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MORDEDURA
1. Introdução...................................................................... 3
2, Epidemiologia/Etiologia............................................ 3
3. Microbiologia................................................................ 4
4. Avaliação clínica.......................................................... 6
5. Manejo..........................................................................11
6. Profilaxias.....................................................................13
Referências bibliográficas..........................................42
ACIDENTES COM ANIMAIS 3
SAIBA MAIS!
A doença da arranhadura do gato é uma doença infecciosa que é tipicamente caracterizada
por linfadenopatia regional autolimitada. As manifestações, no entanto, podem incluir órgão
visceral, envolvimento neurológico e ocular.
Os dados sorológicos e culturais atuais fornecem evidências convincentes de que Bartonella
henselae é o agente etiológico na maioria dos casos dessa doença.
FIGURA 2. Mordida de cão não infectada. Essa criança foi mordida várias vezes por um cachorro nas costas (pai-
nel A) e na coxa (painel B).
Fonte: 2020, UpToDate Inc.
Nas crianças, uma mordida de ca- mordida devem ser avaliadas cuida-
chorro na cabeça pode penetrar no dosamente quanto a materiais estra-
crânio, resultando em fratura depri- nhos e uma avaliação neurovascular
mida do crânio, infecção local e / ou deve ser realizada em áreas distantes
abscesso cerebral. da ferida.
Mordidas de gato – Mordidas de A probabilidade de infecção da fe-
gato geralmente ocorrem nas ex- rida deve ser determinada com base
tremidades. As feridas por mordida em achados físicos. O tempo médio
de gato tendem a penetrar profun- para sinais e sintomas de infecção
damente com maior risco de in- após uma mordida de cachorro é de
fecção profunda (abscesso, artrite aproximadamente 24 horas; o tempo
séptica, osteomielite, tenossinovite, médio para sinais e sintomas de in-
bacteremia ou infecção necrosante fecção após uma mordida de gato é
dos tecidos moles) do que as mordi- geralmente mais curto (ou seja, apro-
das de cachorro. ximadamente 12 horas) e infecções
aparentes em poucas horas após
O exame físico deve primeiro garan- uma mordida de gato foram descritas.
tir que o paciente esteja hemodinami-
camente estável e avaliar lesões em A infecção por mordida na ferida pode
estruturas adjacentes, principalmen- ser superficial (por exemplo, celulite,
te mordidas com feridas profundas com ou sem abscesso) ou profunda
na cabeça, pescoço, tronco ou pró- (abscesso, artrite séptica, osteomie-
ximo às articulações. As feridas por lite, tenossinovite ou infecção necro-
sante dos tecidos moles):
ACIDENTES COM ANIMAIS 8
Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais devem ser
reservados para pacientes com
mordidas infectadas. Nesses pa-
cientes, os achados laboratoriais são
inespecíficos. Leucocitose e marca-
dores inflamatórios séricos eleva-
dos podem ou não ser observados
em pacientes com infecção associada
à mordida.
Culturas de feridas infectadas de-
FIGURA 3. Mordida de cão infectada. Observe as
feridas nas mãos suturadas, incluindo a ferida na base vem ser obtidas para estabelecer a
do polegar. microbiologia da infecção e orientar a
Fonte: 2020, UpToDate Inc. antibioticoterapia. Culturas de feridas
não são indicadas em mordidas cli-
Além das manifestações acima, as nicamente não infectadas, porque os
pistas para infecção profunda in- resultados não se correlacionam com
cluem dor persistente ou progressi- a infecção subsequente.
va vários dias após a lesão inicial, dor A bacteremia pode ocorrer em situ-
com movimento passivo, dor des- ações de infecção superficial ou pro-
proporcional aos achados do exame, funda. As hemoculturas devem ser
crepitações, inchaço nas articulações, obtidas em pacientes com febre ou
doença sistêmica (febre, instabilidade outros sinais de infecção sistêmica e
hemodinâmica), e sinais persistentes em pacientes imunossuprimidos. Em
de infecção, apesar do tratamento outros pacientes, o rendimento das
ACIDENTES COM ANIMAIS 9
AVALIAÇÃO
Circunstâncias
CLÍNICA
do ataque
Informações do
animal mordedor
Avaliar lesões
Presença de materiais
Exame físico
estranhos
Avaliação
neurovascular
Cachorro (24 horas)
Probabilidade de
infecção
Gato (12 horas)
Avaliação ABCDE
Analgesia
Pode usar solução
de iodopovidona
Lavar com água e sabão
ou solução salina
Irrigação com alta pressão,
pode utilizar seringa de 20ml
MANEJO Exame das feridas
Debridamento de tecido
desvitalizado
Sutura em ferida
não complicada
HORA DA REVISÃO! Mordidas de mamíferos requerem avaliação não apenas como lesões
traumáticas, mas também em razão do risco de infecção.
Mordidas de gatos e mordidas humanas correm risco maior de infecção do que as de cão.
A maior parte das infecções em feridas de mordida de mamíferos é polimicrobiana. Pasteu-
rella spp. São os agentes patogênicos mais comuns em mordidas de cão e de gato.
A importância dos antibióticos profiláticos para mordidas de mamíferos é secundária em rela-
ção ao valor da limpeza apropriada, debridamento e irrigação das feridas.
Antibióticos profiláticos deverão ser fornecidos de preferência dentro de 3 horas após a mor-
dida e continuados por 5 dias.
Amoxicilina-clavulanato é o antibiótico profilático de escolha para mordidas de cão, gato e de
seres humanos. Moxifloxacino é uma alternativa para os pacientes alérgicos à penicilina.
A decisão de fechar feridas de mordida de mamíferos deve avaliar o benefício da cosmese
melhorada em relação ao risco maior de infecção da ferida.
Em razão da sua propensão à infecção, mordidas na mão causadas por mamíferos não devem
ser fechadas de modo primário. A maior parte das mordidas na face podem ser fechadas com
segurança desde que o sejam dentro de 24 horas após a mordida.
56,6% de acidentes
escorpiônicos
Botrópico (Jararaca) 86%
Laquético (Surucucu) 2%
Letalidade maior em
acidentes ofídicos
Elapídico (Coral) 0,8%
Mais notificado em
Minas Gerais e São Paulo
Presas
Sem presas
Placa
Placa
anal
anal
Chocalho
(cascavel)
FIGURA 5. A e B, Identifi-
cação de cobras norte-a-
mericanas peçonhentas e
não peçonhentas.
Fonte: Medicina de emer-
gência: conceitos e prática
médica, 2019.
ACIDENTES COM ANIMAIS 20
Na opinião dos editores, alternati- O soro nunca deve ser diluído e deve
vas são ceftriaxona, ciprofloxacina e ser sempre aplicado de forma en-
gentamicina. dovenosa e não há benefício de apli-
BACTÉRIAS %
cá-lo de forma subcutânea, próximo à
Morganella morganii 44
lesão. A administração do soro deve
Escherichia coli 20 ser feita em 10 a 30 minutos sob mo-
Providencia sp. 13 nitorização contínua. O número de
Klebsiella sp. 10 ampolas depende de cada serpente
Tabela: Flora bacteriana encontrada em acidentes e da gravidade do quadro. A gravi-
botrópicos dade do quadro pode ser dinâmica e
Fonte: Medicina de emergência: abordagem prática, um quadro inicialmente diagnostica-
2019.
do como moderado e depois reinter-
pretado como grave tem indicação de
Antes da aplicação do soro antive- receber o número de ampolas adicio-
neno deve-se considerar pré-medi- nais devidas.
cações para evitar reações de hi- Recomenda-se deixar adrenalina e
persensibilidade ao soro agudas e material de intubação próximo ao pa-
tardias. A evidência para o uso de ciente. Faz-se uma ressalva ao soro
corticoide e bloqueador histamínico antilatrodectus, que é o único aplica-
é fraca. A única medida que compro- do de forma intramuscular.
vadamente reduz o risco de reações
O diagnóstico de certeza depende do
graves é a aplicação de adrenalina
reconhecimento do animal causador.
(250 µg) por via subcutânea imedia-
No entanto, o diagnóstico presumível,
tamente antes de aplicação do anti-
feito pelos sinais e sintomas, é sufi-
veneno. A aplicação dessa medica-
ciente para determinação do soro an-
ção foi segura, inclusive em pacientes
tiofídico correto.
com coagulopatia.
ACIDENTES COM ANIMAIS 22
Creatinina, eletrólitos,
troponina, hemograma, TP,
Exames iniciais
TTPA, fibrinogênio e urina de
rotina
Hidratação, analgesia e
antiemético se necessário
Administrar em 10 a 30 minutos
em monitorização contínua
Soro antiveneno deve ser não
diluído e aplicado em via endovenona
Número de ampolas
depende da gravidade do caso
ACIDENTES COM ANIMAIS 23
MANIFESTAÇÕES E
LEVE MODERADO GRAVE
TRATAMENTO
Local (edema, sangramen- Intensas (presença de
Ausentes ou discretas Evidentes
to, eritema e dor) equimose, bolha e necrose)
Sistêmicas (hemorragia,
Ausentes Ausentes
choque e anúria)
Soroterapia 2-4 ampolas 4-8 ampolas 8-12 ampolas
Tabela. Gravidade do acidente botrópico e soroterapia recomendada
Fonte; Medicina de emergência: abordagem prática, 2019.
efeito local. Dor e edema são discre- (urina cor de “coca-cola”). Espera-se
tos ao redor da picada. A ação neu- elevação de CK, LDH, TGO e TGP. A
rotóxica é a mais evidente. Trata-se insuficiência renal aguda pode se ins-
de efeito neuroparalítico com início talar em decorrência da mioglobinúria
na cabeça e progressão craniocau- e aumenta o risco de óbito.
dal. Provoca a fácies miastênica com A ação coagulante provoca consu-
ptose palpebral (uni ou bilateral), tur- mo de fibrinogênio e elevação de TP
vação visual (visão turva e diplopia) e TTPA. Pode haver gengivorragia e
e oftalmoplegia. São relatadas ainda outros sangramentos discretos.
paralisia do palato mole, diminuição
do reflexo de vômito e disfagia. Rara- Após o tratamento com soroterapia
mente pode progredir para insuficiên- específica, as manifestações neu-
cia respiratória. Distúrbios do olfato e rotóxicas regridem lenta, porém,
paladar também são descritos. totalmente.
MANIFESTAÇÕES E
LEVE MODERADO GRAVE
TRATAMENTO
Fáscies miastênicas/visão
Ausente ou tardia Discreta para evidente Evidente
turva
Mialgia Ausente ou discreta Discreta Intensa
Urina vermelha/marrom Ausente Ausente ou pouco evidente Presente
Oligúria/anúria Ausente Ausente Pode estar presente
Soroterapia 5 ampolas 10 ampolas 20 ampolas
Tabela. Gravidade do acidente crotálico e soroterapia recomendada
Fonte; Medicina de emergência: abordagem prática, 2019.
Proteolítica, coagulante e
Ação do veneno
hemorrágica
Proteolítica, coagulante,
OFÍDICOS
hemorrágico e neurotóxico
Ação do veneno
Fosfolipase gera bloqueio
neuromuscular irreversível
Reação inflamatória intensa,
Ação local edema, dor equimose, bolhas e
Laquético (Surucucu) eventos hemorrágicos
Ação mitotóxica,
hemolítica e hipotensiva
Monitorização obrigatória por 72 horas,
Soro antiveneno SABL risco de hipotensão, trombose mesentérica,
HDA e AVC
Maior número de
notificações no Brasil
ESCORPIÔNICOS
Meses quentes e chuvosos
(Outubro a março)
Minas Gerais,
Epidemiologia
São Paulo e Bahia
Tityus serrulatus
Maior parte de casos graves
(escorpião amarelo)
T. bahiensis
Tipos
(escorpião marrom)
Efeitos simpáticos e
T. stigmurus parassimpáticos
Liberação de acetilcolina e
Veneno Ativação de canais de sódio
catecolaminas
ECG
Soro antiescorpiônico
(SAEsc) ou Casos moderados (2-3 ampolas)
antiaracnídico (SAA)
Os sinais vitais estão dentro dos pa- analgésicos, sobretudo opioides, são
râmetros de normalidade em 70% utilizados frequentemente.
dos pacientes; nos casos graves a Os benzodiazepínicos podem ser uti-
presença de rigidez muscular intermi- lizados em casos de fasciculações ou
tente ocorre em 60% dos pacientes. espasmos musculares. A evidência
Em pacientes com manifestações para o uso de soro específico nesses
apenas locais, são recomendados pacientes é insuficiente para indicar a
apenas os cuidados locais de lim- sua utilização.
peza e profilaxia antitetânica se Constituem uma exceção entre todos os
necessário. Vários tratamentos foram soros antivenenos, pois deve ser aplica-
propostos, incluindo analgésicos, an- do via intramuscular. O tratamento é
tieméticos, benzodiazepínicos, mag- de 1 ampola IM em casos de acome-
nésio e cálcio. Existe pouca evidência timento moderado e 1 a 2 ampolas IM
de qualidade para validar o uso das em casos de acometimento grave.
diferentes medicações citadas, mas
CLASSIFICA-
MANIFESTAÇÃO SORO
ÇÃO
PHONEUTRIA
Leve Dor local -
Moderado Dor local, sudorese/vômitos, agitação, HAS 2-4 ampolas
Dor local, sudorese/vômitos, agitação, HAS, vômitos intensos, priapismo,
Grave convulsões, coma, insuficiência cardíaca, bradicardia, choque e edema 5-10 ampolas
pulmonar
LOXOSCELES
Sinais/sintomas locais incaracterísticos/sugestivo. Sem alterações
Leve -
laboratoriais
Moderado Lesão com rash ou < 3 cm. Sem alterações laboratoriais 5 ampolas
5 ampolas (forma
cutânea)
Grave Lesão > 3 cm, evidência de hemólise
10 ampolas (forma
cutaneovisceral)
LATRODECTUS
Leve Dor local, edema local discreto -
Dor nos membros inferiores. Parestesia em membros. Tremores e
Moderado 1 ampola
contraturas
Sudorese generalizada. Ansiedade/agitação. Mialgia. Dificuldade de
deambulação. Cefaleia e tontura. Hipertermia. Taquicardia/bradicardia.
Grave Hipertensão arterial. Taquipneia/dispneia. Náuseas e vômitos. Priapismo. 1 a 2 ampolas
Retenção urinária. Fáscies iatrodectísmica (contratuxra facial e trismo
dos masseteres)
Tabela. Número de ampolas de soro antiaracnídicode acordo com a gravidade do paciente
ACIDENTES COM ANIMAIS 36
ARANHAS
Forma cutânea Hemólise intravascular,
anemia, hemoglobinúria,
visceral/hemolítica icterícia, CIVD
Loxosceles
(aranha marrom) Hemograma, reticulócitos, bilirrubinas,
Exames
haptoglobinas, função renal, CPK e coagulograma
Phoneutria
(aranha armadeira)
Compressa local
Latrodectus
Soro antilatrodectico (não utilizar para rotina)
(viúva negra)
Espécies Hymenoptera
Geralmente apenas
reação local
Anafilaxia
Provoca hemólise
intravascular, insuficiência
renal aguda, oligúria/anúria,
torpor, coma, distúrbios
Veneno
hidroeletrolíticos e
ABELHAS acidobásicos grave
Encefalite, artralgias
Reação tardia (rara) e febre semelhante à
doença do soro
Compressas frias,
manter membro elevado
e anti-histamínico
Tratamento
Acidente maciço:
Adrenalina se anafilaxia,
Suporte, vias aéreas,
soro antiapílico
corticoide e anti-histamínico,
(estudo em fase ½)
diálise se necessário
ACIDENTES COM ANIMAIS 40
LAGARTAS
Hábitos noturnos,
distribuídas por
todo o Brasil
Dor em queimação,
Manifestações locais: irradiação, eritema, edema e
adenomegalia dolorosa
Manifestações sistêmicas:
Compressas frias
Sintomático
Lidocaína 2%
próximo à lesão
Tratamento
Moderado (5 ampolas
de soro antilonômico)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Favano, Luiz Frazão Filho. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
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www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/animal-bites>
ACIDENTES COM ANIMAIS 43