial da vida nas cidades, a super-educação e
intelectualização, a dependência de tratamentos supressivos de
diversos tipos, e a sujeição a muitas outras influências.
Em todo caso, as práticas homeopáticas nos
ambientes altamente "sofisticados" notam uma predominância de
pacientes com muita predisposição para doenças. Esses casos
exigem a maior habilidade homeopática possível para realizar a
cura, constituindo um teste para os homeopatas experientes,
comparativamente aos homeopatas menos capacitados. Como já
314
foi mencionado, todo homeopata pode anunciar sucessos
impressionantes nos casos de constituições fortes, mas o teste
verdadeiro reside nos casos que pertencem a essa segunda
categoria. Esses casos ainda são curáveis, mas exigem grande
habilidade, treino, discernimento, experiência e tempo por parte
do homeopata. Exigem mais ainda do paciente.
Ao considerarmos o primeiro princípio, com relação a esses
pacientes, percebemos de imediato que estamos diante de
grandes dificuldades. Esses pacientes profundamente doentes
geralmente não mostram uma melhora facilmente discernível dos
níveis mais profundos. Mesmo na entrevista inicial, a história
passada e a história da família fornecem fortes indícios de que o
prognóstico seja reservado; com dificuldade, seleciona-se um
medicamento inicial. Mesmo assim, a reação do paciente não é
tão clara como se desejaria. O progresso pode, freqüentemente,
ser determinado apenas por indicações sutis ou pela melhora dos
sintomas menores. Se formos capazes de esperar o suficiente,
pode ocorrer uma resposta curativa lenta num período de um a
dois anos (sendo necessário mais alguns medicamentos,
cuidadosamente escolhidos).
Surge a pergunta natural: "Presumindo-se que a resposta não
seja muito óbvia e que o paciente esteja sofrendo, quanto tempo
se deve esperar?" A resposta a essa pergunta, naturalmente,
depende muito das circunstâncias individuais e da experiência do
homeopata. O indício mais útil encontra-se nas regiões de
importância mais central da capacidade do paciente em viver de
forma verdadeiramente criativa. Se até as mudanças sutis para
melhor estiverem ocorrendo nos níveis da energia ou nos níveis
mental/emocional, a tendência será esperar, muito embora o
paciente possa estar sofrendo seriamente nos níveis mais
periféricos. Em cada consulta, deve-se avaliar o progresso com
muito cuidado, principalmente nas áreas centrais.
Os médicos freqüentemente encontrarão pacientes dessa
315
categoria queixando-se de que os sintomas originais estão
realmente piorando depois do medicamento inicial. Esse
agravamento dos sintomas físicos pode tornar-se intolerável,
digamos, de vinte dias a três meses após o medicamento, apesar
de o paciente sentir-se melhor. A tendência, naturalmente, deve
ser esperar que o agravamento passe, mas acontece, às vezes,
que os sintomas locais se tornam insuportáveis. Pode-se
justificar outro medicamento nessa situação, contanto que sua
imagem esteja claramente definida.
Nos pacientes que pertencem à segunda categoria, se ocorrer
uma erupção de pele em resposta à primeira prescrição, pode-se
esperar que ela seja violenta - e este não será o último problema
com que o paciente irá se defrontar. Nessa situação, o
mecanismo de defesa está tentando provocar uma cura, embora
o processo esteja produzindo um sério sofrimento na superfície
do corpo. Deve-se esperar até o limite extremo que o paciente
possa suportar. Essa situação é uma provação para ambos, tanto
o paciente quanto o homeopata. Se for absolutamente neces-
sária uma nova prescrição, o médico deve estar completamente
certo de que a nova imagem sintomática apareceu totalmente e
atingiu a estabilidade.
Nesses casos muito difíceis pode ser necessário usar uma série
de dois ou três medicamentos em sucessão muito rápida, mas
eles sempre devem ser prescritos tendo-se em vista apenas a
totalidade dos sintomas. Quaisquer atalhos ou prescrições
apressadas trazem o risco real de retardar a cura final do caso
por vários meses.
Os casos de profundidade miasmática podem desenvolver, no
processo do tratamento, vários problemas no nível físico em
direção à cura. Ao invés de erupções de pele ou supurações,
podem desenvolver problemas artríti cos, dores de cabeça ou
perturbações digestivas. Mais uma vez, os mesmos princípios
também se aplicam. Deve-se medicar esses sofrimentos apenas
316
se eles se tornarem intoleráveis e somente se a imagem do
medicamento amadureceu e se estabilizou.
O princípio da cura de um órgão mais importante para um menos
importante, nos pacientes com predisposições profundamente
miasmáticas, apresenta grandes dificuldades. Em termos de
localização, a direção pode ser claramente favorável, mas
provavelmente a intensidade dos sofrimentos será bastante
grande. O paciente, envolvido com sua condição imediata, tende
a se queixar que o novo estado de sofrimento é ainda maior do
que o anterior, antes de tomar o medicamento. Se a direção for
benéfica, no entanto, essa declaração deve ser vista com
suspeita. Finalmente, o homeopata deve testar o julgamento do
paciente, ameaçando com a possibilidade de antidotar o me-
dicamento dando drogas alopáticas. Geralmente, o paciente
recusará enfaticamente essa opção, percebendo que de fato o
presente estado de sofrimento não é tão sério quanto o inicial.
Nos pacientes que pertencem à segunda categoria, não é
comum o reaparecimento de antigos sintomas nos meses iniciais
do tratamento. Sempre que eles voltam, é com grande violência
e, geralmente, não com a imagem original. Como sempre, em
tais casos infelizes, deve-se exaurir ao máximo a capacidade de
resistência do paciente enquanto se espera pelo surgimento de
um quadro de sintomas claro. Logo que uma imagem clara e
estável se revelar, no entanto, deve-se indicar o novo
medicamento.
Os pacientes profundamente miasmáticos com freqüência
chegam a um estado em que o nosódio ou um medicamento
miasmático característico é claramente indicado pelo sintoma.
Sempre que isso ocorre, mesmo que seja uma semana após o
último remédio, ele deve ser indicado, po . dendo-se esperar que
a evolução do caso tenha prosseguimento. Serão necessários
mais medicamentos também, mas deve-se observar atentamente
o nosódio miasmático ou o medicamento.
317
Nos casos profundos, um novo conjunto de sintomas geralmente
significa a necessidade de uma nova droga. Por conseguinte,
não se pode dizer que exista um medicamento "constitucional",
nesses casos. Após anos de tratamento, esses casos podem
estabelecer um padrão de resposta que exija a repetição do
mesmo medicamento, mas a manifestação do medicamento
chamado constitucional é relativamente incomum. Isso é verdade
porque há tantas camadas miasmáticas a serem penetradas que
os quadros de novos sintomas continuam subindo à superfície.
Presume-se que as enfermidades agudas sejam muito sérias
nesses pacientes. Elas tendem a ser profundas e prolongadas,
sendo necessárias com freqüência três ou mais prescrições para
se lidar com a situação. Sob o impacto de uma enfermidade
aguda séria e diversas prescrições homeopáticas, é provável que
ocorra uma recaída no nível do progresso anterior. Por exemplo,
suponhamos que um caso miasmático profundo tenha sido
tratado com três medicamentos durante seis meses, tendo cada
um deles um efeito benéfico - mas, seis meses depois, o
paciente é atacado por uma bronquite séria. Suponhamos que
sejam necessárias três prescrições para controlar a bronquite.
Nessa circunstância, é provável que o estado crônico do paciente
recaia no estado exatamente anterior à terceira prescrição. Se o
quadro de sintoma resultante for o mesmo do terceiro
medicamento, deve-se repeti-Io numa potência mais elevada. Se
for um quadro de sintoma diferente, no entanto, o novo
medicamento deve ser prescrito na potência indicada pela
clareza da imagem e pelo grau da mudança patológica.
Nos pacientes pertencentes à segunda categoria, há uma
pressão constante para se prescrever um medicamento em cada
consulta e durante os momentos intermediários da crise. O
paciente está sofrendo muito, e as queixas constantes sempre
apresentam uma tentação poderosa de se dar outro
medicamento. Se sucumbirmos a essa tentação apenas para
318
deter a queixa, o caso poderá complicar-se. A recuperação das
prescrições equivocadas, nos pacientes com me canismos de
defesa fracos, leva um bom tempo - desse modo, as prescrições
apressadas, com o tempo, apenas maximizarão o sofrimento do
paciente e minimizarão a reputação do homeopata. Como
princípio geral, deve-se deixar que esses pacientes sofram até o
limite de sua resistência, prescrevendo-Ihes em seguida Um
medicamento apenas quando se tornar clara a nova imagem.
Um conhecimento sólido da patologia física é um pré-requisito
importante para um homeopata que esteja tratando desses
pacientes. É muito fácil deixar que um paciente sofra, sabendo-
se que é apenas uma fase da cura - quando, na verdade, está
ocorrendo um dano patológico. Mesmo para os clínicos mais
instruídos e experimentados, esse pode ser um julgamento difícil
em muitos casos, mas é preciso ter sempre em mente a
possibilidade de haver dano patológico.
A maior parte dos equívocos de prescrição ocorre com pacientes
com profunda fraqueza miasmática. Às vezes, os equívocos são
cometidos por simples falta de conhecimento da materia medica;
nesses casos, a simples consulta a um homeopata mais instruído
ou experimentado pode esclarecer o caso. No entanto, são
cometidos equívocos até mesmo com certa freqüência, com
relação ao tempo correto para a prescrição de medicamentos; o
resultado final é um caso tão desordenado que a cura se torna
quase inatingível.
É comum acontecer que um paciente retome, queixando-se de
uma recaída, quando não existe uma verdadeira e total recaída.
Pela queixa do paciente, o homeopata interpreta mal a seriedade
da situação. Nenhuma ima gem clara do medicamento é visível,
mas o médico, sentindo-se pressionado, indica um medicamento
baseado na melhor adivinhação possível. Um caso desses pode
tomar duas direções. O medicamento incorreto pode levar a mais
"recaídas", que são tratadas até que, finalmente, ocorra uma
319
recaída total. Se tivermos sorte, a imagem corrente pode voltar
ao quadro do medicamento inicial que, novamente, pode ser
indicado com sucesso (se resistirmos às tentações de prescrever
apressadamente).
Se a imagem final estiver completamente obscura, o homeopata
tem à sua frente um julgamento muito delicado. Pode acontecer
de um medicamento ter agido muito bem num passado recente;
nessa circunstância, ele pode ser repetido, na esperança de que
traga ao caso ordem suficiente para restaurar a evolução. A
melhor alternativa, no entanto, talvez seja tentar um antídoto
contra os efeitos de todos os medicamentos que provocaram a
perturbação do caso. A melhor forma é a administração de
drogas alopáticas para mitigar os sintomas durante duas ou três
semanas; depois, as drogas devem ser suspensas, dando-se
mais uma ou duas semanas ao caso, para que se estabilize
antes de se escolher outro medicamento. Assim, também, pode-
se indicar café ou cânfora, se as drogas alopáticas forem inapro-
 priadas ou ineficazes para a mitigação dos sintomas. Os an-
tídotos homeopáticos devem ser evitados, pois provavelmen te
trarão mais confusão ao caso.

Casos incuráveis
A terceira categoria dos pacientes que precisam de um
tratamento de longa duração é a dos que já cruzaram os limites
da incurabilidade. Esses pacientes mostram o menos possível os
princípios fundamentais da cura. Os mecanismos de defesa são
tão fracos que não suscitam as típicas reações curativas.
Por exemplo, se foi dado a um desses pacientes um
medicamento homeopático correto, depois da consulta inicial o
paciente pode voltar com a seguinte declaração: "Eu me sinto
definitivamente melhor". No grupo desses pacientes, esse relato
geralmente significa que o sofrimento agudo foi aliviado de modo
320
considerável, mas que, na verdade, o estado geral de bem-estar
não foi afetado. Como o sofrimento anterior era muito sério,
esses pacientes têm a impressão de que o estado geral está
melhor.
Jamais se pode esperar que os casos incuráveis saltem de um
nível maior de saúde para outro mais periférico. O único objetivo
razoável é. minorar os sofrimentos imediatos, de forma que o
resto da vida do paciente possa ser relativamente confortável.
Nesses casos, as recaídas ocorrem muito rapidamente e com
freqüência. Com isso, a imagem do remédio muda quase com
toda a certeza, de modo que o médico deve ser bastante
perspicaz e estar atento às novas imagens do medicamento.
Se ocorrerem erupções de pele ou supurações, não é provável
que sejam acompanhadas de uma melhora real dos níveis mais
profundos do paciente, embora haja uma melhora definitiva numa
pequena porcentagem dos casos. Pode-se supor que os
sofrimentos advindos dessas erupções ou supurações sejam
sérios e persistentes. E freqüente a necessidade de uma
prescrição rápida nesses casos; mesmo assim, a imagem do
novo medicamento ainda não estará clara. Não obstante, o
homeopata deve fixar-se no medicamento mais próximo do caso
no momento. Isso exige grande habilidade; por conseguinte,
esses casos não devem ser aceitos por principiantes.
Nos casos incuráveis, geralmente não se observa o retorno de
sintomas antigos; o mecanismo de defesa é muito fraco para
voltar ap nível de vibração anterior.
Presumindo-se uma excelente prescrição, os casos incuráveis
têm uma oportunidade de sobrevivência, em relativo conforto, por
muitos anos, dependendo, naturalmente, da condição da
gravidade inicial. Suas manifestações seguem as direções
tradicionais da resposta curativa; assim, só a habilidade e a
experiência do homeopata podem proporcionar uma efetiva
mitigação da doença.
321
Este capítulo parece implicar que, sob tratamento homeopático,
os pacientes com graves doenças crônicas sofrem
inexoravelmente. Isso pode ser verdade nos casos mais graves,
mas permanece o fato de que, durante todo o tratamento, eles
definitivamente sofrem menos do que teriam sofrido em seu
estado inicial, sem o tratamento homeopático. O tratamento
homeopático sempre é válido nesses casos, pois é a única
esperança que eles têm.

Capítulo 17
Casos complicados
Neste capítulo, consideraremos os casos que aparecem na
consulta inicial já num estado altamente desordenado ou
terminal. Esses casos exigem do homeopata a maior habilidade,
experiência, paciência e tempo possível. Como regra geral, a
maior parte desses casos deveria ser imediatamente rejeitada
pelos homeopatas principiantes, pois é provável que a má
prescrição resulte em maior confusão para o caso e sofrimento
desnecessário para o paciente. Muitas vezes parece que a
homeopatia é a única oportunidade para o paciente, já que o
remédio alopático e outras terapias não foram bem sucedidos.
No entanto, quando tanto o homeopata quanto o paciente não
têm conhecimento do extremo sofrimento e do caos que se
podem encontrar nos casos graves, eles iniciam o tratamento e
em pouco tempo descobrem que tais casos estão além da pos-
sibilidade de compreensão. O modo mais compassivo de ação
pode ser, simplesmente, recusar esses casos ou enviálos a um
homeopata mais experiente, a fim de evitar o terrível sofrimento
que pode decorrer da busca de uma oportunidade de cura; se o
homeopata não for capaz de lidar com as confusões e as
complicações, esse sofrimento pode, afinal, ser inútil.
Naturalmente, não há comparação entre o dano que o tratamento
322
alopático "correto" pode causar a um paciente cronicamente
doente e o que pode ser causado por um tratamento
homeopático "incorreto". Os efeitos colaterais do tratamento
alopático são terríveis em comparação com uma má prescrição
homeopática. A prescrição homeopática incorreta não causa mal
direto ao paciente, mas pode produzir muita disrupção no
mecanismo de defesa, tornando as prescrições posteriores
incomensuravelmente mais difíceis.
Neste capítulo, consideraremos estas três categorias básicas de
casos que se apresentam de início com problemas altamente
complicados. Discutiremos casos que se desordenaram durante
longo tempo por prescrições homeopáticas inadequadas, casos
em que durante muito tempo os pacientes tomaram drogas
alopáticas fortes, e casos que já chegam ao homeopata no
estágio terminal.

Casos homeopaticamente desordenados


Os pacientes que já se trataram durante anos com homeopatia
sem obter um benefício significativo são os que fazem com que
qualquer homeopata experimentado se encolha de medo. São os
casos mais temidos por serem os mais difíceis de tratar. Na
homeopatia, toda prescrição é baseada na totalidade dos
sintomas, que é a manifestação visível da atividade do
mecanismo de defesa. Quando um paciente recebeu inúmeros
medicamentoi homeopáticos durante alguns anos, as respostas
do mecanismo de defesa são alteradas, de início, de forma sutil
e, mais tarde, profundamente. Quando for tomada a decisão de
indicar o paciente a um homeopata mais experiente, as
manifestações do mecanismo de defesa estarão tão seriamente
alteradas que é quase impossível descobrir a série correta de
medicamentos e interpretar suas ações com precisão.
Os casos de desordem do mecanismo de defesa basicamente
323
podem ser divididos em duas categorias:

1. Curáveis
2. Incuráveis

Os casos curáveis são aqueles em que o mecanismo de defesa


ainda é bastante forte, sendo capaz de responder às prescrições
bem selecionadas. Os casos incuráveis, por outro lado, são
aqueles em que o mecanismo de defesa foi tão enfraquecido que
não se tem mais qualquer esperança na possibilidade de uma
resposta curativa nem mesmo através de uma prescrição correta;
nesses casos, o objetivo é apenas a paliação, não a cura.
Como se decide quando um caso é curável ou incurável? Antes
de mais nada, é impossível fazer esse julgamento com certeza
absoluta. Os casos realmente sem esperanças virtualmente não
existem, mas todo homeopata experiente já encontrou casos em
que a melhor prescrição produz resultados muito limitados.
Mesmo nesses casos, o médico não "cancela" o paciente por
completo, mas o julgamento dos progn6sticos é feito
necessariamente com cautela. As. determinações quanto à
curabilidade ou à incurabilidade de qualquer caso são, como
sempre, um assunto altamente individual, e a decisão jamais
deve ser considerada como final. Basicamente, os seguintes
fatores são levados em consideração:

1. O diagnóstico patológico. Um diagnóstico patológico grave não


significa por si só a incurabilidade, mas é um fator a ser levado
em consideração.
2. A resistência da constituição do paciente, principalmente antes
do tratamento homeopático inicial. Os pacientes mais jovens, de
constituição forte, têm inicialmente mais chance de se recuperar
do que os pacientes mais velhos ou debilitados.
3. A natureza da resposta aos medicamentos anteriores. Para
324
determinar isso, deve ser revista toda a hist6ria do caso. Talvez o
paciente tenha respondido a, digamos, metade dos
medicamentos e não tenha tido nenhuma resposta quanto aos
demais. O simples fato de ter havido alguma resposta por si só
não é um sinal encorajador. Se as respostas foram apenas
paliativos temporários, o prognóstico é adverso. Se houve um
agravamento distinto seguido de melhoras duradouras, o
prognóstico é mais favorável.
4. A clareza da imagem do medicamento no momento.
Freqüentemente, o homeopata que está simplesmente tratando
de um caso nunca estudou o medicamento necessário. Nesses
casos, outro homeopata pode perceber a imagem com muita
clareza. Esse prognóstico será mais favorável.
5. A resistência ou fraqueza dos ancestrais do paciente.

Esses fatores devem ser combinados para formar um julgamento


que, ademais, não pode ser absoluto ou final. E uma decisão
difícil de se tomar, mas possui mais valor do que o simplesmente
acadêmico. Dependendo da curabilidade ou incurabilidade do
caso, os objetivos e abordagens ao tratamento diferem.
Vamos primeiro considerar a situação em que o caso é julgado
como relativamente "incurável" depois de muitos medicamentos
homeopáticos durante alguns anos. E importante evitar
prescrever regularmente o medicamento mais recente que
produziu uma melhora. Os casos incuráveis, de modo geral,
tendem a mudar as imagens com muita rapidez. E absolutamente
incomum, nesses casos, a prescrição de um remédio duas vezes
seguidas. Por conseguinte, o caso deve ser cuidadosamente
retomado a cada consulta e, seja qual for o medicamento dado,
este deve se ajustar à imagem no momento. Por exemplo,
suponhamos que um caso incurável tenha sofrido há um mês de
incontinência urinária ao fazer força ou ao tossir; mais tarde,
revela-se que o paciente tem uma forte aversão por doces.
325
Imediatamente, viria à mente o Causticum, mas existem chances
de que o estresse da incontinência inicial já tenha desaparecido e
tenha sido substituído por outro sintoma que se ajusta com maior
precisão, digamos, ao Graphites. Cada prescrição deve ser
baseada apenas na imagem corrente.
Nos casos incuráveis, o objetivo é encontrar o medicamento que
produzirá uma melhora imediata dos sintomas. Essa melhora
será provavelmente seguida pela recaída após um período de
tempo relativamente breve, e essa recaída talvez exija um
medicamento diferente. Por essa razão, o homeopata deve ver
esses casos com muita freqüência. O paciente deve ser instruído
a entrar em contato com o homeopata na primeira indicação de
recaída. Nesses casos, não se espera que surja uma imagem
clara, pois as recaídas podem tornar-se muito graves em pouco
tempo. Deve-se prescrever imediatamente o medicamento
correto a fim de manter o estado paliativo. Essa é a razão pela
qual especifico que somente os homeopatas experientes devem
aceitar tais casos; se for cometido um único deslize, a caso pode
degenerar rapidamente, transformando-se numa condição de
racaída grave, não evidenciando nenhum sinal ou sintoma claro
para uma prescrição precisa. O médico não conta com a chance
de poder esperar por um quadro de sintomas completo, e não há
margem para erro. Somente um homeopata muito experiente e
instruído tem alguma possibilidade de poder lidar com um caso
desses, e mesmo assim, é inevitável que cometa algum
equívoco.
Os casos incuráveis reagirão a um medicamento com alguma
freqüência, produzindo sintomas que são patognomônicos a esse
medicamento sem uma melhora geral corres pondente. Se isso
ocorrer, é um mau sinal, e deve ser feita nova prescrição logo em
seguida. Num indivíduo saudável ou com uma constituição forte,
essa "experimentação" pode ser um sinal bem positivo, pois no
fim haverá uma melhora na saúde geral do paciente. No entanto,
326
os casos incuráveis possuem uma grave fraqueza no mecanismo
de defesa. Um medicamento que seja próximo, mas não exato,
pode, por conseguinte, estimular esse mecanismo de defesa de
um modo morbífico e não terapêutico. Por isso a única coisa a
fazer nesse caso é dar outra olhadela nos sintomas que existiam
quando o medicamento foi inicialmente receitado; com isso é
possível encontrar um novo medicamento que se ajuste com
maior precisão à imagem. Esse medicamento recolocará o
organismo em ordem.
Voltemos, agora, aos pacientes curáveis, cujos casos sofreram
disrupção por uma prescrição homeopática im precisa. Embora o
diagnóstico inicial possa ser bastante sério, é possível haver
sinais de uma constituição positivamente forte, o paciente é
relativamente jovem e houve respostas curativas a um ou dois
dos medicamentos receitados. No entanto, um ano antes,
nenhuma das prescrições parece ter tido efeito duradouro. Nesse
caso, o homeopata pode, de modo razoável, julgar que o caso
ainda é curável, podendo ser feita uma tentativa para encontrar
uma série de medicamentos que provoque a ordem e a cura.
Se o caso não for muito sério, o melhor procedimento é
simplesmente esperar por um momento em que o mecanismo de
defesa se estabeleça num padrão reconhecível. Isso pode levar
um período de três a dez meses, não sendo assim uma
recomendação muito prática para a maioria dos pacientes. No
entanto, alguns pacientes são capazes de esperar por longos
períodos, e, nesse caso, essa possibilidade deve ser aventada.
Se for possível obter o registro do caso tomado na consulta inicial
- antes de quaisquer prescrições homeopáticas -, deve-se
estudar o quadro do sintoma inicial com muito cuidado. Às vezes,
a prescrição inicial foi perdida e o caso ficou desordenado desde
o início. Em outros casos, o medicamento inicial foi correto, mas
o homeopata seguiu impacientemente com outros
medicamentos, sem dar tempo suficiente para que o primeiro
327
medicamento completasse sua ação. Ao voltar à primeira
consulta homeopática será possível descobrir uma imagem clara
sobre a qual pode ser feita uma prescrição capaz de recolocar
ordem no caso.
Essa manobra pode funcionar bem, embora o medicamento
necessário não pareça se ajustar ao quadro do sintoma corrente.
A razão disso é que, apesar de anos de prescrição, a primeira
camada miasmática nunca foi eliminada com sucesso. Os
sintomas variaram de acordo com uma série de medicamentos
parciais, mas um processo verdadeitamente curativo nunca
chegou a se completar. Por conseguinte, o medicamento que se
ajusta corretamente à imagem do sintoma inicial pode aiqda
motivar a ordem.
Um exemplo dessa manobra pode ser dado por um caso de
minha própria experiência. Um doutor em medicina com alguns
anos de experiência em homeopatia tentou tratar de uma criança
que sofria de profundas perturbações mentais. O paciente
recebeu aproximadamente quinze medicamentos, alguns dos
quais agiram parcialmente e outros não tiveram qualquer efeito.
O caso me foi trazido, e a tomada de caso, na entrevista inicial,
mostrou claramente Veratrum album, que fora dado somente
como a décima prescrição, entre várias outras. Baseado na
entrevista inicial, foi receitado Veratrum album 50M (é melhor ir
para as altas potências, se possível, nesses casos),
com instruções para se esperar durante três meses completos,
a fim de avaliar completamente a ação do medicamento. Três
meses depois, o quadro patognomônico do ácido nítrico surgiu e
continuou a produzir uma resposta curativa duradoura.
Nesse exemplo. a camada miasmática inicial exigia Veratrum
album, mas como o medicamento foi dado muito tempo depois,
sua ação foi demasiado lenta para poder ser interpretada, sendo
logo em seguida receitado outro me dicamento, que interrompeu
a cura. Ao tentar corrigir um caso confuso, é importante dar a
328
melhor prescrição, baseada no caso inicial, e, depois, esperar um
longo período a fim de evoluir para o medicamento seguinte - o
qual representará a próxima camada miasmática.
Se, por um motivo qualquer, os registros do caso inicial não
estiverem disponíveis, o homeopata deverá trabalhar arduamente
para auxiliar o paciente a recordar-se de todos os detalhes
significativos do caso inicial. A fim de conseguir isso, o
homeopata deve primeiro ganhar a confiança do paciente,
explicar claramente a importância da informação necessária e ter
uma grande dose de paciência nas tentativas de fazer o
levantamento dos sintomas. Todo indício deve ser seguido,
inclusive os registros alopáticos, em busca de sugestões
valiosas.
Se o caso original estiver totalmente inacessível e for muito
confuso, o melhor procedimento que resta é tentar usar um
antídoto contra os efeitos dos medicamentos ante riores e deixar
passar tempo suficiente para que surja a verdadeira imagem.
Geralmente, o melhor caminho para realizar isso é minorar os
sintomas do paciente com drogas alopáticas apropriadas durante
cerca de três meses. As drogas aliviarão alguns dos sintomas do
paciente, mastam bem criarão uma influência disruptiva no
mecanismo de defesa. Numa segunda etapa, deverão ser
suspensas, deixando-se passar um período de cerca de um mês
antes de tentar escolher o medicamento. O tempo de espera
exato antes de receitar o medicamento depende de
julgamento clínico que, por sua vez, depende da gravidade da
moléstia e da intensidade do sofrimento do paciente. Felizmente,
o mecanismo de defesa desordenado ainda terá
resistência suficiente para se fixar na manifestação do
medicamento correto.
Podem-se usar outros métodos para provocar o antídoto nos
casos confusos, mas são menos efetivos do que as drogas
alopáticas. O café pode ser tomado várias vezes ao dia. Pela
329
minha experiência, esse procedimento cria um antídoto para os
medicamentos num período de três dias a nove meses,
dependendo da fraqueza constitucional e da sensibilidade do
paciente. Um paciente muito sensível ao café reagirá
imediatamente, assim como um paciente de constituição muito
fraca. Esse método é pouco prático, tendo em vista que é difícil
predizer com antecedência o intervalo de tempo necessário para
a criação do antídoto contra as prescrições utilizando-se o café.
Outra tentativa interessante é cobrir o corpo do pacien te com
uma substância que contenha grande quantidade de cânfora;
geralmente, os ungüentos e vapo-rubs são as melhores soluções
para esse propósito. Por outro lado, o método e o tempo
necessários para que o organismo crie um antídoto para os
medicamentos variam muito, depen dendo das características de
cada um. É por essa razão que recomendo as drogas alopáticas
como o método mais con fiável para que num caso desordenado
o organismo crie o antídoto desejado.

Casos alopaticamente desordenados ou


suprimidos
Todo homeopata, sem exceção, depara-se continuamente com
pacientes que estão ou estiveram tomando drogas alopáticas
antes do primeiro contato com a homeopatia. Se as drogas
alopáticas forem relativamente fracas, ou tomadas apenas
ocasionalmente, então, a política óbvia é simplesmente
suspendê-Ias e esperar entre quinze e trinta dias para tomar o
caso homeopático completo. Isso dará tempo suficiente para que
a imagem fique clara nos casos de um paciente, por exemplo,
que toma analgésicos para enxaquecas, sedativos para dormir,
ou tranqüilizantes para os nervos.  
Os verdadeiros problemas acontecem, no entanto, com os
pacientes que tomaram drogas alopáticas muito fortes durante
330
muitos anos, ou décadas. Esse problema acontece quase
sempre nos casos de asma crônica, artrite reumatóide crônica,
epilepsia, doença crônica do coração e perturbações mentais
graves. Se esses casos foram tratados com drogas alopáticas
fortes durante um longo período, os principais sintomas foram
afastados para as regiões mais profundas do organismo e o
mecanismo de defesa foi seriamente tolhido em sua ação.
De todas as poderosas drogas alopáticas, as que parecem mais
perturbadoras à ação do mecanismo de defesa são os
corticosteróides sistêmicos e o ACTH. OS corticosteróides,
administrados por via oral ou por injeção no músculo, na gordura
ou nas juntas, têm um efeito profundamente enfraquecedor do
mecanismo de defesa quando administrados durante alguns
meses ou muitos anos. Ainda não está claro o motivo pelo qual
isso é verdade, mas essa situação é confirmada prontamente
pela experiência homeopática. Os pacientes que tomaram essas
drogas durante anos não têm virtualmente possibilidade de cura.
O problema não é apenas a inevifável dificuldade implica da na
descoberta do medicamento correto enquanto o paciente toma
corticosteróides. Descobriu-se, também, que até o medicamento
correto é impedido de agir completamente na presença dessas
drogas. Por conseguinte, o único procedimento possível é tentar
afastar o paciente dos corticosteróides, o que é virtualmente
impossível na maioria dos casos graves. A retirada dos
corticosteróides tem seu próprio e característico período de
retração do agravamento, que pode ameaçar a vida em alguns
casos e, em seguida, levar pelo menos três meses para que se
torne clara uma imagem verdadeira do medicamento depois da
suspensão. Por essas razões, a melhor recomendação é evitar
esses casos.
Como regra geral, os pacientes submetidos a fortes drogas
alopáticas durante longos períodos devem ser recusados para o
tratamento homeopático. Esta deve ser a política geral, por
331
diversas razões. Os problemas para prescrever o medicamento
correto em meio às fortes drogas alopáticas são grandes, e a
gravidade da doença, após a suspensão das medicações
alopáticas, pode ser extremamente perigosa. O homeopata tem
que possuir uma grande habilidade alopática para lidar com
esses casos e ser infalível na escolha dos remédios no momento
da sua utilização. Além do mais, o tempo do médico pode tornar-
se totalmente monopolizado pelos cuidados constantes, dia e
noite, que esses pacientes exigem. Freqüentemente, esses
casos têm que ser hospitalizados e, às vezes, durante longos
períodbs. Finalmente, a questão legal sempre deve ser levada
em consideração; esses casos são tão delicados que os riscos
do tratamento homeopático, combinados aos perigos da retirada
dos medicamentos alopáticos, podem. colocar o médico em
situação de risco legal. É lamentável ter que recusar esses
pacientes, pois muitos deles são vítimas inconscientes, que
teriam cura se fossem tratados homeopaticamente desde o
início. No entanto, até termos escolas e hospitais homeopáticos e
até existirem médicos altamente habilitados e homeopatas
experientes disponíveis à consulta em número suficiente, esses
casos devem ser recusados.
Agora, apesar da recomendação dada, ocasionalmente haverá
casos em que o paciente esteja muito motivado para se livrar das
drogas alopáticas com o propósito de ser tratado
homeopaticamente, e o homeopata é levado a tentar ajudar o
paciente. Em consideração aos homeopatas experientes, vou
tentar descrever alguns princípios que retirei da minha própria
experiência que se refere a essa difícil situação. Para começar,
esse projeto deve ser aceito somente depois que todas as
conseqüências estiverem perfeitamente claras tanto para o
paciente quanto para o homeopata. É fácil para o paciente, num
momento de desespero e esperança, concordar em se submeter
aos terríveis sofrimentos e riscos que poderão sobrevir. Também
332
é possível que o homeopata, sem ter ainda percebido todas as
implicações da situação, concorde em levar o caso adiante - pa-
 ra mais tarde se arrepender da decisão, depois de semanas e
meses de crises e noites de insônia. Por essa razão, tanto o
paciente como o médico devem pensar com calma sobre a
situação, discuti-Ia com os familiares, estabelecendo um acordo
somente após uma cuidadosa consideração.
Essas circunstâncias surgem mais comumente nos pacientes
que estiveram sob o contínuo tratamento com corticosteróides
durante muitos anos. Este pode ser apresentado como um
modelo geral para os casos tratados com drogas alopáticas.
Deve-se ter o cuidado de tomar o caso de modo completo e
cuidadoso em toda a sua história. Se possível, o caso inicial deve
ser colhido antes do início dos corticosteróides. Dificilmente o
paciente se lembrará com clareza, mas toda informação que
puder ser recolhida pode ser valiosa. Em seguida, devem-se
procurar os sintomas durante os anos de tratamento com
corticosteróide  principalmente os mais característicos e
individuais -, que estiveram presentes com mais consistência em
toda a história. Finalmente, registra-se o estado corrente,
voltando a enfatizar as características que sempre estiveram pre-
 sentes em toda a história.
Isso pode parecer simples, mas, na verdade, é um processo
muito difícil. Quando um paciente está se tratando com drogas
alopáticas, muitas das modalidades que afetam os sintomas
particulares são alteradas pela própria droga e o tempo em que
foi administrada. Por exemplo, um paciente gravemente asmático
pode tomar uma dose de - corticosteróide de manhã e, depois,
combinações de theophylline-adrenalina durante o dia, ingerindo
nova dose antes de dormir. Se esse paciente acordar às quatro
horas da manhã com dispnéia, este agravamento é um sintoma
homeopático que sugere Natrum sulphuricum ou é apenas a hora
em que as drogas começam a perder o efeito? Por causa dessas
333
incertezas, a maior parte dos sintomas avaliados não são
manifestações reais da ação do mecanismo de defesa, mas, ao
contrário, efeitos das drogas.
Após uma cuidadosa coleta dos sintomas consistentes e de
estudo sério, é selecionado um medicamento. Ele deve ser dado
numa potência baixa, sendo repetido com freqüência, enquanto
prossegue o tratamento com corticosteróides na dosagem
costumeira. Por exemplo, uma 12X deve ser dada três vezes ao
dia durante dez dias consecutivos. Se o medicamento parecer
fazer efeito, as drogas serão diminuídas tão rapidamente quanto
possível. Se o medicamento for realmente um simillimum, a
droga alopática deverá ser diminuída mais rapidamente do que a
costumeira recomendação alopática - mas esse procedimento
deve ser cuidadosamente acompanhado pelo médico consultor.
Não se deve permitir que o paciente se torne muito otimista
nessa fase do tratamento. Para alguns pacientes, essa talvez
seja a primeira vez em que a droga é diminuída a esse grau,
havendo uma tendência natural de esperar por uma cura
completa e rápida. Essas esperanças devem ser
desencorajadas, pois sempre há uma forte probabilidade de uma
recaída que exigiria novamente o uso de corticosteróides. Por
fim, isso não deve ser visto como um fracasso, mas apenas
como uma fase no lento processo do trabalho de cura, que levará
anos.
Se for possível suspender os esteróides, o passo seguinte será
lidar com o inevitável agravamento, após a retirada da droga.
Essa talvez seja a fase mais crítica do caso, pois os sintomas e
as mudanças patoIógicas tendem a tornar-se realmente sérios. O
paciente e o médico devem estar preparados com antecedência
para os efeitos dessa fase. Pode ser um período terrível, mas há
enormes chances de sobrevivência, se tanto o paciente quanto o
médico entenderem claramente os objetivos e os riscos. Não
deve haver jamais um sentimento de fracasso se for preciso usar
334
novamente os corticosteróides, no caso de os sintomas se
tornarem muito sérios; mas deve-se também entender que eles
serão contidos, a menos que a situação se torne
verdadeiramente perigosa. Essa fase do tratamento exige uma
grande habilidade alopática e homeopática do médico, e grande
motivação e paciência do doente e sua família.
Logo que os corticosteróides forem suspensos com sucesso, o
médico deve ser cuidadoso para não prescrever um
medicamento após o outro, principalmente se o paciente estiver
reagindo de forma tolerável. Deve-se dar tempo ao mecanismo
de defesa para que ele retorne a um estado relativamente
normal; assim a imagem do medicamento ficará bem clara. Daí
em diante, o caso é tratado normalmente. Durante as crises, os
corticosteróides são um recurso somenté nas circunstâncias mais
perigosas, e o caso é tratado tanto quanto possível apenas pelos
meios homeopáticos.
Os casos que envolvem corticosteróides podem também servir
de modelo para a suspensão de outras poderosas drogas
alopáticas. Tentarei comentar, no restante desta parte, situações
específicas comumente encontradas na prática da homeopatia.

Casos cardíacos: Os pacientes que tomam remédios para o


coração apresentam problemas especiais. Esses casos,
principalmente, exigem um conhecimento alopático especial da
parte do homeopata. Cada caso deve ser julgado
individualmente. Em geral, os pacientes mais idosos ou as
pessoas com doenças arterioscleróticas aparentes precisam de
uma abordagem mais conservadora; as drogas sódevem ser
retiradas com muita relutância e cautela. Os pacientes mais
jovens têm mais chance, mas mesmo eles devem ser tratados
com todo o cuidado. Em geral, não se devem retirar as drogas
anti-hipertensivas dos pacientes portadores de feocromocitoma,
os vasodilatadores coronários de pacientes com doença vascular
335
arteriosclerótica, as drogas anti-arrítmicas dos pacientes com
arritmias ou cardiomegalias, etc. O senso comum e a experiência
clínica devem guiar essas decisões. Em todo caso, é preferível
não alimentar grandes esperanças com relação aos benefícios
do tratamento homeopático. Devemos sempre nos lembrar que
mesmo os melhores médicos de vez em quando erram no
medicamento, o que pode ser um equívoco sério enquanto se
tenta retirar uma forte droga alopática de um paciente.

Esquizofrênicos: Os esquizofrênicos profundamente psicóticos,


violentos ou suicidas que estão sob tranqüilizantes mais potentes
não devem ser aceitos para tratamento  sob nenhuma
circunstância. Esses casos são muito transitórios e perigosos
para uma experiência. Logo que um tranqüilizante mais potente
for bem sucedido em suprimir os sintomas nesse caso, existem
muito poucas chances de que a droga possa ser retirada com
segurança durante um tempo suficiente para que se encontre um
medicamento curativo. Nos casos psicóticos mais amenos e nos
neuróticos que tomam tranqüilizantes menos potentes, como o
Valium, simplesmente deve-se parar com a droga - e, então, a
prescrição homeopática deverá ser dada de acordo com o
andamento que parecer necessário ao caso individual.

Diabetes: A diabetes juvenil é, particularmente, um problema que


tem difícil cura. Esta acontece, naturalmente, mas o processo é
lento e difícil. A administração da insulina não interfere na ação
dos medicamentos homeopáticos nem na imagem do
medicamento quando se dá a devida consideração aos sintomas
hiperglicêmicos e hipoglicêmicos comuns. Deve-se advertir o
paciente de que, durante o tratamento homeopático, a exigência
de insulina pode mudar; o paciente não deve se sentir compelido
a manter a dosagem costumeira enquanto a melhora geral
estiver ocorrendo, pois, neste caso, haveria o perigo de reações
336
hipoglicêmicas e do coma. O objetivo, em todos os casos
diabéticos, não é apenas reduzir ou suspender a necessidade de
insulina; mais importante ainda, o tratamento homeopático
espera evitar ou reduzir as seqüelas de longa duração - assim
como artrite, retinite e cegueira, nefropatia, infecções, etc.
A diabetes nos adultos é uma questão totalmente diferente. É
relativamente fácil encontrar-se uma melhora e a cura pela
homeopatia, se as complicações não se tornaram muito sérias.
Os agentes hipoglicêmicos orais podem simplesmente ser
suspensos na maioria dos casos com o controle pela dieta e o
tratamento homeopático contínuo da maneira comum.

Epilepsia: Os epilépticos que tomaram drogas anticonvulsivas


durante anos são extremamente difíceis de tratar.
Freqüentemente, os homeopatas são procurados por esses
pacientes, só depois que as drogas alopáticas demonstram não
estar "dando conta" convenientemente, não tendo a medicina
alopática nada mais a oferecer. Nesse momento, no entanto, o
caso já foi tão seriamente suprimido que a retirada ou a redução
das drogas é extremamente perigosa. Quando houver
disponibilidade de hospitais homeopáticos, esses casos serão
aceitos sob controle, de forma que o paciente não precise temer
nenhum risco. As drogas serão retiradas gradualmente e
qualquer dificuldade que surja será observada até ser encontrado
o medicamento apropriado. Atualmente, existem poucos
hospitais desse tipo; por isso, os epilépticos que sofreram sérias
supressões devem por ora ser recusados para tratamento.

Casos de tireóide: A tiroxina é uma droga que não interfere


diretamente na ação do medicamento homeopático, mas ela
mascara a sintomatologia que leva ao medicamento correto.
Nesses casos, pode ser muito difícil encontrar o medicamento.
Assim, será preciso continuar com o procedimento usado em
337
relação aos corticosteróides. Logo que o medicamento correto for
encontrado, chegará um momento em que a saúde geral
melhorará de modo suficiente, e a tiroxina poderá ser
completamente suspensa.

Doenças crônicas febris: Existem algumas doenças crônicas


febris, tal como a brucelose e outras, comumente tratadas pela
administração crônica de antibióticos. Esses casos não podem
ser tratados homeopaticamente durante a administração dos
antibióticos. O procedimento, então, é simplesmente suspender
as drogas e esperar que apareça o quadro do sintoma. Nas
doenças febris, isto leva apenas alguns dias. Quando o
medicamento estiver claro, administre-o e não volte mais ao
tratamento com antibióticos.
Um princípio geral que deveria ser estritamente seguido é o de
que, se o paciente estiver se sentindo realmente bem com um
tratamento qualquer, nunca o substitua pelo medicamento
homeopático. Por outro lado, o mesmo princípio se aplica aos
casos em que o paciente, submetido ao uso de drogas, não
esteja se sentindo bem.

Casos terminais
Muito raramente o homeopata: se confronta com um paciente já
em estado terminal - cuja morte é prevista para alguns dias ou
semanas: Se o paciente estiver com câncer, é muito comum que
já estejam sendo administradas drogas citotóxicas; nenhuma
ajuda é possível nesses casos. Há outros tipos de casos
terminais em que o paciente não tomou nenhum medicamento,
ou por não existir tratamento específico, ou porque o paciente
não confia nos médicos alopatas. Esses pacientes devem ser
atendidos - com a devida consideração às limitações legais
existentes na circunscrição do médico -, mas só se pode receitar
338
um paliativo.
À primeira vista, pode parecer que um simples paliativo é
relativamente fácil de ministrar na homeopatia. Na verdade,
principalmente nos casos terminais, o paliativo pode ser a tarefa
mais desafiadora com que um médico homeopata se defronta.
Todas as dificuldades discutidas antes, com relação aos casos
incuráveis, se apresentam nesse caso. O paciente deve ser visto
todos os dias; o medicamento provavelmente tem que ser
mudado com freqüência, devendo planejar-se o intervalo entre as
doses de modo a evitar as previsíveis recaídas. Toda prescrição
deve ser, na medida do possível, precisa; de outro modo, o caso
pode complicar-se tanto que se torne impossível a administração
de um paliativo.
Por alguma razão que ainda não entendi, os casos terminais
tendem a necessitar mais de medicamentos incomuns - como
Aurum muriaticum, Euphorbium, Tellurium, e outros.
Naturalmente, se aparecer o Sulphur ou outro policresto na
imagem do sintoma, este deve ser dado, mas, por experiência
própria, os casos profundos, terminais, exigem medicamentos
menores, que os homeopatas iniciantes provavelmente não
conhecem. Por essa razão, e por causa das dificuldades legais
que podem ocorrer, os homeopatas com pouca experiência
seriam prudentes se evitassem esses casos.
Ao tentar aliviar um caso terminal, dever-se-ia ficar contente por
acatar os sofrimentos relativamente menores. Freqüentemente, é
impossível produzir um estado completamente livre de dor,
embora o sofrimento intenso possa ser aliviado. Se o homeopata
tentar atingir o paliativo perfeito com muito empenho, estará
correndo o risco de provocar, com sua prescrição, uma recaída; e
essa recaída poderá tornar-se tão intensa quanto teria sido se a
doença não fosse tratada.
Diz-se com freqüência, nos círculos homeopáticos, que dar
remédios paliativos nos casos terminais pode abreviar
339
piedosamente os últimos dias do paciente. Esse ponto de vista
precisa de maior investigação. Na minha experiência pessoal,
não observei esse efeito. Como exemplo, posso lembrar, no meu
primeiro ano de prática, de uma mulher com câncer no seio; o
tumor havia se disseminado por metástase até a espinha lombo-
sacral, os ossos da pélvis e as costelas. Ela sentia tantas dores
que gritava o dia todo, e ninguém tinha esperanças de que ela
vivesse mais do que alguns dias. Os médicos se recusavam a
hospitalizá-Ia por não haver nenhum propósito nisso; foi-lhe dada
permissão para que morresse em casa. A família me chamou
para o tratamento. Expliquei que, pela experiência até aquele
momento, os medicamentos poderiam produzir um alívio à dor,
mas, em contrápartida, poderiam abreviar os dias restantes.
Concordou-se com isso e o tratamento homeopático teve início.
Para minha surpresa, os medicamentos não só tiveram sucesso
em aliviar o sofrimento mais intenso, como a paciente viveu por
mais um ano e meio! Ela continuou fraca e teve que restringir
suas atividades a ver televisão a maior parte do tempo, mas, pelo
menos, não estava sofrendo muito, e permaneceu mentalmente
ativa.
Este outro caso mostra também que se deve ficar satisfeito com
os sofrimentos menos intensos; uma paciente sofria de dores na
barriga das pernas que não eram controladas pelos
medicamentos. Um médico alopata declarou que elas eram de
origem "reumática", e afirmou que podiam ser controladas por
vitaminas. Foram-lhe dadas altas doses de vitaminas e, em três
dias, deu-se a recaída total, que escapava ao controle dos
medicamentos homeopáticos. Hospitalizada às pressas, foram-
lhe ministradas drogas alopáticas, e ela logo se tornou um
"vegetal" humano, falecendo dez dias depois.
Outro caso impressionante em que foi violado o princípio
segundo o qual os medicamentos paliativos encurtam a vida: um
homem de 74 anos tinha um câncer pulmonar em estado
340
adiantado, que havia se disseminado por metástase para várias
regiões. O prognóstico alopático foi o de que ele morreria dentro
de poucas semanas. Iniciou-se um tratamento homeopático
paliativo, e os resultados, novamente, foram surpreendentes.
Durante os três anos seguintes, o homem ficou essencialmente
livre da dor e suficientemente ativo para cuidar de seu jardim, até
morrer de uma grave e repentina hemorragia dos pulmões. Não
se pode dizer, de modo algum, que houve "cura" nesse caso,
mas o tratamento paIiativo foi duradouro e o paciente foi capaz
de gozar mais vários anos de vida útil além do que se esperava.

Capítulo 18
Manuseio dos medicamentos e fatores
interferentes
Neste livro, sempre me referi aos fatores técnicos que podem
evitar a ação de um medicamento. Neste capítulo, serão
enumerados os elementos específicos desses fatores. Por um
lado, deve-se dar atenção ao manuseio verdadeiro do próprio
medicamento a fim de que seu estado delicadamente
potencializado não seja destruído antes de ser administrado ao
paciente. Por outro lado, deve-se levar em consideração os
fatores que podem interromper a ação do medicamento até
mesmo meses ou anos após sua administração.
Logo que o medicamento for adquirido em uma farmácia
homeopática, deve ser manuseado corretamente. A maior parte
dos homeopatas mantém uma provisão de medicamentos no
consultório, que são administrados diretamente ao paciente. Às
vezes, fazem-se arranjos com os farmacêuticos locais para
administrar os medicamentos à base de prescrição. Os dois
procedimentos são aceitáveis, contanto que se dê atenção às
condições de armazenamento dos remédios. O medicamento,
geralmente, é recebido num frasco de vidro com uma rolha de
341
cortiça ou com uma tampa de plástico revestida de cortiça. Em
seu estado de estocagem, o frasco deve ser de cor, a fim' de
proteger o medicamento dos raios do sol, mas os frascos dados
ao paciente podem ser feitos de vidro transparente. Os remédios
devem ser mantidos em lugar onde não sejam expostos
diretamente à luz do sol, ao calor ou frio excessivos, à umidade
ou aos odores fortes. Qualquer dessas exposições físicas pode
destruir a potência do medicamento.
Cada homeopata tem seu próprio método de administrar o
medicamento, mas acredito que os padrões estritamente
profissionais mantidos pelas boas farmácias são a única garantia
de qualidade. Se não forem mantidos esses padrões, pode
acontecer de um medicamento ficar inativo antes mesmo de
chegar ao paciente.
O difícil é descobrir imediatamente que um medicamento está
inativo. Se um paciente retomar sem nenhum resultado,
provavelmente o homeopata decidirá que foi escolhido o
medicamento errado em vez de suspeitar da atividade do
medicamento. Existem já muitas variáveis na prescrição
homeopática; por conseguinte, recomenda-se que os
medicamentos sejam mantidos nas condições mais cuida-
dosamente controladas possíveis.
Para os que mantêm medicamentos em seu próprio consultório,
é absolutamente necessário encomendar o medicamento de uma
farmácia homeopática, sempre que ele se esgote. A principal
vantagem desse procedimento é que ele fornece uma fonte
contínua de lucro às farmácias, o único meio de assegurarmos
uma provisão contínua de medicamentos confiáveis. Mesmo que
nossos medicamentos sejam continuamente encomendados, a
despesa será quase insignificante.
Apesar dessa consideração, alguns homeopatas desejam manter
um suprimento constante em seus consultórios. Um plano de
ajuste útil, portanto, é manter dois conjuntos de medicamentos.
342
Um contendo os medicamentos em forma "seca" (em glóbulos de
lactose), prontos para a administração direta ao paciente. Outro,
com os medicamentos de "estoque" em forma líquida. Sempre
que um frasco de glóbulos for usado, será preenchido com
glóbulos sem medicamento, que depois serão umedecidos com
algumas gotas do líquido do "estoque" da solução em álcool.
Desse modo, quaisquer medicamentos inativos são reativados
com as soluções líquidas "estocadas", mantidas em frascos de
vidro colorido, muito raramente abertos. Finalmente, quando
terminar o "estoque" de medicamento líquido, ele deve ser
encomendado novamente a uma farmácia.
Geralmente, administram-se os remédios homeopáticos
colocando-se na língua do paciente alguns glóbulos de lactose
medicamentados. Deixa-se que se dissolvam na língua, podendo
também ser engolidos. O homeopata deve treinar-se para
esperar um momento antes de abrir um frasco de medicamento,
a fim de prestar atenção a quaisquer odores do ambiente.
Também é importante que o paciente não esteja usando
qualquer perfume no momento da administração.
A melhor hora para se tomar um medicamento é de manhã,
antes do café e antes de escovar os dentes. A razão para isso é
que não deve haver nenhum odor forte (em particular os odores
aromáticos como os da cânfora, hortelã-pimenta, cebola, alho,
etc.) na boca quando o medicamento for administrado; se
acontecer de estarem presentes esses odores, o medicamento
pode tornar-se inativo no próprio ato de colocá-Io sobre a língua.
Se um medicamento tiver que ser tomado após uma refeição,
deve-se deixar passar pelo menos uma hora e meia, a fim de
minimizar a possibilidade de permanência de qualquer odor forte
na boca. Depois que um medicamento for tomado, no entanto, o
paciente pode comer, após dez minutos, aproximadamente.
Quando há necessidade de repetição freqüente, os me-
dicamentos geralmente são dados com água. O melhor pro-
343
cedimento é dissolver alguns glóbulos num copo de vidro (não de
plástico) com água destilada. A água é agitada até que todos os
glóbulos se dissolvam, e o conteúdo é tomado de acordo com as
instruções do homeopata. Se for necessária outra dose no dia
seguinte, o copo é enchido com mais água destilada, tapado e
vigorosamente agitado. Ele pode, também, ser estocado até o dia
seguinte num lugar que não seja diretamente exposto à luz do
sol, ao calor excessivo, ao frio excessivo ou aos odores fortes.
Toma-se a dose seguinte e repete-se o processo quantas vezes
forem necessárias. Esse procedimento é conhecido na
homeopatia como plussing (plus) e geralmente é usado em
receitas de baixa potência. Por exemplo, suponhamos que seja
dado a um paciente uma potência 12X e com a instrução de que
ele o tome em forma de "plus" diariamente, durante dez dias.
Numa abordagem rudimentar, pode-se dizer que a dose, no dia
seguinte, terá uma potência 13X; no terceiro dia, 14X; no quarto,
15X; lá pelo décimo dia, o paciente estará tomando uma potência
22X.
Depois que o medicamento for administrado com sucesso, nossa
atenção se volta para os vários fatores que podem antidotar o
seu efeito, depois que o organismo respondeu a ele. Isso ocorre
por interferências na ação do próprio mecanismo de defesa. Em
geral, pode-se dizer que, literalmente, qualquer coisa que possua
um efeito medicinal sobre um indivíduo pode antidotar um
medicamento. Qualquer coisa que produza um estado hiperativo,
nervoso, ou quimicamente induzido de calma ou de sono pode
antidotar a ação do medicamento.
É importante lembrar que na verdade não é o medicamento que
é antidotado (embora essa expressão seja comumente usada por
conveniência), mas é o próprio mecanismo de defesa que retorna
à desordem, sob o estímulo de uma droga alopática, do café, e
assim por diante. Por conseguinte, os pacientes têm a
responsabilidade de ser bastante rigorosos com relação às
344
substâncias conhecidas como disruptivas do mecanismo de
defesa e que causam recaída.
O antídoto mais importante é a droga alopática. Em nosso:
mundo, as drogas como os analgésicos, os antibióticos, os
tranqüilizantes, os sedativos, etc., são tão comuns que as
pessoas tendem a engoli-Ias sem pensar duas vezes. No
entanto, são substâncias artificiais, com poderosos efeitos, que
rapidamente podem antidotar os medicamentos homeopáticos.
Por conseguinte, as drogas alopáticas devem ser estritamente
evitadas, a menos que tenham sido especificamente aprovadas
pelo homeopata.
As únicas exceções a essa regra são os analgésicos menores,
como a aspirina, que não é composta com outras drogas. Usada
em quantidades moderadas nas condições agudas, elas são
preferíveis, na verdade, ao tratamento homeopático. Quando um
paciente está sob tratamento homeopático crônico, as
enfermidades agudas autolimitadas, breves, não devem ser
tratadas com medicamentos homeopáticos; pelo contrário, as
dores ou enfermidades suaves devem ser tratadas com algumas
doses de aspirina.
O café é um "antídoto" muito conhecido. Os pacientes
homeopáticos devem evitar totalmente o café. Como é difícil
saber com antecedência quais os pacientes que, provavelmente,
são sensíveis ao café e quais os que podem ser relativamente
resistentes, é melhor fixar uma política igual para que não tomem
café. Isso se aplica tanto aos que bebem uma xícara por dia
quanto aos que bebem três xícaras por dia. Não é necessário
preocupar-se com quantidades pequenas de café como as
adicionadas aos bolos de café ou aos sorvetes com sabor de
café. A idéia é a de que o café é uma substância medicinal que
superestimula o sistema nervoso. Em um determinado paciente,
qualquer quantidade que produza até mesmo um mínimo grau
desse estímulo pode causar uma recaída. Os substitutos comuns
345
como o chá preto (se for tomado em quantidades que não
produzam superestimulação), o café descafeinado, o café de
cereais, etc., são aceitáveis.
A prática comum de usar chás de ervas como bebida exige uma
atenção toda especial. Os chás de erva comum não são
interferentes, mas é melhor variar seu uso, diariamente; o uso
rotineiro de um chá de erva em particular pode levar a uma dose
suficientemente forte para produzir um efeito medicinal.
Sabendo-se que o chá de uma determinada erva produz um
efeito medicinal em um paciente - estimulante, sedativo,
regulador das funções do estômago ou dos intestinos, diurético,
etc. -, deve-se evitá-Io.
A cânfora é uma substância que pode antidotar os medicamentos
homeopáticos. Os ungüentos comuns e os vapo-rubs usados
para os "resfriados do peito" geralmente contêm grandes
quantidades de cânfora. Além disso, a maior parte dos bastões
cosméticos para as rachaduras dos lábios contém quantidades
significativas de cânfora, devendo ser evitados. Mesmo uma forte
exposição às exalações de cânfora é capaz de antidotar os
medicamentos. No entanto, não é necessário ser cauteloso em
demasia com as diminutas quantidades de cânfora existentes
nos cosméticos. A prática de ler os rótulos e evitar as
substâncias com fortes odores aromáticos deve ser o bastante.
Observa-se que os tratamentos dentários freqüentemente
antidotam a ação dos medicamentos. Se um paciente estiver
começando o tratamento homeopático e souber que vai
necessitar de cuidados odontológicos num futuro próximo, é
melhor protelar o tratamento homeopático até que o tratamento
dentário tenha se completado. Se for preciso fazer esse
tratamento após ter recebido um medicamento homeopático, a
quantidade de anestésico usada deve ser diminuída tanto quanto
possível. O dentista também deve ser instruído no sentido de
evitar, na medida do pos sível, usar substâncias com fortes
346
odores aromáticos -  principalmente o óleo de cravos ou os
compostos de menta.
Existem casos em que se descobriu que até a menta da pasta de
dentes constitui um antídoto para os medicamentos. Tais casos
são relativamente incomuns, mas ocorrem com freqüência
suficiente para que o homeopata esteja pelo menos consciente
dessa possibilidade.
Várias medidas terapêuticas também foram observadas como
antídotos ao tratamento homeopático. Observou-se que banhos
minerais, altas doses de vitaminas, acupuntura, massagem por
polaridade e fitoterapia ou terapia com ervas antidotam os
medicamentos homeopáticos em casos específicos. Por essa
razão, devem ser evitados durante o tratamento homeopático.
Em geral, as substâncias da comida não perturbam tanto o
sistema a ponto de antidotar os medicamentos. As comidas
comuns, em quantidades normais, parecem não ter efeitos
medicinais, não interferindo, por conseguinte, no tratamento
homeopático. Curiosamente, o mesmo parece ser verdadeiro
com relação aos cigarros e ao álcool; não se observou nenhuma
interferência deles nos medicamentos homeopáticos.

Capítulo 19
Homeopatia para o paciente que está à morte
Os últimos dois capítulos desta parte focalizarão algumas
especulações a respeito do papel da homeopatia. Essas opiniões
não implicam a informação do homeopata sobre a prática real,
mas tocam as questões levantadas nas conversas mais
filosóficas a respeito da homeopatia. Estas opiniões são
especulações absolutamente pessoais e não de vem ser
consideradas parte do corpo aceito do conhecimento
homeopático.
A morte é um ponto de transição crucial, que pode ser tão
347
importante para o crescimento consciente de um indivíduo como
qualquer outra crise que ocorra durante a sua vida. Por essa
razão, a homeopatia tem um papel muito importante, ajudando o
paciente a fazer essa transição. Deve-se permitir que todas as
pessoas morram com o mínimo sofrimento possível e a máxima
lucidez.
Todos imediatamente concordarão com a necessidade de
minimizar o sofrimento no momento da morte, mas pouco se tem
pensado sobre a necessidade de, simultaneamente, aumentar ao
máximo a consciência do paciente. Muito freqüentemente, os
hospitais modernos mantêm os pacientes drogados, como
"vegetais", separados do amor e do apoio da família e dos
amigos. A justificativa para essa prática é a de que não se pode
fazer mais nada; fazendo algo para minimizar a agonia do
paciente, sentem-se justificados em entorpecer o infeliz.
Em todo este texto, expressei repetidas vezes que a existência
humana não é um processo meramente casual ou acidental. Há
um propósito para a vida neste plano da existência - um
propósito fundamentado em realidades espirituais e não apenas
nas questões materiais. O propósito principal é o de harmonizar
conscientemente todo ser humano com as leis eternas da
natureza para que permaneça totalmente envolvido com o reino
da vida como sua parte inseparável.
Assim como a vida consiste em uma série de mudanças e
desafios transitórios, também é possível percebê-Ia como uma
fase transitória que faz parte de um processo maior e dotado de
sentido. A cada dia da sua existência, o ser humano depara com
uma série de circunstâncias - algumas aparentemente
insignificantes e outras momentâneas - que oferecem
oportunidades para o seu crescimento em direção a um amor e a
uma sabedoria maiores. Durante toda a sua vida, ocorrem
grandes crises que oferecem até mesmo maiores desafios e
oportunidades para o crescimento. Quase todos nós tendemos a
348
ser, de certo modo, preguiçosos e indolentes com relação a
essas oportunidades, deixando de lado as lições, até que,
finalmente, não nos é dada nenhuma escolha. Enquanto senti-
mos que podemos "escapar impunemente", evitamos enfrentar
nossa fraqueza, nossas crueldades, nossa desonestidade, etc.
Entretanto, o propósito exato dos desafios com que nos
defrontamos na vida visa fornecer-nos motivação para que
tenhamos cada vez mais amor e sabedoria. Mesmo as
predisposições miasmáticas que herdamos servem a esse
propósito.
O momento crucial da Verdade, para a maior parte das pessoas,
ocorre pouco antes ou no momento da morte. Nesse ponto da
transição, o indivíduo se depara com o fato do término desta fase
da existência. Inevitavelmente, ele reflete sobre os
acontecimentos e sobre o significado de sua vida. Frente ao fato
iminente e inesperado do término da vida, a pessoa assume uma
atitude diferente. Os valores materiais, que foram tão
escravizantes durante toda a vida, são postos de lado; o
comportamento deplo rável e desonesto do passado é visto sob
nova luz. Um sentimento de profundo pesar e desgosto ameaça
dominar a pessoa, a menos que ela seja capaz de, finalmente,
encarar as realidades e aceitar a remissão pela confissão e pelo
arrependimento. Uma vez experimentada essa remissão,
o indivíduo sente-se livre para enfrentar a morte com serenidade
e satisfação.
Esse processo pode ocorrer em meio à maior crise da vida, mas
na maioria dos casos ele ocorre na relação com a morte. Pode-
se dizer que esse momento é o mais importante da vida de uma
pessoa, mais importante, inclusive, que o momento da morte. No
entanto, a fim de usar esse instante de transformação espiritual,
deve-se permitir ao indivíduo desfrutar do estado de consciência.
Infelizmente, isso é muitas vezes negado ao paciente
pela administração de poderosos narcóticos e tranqüilizantes. As
349
terapias supressivas são aplicadas com tal intensidade que os
pacientes terminam degenerando em estados de senilidade,
imbecilidade e, finalmente, o coma. Esse modo insensível e
desumano de lidar com o paciente que está à morte tem a
desculpa de ser o último recurso da ciência moderna, e, mais
tarde, o médico lava as mãos com relação à situação, dizendo:
"Fizemos tudo o que pudemos". Enquanto isso, roubaram do
paciente a possibilidade de experimentar o acontecimento mais
importante de sua vida.
O propósito da homeopatia durante a vida é maximizar tanto
quanto possível a saúde; e a liberdade do indivíduo, a fim de que
todas as oportunidades para o crescimento espiritual e sua
transformação possam ser totalmente utilizadas. Quando se
aproxima o momento da morte, o papel da homeopatia muda do
processo de cura para o objetivo de oferecer ao paciente um
máximo grau de consciência com o mínimo de sofrimento. Desse
modo, é dada ao paciente a possibilidade de experimentar a tran-
 sição para a morte com dignidade, serenidade, satisfação
e liberdade.

Capítulo 20
Implicações sócio-econômicas e políticas da
homeopatia
Não basta introduzir uma idéia no mundo e depois,
passivamente, esperar sua aceitação pela sociedade. Novas
idéias sempre desafiam as opiniões convencionais e as
estruturas tradicionais. Por essa razão, elas são aceitas
lentamente e com grande dificuldade. Entretanto, se uma idéia
estiver baseada na verdade fundamental, será finalmente aceita,
apesar dos muitos obstáculos.
A homeopatia é uma terapia de profundo valor para o futuro de
nossas sociedades. Não apenas pode efetivamente curar as
350
doenças crônicas, como, também, é um método para estimular o
mecanismo de defesa e equilibrar a constituição dos pacientes. A
homeopatia é capaz de acentuar o grau de produtividade,
criatividade e serenidade das pessoas, eliminando a
suscetibilidade às influências perturbadoras. Este único fato tem
surpreendentes implicações para nossas sociedades. Se
imaginarmos um tempo futuro, em que a homeopatia possa se
tornar o principal método terapêutico e em que homeopatas
altamente capacitados estejam disponíveis para todos na
sociedade, perceberemos claramehte a poderosa influência
benéfica que poderá ter. Quando um número cada vez maior de
pessoas forem tratadas com sucesso, haverá menos ineficiência
no trabalho, menor tendência aos atos de violência social que
hoje em dia afligem nossas sociedades, menor necessidade de
drogas artificiais usadas com o propósito de experimentar um
momentâneo alívio do sofrimento, e uma maior tendência das
pessoas a trabalharem juntas por valores comuns e uma maior
sabedoria. Com a crescente aceitação da terapia homeopática,
os líderes do mundo terão acesso a um tratamento que reduzirá
suas reações pessoais ao estresse, criando-se, por conseguinte,
uma situação em que as nações possam evitar o conflito e criar
uma maneira de harmonizar suas relações.
Essa visão das implicações da homeopatia parece grandiosa,
pois ninguém acredita realmente que uma simples terapia possa
ter esses efeitos profundos. Essa pretensão, no entanto, surge
das opiniões fragmentadas e materialistas que prevalecem nos
modelos de terapia atual. Na homeopatia, temos uma visão geral
da pessoa como um ser espiritual, mental/emocional e
fisicamente integrado. A homeopatia não apenas elimina a
doença do organismo, como também fortalece e harmoniza a
própria fonte de vida e criatividade do indivíduo. Isso fica bastan-
te evidente na experiência diária dos bons homeopatas e seus
pacientes; para eles, a grandiosa visão apresentada no parágrafo
351
anterior não está longe de ser alcançada, mas é bastante
razoável e prática, presumindo-se a adoção de um alto padrão de
homeopatia como uma prática largamente aceita.
Todavia, essa é naturalmente uma grande pretensão. A indústria
médica de hoje é uma das maiores indústrias do mundo, se
levarmos em consideração os inúmeros médicos; os hospitais, as
indústrias farmacêuticas e mais as indústrias subsidiárias. Há um
grande investimento na perspectiva alopática, com relação à
saúde e à doença. Não se pode esperar e nem mesmo desejar
que essa estrutura mude do dia para a noite. As forças que
permitem o acúmulo desse poder não irão facilmente aceitar um
sistema tão radicalmente diferente como o da homeopatia.
Qualquer mudança para a adoção da homeopatia será ne-
cessariamente difícil e lenta.
No entanto, a própria sociedade vem sofrendo mudanças que
criam a esperança da possibilidade desse avanço. Um número
cada vez maior de pessoas se desencantam com os fracassos
da moderna medicina alopática face à doença crônica; os
pressupostos básicos da medicina estão sendo questionados e
abertamente desafiados. Várias terapias alternativas estão sendo
tentadas. Nesse clima, se o público perceber com clareza a
ciência sistemática da homeopatia e seus princípios,
fundamentados em leis naturais que se perdem no tempo, haverá
uma poderosa onda de apoio que pode fornecer à homeopatia as
influências de que necessita para ser aceita e amplamente
disseminada.
A disseminação da homeopatia pelo mundo terá que ser,
naturalmente, um processo progressivo. O propósito deste livro
não é descrever uma estratégia detalhada para a introdução da
homeopatia, mas fornecer um perfil geral dos passos evidentes
que se podem dar nesse processo.
Para iniciar, deve-se estabelecer o padrão mais alto e rigoroso de
homeopatia e prová-Io completamente na arena dos resultados
352
clínicos efetivos. Com esse fim, os professores devem ser
treinados nos mais altos padrões. Tais professores, com o apoio
financeiro e a criatividade de um público interessado, poderão
criar escolas de tempo integral para o treinamento dos médicos
homeopatas. O próprio profissionalismo e o sucesso clínico
dessas escolas se encarregarão de sobrepujar a inevitável
resistência política e legal ao surgimento de uma nova profissão
e, finalmente, os procedimentos de licenciamento serão fixados
de forma a que o público possa diferenciar entre um profissional
habilitado e um sem habilitação. À medida que as escolas forem
se estabelecendo e os homeopatas forem se tornando
conhecidos em suas comunidades, a pesquisa clínica formal
pode ser conduzida de modo a provar conclusivamente o
sucesso do tratamento homeopático. O profissional da alopatia
pode ser convidado a participar dos estudos objetivos, se
compararmos a eficácia dos dois métodos. Simultaneamente, a
pesquisa deve ser orientada por físicos que investiguem os
processos eletromagnéticos que envolvem os medicamentos
homeopáticos e suas ações. À medida que o sucesso dos
homeopatas de alta qualidade for se tornando mais amplamente
conhecido, poderão ser escritos livros e artigos para melhorar a
compreensão pública das leis e dos princípios que regem a
saúde e a doença.
A aceitação da homeopatia, de acordo com esse roteiro geral,
será necessariamente gradual e lenta. As meras implicações
financeiras dessa mudança são desconcertantes. Embora os
homeopatas sejam muito bem pagos pela enorme quantidade de
tempo que dedicam aos pacientes, o custo total do cuidado
médico de cada indivíduo será drasticamente reduzido. Ao invés
de gastar dinheiro constantemente com drogas paliativas e com
hospitalizações, cada vez mais freqüentes, a sociedade terá de
pagar apenas um tratamento homeopático relativamente barato
que, na maioria dos casos, implicaria tratamento intensivo
353
somente por alguns meses - ou no máximo alguns anos. Daí em
diante, as consultas seriam bastante infreqüentes e muito
baratas, comparativamente aos gastos crônicos do cuidado
médico alopático atual.
A indústria farmacêutica sofreria drásticas mudanças. Mais
provavelmente seria forçada a reduzir-se a uma mera fração do
seu tamanho no presente. Os hospitais teriam uma diminuição
muito grande em seus encargos, o que possibilitaria reduzir seus
custos (ao contrário da incontrolável alta atual do custo dos
hospitais). Todo o contexto do treinamento dos médicos,
finalmente, seria mudado para levar em consideração o
mecanismo natural da cura, ao invés de focalizar apenas os
produtos finais da doença. O valor dos métodos álopáticos,
naturalmente, ja mais se perderá. Campos como os da medicina
de emergência, cirurgia, ortopedia e obstetrícia sempre serão ne-
cessários, assim como uma parte do tratamento alopático
paliativo, mas o contexto da medicina alopática será colocado
numa perspectiva mais apropriada.
Muito embora o crescimento corrente da homeopatia seja e deva
ser gradual, temos motivos para acreditar que ele continuará num
ritmo firme e crescente na compreensão e aceitação públicas.

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