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ATIVIDADES COGNITIVAS PARA AUTISMO

Exercícios Cognitivos
para o Autismo

Neuropsicóloga Vânia Moreira

“ Eu amo o meu filho do jeitinho que ele é... Se eu pudesse


mudar alguma coisa...mudava a cabeça dos outros seres
humanos, porque ( esses seres humanos), sim precisam
mudar a cabeça e o coração. O meu filho é lindo por fora e
por dentro, quem me dera ter um coração como o dele”.
Testemunho da mãe de R.

AUTORA: Neuropsicóloga Vânia


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AUTISMO

O autismo é um distúrbio do comportamento de início precoce e curso crônico


com impacto variável em áreas múltiplas e nucleares do desenvolvimento. É
caracterizado por prejuízos na interação e na comunicação sociais, com restrita
gama de interesses, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e
maneirismos.

TEA, a partir do DSM-V (2014,) passou a fazer parte dos Transtornos do


Neurodesenvolvimento e, assim como, outros transtornos do
neurodesenvolvimento tem início no período do desenvolvimento infantil,
podendo ser percebido por meio de déficits no desenvolvimento, os quais
trazem prejuízos no funcionamento físico, social, emocional e intelectual. E só
pode ser diagnosticado por meio de uma avaliação clínica.

O Síndrome de Asperger já saiu da classificação de um dos tipos mais ligeiros


do autismo no DSM-V. Neste momento, o autismo é diferenciado pelos graus
que apresenta que varia de acordo com a sintomatologia e a sua intensidade e
comportamentos repetitivos.

Desta forma, segundo o DSM-V o nível de gravidade (interação/comunicação)


subdivide-se nestes três níveis:

 Nível 1 (necessita suporte): dificuldade em iniciar interações sociais,


respostas atípicas; interesse diminuído nas interações sociais; falência na
conversação; tentativas de fazer amigos de forma estranha e mal-sucedida.
 Nível 2 (necessita de suporte substancial): Déficits marcados na

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conversação; prejuízos aparentes mesmo com suporte; iniciação limitadas nas


interações sociais; resposta anormal/reduzida a aberturas sociais.

 Nível 3 (necessita de suporte muito substancial): Prejuízos graves no


funcionamento; iniciação de interações sociais muito limitadas; resposta
mínima a aberturas sociais.

Comportamento repetitivo:

 Nível 1 (necessita suporte): Comportamento interfere significantemente


com a função; dificuldade para trocar de atividades; independência limitada
por problemas com organização e planejamento.
 Nível 2 (necessita de suporte substancial): Comportamentos
suficientemente frequentes, sendo óbvios para observadores casuais;
comportamento interfere com função numa grande variedade de ambientes;
aflição e/ou dificuldade para mudar o foco ou ação.
 Nível 3 (necessita de suporte muito substancial): Comportamento
interfere marcadamente com função em todas as esferas; dificuldade extrema
de lidar com mudanças; grande aflição/dificuldade de mudar o foco ou ação.

AUTORA: Neuropsicóloga Vânia


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II- Neuropsicologia e o Autismo

A avaliação neuropsicológica parte da compreensão da singularidade de cada


paciente, (Winograd et al., 2008). Este mesmo princípio compreende que cada
paciente é único, possibilita que a aplicação da avaliação neuropsicológica seja
específica para cada paciente.

O bom funcionamento da equipe multidisciplinar é fulcral à aplicação da avaliação


neuropsicológica nos pacientes autistas visto que o diagnóstico é determinante no
início do tratamento. Portanto sua precisão é essencial, e a compreensão mais
ampla o possível das constatações da avaliação neuropsicológica. Poderão, assim
relação ao paciente garantir ou não um tratamento bem-sucedido e com isso a
melhoria da qualidade de vida (Vieira et al., 2007).

A imagem seguinte representa as alterações cerebrais associadas ao autismo.

AUTORA: Neuropsicóloga Vânia


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Imagem 1.NeuroAvance

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III- CAUSAS GENÉTICAS, EPIGENÉTICAS E AMBIENTAIS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA

Fig.2 (Sousa, Pedro;2005)

AUTORA: Neuropsicóloga Vânia


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CONCLUSÃO
Parece haver genes relacionados com o surgimento do autismo, ou seja, há uma
predisposição para o autismo, o que explica a incidência de casos de autismo nos
filhos de um mesmo casal. Desta forma, é possível aferir que existem fatores
hereditários com uma contribuição genética complexa e multidimensional.

Alguns fatores pré-natais também contribuem para o surgimento do autismo (ex.


rubéola materna, hipertiroidismo) e peri natais (ex. prematuridade, baixo peso ao
nascer, infeções graves neonatais, traumatismo de parto) podem ter grande
influência no aparecimento das perturbações do espectro do autismo.

Existe uma grande incidência de epilepsia na população autista (26 a 47%)


enquanto na população em geral a incidência é de cerca de 0,5%.

Há também estudos post mortem em curso sobre as anomalias nas estruturas


(cerebelo, hipocampus, amígdala) e funções cerebrais das pessoas com autismo.

É necessário continuar a desenvolver a investigação sobre o autismo e, embora


haja muitos estudos em curso, ignoramos qual o seu impacto no futuro das crianças
e jovens com autismo.

Todavia, tenho de mencionar com muito orgulho que três pacientes meus, no
decorrer dos meus 10 anos de experiência, já estão na faculdade, tem amigos,
namoradas e notas razoáveis. Este objetivo que alcançamos foi com muito esforço,
em que trabalhamos o contacto visual; a partilha; o toque; a tolerância ao barulho;
estratégias de coping para resolver os problemas com base na inteligência
emocional e estimulação cognitiva para aumentar o tempo de atenção; aumentar a
capacidade de memorizar, resolver os problemas e tomar decisões (funções
executivas)

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Há, contudo, neste momento uma conclusão importante que reúne o consenso da

comunidade científica:

Não há ligação causal entre atitudes e ações dos pais e o aparecimento das
perturbações do espectro autista. As pessoas com autismo podem nascer em
qualquer país ou cultura e o autismo é independente da raça, da classe social
ou da educação parental.

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Estratégias no autismo nas mudanças de hábito


Um menino com autismo tem muita dificuldade em lidar com alterações de mudança
na sua rotina. Um exemplo notório, são os meus pacientes que estão a ter muita
dificuldade em se integrar nesta nova rotina escolar associada ao COVID-19.

Neste sentido, torna-se fulcral trabalharmos todos com a mesma finalidade


(professores, neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala e pais)
para minimizar os efeitos nefastos destas mudanças e realizar um plano em que aos
poucos o paciente vai-se habituando a esta realidade.

Não é uma tarefa fácil, mas você pode ensinar uma criança autista a aceitar melhor
as alterações nos rituais diários. Devemos explicar o motivo de forma clara e
simples; e junto do psicólogo organizar os seus hábitos, dando sempre espaços a
contratempos, afinal a própria vida vai exigir isso do paciente, enfrentar diversidades
na vida.

Planear com antecedência as mudanças vai ajudá-los a gerir melhor a ansiedade.


Se possível, tente avisar a criança sobre o que vai acontecer.

Porém, apenas contar verbalmente pode nem sempre funcionar. Estima-se que
cerca de um terço das pessoas no espectro do autismo não conseguem falar.

Algumas crianças autistas aprendem a linguagem de sinais para se comunicar,


enquanto outras digitam ou usam outras ferramentas como o quadro de
comunicação.

Desta forma, cabe a nós comunicar com a criança da melhor forma para preparar a
mudança sem gerir níveis elevados de stress. Outras estratégias que utilizamos são
métodos sensoriais que acalmam a criança quando não estão a reagir bem às
mudanças (ex: pote da calma, almofada com bolinhas, falar muito calmamente com
ela dos temas que gosta, sala snozelen, entre outros).

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A terapia ABA (sigla para Applied Behavior Analysis) provou ser um tratamento
eficaz tanto para quebrar a resistência às mudanças,

Esta é muito usada para construir rotinas que reforçam comportamentos positivos
dos meninos com autistas.

Essa é uma das terapias mais populares para ajudar esses pacientes a lidar com
transições.

É um tipo de terapia que pode melhorar por meio do reforço positivo:

 Habilidades sociais,
 Comunicação,
 Aprendizagem.

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Exercícios de estimulação cognitiva da memória

1- O técnico pede à criança para memorizar os emojis

😘😶🙃😍😩😘😎⛔
🤔😘 🤥🤐😎 🎃🐸🐴🔔📒⛔ 🎪🙈
Caso haja uma linguagem verbal a criança evoca os emojis que se recorda, e se
possível com as respetivas emoções.

Todavia, se não há uma linguagem verbal pedimos à criança para desenhar o


que se recorda (ter uns emojis ao lado do paciente que pertence ao grupo inicial
e outros não, de forma a auxiliar, mas também recordar os emojis principais.
Quando se sentir mais confiante, realizamos este jogo sem auxílio visual.

Desenho (Vamos estar muito concentrados para a nossa memória


lembrar-se de tudo). O ideal é usar lápis de cor grossos.

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2- Solicitamos ao paciente que escreva as partes do corpo, trabalhando assim, a


memória e o esquema corporal. Caso tenha dificuldade devemos colocar a
criança à frente do espelho para auxiliar e trabalhar também a lateralidade.

Um pequeno truque é colocar uma pulseira no pulso direito, assim ele olha e
sabe sempre qual é a parte direita e, assim, não se engana.

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3- Solicitamos ao paciente que desenhe a sua cara, trabalhando assim a memória e


o esquema corporal. O terapeuta pega numa fotografia do paciente e cola no lado
esquerdo, enquanto a criança tenta desenhar pelo menos os elementos
fundamentais (olhos, boca, nariz, cabelo. Caso tenha dificuldade em pegar no lápis
pode usar a pega do lápis, de forma a começar a corrigir a postura dos dedos e
mãos na escrita e no desenho.

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4- Aqui temos um conjunto de cartas, com um tema muito específico, meios de


transporte, os meus meninos adoram este tema e sabem quase tudo sobre este
tema. Pedimos ao paciente para recortar as cartas, viramos as cartas para baixo. A
criança vira uma carta e tenta descobrir a outra. (esta atividade tem de ser jogada
por mais de duas pessoas.

5- A criança observa uma coluna de cada vez. Na primeira vez o exercício é


realizado sem tempo. A criança tem de olhar para as imagens e decorar, tem a

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parte escrita ao lado, caso seja uma criança verbal terá um auxílio verbal que
ajudará na memorização.

Na segunda parte do exercício, a criança irá realizar com tempo, aí vamos


introduzir o tempo para estimularmos mais a criança, em cada coluna ele terá
1min e 30 seg para memorizar (p.s. ao introduzirmos o tempo temos de ter em
consideração com a pressão, por isso depende da empatia e da sensibilidade
de cada terapeuta ou professor, caso não acha que consiga ou a criança não
está preparada não realizamos esta segunda parte da atividade).

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5-A criança vai ouvir palavras, no fim vai evocá-las. Caso seja uma criança não verbal pode utilizar
um quadro comunicativo.

Bola _____________

Cama _____________

Lápis _____________

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Garrafa _____________

6- A criança vai ouvir números, seguidamente vai evocá-los por que ouviu, se a criança
necessitar use um quadro comunicativo.

3-9-5 _______

0-2-5-3_____________

8-3-1-4-9 _____________

1-3-4-7-8-4 _____________________

IV- ATENÇÃO

1- Pedimos ao paciente para pintar as setas na da primeira pintada (perguntar para que lado
está virada).

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2- Pedimos à criança só para ler as palavras e ignorar a cor. Seguidamente, pedimos para dizer a
só a cor e não a palavra. Não é aplicável a todos os pacientes.

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3- Pedir ao paciente para colocar dentro da figura geométrica os símbolos que estão representados
na primeira linha, nas figuras das linhas seguintes.

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4- Recortar as imagens cuidadosamente com uma tesoura específica e segura. Separar os quadrados
e virá-los para baixo a criança tem de virar um a um para cima e associar o número à quantidade de
elementos de figura.

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5-O paciente tem de memorizar o primeiro triângulo, depois recortar e de memória colocar uma
cruz nos triângulos iguais ao memorizado.

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V- Motricidade Fina e Grossa

1- Primeiramente realizamos estes cartazes com os desenhos de alimentos, garfos,


facas e colher. Posteriormente pedimos à criança para preencher, ou seja, colocar
os alimentos nos sítios certos e os objetos de comer também.

2- Pedimos à criança para colocar a mesa, caso precise de auxílio ajudamos.


Posteriormente, colocamos uma comida que goste no sentido de treinar a pega da
faca e do garfo.

3- O paciente deve andar em bicos de pés de uma ponta a outra, e tentar não olhar
para baixo.

4- Há uma linha no chão e a criança deve andar pé após pé (sempre junto e se


ajudar pode abrir os braços), porém não deve olhar para o chão.

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Conclusão

Em suma, apesar de haver vários métodos de intervenção TEACH, ABBA, DOLF,


entre outros. Nenhum é completo, porque cada criança é única, cada criança
necessita de uma intervenção única. Esta primeira parte deste livro pretende auxiliar
vários colegas com uma coleta de exercícios, mas nunca nos devemos esquecer de
trabalhar com autismo é único que requer, amor, trabalho e dedicação.

Psicóloga da Saúde
Neuropsicóloga Clínica
Vânia Moreira

AUTORA: Neuropsicóloga Vânia


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