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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

IZABELLE BRITO
RENAN ALVES CONCEIÇÃO

BASES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO COMPORTAMENTO


HUMANO

ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA (APS)

RIO DE JANEIRO
2019
1. Introdução
A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa progressiva
caracterizada pela formação de agregados de proteínas insolúveis, bem como a perda de
neurônios e sinapses (ALONSO et al., 2008). No entanto, os processos que levam à agregação
e neurodegeneração de proteínas estão ainda sob investigação científica (BALLARD et. al,
2011), caracterizando-se como um contribuinte na formação de lacunas num avanço de um
tratamento mais eficaz da DA.
O objetivo deste artigo é realizar uma revisão bibliográfica acerca das principais
fundamentações biológicas de causa da Doença de Alzheimer, apontando ainda consequências
da patologia para o indivíduo, tratamento e atuação do psicólogo na minimização do impacto
da doença no cotidiano do acometido.

2. Metodologia
O método utilizado foi a revisão bibliográfica. Esse levantamento foi realizado com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos (GIL, 2002),
o que deu sustentaçaõ para o desenvolvimento do artigo e para a discussaõ da temática tratada
neste exposto.

3. Bases e fundamentos biológicos da Doença de Alzheimer


Muitas mudanças moleculares e celulares ocorrem no cérebro de uma pessoa com
doença de Alzheimer. Diante disso, cabe aqui levantar o que se tem de mais recente e até então
consolidado como percursor dessa demência.
Dentre as principais alterações, a presença de placas amilóides ou placas senis
caracterizam-se como um marco devastador na neurodegeneração. Segundo Tanzi (2012), Hass
et al. (2012); e Lin et al. (2000), a proteína beta-amilóide envolvida na doença de Alzheimer é
formada a partir da quebra de uma proteína maior, chamada proteína precursora de amilóide.
Selkoe e Hardy (2016) apontam que uma forma específica dessa, a beta-amilóide 42, seja
especialmente tóxica. No cérebro de indivíduos acometidos com Alzheimer, níveis anormais
dessa proteína se agrupam para formar verdadeiros depósitos de proteína beta-amilóide entre
os neurônios capazes de interromper a função celular.
Outro fator que é característico da neurodegeneração do Alzheimer são os emaranhados
neurofibrilares, frutos da hiperfosforilação da proteína “tau” (Metaxas e Kempf, 2016). Esses,
a grosso modo, são acúmulos anormais de uma proteína chamada tau que se acumula dentro
dos neurônios. Os neurônios saudáveis, em parte, são sustentados internamente por estruturas
chamadas microtúbulos, cuja função é o transporte de nutrientes e moléculas. Em neurônios
saudáveis, a proteína tau normalmente se liga e estabiliza os microtúbulos. Na doença de
Alzheimer, no entanto, alterações químicas anormais fazem com que a tau se desprenda dos
microtúbulos e se adira a outras moléculas de tau, formando fios que eventualmente se juntam
para formar emaranhados dentro dos neurônios. Assim, Alonso et al. (2008) relata que esses
emaranhados bloqueiam o sistema de transporte do neurônio, o que prejudica a comunicação
sináptica entre os neurônios.
A Inflamação crônica também contribui para o desenvolvimento do Alzheimer.
Pesquisas (AKAMA et al., 2000; AKIYAMA et al., 2000; COMBS et al., 2000) demonstram
que a inflamação crônica pode ser causada pelo acúmulo de células glia, normalmente
destinadas a ajudar a manter o cérebro livre de detritos. Um tipo de célula glia, os
microgliócitos, atua como agente de remoção de resíduos. Na doença de Alzheimer, o
microgliócito falha na remoção desses e de detritos e proteínas, incluindo placas de beta-
amilóide. Jiang-Tao Li e Ying Zhang (2018) relatam que a causa possa ser um gene chamado
TREM2. Normalmente, o TREM2 manda a mensagem aos microgliócitos para remover as
placas beta-amilóides do cérebro e ajuda a combater a inflamação no cérebro. Nos cérebros das
pessoas em que esse gene não funciona normalmente, as placas se acumulam entre os
neurônios.
Todos esses efeitos biológicos descritos refletem no cotidiano do indivíduo acometido
pelo Alzhemeir um decúbito nas habilidades básicas de cognição.

4. Consequências do Alzheimer para a vida do indivíduo


A Doença de Alzheimer causa um declínio progressivo na memória e em outras funções
cognitivas que resultam em demência.
No início, a doença de Alzheimer normalmente destrói neurônios e suas conexões em
partes do cérebro envolvidas na memória, incluindo o córtex entorrinal e o hipocampo. Mais
tarde, afeta áreas do córtex cerebral responsáveis pela linguagem, raciocínio e comportamento
social. Eventualmente, muitas outras áreas do cérebro são danificadas. Com o tempo, uma
pessoa com Alzheimer perde gradualmente sua capacidade de viver funcionalmente de forma
independente (NIA, 2019).
Segundo o mesmo instituto – National Institute on Aging - citado no parágrafo anterior,
dentre as principais consequências dessa demência em termos práticos destacam-se uma
acentuada redução da capacidade de evocar e reter novas informações, exemplificada por
perguntas e conversas repetitivas, esquecimento de eventos e compromissos, perda de
pertences. Também leva a um prejuízo do raciocínio e restrição no desenvolvimento de tarefas
complexas, ao passo que se revela pelo baixo poder de tomada de decisões, inabilidade de
planejamento e execução de atividades sequenciais e pouca compreensão dos riscos à
segurança. Ainda, as habilidades visuoespaciais se tornam prejudicadas, de modo que se perde
a capacidade de reconhecer rostos familiares e até mesmo objetos comuns, assim como a
dificuldade de manuseá-los. Ademais, há o prejuízo da fala, escrita e leitura e, sobretudo,
mudanças no comportamento e na personalidade como alterações de humor, incluindo agitação,
apatia, retraimento social ou falta de interesse, comportamento compulsivo, obsessivo ou
socialmente inaceitável.

5. Tratamento e cuidados paliativos


Não há cura conhecida para a doença de Alzheimer. A morte das células cerebrais não pode
ser revertida. No entanto, existem intervenções terapêuticas que podem facilitar a convivência
com a doença. De acordo com a Alzheimer's Association, os seguintes elementos são
importantes no tratamento da demência: gestão eficaz de quaisquer condições que ocorram ao
lado da doença de Alzheimer, atividades e programas de cuidados paliativos, envolvimento em
grupos e serviços de apoio.
Nenhum medicamento é capaz, até então, de retrair a doença, mas algumas opções podem
reduzir os sintomas e ajudar a melhorar a qualidade de vida. Os inibidores da colinesterase são
os mais aprovados para alívio sintomático, destacando-se: Donepezilo (Aricept), Rivastigmina
(Exelon) e Tacrina (Cognex) (ALZHEIMER`S ASSOCIATION, 2019).
Há, ainda, a adoção de cuidados paiativos. Esses entram como uma abordagem, onde visa
aliviar o sofrimento do paciente à medida que oferece mais conforto e estrutura para o
acometido e seus familiares. Diante disso, não preocupa-se com a cura, mas valoriza a empatia,
o zelo e bem estar do paciente (RODRIGUES e ZAGO, 2012).

6. Contribuição do profissional da Psicologia


Cabe ao psicólogo criar uma tríade entre paciente, família e equipe de cuidados paliativos
a fim de promover o bem-estar do paciente e familiares buscando respostas que ainda não se
encontram durante a travessia desse processo que inevitavelmente é doloroso. Leva-se em
conta, ainda, o papel do psicólogo em identificar sintomas ainda não tão explícitos pelos
familiares.
Os sintomas psicológicos e comportamentais das demências podem ser tratados com terapia
comportamental, estimulaçaõ multissensorial, estimulaçaõ cognitiva, exercícios físicos,
musicoterapia, recreaçaõ , arteterapia, estim
́ ulo à expressaõ criativa e programas de contaçaõ de
histórias que estimulam a imaginaçaõ . Tais atividades podem trazer benefić ios relacionados ao
humor, estimular a memória e levar os pacientes a compartilharem suas experiências e valores
(PHILIPS e PAK, 2010).

7. Conclusão
Por se tratar de uma doença que interrompe processos vitais dos neurônios e suas redes,
incluindo comunicação, metabolismo e reparo se configura como barreira para a ciência
desvendar as reais causas envolvidas na neurodegeneração e, consequentemente, definir
tratamentos mais eficazes. Diante disso, cabe aliar diferentes abordagens para o enfrentamento
dessa demência, desde os biológicos, passando pelos sociointeracionais até os psicológicos.

8. Referências bibliográficas
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