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Campus de Três Lagoas

Licenciatura – Português/Inglês – 4º semestre - 2016


Disciplina: Fundamentos e Métodos da Educação Especial
Docente: Profª. Drª. Jucélia Linhares Granemann
Discente: Augusto César Aparecido Santos

Transtorno do Espectro Autista (TEA): noções gerais

1. Introdução

“O Autismo não é um erro de processamento, é um sistema operativo diferente.”


(Autor desconhecido).

Seres humanos que não possuam nenhuma necessidade especial (deficiência física,
intelectual, etc.) traduzem emoções e sentimentos facilmente: pela fala e pelo modo de agir,
geralmente. Desta forma, comunicar-se com o mundo e relacionar-se com pessoas a sua volta
é normal, é simples; isto é uma capacidade é inerente a ela. Mas o convívio em sociedade –
que ensina comportamentos e posturas – é sempre fácil ou ocorre de maneira saudável e
adequada?

Para as pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é bem


diferente da maioria das pessoas. O Manual de Saúde Mental – DMS-5 define todos os
distúrbios do Autismo (transtorno autista, transtorno desintegrativo da infância, transtorno
generalizado do desenvolvimento não especificado (PDD-NOS) e Síndrome de Asperger)
com um único termo, fundindo-se em um único diagnóstico, pela sigla TEA – Transtornos
do Espectro Autista.

A falta de conhecimento que envolve a deficiência, particularmente no ramo da


educação especial, faz-se criar uma série de problemas dentro da educação regular, no
contexto de sala de aula, que podem impossibilitar o desenvolvimento apropriado do aluno e
gerar fortes consequências em seu futuro. Por isso é tão importante reunir e divulgar
informações sobre o assunto, a fim de compreender e desmistificar a deficiência e abrir os
caminhos para que ela possa ser devidamente compreendida em todas as esferas sociais.

Este trabalho tem como objetivo, portanto, expor o que é definido por Transtornos do
Espectro Autista (TEA), reunindo o que há de mais importante nos materiais acadêmicos e
documentos das associações pró-conhecimento do Autismo. Abordaremos aqui cunho
informativo, englobando informações acerca de seu conceito, classificação, atendimento e
como é tratado no Autismo no contexto educativo.

2. Conceptualização de Transtornos do Espectro Autista (TEA)

O Autismo vem sendo estudado há quase seis décadas e foi descrito pela primeira vez
no ano de 1943, pelo médico austríaco, mas residente em Baltimore, nos EUA, no artigo de
título (em português) “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, que está disponível na
Associação de Amigos do Autista (AMA) (apud MELLO 2007, p. 15).

Há várias definições sobre o que é o autismo e o que ele caracteriza num indivíduo
que a tem. Segundo Mello (2007, p. 16), o autismo é um distúrbio de desenvolvimento que se
apresenta antes do três anos de idade, e que afeta com grande impacto, múltiplas e
importantes áreas do desenvolvimento humano, tais como a comunicação, interação social,
capacidade de adaptação e aprendizado. A incidência do autismo é quatro vezes mais no sexo
masculino do que no feminino, e pode ter autismo qualquer pessoa, de qualquer grupo étnico,
origem geográfica ou situação econômica, e a causa do autismo é completamente
desconhecida.

Pode houver complicações antes, durante ou após o parto que possa ocasionar a
criança o Autismo, mas as causas não são completamente conhecidas. Mello (2009, p. 17)
aponta que é recomendado, em termos de prevenção do autismo, são os cuidados gerais a
todas as gestantes, especialmente cuidados com ingestão de produtos químicos, remédios,
álcool ou tabaco.

Não há medicamentos específicos para tratar o Autismo, entretanto, pode ser receitado
às pessoas com TEA quando há outra doença relacionada ao transtorno, como epilepsia, por
exemplo (Cartilha da DPESP, 2011, p. 05), que ocorre em 30% dos autistas, mais comum na
infância e na adolescência (MELLO, p. 19).
2.1 Processos diagnósticos

O processo diagnóstico para contentar se uma criança realmente tem TEA deve ser
feito com uma equipe multidisciplinar. A história, o contexto e vivências de uma pessoa com
autismo são importantes para o diagnóstico também, pois é necessário que isso seja discutido
a fim de contentar o diagnóstico (Ministério da Saúde, p. 44).

Na etapa do diagnóstico, não deve a equipe disciplinar limitar-se a aplicação de


exames e testes; o processo deve ser feito sem consensos conclusivos, e para ter o laudo
completo sobre uma pessoa com TEA, exigir-se-á o encontro de diversidade de disciplinas,
tais quais também avaliar se há necessidade de exames neurológicos, metabólicos e genéticos
que possam completar o diagnóstico.

Deve se evitar uma comunicação precipitada para as famílias. A equipe


multidisciplinar deve estar com a pessoa/criança, no processo de diagnóstico, em várias
situações distintas: na escola, atendimentos à família, nas atividades diárias como a ida à
escola, no espaço familiar, nas atividades livres, etc. (idem, p. 46).

Neste primeiro processo de diagnóstico, a equipe multidisciplinar deve conhecer a


pessoa/criança, manter uma boa relação entre à equipe e à criança. O diagnóstico final da
pessoa com TEA só deve somente ser concluído após os três anos de idade, entretanto, é
possível que o tratamento possa ser firmado antes, a fim de averiguar com mais detalhes o
processo de desenvolvimento da criança e ajudá-la na fase da infância. (idem, pg. 47).

2.2 Categorias diagnósticas de pessoas com TEA:

O Ministério da Saúde lançou um material no ano de 2013 com o título de “Pessoas


com TEA e suas Famílias no Atendimento Psicossial do Sistema Único de Saúde” que
contribuiu e ainda contribui muito para entendermos sobre o que é o Autismo. Na página 54
do documento, consta um levantamento bastante detalhado sobre as classificações
diagnósticas das pessoas com TEA.

Os estudos levantados sobre os sinais de Transtornos do Espectro do Autismo se


manifestam antes dos 3 anos de idade. Segundo a 10ª edição da Classificação Internacional
da Organização da Saúde (CID 10 – OMS) e na 4ª edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – APA), o grupo de “Transtornos Invasivos (ou
Globais) do Desenvolvimento” incluem as seguintes categorias diagnósticas:
Autismo Infantil: é mais prevalente em meninos (de 4 meninos, com autismo, uma
menina pode ser) e instala-se sempre antes dos três anos de idade. Os diagnósticos atuais
põem em critérios os prejuízos persistentes em três áreas (Ministério da Saúde, p. 54):

Interação social recíproca: a criança evita contato visual, recusa também o contato físico, e é
bastante comum que a criança apresente um vínculo bastante específico de exagerado com
uma pessoa (pai, mãe, babá, por exemplo) e que não consegue se afastar desta pessoa para
realizar suas atividades diárias.

Comunicação verbal e não verbal: o uso da linguagem e de expressões faciais ou gestos


visando à comunicação, assim como as habilidades de imitar algo que se lhe
mostrado/assistido, é ausente. O surgimento da fala é bastante atrasada e boa parte das
pessoas com TEA no período da infância não chega a desenvolver a fala completa, apenas
balbuciando ou pronunciando com grandes dificuldades algumas poucas palavras. É comum a
repetição de palavras e sentido monótono na fala. É-lhes difícil entender as figurações da
linguagem, não entendendo o duplo sentido ou ironia, por exemplo.

Interesses e atividades: jogos ou brincadeiras são bastante restritos, mantendo foco a um


objeto ou apenas a uma atividade. Há mania de apego a um objeto e que nem sempre é um
brinquedo, mas é usado como um. É comum a pessoa/criança com TEA a relação de rotinas,
rituais e ordenação de coisas, a fim de se acalmar-se. Nos casos mais graves, pode haver
movimentos corporais, como bater palmas ou balançar a cabeça assiduamente.

Síndrome de Asperger: considerada como um polo mais leve do espectro do


autismo, esta síndrome – cuja terminologia homenageia Hans Aperger, em 1944, o quem
descreveu esta síndrome pela primeira vez. Esta síndrome engloba características autistas,
exceto à linguagem, costumam ter um bom nível cognitivo. As pessoas com a síndrome
costumam se comunicar de modo pedante ou com inflexão de adulto, usando palavras
rebuscas, neologismos e reservar assuntos específicos na fala. Esta síndrome se tornou bem
conhecida no meio popular e pelo pensamento comum por causa do jogador de futebol Lionel
Messi, que também tem esta síndrome.

Transtorno desintegrativo: exceção à regra do autismo, a pessoa/criança se


desenvolve normalmente até os dois ou menos seis anos de idade. Após isso, há a perda
rápida e definitiva, no decorrer de alguns meses, as habilidades já adquiridas, como na fala,
coordenação motora, aspectos do convívio social, etc.. O resultado deste transtorno
normalmente se dá a um quadro misto de autismo e retardo mental.
Autismo atípico: diferente do autismo, este leve o nome de autismo atípico, pois não
há perda e/ou não é demonstrado a presença de déficits nas áreas destacas no diagnóstico de
autismo (interação social recíproca, comunicação verbal e não verbal e atividades e
interesses), podendo ocorrer após os três anos de idade. O diagnóstico no DMS-IV diz que se
refere a pessoas com deficiência intelectual significativo e que também apresentam aspectos
autistas, nomeando como Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação.

Síndrome de Rett: com causalidade genética definida (mutação no gene MECP2,


localizado no cromossomo X), atualmente é estudada fora das características do Transtorno
do Espectro Autista, embora bem próxima a ele. Esta síndrome atinge especificamente
meninas, cuja terminologia homenageia do médico austríaco Andreas Rett. Na síndrome há o
desenvolvimento normal que pode ir de 7 a 24 meses, seguido de perda dos movimentos
voluntários das mãos, estereotipias manuais, risos não provocados, hiperventilação e
desaceleração do crescimento do crânio. Esta síndrome atinge muito o sistema motor, fazendo
que a paciente perca a habilidade de andar por volta do fim da adolescência, e possua
expectativa de vida até aos 30 anos (ou mesmo antes desta faixa etária).

O Ministério da Saúde ressalta que é importante possuir essas categorizações, mas que
é apenas uma visão categorial, que enxerga dos diversos quadros de autismo. Englobada a
elas fica o diagnóstico do TEA, e em profundidade estas categorias diagnósticas. Apenas a
Síndrome de Rett não engloba no diagnóstico de autismo.

3. Autismo e educação

É sabido, para os profissionais da educação, que a Educação Inclusiva é papel novo nas
escolas regulares. Em 1990, na Conferência Mundial de Educação para Todos foi discutido
com muito afinco que a educação era um instrumento de inclusão social. Na Declaração de
Salamanca, em 1994, foi estabelecida que o entendimento sobre o que é uma escola inclusiva
era aquela que oferecia caminhos para a criação de uma sociedade com menos preconceitos e
com visão de melhoria, oferecendo, para isto, melhores e válidas oportunidades aos seus
cidadãos.

Nas Leis e Diretrizes Básicas de 1996, esta questão ficou ainda mais assídua, pois foi
estabelecida em lei para que o aluno com necessidades especiais fosse realmente incluído.
Todavia, para isto ocorrer de forma adequada, o investimento no profissional professor deve
ser de extrema importância. Cabe, ainda, atualmente, ressaltar a formação do professor a
elaboração e a de métodos, abordagens pedagógicas adequadas ao seu alunado para que
melhor seja feita o processo de inclusão escolar, principalmente se este aluno for autista
(MELLO, p. 3). Cabe à escola dar vias seguras de possibilidades de experiências que
abranjam o convívio social do aluno, permitindo que ele possa se incluir, e, de forma mais
efetiva, desenvolver processos psicológicos posteriores (MATTOS; NUERNBERG, 2011)

No que tange ao processo de inclusão de pessoas com autismo na sala de aula, existe
poucos estudos na literatura sobre inclusão das pessoas com TEA (idem, passim). Entretanto,
um estudo examinou que em salas de aula onde os professores tinham relacionamentos
positivos com seus alunos, o índice de problemas comportamentais foi menor, e elas foram
mais socialmente incluídas em sala de aula. Observa-se, então, que o papel do professor é
fundamental para que o processo de inclusão ocorra de forma satisfatória (KRISTEN,
BRAND & CONNIE, 2003 apud MATTOS; NUERNBERG, 2011).

Em muitos casos, o processo de inclusão não ocorre efetivamente, pois é comum que
professores confundam os princípios de integração e inclusão. Mattos e Nuerbenberg (2011)
salientam que apesar de serem vocábulos sinônimos em alguns países, no âmbito educacional
nacional há uma tendência diferenciadora entre os dois: integração refere-se na possibilidade
de os indivíduos com alguma deficiência frequentarem escolas comum de ensino, cujo
currículo e métodos estão com olhares voltados a ensinar pessoas com certo ‘grau de
normalidade; a inclusão, em contrapartida, muda-se o foco do indivíduo referente à escola,
fazendo com que a escola e o sistema educacional e social adaptem-se para suprir
necessidades da criança com deficiência.

No contexto do que se refere à criança com autismo e sua inclusão, Jordan (2005)
(apud MATTOS; NUERNBERG, 2011) aponta a necessidade de orientação aos professores
quanto aos processos de inclusão/integração, pois a falta de conhecimento sobre os
transtornos do autismo impede de identificar e de adaptar de maneira correta as necessidades
desses alunos.

Portanto, para viabilizar ainda mais este processo de inclusão do aluno autista na escola
regular é indispensável trabalhar em conjunto com as salas de apoio e com professores
especializados para que seja realizada de maneira efetiva a inclusão destes alunos e trabalhar
em sala de aula com os alunos as maneiras de inclusão.
4. Considerações finais

Apesar da grande parcela de estudos sobre o autismo, ainda, mesmo depois de seis
séculos, não há estudo comprovativos sobre as causa deste transtorno. Neste trabalho,
competiu explanar sobre o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e contextualizar as
literaturas existentes sobre este tema, que mesmo bastante proveitosas ainda insuficientes.
Vale ainda salientar que mesmo com tantos e novos métodos de diagnóstico e recursos já
existentes dentro de escolar públicas e privadas estão longe de ser o suficiente para um
tratamento adequado das pessoas com deficiência, principalmente para as pessoas com
autismo.

É preciso ver o aluno especial menos como alguém incompreensível e incapaz, e mais
como um ser humano que, assim como todos, absorve tudo o que acontece ao seu redor à sua
própria maneira. Tendo em vista suas limitações, é nosso papel enquanto educadores fornecer
as oportunidades necessárias para que ele viva em seu máximo potencial. Cabe a nós ainda,
futuros educadores, tornarmos pesquisadores sobre o autismo e sobre qualquer outra
deficiência, para bem mais incluir qualquer aluno.

REFERÊNCIAS

O que é autismo? Disponível em: <http://autismoerealidade.org/informe-se/sobre-o-


autismo/o-que-e-autismo> Acesso em: 20 fev. 2016, às 18h10.

MELLO, A. M. S. R. de. Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE,
2007. 104 p.: il.

SÃO PAULO. Defensoria Pública do Estado de São Paulo et alia. Direitos das Pessoas com
Autismo. São Paulo: EDEPE, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde et. alia. Linha de cuidado para a atenção às pessoas com
Transtornos do Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do
SUS/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saude. Departamento de Ações
Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

Psicologia & sociedade. São Paulo, SP. Vol. 21, n. 1 (jan./abr. 2009), p.65-74.
REFERÊNCIAS

MELLO, A. M. S. R. de. Autismo: guia prático. 5 ed. São Paulo: AMA; Brasília: CORDE,
2007. 104 p.: il.

SÃO PAULO. Defensoria Pública do Estado de São Paulo et alia. Direitos das Pessoas com
Autismo. São Paulo: EDEPE, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde et. alia. Linha de cuidado para a atenção às pessoas com
Transtornos do Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do
SUS/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saude. Departamento de Ações
Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

Psicologia & sociedade. São Paulo, SP. Vol. 21, n. 1 (jan./abr. 2009), p.65-74.

O que é autismo?HTTP://AUTISMOEREALIDADE.ORG/INFORME-
SE/SOBRE-O-AUTISMO/O-QUE-E-AUTISMO/ 18H10

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