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Betim
2023
Ana Clara Guerra Damasceno
Helena Ferreira Bonomo
Betim
2023
TERAPIAS INOVADORAS PARA DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS
1. INTRODUÇÃO
CANNABIDIOL
Os canabinoides naturais derivam da planta Cannabis sativa, que tem como
seus principais compostos ativos o delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ⁹-THC), o canabinol
(CBD) e o tetrahidrocanabivarin (Gaoni e Mechoulam; 1964). O mecanismo de ação
dos canabinoides vai se basear através da ativação do sistema endocanabinoide, por
meio de receptores canabinoides, resultando na liberação de neurotransmissores,
destacando aqui o glutamato (Peterwee; 1997).
No sistema nervoso é possível encontrar dois tipos de receptores canabinoides,
o CB1, presente em sua maioria no sistema nervoso central, e o CB2, constituindo
como o principal receptor nos tecidos periféricos (Peterwee; 2008). Os receptores CB1
e CB2 estão agrupados na grande família dos receptores acoplados à proteína G e
possuem um agonista endógeno, de qual sua estrutura química é derivada do
di-benzopiran: o próprio Δ⁹-THC (Filho et al; 2019).
Há três outros grupos de agonistas sintéticos, que vão se diferenciar em sua
estrutura química. O segundo grupo tem como representante o composto CP 55, 940,
semelhante ao Δ⁹-THC, mas sem anel piran. O terceiro grupo é composto por
aminoalquil-indol, representado pelo WIN 55,212-2. O quarto grupo sintético é
proveniente do ácido araquidônico (Peterwee; 2008).
Estudos feitos por Esposito (2006, 2011) demonstraram que o CBD preveniu a
neurotoxicidade e a hiperfosforilação da proteína tau, além de promover neurogênese
no hipocampo dos ratos que utilizados para se fazer a inoculação de peptídeo humano
αβ no líquido cerebroespinhal. Esses achados favorecem o uso de CBD na terapia de
DA. Foi possível perceber ainda que, o Δ⁹-THC reduziu a agitação e a atividade motora
involuntária em pacientes com DA.
No Brasil, o uso medicinal da Cannabis ou de seus derivados ainda
apresenta-se com consideráveis barreiras. Em 2015, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) autorizou o uso medicinal de CBD após avaliação de diversos
estudos clínicos, os quais evidenciaram a possibilidade do uso terapêutico da
substância.
HIPÓTESE AMILOIDE
A hipótese amilóide, tem uma proposta em que a deposição de beta-amiloide é o
fator de início da AD, apresenta-se como assunto importante para ensaios de
tratamento. Os fármacos que possuem propriedades antiamilóides distribuem-se em
três categorias: inibidores da fibrilogênese, inibidores da formação e promotores da
depuração (Forlenza; 2005).
Dentre os inibidores da fibrilogênese, podemos citar o quelante de metais
cioquinol e o tramiprosate (NC-53). Estas substâncias apresentam como ponto comum
a propriedade de diminuir a transformação do peptídeo beta-amilóide solúvel nos
polímeros insolúveis (Forlenza; 2005).
O clioquinol (iodocloro hidroxiquina) configura-se como um quelante de cobre,
ferro e zinco. Sendo utilizado, até a década de 1960, por via oral como antibacteriano e
antifúngico. A partir de 1970, seu uso oral foi proscrito em decorrência da associação
com a neuropatia subaguda mielo-óptica, provavelmente causada por deficiência de
vitamina B12 (Ritchie et al; 2004). O clioquinol consegue transpor a barreira
hematoencefálica, sem perder sua propriedade quelante aos íons cobre e zinco. Estes
metais apresentam relação com a formação, manutenção e neurotoxicidade das placas
senis (Sant’Ana et al; 2018).
O tramiprosate (NC-531) vai se ligar ao beta-amiloide solúvel, barrando sua
interação com as glicosaminoglicanas, aparentemente necessária para a agregação e
deposição subsequente. Estudos clínicos evidenciam que o medicamento é seguro e
tolerável por indivíduos com DA de leve à moderada, com uma redução dos níveis de
beta-amiloide 42 (Ap42) à nível do líquido cefalorraquidiano (Aisen et al; 2011)
Os inibidores da formação dos beta-amiloides têm como função o bloqueio da
ação de enzimas proteolíticas, principalmente a betassecretase e a gamassecretase,
inseridas na clivagem amiloidogênica da PPA em peptídeos menores (Ap1-40 e
Ap1-42). Sendo assim, elas iram reduzir a formação do beta-amiloide (Aisen et al;
2011) Estudos iniciais com avagacestat e semagacestat, inibidores da gemassecretase,
revelaram diminuição tanto na produção, quanto no acúmulo dos beta-amiloides
(Sant’Ana et al; 2018).
IMUNOTERAPIA PARA DA
A imunoterapia na doença de Alzheimer (DA) apresenta-se como alternativa
terapêutica à necessidade de induzir uma resposta imunitária contra autoantígenos
sem provocar reações autoimunes adversas. Os principais alvos dessa nova
abordagem são a inibição do acúmulo de depósitos de Aβ42, o qual é o principal
peptídeo nas placas senis, e a tau hiperfosforilada, associada com a formação de
entrelaçados neurofibrilares no interior das células nervosas, ambos relacionados à
progressão da patologia (Aprahamian e Forlenza; 2013)
A estratégia de segmentar Aβ e tau simultaneamente ao longo do processo da
imunoterapia tem apresentado efeitos sinérgicos terapêuticos. Isso tem como
consequência a redução dos níveis totais de amiloide no cérebro e na remoção das
placas senis, tendo uma contribuição significante para a melhoria da memória e do
desempenho comportamental em estudos feitos com ratos (Sant’Ana et al; 2018).
Apesar dos avanços, ensaios clínicos, como o AN1792, fazendo o uso de
injeções de peptídeo Aβ1-42, foram interrompidos por conta do surgimento de
complicações, como o desenvolvimento de meningoencefalite. A imunoterapia com
Aβ42, ainda que tenha uma redução na proteína e na contagem de placas, não impediu
a evolução da demência. A imunização passiva com anticorpos anti-Aβ humanos, por
via intravenosa, aparece como uma abordagem mais promissora, embora tenha
complicações como edema vasogênico e micro-hemorragias cerebrais (Lannfelt et al;
2014).
Estudos, como por exemplo o ensaio clínico com Gammagard da Baxter
Internacional, demonstram resultados favoráveis, porém questionam a desaceleração
esperada do declínio cognitivo. A imunização de DNA, uma outra alternativa, indicou
uma redução dos níveis de Aβ42 e das placas em ratos, oferecendo uma perspectiva
única na imunoterapia (Lambracht-Washington e Rosenberg; 2013).
Para além, imunizações ativas e passivas contra tau demonstraram eficácia em
ratos, destacando a diversidade de abordagens terapêuticas em desenvolvimento. O
desafio está em encontrar intervenções que abordem simultaneamente múltiplos alvos,
como Aβ e tau, potencializando os benefícios terapêuticos na DA (Sant’Ana et al;
2018).
3. GLAUCOMA
O glaucoma, que atualmente ocupa a segunda colocação dentre as causas de
cegueira no mundo, com a projeção de atingir mais de 100 milhões de pessoas até o
ano de 2040, caracteriza-se por uma condição de aumento da pressão intraocular
(PIO), que apresenta como consequências danos às células ganglionares da retina,
bem como à camada de fibras nervosas e nervo óptico (Tham et al.; 2014). A PIO é
considerada o único fator de risco passível de modificação no tratamento do glaucoma,
por tanto são necessários medicamentos oftálmicos que desempenham um papel
fundamental na diminuição do risco de deterioração do campo visual. Para o atual
cenário, tem-se uma expectativa de que aproximadamente 80 milhões de pessoas
globalmente são afetadas pela enfermidade, em que até 74% dos casos
apresentam-se em sua forma primária de ângulo aberto (GPAA). A prevalência global
de GPAA em indivíduos na faixa dos de 40 anos é de 2,4%, e o custo anual dos
medicamentos que atuam na redução da PIO nos Estados Unidos é estimado em
aproximadamente mil milhões de dólares (Abdi; 2023).
Embora exista uma considerável disponibilidade de tratamentos tópicos
eficazes, à exemplo dos análogos de prostaglandina (como o latanoprosta/xalatan) de
primeira linha, entre 25% e 50% dos pacientes não conseguem obter sucesso em
atingir as metas de pressão intraocular. A combinação de mais de um colírio apresenta
desafios de adesão, dificultando sua eficácia (Newman-Casey et. al; 2015). Cirurgias
oculares invasivas, como cirurgia minimamente invasiva de glaucoma, são alternativas
para casos resistentes, porém estão associadas a complicações, por exemplo edema
de córnea e hemorragia. Em consideração à essa realidade, têm-se uma necessidade
de novas de ferramentas e abordagens clínicas mais eficazes a fim de prevenir a perda
irreversível da visão em pacientes com glaucoma (O’Callaghan et al.; 2023).
As abordagens de terapia genética baseadas em vírus adeno-associados (AAV)
apresentam um significativo sucesso em indicações oftalmológicas, como a amaurose
congênita de Leber. Mas, a entrega eficiente dos medicamentos aos tecidos oculares
alvo ainda é configurada como uma das barreiras a serem ultrapassadas (Baghban et
al.; 2023).
O desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, como lentes de contato
(CLs), tem surgido como objeto de extensas pesquisas com o objetivo de superar as
limitações dos sistemas convencionais de administração de medicamentos oculares no
tratamento da patologia (Baghban et al.; 2023).
6. ESCLEROSE MÚLTIPLA
A esclerose múltipla (EM) é uma condição que afeta o sistema nervoso central,
composto pelo cérebro, medula espinhal e nervo óptico. Essa doença crônica e
autoimune tem causas genéticas e ambientais, sendo bastante heterogênea, variando
em manifestações e gravidade entre os pacientes. Embora seja conhecida por afetar
pessoas em todo o mundo há séculos, a falta de documentação detalhada antes do
século XIX limita o entendimento preciso sobre a EM nesse período.
REFERÊNCIAS