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Epigenética, nutrição e saúde mental

January 3, 2019

A deficiência de macro e micronutrientes tem sido associada ao


aumento de problemas comportamentais e a suplementação
nutricional tem se mostrado eficaz no tratamento de distúrbios
neuropsiquiátricos. Como isso acontece? Pela disponibilidade de
nutrientes para produção de hormônios e neurotransmissores e
também pela regulação epigenética.

Muitos aspectos do desenvolvimento humano e da doença são


influenciados pela interação entre genética e fatores ambientais.
Entender como nossos genes respondem ao meio ambiente é
fundamental para a preservação da saúde e é um dos principais
desafios atuais da ciência. Vários processos epigenéticos afetam a
estrutura cromossômica e acessibilidade do ácido desoxirribonucleico
(DNA) à maquinaria enzimática que leva à expressão de genes.

A modificação química do DNA pela metilação (adição do grupo


metil - CH3) pode mudar durante o desenvolvimento e em resposta ao
meio ambiente, muitas vezes com efeitos profundos na expressão dos
genes.

A interação entre meio ambiente e genética é chamada de plasticidade


fenotípica, um mecanismo pelo qual espécies podem se adaptar
rapidamente em resposta a mudanças das condições ambientais. As
modificações que permitem que a plasticidade fenotípica ocorra não
constituem uma mudança na sequência genética, não são mutações,
mas mudanças epigenéticas. Ou seja, o gene herdado pelos pais está
ali, mas pode expressar-se ou não dependendo do que comemos no
dia-a-dia, da forma como vivemos, se fumamos ou não, do nosso nível
de estresse e nível de atividade física.
A metilação é um importante processo regulatório na expressão dos
genes. O aumento da metilação pode resultar na diminuição ou no
aumento da expressão genética. A inserção de um grupo metil (CH3)
junto a um gene depende do consumo de nutrientes específicos. No
vídeo, explico o processo:
O reconhecimento de que o DNA pode ser modificado pela
alimentação é recente mas modelos animais nos fornecem explicações
sobre a influência da dieta nas modificações epigenéticas. Abelhas
trabalhadoras e abelhas rainhas são diferentes. Esta diferenciação
surge no início da vida. As larvas alimentadas com geléia real tornam-
se rainhas. As alimentadas com pólen, néctar e mel tornam-se abelhas
trabalhadoras. As últimas são menores, tem um tempo de vida mais
curto, coletam néctar e são inférteis. Isto se dá devido ao alto consumo
de compostos fenólicos pelas abelhas operárias. Os compostos
fenólicos influenciam a expressão de genes que induzem mudanças
em níveis genômicos de metilação do DNA.

Há evidências crescentes para apoiar a ideia de que, se uma


modificação epigenética se estabelece no DNA de células
germinativas, esta assinatura pode ser herdada para várias gerações.
Isso implica que a alimentação dos pais no momento da concepção
pode direcionar as características de seus descendentes.

O neurodesenvolvimento, por exemplo, depende de um DNA bem


metilado. Fatores que afetam esta metilação no início da vida podem
comprometer aprendizado, memória e acelerar a neurodegeneração.
Muitos micronutrientes presentes na dieta são importantes doadores e
cofatores para a metilação, como folatos, vitamina B12, metionina,
betaína e colina.
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Vários estudos sugeriram que níveis baixos de metilação, folato e


SAMe correlacionam-se com depressão, fadiga, maior risco de
autismo e esquizofrenia. Existem evidências de que melhorias na dieta
ajudam a modular o controle epigenético, reduzindo o risco de
doenças, tanto na infância quanto na fase adulta. No entanto, nossa
compreensão dos efeitos potenciais da suplementação ainda é bastante
limitado. Felizmente, muitos grupos de pesquisa hoje tem expressado
interesse nesta área, para que no futuro possamos individualizar cada
vez mais as intervenções dietéticas (Stevens, Rucklidge, & Kennedy,
2018).

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