Diversos artigos

relacionados à nutrição
esportiva, estética e
empreendedorismo.
 GRADUAÇÃO
COMPORTAMENTO
ALIMENTAR & COACHING
NUTRICIONAL
100% EAD

COORDENADORAS:

LUCIANA LANCHA
ROBERTA CARBONARI
 Em sua 5ª edição, a Revista Brasileira de Comportamento
Alimentar (RBCA) traz conteúdos relevantes, atuais e
reflexivos a respeito do comportamento alimentar, possíveis
revistadigital.plenitudeeducacao.com.br
respostas do organismo frente a determinados
comportamentos, aspectos legais e metodologias de
abordagem ao tema.

Editoras Chefes A RBCA busca discutir se a rotina pode interferir em nossa

Luciana Lancha saúde e nas próximas gerações, como isso ocorre, e o
Roberta Carbonari quanto as alterações do comportamento alimentar podem
impactar diretamente o nosso organismo, conteúdos sobre
epigenética e microbiota intestinal serão compartilhados a
seguir devido suas relevâncias no contexto atual e em
perspectivas futuras.
Diretor de Edição
João Pinheiro
Os cuidados e a importância da normatização de pesquisas
envolvendo seres humanos e a metodologia de Coaching
em consultas de nutrição, também serão apresentados sob
uma perspectiva crítica, ampliando e fortalecendo

Equipe de Edição argumentos a respeito destes respectivos temas. Conhecer

Bruna Ruschel o histórico das legislações vigentes e conseguir tornar o
Isabela Bozza paciente parte integrante e ativa do tratamento vem se
mostrando cada dia mais fundamental na evolução das
Imagens
intervenções propostas, estabelecendo um relacionamento
Canva
de confiança e, sempre, respeitando valores éticos e morais.
Conteúdos
Alunos e Professores da Pós
Graduação em Comportamento
Alguns estudos apontam o aumento de distúrbios
Alimentar e Coaching Nutricional alimentares e outras alterações no sistema nervosos central
no país, por esse motivo, ressalta-se a importância dos
temas abordados nos artigos.
plenitudeeducacao.com.br
Luciana Lancha e Roberta Carbonari.
Aproveite a leitura!
Coordenadoras da Pós Graduação em Comportamento
@plenitudeeducacao
Alimentar e Coaching Nutricional.
 A relação do comportamento alimentar com o
05
ambiente: Existe relação com a epigenética?

Associação entre o eixo intestino-cérebro e as

10
doenças neurodegenerativas.

A participação dos seres humanos em pesquisas: o

16
cuidado e a importância da normatização.

24 Ferramentas de Coaching na Consulta de Nutrição

ARTIGO

RBCA | 5ª edição 05
ARTIGO
S erá que esse nosso comportamento do dia a
dia tem alguma relação com nossos genes a ponto
de expressarmos, enquanto resultados de nossas
escolhas, diferentes condutas sociais e alimentares?
Hoje sabemos que o ambiente em que vivemos,
nossas próprias experiências e até mesmo a de
nossas mães modificam muitos aspectos em nossa
vida que podem se relacionar com promoção de
saúde e/ou de doença, assim como afetam tal
como nos comportamos, se somos estressados,
tranquilos, irritados ou compulsivos (1).
De acordo com alguns autores o comportamento
possui relação com fatores externos e internos
sendo esses relacionados com a expressão de
proteínas e hormônios (2,3). A nossa relação com o
ambiente, do ponto de vista do comportamento
social, corresponde a uma adaptação importante
para a vida, tendo regulações epigenéticas clássicas,
como modificações de histonas, metilação de DNA
e remodelação de nucleossomos, e também
mecanismos não clássicos intercedidos por RNA
não codificantes (2).
Do ponto de vista genético, hoje sabemos que o
nosso código não pode ser alterado a partir do
momento que somos concebidos, no entanto como
expressamos esses genes, depende sim de como
vivemos.
Por mecanismos de marcações químicas, fatores de
transcrição, mRNA’s, a expressão de genes pode ser
modificada e até impedida de ser expressa e as
consequências desses mecanismos são diversas
podendo atingir níveis micro e macro, repercutindo
na nossa saúde (4,5).
Alguns autores encaram a complexidade de
regulação como uma "rede epigenética" capaz de
orquestrar a integração genômica através de
experiências sociais relevantes e transitórias que,
quando desreguladas, podem estar associadas a
déficits comportamentais e psicopatologias (2).
Dentro desse contexto, a dinâmica das mudanças
epigenéticas ao longo do tempo podem ser
definidas em três tipos: a direta - decorrente do
estilo de vida e das experiências diretas com o
ambiente; indireta I - decorrente das experiências
no ventre e indireta II - decorrente das
experiências de nossos ascendentes (pais, avós,
etc.), devido a eventos que ocorrem mesmo muito
antes da concepção e que são transmitidos através
de gerações, por gametas e no ambiente
intrauterino (2,4,5). Sendo esse último considerado
uma rota mais rápida de transmissão de
informações através das gerações em comparação
com a herança genética (4).
RBCA | 5ª edição 06
ARTIGO
Embora a associação da metilação com o
comportamento e com transtornos alimentares
ainda não seja totalmente esclarecida, é importante
considerar a hipótese para nortear futuras
condutas.
Os estímulos ambientais no nosso genoma
continuam mesmo após o nascimento a sofrer
variações programadas pela metilação, podendo
afetar o envelhecimento e a predisposição à várias
doenças metabólicas, autoimunes e neurológicas
(5).
O direcionamento das pesquisas na descoberta de
marcadores gênicos para determinadas doenças e
comportamentos avança cada vez mais pela linha
da metilação. Uma vez que a metilação é tecido
específica e pode ser usada para monitorar muitas
doenças comuns com um simples exame de
sangue (6).
O direcionamento das pesquisas na descoberta de
marcadores gênicos para determinadas doenças e
comportamentos avança cada vez mais pela linha
da metilação. Uma vez que a metilação é tecido
específica e pode ser usada para monitorar muitas
doenças comuns com um simples exame de
sangue (6).
Quanto a prática clínica, mesmo que a direção das
pesquisas tornem o diagnóstico tão molecular, a
escuta e avaliação do paciente como um todo
sempre se fará necessária, uma vez que essa
abertura ao paciente nos mostra muito do que
precisamos trabalhar junto a ele e é chave para o
entendimento de determinadas características
apresentadas.
As marcas na história e no genoma que esse
paciente carrega podem ser fatores capazes de
modificar a expressão de proteínas mesmo após o
nascimento, como exemplo em crianças cujo o
controle epigenético do eixo hipotálamo-hipófese-
adrenal (HPA) pode ser alterado observando-se
maior sensibilidade ao estresse aos 3 meses de
idade (7). A ciência já nos apresenta que momentos
traumáticos nesse período da infância associam-se
à alterações no perfil de metilação em genes como
o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF)
responsável pela plasticidade da memória, em
pacientes que apresentam bulimia (7).
Em estudo realizado com mulheres que buscou
avaliar até que ponto a metilação do promotor do
gene do receptor do glicocorticoide (GR), NR3C1,
teria correspondência com traumas na infância ou
abuso infantil com transtornos alimentares, como
bulimia nervosa, suicídio ou transtorno de
personalidade limítrofe (DBP), mostrou relação
significativa com a metilação de locais específicos
do NR3C1 responsáveis pela regulação do controle
do eixo HPA (8).
RBCA | 5ª edição 07
ARTIGO
O estresse psicossocial é capaz de alterar a
regulação do eixo HPA através dos níveis de cortisol
que está associado ao aumento de obesidade
central, juntamente com a dieta, atividade física e
duração e qualidade de sono. Níveis alterados de
cortisol podem afetar as vias de recompensa nos
centros cerebrais afetando o apetite, a homeostase
energética e a reatividade ao estresse (9).
Os efeitos do estresse social, traumático refletem
diretamente, portanto, no comportamento social e
também no comportamento alimentar.
Por outro lado, o padrão alimentar também pode
ter efeitos nas marcações gênicas, como ocorre nas
mudanças de sinalização neuroquímica inter-
relacionadas do gene BDNF, associado ao consumo
de dieta hipercalórica em estágios iniciais do
desenvolvimento, podendo relacionar-se com o
comprometimento da distribuição temporal do
padrão alimentar e consequentes quantidades de
alimentos consumidos durante a fase de desmame
(10).
Outro gene muito importante no comportamento
alimentar é o responsável pela síntese da dopamina,
um neurotransmissor regulador de processos
compensatórios e motivacionais, que apresenta
correlação entre estado de metilação e consumo
aumentado de calorias e carboidratos,
configurando assim um regulador epigenético
importante para o consumo alimentar e tanto do ponto de vista internos quanto externos.
consequentemente para o desenvolvimento da
obesidade (11).
Em crianças com idades entre 5 e 6 anos foram
analisadas associações epigenéticas em genes alvos
(FTO, MAOA, SH2B1, LEPR, DNMT3B, BDNF e
CCKAR) relacionados ao consumo alimentar, o
estudo avaliou dois grupos de crianças (32 crianças
não obesas e 32 obesas) e observou a existência da
relação entra as variações epigenéticas e as
mudanças do apetite (3).
Os genes alvos desses estudos estão relacionados à
mudanças de comportamento alimentar desde a
infância, que por decorrência de experiências
ambientais como o estresse social e traumas
vividos nos primeiros anos de vida, pela intensidade
que ocorrem e reverberam, podem sofrer rem
expressão e, portanto, impactarem
comportamentos alimentares e sociais.
Os genes alvos desses estudos estão relacionados à
mudanças de comportamento alimentar desde a
infância, que por decorrência de experiências
ambientais como o estresse social e traumas
vividos nos primeiros anos de vida, pela intensidade
que ocorrem e reverberam, podem sofrer em
expressão e, portanto, impactarem
comportamentos alimentares e sociais.
Com base na pergunta central que norteou essa
escrita e a revisão de artigos científicos sobre o
tema, podemos dizer que sim, existe uma
explicação ambiental para nossos comportamentos
RBCA | 5ª edição 08
ARTIGO

Desse modo, a direção para o diagnóstico
molecular que os pesquisadores buscam se
aprofundar, certamente pode trazer algo positivo
Argentieri MA, Nagarajan S, Seddighzadeh B, Baccarelli AA, Shields AE.
Epigenetic Pathways in Human Disease: The Impact of DNA
Methylation on Stress-Related Pathogenesis and Current Challenges in
Biomarker Development. EBioMedicine [Internet]. 2017 Apr;18:327–50.

para futuras intervenções, e essas descobertas Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.ebiom.2017.03.044

podem nos apresentar mais ferramentas e

Frieling H, Buchholz V. Epigenetics and eating disorders. In:
embasamento que possibilitem direcionamentos Neuropsychiatric Disorders and Epigenetics [Internet]. Elsevier; 2017.

de condutas cada vez mais individualizadas levando p. 299–307. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/B978-0-12-
800226-1/00015-0
em consideração todos esses fatores. Um DNA
único merece uma intervenção única da mesma Steiger H, Labonté B, Groleau P, Turecki G, Israel M. Methylation of the

forma. glucocorticoid receptor gene promoter in bulimic women:

Associations with borderline personality disorder, suicidality, and
exposure to childhood abuse. Int J Eat Disord [Internet]. 2013 Apr
Referências:
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Turecki G, Meaney MJ. Effects of the Social Environment and Stress on
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/eat.22113
Glucocorticoid Receptor Gene Methylation: A Systematic Review
[Internet]. Vol. 79, Biological Psychiatry. Elsevier USA; 2016 [cited 2019
Michels N. Biological underpinnings from psychosocial stress towards
Dec 5]. p. 87–96. Available from:
appetite and obesity during youth: research implications towards
https://www.cambridge.org/core/product/identifier/S0954422419
metagenomics, epigenomics and metabolomics. Nutr Res Rev
000143/type/journal_article
[Internet]. 2019 Dec 12;32(2):282–93. Available from:
https://www.cambridge.org/core/product/identifier/S0954422419
Bludau A, Royer M, Meister G, Neumann ID, Menon R. Epigenetic
000143/type/journal_article
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Palazzo RP, Torres ILS, Grefenhagen ÁI, da Silva BB, de Meireles LCF,
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de Vargas KC, et al. Early life exposure to hypercaloric diet impairs
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Gardner KR, Sapienza C, Fisher JO. Genetic and epigenetic associations
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toobesity-related appetite phenotypes among African-American
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Available from: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31268-6

RBCA | 5ª edição 09
ARTIGO

RBCA | 5ª edição 10
ARTIGO
O Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA
realizou, entre 2007 e 2016, o Projeto do
Microbioma Humano (HMP, em inglês), cujos
objetivos principais consistiam em demonstrar a
aplicabilidade e a relevância do microbioma
humano. O HMB elucidou muitas questões acerca
do nosso microbioma e verificou variações
existentes no microbioma por meio de diferentes
populações, genótipos, doenças, idades, meio
ambiente, hábitos alimentares, entre outros. Esse
projeto investigou a fundo como o nosso
microbioma tem influência significativas no nosso
estado de saúde e em diferentes doenças (1).
Nesse contexto, a microbiota intestinal é o
conjunto de bactérias intestinais que atua em
diversos processos, como nos metabólicos,
imunológicos e na produção de nutrientes,
contribuindo para manter o nosso organismo em
simbiose, ou seja, em equilíbrio. Esses
microrganismos contribuem de forma direta para a
metabolização de vitaminas e outros nutrientes
essenciais contribuindo para a obtenção de energia
a partir dos alimentos, principalmente, por meio de
fibras que são fermentadas por bactérias
comensais no intestino levando à produção de
ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) (2-4).
A microbiota intestinal tem absoluta influência no
eixo intestino-cérebro. Este eixo tem sido foco de
pesquisas relevantes e considerado parte dos
mecanismos de desenvolvimento de doenças do
sistema nervoso central (SNC), visto que o aumento
da permeabilidade intestinal, relacionada à
disfunção gastrointestinal e às mudanças na
composição da microbiota intestinal, pode facilitar
a exposição do SNC e entérico a patógenos,
endotoxinas e citocinas pró-inflamatórias, como a
interleucina (IL)-6, IL-8, TNF-α e IL-10 (5, 6).
Os lipopolissacarídeos (LPS) são componentes
chave da via inflamatória e estão localizados na
parede celular de bactérias Gram-negativas. Estes
constituintes microbianos provocam respostas
inflamatórias, através de interações com receptores
de superfície celular, em diferentes tipos celulares,
como as células do sistema imune. O aumento da
concentração de LPS no sangue está relacionado à
permeabilidade intestinal devido à expressão
reduzida de proteínas que atuam na barreira
intestinal. A translocação de LPS através da redução
da expressão das junções oclusivas é um fator
responsável associado ao desenvolvimento da
inflamação sistêmica (5, 7, 8).
RBCA | 5ª edição 11
ARTIGO

A disbiose intestinal pode desempenhar papel na O envelhecimento é um processo fisiológico que

patogênese de doenças, estresse oxidativo (EO), ocasiona alterações da composição da microbiota
neuroinflamação, resistência à insulina (RI), e até intestinal e indução da inflamação sistêmica que
mesmo degradação neural, assim como culmina em aumento da permeabilidade da
desenvolvimento de placas de beta-amilóide e barreira intestinal e alterações na função da
emaranhados neurofibrilares nas células nervosas barreira hematoencefálica (9). Nesse processo tem-
que são características da Doença de Alzheimer se o aumento de bactérias pró-inflamatórias
(DA) (9, 10). (Verrumicrobia, Escerchia/Shigella, Proteobacteria,
Pseudomas aeruginosa) e a diminuição de bactérias
Um estilo de vida inadequado e maus hábitos
anti-inflamatórias (Eubacterium hallii, Bacillus
alimentares, podem contribuir com esses
fragilis, Bacteroides fragilis, Eubacterium rectale,
mecanismos, e, dessa forma, modular a microbiota
Faecalibacterium prausnitzii e Bifidum bacterium).
através da dieta, o que torna a dieta uma hipótese
Além disso, há um aumento na síntese de citocinas
de estratégia eficaz para contribuir no tratamento
pró-inflamatórias (IL-6, IL-1β, IL-8 e IL-10) e
e/ou prevenção de doenças neurodegenerativas. É
diminuição na produção de outros componentes
válido ressaltar que, por mais que haja muitos
anti-inflamatórias, como o butirato (Figura 1),
estudos que corroboram para essa hipótese, ainda
quadro que promove a neuroinflamação e o
são necessárias evidências mais robustas para
agravamento de placas de beta-amilóide,
sustentar possíveis tratamentos. Adicionalmente,
contribuindo para a fisiopatologia da DA (9, 12).
existem estudos focados na temática que
relacionam a disbiose intestinal aos transtornos
mentais como esquizofrenia, depressão, transtorno
bipolar, ansiedade, estresse pós-traumático,
transtorno obsessivo-compulsivo e demência e
reforçam que a síndrome metabólica e a disbiose
intestinal podem afetar de forma negativa o
aprendizado e a neuroplasticidade (9, 11).

Figura 1. Adaptado Shabbir et al. (2021). Papel da disbiose intestinal na

neurodegeneração e em doenças neurodegenativas, como DA. Os componentes
pró-inflamatórios atuam no distúrbio da homeostase intestinal e na
permeabilidade intestinal aumentada. O comprometimento do intestino e da
barreira hematoencefálica pode contribuir para a fisiopatologia de doenças
neurodegenerativas (13).

RBCA | 5ª edição 12
ARTIGO
O padrão alimentar e determinados nutrientes são
associados a redução do risco de desenvolvimento
de DA. Um padrão alimentar anti-inflamatório,
como a dieta do mediterrâneo, é amplamente
estudado nesta associação e pode desempenhar
papel protetor nas alterações cognitivas (14). Alguns
nutrientes em específico também
apresentam efeitos protetores, e, nesse sentido, o
presente artigo irá abordar o ômega-3, os
probióticos e os polifenóis (Figura 2) (15).
Figura 2. Nutrientes que podem estar associado à diminuição de DA.
Laitinen et al. (2006) verificaram associação entre as
gorduras poli-insaturadas e a DA. Esse resultado foi
verificado em um estudo com 1.449 participantes,
entre 65 e 80 anos, durante 21 anos. O estudo
concluiu que a ingestão moderada de gorduras
insaturadas na meia-idade pode ser protetora, e
que a ingestão de gorduras saturadas pode
aumentar o risco de DA e demência, sobretudo em
indivíduos portadores da Apolipoproteína E (ApoE)
(16).
Um estudo do Departamento de Gerontologia da
Universidade Clinic Upper Austria, publicado em
2018, realizado com pacientes (n = 20) com DA, ,
mostrou que a suplementação de probióticos altera
de forma significativa a composição das bactérias
intestinais, bem como o metabolismo do triptofano
podem no soro. Os pacientes tinham em média 76,7 ± 9,6
anos e apresentavam pontuação média no Mini
Exame do Estado Mental de 18,5 ± 7,7. A intervenção
durou 28 dias e o consumo de probióticos era
diária. Os probióticos eram ofertados em sachês e
eram compostos pelas seguintes cepas:
Lactobacillus casei W56, Lactococcus lactis W19,
Lactobacillus acidophilus W22, Bifidobacterium lactis
W52, Lactobacillus paracasei W20, Lactobacillus
plantarum W62, Bifidobacterium lactis W24,
Lifidobacterium bivaridius W51, Bifidobacterium
bivaridium W2 (17).
Uma revisão sistemática (RS) recente (2019),
publicada na Alzheimer's & Dementia: Translational
Research & Clinical Interventions investigou a
ingestão de alimentos ricos em polifenóis no risco
reduzido de várias doenças não transmissíveis,
como DA. A RS considerou vinte e quatro estudos,
sendo doze deles com correlação positiva do
consumo de polifenóis com o declínio cognitivo
reduzido. A revisão, por mais que alguns estudos
tenham encontrado resultados positivos entre à
ingestão e o desfecho, enfatiza que ainda é
necessário estudos com amostras maiores sobre
essa relação (18, 19).
RBCA | 5ª edição 13
ARTIGO

Conclusão:
Muitos estudos apontam para o caminho da
evidência de que a disbiose intestinal pode
contribuir para processos neurodegenerativos,
pelo mecanismo de aumento de citocinas e
bactérias pró-inflamatórias. Alguns nutrientes
específicos vem sendo amplamente estudados pelo
potencial efeito protetor em doenças
neurodegenerativas, como na DA. Mais estudos,
com amostras maiores, são necessários para
sustentar essa hipótese.

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RBCA | 5ª edição 14
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RBCA | 5ª edição 15
ARTIGO

RBCA | 5ª edição 16
ARTIGO
O primeiro estabelecimento de normas sobre
pesquisas envolvendo seres humanos foi o Código
de Nuremberg em 1947. Este documento foi uma
resposta aos abusos cometidos contra prisioneiros
de guerra dentro e fora dos campos de
concentração na Segunda Guerra Mundial (1, 2),
com apoio, inclusive, de pessoas gabaritadas
cientificamente e o amparo de órgãos de fomento à
pesquisa (3).
O Código de Nuremberg, que teve repercussão
mundial, instituiu princípios éticos mínimos a
serem adotados em pesquisas que envolvessem
pessoas. Trouxe como primeiro princípio básico
que a experimentação humana incluísse o
"consentimento voluntário do participante da
pesquisa” (2). Estabeleceu que os indivíduos devem
ser legalmente capazes de consentir; exercer o livre
direito de escolha sem intervenção ou coação,
precisam compreender o assunto em estudo para
tomar uma decisão de participar ou não da
pesquisa e institui que a responsabilidade do
pesquisador é intransferível para garantir a
qualidade do consentimento. Considera-se que
este Código foi o marco para a elaboração do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Seguindo essa publicação, adiciona-se a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que
reforça o cuidado e o respeito com as pessoas
como um todo, procurando proteger e resguardar
a sociedade de maus tratos em quaisquer
circunstâncias.
Em junho de 1964, a Associação Médica Mundial
elabora a Declaração de Helsinque, com
recomendações para o médico que trabalha com
pesquisa biomédica. Esta Declaração reitera que é
necessário o consentimento informado para
qualquer participante de pesquisas, mesmo
daqueles que se encontram em uma relação de
dependência com o investigador (1). Desde sua
criação, ela se preocupou também com outros
assuntos, como o cuidado e o respeito com as
questões ambientais e com o bem estar dos
animais utilizados na pesquisa, ela reforça tanto a
preocupação com o participante da pesquisa, como
a necessidade de obtenção do consentimento
informado, de preferência por escrito e voluntário
(4, 5).
Entre outras recomendações da Declaração de
Helsinque, ressalta-se que foi estabelecida a
necessidade de um protocolo de pesquisa que deve
ser apresentado a uma comissão independente,
tanto do investigador como do patrocinador para
considerações, comentários e orientações (6).
RBCA | 5ª edição 17
ARTIGO

Ampliando o olhar para a ética em pesquisas Todos estes documentos vêm balizando a ética em
médicas, o Conselho para Organizações pesquisa, porém foram elaborados por entidades
Internacionais e Ciências Médicas (CIOMS) e/ou corporações médicas, centrados sobretudo,
produziu Diretrizes Éticas Internacionais para a em pesquisas médicas (8). Todavia é fundamental
Pesquisa Biomédica em Seres Humanos lembrar que pesquisas em seres humanos são
(originalmente publicadas em 1993 e atualizada em realizadas em outras áreas profissionais, mesmo
anos seguintes) sobre a implementação dos que sua gênese tenha sido na medicina.
princípios descritos na Declaração de Helsinque. As
Esses códigos, declarações e diretrizes se tornaram,
Diretrizes definem em um contexto apropriado os
ao longo do tempo, amplamente conhecidos como
desafios da pesquisa clínica, abordando questões
documentos internacionais que regulam a pesquisa
complexas, incluindo pesquisa de HIV/Aids,
em seres humanos. Debates sobre a sua
disponibilidade de tratamentos de estudo após o
aplicabilidade, em diferentes contextos
seu término, mulheres como participantes de
socioculturais sempre se atualizam. Os países
pesquisa, segurança da confidencialidade,
foram se ajustando, protegendo sua população
indenização por eventos adversos, como bem
frente a necessidade de normas nacionais ou
orientações sobre consentimento (7), conceito este
regionais (9), especialmente em países em
sempre enaltecido no olhar dos documentos
desenvolvimento.
dirigidos à pesquisa com seres humanos.
O Brasil não se isentou de desenvolver sua
Essas Diretrizes destacam as peculiaridades das legislação, adequada à sua realidade. Em 1988 foi
diferentes realidades existentes nos países em elaborado o primeiro documento brasileiro
desenvolvimento. Também ressaltam a proteção de publicado pelo Conselho Nacional de Saúde, a
grupos humanos vulneráveis (pessoas com Resolução 01/88 que definiu parâmetros para
transtornos mentais, crianças, prisioneiros, regulamentar as pesquisas que envolvessem seres
comunidades subdesenvolvidas, gestantes e humanos. Contudo, essa resolução não se ajustou
nutrizes), o consentimento em estudos aos avanços científicos e tecnológicos observados
epidemiológicos e multicêntricos e as pesquisas em todo o mundo. Foi preciso sua atualização pelo
financiadas de fontes externas ao país onde é Conselho Nacional de Saúde, que formou uma
realizada. Corrobora o princípio da participação comissão multidisciplinar, resultando na Resolução
autônoma, da privacidade, da confidencialidade e 196/96 - Diretrizes e Normas Regulamentadoras
sigilo dos dados e a necessidade dos Comitês de Envolvendo Seres Humanos (3, 4).
Ética em Pesquisa (4,7).
RBCA | 5ª edição 18
ARTIGO
Este documento, mais completo e abrangente,
apesar de não ter força de lei, tornou-se um
imperativo moral observado em todas as pesquisas
que envolvem seres humanos no país (10). Sua
elaboração considerou todas as normas, códigos e
declarações previamente publicados e discutidos
em todo o mundo. Ela destinava-se a qualquer
pesquisa que envolvesse seres humanos, quer
individual ou coletivamente, de maneira direta ou
indireta, no seu todo ou em suas partes (11), e teve
como um de seus propósitos esclarecer às pessoas
que o seu tratamento poderia fazer parte de uma
pesquisa e oferecer uma escolha em participar ou
não desta pesquisa (12).
Como em toda atividade profissional, a investigação
científica necessita de controles sociais. No Brasil, a
responsabilidade final de uma investigação é do
pesquisador, mas em toda instituição onde a
pesquisa é desenvolvida deve existir um Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP). Estes Comitês estão
subordinados à Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP), que é submetida à Comissão
Nacional de Saúde (13), o conhecido Sistema CEP-
CONEP.
Desde então ficou estabelecido que toda pesquisa
que envolva seres humanos deve ser aprovada,
antes de iniciada.
O sistema CEP-CONEP foi instituído em 1996 para
proceder a análise ética de projetos de pesquisa
envolvendo seres humanos no Brasil. Este processo
é baseado em uma série de resoluções e
normativas deliberadas pelo Conselho Nacional de
Saúde (CNS), órgão vinculado ao Ministério da
Saúde.
Os Comitês de Ética em Pesquisa devem ser
constituídos de forma multidisciplinar, com efetiva
participação de profissionais da área da saúde, das
ciências exatas, sociais e humanas e pelo menos um
membro da sociedade representado por usuários
ou representantes da comunidade da instituição,
com o objetivo de estabelecer um controle social
para a pesquisa. Sua estrutura não permite que haja
mais de 50% dos seus membros de uma mesma
categoria profissional, caracterizando dessa forma
a multidisciplinaridade (11).
A Resolução 196/96 teve em sua gênese o caráter
bioético pela sua natureza plural, incorporando a
reflexão em todas as suas ações visando, sobretudo,
a proteção do ser humano, tanto do pesquisador
como do participante da pesquisa, com dignidade e
respeitando sua integralidade, sem impedir o
desenvolvimento científico.
RBCA | 5ª edição 19
ARTIGO
Em sua elaboração e redação, fica evidenciada a
preocupação que houve com o principialismo da
bioética, uma vez que (i) Reforça o consentimento
voluntário (autonomia); (ii) Pondera entre riscos e
benefícios (beneficência); (iii) Garante a prevenção
de danos previsíveis (não maleficência); (iv)
Considera a relevância social (justiça e equidade).
Em 2012 a Resolução 196/96 foi revista, ainda à luz
da bioética, de acordo com o olhar das áreas
tecnológica, científica e ética. Atualmente a
Resolução 466/12 norteia os Comitês de Ética nas
análises dos projetos enviados, juntamente com
outras resoluções, cartas circulares e outras
normativas. Destaca-se que esta Resolução trouxe
novidades no seu conteúdo, como a ampliação dos
aspectos éticos das pesquisas realizadas com
pessoas, e que o consentimento livre e esclarecido
passa a ser entendido como um “processo”, que é o
olhar da autonomia ao participante da pesquisa. A
Resolução 466/12 também instituiu a necessidade
de obtenção do Termo de Assentimento Livre e
Esclarecido para pessoas em condições de
vulnerabilidade (13).
O atual sistema possui como fundamentos o
controle social, exercido pela ligação com o
Conselho Nacional de Saúde, capilaridade na qual,
mais de 98% das análises e decisões ocorrem a
nível local, pelo trabalho dos Comitês de Ética em
Pesquisa e o foco na segurança, proteção e garantia
dos direitos dos participantes de pesquisa.
A maioria dos processos relacionados à análise
ética ocorre em ambiente eletrônico por meio da
ferramenta chamada Plataforma Brasil (14).
A Plataforma Brasil é uma base nacional e unificada
de registros de pesquisas envolvendo seres
humanos para todo o sistema CEP/CONEP. Ela
permite que as pesquisas sejam acompanhadas em
seus diferentes estágios - desde sua submissão até
a aprovação final pelo CEP e/ou pela CONEP
(quando necessário) possibilitando inclusive o
acompanhamento da fase de campo, o envio de
relatórios parciais e dos relatórios finais das
pesquisas, depois de finalizadas. O sistema permite,
ainda, a apresentação de documentos também em
meio digital, propiciando ainda à sociedade o
acesso aos dados públicos de todas as pesquisas
aprovadas. Pela internet é possível a todos os
envolvidos o acesso, por meio de um ambiente
compartilhado, às informações em conjunto,
diminuindo de forma significativa o tempo de
trâmite dos projetos (14).
As normatizações aprovadas pelo Conselho
Nacional de Saúde pautam-se em exigências éticas
e científicas fundamentais para garantir os direitos
dos participantes de pesquisa.
RBCA | 5ª edição 20
ARTIGO

Todo estudo que engloba coleta de dados,
individual ou coletiva, direta ou indiretamente,
incluindo material biológico ou dados já coletados
(retrospectivos), deve ser encaminhado e avaliado
por um Comitê de Ética por meio de um projeto
escrito, juntamente com a documentação
pertinente. O pesquisador ou pesquisadores devem
se cadastrar na Plataforma Brasil para enviar seus
projetos e seguir as orientações para a submissão.
Somente serão apreciados protocolos de pesquisa
cadastrados na Plataforma e que apresentarem
toda a documentação solicitada, (15). As pendências
documentais, atrasam o encaminhamento do
Outro dado relevante num projeto de pesquisa é a
previsão de riscos e benefícios. Consta na
Resolução 466/12 que não existe pesquisa sem
risco ou desconforto, mesmo que mínimo,
portanto eles devem ser previstos, assim como seu
manejo, para preservação da saúde (física,
emocional ou social) dos envolvidos (16).
O benefício nem sempre pode ser direto aos
participantes, neste caso deve se considerá-lo
como indireto, para a sociedade, e precisa ser
descrito.
Em análises de projetos submetidos ao Comitês de

projeto para análise do Colegiado, podendo Ética observa-se que grande parte das pendências

prejudicar o cronograma estabelecido. são do Termo de Consentimento Livre e

O pesquisador responsável é aquele que coordena
e realiza a pesquisa, tem todo acesso ao projeto e
todas as etapas, mas todos os pesquisadores
envolvidos no projeto devem constar na Plataforma
Brasil. Os pesquisadores assistentes têm as mesmas
funções que o pesquisador principal, mas todas as
ações são de responsabilidade do pesquisador
responsável. Por exemplo, alunos de graduação são
assistentes, pois como ainda não são formados, não
podem ser pesquisadores principais.
Esclarecido. Este documento deve apresentar
todas as informações solicitadas na Resolução
466/12 para ser considerado adequado e que
informe verdadeiramente o participante, por isso
sempre que o pesquisador submeter um novo
projeto recomenda-se que se consulte a legislação
pertinente.

Todos os dados do projeto inseridos na Plataforma

Brasil são importantes, contudo, considerando a
proteção aos participantes, a descrição do método
é fundamental, pois delineia as ações que serão
realizadas, permitindo a avaliação ética do
procedimento em questão.
RBCA | 5ª edição 21
ARTIGO

Seu conteúdo deve ter uma linguagem clara e de
fácil entendimento, feito na forma de convite ao
participante da pesquisa, com a descrição dos
objetivos propostos, procedimentos e duração
aproximada da participação, benefícios previstos,
potenciais riscos e seu manejo, ressarcimento
(quando aplicável), garantia legal de indenização em
eventuais problemas comprovadamente gerados
pela pesquisa, grau de confidencialidade mantido
durante e após a pesquisa e o direito de abandonar
a pesquisa em qualquer momento. Deve ainda
apresentar dados de contatos dos pesquisadores e
do Comitê de Ética. O pesquisador deve garantir
uma segunda via do Termo ao participante,
inclusive quando sua aplicação for online, e quando
impressa, as páginas devem ser numeradas e
rubricadas.
Já foi discutido a importância do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido desde os
primeiros documentos que normatizaram a
pesquisa com seres humanos e ele representa a
autonomia do participante, conferindo
capacidade da pessoa decidir, sem qualquer forma
de coação, se deseja ou não fazer parte da pesquisa.
O participante deve compreender o que está sendo
informado a ele, de forma simples, porém com
todos os dados da pesquisa proposta.
O sistema CEP/CONEP não tem intenção de
impedir ou barrar pesquisas, mas proteger o
participante e contribuir para sua eticidade,
qualidade e discussão tanto no desenvolvimento
institucional quanto no avanço social da
comunidade. Busca ainda a valorização do
pesquisador que recebe o reconhecimento de que
sua proposta é eticamente adequada.
Além disso, o Comitê de Ética, ao emitir parecer
consubstanciado, pautado na legislação e discutido
em plenária por seus membros, colabora para o
processo educativo dos pesquisadores, da
instituição e dos próprios membros do Comitê de
Ética, assegurando a formação continuada de todos
os envolvidos, promovendo a discussão dos
aspectos éticos das pesquisas em seres humanos
na comunidade.
Não obstante a quantidade de declarações, normas,
tratados e acordos existentes ao longo do tempo,
ainda ocorrem muitas denúncias de abusos
ocorridos em pesquisa clínica, inclusive no Brasil
a
(16). Por isso é cada vez mais importante que se
estabeleçam formas de proteger os participantes
de pesquisas, garantindo segurança, integridade e
respeito à sua autonomia, assim como preservar a
integridade da ciência.

RBCA | 5ª edição 22
ARTIGO

Referências: (14) https://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf. Acesso em 03

março 2021.
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Loyola, 2012.
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organização e funcionamento do Sistema CEP/CONEP, e sobre os
(2) Palmer SK. Ethics and Human Experimentation Anesthesiology.
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2011; 114:1001–5.
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nos termos do item 5, do Capítulo XIII, da Resolução CNS n° 466 de 12
(3) Costa SIF, Oselka G, Garrafa V (Coordenadores). Iniciação à bioética.
de dezembro de 2012. 30 set 2013.
Brasília, DF: Conselho Federal de Medicina, 1998 (4) Fortes PAC. Ética e
(16) Rippel JA, Medeiros CA, Maluf F. Declaração Universal sobre
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(5) Garrafa V, Kottow M, Saada A (Organizadores). Bases Conceituais da
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(9) Fadari JO, Porteli, C. Informed consent in human subject research: a

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(10) Segre M. A questão ética e a saúde humana. São Paulo: Editora

Atheneu, 2006.

(11) Brasil. Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996. Aprova diretrizes

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Diário Oficial da União. 10 out 1996.

(12) Hossne WS, Vieira S, Freitas CBD. Committees for ethics in

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(13) Brasil. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova

diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos e revoga as Resoluções CNS nº 196/96, 303/2000 e
404/2008. Diário Oficial da União. 13 jun 2013. RBCA | 5ª edição 23
ARTIGO

RBCA | 5ª edição 24
ARTIGO

A tingir
acompanhamento
e manter bons
nutricional
resultados
dependem
adesão ao tratamento, fato ainda desafiador para
no
da
Coaching constitui um conjunto de metodologias
conduzidas por um profissional (o coach), para que
seu cliente se torne apto a definir e realizar seus
muitos nutricionistas. objetivos(4). Através de ferramentas específicas,

O estudo do comportamento tem despertado como por exemplo, a entrevista motivacional, é

grande interesse em pesquisas de saúde por se possível motivar mudanças de comportamento que

tratar de um elemento muito importante para o darão ênfase aos pontos fortes de cada pessoa, para

sucesso de intervenções, inclusive nutricionais(1). que a evolução ocorra baseada no que está
funcionando. Desta forma, conseguimos
Drombowski et al(2), em uma revisão sistemática
desenvolver um sentido para a mudança, e obter
realizada em 2014 com 45 estudos, analisou
confiança(5,6).
diversos tipos de intervenção para perda e
manutenção de peso: dieta, exercício, intervenção O nutricionista, ao aplicar técnicas de coaching em
comportamental para dieta e atividade física, seus atendimentos, estabelece um relacionamento
farmacológica, substituições de refeições. Concluiu de total confiança com seu paciente. Algumas
que as intervenções comportamentais em dieta e competências devem ser desenvolvidas, como a
atividade física foram o único tipo de intervenção atenção incondicional ao seu cliente, a escuta ativa,
capaz de apresentar resultado moderado na a utilização de perguntas abertas, reflexões ou
manutenção de peso após 2 anos de resumos, consideração das expectativas e a
acompanhamento. participação ativa do cliente, criação de vínculo
através da empatia, e o estabelecimento de
A utilização do coaching pelo nutricionista
compromisso. Este processo aumenta a
Intervenções comportamentais na alimentação
consciência para dirigir atenção plena aos objetivos
envolvem etapas complexas, técnicas e
e momento presente, e possibilita a
ferramentas usadas em parceria com o
conscientização necessária para a mudança(7).
nutricionista e seu cliente. A utilização de técnicas e
ferramentas específicas advindas do coaching
surge como um auxílio ao nutricionista, no sentido
de tornar o paciente parte integrante e ativa do
tratamento(3).

RBCA | 5ª edição 25
ARTIGO
Atenção incondicional
Nem sempre é fácil estar totalmente presente e dar
atenção incondicional ao paciente. Muitas vezes o
profissional tem pressa, e está mais preocupado
com o preenchimento de um formulário no
computador, com o celular ou com o próximo
cliente que está na sala de espera. O cliente sente
isso... Dar atenção a ele é o primeiro passo para
uma criação de um bom vínculo. Isso envolve o
“olho no olho”, o sorriso amigável, o aperto de mãos
firme e sincero.
Para estar inteiro no atendimento, um exercício de
respiração pode ajudar a esvaziar a mente.
Escuta ativa
Escutar ativamente é estar totalmente disponível
ao outro “como ele é”, sem qualquer tipo de
julgamento, sem interromper ou criticar,
mostrando interesse com palavras e atitudes.
O cliente deve falar mais do que o profissional, que
prestará atenção em sua voz e em seus gestos, para
escutar também nas “entrelinhas”.
Muitas vezes o silêncio é um aliado, pois nos
momentos de silêncio o cliente pode encontrar
alguns caminhos e soluções.
Perguntas abertas
A utilização de perguntas abertas facilita o aumento
de consciência. Perguntas abertas são aquelas em
que o cliente deve responder de forma ampla,
como se contasse uma estória.
As perguntas fechadas são aquelas em que a pessoa
responde com monossílabos (sim, não, talvez, ou
ainda algum número ou frequência), ou que não
geram uma continuidade na conversa.
Exemplos:
Perguntas Fechadas:
Você gosta de fazer exercícios?
Quantas vezes por semana você se exercita?
Perguntas Abertas:
Conte pra mim como foi sua melhor
experiência com seu comportamento
desejado?
Como seu comportamento atual pode levar a
benefícios no futuro?
Detalhe um pouco quais mudanças você
gostaria de fazer em sua rotina.
De que forma você organizaria sua rotina para
praticar exercícios físicos?
RBCA | 5ª edição 26
ARTIGO
Reflexões ou resumos
O fato de falar já faz com que o cliente possa se
escutar, e isso já o ajuda a encontrar caminhos e
soluções. Mas quando o profissional repete ou
resume o que o cliente fala ele se ouve mais uma
vez, e isso aumenta muito sua consciência.
As reflexões ou resumos permitem que a pessoa
ouça suas próprias palavras através de outra
pessoa. E ainda reforçam a atenção do profissional
à fala do cliente.
Consideração das expectativas do cliente
É muito importante considerar o que o cliente
espera do acompanhamento.
Muitas vezes as expectativas são irreais, mas não é
uma boa alternativa falar: “isso você não vai
conseguir”. Aí entram a clareza da comunicação e a
honestidade. Por exemplo, se o cliente diz que quer
emagrecer 10kg em uma semana, é possível tentar
explorar se alguma vez ele já conseguiu isso, quais
foram as consequências e então perguntar se ele se
importaria em ter um resultado um pouco mais
gradativo e definitivo.
Participação ativa do cliente
O cliente deve ser o protagonista de todo o
processo de mudança comportamental para o
emagrecimento.
Para isso é interessante usar técnicas educativas
lúdicas, como por exemplo a montagem da
alimentação com réplicas de alimentos, figuras de
alimentos, lâminas de orientação, ou exercícios
com a participação do cliente, como aqueles que
exijam sua escrita, preenchimento de ferramentas,
registros. Isso facilita a aquisição de conhecimento,
que aumenta a consciência e facilita a mudança.
Empatia para criação de vínculo
É importante considerar que nem todos estão
prontos para agir em um primeiro momento, então
a criação de vínculo é muitas vezes mais
importante do que começar mudanças.
O profissional deve procurar compreender
respeitosamente a experiência de seu cliente,
incluindo seus sentimentos, necessidades e desejos.
Ver o mundo através de seus olhos. Ter empatia é
se colocar no lugar do outro, sem minimizar seu
sofrimento.
Estabelecimento de compromisso
A necessidade de se estabelecer um compromisso
vem do fato que a mudança de comportamento
não virá em um atendimento. É necessária uma
sequência deles.
RBCA | 5ª edição 27
ARTIGO

Estabelecimento de Metas No sentido de se obter metas específicas, vale

Na mudança de comportamento é muito perguntar ao cliente quem vai realizar ou ajudá-lo a

importante planejar bem as metas a serem realizar a meta, o quê, ou seja, qual a descrição

atingidas. As metas podem ser de curto, médio ou detalhada desta meta, onde ela será realizada e

longo prazo. Servem para dirigir a atenção do nosso como ela será realizada. Para que a meta seja

cliente para as atividades que são importantes no mensurável, é necessário perguntar como o cliente

percurso e para que ele possa programar as medirá se cumpriu 100% da meta, ou 50%, ou

estratégias necessárias até atingir seu objetivo final. outro valor. Para saber se a meta é atingível, o ideal
é tentar identificar se o cliente tem condições de

Devem ser traçadas pelo cliente, segundo suas realizar esta meta dentro do prazo proposto. Para

capacidades e desejos, considerando sua rotina e saber se a meta é relevante, o coach deve estimular

suas condições. o cliente a estabelecer a relação de cada meta ao

seu objetivo final, ou seja, perguntar de que forma

Para traçar metas adequadas e sermos eficazes, essa meta vai contribuir para sua melhora de

usamos as metas SMART. É uma sigla muito usada qualidade de vida ou outro objetivo que o cliente

em todos os processos de coaching, em todas as relacionar. Por fim, a meta tem que ser

áreas. temporizável, ou seja, ela deve ser cumprida em um

determinado período de tempo, e isso deve estar
S – específica especificado quando se planeja a meta(8,9).
M – mensurável
Rede de Apoio
A – atingível, e que depende de nossa ação
R – realista, e relevante O suporte de amigos e da família deve ser

T – temporizável, com tempo determinado identificado e incentivado, para a construção de

uma rede de apoio ao cliente(10).
As metas SMART tornam o acompanhamento mais
fácil de ser medido, assim como o cumprimento de
As redes sociais, ou redes de relacionamentos são
tudo o que nos propomos.
as comunidades, famílias, ambientes de trabalho, de
estudo, de convivência e de amigos. Elas podem
influenciar positivamente ou negativamente nossos
comportamentos.

RBCA | 5ª edição 28
ARTIGO

Pesquisas classificam comportamentos de risco

para a obesidade como comportamentos sociais,
que são influenciados pelas redes de
relacionamentos, e ainda afirmam que redes de
relacionamento apresentam o potencial de reduzir
o crescimento da obesidade na população. Elas
oferecem apoio emocional, compartilham
informações nas áreas de interesse, compartilham
influências ou normas sociais, conferem
engajamento social, facilitam o contato entre as
pessoas.

A percepção de um indivíduo sobre os

comportamentos de membros da sua rede pode
influenciar a aceitação de informações / conselhos
de cuidados de saúde ou mesmo o comportamento
de autocuidado. Indivíduos costumam escolher
amigos ou companhias cujos comportamentos ou
atitudes são semelhantes aos seus (11).

Conclusão
As relações entre profissionais de saúde e seus
clientes devem ser constantemente avaliadas e
melhoradas, em prol do estabelecimento e
manutenção da saúde. A aplicação das técnicas de
coaching na consulta de nutrição constitui uma
forma inovadora de realizar um atendimento
diferenciado, focado no cliente, para a obtenção de
resultados satisfatórios e duradouros na mudança
de comportamento alimentar.

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