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MANUAL DE

CLÍNICA MÉDICA

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MANUAL DE
CLÍNICA MÉDICA
EDITOR CHEFE:
Estevão Tavares de Figueiredo

EDITORES ASSOCIADOS:
Débora Gonçalves da Silva
Felipe Marques da Costa
Gabrielly Borges Machado
Iara Baldim Rabelo
Lívia de Almeida Costa
Milena Tenório Cerezoli
Nícollas Nunes Rabelo
Robson Eugênio da Silva
Tárcia Nogueira Ferreira Gomes
Valéria Garcia Caputo
Victor Ferreira Schuwartz Tannus
Yanne Franca Montino

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PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA CAPÍTULO

E RCP 1.8
Autores:
Leonardo Kado Takeda
Lucas Alves Teixeira Oliveira
Estevão Tavares de Figueiredo
PARADA CARDIORESPIRATÓRIA E RCP
CARDIOLOGIA

1. INTRODUÇÃO

O Brasil com população estimada em 207,7 milhões de habitantes em 2016 apresenta cer-
ca de 30 casos de morte súbita a cada 10.000 habitantes. A etiologia é bastante estudada, sen-
do o acometimento cardiovascular responsável por 50% dos casos. Os distúrbios de condução
elétrica e o infarto agudo do miocárdio (IAM) estão entre os principais fatores para esse desfe-
cho. A parada cardiorrespiratória (PCR) é a mais grave consequência, pois inúmeras manifesta-
ções clínicas podem gerar danos irreversíveis ao tecido cerebral. A cessação da circulação por
falha da bomba cardíaca e consequente baixa perfusão tecidual exigem um raciocínio clínico
rápido e medidas de reanimação eficientes, independentemente de serem realizadas ou não
por profissional da saúde.1,2

2. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é eminentemente clínico. A identificação dos eventos eletrocardiográficos,


como taquicardia ventricular sem pulso, fibrilação ventricular, atividade elétrica sem pulso ou
assistolia, em um paciente em PCR é fundamental, pois determina tanto o uso imediato do
desfibrilador elétrico quanto a terapêutica medicamentosa. Quanto menor o delta entre a pa-
rada cardiorrespiratória e o início da RCP, com suporte médico-hospitalar adequado, melhor
será o prognóstico do paciente.1-4
Os ritmos de parada ao eletrocardiograma estão ilustrados a seguir:1-3,5

Figura 1. Fibrilação ventricular (FV).

Fonte: autores.

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Figura 2. Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP).

Fonte: autores.

Figura 3. Atividade elétrica sem pulso (AESP).

Fonte: autores.

Figura 4. Assistolia.

Fonte: autores.

3. TRATAMENTO

Diante de um paciente não responsivo nem mesmo a estímulos dolorosos, com respiração
ausente ou gasping e pulso central ausente, a conduta imediata é iniciar a Ressuscitação Car-
diopulmonar (RCP), devendo-se posicionar o paciente em decúbito dorsal sobre superfície plana
e rígida, chamar por ajuda e iniciar a RCP. Iniciar o mais rápido possível as compressões torácicas,
priorizando a qualidade, respeitando a frequência de 100 a 120 compressões por minuto, compri-
mir o tórax entre 5 e 6 cm e, impreterivelmente, retornar completamente ao ponto inicial. Realizar
ciclos de 30 compressões para cada duas respirações com dispositivo bolsa-valva-máscara com
reservatório e oxigênio adicional.1-7
É importante checar o ritmo de parada, pois pode ser necessário dar prioridade ao uso do
desfibrilador elétrico assim que disponível no local. Os ritmos chocáveis são a fibrilação ventri-
cular (FV) e a taquicardia ventricular sem pulso (TVSP). Os choques devem ser administrados na
potência máxima do desfibrilador, sendo 360J para monofásico e 200J para bifásico. Importante

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solicitar que todos se afastem do contato com o paciente e logo após a desfibrilação reiniciar
imediatamente a RCP e apenas após novo ciclo de dois minutos checar pulso e ritmo.1-7
Os ritmos não chocáveis são a assistolia e a atividade elétrica sem pulso (AESP). Nesses casos
a desfibrilação é contraindicada, devendo-se manter a RCP com repetidas verificações do pulso
e ritmo de parada. Para casos de assistolia é importante a realização do protocolo da linha reta
e descartar a presença de uma fibrilação ventricular fina. Portanto, deve-se verificar a adequa-
da conexão dos cabos e eletrodos, aumentar o ganho de sinal no monitor cardíaco (amplitude/
potência de sinal) e checar o ritmo em outra derivação. Se assistolia confirmada, manter-se nos
ciclos de RCP sem uso do desfibrilador.1-7
Deve-se, simultaneamente, obter acesso venoso periférico ou intraósseo (IO) para possibili-
tar administração das medicações. As drogas utilizadas diferem entre os ritmos chocáveis e não
chocáveis. Em ambas é indicado o uso da epinefrina EV ou IO na dose de 1 mg/dose em cada três
a cinco minutos, seguida por bolus de 20 mL de solução fisiológica e subsequente elevação do
membro. Para os ritmos chocáveis, por se tratarem de arritmias, o uso de antiarrítmicos está fir-
mado. Podem ser feitas duas doses de amiodarona com intervalo de três a cinco minutos, sendo a
primeira dose EV ou IO de 300 mg e a segunda de 150 mg, sempre seguidas pelo bolus de 20 mL
de solução fisiológica e elevação do membro. Outra opção é a lidocaína, também EV ou IO, nas
dosagens de 1 a 1,5 mg/kg para a primeira aplicação e 0,5 a 0,75 mg/kg na segunda (após cinco
minutos), também seguidas pelo bolus de solução fisiológica e elevação do membro. Em casos de
PCR secundária à hipomagnesemia ou taquicardia ventricular polimórfica (Torsades de Pointes)
deve-se administrar sulfato de magnésio 1 a 2 g EV ou IO diluído em 10 a 20 mL de glicose a 5%.1-7
Para todos os pacientes em PCR deve-se realizar, concomitantemente, os procedimentos para
garantir uma via aérea avançada, preferencialmente a intubação orotraqueal (IOT), mas conside-
rar o uso de máscara laríngea no caso de intubação difícil, para não retardar a realização das com-
pressões de boa qualidade. Após assegurada uma via aérea avançada, manter as compressões no
mesmo ritmo (100 a 120/min), sem pausas para insuflações, e oferecer 10 insuflações por minuto
(uma a cada seis segundos, não sincronizadas com as compressões torácicas).1-7
É considerável a necessidade de se tentar realizar um diagnóstico diferencial, procurando tra-
tar as causas reversíveis identificáveis. Para facilitar a memorização foram separadas em 5H’s e
5Ts, sendo:1-7

Tabela 1. Causas secundárias de parada cardiorrespiratória.

5H’s 5T’s
Hidrogênio (acidose) Trombose coronariana (IAM)
Hipotermia Tromboembolismo pulmonar
Hipo/hipercalemia Tóxicos
Hipovolemia Tamponamento cardíaco
Hipóxia Tensão no tórax (pneumotórax hipertensivo)
Fonte: adaptado de Arq Bras Cadiol, 2013.

Não há critérios para a interrupção dos esforços da ressuscitação cardíaca, todavia, em pa-
cientes em assistolia não revertida, considerar a interrupção em condições locais (ambiente) in-
salubres e/ou inseguras, exaustão da equipe e/ou após ter afastado as causas reversíveis de PCR.

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4. PROTOCOLO
Figura 5. Fluxograma de abordagem das paradas cardiorrespiratórias.

Paciente em PCR
(parada cardiorespiratória)

Iniciar compressões torácicas

Checar ritmo

FV/TVSP Tratar possíveis causas reversíveis Assistolia/AESP

360J monofásico,
Choque RCP por 2 min
200J bifásico

Reiniciar RCP
Não Tem pulso? Sim
por 2 min

Tem pulso?
Não (checar pulso carotídeo Sim Cuidado pós-PCR
por 5-10s)

Droga(s) indicada(s) para assistolia/AESP:


Ritmo - Epinefrina 1mg EV/IO a cada 3-5min
Cuidados pós-PCR
chocável?

Sim Não

Droga(s) indicada(s) para FV/TVSP:


- Epinefrina 1mg EV/IO a cada 3-5min
- Amiodarona EV/IO 1ª dose 300mg / 2ª dose 150mg (após 5min)
- Lidocaína EV/IO 1ª dose 1-1,5mg/kg / 2ª dose 0,5-0,75mg/kg (após 5-10min)

Causas reversíveis (5H’s - 5T’s)


- Hidrogênio (acidose) - Trombose coronariana (IAM)
- Hipóxia - Tromboembolismo pulmonar
- Hipotermia - Tóxicos
- Hipo/hiper calemia - Tamponamento cardíaco
- Hipovolêmica - Tensão no tórax (pneumotórax hipertensivo)
Fonte: adaptado de Brasil, 2016; Arq Bras Cardiol, 2013.

5. CASO CLÍNICO

Paciente, 52 anos, dá entrada no hospital, trazido por familiares, após ficar inconsciente por
alguns minutos. Detectado que o paciente não apresentava pulso ou mesmo respiração espon-
tânea, iniciam-se manobras de ressuscitação cardiorrespiratória, bem como checado ritmo de
parada, visto no ECG a seguir:

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CARDIOLOGIA

Inicialmente, o caso foi conduzido como assistolia. Simultaneamente às manobras de RCP e


uso de epinefrina EV, iniciado o protocolo de linha reta. Após aumento do ganho de sinal no mo-
nitor do desfibrilador, identifica-se novo ECG:

Constatado tratar-se de fibrilação ventricular fina, foi realizado desfibrilação com 200J (bifási-
co) e uso de dose inicial de amiodarona EV. Após novo ciclo de reanimação constata-se a presença
de pulso carotídeo, bem como ritmo organizado ao eletrocardiograma. Paciente é então subme-
tido à cuidados pós-RCP.

REFERÊNCIAS
1. Gonzalez MM; Timerman S; Gianotto-Oliveira R; Polastri TF; Canesin MF; Schimidt A et al. Sociedade
Brasileira de Cardiologia: I Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de
Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2013 ago;101(2).
1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo de Intervenção para o SAMU 192 –
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
1. Lopes AC. Tratado de Clínica Médica. 3. ed. São Paulo: Roca Ltda, 2015.
1. Nacer DT; Barbieri AR. Sobrevivência a parada cardiorrespiratória intra-hospitalar: revisão integrativa
da literatura. Rev Eletr Enf 2015 set;17(3):1-8.
1. Rivarola E; Scanavacca M. Cardiac Autonomic Modulation – The Search for an Ultimate Technique. Arq
Bras Cardiol 2017 nov;109(5):384-386.
1. Silva KR; Araújo SAST; Almeida WS; Pereira IVDS; Carvalho EAP; Abreu MNS. Parada cardiorrespiratória
e o suporte básico de vida: O saber acadêmico. Saúde (Santa Maria) 2017 jan;43(1):53-59.
1. Morais DA; Carvalho DV; Correa AR. Out-of-hospital cardiac arrest: determinant factors for immedia-
te survival after cardiopulmonary resuscitation. Rev Latino-Am Enfermagem 2014 ago;22(4):562-568.

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