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AULA 2 PDFelement

NEUROCIÊNCIAS
DA LINGUAGEM

Profª Tammy Ribeiro


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CONVERSA INICIAL

Na aula anterior, falamos sobre a estrutura e o desenvolvimento da


linguagem. Agora, nesta segunda aula, vamos abordar o processo de
aprendizagem e qual a relação entre linguagem e aprendizagem. Vamos também
dar ênfase aos distúrbios relacionados ao desenvolvimento neurolinguístico e
como acontece a intervenção nesses casos.
A aprendizagem é um processo que leva o ser humano a se modificar e a
adquirir novos conhecimentos, atitudes, habilidades, valores e comportamentos,
a partir da experiência, da observação ou do estudo. Segundo Charlot (2001),
aprender é apropriar-se de um saber ou de uma prática; é a possibilidade de
formar relação com o outro e consigo mesmo, com o que estava preestabelecido
antes do aprendizado de algo novo.
Seguindo essa linha de pensamento, vamos estudar, nessa aula, como se
desenvolve a aprendizagem no ser humano, a partir de estudos neurolinguísticos
e da teoria construtivista. Vamos também elucidar os principais distúrbios que
podem ocorrer na comunicação das crianças ao longo dos primeiros anos de vida.
Em paralelo a isso, buscaremos apreender como os profissionais da
educação podem intervir para dirimir os problemas provocados pelos distúrbios
da linguagem em crianças pequenas.

CONTEXTUALIZANDO

O processo de aprendizagem é uma atividade individual. Ele se desenvolve


num contexto social e cultural muito bem definido. Pode ser considerado como o
resultado de processos cognitivos individuais, em que são assimiladas e
interiorizadas novas informações. Pelo fato de

a aprendizagem ser algo tão implícito à capacidade humana, acredita-se


que exista uma associação desta com o processo de desenvolvimento
dessa espécie. Como se sabe, o desenvolvimento ocorre desde a
geração do feto, perpassando por toda a vida do homem, sendo
finalizado na sua morte. Acredita-se que a aprendizagem também seja
um dos processos pelo quais se está sujeito em todos os momentos da
vida. (Ogasawara, 2009)

Mesmo entendendo que a aprendizagem ocorre por toda a vida, há um


consenso entre os teóricos, de que a infância é o momento em que o indivíduo
está mais aberto e propenso a ela. Afinal, nesse período os neurônios se
multiplicam mais rapidamente – principalmente nos primeiros três anos de vida,

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quando todo tipo de dado externo que chega à criança é classificado e arquivado,
de modo que esteja sempre disponível. Trata-se da idade em que a criança mais
necessita de aprendizagem; é quando se dá conta do mundo à sua volta, em
busca de aprender a viver de forma adequada. NESSE período, as faculdades
mentais são caracterizadas por enorme plasticidade e expansividade. Assim, o
que é aprendido nessa etapa da vida permanece por décadas, sendo muito difícil
de mudar. É por esse motivo que uma crença, quando assimilada culturalmente
na infância, permanece funcional para nós como adultos (Mezirow, 1994).
Segundo Hebb (1949), não se conhece muito sobre as bases
neurofisiológicas da aprendizagem. No entanto, existem alguns indícios
importantes de que o processo esteja relacionado com a modificação de conexões
sinápticas. Comumente, se admite como hipótese que (Hoppenstead; Izhikevich,
1997):

 A aprendizagem é o resultado do fortalecimento ou abandono das


conexões sinápticas entre os neurônios;
 A aprendizagem é local, ou seja, a modificação de uma conexão
sináptica depende somente da atividade dos neurônios pré-sinápticos e
pós-sinápticos;
 A modificação das sinapses é um processo relativamente lento
comparado com os tempos típicos das mudanças nos potenciais
elétricos que servem de sinais entre os neurônios;
 Se um neurônio pré-sináptico ou um neurônio pós-sináptico (ou ambos)
estão inativos, então a única modificação sináptica existente consiste na
deterioração o decaimento potencial das sinapses, que é responsável
pelo esquecimento.

De acordo com as ideias de Skinner (2005), pode-se dizer que


aprendizagem é uma mudança na probabilidade da resposta de um
comportamento, devendo-se especificar as condições sob as quais ela acontece.
Sendo assim, é de extrema importância a vigilância quanto aos processos
de aprendizagem das crianças. Quaisquer desvios na forma como as sinapses
são construídas podem vir a desencadear problemas na aprendizagem. Já nos
primeiros anos de vida podemos perceber indícios desses problemas,
principalmente quando a vida escolar é iniciada.

TEMA 1 – O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM A


PARTIR DA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA

O processo de aprendizagem se dá ao longo de toda a vida do sujeito.


Quando falamos de uma criança, tratamos como normal que ela aprenda a andar
e a falar, depois a ler e a escrever; podemos dizer que essas são aprendizagens
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imprescindíveis para o processo de interação e socialização da criança no meio


em que vive.
A busca por saber como uma criança aprende tem levado estudiosos,
dentre eles psicólogos e educadores, a estudar o processo de aprendizagem no
sujeito. Como o sujeito aprende? Como as crianças elaboram suas hipóteses na
construção do conhecimento? De que modo se questionam quanto às suas
experiências? De que forma adolescentes e adultos influenciam ou interferem na
aprendizagem do conhecimento científico, historicamente elaborado? Tais
questionamentos são de grande relevância para entendermos a aprendizagem.
Assim como ocorre com a linguagem, há vários teóricos que se debruçam sobre
o tema para tentar explicar como se dá o processo.
Vamos apresentar, nesta aula, algumas perspectivas quanto ao
desenvolvimento do processo de aprendizagem. Partiremos das contribuições de
Jean Piaget (1896-1980), que desenvolveu estudos psicogenéticos com o objetivo
de compreender como o ser humano conhece o mundo (material e simbólico).
Piaget também se preocupou em investigar quais seriam as ferramentas
vinculadas aos processos cognitivos, e que são utilizadas pelo homem em sua
busca por conhecer o mundo.
Piaget (1973) destacou que a aprendizagem aconteceria a partir de um
movimento de desordem (e ordem) do que há em cada sujeito. Para o autor,
haveria a necessidade de a criança ter contato com aquilo que é difícil, que a
incomoda. Ao proceder desse modo, ela desestrutura o que existia previamente,
para depois criar novas estruturas; essa atividade se daria a partir das
investigações, das motivações intrínsecas e extrínsecas do sujeito, pois ele
estaria sempre motivado a aprender o novo.
Assim, nessa perspectiva, o processo de aprendizagem, voltado ao
conhecimento, se dá a partir das relações estabelecidas entre sujeito e objeto, o
que Piaget chama de acomodação e assimilação. A assimilação seria “uma
integração a estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais
ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com
o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente
acomodando-se à nova situação” (Piaget, 1973, p. 13).
Assimilação nada mais é do que a organização das ideias já existentes com
ideias que ainda estão sendo aprendidas; afinal, é preciso adaptar o novo
conhecimento às estruturas cognitivas existentes.

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Por outro lado, o conceito de acomodação trata da mudança de


comportamento, da transformação do sujeito com relação aos esquemas
montados pelo sujeito. Tais esquemas são as articulações do que já identificamos
como novo conhecimento. Tanto a assimilação quanto a acomodação acontecem
numa correlação de dependência, pois não há uma sem a outra. O
desenvolvimento cognitivo é um processo de equilibrações sucessivas das
estruturas cognitivas do ser humano.
Partindo da ótica piagetiana, para que ocorra a aprendizagem é necessário
que as estruturas cognitivas anteriores se desenvolvam, e que o desenvolvimento
psicológico/espontâneo (aquele que ocorre a partir das experiências com o objeto)
esteja numa relação de submissão com o desenvolvimento psicossocial (aquilo
que o sujeito aprende por transmissão na sua relação com o outro).
Ao valorizar, em sua teoria, aspectos psicológicos/espontâneos do
desenvolvimento cognitivo do sujeito, Piaget afirma que é necessário esperar o
tempo certo (de desenvolvimento) para que a criança seja colocada em situações
em que determinadas aprendizagens por transmissão se efetivam. Afinal, seria
necessária certa maturação da criança para uma determinada aprendizagem.
Assim, estruturas naturais do organismo, e também as experiências com os
objetos, vão traçar uma relação com os quatro estágios de desenvolvimento
cognitivo: o primeiro estágio é o sensório-motor; o segundo é a representação pré-
operatória; o terceiro é o das operações concretas; e o quarto e último é o das
operações formais.
Para Piaget, a linguagem surge a partir do primeiro estágio (sensório-
motor). Nesse momento, a função simbólica passa a se estabelecer,
possibilitando que o sujeito desenvolva a prática de caracterização de objetos,
ações e palavras. O autor ainda destaca que a gênese do pensamento antecede
à linguagem em suas funções, características e formas – isso quando falamos da
origem do conhecimento.
No estágio pré-operatório, que vai dos dois aos sete anos, surge o domínio
da linguagem; a criança começa a compreender o mundo por meio de símbolos.
No entanto, somente no estágio seguinte, o das operações concretas, o indivíduo
será capaz de dominar conceitos de tempo e número, além de adquirir a
habilidade de discriminar objetos por similaridade e diferença.
Por volta dos doze anos de idade, tem início o estágio das operações
formais. Começando, assim, a idade adulta em termos cognitivos. O domínio do

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pensamento lógico-dedutivo é desenvolvido, levando o sujeito a raciocinar sobre


hipóteses e a relacionar conceitos abstratos, alcançando assim um padrão
intelectual que lhe será característico para toda a vida adulta (Piaget, 1973).

Saiba mais
Para entender um pouco mais dos estágios propostos por Piaget, segue
abaixo algumas sugestões de leitura:
NETO, A. S.; HESKETH, C, G. Didática e design instrucional. Curitiba: IESDE,
2009.
SOUZA NEVES, R. Desenvolvimento educacional: um olhar psicopedagógico.
São Paulo: Souza e Neves Edições, 2014.
TAFNER, M. A construção do conhecimento segundo Piaget. Disponível em:
<http://www.cerebromente.org.br/n08/mente/construtivismo/construtivismo.htm>.
Acesso em: 29 maio 2018.

TEMA 2 – O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM A


PARTIR DA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA E CULTURAL

A teoria sócio-cultural, também conhecida como sociointeracionista, tem


como ponto inicial de estudo as funções psicológicas superiores do indivíduo.
Dentro desta perspectiva, Vygotsky destaca o desenvolvimento histórico-social e
o papel da linguagem no desenvolvimento do sujeito. O principal ponto a destacar
nos estudos de Vygotsky é o desenvolvimento do conhecimento no sujeito a partir
de suas relações com o meio. Percebe-se que o sujeito é altamente participativo
no processo, já que o conhecimento se dá a partir de relações intrapessoais e
interpessoais, de trocas estabelecidas com o meio, partindo do processo de
mediação, como é definido pelo autor.
O autor considera a linguagem como um processo profundo que possibilita
a comunicação e a socialização do indivíduo. A relação entre pensamento e
linguagem se dá de maneira estreita; a linguagem tem papel essencial na
formação do pensamento e também do caráter do indivíduo.
Diferentemente do pensamento cunhado por Piaget, que entendia que o
desenvolvimento da linguagem ia do pensamento interno, autístico (ou seja,
dirigido para dentro do ser), para somente depois aparecer no discurso
socializado, Vygotsky chegou à conclusão, em seus estudos, de que a verdadeira
trajetória de desenvolvimento do pensamento não vai do pensamento individual

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para o socializado, mas toma a trajetória contrária: do pensamento socializado


para o individual (Vygotsky, 2007).
Entendendo a linguagem enquanto um sistema simbólico, que representa
a realidade e que une todos os seres humanos. Vygotsky cunha a ideia de que
esse sistema é socialmente estabelecido. Para ele, a interação e a convivência
entre os indivíduos de uma mesma comunidade, que compartilham formas de se
portar e de produzir cultura, faz com que seja construído um sistema de signos, o
qual consistirá numa espécie de código para a decifração do mundo (Oliveira,
1997)
Nesse ínterim, se encontra a criança pequena, que está desenvolvendo sua
linguagem e construindo esse código que decifra o mundo. Para Vygotsky (2007),
há uma base biológica que sustenta a construção do código, a qual que perpassa
as funções psicológicas, que são produto da atividade cerebral. Para que essas
funções tenham fundamento, é imprescindível que os indivíduos se relacionem
socialmente entre si e também com o mundo exterior de modo geral. Isso
acontece mediante sistemas simbólicos, ou seja, a partir da linguagem.
Vygotsky, em seus estudos, percebeu que, em um primeiro momento,
existem algumas atividades que a criança pode realizar sozinha, sem ajuda
externa. Segundo o teórico, isso acontece porque essas atividades são baseadas
em conhecimentos adquiridos e internalizados previamente, e fazem parte de um
ciclo de desenvolvimento já completo, que se refere às funções psicológicas que
a criança já construiu até determinado momento. A esse movimento, ele
denominou nível de desenvolvimento real (Zanella, 1994).
Em um segundo nível de desenvolvimento, que Vygotsky chamou de
desenvolvimento potencial, a criança não consegue realizar atividades sozinha,
pois necessita de orientação adequada, de um adulto ou de uma outra criança
mais experiente. É como se a criança possuísse o conhecimento, mas ainda não
o tivesse assimilado. Segundo Vygotsky (2007), é esse nível que se demonstra
um indicativo do desenvolvimento da criança, pois há um desenvolvimento
prospectivo, ou seja, referente ao futuro da criança.
Neste ponto, para entender como está se processando o desenvolvimento
mental da criança, é imprescindível estudar o intervalo entre o desenvolvimento
real e o desenvolvimento potencial. Tudo o que está entre esses dois níveis é
chamado por Vygotsky (2007, p. 97) de Zona de Desenvolvimento Proximal.
Segundo o teórico, “a Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções

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que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação,


funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado
embrionário”.
Em tal zona, os processos educativos devem ser mais enfáticos, tendo
como foco os processos em que as crianças ainda não amadureceram o
suficiente.
Vygotsky (2001) evidencia que o processo de apreensão do conhecimento
realizado pela escola não é a única fonte que a criança possui para aprender. O
aprendizado é inerente às capacidades humanas, pois todo ser humano consegue
aprender com qualquer situação vivida. Porém, é importante destacar que a
apropriação dos conceitos se dá de forma diferente. Vygotsky divide essa
apropriação em duas categorias, denominando a apreensão dos conceitos
realizada de forma aleatória no percurso da vida de conceito espontâneo; aqueles
que necessitam de um trabalho formal de aprendizagem são os conceitos
científicos.
Vygotsky (1998, p. 108) deixa claro que “a mente se defronta com
problemas diferentes quando assimila os conceitos na escola e quando é entregue
aos seus próprios recursos”. Isso não diminui a importância do processo educativo
formal, oferecido pelas instituições escolares, para o desenvolvimento do
indivíduo. Para o autor, o professor é um componente imprescindível na formação
de conceitos científicos por parte das crianças. Nesse sentido, ele deve ser
mediador no processo de ensino, pois o aluno não aprende somente porque está
inserido em um ambiente educacional, com condições ideais de estudo. A
responsabilidade do professor é levar o aluno ao amadurecimento de suas
funções psicológicas.

TEMA 3 – DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO ORAL E ESCRITA NA INFÂNCIA

Os dois principais processos comunicativos do ser humano são a emissão


oral e a escrita. Caracterizada coo ação de emissão oral, a fala é um processo
que engloba outros, como articulação, ressonância, voz, fluência e entonação.
Todas essas ações partem da ativação de uma representação do assunto que se
quer falar; o processo é canalizado para uma área do cérebro chamada Broca,
que se localiza na porção inferior do lobo frontal, quando é convertido em padrões
de ativação neuronal que culminarão na fala. O que, por sua vez, dado o contato
com os outros sons e com a acústica do ambiente, engloba múltiplos sons que

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ocorrem simultaneamente, em várias frequências e com rápidas transições entre


elas (Schirmer; Fontoura; Nunes, 2004).
A linguagem é expressada através da fala, que corresponde, assim, à sua
realização motora. Caracterizada como efetivação da recepção e da transmissão
de informações, a fala compreende à maneira de articular a produção vocal
através de sons e palavras, o que inclui sua fluência.
Já a escrita é compreendida como um sistema organizado, com regras,
padrões e estruturas, donde se manifesta a capacidade humana de simbolizar.
Segundo o psicólogo cognitivista Stanislas Dehaene (2012, p. 20), o
processamento cerebral da leitura e da escrita acontecem na região cerebral
chamada occípito-temporal ventral esquerda. Para o autor, a escrita está atrelada
à condição neuronal de se reciclar para aprender coisas novas, que sejam
necessárias para a espécie. É essa maleabilidade neuronal que fez com que os
seres humanos se adaptassem a construtos recentes, culturais (ou seja, externos
ao indivíduo), de forma tão rápida e efetiva:

as invenções culturais como a leitura se inserem nesta margem de


plasticidade. Nosso cérebro se adapta ao ambiente cultural, não
absorvendo cegamente tudo o que lhe é apresentado em circuitos
virgens hipotéticos, mas convertendo a outro uso as predisposições
cerebrais já presentes. Nosso cérebro não é uma tabula rasa onde se
acumulam construções culturais: é um órgão fortemente estruturado que
faz o novo com o velho. Para aprender novas competências, reciclamos
nossos antigos circuitos cerebrais de primatas – na medida em que
tolerem um mínimo de mudança.

Diante disso, é importante que haja, no desenvolvimento inicial do processo


comunicativo, a observação vigilante dos componentes que fazem parte da
linguagem e da língua, dos quais a fala e a escrita fazem parte.
É necessário observar o vocabulário, ou seja, a quantidade de palavras que
fazem parte do repertório da criança, além do número de palavras que compõe as
frases que profere. Deve-se verificar a entonação, a dicção e a articulação de cada
fonema da língua, além da fluência e da velocidade da fala, observando as
rupturas e disfluências normais em cada idade.
Segundo Caputte e Accardo (1991), as alterações da linguagem situam-se
entre os mais frequentes problemas do desenvolvimento, atingindo 3 a 15% das
crianças, e podem ser classificadas em atraso, dissociação e desvio. Para os
autores, o atraso caracteriza-se pela progressão na linguagem na sequência
correta, porém em ritmo mais lento, e assim o desempenho culmina que é
semelhante ao de uma criança de idade inferior, enquanto que a dissociação é

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marcada por uma diferença significativa entre a evolução da linguagem e das


outras áreas do desenvolvimento. Por sua vez, o desvio é entendido como um
padrão de desenvolvimento mais alterado: verifica-se uma aquisição
qualitativamente anômala da linguagem. É um achado comum em perturbações
da comunicação do espectro do autismo, tema que estudaremos posteriormente.
Quando da constatação de tais problemas, é imprescindível a participação
de vários profissionais para acompanhar o desenvolvimento da criança, como
pediatras, educadores, psicólogos, terapeutas ocupacionais, agentes
comunitários de saúde, entre outros. De forma geral, pediatras e professores são
os primeiros profissionais solicitados a opinar e a orientar, por serem mais
presentes no acompanhamento do desenvolvimento infantil. No entanto, a
intervenção só ocorrerá em bom nível técnico com a presença direta ou indireta
de um fonoaudiólogo (Marcondes, 2003).
A American Speech Language and Hearing Association (ASHA) (1982)
conceitua os distúrbios da comunicação como impedimentos na habilidade de
receber e processar um sistema simbólico. São observáveis nos níveis de
sensibilidade, função, processamento e fisiologia da audição, de forma, conteúdo,
e função comunicativa, nos níveis de linguagem e de articulação, voz e fluência
dos processos de fala. Esses distúrbios podem variar em gravidade; ser de origem
desenvolvimental ou adquirida; resultar de doenças de manifestação primária ou
idiopáticas, ou doenças de manifestação secundária, decorrentes de
manifestação maior; podem ainda ocorrer casos isolados ou combinados.
Segundo Prates e Martins (2011), entre os principais distúrbios na
comunicação estão o transtorno fonológico, que se caracteriza por um atraso na
aquisição dos sons/fonemas da língua ou por aquisição desviante, produção
atípica dos sons da fala, omissões, substituições ou adições. Pode estar atrelado
a um histórico familiar; à gagueira de desenvolvimento que pode surgir entre 2 e
3 anos, caracterizando-se por rupturas (disfluências) na fala, como repetições de
sons e sílabas, bloqueios e prolongamentos; e a alterações no desenvolvimento
da linguagem oral, que normalmente não têm causa aparente. Nestes casos,
observa-se atraso ou distúrbio no desenvolvimento da linguagem, caracterizados
por vocabulário pobre, dificuldade na combinação de palavras para formar frases,
uso inadequado da linguagem, sintaxe pouco estruturada, dificuldade de
compreensão, alterações gramaticais, fala ininteligível, dificuldade com conceitos
abstratos e figurativos. Por fim, verifica-se a alteração no desenvolvimento da

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linguagem escrita, que pode estar relacionada à alteração no desenvolvimento da


linguagem ou a transtornos fonológicos, representando atraso no
desenvolvimento ou distúrbio, caracterizados por alteração na escrita de palavras,
dificuldades na elaboração e compreensão escrita e alteração neurofisiológica. Ao
mesmo tempo, podem ser observadas falhas no processamento fonológico
(memória operacional, consciência fonológica e acesso rápido às representações
no léxico), além de alterações no processamento visual e auditivo e transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade. Inclui-se aí dislexia, disgrafia, disortografia e
distúrbios de leitura e escrita.
A criança disléxica apresenta sérias dificuldades com a identificação dos
símbolos gráficos no início da sua alfabetização, o que acarreta fracasso em
outras áreas que dependem da leitura e da escrita.
As principais dificuldades se apresentam como demora em aprender a
falar, fazer laço, reconhecer as horas, pegar e chutar bola ou pular corda. Também
podem haver dificuldades ao escrever números e letras correspondentes, ao
ordenar as letras do alfabeto, os meses do ano e as sílabas de palavras compridas
e ao distinguir esquerda e direita. Além disso, é comum que haja dificuldades em
planejar e escrever redações, especialmente na pronúncia de palavras longas.
Os principais erros da criança disgráfica são a apresentação desordenada
do texto, margens malfeitas ou inexistentes e traçado de má qualidade. Este é
caracterizado por tamanho pequeno ou grande, pressão leve ou forte, letras
irregulares ou retocadas, distorção da forma das letras “o” e “a”, movimentos
contrários ao da escrita convencional, ligações defeituosas de letras na palavra,
irregularidades no espaçamento das letras na palavra, direção da escrita
oscilando para cima ou para baixo e dificuldade na escrita e no alinhamento dos
números na página.
Todos esses distúrbios são rapidamente perceptíveis por profissionais que
trabalham com crianças e que permanecem atentos a seu desenvolvimento. Por
isso, é importante manter-se atento à forma como as crianças se comunicam, pois
a comunicação é o meio por excelência pelo qual elas expressam a linguagem
inerente a elas.

Saiba mais

Para compreender melhor esse assunto, segue uma sugestão de leitura:


PRATES, L. P. C. S.; MARTINS, V de O. Distúrbios da fala e da linguagem na
Infância. Revista Médica de Minas Gerais, n. 21, v. 4, 2011.
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TEMA 4 – DISTÚRBIOS ESPECÍFICOS DA LINGUAGEM

Os distúrbios na linguagem constituem-se como problemas infantis muito


recorrentes, manifestando-se em atrasos ou desenvolvimento atípico, que podem
envolver componentes funcionais de audição, fala, escrita ou a própria linguagem
como um todo, em níveis variados de gravidade. Tais distúrbios são muito
comuns, afetando de 5 a 10% de todas as crianças. Estima-se que 1% das
crianças em idade escolar tenha uma deficiência de linguagem importante (Vitto;
Ferres, 2005).
Entre os distúrbios da linguagem, podemos citar a mudez, enquanto a
incapacidade de articular palavras, que geralmente é decorrente de transtornos
do sistema nervoso central. Em parte dos casos, é decorrente de problemas na
audição (Santos, 2010).
Ainda segundo Santos (2010), outro distúrbio importante é o atraso na
linguagem. As principais características da criança que tem atraso na linguagem
são: deficiência no vocabulário, deficiência na capacidade de formular ideias e
desenvolvimento retardado da estruturação de sentenças.
Problemas de articulação também se caracterizam como distúrbios da
linguagem. As crianças de mais de 7 anos que não conseguem pronunciar
corretamente todas as consoantes e suas combinações apresentam um problema
de articulação. Podemos citar: dislalia, que é a omissão, distorção, substituição
ou acréscimo de sons na palavra falada; disartria, que se apresenta como um
problema articulatório que se manifesta na forma de dificuldade para realizar
alguns ou muitos dos movimentos necessários à emissão verbal; linguagem
tatibitate, que é um distúrbio de articulação (e também de fonação), em que se
conserva voluntariamente a linguagem infantil; rinolalia, ressonância nasal maior
ou menor que a do padrão correto da fala, que pode ser causada por problemas
nas vias nasais; vegetação adenóide, lábio leporino ou fissura palatina.
É preciso citar também a afasia, que se caracteriza, mais especificamente,
por falhas na compreensão e na expressão verbal, relacionadas à insuficiência de
vocabulário, má retenção verbal, gramática deficiente e anormal e escolha
equivocada de palavras. A afasia pode ser observada em crianças que: ouvem a
palavra, mas não a interiorizam com significado; demoram para compreender o
que é dito; apresentam gestos deficientes e inadequados; confundem palavras ou
frases com outras similares; têm dificuldade de evocação, exteriorizada por

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ausências de respostas ou tentativas incompletas para achar a expressão ou


emissões que a substituem (Ferreira; Socha, 2018)
Outro distúrbio muito estudado nos dias atuais é o autismo infantil.
Dedicaremos uma aula para trabalharmos esse tema; porém, de forma prévia
apresentaremos aqui algumas informações pertinentes. O autismo infantil
caracteriza-se por uma interiorização intensa. Teorias interpessoais e orgânicas
foram sugeridas para explicar o autismo, mas até agora nenhuma delas foi
plenamente aceita. Como características principais da criança autista, estão a
solidão em grau extremo e evidente na mais tenra idade; ausência de sorriso
social; não desenvolvimento de linguagem apropriada, com repetição de frases; e
organização de objetos sempre da mesma forma (mesmo que fique sem vê-los
durante um tempo, lembra-se da sua posição). Tendem também a apresentar
excelente memória: decoram facilmente poesias e canções, aprendem novas
palavras com facilidade. Ademais, não mantêm contato visual com as pessoas;
demonstram ansiedade frequente, aguda, excessiva e aparentemente ilógica;
apresentam hiperatividade e movimentos repetitivos, com entorpecimento nos
movimentos que requerem habilidades; são retraídos, apáticos e desinteressados,
numa total indiferença com o ambiente circundante, além de demonstrar
incapacidade para julgar.
Esses e muitos outros distúrbios precisam ser percebidos e investigados o
mais rápido possível nas crianças, pois só um diagnóstico precoce poderá levar o
professor e os profissionais que trabalham com crianças a descobrir qual a melhor
forma de auxiliar esses indivíduos a se desenvolverem e a viverem uma vida
melhor, convivendo bem com suas dificuldades.

TEMA 5 – INTERVENÇÃO NA CRIANÇA COM DISTÚRBIO DA LINGUAGEM

Como já apontado no capítulo anterior, é importante elaborar um diagnóstico


o mais cedo possível, de modo a entender quais distúrbios de linguagem e
comunicação uma criança pode ter. Após o diagnóstico ter comprovado o distúrbio,
ações devem ser tomadas na busca da melhor lida com a situação. Essa ação pode
ser considerada uma intervenção direta na vida da criança com intuito de melhorá-
la.
Segundo Tedesco (1997), a estimulação precoce da linguagem pode
prevenir distúrbios de aprendizagem, dislexia e problemas de desenvolvimento.
Pesquisas vêm demonstrando a importância dos três primeiros anos de vida no

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desenvolvimento do cérebro humano. Por esse motivo, os adultos (sejam eles, pais,
tutores, professores, ou pessoas que fazem parte da vida da criança) precisam
tomar algumas atitudes no intuito de preservar a saúde psicológica da criança.
Uma das principais atitudes que os educadores devem ter com a criança que
apresenta algum distúrbio de linguagem é evitar que ela se sinta inferior às outras,
evitando ressaltar suas dificuldades. Deve-se também considerar o problema de
maneira serena e objetiva, avaliando o desempenho do aluno pela qualidade do
seu trabalho, não pelos objetivos alcançados, evitando corrigi-lo com frequência na
frente de outras crianças. Outra atitude importante é estimular a criança a enfrentar
o problema de frente, para que procure sempre superar-se, e jamais relegar ou
ignorar a criança que não consegue superar sua dificuldade.
Para intervir no processo de aquisição da linguagem da criança que apresenta
algum distúrbio, é necessário orientar a família e a escola, juntamente com uma
terapia adequada. Entre as terapias existentes, há a terapia da fala, que tem por
objetivo tratar de desvios fonéticos e fonológicos; a terapia de voz, que incide sobre
as disfonias; a terapia de motricidade oral, que cuida dos distúrbios de alimentação,
respiração e mobilidade de órgãos fonoarticulatórios; a terapia de linguagem oral,
em que o enfoque é a expressão e/ou recepção de linguagem; e a terapia de
linguagem escrita, que aborda dislexias, disortografias e disgrafias (Landry, Smith;
Swank, 2002).
Ainda segundo os mesmos autores, todas “as atividades de estimulação
dentro da terapia fonoaudiológica infantil devem ser realizadas de forma lúdica,
através de jogos e brincadeiras, para que a criança sinta prazer nas técnicas
propostas. Também é recomendável envolver a família e, quando necessário, a
escola” (Landry; Smith; Swank, 2002, p. 9).
A terapia é o procedimento mais importante na intervenção na criança que
apresentem algum distúrbio de linguagem, mas não se deve esquecer dos aportes
educacionais nesse processo. Por conta disso, a ludicidade é essencial nesse
processo, já que é por meio da brincadeira que a criança se expressa e se relaciona
com o mundo.

A estimulação através de canto, conversa, brincadeiras e leitura propicia


a aquisição de habilidades que favorecem o desenvolvimento. Para que
comece a ocorrer um processo de comunicação, a criança deverá se
sentir motivada. Deverá existir o que se chama de intenção comunicativa
(através da fala serão conseguidos objetos de interesse da criança). Este
aspecto surge através do contato diário com as pessoas e da
estimulação que essa interação propicia (Shaywitz; Shaywitz, 2003, p.
24)

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Intervir no momento certo é uma forma de fazer com que a criança que
possui algum distúrbio na linguagem possa ter uma melhor qualidade de vida e
aprender a se comunicar de forma efetiva. Para isso, o profissional que intervém
nesse processo deve entender a linguagem da criança, e também as formas como
interage com o mundo. Nesse ponto, a família e a escola têm papel fundamental
na estimulação da linguagem na criança.

FINALIZANDO

Muitos são os distúrbios de comunicação e linguagem que acometem as


crianças. Esses distúrbios podem facilmente ser detectados pelos adultos quando
estão atentos aos processos de aquisição da linguagem. Pais, professores,
agentes de saúde; todos devem estar vigilantes às etapas que a criança deve
seguir no desenvolvimento de sua linguagem.
As teorias servem para que possamos compreender melhor como
funcionam as funções psicológicas da criança para que, em momento oportuno,
possamos intervir com a terapia ou a profilaxia corretas. Por isso, devemos
conhecê-las, internalizá-las e colocá-las em prática no momento correto.

LEITURA COMPLEMENTAR

Texto de abordagem teórica

SOUZA NEVES, R. Desenvolvimento educacional: um olhar psicopedagógico.


São Paulo: Souza e Neves Edições, 2014.

TAFNER, M. A construção do conhecimento segundo Piaget. Disponível em:


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Acesso em: 29 maio 2018.

Texto de abordagem prática

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2009.

Saiba mais

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