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Resumo
1. Introdução
* ¹ Graduanda do curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG,
lidianemayra@hotmail.com
* ² Graduanda do curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte/MG,
vbseabra@gmail.com
* ³ Professora do Estágio Supervisionado I, Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário Newton Paiva,
Belo Horizonte/MG, marcela.triginelli@newtonpaiva.br
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Muitos tutores são informados sobre as mudanças fisiológicas, como os processos
metabólicos, escore corporal, mas quase nunca são orientados sobre as alterações
cognitivas e comportamentais nesta fase da vida (GIL, 2019, p.4). As alterações
comportamentais em cães senis e geriátricos são muitas vezes consideradas
normais, sendo considerados como comportamentos da idade e não uma possível
patologia ligada à idade. Por este motivo é ideal que o médico veterinário tenha o
conhecimento sobre as consequências do envelhecimento sobre o físico e mental
dos pacientes, para que possa ensinar aos tutores como lidar com esse processo.
(PINEDA et al., 2014).
Atualmente, não existe uma cura para a SDC, apenas tratamentos focados em
diminuir a progressão da doença baseados em programas já pré-estabelecidos de
nutrição, atividade física, enriquecimento ambiental e psicofarmacologia (GUNN-
MOORE, 2011; PINEDA et al., 2014) e outras opções alternativas como o canabidiol,
que já é utilizado para o tratamento e controle de diversas doenças neurológicas,
como a doença de Alzheimer em humanos (KARL et al., 2012; CRISTINO et al.,
2020).
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O objetivo desta revisão de literatura é conhecer sobre a SDC em animais de
companhia, cães e gatos, suas possíveis causas, qual a sua ligação com a doença
de Alzheimer que atinge humanos, os tratamentos convencionais e alternativos, e
novos estudos que apontam o uso da cannabidiol como um novo aliado ao
tratamento.
2. Desenvolvimento
Dentro dos cinco sinais clássicos, o cão afetado pela SDC pode apresentar
alterações como ficar preso em objetos, moveis ou cômodos da casa, pode
apresentar comportamento agressivo com os tutores e não reconhece-los, acabando
por morder ou agir de forma estanha. Inquietude durante o sono ou trocando seus
horários habituais de sono, pode andar sem parar, sem rumo aparente, latir sem
motivo, ter um apetite voraz, pode estar incapaz de ouvir sons baixos, defecar e/ou
urinar em locais que normalmente não faria (KRUG et al., 2018). Ansiedade não
tende a ser um sinal predominante nos casos de SDC, e é escassamente
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documentado, porém esse comportamento deve ser enfatizado e abordado (FAST et
al., 2013).
Estes sinais comportamentais podem ser tanto devido a outras patologias, como
comportamentais, disfunção cognitiva ou uma combinação das mesmas
(LANDSBERG, NICHOL, ARAUJO, 2012). Cães e gatos que chegam à fase senil
podem desenvolver certas mudanças cognitivas sem progredir para a disfunção
cognitiva, enquanto outros podem desenvolvê-la de forma leve ou avançada
(PINEDA et al., 2014).
2.2. Causas
Apesar da sua base etiológica ainda seja desconhecida, algumas causas têm sido
apontadas (BORRAS, FERRER e PUMAROLA, 1999). O estresse oxidativo é um
dos primeiros eventos associados à idade (COTMAN et al., 2002). O equilíbrio
errôneo na produção de espécies reativas de oxigênio no cérebro ocorre
progressivamente, principalmente devido a redução da cadeia respiratória efetivada
pelas mitocôndrias, levando a danos oxidativos e outros tipos de neuropatologias
que podem resultar em disfunção neuronal e declínio cognitivo (COTMAN et al,
2002; PINEDA et al., 2014).
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associam a neurônios (COTMAN et al. 2002). Em cães, esses depósitos aparecem,
principalmente, no córtex cerebral, hipocampo e nas paredes dos vasos meníngeos,
que junto a outros fatores vasculares levam ao comprometimento do fluxo sanguíneo
cerebrovascular (LANDSBERG, HUNTHAUSEN e ACKERMAN, 2003). Alguns
estudos apontam biomarcadores plasmáticos, relacionados à substância, como
potenciais diagnósticos precoces e ferramentas de prognóstico na prevenção da
SDC (STYLIANAKI et al., 2020).
Já foram documentados em cães que sofrem com a SDC a diminuição nos níveis de
algumas catecolaminas, como a dopamina, acetilcolina, serotonina e o receptor de
dopamina D2, que se correlaciona com alterações cognitivas e degenerativas
(OSELLA et al., 2007; PINEDA et al., 2014). A diminuição da ação da dopamina se
explicaria pelo aumento na existência da monoamina oxidase b. conhecida como
MAOB, essa é responsável pelo seu catabolismo, resultando assim numa maior
liberação de radicais livres que produz danos e morte à membrana celular rica em
ácidos graxos insaturados (LANDSBERG, HUNTHAUSEN e ACKERMAN, 2003;
PINEDA et al., 2014).
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(A) Córtex parietal de um gato idoso com deposição como uma grande nuvem difusa de β-amiloide;
(B) Córtex parietal de um canino idoso com deposição mais discreta de β-amiloide. (C) Maior
ampliação de β-amiloide em gato idoso. (D) Cão idoso. Em ambos os animais as pontas de setas
apontam maior deposição em vasos sanguíneos e setas apontam neurônios intactos. (Fonte:
LANDSBERG, HUNTHAUSEN, ACKERMAN, 2003).
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catalisa e degrada a dopamina estão entre algumas semelhanças entre a Doença de
Alzheimer e SDC (RUEHL et al., 1995).´
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Dixon observando que a reação dos cães ao THC pode ser exacerbada. (SILVER,
2019; CITAL et al., 2021).
O receptor CB2 tem ação diferente do receptor CB1 e está expresso além de órgãos
do sistema imune e hematopoiéticas, também foram identificados nas neurônios e
células gliais. Os receptores, por meio da proteína G, inibem a Adenil ciclase, e
realiza a regulação dos canais iônicos tanto de cálcio – voltagem dependente quanto
de potássio- acoplados a proteína G. Equilibram também várias outras quinases
celulares por meio da proteína G, afetando uma variedade de neurotransmissores
como acetilcolina, dopamina, GABA, glutamato, serotonina, noraepinefrina opióides
e canabinoides endógenos. (SUERO et al., 2015). Modulam também a liberação de
citocinas, ativação de linfócitos CB2, responsável pelos quadros inflamatórios
neurológicos presentes da síndrome de disfunção cognitiva. (SILVER, 2019;
FONSECA et al., 2013, CITAL., et al. 2021).
Os receptores cb2 são responsáveis por regular uma resposta saudável frente a
quadros inflamatórios, por várias vias inflamatórias inibindo atividades pró-
inflamatórias das células t. (SILVER, 2019; CITAL et al., 2021).
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ativados e micróglia, degeneração neurofibrilar e diminuição progressiva da
neuroplasticidade, ocasionando perdas cognitivas significativas. (JOHNSTON et al.,
2011; SCHELLENBERG e MONTINE, 2012).
2.5. Diagnostico
O diagnóstico definitivo da síndrome de disfunção cognitiva é realizado post mortem.
(YU et al., 2011; PINEDA et al., 2014). Porém, se busca formas de realizar o
diagnostico in vivo, realizando diversos testes neuropsicológicos nos animais
quando há indícios de um quadro clinico sugestivo a síndrome de disfunção
cognitiva, realizando uma boa anamnese, se consegue chegar a um diagnóstico
diferencial de outras patologias que podem causar sintomas semelhantes como
diabetes mellitus, hipo ou hiper adrenocorticismo, hipo ou hipertireoidismo,
alterações hepáticas e renais, doenças cardiovasculares, dor, alterações na visão e
audição, tumores no cérebro e etc. Nem todas as alterações comportamentais
observadas são decorrentes do envelhecimento e precisam ser analisadas todas as
possíveis causas desses desvios comportamentais para se chegar a síndrome de
disfunção cognitiva. (OLIVEIRA, MARCASSO e ARIAS, 2016).
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tumores ou inflamações. É analisado o liquido cérebro espinhal em busca de
doenças que possam causar inflamação e consequentemente aumento da pressão
intracraniana levando a lesões em áreas do cérebro. (OLIVEIRA, MARCASSO e
ARIAS, 2016; HECKLER, 2011).
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melatonina também pode ser usada concomitante aos ansiolíticos (OLIVEIRA,
MARCASSO, ARIAS, 2016).
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não deve ser usado com opióides (CAMPBELL, TRETTIEN e KOZAN, 2001;
OSELLA et al., 2007; LANDSBERG, NICHOL, e ARAUJO, 2012).
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a inflamação em casos de doenças musculoesqueléticas concomitantes.
(LANDSBERG, 2005; MILGRAM et al., 1994).
O uso de acupuntura para melhora dos sintomas decorrentes da doença tem sido
importante na promoção de diminuição de dores neuropáticas, pois realiza a
homeostase energética do organismo e estimula o sistema imune, mostrando a
importância do controle multimodal de doenças neurológicas que podem causar
dores neuropáticas. (SILVA et al., 2017).
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Efeitos do CDB
Nos processos Inibição de NF-kB (revelada por regulação negativa de p50 e p65); Ativação
neuroinflamatórios seletiva de PPAR-γ; Diminuindo a expressão de IL-1β e iNOS; a liberação
de NO, IL-1β, TNF-α; Diminuindo a geração do NÃO; Inibição da expressão
de mRNA de GFAP; Aumento da atividade das vias para a depuração de
Aβ, regulando positivamente a autofagia em o hipocampo; Aumentar a
expressão de proteínas relacionadas à autofagia (Beclin1 e LC3); Inibindo o
aumento do cálcio intracelular induzido por ATP na micróglia cultivada;
Diminuindo a expressão de miRNAs pró-inflamatórios associados ao
receptor Toll-like e sinalização NF-κB (elevada por LPS); Inibição da forma
fosforilada da p38 MAP quinase; Ativação da transcrição de NFκβ.
Na AChE e no A capacidade como inibidores duplos por uma interação entre ligações de
sistema colinérgico no hidrogênio utilizadas e tríade catalítica e sítio aniônico periférico de AChE e
cérebro BuChE; Potência para inibir a atividade da AChE Aumentando o nível de
ACh;; Normalizar efeito na expressão de ChAT; Normalizar o efeito na
densidade de ligação do receptor M1 / M4 muscarínico.
Durante o declínio Diminuindo o nível de proteína de Caspase 9, Caspase 3, PARP-1 clivada;
cognitivo Inibindo APAF1
Síntese de ß-amiloide Diminuindo os fragmentos (C83 e C99) de APP; Redução da expressão do
peptídeo Aβ; Ativação do PPAR-γ.
Nas formas Diminuindo a expressão da proteína tau e diminuindo a hiperfosforilação;
hiperfosforiladas da Redução de p-GSK3-β (proteína quinase tau).
proteína tau
Quadro 2. Resumo do mecanismo do CBD de ação na doença de Alzheimer. Fonte: Ożarowski,
2021.
2.11. Discussão
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pacientes. Mais pesquisas são necessárias para elucidar exatamente o papel do
sistema endocanabinoide e como poderemos modular esse sistema com os
canabinoides presentes na Cannabis spp. para que haja diminuição da lesão,
inflamação e consequentemente impedir a progressão da doença, além de recuperar
parte das funções cognitivas perdidas desses pacientes.
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