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DESENVOLVIMENTO

COGNITIVO

Desenvolvimento Cognitivo

O que é Desenvolvimento Cognitivo?

Discorrer sobre um assunto tão mencionado na área de Neuropsicologia e Desenvolvimento Infantil


não é algo tão simples quanto parece. Para nós pesquisadores, novas descobertas estão
apressadamente surgindo e forçando-nos a atualizar nossos conhecimentos acerca de questões tão
importantes para a compreensão do cérebro humano. Por essa razão, tentarei ser breve e farei
grande esforço para deixar o texto claro e sem muitas dúvidas ao leitor.

Falar sobre desenvolvimento cognitivo implica antes de tudo, falar sobre cognição. A definição de
cognição até hoje não é tão clara quanto deveria, afinal, “qualquer coisa” que esteja relacionada ao
cérebro é chamado de cognição. No entanto, é importante dar nome aos bois antes de falarmos
deles.

Uma definição breve e objetiva do termo é:

“Cognição refere-se a um conjunto de habilidades cerebrais/mentais necessárias para a obtenção


de conhecimento sobre o mundo. Tais habilidades envolvem pensamento, raciocínio, abstração,
linguagem, memória, atenção, criatividade, capacidade de resolução de problemas, entre outras
funções.”

O conceito de cognição, portanto, nos remete aos processos cognitivos que são desenvolvidos desde
a mais tenra infância até os findos anos do envelhecimento. Importante notar que o desenvolvimento
está diretamente relacionado à aprendizagem, ou seja, um não ocorre sem o outro. Este processo
acontece em espiral crescente nos dando a noção de avanços no desenvolvimento em contínuo
crescimento:

[DESENVOLVIMENTO –> ADAPTAÇÃO –> APRENDIZAGEM]

Agora sim, podemos falar de desenvolvimento cognitivo que pode ser entendido como:

“Um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo ao longo da vida”.

Adquirir conhecimento sobre o mundo ao longo da vida equivale a dizer que estamos sujeitos
a adaptação ao meio praticamente o tempo todo. Assim, não é errado dizer que em condições
normais, estamos nos desenvolvendo cognitivamente todos os dias enquanto vivermos.

Entrando em terrenos mais remotos, Jean Piaget foi um dos primeiros estudiosos preocupado em
estudar as fases do desenvolvimento cognitivo infantil. Seu interesse estava voltado para a
investigação de quais habilidades estavam vinculadas em cada estágio do desenvolvimento. Para
determinar essas fases, seus estudos duraram décadas e seus sujeitos de pesquisa foram seus
próprios filhos.

Em suma, o interesse de Piaget estava voltado para o estudo de como os organismos se adaptam ao
meio, sendo esta adaptação dependente de um “cérebro maduro”. Ou seja, era preciso que o
cérebro estivesse pronto, desenvolvido o suficiente para responder às demandas do meio de forma
inteligente.

Embora Piaget tenha sido reconhecido pelo seu trabalho, foi também muito criticado por
interpretações mal elaboradas de sua teoria. Atualmente temos concepções teóricas mais recentes
que complementaram suas ideias e outras que tomaram uma posição mais contrária. Inclusive, uma
delas compreende que o desenvolvimento cognitivo não ocorre em fases progressivas, como se B só
pudesse ser desenvolvido se A já o estivesse antes.

Essa abordagem mais recente, que pode ser denominada de “Revolução Biológica” considera que,
nós humanos nascemos com mais capacidades inatas do que se acreditava no início. Um exemplo
que pode ilustrar essa ideia é a do famoso músico Mozart, que aos 4 anos de idade, já era capaz de
dominar em 30 minutos sua primeira composição musical. É claro que Mozart foi uma criança-
prodígio que aprendia a uma velocidade galopante as composições musicais. No entanto, não
podemos desconsiderar essas novas concepções, que hoje têm se dedicado ao estudo da percepção
e das habilidades motoras em bebês na tentativa de compreender o funcionamento da mente.

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Bem, sem tomar qualquer postura defensiva de um lado ou de outro, o intuito deste post foi o de
torná-lo um terreno fértil para uma pergunta fundamental (pelo menos para mim): qual seria a
principal questão a ser respondida pelo estudo do desenvolvimento cognitivo?

Arriscaria dizer que os especialistas da área de desenvolvimento cognitivo infantil estão


principalmente preocupados com a forma em como os processos relacionados a cognição vão
se estruturando em etapas específicas do desenvolvimento. Entretanto, falar sobre cada uma delas
dará muito pano para manga.

Aprendizagem é toda mudança de comportamento em resposta a experiências anteriores porque


envolve o sujeito como um todo, considerando todos os seus aspectos, sendo eles psicológicos,
biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiver em desequilíbrio haverá a dificuldade de
aprendizagem.

Segundo Piaget (1973) , a aprendizagem só se dá com a desordem e ordem daquilo que já existe
dentro de cada sujeito. É necessário obter contato com o difícil, com o incomodo para desestruturar o
já existente e em seguida estruturá-lo novamente, com a pesquisa e também motivações tanto
intrínseca como extrínseca para obter a aprendizagem, ressaltando que a motivação intrínseca é
mais importante porque o sujeito tem que estar interessado em aprender, sendo que a junção dos
dois (intrínseca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor aprendizagem do sujeito.

O processo do conhecimento se dá na interação entre sujeito e objeto, esta interação Piaget (1973)
chama de assimilação e acomodação.

Assimilação para Piaget (1973) é “(...) uma integração a estruturas prévias, que podem permanecer
invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade
com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova
situação”. Simplificando, o processo de assimilação é a articulação das idéias já existentes com as
que estão sendo aprendidas de forma que adapta o novo conhecimento com as estruturas cognitivas
existentes.

Acomodação é toda mudança de comportamento, alteração do sujeito, este só acontece quando o


sujeito se transforma, amplia ou muda os seus esquemas. Esquema é a estrutura da ação, ou seja,
nós vamos integrando uma determinada coisa com outra coisa que já entramos em contato
anteriormente, assim vamos articulando o já conhecido com o que está sendo apresentado, mudando
ou ampliando o esquema já existente.

Não há assimilação sem acomodação e vice-versa, mas pode acontecer o predomínio de uma ou de
outra, para ocorrer este processo é preciso que o sujeito tenha situações problemas que desafiem
sua inteligência.

Para Piaget (1973) o desenvolvimento cognitivo é dividido em quatro estágios. O estágio Sensório
motor vai aproximadamente entre 0 à 24 meses. Aqui a criança vai percebendo aos pouco o seu meio
e age sobre ele, o bebê age puramente através de reflexos, com o tempo ele percebe que certos
movimentos e atitudes movem o seu externo, por exemplo, o choro, ela percebe que ao chorar vai vir
alguém acudi-la, neste período há várias assimilações e acomodações que criam esquemas de ação.
Há algumas características neste estágio: a primeira é o reflexo, na qual ela não se diferencia do
mundo exterior; a segunda são as primeiras diferenciações, existe uma coordenação entre mão e
boca, uma diferenciação entre pegar e sugar, surgem os primeiros sentimentos como a alegria, a
tristeza, o prazer e desprazer, que estão ligados a ação; a terceira é a reprodução de eventos
interessantes; a quarta é a coordenação de esquemas, ou seja, ela começa a usar um esquema em
outras coisas para ver se obtém o mesmo resultado, por exemplo, a criança balança um chocalho e
vê que aquilo faz barulho, ao pegar outro objeto ela vai balançar para ver se aquilo também fará
barulho; a quinta é a experimentação, invenção de novos meios, a criança passa a inventar novos
comportamentos, ações a partir da tentativa e erro, consegue a inteligência quando consegue
solucionar problemas; a sexta é a representação, ela começa a ter um sentimento de escolha, o que
quer ou não fazer.

O estágio Pré – operatório vai aproximadamente entre 2 à 6 anos. Aqui a criança possui uma
capacidade simbólica, uso de símbolos mentais como a linguagem e imagens, nesta fase há uma
explosão da lingüística, algumas características deste estágio são: primeira – a imitação diferida ou
imitação de objetos distantes; segunda – jogo simbólico é também imitativo, a criança não se

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preocupa se o outro irá entendê-la, ela se preocupa com o seu entendimento, é uma forma de se
auto-expressar; terceira – desenho, é a sua forma de deixar uma marca, ela desenha o que quer,
sendo ou não real; quarta – imagem mental, as imagens são estáticas, são imagens que representa o
interno, algo que já foi passado; quinta – linguagem falada, a criança começa a falar uma palavra
como se fosse uma frase, aos pouco ela vai aumentando o seu repertório vocábulo.

Neste estágio há também as características do pensamento infantil, que são: egocentrismo – é a


incapacidade de se colocar no ponto de vista do outro (por volta dos 4 ou 5 anos), a criança acha que
todo mundo pensa como ela, então ela não questiona ninguém, por volta dos 6 ou 7 anos ela começa
a ceder as pressões das pessoas que vivem a seu redor, ela começa a se questionar porque gera um
conflito, assim ela começa a perceber que cada um pensa de um jeito; raciocínio transformacional – é
a incapacidade para raciocinar com sucesso sobre transformações, a criança não focaliza a
transformação; centração – a criança centra alguma coisa limitadamente, não a vê como um todo, ela
é incapaz de explorar todos os aspectos, ela leva em consideração a percepção e não o raciocínio.
Após os 6 ou 7 anos o pensamento da criança toma uma posição apropriada.

O estágio Operatório concreto vai aproximadamente entre 7 à 11anos. Aqui a criança desenvolve
processos de pensamento lógico, não apresenta dificuldades na solução de problemas de
conservação e apresenta argumentos corretos para suas respostas, a criança descentra suas
percepções e acompanha as transformações, ela também começa a ser mais social saindo da sua
fase egocêntrica ao fazer o uso da linguagem, a fala é usada com a intenção de se comunicar, ela
percebe que as pessoas podem pensar e chegar a diferentes conclusões, sendo elas diferentes das
suas, ela interage mais com as pessoas, quando aparece um conflito ela usa o raciocínio para
resolver.

As operações lógicas é a ocorrência mais importante neste estágio porque as ações cognitivas
internalizadas permitem que a criança chegue a conclusões lógicas, sendo elas controladas pela
atividade cognitiva e não mais pela percepção e construídas a partir das estruturas anteriores como
uma função de assimilação e acomodação.

O estágio do Pensamento formal acontece após os 12 anos, a criança ou adolescente começa ter um
pensamento hipotético – dedutivo, ou seja, começa a levantar hipóteses e deduzir conclusões. O
adolescente usa esquemas aprendidos dos estágios anteriores para fortalecer as hipóteses deste
estágio, assim ele vai aprimorando cada vez mais os estágios anteriores. Deste estágio em diante o
que ocorre é o aperfeiçoamento dos estágios passados.

Para Pain (1985), o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura,


que constitui a definição mais ampla da palavra educação, atribuindo quatro funções
interdependentes:

a) Função mantenedora da educação: garante a continuidade da espécie humana por meio da


aprendizagem de normas que regem a ação.

b) Função socializadora da educação: através da linguagem, do habitat transforma o indivíduo em


sujeito social.

c) Função repressora da educação: um instrumento de controle que tem por objetivo conservar.

d) Função transformadora da educação: transforma o sujeito, de formas peculiares de expressão


revolucionária a partir de mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições do
sistema.

Na tentativa de uma definição da patologia da aprendizagem, ela a define como um sintoma, no


sentido de que o não - aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa em uma
constelação peculiar de comportamentos, assim, o seu diagnóstico está constituído pelo seu
significado.

A aprendizagem possui dois tipos de condições: as externas, na qual é comum a criança com
problema de aprendizagem apresentar algum déficit real do meio devido a confusão dos estímulos, a
falta de ritmo ou a velocidade com que são brindados ou a pobreza ou carência dos mesmos e, em
seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante um material discriminado com clareza, fácil
de manipular, diretamente associado à instrução de trabalho e de acordo com um ritmo apropriado

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para cada aquisição e as internas que estão ligadas a três aspectos: o corpo como organismo que
favorece ou atrasa os processos cognitivos, sendo mediador da ação; a cognição, ou seja, à
presença de estruturas capazes de organizar os estímulos do conhecimento; condições internas que
estão ligadas à dinâmica de comportamento.

A aprendizagem será cada vez mais rápida quando o sujeito sentir a necessidade e urgência na
compreensão daquilo que está sendo apresentado.

Segundo Fernández (2001), é importante levar em consideração as estruturas cognitivas e a


estrutura desejante do sujeito, porque um depende do outro, é necessário que o sujeito tenha desejo,
pois este impulsiona o sujeito a querer aprender e este querer faz com que o sujeito tenha uma
relação com o objeto de conhecimento. Para ter essa relação o sujeito precisa ter uma organização
lógica, que depende dos fatores cognitivos. No lado do objeto de conhecimento ocorre a significação
simbólica que depende dos fatores emocionais. Todo sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem
e os seus meios de construir o próprio conhecimento, e isto depende de cada um para construir o seu
saber.

O sujeito constrói esse saber a partir do momento que ele tem uma relação com o conhecimento,
com quem oferece e com a sua história. Para que o conhecimento seja assimilado, é preciso que o
sujeito seja ativo, transforme e incorpore o seu saber, esquecendo de conhecimentos prévios que já
não servem mais, é importante também que o ensinante dê significado para este novo conhecimento,
despertando o desejo de querer saber do aprendente. O modo como uma pessoa relaciona-se com o
conhecimento se repete e muda ao longo de sua vida nas diferentes áreas.

O conhecimento acontece quando alguns esquemas operaram e utilizam diferentes situações de


aprendizagem, é um molde relacional e móvel que se transforma com o uso, é a organização do
conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e pré-conscientes) da ordem da significação, da
lógica, da simbólica, da corporeidade e da estética, tal organização ocorre espontaneamente, isto se
chama modalidade de aprendizagem, segundo Fernández, sendo que o problema de aprendizagem
ocorre quando essa modalidade se enrijece, congela.

Cada pessoa tem uma modalidade singular de aprendizagem, que se organiza a partir dos ensinante
(família e escola), considerando a criança como um ser aprendente e que tem capacidade para
pensar; do espaço saudável, ou seja, onde seja possível fazer perguntas; das experiências vividas
com satisfação em relação ao aprender; do reconhecimento de si mesmo como autor; dos espaços
objetivos e subjetivos, onde o jogar seja aceito; de uma possível relação com sujeitos da mesma
idade; do modo de circulação do conhecimento nos grupos de pertencimento: família, escola,
contexto comunitário

É importante ressaltar que o sujeito é sempre ativo, é autor do seu conhecimento, ele constrói sua
modalidade de aprendizagem e a sua inteligência que marcará uma forma particular de relacionar-se,
buscar e construir conhecimentos, um posicionamento de sujeito diante de si mesmo como autor de
seu pensamento.

O aprender significa também “perder” algo velho, mas utilizando-o para construir o novo, é o
reconhecimento da passagem do tempo, do processo construtivo, o qual remete necessariamente, à
autoria. Aprender é historiar-se, pois, sem esse sujeito ativo e autor que significa o mundo,
aprendizagem será apenas uma tentativa de cópia.

Para aprender precisamos entender e analisar a relação entre futuro e passado, assim entenderemos
todo o processo de aprendizagem, ou seja, o sujeito tem que ser biógrafo de sua história.

Concluímos que a aprendizagem é uma mudança de comportamento, assimilações e informações


nas quais o sentido de aprender não é impor barreiras e limites para a criatividade e disponibilidade
de cada ser. O desenvolvimento de uma boa aprendizagem é a integração de aspectos: afetivo,
físico, emocional, social e intelectual do aprendiz, ocasionando uma motivação interna e construindo
o conhecimento a todo o momento.

A aventura de conhecer o desenvolvimento cognitivo infantil através dos olhos de Piaget

Os estágios do desenvolvimento cognitivo infantil

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Muitos psicólogos pensavam que o desenvolvimento era dado por um fenômeno cumulativo, onde se
vão gerando novas condutas e processos cognitivos. No entanto, Piaget, depois de seus estudos,
formulou uma teoria do desenvolvimento baseada em saltos qualitativos, onde a criança iria
acumulando capacidades, mas, mais cedo ou mais tarde, essa acumulação mudaria seu modo de
pensar de forma qualitativa.

Piaget dividiu esse desenvolvimento cognitivo infantil em três estágios com uma série de subestágios,
e mais tarde acabou por ampliar para quatro. Esses quatro estágios são: (a) estágio sensório-motor,
(b) estágio pré-operatório, (c) estágio de operações concretas e (d) estágio de operações formais.

Período sensório-motor

Este estágio é anterior ao aparecimento da linguagem e se estende desde o nascimento até os dois
anos, aproximadamente. Este período é caracterizado pela capacidade de reflexão da criança. A
vida dela neste período se baseia em relacionar sua capacidade perceptiva com a motora. Em sua
mente existem unicamente conceitos práticos, como saber o que fazer para comer ou para chamar a
atenção de sua mãe.

Pouco a pouco, ao longo deste período, a criança vai generalizando os eventos de seu entorno e vai
criando esquemas de como o mundo funciona. Devido à interseção dos esquemas, o bebê
desenvolve a permanência do objeto, entende que os objetos existem como entidades alheias a ele.
Antes de implementar essa ideia em seus esquemas, se a criança não pode ver, ouvir e tocar um
objeto, ele ou ela pensaria que não existe.

O final desta etapa é marcado pelo aparecimento da linguagem. A linguagem significa uma
mudança profunda nas capacidades cognitivas da criança. Normalmente ela vem acompanhada pela
função semiótica: a capacidade de representação dos conceitos através do pensamento. A criança
deixaria de ter uma mente puramente prática para passar a ter uma mente que age também a nível
representativo.

Estágio pré-operatório

Esta etapa pode ser localizada entre os dois anos e os sete. Aqui estamos em um período de
transição em que a criança começa a trabalhar com sua capacidade semiótica. Apesar de já ter
alcançado um nível de representação, sua mente ainda difere bastante da de um adulto. Aqui nos
encontramos com um pensamento “egocêntrico”.

A criança é “egocêntrica” porque seu pensamento está totalmente centrado em si mesma. Ela é
incapaz de distinguir o físico do psíquico, e o objetivo do subjetivo. Para ela, sua vivência subjetiva é
a realidade objetiva que existe da mesma forma para todos os indivíduos; isto nos mostra uma falta
da teoria da mente. A partir dos quatro anos a criança começaria a abandonar esse egocentrismo
para desenvolver a teoria da mente.

Neste estágio também vemos problemas na criança para entender que o universo é mutante. Ela
é capaz de entender estados, mas não a transformação da matéria. Um exemplo é quando
ensinamos a uma criança que está nesse estágio que temos um copo cheio de água e depois
trocamos a água para um copo mais estreito, mas mais alto. A criança pensará que há mais água do
que antes: ela é incapaz de entender que transformar algo não muda a quantidade de matéria
existente.

Estágio de operações concretas

Este período se estende entre os sete anos e os 11 ou 12. Nesta etapa a criança já conseguiu
abandonar a confiança plena que tinha nos sentidos. Aqui podemos ver o desenvolvimento de uma
série de conceitos, como que as transformações de forma não alteram a quantidade de matéria.

A criança começa a construir uma lógica de classes e relações alheia aos dados
perceptivos. Ela entende as transformações e será capaz de compreender que podem ocorrer em
sentido inverso (adicionar em vez de tirar, por exemplo). E um aspecto importante é que a criança
será capaz de realizar estas operações ao representá-las em sua mente, sem ter que realizá-las com
objetos presentes.

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Embora controle operações e lógica, a criança nesta idade só pode realizá-las com objetos
específicos que sabe como se comportam. Ela é incapaz de teorizar sobre o que não conhece ou
sai do seu conhecimento perceptivo. Essa capacidade será alcançada na próxima etapa.

Estágio de operações formais

Este é o último estágio do desenvolvimento em que a criança se transformará em um adulto a nível


cognitivo. Este estágio é caracterizado pela aquisição do pensamento científico. A criança, além
de poder raciocinar sobre o real, também pode raciocinar sobre o que é possível.

Este período é caracterizado pela capacidade de analisar hipóteses e de examinar as possíveis


consequências dessas possibilidades hipotéticas. A criança aperfeiçoou muito seus
procedimentos de teste e não aceita opiniões sem as examinar.

A partir deste momento, a criança começará a adquirir novos conhecimentos e instrumentos


intelectuais. Estes permitirão que ela se desenvolva como um adulto competente dentro da
sociedade. No entanto, a partir deste momento ela já não sofrerá nenhum outro salto qualitativo: ela
poderá ser mais rápida ou mais precisa na hora de suas operações mentais, mas irá pensar da
mesma forma.

Desenvolvimento Infantil e Desenvolvimento Cognitivo

O desenvolvimento de uma criança pode e deve ser medido e acompanhado normalmente como uma
das estratégias de prevenção de saúde, tanto na infância quanto na adolescência. Podemos verificá-
lo em vários eixos: motor, linguagem, social, afetivo, adaptativo e também cognitivo. A divergência
entre eles ou atrasos observados em um ou mais destes eixos, devem chamar a atenção e direcionar
a criança para medidas de intervenção precoce.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) tem, de forma reiterada, alertado a comunidade


internacional no sentido de vigiar precocemente atrasos e distúrbios de desenvolvimento infantil. Tais
anormalidades estão associadas ao risco elevado da criança evoluir para transtornos psiquiátricos,
transtornos de desenvolvimento e problemas de aprendizagem infantil, podendo desaguar
futuramente em contextos que podem desestabilizar relações familiares, reduzir engajamento escolar,
expor a criança a riscos sociais e fracassos individuais nos mais diversos momentos de sua vida.

A identificação precoce de sinais que podem sugerir problemas no desenvolvimento da criança abre
espaço para remediações e correções interventivas, as quais vão induzir a construção de
competências que outrora não se cristalizariam sem a devida estimulação. Neste contexto, o
desenvolvimento cognitivo tem importante destaque.

Cognição significa processar informações com a finalidade de perceber, integrar, compreender e


responder adequadamente aos estímulos do ambiente, levando o indivíduo a pensar e avaliar como
cumprir uma tarefa ou uma atividade social. Para processar, é necessário o envolvimento de várias
regiões cerebrais, as quais são sede de determinadas funções que, em conjunto, expressam uma
habilidade específica. Estas regiões devem estar íntegras, maduras de acordo com a idade e se
interconectarem adequadamente para que haja uma boa resposta do cérebro aos estímulos do
ambiente e, por extensão, a concretização da aprendizagem e evolução adaptativa para novas
aprendizagens.

Assim, é muito importante que se propicie à criança a devida oportunidade de desenvolver todos os
requisitos importantes para sua cognição, prevenindo fatores médicos e ambientais que venham a
alterar a estrutura ou o funcionamento cerebral. O desenvolvimento cognitivo depende do
envolvimento de várias outras funções e a boa desenvoltura de outras funções que o alicerçam como
a linguagem, a coordenação motora e suporte afetivo-emocional. Viver em um ambiente saudável
tanto do ponto de vista biológico quanto afetivo é muito importante. Disponibilizar materiais e espaços
para fazer com que a criança se aproprie de estímulos que proporcionem avanços cognitivos, é
primordial. Observar como a criança reage e como ela vem adquirindo ou não habilidades ao ser
estimulada, permite avaliar com vão suas competências e, ao mesmo tempo, se pode ter ou não
algum transtorno que vem impedindo seu pleno desenvolvimento.

Em caso de atrasos ou de sinais de lesão neurológica ou de disfunção comportamental, pode-se,


muito cedo, intervir e observar a resposta. Estas medidas permitem vencer obstáculos antes que a

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criança chegue à escola onde se espera que tudo esteja em ordem no seu desenvolvimento
cognitivo, onde será muito mais exigida a maturação de suas competências.

A leitura e a escrita, por exemplo, são competências que começam a ser formadas no cérebro desde
muito cedo ao serem estimulados pré-requisitos cognitivos primordiais, como a espacialidade e a
consciência fonológica. Durante a infância, eles precisam ser observados e promovidos na criança e
a maturação dos mesmos deve atingir o que se espera para a idade da criança, antes de iniciar sua
alfabetização.

Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget

Seria difícil superestimar a importância do psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) para a pesquisa
do desenvolvimento. A teoria do desenvolvimento cognitivo geralmente considerada como a mais
compreensiva é a dele. Embora certos aspectos da teoria de Piaget tenham sido questionados e, em
alguns casos, refutados, sua influência é imensa. Na verdade, a contribuição de sua teoria, como a
de outros, é mostrada mais pela sua influência em teorias e em pesquisas posteriores do que por sua
exatidão máxima.

Jean Piaget aprendeu muito sobre como as crianças pensam, observando várias delas e prestando
muita atenção ao que parecia ser erro no raciocínio das mesmas.

Piaget ingressou, pela primeira vez, no campo do desenvolvimento cognitivo quando, enquanto
trabalhava como estudante já graduado no laboratório psicométrico de Alfred Binet, ficou intrigado
com as respostas erradas das crianças aos itens do teste de inteligência. Para entender a
inteligência, raciocinava Piaget, a investigação deve ser dupla: (1) observar o desempenho de uma
pessoa e (2) considerar também por que esta pessoa assim desempenhava, incluindo os tipos de
pensamento subjacentes às ações da mesma. O raciocínio de Piaget seguia o de seu mentor Binet
na primeira cláusula, mas não na segunda. Particularmente, Piaget raciocinava que os pesquisadores
podiam aprender tanto sobre o desenvolvimento intelectual das crianças, a partir do exame de suas
respostas incorretas aos itens dos testes, quanto sobre o exame de suas respostas corretas.

Pelas suas reiteradas observações de crianças, inclusive de seus próprios filhos, e especialmente
mediante investigação de seus erros de raciocínio, ele concluiu que sistemas lógicos coerentes
fundamentam o pensamento das crianças. Tais sistemas, acreditava ele, diferem em espécie dos
sistemas lógicos que os adultos usam. Se vamos entender o desenvolvimento, devemos identificar
esses sistemas e suas características diferenciais. Nas seções a seguir, primeiro consideramos
alguns dos princípios gerais de Piaget sobre o desenvolvimento e, depois, observamos os estágios
de desenvolvimento que ele propôs.

Princípios gerais da Teoria do Desenvolvimento de Piaget

Piaget acreditava que a função da inteligência é auxiliar a adaptação ao ambiente. Em sua


concepção, os meios de adaptação formam um continuum que varia de meios relativamente
inteligentes, tais como hábitos e reflexos, a meios relativamente inteligentes, tais como os que
exigem insight, representação mental complexa e a manipulação mental de símbolos. De acordo com
seu foco na adaptação, acreditava que o desenvolvimento cognitivo acompanhava-se de respostas
cada vez mais complexas ao ambiente. A seguir, Piaget propôs que, com a crescente aprendizagem
e maturação, tanto a inteligência quanto suas manifestações tornam-se diferenciadas – mais
altamente especializadas em vários domínios.

Embora Piaget usasse a técnica de pesquisa da observação, grande parte de sua pesquisa era
também uma exploração lógica e filosófica de como o conhecimento se desenvolve, desde formas
primitivas até sofisticadas, acreditava que o desenvolvimento ocorre em estágios que evoluem
pela equilibração, na qual as crianças procuram um balanço (equilíbrio) entre o que encontram em
seus ambientes e as estruturas e os processos cognitivos que levam a esse encontro, bem como
entre as próprias capacidades cognitivas. A equilibração envolve três processos. Em algumas
situações, o modo de pensamento e os esquemas (estruturas mentais) existentes na criança são
adequados para enfrentar e adaptar-se aos desafios do ambiente; ela está, assim, em um estado de
equilíbrio. Por exemplo, suponhamos que Arthur, de 2 anos de idade, usa a palavra au-au para
abarcar todos os animais peludos quadrúpedes que se assemelham ao seu próprio cachorro;
enquanto todos os animais quadrúpedes que ele vê forem como os cachorros que já viu, Arthur
permanece em um estado de equilíbrio.

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Em outras ocasiões, entretanto, a criança é presenteada com informação que não se adapta aos
seus esquemas existentes, de modo que surge o desequilíbrio quando os esquemas existentes na
criança são inadequados para os novos desafios que a mesma enfrenta. Ela, consequentemente,
tenta restaurar o equilíbrio pela assimilação – incorporação da nova informação aos esquemas
existentes na criança. Por exemplo, suponhamos que o cachorro de Arthur é um grande labrador e
que Arthur vai ao parque e vê um poodle, um cocker spainel e um cão-esquimó. Ele tem de assimilar
a nova informação em seus esquemas existentes para au-aus – nenhuma grande coisa.

Suponhamos, entretanto, que Arthur também visita um pequeno zoológico e vê um lobo, um urso, um
leão, uma zebra e um camelo. Ao ver cada novo animal, ele parece perplexo e pergunta à sua mãe:
“Au-au?” A cada vez, sua mãe diz: !Não, este animal não é um cachorro. Este animal é um
[nomeia o animal]”. Ele não pode assimilar esse animais diferentes em seu esquema existente
para au-aus; em vez disso, ele tem de modificar, de algum modo, seus esquemas a fim de considerar
a nova informação, criando, talvez um esquema abrangente para animais, ao qual ele adapta seu
esquema existente para cachorros. Piaget sugeria que Arthur modificasse os seus esquemas
existentes pela acomodação – mudança dos esquemas existentes para adaptá-los à nova informação
relevante sobre o ambiente. Em conjunto, os processos de assimilação e de acomodação resultam
num nível mais sofisticado de pensamento do que era possível previamente. Além disso, esses
processos resultam no restabelecimento do equilíbrio, oferecendo, desse modo, à pessoa – tal como
Arthur – níveis superiores de adaptabilidade.

Estágios de desenvolvimento de Piaget

Segundo Piaget, os processos equilibradores da assimilação e da acomodação são responsáveis por


todas as mudanças associadas ao desenvolvimento por todas as mudanças associadas ao
desenvolvimento cognitivo. Na sua concepção, é mais provável que o desequilíbrio ocorra durante os
períodos de transição entre estágios. Isto é, apesar de Piaget ter postulado que os processos
equilibradores continuam por toda infância, à medida que as crianças adaptam-se continuamente ao
seu ambiente, ele também considerou que o desenvolvimento envolve estágios distintos,
descontínuos. Particularmente, Piaget dividiu o desenvolvimento cognitivo nos quatro estágios
principais resumidos aqui: os estágios sensório-motor, pré-operatório, operatório
concreto e operatório formal.

O Estágio Sensório-Motor

O primeiro estágio de desenvolvimento, o estágio sensório-motor, envolve aumentos no número e na


complexidade de capacidades sensoriais (input) e motoras (output) durante a infância –
aproximadamente do nascimento a cerca de 18-24 meses de idade -. Segundo Piaget, as primeiras
adaptações do bebê são reflexivas. Gradualmente, os bebês obtêm controle consciente e intencional
sobre suas ações motoras. A princípio, eles agem assim para manter ou repetir sensações
interessantes. Mais tarde, entretanto, exploram ativamente seu mundo físico e buscam com afinco
novas e interessantes sensações.

Ao longo das primeiras fases do desenvolvimento cognitivo sensório-motor, a cognição infantil parece
focalizar-se apenas no que eles podem perceber imediatamente, pelos seus sentidos. Os bebês nada
concebem que não lhes seja imediatamente perceptível. De acordo com Piaget, eles não têm um
senso de permanência do objeto, pela qual os objetos continuam a existir, mesmo quando
imperceptível aos bebês. Por exemplo, antes de aproximadamente 9 meses de idade, os que
observam um objeto quando está sendo escondido de sua vista não o procurarão, uma vez
escondido. Se um bebê de 4 meses de idade estivesse observando você esconder um chocalho
debaixo de um cobertor, esse bebê não tentaria encontrar o chocalho sob o cobertor, enquanto um de
9 meses tentaria.

Um bebê mais novo e um mais velho respondem diferentemente à demonstração da permanência do


objeto, de esconder um objeto debaixo de um cobertor ou atrás de um anteparo. Enquanto o bebê
mais velho procura, o mais novo, aqui apresentado, desvia o olhar tão logo o objeto desaparece de
sua vista.

Embora pesquisas subsequentes tenham posto em dúvida algumas de suas interpretações quanto à
permanência do objeto, parece que os bebês não têm o mesmo conceito com relação à permanência
de objetos que os adultos têm.

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COGNITIVO

A posse de um senso de permanência do objeto exige alguma representação mental interna de um


objeto mesmo quando este não é visto, ouvido ou, de outra forma, percebido. As respostas do
pequeno bebê não exigem uma concepção de permanência do objeto ou de quaisquer outras
representações mentais internas de objetos ou de ações. Seus pensamentos estão concentrados
apenas em percepções sensoriais e comportamentos motores. No fim do período sensório-motor (18-
24 meses de idade), as crianças começaram a mostrar sinais de pensamento representativo –
representações internas de estímulos externos. Nessa transição para o estágio pré-operatório, a
criança começa a ser capaz de pensar sobre pessoas e objetos que não são necessariamente
perceptíveis naquele momento.

Piaget acreditava que o padrão de capacidade progressiva para formar representações mentais
internas continua ao longo da infância. Outro padrão característico do desenvolvimento cognitivo
envolve a passagem progressiva das crianças de um foco sobre si próprias a um interesse nos
outros. Isso é, à medida que ficam mais velhas, elas se tornam menos egocêntricas – menos
concentradas em si próprias. Observe-se que o egocentrismo é uma característica cognitiva, não um
traço de personalidade. Por exemplo, as primeiras adaptações que ocorrem durante a infância
referem-se todas ao próprio corpo do bebê (por exemplo, os reflexos de sucção podem ser adaptados
para abranger a sucção de um polegar ou de um dedo do pé). As adaptações posteriores, entretanto,
envolvem também objetos do ambiente externo ao corpo do bebê. Similarmente, as primeiras
representações mentais envolvem apenas a criança, mas as subsequentes abrangem também outros
objetos. Piaget considerava essa tendência inicial indicativa de uma tendência mais ampla para as
crianças de todas as idades tornarem-se progressivamente conscientes do mundo externo e de como
os outros podem perceber esse mundo.

O Estágio Pré-Operatório

No estágio pré-operatório, da idade aproximada de 1 1/2 ou 2 anos a cerca de 6 ou 7 anos, a criança


começa a desenvolver ativamente as representações mentais internas, que se iniciaram no fim do
estágio sensório-motor. Segundo Piaget, o aparecimento do pensamento representativo, durante o
estágio pré-operatório, abre o caminho para o desenvolvimento subsequente do pensamento lógico,
durante o estágio de operações concretas. Com o pensamento representativo, chega a comunicação
verbal. Entretanto a comunicação é amplamente egocêntrica. Uma conversação pode parecer sem
qualquer coerência. A criança diz o está em sua mente, sem considerar muito o que outra pessoa
disse. À medida que as crianças se desenvolvem, no entanto, levam cada vez mais em consideração
o que os outros disseram, quando criam seus próprios comentários e respostas.

A capacidade para manipular os símbolos verbais para objetos e ações – ainda que
egocentricamente – acompanha a capacidade para manipular conceitos, e o estágio pré-operatório
caracteriza-se por acréscimo no desenvolvimento conceitual. Todavia, a capacidade infantil para
manipular conceitos ainda é bastante limitada durante este estágio. Por exemplo, durante esta fase
as crianças exibem centração – uma tendência para focalizar somente um aspecto especialmente
observável de um objeto ou uma situação complicada. Piaget fez uma série de experimentos que
mostravam a centração das crianças. Ele representava a elas dois exemplares de trens em dois
trilhos paralelos diferentes, conforme é mostrado na figura abaixo. Usava horários distintos de partida
e de parada para cada trem e fazia-os seguirem seus trajetos em velocidades diferentes. Então
entabulava perguntas sobre quem viajava mais lenta ou mais rapidamente.

Centração: Um único trem no pensamento. Apesar de Jean Piaget mostrar às crianças que os trens
partiam em diferentes horários e deslocavam-se com diferentes velocidades, elas não consideravam
tais variáveis, pois não podiam descentrar-se da única dimensão que um trem se deslocara de uma
distância maior do que o outro.

Descobriu que as crianças com 4 a 5 anos de idade tendiam a concentrar-se em uma única
dimensão, geralmente o ponto no qual os trens paravam. Especificamente, tais crianças diriam que o
trem que percorrera maior distância nos trilhos também se deslocara mais rapidamente e por mais
tempo, sem levar em conta o momento em que os trens tinham começado ou parado. Assim, no
estágio pré-operatório, elas concentram-se em uma dimensão particular de um problema – tal como a
posição final dos trens -, ignorando os outros aspectos da situação, mesmo quando eles são
relevantes.

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Muitas modificações do desenvolvimento ocorrem durante este estágio. A experimentação intencional


e ativa das crianças com a linguagem e com objetos em seus ambientes resulta em enormes
acréscimos, no desenvolvimento conceitual e linguistico. Esses desenvolvimentos auxiliam a abrir
caminho para o desenvolvimento cognitivo ulterior, durante o estágio de operações concretas.

O Estágio Operatório Concreto

No estágio de operações concretas, aproximadamente dos 7 ou 8 anos ate os 11 ou 12 anos de


idade, as crianças tornam-se capazes de manipular mentalmente as representações internas que
formaram, durante o período pré-operatório. Em outras palavras, eles agora não só têm ideias e
memórias dos objetos, mas também podem realizar operações mentais com essas ideias e
memórias. Entretanto, podem agir assim apenas quanto a objetos concretos (por exemplo, ideias e
memórias de carros, alimentos, brinquedos, e outras coisas tangíveis) – daí a denominação de
“operações concretas”.

Talvez, a evidência mais forte da mudança do pensamento pré-operatório para o pensamento


representativo do estágio operatório concreto seja vista nos experimentos clássicos de Piaget
sobre conservação da quantidade. Na conservação, a criança é capaz de conservar mentalmente
(lembrar-se) uma dada quantidade, embora observe modificações na aparência do objeto ou da
substância. Esses experimentos investigaram as respostas das crianças a se uma quantidade de
alguma coisa (por exemplo, o número de peças do jogo de damas, a quantidade de líquido ou o
volume de massa) era conservada, apesar de modificações na aparência.

Inicialmente elas contam com suas percepções imediatas de como as coisas parecem ser;
gradualmente, começam a formular regras internas em relação a como funciona o mundo e,
finalmente usam essas regras internas para orientar o seu raciocínio, em vez de apenas as
aparências.

Talvez o experimento piagetiano de conservação mais famoso de todos demonstre modificações do


desenvolvimento na conservação da quantidade de líquido. (ver fotos mais abaixo) O experimentador
mostra a criança dois pequenos béqueres (= copos químicos) com líquido neles. O experimentador
faz a criança verificar que os dois béqueres contêm as mesmas quantidades de líquido. Depois, à
medida que ela observa, o experimentador despeja o líquido de um dos pequenos béqueres em um
terceiro béquer, que é mais alto e fino do que os outros dois. No novo béquer, o líquido no tubo mais
estreito eleva-se a um nível mais alto do que no outro béquer menor e mais largo, ainda cheio.
Quando indagada se as quantidades de líquido nos dois béqueres cheios são as mesmas ou
diferentes, a criança pré-operatória dia que agora há mais líquido no béquer mais alto e mais fino,
porque o líquido, nesse béquer, alcança um ponto perceptivelmente mais alto. Ela viu o
experimentador despejar todo o líquido de um béquer no outro, nada adicionando, mas não concebe
que a quantidade seja conservada, apesar da mudança de aparência. a criança operatória concreta,
por outro lado, diz que os béqueres contêm a mesma quantidade de líquido, baseada nos seus
esquemas internos quanto à conservação da matéria.

Esta menina está participando da clássica tarefa piagetiana, na qual o pesquisador distribui iguais
quantidades de líquido em dois béqueres idênticos, depois despeja-o de um dos béqueres para um
alto. Ainda no estágio pré-operatório, ela ainda não pode conservar a quantidade de líquido, de modo
que não reconhece que a mesma é conservada, apesar das mudanças superficiais na aparência da
quantidade. Na foto final, a menina segura o béquer alto, afirmando que ele contém mais líquido do
que o béquer pequeno. Tão logo ela atinja o estágio de operações concretas, imediatamente
conservará a quantidade de líquido.

O que a criança operatória concreta pode fazer que a pré-operatória não pode? Ela pode manipular
representações internas de objetos e de substâncias concretas, conservando, mentalmente, a noção
de quantidade e concluindo que, apesar das aparências físicas diferentes, as quantidades são
idênticas. Em primeiro lugar, a criança operatória concreta pode descentrar da dimensão única da
altura do líquido no recipiente, para considerar também a largura deste último. Além do mais, o
pensamento operatório concreto é reversível: ela pode julgar idênticas as quantidades, pois entende
que, potencialmente, o líquido podia ser redespejado no recipiente original (o béquer pequeno),
revertendo, dessa forma, a ação. Uma vez que a criança reconheça internamente a possibilidade de
reverter a ação e possa realizar mentalmente essa operação concreta, ela pode captar a implicação
lógica de que a quantidade não mudou. Observe-se, entretanto, que as operações são concretas –

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isto é, as operações cognitivas agem sobre representações cognitivas de eventos físicos reais. O
estágio final do desenvolvimento cognitivo, segundo Piaget, envolve ultrapassar tais operações
concretas e aplicar os mesmo princípios a conceitos abstratos.

Estágio Operatório Formal

O estágio operatório formal, aproximadamente dos 11 ou 12 anos de idade em diante, envolve


operações mentais sobre abstrações e símbolos que podem não ter formas concretas ou físicas.
Além do mais, as crianças começam a compreender algumas coisas que elas mesmas não tinham
experimentado diretamente. Durante o estágio de operações concretas, elas começam a ser capazes
de ver a perspectiva dos outros, se a perspectiva alternativa pode ser manipulada concretamente. Por
exemplo, elas podem imaginar como outra criança pode ver uma cena (por exemplo, a pintura de
uma cidade) quando sentam em lados opostos de uma mesa onde a cena é exibida. Durante as
operações formais, entretanto, finalmente elas são completamente capazes de adotar outras
perspectivas além das suas próprias, mesmo quando não estão trabalhando com objetos concretos.
Além disso, no estágio de operações formais, as pessoas procuram intencionalmente criar uma
representação mental sistemática das situações com as quais se deparam.

Piaget usou diversas tarefas para demonstrar o ingresso nas operações formais. Considerem, por
exemplo, a maneira pela qual delineamos as permutações (variações em combinações). Pare por um
momento e tente responder a esta questão:

Quais são todas as permutações possíveis das letras “A, B, C, D”?

Como você abordou o problema? Uma pessoa no estágio operatório formal delinearia um sistema,
talvez primeiramente variando a colocação da última letra, depois da penúltima, e assim por diante. A
lista de uma pessoa operatória formal pode começar: ABCD, ABDC, ADBC, DABC… É mais provável
que a pessoa operatória concreta apenas faça uma lista aleatória das combinações, sem algum plano
sistemático: ABCD, DCBA, ACBD, DABC, etc. Muitos outros aspectos dos raciocínios dedutivo e
indutivo também se desenvolvem, durante o período de operações formais. A capacidade para usar a
lógica formal e o raciocínio matemático também cresce durante essa época. Além disso, a
sofisticação do processamento conceitual e linguístico continua a crescer.

O desenvolvimento cognitivo é entendido como o processo pelo qual o ser humano constrói o
conhecimento. A sequência contínua e dinâmica de operações que ocorrem na aquisição de
conhecimento envolve diversas funções cognitivas como atenção, memória, linguagem, percepção e
raciocínio. Essas funções se desenvolvem em interação entre si, visto que o ser humano existe numa
totalidade e assim se desenvolve em sua condição de aprender.

Estudos acerca do desenvolvimento cognitivo, sob o olhar de posições teóricas encontradas no


universo científico da Psicologia referindo-se a modelos díspares de homem, enfatizam a relação
entre pensamento e linguagem. Ambos carregando verdades imprescindíveis a quem anseia
conhecer cada vez mais os fenômenos do comportamento humano.

Estudaremos o aspecto cognitivo do desenvolvimento humano sob visões teóricas diversas com
ênfase nas concepções contemporâneas interacionistas, que concebem o conhecimento como
construção que se dá na interação entre sujeito e objeto.

Uma das perspectivas teóricas emana do pensamento do filósofo inglês John Lock (1632 - 1704) e
cresce com os trabalhos de psicólogos ambientalistas como J B Watson (1878 - 1958),
representantes respectivamente da teoria behaviorista e neobehaviorista que dominaram a psicologia
entre as décadas de 50 e 80. Na análise behaviorista o indivíduo aprende o sistema linguístico de sua
comunidade verbal por mecanismos, pelos quais o indivíduo reage, utilizando a linguagem em
relação aos outros e em relação a si mesmo (o pensamento). A ligação entre pensamento e
linguagem se apresenta no behaviorismo radical de Skinner com a crença que nega a existência de
eventos privados, embora questione a sua suposta natureza física e seu status enquanto categoria
explicativa do comportamento, defendendo que o pensamento é apenas comportamento, verbal ou
não, encoberto ou aberto.

Os comportamentalistas ao se referirem à linguagem como comportamento verbal afirmam que as


palavras são respostas aprendidas por associação e reforçamento. A relação entre a palavra e seu
significado existe enquanto percepção simultânea de determinado objeto. Há uma associação

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palavra — objeto, que pode fortalecer-se, enfraquecer ou ser extinta em função das contingências
reforçadoras. A linguagem surge como mecanismo social que medeia a passagem do comportamento
público para o privado em que as palavras sofrem mudanças externas e quantitativas, bem como são
capazes de produzir mudanças no ambiente. Nessa concepção o organismo é visto como ser que
reage ao ambiente modificando-se, e como ser que opera sobre seu ambiente, modificando-o.

Outro paradigma existente no campo epistemológico da psicologia surge a partir do pensamento


inatista. Dentre os psicólogos que enfatizam tais ideias estão Carl Rogers e o psicolinguista Noam
Chomsky. Este defende que o sistema nervoso humano contém mecanismos inatos possibilitadores
da criança construir regras de linguagem. Nessa visão, as crianças adquirem a linguagem de uma
maneira maturacional, biologicamente determinada tal como elas aprendem a andar. Assim, a
linguagem é um processo que se desenvolve de dentro para fora.

A luta entre as concepções materialistas e idealista na psicologia tem sido mais acirrada que em
qualquer outra ciência. A dualidade predominante reflete-se na incompatibilidade entre essas
estruturas teóricas, com seus tons metafísicos e idealistas e bases empíricas sobre as quais se
edificaram.

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