Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
aprendizagem e não
aprendizagem
O Aprender
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Unidade O Aprender
Thinkstock/Getty Images
• Introdução
• A Linguagem
• Inteligência
• O Cérebro
• O Aprender e a Escola
5
Unidade: O Aprender
Contextualização
Nessa unidade veremos o início do processo do aprender, tentem observar dentro do proposto,
como entender melhor o mecanismo que temos para compreender o mundo e a nós mesmos.
Tentem fazer uma análise do que foi vivido por cada um, pois aprender é um processo pelo
qual todos passamos, não há a possibilidade de sermos professores, sem termos sido alunos!
É importante perceber que conhecer o que se aprende e como se aprende dá ao professor as
condições necessárias para a realização do trabalho em sala de aula e, aos outros profissionais
como o psicopedagogo, a capacidade de avaliar como trabalhar as dificuldades que esses alunos
apresentam, além disso, nos possibilita conhecer com mais precisão o ambiente escolar e o que
causa interferência nessa tarefa importante da aprendizagem.
“A investigação psicológica do comportamento tem suas raízes no começo da ciência
ocidental, na filosofia clássica grega. Muitas questões fundamentais, na moderna investigação
do comportamento, especialmente na área da percepção, foram formulados novos parâmetros
para o reconhecimento do que é aprender”. (GAZZANIGA, 2010)
6
Introdução
Aprender é, em síntese, reconhecer algo que, mesmo estando no nosso campo de visão,
ainda não foi totalmente elaborado, mas que será percebido dentro de um contexto cultural,
onde serão estabelecidos os modelos que formalizarão esse conhecimento e o generalizarão.
Nesse sentido, tudo que é aprendido é uma elaboração cultural do que pode ser percebido no
mundo que nos rodeia.
Pode-se estabelecer que o conhecer se dá na organização de percepções do cotidiano
que satisfazem, de alguma maneira, a forma como o homem observa a si mesmo e ao
mundo que o rodeia.
O aprender se remete a tudo o que é apresentado para o homem desde o seu nascimento,
elaborando toda a organização dos órgãos dos sentidos – visão, audição, tato, paladar
e olfato –, sendo estabelecido dentro da cultura do sujeito. E permeando esse processo
encontra-se a linguagem.
Pode-se perceber, então, que aprender é, antes de tudo, construir-se sujeito dentro de
determinados padrões que são sistematizados pela sociedade onde esse indivíduo se encontra,
isso cria situações que devem ser motivo de reflexão:
7
Unidade: O Aprender
A linguagem tem papel fundamental na equação que define o aprender, afinal, com quais
ferramentas o homem poderia contar se não tivesse uma como essa, que lhe possibilita entrar em
contato com o outro? A linguagem se insere como necessária para a construção do conhecimento
– isso deve ser sempre lembrado quando falamos do aprender, algo a ser discutido e revisto ao
longo de um trabalho onde se discute a aprendizagem.
Partindo desses questionamentos, podemos colocar o que Blonski apresenta em citação
de Vygotsky (2006): “[...] educação é uma ação premeditada, organizada e longa sobre o
desenvolvimento de determinado organismo”. Para o autor, o aprender, o ser educado em
seu sentido mais amplo é algo que não se completa, pois todo organismo se encontra em
desenvolvimento contínuo.
8
É um processo de reciprocidade, já que interativo, permite que a maneira de constituição
desse organismo contribua para a reestruturação desse ambiente, e assim sucessivamente; o
que significa dizer que, ao longo do processo do aprender, há reconstituição e reelaboração dos
conceitos existentes na dinâmica social.
O aprender, então, é a identidade, a vida desse organismo, partindo de sua ontogênese – que
é a capacidade histórica do ser humano, qualquer que seja ele, sua capacidade de reconhecer
e ser reconhecido – até aquilo que podemos chamar de consciência, ou seja, a capacidade de
saber e lidar com o que foi aprendido e reconstruir sempre essa aprendizagem.
A capacidade humana para a aprendizagem se dá dentro de alguns parâmetros que foram
construídos ao longo de milênios de observações e de necessidades que deveriam ser supridas,
desde as mais básicas – a sobrevivência da espécie – até as mais complexas – como o que se
pode chamar de pensamento.
Mas, afinal, o que é pensar? O que é o pensamento? Ele é resultado do aprender ou se
aprende porque se pensa?
O ser humano é um ser múltiplo, complexo e incompleto, pois está sempre em mutação. Ele é
capaz de refletir sobre si mesmo, portanto, em todos os momentos de sua vida, está elaborando
sua aprendizagem. Essa “competência” reflexiva possibilita compreender os processos pelos
quais está passando, formalizando-os, criando conceitos e capacitando os outros depois dele
para essa compreensão.
O que concorre para que isso aconteça? A experiência da observação? A experiência de estar
sempre em contato com o outro e com os modelos instituídos? A capacidade da linguagem? O
aprender formal?
Questões assim levam a algumas poucas constatações: o homem sabe e conhece sobre a sua
existência e tem ferramentas que o levam a compreendê-la cada vez mais, isso faz com que ele
consiga trazer para si sua capacidade de decidir o que fazer com tais ferramentas – sendo que a
principal delas é, pelo menos no que diz respeito ao aprender, a linguagem.
Como dito, graças à linguagem, o homem se torna o ser vivo que se capacita para dar
explicações sobre o mundo e sobre as questões que podem deixá-lo mais confortável, pois,
sabendo daquilo que está ao seu redor, permite-se explicar e modificar o que vai deixá-lo
em uma posição mais satisfatória e adequada; luta inglória em alguns momentos, já que essa
mesma capacidade o torna refém de si mesmo, pois, cada luta que permeia uma constatação
imediatamente gera uma dúvida.
Além de tudo, existe algo que o homem demorou milênios para conhecer um pouco mais: seu
próprio organismo – que é a fonte de toda essa possibilidade de descoberta, como descrito abaixo:
Dê-se uma olhada no espelho. Por baixo de sua beleza elegante agita-se um
Universo oculto de maquinaria em rede. A maquinaria inclui uma sofisticada
armação de ossos interligados, uma rede de músculos com tendões, uma
boa quantidade de fluido especializado e a colaboração de órgãos internos
trabalhando no escuro para manter você vivo. Uma lâmina de material
autocurativo de alta tecnologia que podemos chamar de pele reveste sua
maquinaria numa embalagem agradável (EAGLEMAN, 2012, p. 10).
9
Unidade: O Aprender
O homem percebeu que o que podia comandar a sua capacidade de sobrevivência nesse
mundo inóspito era reconhecer seu organismo como fonte do que poderia fazê-lo continuar, daí
a necessidade de aprender ao longo do tempo observando o mundo e a si mesmo. Como fez
Aristóteles, para o qual a aprendizagem deveria ser sistematizada de alguma forma, pois, assim,
cada homem poderia partir daquilo que já foi estabelecido, o que o possibilitaria descobrir mais
e, assim, sentir-se mais seguro sobre si mesmo.
A partir dessa ideia, começa a necessidade da formalização de todo o conhecimento que vai
sendo adquirido. A aprendizagem começa a ganhar o sentido de escolarização. É o começo da
criação de um modelo onde o aprender possa ser, enfim, generalizado. Pensar nesse processo
de generalização remete a nossas questões iniciais: o que se traduz por aprender? Se isso está
relacionado ao social e ao cultural, como se dá essa generalização? Ela é mesmo possível?
A Linguagem
O homem é uma fábrica que produz pensamentos, como uma roseira produz
rosas e uma macieira, maçãs (D’OLIVET)
10
Sendo assim, a linguagem é condição necessária para que o homem possa não só formalizar
aquilo que foi motivo de observação, mas tornar isso lei, um modelo de conteúdo necessário
para a aprendizagem geral.
Analisando essa questão, levanta-se outro ponto relacionado ao aprender: o conceito de
inteligência. O que pode ser consenso entre aprender, linguagem e inteligência?
Inteligência
O ser humano, na sua ânsia de conhecer e de estabelecer padrões para esse conhecimento,
criou um modelo de respostas que, ao longo do tempo, partindo de suas próprias observações,
chamou de inteligência; definindo-a como a capacidade de superar obstáculos e elaborar
conceitos. Nessa definição, fica claro que todos os homens têm a mesma competência intelectiva,
pois, se assim não fosse, como se colocaria na teoria evolutiva? Existem grupos com diferentes
possibilidades de avaliar o observado, de espécies diferentes, mas só o homem cria modelos.
Quando o homem usa esse atributo, chamado de inteligência, significa que consegue, junto ao
seu grupo cultural, estabelecer os padrões que convenciona chamar de aprendizado. Podemos,
então, afirmar que: aprender, ter ciência de, inteligência e linguagem formam um grupo de elite
que leva ao modelo de generalização, o qual leva, por sua vez, o ser humano a continuar no seu
papel de observador e interventor da realidade.
Partindo da afirmação de Wittgenstein (2003, p. 27): “Pode-se dizer que o significado
ultrapassa a linguagem”, temos que todo o conjunto de observações e possibilidades só tem
significado quando esse elabora um conceito para o sujeito que aprende.
Assista ao filme:
À primeira vista (com Val Kilmer):
Sinopse: Uma pessoa cega na infância, que tem todas as competências
adquiridas no treino de toda uma vida, volta a enxergar e percebe que, como já
tinha estruturado seu mundo sem esse órgão do sentido, sofre com aquilo que não
compreende, um mundo complexo de cores e sons que o deixam perdido. Esse
filme é baseado em uma história real, relatada pelo neurologista Oliver Sacks;
mostrando como a aprendizagem é uma adaptação e uma nova aprendizagem
causa dificuldades para a inserção em um novo contexto.
11
Unidade: O Aprender
Quando o ser humano aprende, está reelaborando e resignificando tudo o que já foi visto e
elaborado em algum momento da história. Aprender não é repetir, mas demonstrar outra forma
de ver o mesmo objeto, mesmo que já tenha sido conceituado anteriormente.
O mais importante da aprendizagem é a capacidade que o ser humano tem de evoluir nessa
elaboração. Sendo mostrado e demonstrado algum conteúdo, cada um tem a competência
de reconstruir esse conceito e, mesmo repetindo, pois há a necessidade da compreensão pelo
outro, o mais importante é que essa aprendizagem se transforma – transformando assim o
mundo todo.
Para que tudo isso aconteça, há mais um personagem nessa história mágica da aprendizagem:
o cérebro.
O Cérebro
Thinkstock/Getty Images
O cérebro é o aparato estrutural e funcional que permite a toda essa elaboração do conhecer
ser possível. Trata de um órgão de um quilo e trezentos gramas que dá “liberdade” para
que o ser humano seja capaz de observar o mundo e organizar essa observação de maneira
compreensível, dando passos qualitativos na história do conhecimento humano.
Elaborando a história do aprender, podemos considerar que toda a maquinaria neural
entra em um funcionamento em plena harmonia, onde cada grupo de células é necessário
para que essa aprendizagem que constitui o conhecimento humano possa existir. Cada ser
que consegue utilizar esse aparato – seja para os atos mais simples de sobrevivência, seja pela
necessidade de elaborar atos complexos de filosofia, física quântica, ou de compreensão mais
organizada de si mesmo – reproduz e aprimora o que toda a humanidade pode ser.
12
O Aprender e a Escola
O que acontece quando juntam-se essas características humanas (o cérebro como aparato
do organismo, a observação, a capacidade adquirida para compreensão do espaço cultural e
social, a linguagem que estrutura essa compreensão, a inteligência, que é a expressão de todas
as etapas anteriores)?
Acontece a formalização do conhecimento, que tem como uma de suas estruturas possíveis
a escola.
A escola é o local da aprendizagem formal. Nela, o ser humano, desde os seus primeiros
anos, tem a possibilidade de, com todas as formas de linguagem, compreender, de acordo com
a sua cultura, o que a ciência considera necessário para o desenvolvimento completo do sujeito.
Como todo tipo de conhecimento, a escola se baseia no modelo que é estabelecido na cultura
do indivíduo, tendo sempre como parâmetro o que acredita ser a base para o aprimoramento
do sujeito em todas as suas formas e tendo como princípios: o domínio da linguagem na sua
modalidade culta, dos conceitos lógico-matemáticos e dos conceitos básicos dessa cultura no
que diz respeito a sua história, geografia, etc.
Para que esse conhecimento formal seja aproveitado da melhor maneira, é importante que o
conceito do aprender seja de domínio de todos aqueles que são atores nessa ação – professores,
coordenadores, orientadores, pais – e que os alunos possam ser “conduzidos” da melhor
maneira, abrindo as portas para que se tornem condutores de suas próprias observações.
A escola tem papel definitivo na elaboração do aprender, pois traz para a criança, ainda sem
experiência no seu mundo cheio de sensações, uma visão que lhe permite observar a realidade
de forma correta e, mais ainda, compreender o mundo e a si mesma. Estar na escola é um
caminho árduo, pois o ser ainda em formação não compreende o esforço necessário para essa
elaboração e ainda não domina as suas potencialidades.
13
Unidade: O Aprender
Em síntese:
• O aprender está relacionado ao que o homem consegue elaborar e compreender
do mundo desde o seu nascimento, de acordo com sua cultura;
• Para que haja aprendizagem, é necessário que todo suporte humano esteja
em pleno funcionamento, a saber: a observação, a linguagem, os modelos;
• A linguagem dá a possibilidade para o homem constituir as observações que
tem através dos órgãos dos sentidos, para com isso compreender o mundo
que a rodeia;
• O cérebro, como organizador desse universo – tanto interno, quanto externo
–, permite a realização de todas as relações necessárias para que esse processo
seja possível;
• A escola é a forma mais adequada, na cultura, para a criança reelaborar as
impressões que tem sobre o mundo e constituir-se, organizando aquilo que é
próprio de si e do outro.
14
Material Complementar
Para complementar o assunto que estamos discutindo, vamos deixar tudo isso mais interessante?
Livros Sugeridos:
DAMÁSIO, Antonio. E o cérebro criou o Homem. São Paulo: Companhia das
Letras, 2013.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida – uma nova compreensão científica dos
sistemas vivos. São Paulo: Cultrix; Amana Key, 1996.
Veja esses textos você verá a educação sob outro prisma: tente!
Filmes Sugeridos:
Ao Mestre com carinho
O filme mostra como um professor que está em uma situação, totalmente adversa,
pode lidar com alunos que não tem interesse de aprender
Acesse o link pelo Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=2U-nM8Tp78Q
15
Unidade: O Aprender
Referências
EAGLEMAN, David. Incógnito. As vidas secretas do cérebro. Rio de Janeiro: Rocco, 2012
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001
PENROSE, Roger. O grande, o pequeno e a mente humana. São Paulo: Editora Unesp/
Cambridge University Press, 1997.
SEARLE, John. O mistério da consciência. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1998.
16
Anotações
17