Você está na página 1de 35

E-Book

PSICOPATOLOGIAS
DA INFÂNCIA

ANDRESSA ANTUNES
ANNELISE JÚLIO-COSTA

neuropsicoterapia.com.br
Conheça as autoras

Andressa Antunes
É membro da diretoria da Sociedade Brasileira de
Neuropsicologia (SBNp)
Autora do livro Transtorno do Espectro Autista na prática clínica,
é também autora de capítulos em conceituados livros na área
de neuropsicologia.
É referência em avaliação neuropsicológica, especialmente, de
pré-escolares.
Psicóloga e mestre em Saúde da Criança, é fundadora da
Neuropsicoterapia.

Annelise Júlio-Costa
É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
(SBNp). Autora do livro Transtorno do Espectro Autista na
prática clínica e do Compêndio de Testes Neuropsicológicos, é
também autora de capítulos em conceituados livros na área de
neuropsicologia, psicologia e neurociências.
Psicóloga, farmacêutica, mestre, e doutora em Neurociências
pelo UFMG, é fundadora do Neuropsicoterapia

Colaboradoras

Ludmila Ashley
Graduanda em Psicologia pela UFMG
Estagiária na Neuropsicoterapia

Thays Tannure
Graduanda em Psicologia pela PUC Minas
Estagiária na Neuropsicoterapia BH

neuropsicoterapia.com.br
Sumário
1.Qual o objetivo do E-BOOK?................................................. 4
2.O que são os transtornos?................................................... 6
3.O que a ciência diz?............................................................... 7
4.Quais são as causas?........................................................... 8
5.Desenvolvimento Infantil e Transtornos........................ 9
6.O diagnóstico pode mudar?............................................... 10
7.Transtornos Disruptivos ........................................................ 11
7.1.Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)................. 13
7.2.Transtorno de Conduta (TC)............................................ 15
7.3. Transtorno Explosivo Intermitente ................................ 17
8.Transtornos Depressivos ...................................................... 19
8.1.Transtorno Disruptivo de Desregulação de Humor
(TDDH) ............................................................................................ 20
8.2.Transtorno Depressivo Maior (TDM) ........................... 22
9.Transtornos de Ansiedade................................................... 25
9.1.Transtorno de Ansiedade de Separação..................... 27
9.2.Fobia Social............................................................................ 28
9.3.Fobias Específicas............................................................... 30
9.4.Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)........ 31
10.Conclusão................................................................................. 32
11.Referências................................................................................ 33

neuropsicoterapia.com.br
Qual é o objetivo deste e-book?

O conhecimento de psicopatologias é de extrema


importância para permitir que mais profissionais (e até a
comunidade em geral) sejam munidos de conhecimento
acerca do desenvolvimento comportamental atípico.

Queremos compartilhar informações de maneira segura e


contribuir para que mais pessoas conheçam de maneira
acessível as características dos transtornos de
comportamento na infância.

Esperamos que este material possa orientar e encorajar no


aprofundamento dos estudos sobre psicopatologias na
infância, sempre baseado em evidências científicas.

Queremos fazer a
diferença na vida das
pessoas através de
serviços de qualidade.

neuropsicoterapia.com.br
04
Qual o objetivo deste e-book?

Você sabe o que é psicofobia?

Além disso, queremos contribuir para o enfrentamento da


psicofobia, termo criado pela Associação Brasileira de
Psiquiatria - ABP, que significa o estigma que pessoas com
transtornos mentais e profissionais de saúde sofrem, por
causa do não-conhecimento ou, até mesmo, conhecimento
distorcido, desses perfis clínicos.

Tendo em vista que, ainda hoje, pessoas que apresentam


quadros de transtornos mentais ainda recebem diversos
rótulos pejorativos que podem impedir que o indivíduo
procure tratamento e receba o auxílio necessário.

neuropsicoterapia.com.br
05
O que são os transtornos?

Os transtornos do comportamento também são conhecidos


como psicopatologias ou transtornos psiquiátricos e se
referem às condições de alteração do funcionamento
cerebral na qual existem dificuldades de autorregulação
comportamental ou emocional, de modo a causar
sofrimento para a pessoa e impactar negativamente a sua
adaptação no dia-a-dia.

A impulsividade, hiperatividade, agressividade, irritação


exacerbada, o isolamento social e a ansiedade são
exemplos de alterações observadas nos diferentes
transtornos. Em alguns casos, esses comportamentos
podem se manifestar na infância, de modo a gerar
dificuldades escolares, problemas disciplinares e/ou de
socialização.

Atenção!!!

Menosprezar o conhecimento acerca dos


transtornos contribui para o aumento do
capcitismo e disseminação de informações
falsas.

neuropsicoterapia.com.br
06
O que a ciência diz?
Muitos ainda discutem se estes transtornos realmente
existem, sob a justificativa de que eles propõem rótulos e
são uma tentativa de patologização da infância.

Todavia, não há dúvidas sobre as suas existências e a


Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 10%
e 20% das crianças em todo o mundo sofrem de alguma
psicopatologia.

A caracterização de cada um dos transtornos pode ser


encontrada no DSM-5-TR, o manual diagnóstico produzido a
partir de um consenso de experts ao redor do mundo na
área e baseado em evidências científicas contemporâneas.

Esta cartilha teve como referência a recente atualização do


DSM-5, o DSM-5-TR.

É importante salientar que cada quadro possui suas


particularidades. Então, o profissional deve analisar
cuidadosamente o DSM-5-TR e demais materiais de
consulta, sempre levando em conta:

Aspectos Características diagnósticas,


culturais, especificadores
Aspectos de Comorbidades
gênero, Especificação da gravidade
Prevalência (leve, moderada, grave)

neuropsicoterapia.com.br
07
Quais são as causas?

Os estudos científicos mostram que os transtornos do


comportamento possuem uma base genética, o que significa
que a pessoa nasce com a predisposição (vulnerabilidade) a
um transtorno específico.

Entretanto, o ambiente também influencia essa manifestação


e pode, em certas circunstâncias, ser o eliciador dos sintomas.

Um exemplo disso é a maior vulnerabilidade para transtornos


disruptivos gerada por maus tratos e por negligência nos
primeiros anos de vida.

neuropsicoterapia.com.br
08
Desenvolvimento Infantil e
Transtornos
Existem diversos transtornos de comportamento, porém, eles
se manifestam de formas diferentes ao longo do
desenvolvimento.

Em alguns deles, os sintomas podem se manifestar


precocemente, como o que acontece com o Transtorno do
Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) - esses dois quadros também fazem
parte dos transtornos do neurodesenvolvimento

Já outros transtornos se manifestam mais tardiamente e


alguns, muitas vezes, nem são observados na infância.
Nesta cartilha, vamos abordar os principais transtornos do
comportamento que são observados na infância.

neuropsicoterapia.com.br
09
Atenção!!!

É importante frisar que, não se atentar para


tais perfis e comportamentos presentes na
infância pode contribuir para o aumento do
bullying na escola, tendo em vista que os
comportamentos associados a transtornos
são atípicos e são influenciam as
habilidades e, consequentemente,
interações sociais.

O diagnóstico pode mudar?

Em crianças e adolescentes, o perfil pode se manter


estável ao longo dos anos (continuidade
homotípica), pode ainda migrar (mudar as
expressões de características (continuidade
heterotípica) ou mesmo entrar em remissão. Por isso,
há uma necessidade de um acompanhamento
longitudinal da criança por um profissional, para
avaliação dos alvos terapêuticos mais pertinentes
em cada fase da vida.

neuropsicoterapia.com.br
10
Transtornos Disruptivos

Transtornos disruptivos correspondem àquelas condições


que envolvem déficits de autorregulação do
comportamento e da emoção, sendo que esses sintomas
impactam negativamente o ambiente e geram
consequências adversas às pessoas ao redor.

Os sintomas dos transtornos disruptivos são


comportamentos que podem ocorrer/ocorrem durante o
desenvolvimento típico da criança. Sendo assim, é
importante que a frequência, a persistência, a
pervasividade (abrangência), e os prejuízos associados aos
comportamentos sejam considerados ao se determinar se
são sintomáticos ou não de um transtorno.

Na infância, os
principais transtornos
disruptivos são

Transtorno de Transtorno
Oposição de Conduta
Desafiante

neuropsicoterapia.com.br
11
Transtornos Disruptivos
Existem três tipos de comportamentos disruptivos que são
preponderantes nesses quadros:

1. Comportamento opositivo

Correspondem àqueles comportamentos de inconformidade a


regras e resistência aos cuidadores que podem se manifestar de
duas formas:
Forma passiva: ignorar ordens
Forma ativa: recusa direta ou rejeição raivosa de ordens ou
proibições

2. Comportamento agressivo

Correspondem àqueles comportamentos deliberativos


destinados a prejudicar as pessoas (agressão física, verbal,
sexual, relacional e autoagressão) e podem se manifestar de duas
formas:
Forma reativa: resposta agressiva a uma frustração, ameaça
percebida ou provocação
Forma pró-ativa: comportamento agressivo deliberado e
intencional usado para alcançar algo

3. Comportamento antissocial

Correspondem àqueles comportamentos de violação de normas e


regras básicas (mentir, roubar, furtar).

neuropsicoterapia.com.br
12
Transtorno de Oposição Desafiante
(TOD)

Segundo o DSM-5, o TOD é caracterizado por três núcleos


de comportamentos:

1
Humor raivoso ou irritável (ex.
perde a calma facilmente e é
facilmente incomodado)

2
Conduta opositiva (ex. questiona
figuras de autoridade, desafia ou
se recusa a obedecer às regras)

3 Índole vingativa

Esses comportamentos precisam estar presentes por pelo


menos 6 meses, causando prejuízos na vida diária. Ainda
segundo o DSM-5, esses sintomas podem ocorrer em apenas
um ambiente, frequentemente em casa.

neuropsicoterapia.com.br
13
Transtorno de Oposição Desafiante
(TOD)

Normalmente, as crianças começam a manifestar os sintomas do


TOD antes dos 6 anos de idade e as características podem ser
exacerbadas por práticas parentais inadequadas. Interessante
notar que a agressão e a negligência parental são fatores de
vulnerabilidade para o surgimento dos sintomas do TOD.

Os sintomas do TOD são muito mais incapacitantes do que uma


rebeldia esperada na infância. Se compreendermos os
comportamentos opositivos como um espectro de cor vermelha,
é como se os sintomas do TOD fossem a tonalidade mais escura
de vermelho, enquanto a rebeldia seria um vermelho claro.

Uma grande dúvida que se levanta diz respeito à


diferenciação entre os sintomas do TOD e um
comportamento de birra e rebeldia corriqueiro. Eles se diferem
na intensidade e frequência da manifestação, além dos
prejuízos gerados para a pessoa (alterações na
funcionalidade).

neuropsicoterapia.com.br
14
Transtorno de Conduta (TC)
Muitas crianças e adolescentes diagnosticados com TC
preenchem, quando mais novos, os critérios diagnósticos de
TOD. Por isso, o TC pode ser considerado uma evolução mais
grave desse quadro. Existem três tipos de TC conforme a
idade de manifestação dos sintomas:

Com início na infância Com início na adolescência

Quando a criança apresenta


pelo menos uma característica Quando os sintomas não são
dessa condição antes dos 10 presentes antes dos 10 anos
anos

Início não especificado

Quando não há informações


suficientes sobre o início da
manifestação das
características.

É importante considerar questões relativas a fatores


culturais e de gênero para o diagnóstico. No que se refere às
questões de gênero, as meninas tendem a apresentar mais
sintomas como mentiras, evasão escolar, fuga e
comportamentos de risco para si e outrem, além de
apresentarem mais comportamentos de agressão
relacional (comportamentos que prejudicam os
relacionamentos sociais de outras pessoas) do que
agressão física.

neuropsicoterapia.com.br

15
Transtorno de Conduta (TC)

Segundo o DSM-5-TR, o TC pode ser composto por quatro


núcleos de comportamentos inadequados que
compreendem 15 possíveis sintomas. Para o diagnóstico,
devem ser observados ao menos 3 dos 15 sintomas por
pelo menos 12 meses, ou 1 dos sintomas nos últimos 6
meses. Os núcleos de comportamentos que devem ser
observados incluem:

Ex. invade propriedades de


Falsidade ou Furto outros e mente para obter
ganhos

Ex. provoca incêndio ou danos


Destruição de propriedades
a bens de outras pessoas

Ex. foge de casa, passa a noite


Violação grave de regras fora de casa sem a permissão
dos pais

Ex. provoca e ameaça os


Agressão a pessoas e animais outros, é cruel com pessoas ou
animais

neuropsicoterapia.com.br

16
Transtorno Explosivo Intermitente

É caracterizado por explosões comportamentais recorrentes,


que representam uma falha em controlar impulsos
agressivos e que devem ser manifestados por um dos
seguintes aspectos:

Critério A1

As explosões comportamentais, se manifestam por:


Agressões verbais e/ou físicas, dirigidas a propriedades,
animais ou outros indivíduos,
A agressão física não resulta em danos ou destruição de
propriedade ou lesões físicas.
Ocorrendo em média, 2 vezes por semana, durante um
período de três meses.

Critério A2

Pelo menos três explosões comportamentais envolvendo


danos ou destruição de propriedade e/ou agressão física
Com lesão, contra animais e outros indivíduos
Dentro de um período de 12 meses.

neuropsicoterapia.com.br

17
Transtorno Explosivo Intermitente

A característica básica do transtorno explosivo


intermitente é a incapacidade de controlar
comportamentos agressivos e/ou impulsivos em
resposta a provocações vivenciadas subjetivamente
(i.e., estressores psicossociais) que, em geral, não
resultam em explosões agressivas.

Além disso, as explosões são episódios específicos, ou


seja, o humor irritado não se estende para além do
episódio, tem início rápido e, tipicamente, não
apresenta padrões nas ocorrências. Em geral, as
explosões duram menos de 30 minutos e costumam
ocorrer em resposta a uma provocação mínima por um
amigo íntimo ou um colega.

Um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não


deve ser feito em indivíduos com idade inferior a 6 anos
ou nível equivalente de desenvolvimento, além disso,
crianças com idade entre 6 e 18 anos não devem receber
esse diagnóstico em situações nas quais as explosões de
agressividade impulsivas ocorrerem no contexto de um
transtorno de adaptação.

neuropsicoterapia.com.br
18
Transtornos Depressivos

Os transtornos depressivos se associam a uma


dificuldade na regulação e no enfrentamento de
emoções negativas que impactam significativamente a
vida diária, acadêmica e social.

Na infância, as principais reações emocionais


relacionadas aos transtornos depressivos correspondem
à tristeza e à irritabilidade. Toda pessoa vivencia tais
sentimentos mas, nos quadros depressivos, essas
características são persistentes e severas.

Irritabilidade Tristeza

neuropsicoterapia.com.br
19
Transtorno Disruptivo de
Desregulação de Humor (TDDH)

É caracterizado por uma irritabilidade crônica grave.


Normalmente, a criança ou adolescente passa a maior parte
do tempo com um humor irritável ou zangado,
acompanhado por episódios de explosões de raiva.

Essa reação é desproporcional à ameaça e normalmente se


manifesta na forma de agressividade física (bater em outra
pessoa ou em si mesmo), verbal (grito, xingamentos e
palavrões) ou agressão contra a propriedade (quebra
objetos, destrói móveis, etc.). Essas explosões correspondem
à agressividade reativa e, frequentemente, após a explosão,
a pessoa se arrepende do que fez.

O início dos sintomas do TDDH ocorrem antes dos 10 anos de


idade e as crianças diagnosticadas com este perfil possuem
uma maior vulnerabilidade para desenvolver na vida adulta
transtornos de ansiedade ou transtorno depressivo maior.

neuropsicoterapia.com.br
20
Transtorno Disruptivo de
Desregulação de Humor (TDDH)

O TDDH é um quadro diagnóstico novo que foi acrescentado


no DSM-5 com o objetivo de melhor caracterizar a
irritabilidade crônica na infância. Antigamente, essa
agressividade era compreendida como um sintoma do
Transtorno Bipolar na Infância.

Todavia, hoje, para se falar de Transtorno Bipolar na


Infância, a irritabilidade precisa se apresentar na forma
episódica e não persistente. É importante destacar que é
muito rara a manifestação dos sintomas do Transtorno
Bipolar antes da adolescência.

Transtorno
Irritabilidade TDDH
Bipolar

neuropsicoterapia.com.br
21
Transtorno Depressivo Maior
(TDM)
O TDM na infância é caracterizado por dois núcleos
de sintomas primários:

Humor depressivo ou Anedonia: Perda de interesse


irritável nas atividades

É muito comum associar a depressão à


tristeza e ao desânimo, pois esse é o
perfil de adultos depressivos. Porém, as
crianças podem manifestar um perfil
diferente, em que predomina a irritação
(grita e bate frequentemente e fica
facilmente irritada).

neuropsicoterapia.com.br
22
Transtorno Depressivo Maior (TDM)
Além desses dois núcleos de dificuldade, há características
secundárias que também são frequentes no TDM como;

Perda ou aumento de apetite;


Insônia;
Agitação motora;
Diminuição no nível de concentração nas atividades;

Mudança no rendimento escolar;


Perda de energia ou fadiga;
Preocupação com temas de suicídio e morte;

Sentimentos excessivos de culpa e de menos-valia;


Socialização diminuída.

Estado de ânimo disfórico (melancolia);


Queixas somáticas (dores abdominais,
dores de cabeça e musculares);

neuropsicoterapia.com.br
23
Transtorno Depressivo Maior (TDM)
Por conta dessas características secundárias, o TDM na
infância pode ser facilmente confundido com outros
quadros diagnósticos, como TDAH e TOD. Essa confusão
mostra a importância de uma avaliação detalhada e
cuidadosa das características da criança, pois os
tratamentos desses transtornos divergem
consideravelmente do tratamento do TDM.

Os estudos indicam que:

Pode ser observado


precocemente

Crianças de 3 anos manifestam


as características do transtorno
de forma muito semelhante às
crianças mais velhas e adultos.

Na infância, o diagnóstico é baseado muito mais nas


observações de comportamento e nos relatos de pessoas
que convivem com a criança do que nos relatos da própria
criança.

Isso porque ela apresenta menor capacidade para


relatar e compreender as emoções e sensações que
vivencia, quando comparada aos adultos.

neuropsicoterapia.com.br
24
Transtornos de Ansiedade
Os transtornos de ansiedade (TA) são as psicopatologias
mais frequentes na infância, e que podem se manifestar de
forma transitória ou persistente até a vida adulta. Esses
quadros são caracterizados pela desregulação emocional
relacionada ao medo e/ou ansiedade, envolvendo uma
preocupação extrema.

Medo X Ansiedade

O medo é uma reação frente a um perigo real ou imaginário


notado no momento presente que gera uma resposta motora
de fuga ou esquiva.

Já a ansiedade é uma antecipação de ameaça futura, é uma


preocupação, e tem como consequência preponderante o
aumento de pensamentos distorcidos e disfuncionais sobre a
própria pessoa e os eventos relacionados.

neuropsicoterapia.com.br
25
Transtornos de Ansiedade
Tanto a ansiedade quanto o medo são reações emocionais
importantes no nosso dia-a-dia, pois nos ajudam a avaliar
as situações de risco e perigo. Além disso, há um aumento
natural dessas reações em algumas fases do
desenvolvimento.

Todavia, essas reações se tornam preocupantes quando


são mais intensas do que o esperado para o nível de
desenvolvimento, são desproporcionais à ameaça e
prejudicam a realização de atividades diárias, escolares ou
sociais.

neuropsicoterapia.com.br
26
Transtorno de Ansiedade de
Separação
A ansiedade de separação se refere ao medo excessivo de
ficar longe dos pais ou cuidadores. Esta reação é comum
entre 1 e 2 anos de idade, não sendo a manifestação dessas
características preocupante nesta fase. Todavia, a
ansiedade de separação em crianças mais velhas pode ser
caracterizada como um Transtorno de Ansiedade de
Separação (TAS).

As crianças com TAS mostram os


seguintes queixas:

Medo de que aconteça algo quando estão longe dos pais;

Medo de ficarem sozinhas ou de dormir longe de casa/dos

pais;

Pesadelos com temáticas de separação;

Sintomas somáticos (dor de cabeça, náusea, dor de barriga)

quando estão longe dos pais ou cuidadores.

neuropsicoterapia.com.br
27
Fobia Social
A Fobia Social (FS) é o medo ou a ansiedade exagerados
em relação a situações sociais nas quais a pessoa será
exposta à avaliação de outros. A pessoa com FS até
deseja se socializar, mas a preocupação relacionada à
avaliação social faz com que ela se isole dos outros. A
FS pode ser vista como uma timidez extrema.

Há algumas características de crianças mais novas que


podem ser vistas como fatores de vulnerabilidade para
o desenvolvimento de FS e é necessário ficarmos atentos
a esses sinais para propor intervenções imediatas. Essas
características correspondem ao comportamento inibido
em relação ao desconhecido que é a tendência da
criança em exibir medo ou afastamento frente a
eventos ou situações novas.

neuropsicoterapia.com.br
28
Fobia Social

Entre 0 e 3 anos

As crianças com comportamento inibido tendem a reagir


a ambientes não familiares com medo, evitação e
apego aos pais. Elas se encolhem frente a adultos
desconhecidos, se recusam a brincar com novos
brinquedos e se afastam de novos colegas.

Entre 3 e 6 anos

Reagem de forma menos intensa. Elas mostram pequena


cont enção frente a situações novas, hesitam em sorrir e
mostram dificuldades para aproximar ou iniciar
conversas espontâneas com novos colegas ou adultos.

neuropsicoterapia.com.br
29
Fobias Específicas

O medo de certos objetos e de situações específicas é


comum na infância, por exemplo, frequentemente
crianças entre 5 e 6 anos de idade desenvolvem medo
de escuro e monstros. Todavia, em alguns momentos,
esse medo pode se tornar exacerbado e persistente, de
modo a impactar negativamente a realização de
atividades diárias.

Quando esta reação se manifesta por mais de 6 meses,


pode se caracterizar como uma fobia específica.
Segundo o DSM-5-TR, a idade média do surgimento de
fobias específicas é entre 7 e 11 anos.

neuropsicoterapia.com.br
30
Transtorno de Ansiedade Generalizada
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é
caracterizado por uma preocupação excessiva e não
específica, sendo de difícil controle. Esse é um distúrbio mais
presente na vida adulta, porém, há características de
temperamento na infância que são fatores de
vulnerabilidade para o desenvolvimento deste quadro.

Adultos com TAG relatam que, na infância, eram crianças mais


perfeccionistas e manifestavam um alto nível de autoconsciência,
como pequenos adultos. Há uma hipermaturidade que decorre de
uma rigidez em relação às normas sociais. São crianças muito
“certinhas” que se preocupam em cumprir prazos, avaliar riscos e
manter compromissos.

Essa hipermaturidade é socialmente bem aceita, de modo


que se torna desafiador reconhecê-la como disfuncional. Por
outro lado, apresentam dificuldades de agir assertivamente,
principalmente em situações sociais, de modo a recorrer aos
pais ou mesmo a apresentar um comportamento mais
reticente.

neuropsicoterapia.com.br
31
Conclusão
Apesar do crescente avanço do conhecimento
científico sobre o desenvolvimento comportamental
patológico, muitos profissionais da saúde mental
ainda desconhecem as características dos
transtornos de comportamento na infância.

Todavia, é de fundamental importância a


compreensão desses quadros, uma vez que a forma
de intervir se difere entre os eles. Quando o
profissional trabalha, por exemplo, o aumento da
capacidade de seguir regras, as estratégias usadas
para crianças com TOD são diferentes daquelas
usadas com as crianças que possuem TDM.

neuropsicoterapia.com.br
32
Conclusão

Isso porque as causas das dificuldades são diferentes. Na


primeira, a condição é causada por um déficit de
autocontrole, enquanto na segunda, a origem das
dificuldades se relaciona com a regulação de emoções
negativas.

O diagnóstico requer uma consulta com profissionais


qualificados que devem analisar relatos e observações
das crianças em diferentes contextos.

A melhor forma de potencializar o desenvolvimento físico,


psicológico, emocional e pedagógico de nossas crianças
e adolescentes é ficar atentos às características que
destoam da média de comportamento para idade e,
caso necessário, buscar por ajuda.

neuropsicoterapia.com.br
33
Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual


diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-
5-TR. 5.ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2023.

Organização Mundial da Saúde. (2001). Relatório sobre


a saúde no mundo 2001: Saúde mental: nova
concepção, nova esperança.

Matthys, W., & John, E. (2010). Oppositional defiant


disorder and conduct disorder in childhood. John Wiley
& Sons.

Morris, T. L., & March, J. S. (Eds.). (2004). Anxiety


disorders in children and adolescents. Guilford Press.

Zero to Three (2016). DC:0-5: Diagnostic classification of


mental health and developmental disorders of infancy
and early childhood.

neuropsicoterapia.com.br
35
Conheça nosso trabalho

neuropsicoterapia.com.br

@neuropsicoterapiabh

@neuropsicoterapiabh

Você também pode gostar