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a Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais. Avenida Presidente Antônio Carlos, número
6.627, Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, CEP 31.270901.
b Instituto de Ciências Exatas e Naturais do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia. Rua 20, número 1.600, Tupã,
Ituiutaba, Minas Gerais, Brasil, CEP 38.304402.
RESUMO
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem origem multifatorial, geralmente revelado na infância
e, em alguns casos, acompanha o indivíduo por toda a vida, apresentando sintomas de desatenção, hiperatividade e
impulsividade. Dada a sua importância para a saúde pública, diversos estudos vêm sendo realizados buscando sua
correlação com a expressão de genes específicos, incluindo o receptor de 5hidroxitriptamina 1B (HTR1B) que
expressa um dos receptores de serotonina e é o alvo deste estudo. Dados levantados a partir de biologia
computacional revelaram que o HTR1B está localizado no cromossomo 6, em 6q14.1, e está intimamente relacionado
com transtornos mentais e comportamentais. Sua expressão ocorre em diversos tecidos humanos, com destaque no
córtex cerebral que é a região mais afetada no TDAH. A correlação do gene HTR1B e o TDAH é explicada pela
associação do C861G (polimorfismo de nucleotídeo único) com os sintomas característicos do transtorno, revelando a
suscetibilidade dos portadores deste polimorfismo. O alinhamento da sequência de HTR1B de Homo sapiens revelou
alta identidade com espécies de primatas, majoritariamente chimpanzés. Dada a importância do TDAH para os
indivíduos acometidos e os prejuízos adquiridos, a continuidade de estudos que relacionem o transtorno e a
expressão gênica e proteica de HTR1B se faz necessária, visando avanços no diagnóstico, tratamento e prevenção.
*Autor correspondente: Luciana Karen Calábria, Doutorado em Bioquímica, Universidade Federal de Uberlândia,
Campus Pontal, Rua 20, número 1.600, Tupã, Ituiutaba, Minas Gerais, CEP 38.304402. 3432715252;
lkcalabria@ufu.br.
https://doi.org/10.51161/rems/2311
Editora IME© 2021. Todos os direitos reservados.
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ao transtorno (ICKOWICZ et al., 2006). Isso é, importância dos receptores de serotonina e sua
ocorre uma transmissão preferencial e relação com o TDAH, este estudo teve como
supertransmissão paterna do alelo 861G para objetivo analisar, a partir de ferramentas de
a prole com TDAH (HAWI et al., 2002; ; QUIST biologia computacional, o perfil de expressão
et al., 2003; ICKOWICZ et al., 2006; ). No gênica e proteica de HTR1B, revelando suas
entanto, por ser improvável que este características em Homo sapiens e em outros
polimorfismo altere a estrutura do receptor, é primatas não humanos.
possível que outra variante na sequência
codificadora ou reguladora esteja em 2 MATERIAL E MÉTODO
desequilíbrio de ligação com o C861G,
podendo colaborar com o desenvolvimento do Estudo exploratório e descritivo foi
TDAH (HAWI et al., 2002). Assim, Quist et al. realizado baseandose em revisão bibliográfica
(2003) indicaram que os genes de receptores e no uso de ferramentas de biologia
de serotonina, principalmente o HTR1B, computacional para obtenção de dados sobre o
podem ser importantes fatores de risco para o TDAH e HTR1B (Figura 1).
desenvolvimento de TDAH.
Neste sentido, considerando a
Fonte: Os autores.
A revisão da literatura foi realizada nas foram consideradas válidas quando no formato
bases de dados Google Scholar, SciELO, de artigo original, artigo de revisão, tese de
PubMed e Periódicos Capes utilizando como doutorado, dissertação de mestrado e trabalho
entrada as seguintes palavraschave: “TDAH”, de conclusão de curso.
“transtorno de déficit de atenção com A sequência de resíduos de nucleotídeos
hiperatividade”, “HTR1B”, “receptor”, “5 e de aminoácidos do HTR1B de Homo sapiens
hidroxitriptamina”, “serotonina”, no formato FASTA foi obtida a partir do banco
“neurotransmissor” e “bioinformática”, bem de dados NCBI National Center of
como seus correspondentes em inglês, além Biotechnology Information (https://
do termo AND para incorporar a busca, sem www.ncbi.nlm.nih.gov/) e UniProtKB UniProt
restrição de ano e idioma. As bibliografias Knowledgebase (https://www.uniprot.org/).
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et al., 1992) em 6q13 (JIN et al., 1992). Além sobre a dopamina, a qual é o principal
disso, o receptor possui características de um componente envolvido no TDAH (QUIST et al.,
ligante à proteína G (HAMBLIN et al., 1992; JIN 2003); isso é, os neurônios serotoninégicos
et al., 1992; MOCHIZUKI et al., 1992), regulam a liberação da dopamina e o disparo
codificando uma proteína de 390 aminoácidos dos neurônios (ZENI, 2006). Assim, os efeitos
(DEMCHYSHYN et al., 1992; HAMBLIN et al., do gene HTR1B sobre a dopamina interferem
1992; MOCHIZUKI et al., 1992). diretamente sobre os sintomas do TDAH, pois
alterações no receptor podem causar
3.1 ACHADOS BIOQUÍMICOS E desequilíbrio na relação serotoninadopamina
GENÉTICOS DE HTR1B VS. TDAH no cérebro (QUIST et al., 2003; GUIMARÃES,
2006). Por fim, Hawi et al. (2002) indicaram
Vários estudos têm correlacionado a que mutações em HTR1B que afetem sua
expressão do HTR1B com o TDAH nos mais estrutura ou expressão estão relacionadas ao
diferentes métodos experimentais (HAWI et al., desenvolvimento do TDAH. A sequência de
2002; QUIST et al., 2003; ICKOWICZ et al., nucleotídeos (Tabela 1) e de resíduos de
2006; BIDWELL et al., 2017; XIA et al., 2020). aminoácidos (Tabela 2) do HTR1B de Homo
Bidwell et al. (2017) associaram fortemente um sapiens foi obtida no NCBI (2021).
locus deste gene com a desatenção e
revelaram tendência de associação com 3.2 LOCALIZAÇÃO CROMOSSÔMICA
hiperatividadeimpulsividade. Da mesma forma, DO GENE HTR1B E SUAS VARIANTES
Hawi et al. (2002), Quist et al. (2003) e Xia et
al. (2020) associaram o gene HTR1B com a Apesar de Jin et al. (1992) terem descrito
hiperatividade e agressividade, enquanto a localização do gene como 6q13, atualmente
Ickowicz et al. (2006) apontaram que a já se sabe que a localização é 6q14.1 (NCBI,
serotonina e seus genes possuem papel 2021) (Figura 2), possuindo 2.568 nucleotídeos
mediador nos sintomas do TDAH. (Tabela 1).
Esses dados são possivelmente
explicados pela relação que a serotonina tem Dados do UniProtKB (P28222) revelaram
quatro variantes dbSNP, sendo elas rs130060, C861G do gene HTR1B e esse transtorno,
rs130061, rs130063 e rs130064, indicando indicando a substituição do aminoácido
substituição dos aminoácidos fenilalanina por fenilalanina por cisteína na posição 124, além
cisteína na posição 124, fenilalanina por de duas substituições sinônimas e uma
leucina na posição 219, isoleucina por valina deleção na região flanqueadora 5’,
na posição 367 e glutamato por lisina concordando com dados do UniProtKB (2021).
na posição 374 (UNIPROTKB, 2021). Hawi et
al. (2002); Quist et al. (2003); Ickowicz et al.
(2006) e sugeriram suscetibilidade
gênica ao TDAH ao observarem relação
entre o SNP
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Tabela 1 Características do gene HTR1B, incluindo códigos de acesso, nome de descrição e sequência de
nucleotídeos no formato FASTA
Tabela 2 Características do receptor HTR1B, incluindo códigos de acesso, nome de descrição e sequência de
aminoácidos no formato FASTA
A sequência da proteína HTR1B em (10,8%), Ala (9,0%) e Ser (9,0%) como os mais
Homo sapiens no NCBI tem como código de prevalentes, e Met (2,1%) e His (1,3%) como
acesso NP_000854 e 390 aminoácidos, massa os menos frequentes, tendo 14 Asp e 13 Glu
molecular de 43,56 kDa e ponto isoelétrico de carregados negativamente e 18 Arg e 18 Lys
8,96. A sequência de aminoácidos revelou a carregados positivamente (Tabela 3).
composição dos principais resíduos, sendo Leu
Tabela 3 Composição e frequência de aminoácidos da sequência primária de HTR1B
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Treze sítios foram revelados a partir de trinta e sete resíduos alvo, sendo vinte de
análise nos bancos de dados PROSITE, serina nas posições 27, 30, 34, 45, 64, 90, 127,
NeOGLyc/NetNGLyc e Glygen, como mostra o 136, 158, 197, 258, 263, 265, 266 283, 295,
quadro 1, incluindo glicosilação, fosforilação, 334, 362, 372 e 389 e dezessete de treonina
miristoilação e amidação. Apesar de existirem nas posições 63, 73, 77, 82, 107, 110, 112*,
dois principais tipos de glicosilação, O 116, 152, 162, 209, 213, 243, 247, 252, 313 e
glicosilação e Nglicosilação (JAEKEN, 2010), 315. Além disso, são alvos de fosforilação da
os resultados indicam apenas sítios de N proteína quinase dependente de AMPc e
glicosilação na HTR1B, consistindo no GMPCs os intervalos 249252 e 310313.
processo de adição de um oligossacarídeo ao Ainda, a sequência primária do HTR1B
grupo amino da aspargina extracelular apresenta intervalos alvo para miristoilação
(CZUBA; HILLGREN; SWAAN, 2018), sendo (118123, 262123, 317322) e amidação (247
doze alvos, sete resíduos de serina nas 250).
posições 16, 25, 26, 27, 30, 34 e 388, dois
resíduos de treonina 18 e 243, e três resíduos
de asparagina 24,32 e 245.
Quanto à fosforilação foram identificados
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Tabela 4 Identidade do alinhamento da sequência de nucleotídeos do receptor HTR1B de Homo sapiens com outras
espécies (em %)
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Tabela 5 Identidade do alinhamento da sequência de aminoácidos do receptor HTR1B de Homo sapiens com outras
espécies (em %)
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