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Recebimento dos originais: 09/06/2022

Aceitação para publicação: 11/08/2022

A neuroinflamação no Transtorno de Déficit de


Atenção/Hiperatividade

Neuroinflammation in Attention Deficit/ Hyperactivity Disorder

Camila Pereira Abreu


Acadêmicos da Faculdade de Medicina
Instituição: Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), JF-
Minas Gerais
Endereço: Av. Juiz de Fora, 1100 - Granjas Betania, Juiz de Fora - MG,
CEP: 36048-000

Crysthal Maini Geara


Acadêmicos da Faculdade de Medicina
Instituição: Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), JF-
Minas Gerais
Endereço: Av. Juiz de Fora, 1100 - Granjas Betania, Juiz de Fora - MG,
CEP: 36048-000

Harleson Lopes de Mesquita


Professor da Faculdade de Medicina
Instituição: Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC), JF-
Minas Gerais
Endereço: Av. Juiz de Fora, 1100 - Granjas Betania, Juiz de Fora - MG,
CEP: 36048-000

RESUMO
O déficit de atenção com ou sem transtorno de hiperatividade (TDAH) é um dos
transtornos neuropsiquiátricos mais diagnosticado. A fisiopatologia do TDAH não
é compreendida, mas a doença tem sido associada a um aumento do processo
de neuroinflamação. Estudos revelam que níveis séricos de IL-6 tem se mostrado
elevados em indivíduos com TDAH, o que suporta a hipótese de que uma
resposta inflamatória desregulada possa fazer parte do processo fisiopatológico
da doença. Esse estudo aborda a importância de corroborar essa hipótese,
permitindo assim avanços terapêuticos.

Palavras-chave: imunidade, estresse oxidativo, TDAH.

ABSTRACT
Attention deficit disorder with or without hyperactivity disorder (ADHD) is one of
the most diagnosed neuropsychiatric disorders. The pathophysiology of ADHD is
not understood, but the disease has been linked to an increase in the
neuroinflammation process. Studies reveal that serum levels of IL-6 have been
shown to be elevated in individuals with ADHD, which demonstrates a
dysregulated inflammatory response. Thus, the study addresses the importance
of confirming this association to provide therapeutic advances.

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Keywords: immunity, oxidative stress, ADHD.

1 INTRODUÇÃO
O déficit de atenção com ou sem transtorno de hiperatividade (TDAH) é
um dos transtornos neuropsiquiátricos mais diagnosticados, com estimativas
recentes sugerindo que afete de 2-4% dos adultos (WEIBEL, S.,et al., 2019). O
TDAH é um distúrbio poligenético envolvendo predominantemente receptores e
transportadores catecolaminérgicos (Dunn DW, et al., 2013). Estruturalmente
envolve as vias frontoestriais e provavelmente conexões com o cerebelo e o lobo
parietal. Os sintomas do TDAH tendem a ser inespecíficos e podem ser
divididos em categorias ou manifestações, incluindo desatenção geral,
hiperatividade, impulsividade e dificuldade de autocontrole (hiperatividade e
impulsividade), com a gravidade dos sintomas variando de leve a grave (Ptacek
R, et al., 2019).
O transtorno está relacionado a uma série de comorbidades, condições
de desenvolvimento e condições físicas. Dessa forma, as alterações
neuropsíquicas levam a impactos negativos na qualidade de vida desde a
infância até a idade adulta, podendo causar insucesso escolar, desarmonia
familiar e até exclusão social (SONG Y., et al., 2020).
A fisiopatologia do TDAH não é compreendida, mas a doença tem sido
associada a processos de inflamação neural. O presente estudo objetiva
confirmar essa associação e, desta forma, a partir de evidências encontradas,
permitir o surgimento de novos mecanismos de abordagem e tratamento para
esses pacientes. (DUNNGA., et al., 2019)

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2 METODOLOGIA
A realização desta revisão de literatura foi feita a partir de uma pesquisa
bibliográfica nas bases de dados Scielo e PubMed com os descritores “transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade”, “neuroinflamação”, “estresse oxidativo” e
variações no “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS). Foram incluídos
estudos publicados nos anos de 2019 a 2022, nos idiomas inglês e português.
Desse modo, doze artigos foram selecionados condizentes à temática e foram
submetidos a uma verificação através da leitura de seus resumos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é geralmente
diagnosticado na infância, sendo caracterizado por sintomas de desatenção,
impulsividade, hiperatividade e esquecimento, levando ao comprometimento
funcional em vários ambientes, o que acarreta em grandes prejuízos na vida do
indivíduo. (JEROME D, et al., 2021). A fisiopatologia relacionada ao TDAH
permanece desconhecida. No entanto, o TDAH está associado a anormalidades
no cérebro devido a déficits cognitivos e funcionais. Embora o TDAH seja um
distúrbio heterogêneo, estudos sugerem relação entre o envolvimento da
neurotransmissão dopaminérgica, noradrenérgica e serotoninérgica. Além disso,
anormalidades estruturais e funcionais nas regiões corticais e subcorticais do
cérebro também são consideradas características do TDAH. (Song., et al.,
2020). Em busca de conhecer a neuropatologia do transtorno, extensos estudos
têm indicado a relação entre o estresse oxidativo e a neuroinflamação como
protagonistas na fisiopatologia do TDAH. (Corona J.C., et al., 2020)
Microglia são células imunes presentes no SNC que tem como função a
mediação primária do processo neuroinflamatório. São células secretoras de
fatores neurotróficos, como citocinas anti-inflamatórias (IL-4 e IL-10), fator de
crescimento neuronal (NGF), fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e
neurotrofina-4/5 no estado de repouso. Segundo Kim, no TDAH os níveis séricos
de IL-6 têm se mostrado elevados, o que sugere desregulação inflamatória (Kim,
et al., 2020). O processo inflamatório contínuo acompanhado de estresse

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oxidativo pode estar relacionado a modificações na morfologia cerebral e no nível
de dopamina cerebral e, dessa forma, participar da patogênese do TDAH.
Mecanismos neuroinflamatórios já foram também identificados em outras
doenças psiquiátricas como depressão, doença de Alzheimer e transtorno do
espectro autista e esse conhecimento permite ampliar as opções de tratamento
para essas patologias (Zheng, et al., 2022; Kozłowska, et al., 2019).
Medicamentos eficazes como metilfenidato e atomoxetina (ATX) são
amplamente utilizados no tratamento de TDAH, mas falham em atender às
necessidades clínicas mais amplas e, principalmente, no tratamento de longo
prazo (Posner, et al., 2020). Portanto, estudos científicos e clínicos devem
abordar a importância do mecanismo inflamatório na etiologia e patogênese do
TDAH a fim de contribuir para novas abordagens clinicas.

4 CONCLUSÕES
Pela observação dos aspectos analisados, os resultados mostraram
possível relação entre mecanismos inflamatórios e TDAH. No entanto, há uma
urgente necessidade de mais trabalhos que investiguem a verdadeira
importância desse processo na etiologia e na fisiopatologia dessa doença,
permitindo o desenvolvimento de novas opções terapêuticas.

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