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FACULDADE DE JAGUARIÚNA
INSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINÁRIA - IBVET

CAMILA ZAMPIERI SOLIS

BABESIOSE CANINA – RELATO DE CASO

Jaguariúna - SP
2017
1

FACULDADE DE JAGUARIÚNA
INSTITUTO BRASILEIRO DE VETERINÁRIA - IBVET

CAMILA ZAMPIERI SOLIS

BABESIOSE CANINA – RELATO DE CASO

Monografia apresentada para obtenção


do título de Especialista Lato Sensu em
Patologia Clínica em Pequenos Animais,
pela Faculdade de Jaguariúna em
convênio com o Instituto Brasileiro de
Veterinária – IBVET, TURMA 8, sob
orientação da Profª. Ana Silvia Dagnone.

Jaguariúna – SP
2017
2

BABESIOSE CANINA – RELATO DE CASO

CAMILA ZAMPIERI SOLIS

Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista Lato Sensu em


Patologia Clínica em Pequenos Animais pela Faculdade Jaguariúna em convênio
com o Instituto Brasileiro de Formação Profissional - IBVET, sob a orientação do
Professor (a) Ana Silvia Dagnone, Jaguariúna, 2017.

Declaro para os devidos fins ter orientado, corrigido e aprovado esse trabalho.

Jaguariúna, ____ de ____________, 2017.

___________________________________

Orientador (a)

Nome: ____________________________________________

Telefone: __________________________________________

E-mail: ____________________________________________

Link lattes: _________________________________________

Autor: CAMILA ZAMPIERI SOLIS

Título: BABESIOSE CANINA - RELATO DE CASO


3

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração direta e indireta de


muitas pessoas. Manifesto aqui minha sincera gratidão a todas elas.

Primeiramente а Deus, sempre permitindo qυе tudo acontecesse ао longo da minha


vida, е nãо somente nesses últimos anos, mаs еm todos оs momentos, Ele é o
maior mestre qυе alguém pode conhecer, me proporcionando, em todos os dias, a
chance de conquistar mais uma etapa. Que sempre se mostre presente!

Aos meus pais, João Ailton Solis e Rita de Cassia Zampieri Solis, pelo exemplo que
me dão diariamente, pela educação, pelos seus incentivos e apoio.

Meus agradecimentos aos amigos, companheiros de trabalhos que fizeram parte da


minha formação e que vão continuar presentes em minha vida, com certeza.
4

Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que


alcançada, não nos torna sem ambição.
Carlos Drummond de Andrade.

RESUMO
5

A babesiose, ou também conhecida como piroplasmose, é uma enfermidade que


acomete cães de todo o mundo, sendo o carrapato o transmissor da doença. Essa
moléstia é causada pelo protozoário chamado Babesia, que destrói componentes
sanguíneos do animal, especificamente os eritrócitos. Este trabalho tem como
objetivo relatar um caso de Babesiose, ocorrido na cidade de Cedral – SP. Um cão,
fêmea, da raça Boxer com 5 anos de idade, apresentou sinais clínicos compatíveis
com a doença. A coleta de materiais para diagnostico foi feita imediatamente após
percepção dos sinais, onde foi detectada a presença do parasita no esfregaço
sanguíneo. O animal foi tratado com Dipropionato de Imidocarb, em duas
aplicações com intervalo de 14 dias. Na visita realizada ao proprietário, constatou-
se que a terapêutica foi efetiva e o canino apresentava-se bem de saúde.

Palavras-chave: Babesiose, cães, diagnóstico.

ABSTRACT
6

Babesiosis, or also known as piroplasmosis, is a disease that affects dogs around


the world, and the tick is the transmitter of the disease. This disease is caused by
the protozoan called Babesia, which destroys blood components of the animal,
specifically erythrocytes. This work aims to report a case of Babesiosis, occurred in
the city of Cedral - SP. A 5-year-old Boxer female dog presented clinical signs
compatible with the disease. The collection of materials for diagnosis was made
immediately after the signs were detected, where the presence of the parasite
Babesia canis was detected in the blood smear. The animal was treated with
Imidocarb Dipropionate in two applications with a 14 day interval. In the visit to the
owner, it was verified that the therapy was effective and the canine presented good
health.

Key words: Babesiosis, dogs, diagnosis.

LISTA DE FIGURAS
7

Figura 1 - Fotomicrografia de esfregaço de sangue de cão, Boxer, 5 anos, Fêmea,


demonstrando uma hemácia parasitada por Babesia sp (seta), Aumento 100X,
Corante: panótico.............................................................................................15

Figura 2 – Fotografia digital da microscopia óptica de um esfregaço de cão, Boxer, 5


anos, Fêmea, demonstrando uma hemácia parasitada por Babesia sp ou Babesia
canis ( seta), Aumento 100X, Corante: panótico..................................................22

LISTA DE TABELAS
8

Tabela 1 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 12 de


março de 2017..................................................................................................20
Tabela 2 - Perfil bioquímico, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 12 de março de
2017.................................................................................................................21
Tabela 3 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 20 de
março de 2017.................................................................................................22
Tabela 4 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 01 de abril
2017.................................................................................................................23

SUMÁRIO
9

1 INTRODUÇÃO..............................................................................................10
2 OBJETIVO....................................................................................................11
3 REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................12
3.1 Babesiose Canina.....................................................................................12
3.2 Epidemiologia............................................................................................12
3.3 Meios de Infecção.....................................................................................12
3.4 Sinais Clínicos...........................................................................................13
3.5 Diagnóstico................................................................................................14
3.6 Alterações Hematológicas.........................................................................15
3.7 Alterações Bioquímicas.............................................................................16
4 TRATAMENTO.............................................................................................17
5 PREVENÇÃO...............................................................................................19
6 RELATO DE CASO......................................................................................20
7 DISCUSSÃO.................................................................................................25
CONCLUSÃO..................................................................................................26
REFERÊNCIAS...............................................................................................27

1 INTRODUÇÃO
10

A babesiose canina é uma das infecções de cães causada por hematozoários


originários do carrapato, a sua maior prevalência se dá em regiões tropicais e
subtropicais do mundo (PINTO, 2009).

Os vetores artrópodes da babesiose canina são os carrapatos pertencentes à


família Ixodidae. A doença é transmitida pelos carrapatos pertencentes à espécie
Ripicephalus sanguineus, mais conhecido como carrapato vermelho do cão. Esses
carrapatos estão envolvidos no ciclo epidemiológico de diversas doenças, e atuam
como vetores biológicos e mecânicos transmitindo, bactérias, vírus, protozoários
filarioses entre outros. No entanto para os cães uma das principais enfermidades
relacionada com esse tipo de carrapato é a Babesiose canina (FILHO, 2012).

A manifestação clinica em animais infectados pela Babesia sp são descritas de


acordo com o sistema imunitário, idade e presença de coinfecção. O inicio dos sinais
clínicos podem ser alterados devido a esses fatores, podendo começar num intervalo
entre os 10 e 28 dias pós infecção (ALMEIDA, 2012).

O diagnóstico pode ser feito através do esfregaço sanguíneo quando o animal


encontra-se na fase aguda ou subclínica da doença, onde será possível distinguir as
formas grandes simples ou em pares pertencentes à Babesia canis (PINTO, 2009).

Nos casos de babesiose o tratamento deve ser realizado por fármacos


antiprotozoários e terapia suporte. O Fármaco de escolha nesses casos é o
dipropionato de imidocarb na dose de 6,6 mg/kg via intramuscular (IM) ou
subcutâneo, com repetição da dose após 2-3 semanas (VASCONCELOS, 2010).

A prevenção deve ser realizada através do controle de carrapatos, visto que é


necessário o mínimo de três dias de repasto sanguíneo para a transmissão da
doença (COSTA, 2015).

2 OBJETIVO
11

Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância da intervenção clínica


e coleta de materiais para diagnóstico imediatamente após o inicio dos sinais
clínicos.

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 BABESIOSE CANINA


12

A Babesiose canina é uma das mais importantes infecções dos cães causada
por hematozoários originários do carrapato, ela está presente em maior
concentração nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. A Babesia gibsoni e a
Babesia canis são as duas espécies comumente encontradas parasitando eritrócitos
de cães (PINTO, 2009). Esses hemoparasitas infectam preferencialmente os
eritrócitos jovens causando anemia hemolítica do tipo regenerativa (FONSECA,
SOUSA e MOURA, 2010).

Anteriormente a Babesiose canina era classificada como Piroplasmose


canina, Peste de Sangrar e Nambiuvu (FORTES, 1997).

3.2 EPIDEMIOLOGIA

A babesiose é uma doença de importância mundial e foi reconhecida pela


primeira vez em 1888 como causa de febre, anemia hemolítica, hemoglobinúria e
morte de bovinos. Membros do gênero Babesia facilmente parasitam os eritrocitos e
cães, causando anemia progressiva (ALMEIDA, 2012).
As babesias encontradas em cães classificada morfologicamente em formas
grandes e pequenas, ambas apresentando distribuição mundial (ALMEIDA, 2012).

3.3 MEIOS DE INFECÇÃO

No Brasil o agente etiológico da babesiose canina é a B. canis, transmitida


pela picada do carrapato Riphicephalus sanguineus que também é conhecido como
carrapato marrom do cão, esse carrapato foi classificado como a principal espécie
envolvida na transmissão da Babesia canis para o cão (COSTA et al., 2015). Outros
gêneros de carrapatos também podem ser vetores da Babesia spp sendo eles:
Dermacentor spp, Hamaphysalis leachi e Hyalomma plumbeum.
A transmissão dá-se através da saliva dos carrapatos infectados no momento
em que os mesmos realizam repasto sanguíneo nos cães. A presença dos parasitas
na circulação do hospedeiro vertebrado ocorre um a dois dias após a inoculação
tendo uma duração que varia de dez a quatorze dias. Os protozoários se aderem à
membrana das hemácias e, por endocitose, penetram no interior das mesmas. No
interior dos eritrócitos os parasitas se dividem por fissão binária formando dois ou
quatro indivíduos, após essa divisão há rompimento das células e os parasitas são
liberados indo parasitar novas células (VASCONCELOS, 2010).
13

A transmissão pode ocorrer de duas formas: Transmissão horizontal e


transmissão vertical. Quando falamos da transmissão horizontal o carrapato adquire
a Babesia sp como larva ou ninfa e as transmitem no estágio seguinte, já na
transmissão vertical a mãe infectada transmite o parasito para seus descendentes.
Todos os estágios podem transmitir B. canis, no entanto as ninfas e os adultos são
mais eficientes na transmissão (VASCONCELOS, 2010).

3.4 SINAIS CLÍNICOS

Alguns fatores como sistema imunitário, idade e presença de coinfecção


podem alterar o inicio dos sinais clínicos, estes podem variar de 10 a 28 dias após a
infecção (ALMEIDA, 2012).
Outro fator importante para a severidade do aparecimento dos sinais clínicos
é ao grau de multiplicação do parasita nos eritrócitos causando lise celular (BRAGA
e SILVA, 2013).
Em geral os sinais clínicos apresentados por cães infectados com a doença
são: mucosas pálidas, febre, taquipnéia, taquicardia, esplenomegalia, icterícia,
anorexia e depressão. Alguns casos mais severos podem observar a presença de
intensa crise hemolítica, envolvimento de outros órgãos que irá resultar em anemia,
coagulopatias, insuficiência renal aguda, hepatopatias, sinais nervosos, lesões
miocárdicas, hemoconcentração e choque (LOBETTI, 2002).
A doença pode ser descrita em três formas: Hiperaguda, Aguda, crônica ou
também conhecida como subclínica. Na forma hiperaguda é mais comum em
filhotes, onde se tem uma alta parasitemia e estão associados à intensa infestação
por carrapatos, nesses casos os animais podem apresentar resposta inflamatória
sistêmica severa, choque endotóxico ou coagulação intravascular disseminada e
icterícia (BRAGA e SILVA, 2013).
Já na forma aguda os animais apresentam anemia, trombocitopenia, icterícia,
esplenomegalia, hemoglobinúria e febre (PINTO, 2009). O trombocitopenia está
ligada à mecanismos autoimunes, seqüestro esplênico ou elevado consumo de
plaquetas como resposta a alterações hemolíticas ou vasculares, porém na maioria
dos casos os parâmetros de coagulação estão dentro da normalidade (THRALL,
2007).
14

Os cães que se recuperam da forma aguda podem ser classificados como


portadores crônicos, nos quais mantém baixa parasitemia, onde no exame direto
(esfregaço sanguíneo) não é possível a detecção do agente (PINTO, 2009)
No entanto quando desafiados a condições imunosupressoras ou outras
infecções esses animais podem entrar em um quadro de febre intermitente,
anorexia, perda de peso, anemia, edema, fraqueza, esplenomegalia e em alguns
casos podem apresentar hemoglobinúria, petéquias, icterícia, sinais neurológicos
(movimentos de pedalagem) e coma (NELSON e COUTO, 2001).
A forma subclínica no Brasil é a mais predominante em cães com Babesiose,
e tem importância relevante na manutenção da enfermidade, pois os cães que
apresentam essa forma apresentam-se normais ao exame físico e negatividade na
pesquisa direta do parasita no esfregaço sanguíneo (BRAGA e SILVA, 2013).

3.5 DIAGNÓSTICO

O diagnostico pode ser feito através da identificação do parasita em esfregaço


sanguíneo (Figura 1) (ARAUJO et. al, 2015). Essa técnica de identificação é
considerada padrão na detecção desses parasitas intra-eritrocitários e também
considerado um método simples e de fácil acesso para maioria dos médicos
veterinários. No entanto a técnica do esfregaço sanguíneo deve ser realizada de
forma adequada, na qual propicie uma única camada de células espalhadas
individualmente e alteração mínima na distribuição relativa das células, a técnica mal
empregada contém artefatos confusos e pode resultar em distribuição inadequada
das células na lâmina (THRALL, 2007). Esse tipo de visualização não permite
realizar a diferenciação de espécie e subespécie, de uma forma geral dados como
história, manifestação clínica e localização geográfica podem auxiliar o clínico a
realizar esse diagnóstico (LOPES, 2013). Este método revela maior sensibilidade
quando os níveis de parasitemia são moderados a elevados (LOPES, 2013).
As provas sorológicas podem ser utilizadas, porém apresentam baixa
sensibilidade, pois pode nos apresentar diagnósticos falso-negativo e também não
permitem a diferenciação de sub-espécies. Já a Reação em Cadeia de Polimerase
(PCR), apresenta maior sensibilidade e especificidade (VASCONCELOS, 2010).
15

Figura 1 - Fotomicrografia de esfregaço de sangue de cão , Boxer, 5 anos, Fêmea, demonstrando


uma hemácia parasitada por Babesia sp (seta), Aumento 100X, Corante: panótico. Fonte: do autor

3.6 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS

No hemograma podemos observar inicialmente a presença de anemia


normocítica normocrômica, ou seja uma anemia sem sinais de regeneração isso
normalmente acontece na fase aguda da doença onde podemos observar com maior
freqüência a presença de Babesias no esfregaço sanguíneo (VASCONSELOS,
2010). Com a progressão da doença essa anemia passa a apresentar
características macrocíticas e hipocrômicas com sinais de regeneração medular.
Essas variações podem ocorrer devido ao estágio da doença, da espécie e sub-
espécie que acomete cada animal (THRALL et al., 2007).
Nos casos da anemia, umas séries de mecanismos estão envolvidos na
destruição dos eritrócitos. Estes incluem a destruição direta destas células,
provocada pela replicação intracelular dos organismos parasitários, a ligação de
anticorpos à superfície celular e ativação do complemento, produção de fatores
hemolíticos séricos alterações oxidativas e fagocitose aumentada e produção de
esferócitos com aumento da fragilidade osmótica dos eritrócitos
A presença de anticorpos anti-eritrócitos foi documentada em infeções por B.
gibsoni e B. vogeli, mas não em infeções por B. canis (CARLI et al., 2009).
16

3.7 ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS

As alterações bioquímicas causadas pela infecção por B. canis, está


relacionada a gravidade da doença e ao grau de hipóxia. Os achados mais comuns
nesses quadros são: Aumento da atividade de AST (Aspartato aminotransferase) e
ALT (Alanina aminotransferase), hiperbilirrubinemia, hipoalbuminemia,
anormalidades eletrolíticas e distúrbios ácido-basicos com hipocalcemia,
hipercloremia, e acidose metabólica (LOPES, 2013).
Os níveis séricos de proteínas totais também podem ser afetados com a
queda dos níveis séricos de albumina, outros níveis que também podem se
encontrar alterados são os níveis de creatinina e uréia que nesses casos encontram-
se aumentados. Contudo, na forma branda da doença esses níveis podem ser
encontrados dentro da normalidade (VASCONCELOS, 2010).

4 TRATAMENTO

O tratamento da babesiose canina é feito através de fármacos


antiprotozoários e terapia suporte e deve ser iniciado assim que se obtenha um
diagnostico definitivo ou há suspeita elevada da infecção (VASCONCELOS, 2010)
Os animais infetados geralmente apresentam melhoria clínica em 24-72 horas
após início do tratamento anti-protozoário, embora alguns possam demorar até sete
dias para responder ao tratamento. A suscetibilidade aos fármacos varia entre
17

espécies de Babesia sp , apresentando as formas pequenas resistência mais


provável aos fármacos convencionais, eficazes para as espécies grandes; sendo as
primeiras mais difíceis de tratar. A monitorização da resposta ao tratamento deverá
consistir na obtenção de, pelo menos, dois testes de PCR negativos com,
aproximadamente, 30 dias de intervalo entre cada um. Além disso deverão ser
efetuadas análises sanguíneas completas, de modo a monitorizar a evolução da
anemia e trombocitopenia, a cada 1-3 semanas, dependendo dos sinais clínicos e
alterações bioquímicas presentes (BIRKENHEUER, 2008).
O dipropionato de imidocarb (Imizol®) é um fármaco antiprotozoário com
eficácia contra B. canis. Quando administrado corretamente, tem a capacidade de
eliminar a infeção e sinais clínicos associados, e apresenta ainda atividade
profilática protetora até 6 semanas após uma única administração. A dose de
administração recomendada é de 6,6 mg/kg via intramuscular (IM) ou Subcutâneo,
com repetição da dose após 2-3 semanas. Podem ocorrer efeitos secundários,
relacionados com o efeito anti-colinesterásico do fármaco, tais como, salivação
transitória, lacrimejamento, vómito, diarreia, tremores musculares, agitação,
taquicardia e dispneia Este fármaco atua ainda nas infeções provocadas

por B. gibsoni, diminuindo a morbilidade e mortalidade; no entanto, não elimina a


infeção (BIRKENHEUER e BREITSCHWERDT, 2004).
As transfusões sanguíneas são indicadas em casos graves em que a anemia
representa um risco para a vida do animal. Os sinais clínicos que indicam a
necessidade de transfusão incluem taquicardia, taquipnéia, pulso hipercinético,
fraqueza e colapso. O Hematócrito é o indicador de anemia mais utilizado. No
entanto, as contagens de eritrócitos e de hemoglobina também podem ser usadas.
Geralmente a transfusão é considerada quando o Hematócrito é igual ou inferior a
15% e quase sempre é indicada quando é igual ou inferior a 10%. O concentrado de
eritrócitos é o componente de escolha nestes casos. Muitas vezes é necessária a
rehidratação do animal, e a fluidoterapia torna-se essencial na manutenção do
volume sanguíneo, diurese e correção das alterações eletrolíticas e do equilíbrio
ácido-base (AYOOB, HACKNER e PRITTIE, 2010). Para este fim, a utilização de
soluções de reposição à base de cristaloides é preferível (BIRKENHEUER, 2012).
18

5 PREVENÇÃO

Como em qualquer doença transmitida por carrapatos a babesiose canina,


pode ser contida com a redução ou a eliminação da exposição do animal ao vetor,
no entanto essa medida é considerada inviável em áreas onde a doença é
considerada endêmica. A prevenção dos fatores de risco e o uso de inseticidas
tópicos resultam na redução da taxa de infecção dessa forma constitui-se de um
importante meio de prevenção. Outro cuidado que deve ser tomado é com a
realização de transfusões sanguíneas, pois é um possível meio de transmissão da
doença, neste caso deve-se ter um controle rigoroso dos doadores, no qual devem
ser submetidos a testes sorológicos e moleculares no período que antecede a sua
entrada em um programa de doação de sangue (BIRKENHEUER, 2012).
19

6 RELATO DE CASO

Foi atendida na cidade de Cedral SP, no mês de março de 2017 um canino


fêmea, boxer, com 5 anos de idade. O proprietário relatou que o animal
apresentava-se abatido e sem apetite desde o dia anterior a consulta. Foi relatada
presença de carrapatos há alguns dias, vacina e vermifugação apresentavam-se em
dia.
Ao exame clínico foi observado mucosas pálidas, na palpação de linfonodos
não foi evidenciado aumento de volume, ausculta pulmonar e cardíaca sem
alterações. Temperatura retal aferida foi de 40,5°C.
Imediatamente foi coletada amostras para realização de exames
hematológicos e bioquímicos.
O hemograma apresentava anemia normocítica, normocrômica, proteína
plasmática total com valor dentro da normalidade para espécie. Leucocitos totais
com valor abaixo da normalidade e moderada trombocitopenia, no entanto amostra
apresentava-se com agregação plaquetária (Tabela1).

Tabela 1 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 12 de março de 2017.
Eritrograma
Parâmetro Valor Referência
Eritrócitos 3.9900.00 5 500 000 a 8 500 000/ul
Hemoglobina 10,1 12 a 18 g/dl
Hematócrito 25,9 37 a 55%
20

VCM 64,91 60 a 70 u³
CHCM 39,00 31 a 34%
Ppt 7,8 6,0 a 8,0 g/l
Observações: Animal apresentando anemia normocítica normocrômica.
Proteína plasmática total com valor dentro da normalidade para espécie.
Leucograma
Parâmetro Valor Referência
Leucócitos 3.600 6 000 a 18 000/ul
Contagem diferencial
Segmentados 3312 3.600 a 13.800/ul
Bastonete 0 0 a 500/ul
Linfócitos 180 720 a 5400/ul
Monócitos 72 180 a 1800/ul
Eosinófilos 36 120 a 1800/ul
Basófilos 0 0 a 0/ul
Observações: Leucograma apresentando leucopenia por neutropenia,
linfopenia, monocitopenia e eosinopenia absoluta.
Série Plaquetária
Valor Referência
166.000 180.000 a 400.000/ul
Observações: Trombocitopenia, presença de agregados plaquetários [++].

Na observação do esfregaço foi evidenciada moderada policromasia,


presença de monócitos ativados e presença estruturas sugestivas de Babesia spp
(Figura 2).
Exames bioquímicos encontravam-se com valores dentro da normalidade
(Tabela 2).

Tabela 2 - Perfil bioquímico, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 12 de março de 2017.
Painel Bioquímico I
Exame Valor Referência
ALT 40,65 Ul/l 7,0 a 80,0 Ul/l
AST 36,8 Ul/l 7,0 a 80,0 Ul/l
Creatinina 1,34 mg/dl 0,5 a 1,5 Ul/l
Fosfatase Alcalina 137,8 Ul/l 20,0 a 156,0 Ul/l
Uréia 25,21 mg/dl 15,0 a 65,0 mg/dl
21

Figura 2 – Fotografia digital da microscopia óptica de um esfregaço de cão, Boxer, 5 anos, Fêmea,
demonstrando uma hemácia parasitada por Babesia sp ou Babesia canis ( seta), Aumento 100X,
Corante: panótico. Fonte: do autor

O paciente relatado foi tratado com Dipropionato de imidocarb (IMIZOL®) na


dose de 0,5 mg/10kg, no animal em questão foi utilizado 1,5 ml em dose única por
via IM.
Após sete dias foi realizada nova consulta e coleta de novos exames. Ao
exame clínico animal já apresentava significativa melhora, porém no hemograma foi
constatado anemia normocítica e normocrômica com indícios de regeneração, foi
sugerido o exame de contagem de reticulócitos, porém não autorizado pelo
proprietário, leucograma e serie plaquetária apresentavam-se com valores dentro da
normalidade (Tabela 3).

Tabela 3 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 20 de março de 2017.
Eritrograma
Parâmetro Valor Referência
Eritrócitos 5.330.000 5 500 000 a 8 500 000/ul
Hemoglobina 11,5 12 a 18 g/dl
Hematócrito 33,0 37 a 55%
VCM 61,91 60 a 70 u³
CHCM 34,85 31 a 34%
Ppt 8,0 6,0 a 8,0 g/l
Observações: Animal apresentando anemia normocítica normocrômica.
Proteína plasmática total com valor dentro da normalidade para espécie.
Leucograma
Parâmetro Valor Referência
Leucócitos 7.200 6 000 a 18 000/ul
22

Contagem diferencial
Segmentados 5256 3.600 a 13.800/ul
Bastonete 0 0 a 500/ul
Linfócitos 1440 720 a 5400/ul
Monócitos 360 180 a 1800/ul
Eosinófilos 144 120 a 1800/ul
Basófilos 0 0 a 0/ul
Observações: Leucograma com valores dentro da normalidade para espécie.
Série Plaquetária
Valor Referência
227.000 180.000 a 400.000/ul
Observações: Série plaquetária com valor dentro da normalidade.

Foi realizada uma segunda aplicação do medicamento Dipropionato de


imidocarb (IMIZOL®) é recomendado reavaliação após dez dias.
Após prazo estipulado animal apresentava-se bem e exames com valores
dentro da normalidade (Tabela 4).

Tabela 4 - Hemograma completo, animal Balu, Boxer, 5 anos, fêmea, dia 01 de abril 2017.
Eritrograma
Parâmetro Valor Referência
Eritrócitos 6.020.000 5 500 000 a 8 500 000/ul
Hemoglobina 12,6 12 a 18 g/dl
Hematócrito 37,8 37 a 55%
VCM 62,79 60 a 70 u³
CHCM 33,33 31 a 34%
Ppt 7,6 6,0 a 8,0 g/l
Observações: Hemograma com valores dentro da normalidade para espécie.
Proteína plasmática total com valor dentro da normalidade para espécie.
Leucograma
Parâmetro Valor Referência
Leucócitos 8.200 6 000 a 18 000/ul
Contagem diferencial
Segmentados 5084 3.600 a 13.800/ul
Bastonete 0 0 a 500/ul
Linfócitos 1968 720 a 5400/ul
Monócitos 492 180 a 1800/ul
Eosinófilos 656 120 a 1800/ul
Basófilos 0 0 a 0/ul
Observações: Leucograma apresentando leucopenia por neutropenia,
linfopenia, monocitopenia e eosinopenia absoluta.
Série Plaquetária
Valor Referência
236.000 180.000 a 400.000/ul
Observações: Série Plaquetária com valor dentro da normalidade para
23

espécie.

7 DISCUSSÃO

O sucesso para o diagnostico e tratamento do paciente deve-se ao


diagnostico precoce, pois na fase aguda da doença temos maiores chances de
sucesso na pesquisa do hemoparasita em lâmina, que foi o caso do animal relatado.
Outros fatores de extrema importância é a coleta adequada de material para análise
e realização do exame por profissionais capacitados, isso faz com que se tenha um
acompanhamento adequado do estado geral do animal.
O tratamento realizado com o Dipropionato de Imidocarb (IMIZOL®)
demonstrou neste caso, conforme sugerido em literatura, boa eficácia.
24

CONCLUSÕES

Conforme relatado nesse documento, podemos observar que a babesiose


canina é uma doença grave e de rápida evolução. O diagnostico precoce e
terapêutica adequada é a melhor forma de sucesso no tratamento do animal.

Os profissionais da área devem se manter atualizados para novas formas de


tratamento e diagnostico da doença, pois o Brasil é um pais de clima propicio para o
aparecimento de novos casos.

Outro fator que devemos enfatizar é a prevenção de ectoparasitas que deve


ser feita regularmente, a forma mais eficaz é a aplicação do controle integrado, que
consiste no tratamento do animal e do ambiente simultaneamente. Esse controle
tem como objetivo a eliminação de todas as fases: imaturas e adultas de pulgas e
carrapatos.

A instrução dos tutores sobre os produtos adequados para o controle


integrado e frequência de uso correta dos produtos são medidas importantes para o
sucesso no tratamento dos ectoparasitas.
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