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ABORDAGEM PSICOSSOMÁTl,CA DA
MULHER DOLORIDA: A INTERFACE
ENTRE ÜBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE
DAS DORES DE SER MULHER
José Carlos Riechelma-rrn
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esclarecer que não nos referimos a grau de. escolaridade ou classe sociaJ
Vamos aquj analisar do is itens: cultura social e cultura de grupo.
Cul tu ra social é o conjunto de j uízos de valor (concei tos de ceno
e en-ado , bom e mau, virtude e defeito, entre outros) de uma dada so-
ciedade, que costuma estar expresso em seu livro sagrado. Para a socie-
dade oc idental, cujo li vro sagrado é a Bíbl ia, a cultura correspondente
é denominada judaico-cristã. Este padrão cultural judaico-cristão molda
a visão de mundo, os valores sociais, e dá uma identidade cultural a to-
dos igualmente, de modo que todos se sintam igualmente "membros do
mundo ocidental", independente de serem pessoas analfabetas ou com
nível universitário.
Outro conceito importante é o de cultura de grupo. Dentro de uma
mesma cultura social , diferentes grupos de convívio (famílias, igrejas,
comunidades , entre outras instituições) desenvolvem valores culturais
particulares, que constituem a cultura específica daquele grupo. Esta não
nega os valores mais amplos da cultura social. A cultura de grupo é uma
modulação da cultura social, ou seja, uma particularização do padrão cul-
tural geral. O grupo elege, inconscientemente , alguns valores (ou varia-
ções de valores) como sendo prioritários e outros como secundários, e
essa eleição varia de um grupo para outro.
Alguns exemplos da clínica ginecológica diária podem ajudar a es-
clarecer a importância desses conceitos. É comum termos pacientes que
insistem em falar de suas dores detalhada e prolongadamente. Apesar
do discurso aparentemente interminável da paciente sobre as "terríveis"
dores que enfrenta, por vezes temos a impressão que aquele relato é feito
mais com sentimento de orgulho do que de padecimento. Frases como
"depois de sofrer tanto assim vou acabar virando santa", ou "mesmo com
tanta dor eu não deixo de cumprir minhas obrigações (com a família ou
o trabalho)" são comuns na clínica de mulheres. Elas refl etem a cultura
j udaico-cristã, ~a qual .ª dor te1:1 muito mais valor que O prazer. É como
se a dor c?nfe nsse mai s valor a pessoa. A cultu ra de grupo modula esce
va]or. Pac1entes que pertencem a gru pos mais conservadores (p. e"< .. al-
g~':1ªs i~reja~ protestantes, principa~mente as voltadas para cl asses so-
ciais mai s baixas) tendem a dar mai s valor à experiência dolorosa que
aq uela,~ perte~centes a gru~~s,,menos ortodox~s (p. ex., gr~upos que ad~~
ta?1 ~ ;A 1ne ncan Way of L1fe '.de cultura mu ito con1petitiva). nos qu~e
o md1v1duo com dor pode se r visto como um fracassado principaJrnen
em casos de dor crônica e lim ita nte . '
Des~e o Velho Testamento a dor aparece co.mo medida discipJi naf
para a exp1 açã.o da culpa pelos pecados cometidos (na BíbUa, 0 castigo de
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Deus a Eva: "Parirás com dor ·'") , e tam bé m como provaçao - para os JUS-
·
tos. Co~ 0 adven_tC? do Novo Testamento e do Cri stianismo a dor foi vista
de manetra defin1t1va
. como ca. mm· ho de ·1 · - '· -
I ummaçao , de punficaçao , e até
com~ algo sagtado . A dor foi sacralizada e considerada boa para a alma
(Bontc~ , 1953 ). ~s santos e o próprio Cristo foram glorifi cados pelas dores
que sofreram , e nao pelos prazeres que desfrutaram.A Virgem Maria - mo-
delo de mulher na nossa cultura - viveu apenas as dores do parto, sem
oy~azer do sexo. _Para algui:nas pac~entes, notadamente aquelas com in i-
b1ça~ sexual, 3: disme~orr,:1a e a d1spareunia fazem parte de um estilo
de v.1da rumo a valonzaçao pessoal. Conscientemente procuram ajuda
médica para suas dores, mas o inconsciente (que é onde fica o regi stro
?1ais p~o!undo da cultu_ra) impede que elas façam os esforços necessários
a trans1çao para uma vida com menos dor (abandonam o tratamento , não
seguem recomendações do ginecologista, desvalorizam a necessidade de
prazer sexual, entre outras coisas).
A via final da valorização cultural da dor é a oportunidade de rece-
ber o carinho e a atenção do grupo de convívio. Infelizmente algumas
pacientes não encontram (ou não enxergam) em suas vidas modos menos
custosos e mais produtivos de obter reconhecimento e afeição grupal.
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por vezes , pode pr?l?ngar-se por várias consultas, exi ge que a dor esteja
suficientemente aliviada. Seja como primeira ou segunda ação, é indis-
pensável o processo de co~preensão b~opsicossocial, global e contex -
tuaL através da anamnese biográfica, poi s é esse procedimento que faz a
diferença entre ? atendimento do SINTOMA (dor), gera lme nte de efe ito
fugaz, e o atendimento da pessoa (mulher dolorida), que tende a produ zir
efeito n1ai s duradouro ou até definitivo .
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- pro fi --ssi·onaJ
1.e 1açao , , ou seja, _os reais
., d• sentimentos
. de afe
respeito que se erguem na relaçao me_ 1co-pac1ente não desc to e
teri zam que <le um lado está ~m méd1c<;> (prestador de servi ~c-
de outro, um paciente (u su~10 do serviço). Cabe ao profisiioh.
P
erceber e respeitar a emoçao, c?mpreender e decodificar 0 ~ai
°·
nifi cado do choro, e não " c horar JUn t " ·
s1g
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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