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DOENÇA CELÍACA
EDITORIAL
EDITORCHEFE
EDITORES CONSULTORES
Giuseppe Iacono
Di Cristina Hospital, Italy Maria Del Carmen Toca
University of Buenos Aires, Argentina
Glenn Furuta
Univ. of Colorado Denver School of Medicine, Neil Shah
USA Great Ormond Street Hospital
Institue of Child Health
Olivier Goulet University College London, United Kingdom
University of Paris 5 René Descartes, Paris, France
Harland Winter
Harvard Medical School, USA
CONTEÚDO
Comentário do Editor
Aderbal Sabrá............................................................................................................................................ 025
COMENTÁRIO DO EDITOR
A Journal of Food Allergy tem como objetivo primordial publicar artigos originais e de revisão
sobre temas da alergia alimentar.
A partir deste número esses artigos serão impressos apenas em português, quando se tratarem
de artigos de revisão. Os artigos originais serão publicados na língua de origem de seus autores
(português, inglês ou espanhol), com os respectivos resumos em inglês.
Sendo assim, temos o prazer de oferecer aos nossos leitores, a partir deste númeroa coletânea de
temas clínicos sobre a alergia alimentar, transcritos em sua totalidade da obra original.
Neste número do JFA será abordado o primeiro grupo de causas de alergia alimentar mediadas
por Imunidade Celular (Não-IgE), com os temas:
- DOENÇA CELÍACA;
- ENTEROPATIA DO LEITE DE VACA;
- ENTEROCOLITE, PROCTOCOLITE E PROCTITE INDUZIDAS PELAS PROTEINAS DA DIETA.
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Artigo de Revisão
DOENÇA CELÍACA
Autor: Prof. Aderbal Sabrá
que está relacionada ao complexo maior de histo- chamado de tranglutami-nase tecidual (tTG). A tTG
compatibilidade (MHC), localizado no braço curto é liberada no meio extracelular em momentos de es-
do cromossomo 6. Esta é a região do genoma de tresse mecânico, in amação, infecção ou apo-ptose.
maior importância imunológica contendo cerca de Alguns autores a rmam que a tTG é vista também
200 genes essenciais para o processamento e apre- no epitélio e na super cie intestinal. A tTG é capaz
sentação de antígenos ao linfócito elper. O MHC de modi car peptídeos, modi cando a gliadina e
têm como sua principal função à apresentação de transformando-a em um peptídeo que é reconhecido
antígenos, e é codi cado por moléculas HLA princi- pela molécula HLA-DQ2 (ou DQ8).
palmente do alótipo DQ. Os genes HLA-DQA1*05 A gliadina da dieta atravessa a barreira epitelial do
e HLA-DQB1*02 estão presentes em 90% dos pa- intestino e é exposta à tTG. O complexo gliadina-
cientes celíacos e são responsáveis pelo código do tTG é direcionado a células apresentadoras de
heterodímero HLA-DQ2, envolvido na apresentação antígeno (APC) que carregam o gene HLA DQ2,
dos peptídeos de gliadina ao linfó-cito 1. desencadeando uma resposta in amatória intesti-
O HLA-DQ2 é o haplótipo de HLA presente em nal. As células TCD4 reconhecem este complexo e
até 95% dos celíacos e o DQ8 está presente nos 5% promovem uma resposta 1 ou 2, com secreção
restantes. Outros haplótipos envolvidos são: ausên- de citocinas. Está bem estabelecido que os linfócitos
cia de HLA-DR3/DR7 e pre-sença de HLA-DR5,7. T são predominantemente 1. As citocinas 1 in-
O HLA-DQ2 pode ser codi cado sob a forma cis duzem a liberação de metaloproteinases MMP1 e 3,
ou trans, tendo a forma cis uma associação de 4 a o que culmina na atro a de vilosidades e hiperpla-sia
6 vezes maior com a doença celíaca do que a forma das criptas. O INFγ encontra-se regulado para cima
trans. Con-tudo, o alelo HLA-DQ2 é bastante co- e sendo o principal indutor da resposta 1 e deste
mum na população sau-dável, sendo encontrado em remodelamento te-cidual. A IL-10 também se mostra
até 30% dos caucasianos. Alguns autores sugerem aumentada.
que sua presença é necessária, mas não su ci-ente Na lâmina própria encontram-se células T CD4
para determinar a doença e que outros alelos devem glúten-especí cas e plasmócitos secretores de IgA,
estar implicados. IgG e IgM respon-sáveis pela produção de anticorpos
O alótipo DR3 está envolvido na diabete tipo I e voltados contra peptídeos exógenos e endógenos.
na tireoi-dite de Hashimoto, e os celíacos têm risco Populações de células contendo IgE não se altera,
bastante elevado de desenvolver estas patologias não havendo portanto qualquer anticorpo IgE anti-
e vice-versa. A tipagem de molé-culas HLA serve glúten. A presença de eosinó los é marcante e a
como marcador genético na detecção de fami-liares presença de IL-2 e IL-4 é baixa.
com alto risco para DC. Existe um aumento do número de células T CD8 na
Genes não-HLA também estão implicados. Mutações muco-sa de celíacos tanto em atividade quanto em
no braço longo do cromossomo 5 envolvendo os remissão (45% do total). Nos celíacos, o mecanismo
genes CTLA4, ICOS e CD28 causariam supressão na imune que controla esta po-pulação encontra-se
ação inibitória do CTLA4 sobre a célula T, favorecen- alterado. Postula-se que em indivíduos suscetíveis,
do a doença. o peptídeo 31-43/49 pertencente à gliadina ative
células dendríticas da lâmina própria e induza ao
FATORES IMUNOLÓGICOS aumento da expressão de IL-15. Esta citocina pro-
Parece bem estabelecida a existência de uma resposta move proliferação e ati-vação dos linfócitos T CD8
imu-nológica mediada por célula T contra o intesti- que in ltram a mucosa e são cha-mados linfócitos
no delgado. A doença celíaca é tida como o protótipo intraepiteliais (LIE). Os LIE reconhecem os antígenos
de uma resposta imune mediada pela ativação da re- da gliadina no contexto do MHC de classe I, mas seu
sposta adaptativa e em particular de uma população papel exato na patogênese requer mais estudos. Sabe-
restrita de células T CD4 com MHC de classe II. se que estas células secretam interferon-γ, interleuci-
Postula-se que a doença celíaca seja uma resposta nas 2 e fator de necrose tumoral com papel na lesão
auto-imune voltada contra o endomísio que é uma epitelial. A IL-15 também participa da expansão de
estrutura da ma-triz celular. O antígeno endomisial é células T de memória, célula natural killer e células
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TCRγδ, favorecendo um dano epitelial citotóxi-co. adultos, porém, muitas vezes as manifestações são
aceitas como normais ou são mal diagnosticadas. Isto
CONSEQÜÊNCIAS HISTOPATOLÓGICAS indi-ca que a intensidade dos sintomas é variável.
A mucosa do delgado (duodeno e jejuno proximal) As manifestações clínicas não são imediatas e estão
é a mais acometida. As alterações são estágios con- relaci-onadas ao processo in amatório intestinal
secutivos, sendo classi cadas em: a) in ltrativas: crônico e à síndro-me de má-absorção subseqüente.
vilosidades in ltradas de LIE; b) hiperplásicas: crip- As mais comuns são: fadiga, de ciência de ferro, per-
tas também in ltradas; c) destrutivas: achatamento da de peso, osteoporose, parada do crescimento em
típico da mucosa ocorre em todos os sintomáti-cos; crianças, onde chama atenção à velocidade de cresci-
d) hipoplásicas: lesão irreversível associada a malig- mento zero, intolerância a lactose e dor e desconforto
niza-ção. abdominal. O aumento do abdome chama atenção
Inicialmente, ocorre uma enterite linfocítica, onde a do clínico, pois caracteristicamente, esta é a doença
muco-sa apresenta sua arquitetura normal, porém, da barriga grande. Manifestações extraintestinais
in ltrada por LIE. É considerada linfocitose quando também podem estar presentes como dermatite her-
os LIE ultrapassam 30/100 células epiteliais. Com petiforme, diabetes tipo I, tireoidite de Hashimotoe
a evolução da in ltração ocorre hiper-plasia das calci cações cerebrais. A associação com Sín-drome
criptas. A diminuição da altura das vilosidades é de Down também está freqüentemente relacionada.
compensada pela hipertro a das criptas, que ocupam A função de barreira alterada predispõe a entrada de
quase a toda altura da mucosa. Ocorre uma perda pro-teína heteróloga. A doença celíaca afeta o del-
crônica de células epiteliais com intensa esfoliação gado em locais nobres da absorção. O defeito básico
celular e migração de células imaturas para a su- está na fase epitelial da absorção. Com a progressão
perfície. Justi ca-se então a diminuição de enzimas da in amação o processo pré-epitelial se associa com
da borda em escova e a redução drástica da área perda de superfície ocorrendo perda fecal de sais
ab-sortiva. Por m, ocorre atro a da vilosidade. A biliares e redução na miscelação de gorduras com
atro a é classi- cada como parcial quando a relação conseqüente malabsorção e perda de gorduras pelas
vilosidade/cripta é menor do que 1:1; como subtotal fezes. A etapa pós-epitelial está prejudicada devido
quando a vilosidade está drastica-mente atro ada, ao bloqueio relativo ao escoamento de nutrientes
mas ainda assim reconhecível; e como total quando a devido à in ltração do córion. A exsudação de pro-
vilosidade está ausente ou é rudimentar. teínas e oligoelementos contribuem para as perdas.
Os LIE são células T CD8. A população de T CD8 A diarréia é caracterizada por grande volume nos
que apresenta receptores alfa/beta (relacionada à có-lons, aumento das gorduras que após ação bac-
resposta adaptati-va) aumenta quando a doença está teriana têm efei-to catártico, transudação de água e
em atividade, contudo, a população gama/delta (re- eletrólitos para a luz aumen-tando o conteúdo fecal,
lacionada à resposta imune) têm ele-vação precoce e redução dos hormônios digestivos e enzimas pan-
permanece elevada até após a retirada do de glútenda creáticas e perda de sais biliares por não reabsor-ção
dieta. Os níveis de IL-15 também são permanente- entero-hepática.
mente elevados nestes indivíduos. Esta população de A DC pode apresentar vários quadros clínicos, com
T CD8 é capaz de destruir células dani cadas e induz diver-sos sinais e sintomas. A forma clássica é a que
à in amação in-testinal. Isto também é um fator di- se manifesta nos primeiros anos de vida, com quadro
agnóstico, apesar de inespe-cí co, pois na alergia ao de diarréia crônica, anorexia, vômitos, emagrecimen-
leite de vaca este padrão também é visto. to, comprometimento variável do estado nutricional,
irritabilidade, inapetência, dé cit de crescimento, dor
QUADRO CLÍNICO e distensão abdominal, atro a da musculatura glútea,
As manifestações são variáveis, podendo ser de leves palidez por anemia ferropriva e grande distensão
a graves e debilitantes. Na população pediátrica, os abdo-minal.
sintomas gas-trintestinais são mais freqüentes e cos- Nos últimos anos, vêm se modi cando a apresenta-
tumam surgir entre 9 e 18 meses de vida, geralmente ção clí-nica e a idade do diagnóstico da DC, pois seus
após 3 a 6 meses do início do glúten na dieta. Nos sintomas, mui-tas vezes, são inespecí cos e atípicos,
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principalmente em cri-anças mais velhas e em adul- manas. Nas crianças esta dose de glúten diária entra
tos. Especialmente nas duas últi-mas décadas, com o escondida na dieta, sem conhecimento do paciente.
advento dos marcadores sorológicos para detectar os Geralmente, na dieta de reentrada as alterações são
anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitrans- vistas cerca de 96 horas com danos aos enterócitos e
glutaminase, presentes na doença celíaca, os quadros redução das vilosidades, mas apenas após 4 semanas
atípicos e assintomáticos estão sendo reconhecidos e a 3ª biópsia é realizada e o diagnóstico de ni-do.
acompanhados. A pesquisa dos anticorpos antitrans- Contudo, nem sempre o diagnóstico é facilmente
glutaminase deve ser o teste sorológico de escolha obtido, pois o padrão histológico pode apresentar-
tanto para o diagnóstico, como para o controle da se duvidoso ou limí-trofe. Não raro encontramos
DC, devido à sua alta especi cidade e sensibilida-de. a linfocitose intraepitelial e a re-dução da relação
DC latente é como se de ne a condição dos pacientes vilo/cripta. Estes são achados comuns nos pacientes
que apresentam num dado momento, biópsia jejunal suspeitos de ter DC. Por isso, estes danos sozinhos
normal con-sumindo glúten; porém, em outro perío- são pobres preditores do desenvolvimento da doença.
do, podem apresentar atro a das vilosidades intesti- A conta-gem da população de LIE auxilia nos ca-
nais, as quais voltarão ao normal com a utilização da sos onde a interpreta-ção histológica é difícil de ser
dieta sem glúten. Já a DC silenciosa é a condição em obtida. Apesar de inespecí ca, a detecção de CD8γδ
que os pacientes apresentam biópsia alterada, porém apresenta sensibilidade de 93% e especi -cidade de
sem sintomatologia. 88%.
Nas formas atípicas, os sintomas digestivos estão aus- Inicialmente contávamos com as dosagens de an-
entes ou são pouco relevantes, mas aparecem mani- ticorpos anti-reticulina e anti-gliadina que tinham
festações isola-das, como anemia por de ciência baixa sensibilidade e especi cidade. Estudos bus-
de ferro refratária à ferrote-rapia oral, constipação cando um diagnóstico sorológico para a doença
intestinal, osteoporose, esterilidade, baixa estatura ou avançaram e, atualmente, a detecção de anticor-pos
atraso no crescimento. Lesões na mucosa oral ou de- anti-endomisio (AEA) e anti-tranglutaminase (TGA)
feitos no esmalte dentário podem ser os únicos sinais são fortes indicadores de DC. Ambos os anticorpos
pre-sentes nos casos atípicos da doença. apresentam sensibilidade próxima a 100% mas com
especi cidade em tor-no de 85%, sendo os maiores
DIAGNÓSTICO valores encontrados em adultos. O TGA têm sensibi-
Tradicionalmente, o diagnóstico é feito através da lidade e valor preditivo negativo de 100% em adultos,
visuali-zação de vilosidades atro adas em amostras daí seu grande valor na exclusão da doença. Al-guns
do jejuno ou duo-deno distal. O padrão-ouro para o celíacos apresentam-se soro-negativos e talvez isto
diagnóstico se baseia em: atro a vilositária duodenal, esteja relacionado ao tabagismo.
hiperplasia de cripta e linfocitose intraepitelial du- O estudo destes anticorpos revela uma alternativa
rante exposição ao glúten, seguida de normali-zação de tria-gem na população sob maior risco de desen-
da histologia após dieta de exclusão. Na reexposição volver a doença, como diabéticos tipo I, indivíduos
reaparecem os sinais de atro a. com tireoidite auto-imune, com síndrome do in-
Para tal, após a primeira biópsia característica, o pa- testino irritável, etc. A sorologia por ELISA é um
ciente é colocado sob regime rigoroso com exclusão grande facilitador da triagem e do acompanhamento,
total do glúten por um tempo determinado (cerca de mas, apesar da alta sensibilidade e especi cidade, o
dois anos). Com a dieta de exclusão de glúten, a sin- diagnóstico his-tológico ainda é indispensável espe-
tomatologia desaparece, os marcadores imunológicos cialmente nos países do terceiro Mundo, onde outras
cam negativos e a recuperação epitelial começa doenças podem causar atro a vilositária. Estudos re-
rapidamente, mas vilosidades digitiformes podem centes têm utilizado os marcadores soro-lógicos para
demorar a aparecer. Após um tempo determinado, rastreamento populacional. A pesquisa imunoge-
em média após dois anos de dieta, uma nova biópsia nética por HLA-DQ2 ou HLA-DQ8, mesmo não
é feita para documentar a re-generação do epitélio sendo uma prática rotineira, têm se mostrado útil no
intestinal. O paciente é então submetido a uma nova diagnóstico precoce.
exposição diária com 10 gramas de glúten por 4 se- a) Estudos da função digestivo/absortiva
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reconsi-derou os critérios, sendo fundamental para o me-ses do início do desencadeamento. Testes labora-
diagnóstico da DC: 1) presença de atro a vilositária toriais como, anticorpos antigliadina, endomísio da
com hipertro a críptica e superfície anormal do epi- classe IgA e anti transglu-taminase, podem auxiliar
télio, quando há ingestão de quanti-dades normais de para reduzir o tempo de duração do desencadea-
glúten; 2) recuperação clínica total após a retirada do mento. Se não houver alteração característica da
glúten da dieta. A presença de anticorpos antigliadi- arquitetura da mucosa, o paciente deverá continuar
na, antiendomísio e antitransglutaminase, da classe com dieta com glúten e uma nova biópsia deve ser
IgA, no momento do diagnóstico, e seu desapareci- obtida, na ausência de sintomas ou alteração de testes
mento com a dieta sem glúten, conferem maior peso laboratoriais, após dois anos. Se a arquitetura vilosi-
ao diagnóstico. A biópsia de controle para veri car tária permanecer inalterada, este paciente deverá ser
as conseqüências na arquitetura da mu-cosa intes- acompanhado e outras biópsias obtidas se houver
tinal da dieta sem glúten é mandatória somente em sintomatologia ou se os testes dos anticorpos forem
pacientes com resposta clínica duvidosa e naqueles anormais.
com for-mas assintomáticas de apresentação, como A proposta de modi car os critérios diagnósticos
parentes de primei-ro grau de pacientes celíacos e clássicos da DC pode, por um lado, diagnosticar a
pacientes diagnosticados em programas de rastrea- doença em indivíduos não-celíacos mantendo dieta
mento. A prova de desencadeamento com glúten não desnecessariamente por toda a vida ou, o que é mais
é considerada imprescindível, porém deve ser con- perigoso, descartar a existência de DC latente em in-
siderada em certas circunstâncias, como quando há divíduos geneticamente predispostos, cuja primei-ra
alguma dúvida com relação ao diagnóstico inicial, biópsia de intestino durante ingestão de glúten tenha
por exemplo, quan-do não foi realizada a biópsia sido normal. Desta forma, considera que as três bióp-
inicial ou quando esta amostra de biópsia foi inad- sias intestinais são necessárias para o diagnóstico de
equada ou não típica de DC. Também é ne-cessário certeza de DC, enquanto não dispomos de marcado-
o desencadeamento com glúten para excluir outras res tão con áveis como a biópsia.
doenças que podem ser responsáveis pela atro a O desencadeamento não será necessário quando não
vilositária, como intolerância à proteína do leite de existi-rem dúvidas quanto ao diagnóstico de DC pela
vaca, síndrome pós-enterite e giardíase. Como a história clínica, pela primeira e segunda biópsias (an-
maioria dessas doenças ocorre nos dois primeiros tes e depois de dieta sem glúten), pelo risco genético
anos de vida, o desencadeamento com glúten é reco- comprovado (HLA de classe II, DR3 e DQ2) e pelos
mendado em todos os pacientes diagnosticados com antecedentes de um familiar de primeiro grau com
idade inferior a 2 anos. Quanto à idade, aconselha-se diagnóstico de certeza de DC, A provocação com
realizar o de-sencadeamento com glúten após pelo glúten está contra-indicada naqueles indivíduos com
menos dois anos de dieta sem glúten, de preferência doença auto-imune concomitante ou com processos
não antes dos 6 anos de idade, de-vido às alterações crônicos graves.
do esmalte dentário de caráter permanente, sendo
também desaconselhável sua realização durante o TRATAMENTO
estirão puberal. Como a intolerância ao glúten é permanente, o
Para Polanco, a razão principal para a realização da tratamento baseia-se na retirada do glúten da dieta,
segun-da biópsia de intestino, após um período de ocorrendo, geralmente, a remissão total dos sin-
dieta sem glúten, é a de assegurar a normalização tomas. Inicialmente, os pacientes apre-sentam-se
histológica da mucosa intestinal. com mais vitalidade e bem-estar. Em longo prazo, a
Uma vez decidida a realização do desencadeamento adesão à dieta declina assim como surgem às queixas
com glúten, este deve ser feito sob supervisão médi- de de-pressão e monotonia alimentar. É essencial que
ca, precedido por avaliação histológica da mucosa, haja acompa-nhamento por um nutricionista, prin-
utilizando uma dose pa-drão de, no mínimo, 10 g cipalmente para driblar a falta de opções do cardápio
de glúten por dia, sem interromper a dieta habitual. do celíaco dos países em desen-volvimento. A im-
A biópsia deve ser obtida quando houver qua-dro portância social do ato de comer deve ser levada em
clínico evidente ou de qualquer modo após três a seis conta para que a qualidade de vida do paciente seja
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LEITURA RECOMENDADA
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matórias severas no intestino. Os acha-dos da bióp- prolongados de baixa ingestão calórica por anorexia.
sia de jejuno são como aquelas na doença celíaca,
embora frequentemente menos pronunciada: há uma DIAGNÓSTICO
atro a vilositária variando do grau II para o grau III, O diagnóstico clínico é feito pela história alimentar,
raramente com grau IV, com hiperplasia e in ama- porém os sinais e sintomas muitas vezes podem con-
ção da cripta com in ltrado linfocitário intraepitelial fundir o diagnós-tico com a doença celíaca.
e na lâmina própria. O número médio de células O teste cutâneo (Skin Prick Test-SPTs) e o RAST são
nas criptas está em média duas vezes maior que o usado freqüentemente, para monitorar possíveis me-
número encontrado em crianças normais. A taxa de canismos envol-vendo Ig-E, principalmente quando
renovação da célula epitelial está muito aumentada pacientes tiverem reações agudas na pele associadas
assim como a taxa mitótica. Também está aumen- com a ingestão ou contato da pele com o leite de
tado o voluma das células da cripta. O número de vaca. Estes resultados por medirem mediação 2
linfócitos intraepiteliais pode estar aumen-tado em são geralmente negativos porque a resposta imu-
até 3 vezes daquele encontrado no intestino normal. nológica mediadora na enteropatía do leite de vaca é
A grande maioria dos linfócitos intraepiteliais é de do tipo 1. Esta-rão elevados o IFN-gama e a IL2.
células CD3+ CD8+ como nos intestinos normais, O padrão ouro para o diagnóstico é feito com o teste
na maior parte do tipo su-pressores citotóxicos. Há du-plo-cego. Com os cuidados habituais de hospi-
um predomínio de linfócitos da li-nhagem TCD4 na talização, depois que o acesso intravenoso é obtido,
lâmina própria, neste ponto diferindo dos celíacos as doses randomizadas do alimento suspeito ou do
clássicos que também têm predomínio dos linfócitos placebo são administradas. O alimento é escondido
TCD8 na lâmina própria. Neste aspecto a lâmina em um outro alimento ou em cápsulas opacas. Este
própria na enteropatía do leite de vaca se assemelha teste só pode ser feito sob supervisão médica e em
o dos indivíduos normais. Entretanto os estudos das ambi-ente hospitalar. Durante o decorrer do teste
citoquinas revelam que há um predomínio de INF-γ os pacientes serão avaliados quanto aos possíveis
sobre a IL-4 o que demonstra um predomínio da sintomas. Os desa os são ter-minados quando uma
resposta 1. reação se torna aparente.
Embora o teste duplo-cego permaneça como padrão
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ouro para o diagnóstico da AA, os testes abertos
Um número variado de sinais e sintomas pode estar estão sendo usados extensamente em especial com
pre-sente na dependência da AA. As manifestações crianças muito novas. Os testes abertos são feitos
gastrintestinais são as mais freqüentes. A maioria usando uma fórmula infantil adaptada e o período de
dos casos de intolerância às proteínas do alimento na teste é de uma semana. Neste método o médico e a
criança, ocorre nos primeiros meses da vida pela alta mãe sabem que a fórmula dada contém a proteína do
prevalência do uso de leite de vaca nesta faixa etária. leite de vaca. O desa o aberto é iniciado no hospital
As proteínas de leite de vaca e outras proteínas como sob a supervisão do médico. As doses crescentes da
a so-ja, cereais, ovo, e frutos do mar podem causar proteína contida na fórmula são dadas. O paciente
uma síndrome de diarréia crônica, perda de peso pode ser mandado para casa após o pri-meiro dia
e dé cit de crescimento, similar ao que aparece na se ele não apresentar sintoma, ou dependendo das
doença celíaca. Os vômitos estão presentes em até facilidades locais, o teste pode ser continuado no
dois terços dos pacientes. A enteropatía in- amatória hospital. Continua-se com o paciente em casa onde
leva a uma síndrome perdedora de proteínas com as quantidades nor-mais da fórmula infantil são
hipoalbuminemia e anemia freqüentemente encon- consumidas por dia. Os pais gra-vam todas as rea-
tradas nesta síndrome. Os sintomas gastrintestinais ções em um formulário. Se alguma reação ad-versa
tardios podem incluir constipação com ou sem aparecer o paciente será revisto no hospital. O teste
diarréia e dor abdominal periódica. A relação entre é interrompido quando uma reação clínica é obser-
amamentação e os sintomas não são reconhecidos vada. Todos os pacientes são revistos preferivelmente
facilmente. Mais raramente pode estar apenas pre- no hospital a cada inter-valo de sete dias. Os pacien-
sente a perda de peso, em alguns casos com sintomas tes com resultado negativo continu-am a consumir
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o leite de vaca a m de avaliar a tolerância em longo é ca-racterística típica da HNL relacionada à AA. No
prazo e revelar todos os resultados falso-negativos. O íleo terminal a HNL está geralmente restrita a uma
diagnóstico é con rmado geralmente um mês após área de 10 a 15 cm próxi-mo à válvula íleo-cecal. As
ter-se inici-ado o procedimento, devido à observação lesões estão geralmente presentes também no cólon
que a reação media-da por células pode ser lenta e transverso. Os nódulos podem estar espalha-dos ou
aparecer até três semanas do início do teste de ex- se concentrar em poucos pontos. As úlceras aosas,
posição ao alérgeno. erosões, gastrites, duodenites e os diferentes tipos de
Os achados da biópsia jejunal são similares àqueles colites são achados macroscópicos adicionais, raros
na do-ença celíaca, mas são geralmente menos pro- neste tipo de ente-ropatía, porém mais presentes na
nunciados. São característicos um grau variado de hipersensibilidade alimentar.
atro a das vilosidades com hiperplasia das criptas, e
in ltrado linfocitário da lâmina pró-pria e intraepite- TRATAMENTO
lial. Freqüentemente, as lesões têm uma distri-buição A base do tratamento consiste na retirada do an-
super cial. tígeno da dieta como no caso o leite de vaca. O
A endoscopia não parece revelar nenhum achado aleitamento materno é aconselhável em toda criança,
compatí-vel com hipersensibilidade alimentar. O desde o nascimento até os seis meses de vida. Em
achado mais sugestivo é a HNL. Este achado embora famílias potencialmente alérgicas o leite humano é
não seja patognomônico é bas-tante sugestivo de AA obrigatório. Sabe-se que mais de 50 % das crianças
mediada por 1 e re ete a tumefação das placas de com alergia ao leite de vaca desenvolvem também
Peyer como resultado da resposta alérgica no íleo intolerância a proteína de soja, por este motivo à
terminal. Este achado é o mais comum em todas as substituição do LV pelo leite de soja não é indicado.
crianças com AA e em crianças mais velhas com rea- Esta é uma realidade da intolerân-cia a soja na aler-
ção tardia. A en-doscopia pode não revelar nenhuma gia não-IgE. As fórmulas extensamente hidro-lizadas,
outra alteração. Crianças com AA podem apresentar com amino-ácidos exclusivos são indicadas. As
HNL em outras partes do tubo di-gestivo, como no fórmu-las parcialmente hidrolisadas não são bem tol-
bulbo duodenal, esparsamente no delgado ou em eradas por conte-rem peptídeos grandes o bastante
qualquer segmento do cólon. Uma distribuição distal para desencadear uma res-posta alérgica.
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LEITURA RECOMENDADA
Augustin, Merja. Cytotoxy Lymphocytes in Children´s Cow’s Milk Sensi-tive Enteropathy of Delayed Type,
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Artigo de Revisão
ENTEROCOLITE, PROCTOCOLITE E
PROCTITE INDUZIDAS PELAS
PROTEINAS DA DIETA
Autor: Prof. Aderbal Sabrá
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leite de va-ca ou fórmula de proteína de soja. A perda forem positivos, o risco para uma reação ana lática é
de sangue é geral-mente modesta, mas ocasional- maior, o que requer uma alteração na conduta diag-
mente pode produzir anemia manifestada como nóstica e terapêutica.
palidez e cansaço. Está bem determinado que um desa o con rmatório
As proteínas do leite de vaca e menos comumente a não seria preciso quando os sintomas típicos ocor-
prote-ína da soja são as desencadeantes principais. rem após a inges-tão do alimento (particularmente
A maioria das crianças está em aleitamento ma- quando esta correlação ocorre mais de uma vez) e
terno exclusivo e são sintomá-ticos em decorrência não há nenhuma outra explicação para que ocorram
da ingesta materna destas proteínas. Esta reação já os sintomas. Conseqüentemente, a necessidade para
foi descrita em crianças que recebem hidrolisados um desa o oral com o alimento para con rmar o
protéicos. diagnóstico pode ser desnecessário, levando-se em
O exame endoscópico é frequentemente adiado, conta os riscos e o cus-to benefício do teste. Uma vez
mas quando realizado pode mostrar de colite focal a estabelecido o diagnóstico, a reintrodução das proteí-
difusa, com edema e erosões. A biópsia revela in l- nas é lenta e gradativa. Nestas circuns-tâncias testes
trado eosinofílico, ab-cessos de cripta nos cólons e de reintrodução podem ser necessários. Esta mo-
hiperplasia nodular linfóide. dalidade de conduta é também usada para monitorar
O mecanismo íntimo da resposta imune não está o desen-volvimento da tolerância.
comple-tamente elucidado, mas os dados disponíveis
indicam ser um processo mediado por 1 e que TRATAMENTO
não se associa com anticor-pos IgE, cuja dosagem é Os casos se resolvem com dieta apropriada, tanto
normal no sangue periférico, sendo o RAST caracter- para a mãe como para as crianças. É mandatório
isticamente negativo. suspender o uso da proteína agressora. Esta dieta na
O diagnóstico é assegurado pela evidência de boa mãe e na criança pode ser tão rigorosa, nos casos que
resposta clínica à dieta isenta da proteína causal. Para não respondem à simples retirada do leite de vaca, da
os amamentados ao seio é necessá-ria restrição da soja, do ovo e do amendoin da dieta, que po-de ser
ingesta materna de leite de vaca ou de qualquer outra necessária a introdução das proteínas sob a forma de
proteína suspeita como alergizante. Se as manipula- amino-ácidos, devido a refratariedade aos hidrolisa-
ções alimentares não resolvem o sangramento, então dos protéi-cas contidos nas fórmulas hipoalergênicas,
se tenta uma fórmula de aminoácidos, pelas mesmas que contêm frações de partículas protéicas e mantêm
razões já apresentadas anteriormente. a resposta alérgica, devido à memória celular estar
O sangramento deve se resolver dentro de 72 horas ativada e ser muito mais seletiva que a memória
da ex-clusão da proteína. Esta doença deve se resolv- humoral.
er por volta de 1 a 2 anos de idade, e a proteína pode Em situações muito especiais está indicada a uti-
ser gradualmente reintro-duzida monitorizando-se o lização de clister de corticóide que com facilidade
sangramento visível. chegam às porções afetadas pela doença. Raramente
será necessário usar imunos-supressores por via
DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR sistêmica.
Os testes cutâneos são tipicamente negativos, mas se
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LEITURA RECOMENDADA
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